Jornal Unesp - Número 342 - Abril 2018

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Abril 2018

Ciências da Saúde

Sons amigos do coração

Estudos mostram efeitos positivos da música em casos como tratamento de hipertensão Divulgação

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á muito tempo se sabe que a música pode ser uma grande aliada da boa saúde. Essa certeza vem sendo confirmada por estudos promovidos por pesquisadores do Câmpus da Unesp de Marília, em parceria com equipes da Faculdade de Juazeiro do Norte, do Ceará, Faculdade de Medicina do ABC e Oxford Brookes University (Inglaterra). As pesquisas publicadas em periódicos internacionais mostram os benefícios dessa manifestação artística no tratamento da hipertensão, na recuperação da frequência cardíaca e da pressão arterial após exercícios físicos e até mesmo como “protetora” da atividade do coração em tratamentos dentários. Um desses estudos avaliou o efeito da música sobre a pressão arterial e a frequência cardíaca, durante a administração de medicamentos anti-hipertensivos. Nesse trabalho, foram analisados 37 indivíduos com hipertensão controlada (14 homens e 23 mulheres) em dois dias. Num deles, os voluntários eram tratados com o medicamento e os parâmetros cardiovasculares foram monitorados durante uma hora após a administração do remédio,

Grupo internacional avaliou aspectos como frequência cardíaca enquanto eles ouviam música por meio de um fone de ouvido. As composições executadas eram instrumentais: Someone like you e Hello (versões pianísticas de composições de Adele); Airstream, do grupo Electra; Amazing grace (my chains are gone), de Chris Tomlin; e Watermark, de Enya. Em outro dia, os pacientes realizaram o mesmo protocolo de pesquisa, porém, permaneciam com o fone de ouvido desligado. Um método para detectar alterações no coração identificou que os medicamentos apresentaram respostas significativamente mais intensas sobre a atividade cardíaca quando

os voluntários ouviam música. “Nós evidenciamos que o estímulo auditivo-musical intensificou a resposta autonômica da frequência cardíaca induzida por medicamentos anti-hipertensivos em pacientes com hipertensão controlada”, afirma Vitor Valenti, professor do Câmpus de Marília e coordenador dos trabalhos na Unesp. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports, do grupo Nature. TRATAMENTO DE CANAL Esse mesmo grupo interinstitucional investigou os efeitos da música no tratamento endodôntico, ou seja, no

tratamento de canal dentário. O trabalho gerou um artigo na revista Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine. A pesquisa envolveu 50 pessoas (25 homens e 25 mulheres entre 18 e 40 anos) submetidas a tratamento endodôntico. Os voluntários foram divididos em dois grupos com o mesmo número de homens e mulheres. Um deles escutou a música (“Träumerei”, Kinderszenen, Op. 15-7, de Schumann) pelo fone de ouvido durante o procedimento. O outro foi submetido ao tratamento com o fone desligado. Foi investigada a concentração de cortisol, um hormônio relacionado ao estresse, por meio da saliva, e a atividade do coração por meio de um método específico. Os resultados mostraram que no procedimento a música não influenciou os níveis de cortisol. Entretanto, quando os voluntários ouviram música, a atividade cardíaca sofreu menor sobrecarga, indicando que a música aliviou os efeitos estressantes do procedimento dentário sobre o coração.

dos Câmpus da Unesp de Presidente Prudente e Marília, além da Oxford Brookes University – analisou o efeito da música na recuperação do sistema cardiovascular após uma sessão de exercícios, o que pode fornecer informações acerca das chances de a pessoa desenvolver problemas do coração. Foram avaliados 25 indivíduos saudáveis e fisicamente ativos. Os voluntários realizaram dois protocolos de exercício moderado, consistindo de 15 minutos de repouso, 30 minutos de exercício em uma esteira, seguido de 60 minutos de recuperação. No protocolo com música, os voluntários realizaram os mesmos procedimentos e ouviram música com fone de ouvido durante e após o exercício. Foram ouvidas músicas de Chopin, Schubert, Beethoven, Bach, Mozart, Debussy e Liszt. Os pesquisadores constataram que a música acelerou a recuperação da frequência cardíaca e a pressão arterial após o exercício, o que evidencia efeitos positivos da música durante e após o exercício.

EXERCÍCIO FÍSICO Uma outra investigação – desta vez promovida por um grupo formado por pesquisadores

Contato do pesquisador <vitor.valenti@marilia.unesp.br>.

Exercício físico auxilia o tratamento de Parkinson Centro em Rio Claro promove atividades para melhorar qualidade de vida de pacientes com a doença Divulgação

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nfermidade que afeta principalmente pessoas idosas, a doença de Parkinson atinge o sistema nervoso central, prejudicando os movimentos. Desde 2006, funciona no Câmpus da Unesp de Rio Claro o Programa de Atividade Física para Pacientes com Doença de Parkinson (Proparki). “Nosso objetivo é, por meio do exercício físico, auxiliar no tratamento medicamentoso para melhoria da qualidade de vida dos pacientes com doença de Parkinson”, explica Lilian Teresa Bucken Gobbi, coordenadora do projeto e do local onde ele se realiza, o Laboratório de Estudos da Postura e Locomoção (LEPLO).

Teste leva idosos a se locomoverem sobre o slack line

Lílian ressalta que o projeto reúne cerca de 60 pacientes em atividade e 320 cadastrados no seu banco de dados. “A maioria deles tem idade acima de 60

anos”, comenta. A pesquisadora esclarece que a equipe focaliza os exercícios em sinais e sintomas da doença, como instabilidade postural. O tratamento determina

três sessões de uma hora por semana, num período de quatro a oito meses. Entre os métodos aplicados no Proparki está o que utiliza o slack line, uma fita suspensa por suportes sobre a qual os pacientes precisam se locomover. “O slack line promove o equilíbrio corporal, ajudando a bloquear a musculatura do tornozelo e estimulando a musculatura do quadril”, detalha Lilian. Outra opção do projeto é o Programa de Ritmo, que estimula a maior rapidez no ritmo de andar dos pacientes. “Isso melhora tanto a velocidade do andar quanto a memória e a atenção dos idosos”, afirma. Os pacientes se distribuem

entre os grupos que realizam os exercícios e os grupos de convívio social – que, embora não façam atividade física, participam de palestras, sessões de alongamento e atividades cognitivas, por exemplo, jogos como o tangram. A equipe do Proparki conta hoje com 25 pessoas, entre pós-doutorandos, alunos de doutorado, mestrado e graduação, da Unesp e de outras instituições. “Estamos formando recursos humanos para trabalhar no atendimento dos pacientes por meio de exercícios físicos”, acentua a coordenadora. As pesquisas ligadas ao projeto já produziram dois pós-doutorados, 4 doutorados, 15 mestrados e aproximadamente 80 publicações.


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