Jornal Unesp - Número 340 - Janeiro/Fevereiro 2018

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Molécula que eliminou 6 tuberculose em

camundongos chama atenção no exterior

Compostos de veneno de cobra 7 e amendoim-bravo combatem vírus da hepatite C

Reitor é primeiro 12 latino-americano no

Conselho do Instituto Confúcio na China

Shutterstock

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA • ANO XXXIII • NÚMERO 340 • JANEIRO/FEVEREIRO 2018

SINTONIA COM O MUNDO Unesp prepara seu Plano Estratégico de Internacionalização, a ser implementado nos próximos quatro anos, com proposta de desenvolver capacidades e iniciativas de alunos e professores, melhorar a qualidade e o impacto da ciência produzida na Universidade e multiplicar parcerias com instituições de excelência do exterior. páginas 2, 3, 8, 9 e 10.

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Professor Wagner Cotroni Valente é o novo diretor da Agência Unesp de Inovação

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Parceria com a Espanha produz cimento com cinza de caroço de azeitona

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Livro aborda mal de Alzheimer com análise de casos e linguagem acessível

Longo caminho à frente

País precisa avançar na área de direitos humanos. Edição disponível apenas on-line em <http://www.unesp.br/jornal>.


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Janeiro/Fevereiro 2018

Artigo

Internacionalizar é preciso Universidades do país devem promover medidas como ensino em inglês e currículos de acordo com o melhor padrão mundial, além de atrair professores e alunos do exterior Leandro Tessler 123RF

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s três universidades estaduais paulistas estão incontestavelmente entre as melhores do Brasil. O que as distingue das demais? Sem dúvida, a importância da pesquisa e da pós-graduação em suas atividades. Não é por acaso que as boas universidades do mundo investem recursos importantes em pesquisa e em desvendar os mistérios do universo. O processo de investigação e inovação propicia um ambiente no qual as universidades conseguem exercer melhor sua função primordial, que é formar pessoas. A qualidade da pesquisa se expressa de várias maneiras, seja transferindo conhecimento para o setor produtivo, seja na forma de artigos publicados em periódicos internacionais, e tem como consequência prestígio institucional. Universidades de ponta de um país com pretensões globais precisam almejar ter classe mundial, ser conhecidas, respeitadas e cotejadas. Nossa pós-graduação já tem uma dimensão internacional, reconhecida pelos cursos nota 6 e 7 da Capes. Mesmo assim, o entendimento de internacionalização adotado nas avaliações é diferente do praticado em países mais desenvolvidos. Um programa de pós-graduação internacionalizado de verdade deveria contar com uma parcela importante de professores e alunos estrangeiros, o que é muito raro no Brasil. Por razões históricas, a sociedade brasileira é bastante voltada para ela mesma. Durante muitos anos era raro encontrarmos um produto importado nos mercados. O ensino superior brasileiro assumiu como missão formar profissionais para esse universo interior. Uma forte (excessiva) regulamentação do mundo do trabalho fez com que as instituições de ensino superior brasileiras formem pessoas com perfil bem definido, de acordo com demandas locais. Isso teve algumas consequências nefastas: isolou o processo formativo, congelando currículos na forma como eram no resto do mundo há décadas. Não nos demos conta de que o mundo mudou e ficamos defasados. Nas universidades estaduais paulistas, o acesso à

Profissionais treinados no Brasil não têm acesso à excelência em padrão internacional graduação ainda exige a escolha prévia de uma carreira. Nossos estudantes ficam em média muito mais horas por semana em uma sala de aula do que seus congêneres norte-americanos ou europeus. O processo de contratação de docentes é extremamente voltado para brasileiros. Até há pouco tempo, os concursos precisavam ser feitos em português. Apesar de estarmos muito melhor do que a maioria das federais, ainda é raro encontrarmos professores estrangeiros por aqui. A atração de estudantes estrangeiros é percebida como um indicador de qualidade de uma universidade. Como consequência da

baixa internacionalização, os profissionais treinados no Brasil não têm acesso à excelência em padrão internacional. Isso fecha um ciclo nefasto: os produtos genuinamente nacionais são pouco competitivos internacionalmente e pouquíssimas marcas brasileiras são conhecidas no exterior. Se universidades mais internacionalizadas proporcionam uma melhor formação, o que falta para nos tornarmos mais internacionais? Se a resposta fosse fácil, já estaríamos todos fortemente internacionalizados. Mas há algumas ações nas quais deveríamos pensar: 1. Uso do inglês: É impossível

falarmos de internacionalização sem mencionar o uso da língua inglesa no processo. O inglês ocupou o lugar do latim na universidade medieval, tornando-se a língua franca, que permite que acadêmicos do mundo todo possam comunicar suas ideias e ser entendidos. Para comunicarmos nossos resultados ao mundo e acompanhar o que há de melhor, precisamos falar inglês. No entanto, a proficiência média em inglês da população brasileira e mesmo dos acadêmicos deixa muito a desejar atualmente. É fundamental um esforço para reconhecer a importância do inglês no mundo contemporâneo. Em

lugar do esforço inútil de negá-lo ou combatê-lo, devemos ter como objetivo que todo egresso do ensino superior seja capaz de no mínimo compreender um texto de sua área em inglês. Se conseguir escrever ou conversar, melhor ainda. Dominar uma segunda língua estrangeira é muito desejável e só ajuda a abrir horizontes e possibilidades. 2. Ensino em inglês. Ensinar disciplinas curriculares em inglês tem dois efeitos muito benéficos: atrai estudantes internacionais e treina nossos estudantes nessa língua. Seria desejável, a exemplo do que acontece em países onde o ensino superior está internacionalizado, a existência de programas completos de pós-graduação em inglês ou pelo menos de disciplinas oferecidas em inglês em nível de graduação e de pós-graduação em todos os semestres. 3. Internacionalização dos currículos de graduação: é urgente discutirmos reformas curriculares que nos aproximem das boas práticas internacionais. Nossos estudantes deveriam ser formados para a independência intelectual, ter espaços de aprendizagem e passar menos tempo em sala de aula. Deveria ser possível um estudante entrar na universidade sem saber em que vai se graduar, adotando uma estrutura modular e aberta. Além de proporcionar uma formação mais moderna, isso simplificaria o trânsito de estudantes internacionais. 4. Atrair professores e estudantes internacionais para compor nossos quadros. Divulgar as universidades internacionalmente. 5. Adotar indicadores internacionais de qualidade em publicações e pesquisa. Atividades docentes e publicações internacionais devem ser valorizadas na progressão funcional. Uma universidade internacionalizada cumpre muito melhor seu papel na sociedade.

Leandro Tessler é professor do Instituto da Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp


Entrevista

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Portas abertas ao mundo Assessor-chefe de Relações Externas da Unesp analisa Plano Estratégico de Internacionalização da Universidade, entre outras questões Oscar D’Ambrosio 123RF

Divulgação

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osé Celso Freire Junior concluiu o doutorado em Informatique na Université Grenoble I (Scientifique et Medicale – Joseph Fourier). É mestre em Sistemas Digitais pela Escola Politécnica da USP e engenheiro eletricista pela UFRJ. Professor livre-docente da Unesp, ocupa a função de assessor-chefe de Relações Externas da Universidade. Nessa posição, tem participado como palestrante em diversos eventos de educação internacional no Brasil e no exterior. É atualmente presidente da Associação Brasileira de Educação Internacional (FAUBAI), da qual participam responsáveis pelos setores de relações internacionais de cerca de 250 Instituições de Ensino Superior brasileiras. Jornal Unesp: Por que a internacionalização é um pilar fundamental das universidades em todo o mundo? José Celso Freire Junior: Diversas razões levaram a internacionalização à condição que ela ocupa atualmente no cenário da educação superior. Se formos analisar considerando os três pilares das IES brasileiras que se sustentam no ensino, pesquisa e extensão, a internacionalização se justifica porque está provado que a pesquisa produzida com parceiros internacionais tem maior impacto e pode abordar problemas mais complexos, em função das possibilidades de compartilhamento de recursos físicos e humanos. Ao mesmo tempo, o século XXI exige cidadãos com habilidades multiculturais e talentos globais, aptos a operar na sociedade do conhecimento em que vivemos. A universidade tem a obrigação de oferecer a seus estudantes oportunidades para desenvolver essas habilidades, e a internacionalização é uma excelente ferramenta para atingir esses objetivos. Ela também pode trazer para as comunidades nas quais atua um olhar global para a solução de problemas locais

Freire: Plano Estratégico guiará ações externas da Universidade

excelência às questões que a sociedade lhe coloca.

Para assessor-chefe, programa da Capes produz novo momento para instituições de ensino superior

e, ao mesmo tempo, projetar essas comunidades em um contexto global, abrindo para elas valiosas oportunidades para a solução de seus problemas. JU: Como o senhor vê o atual momento da internacionalização das universidades brasileiras? Freire: As IES do país estão vivendo um novo momento com o anúncio do novo programa da Capes. Para participar do edital, todas deverão ter seus Planos Estratégicos de Internacionalização desenvolvidos. Pela primeira vez, as IES brasileiras irão atuar de forma estratégica em suas ações internacionais, deixando para trás uma interação que era baseada em iniciativas individuais: elas passarão a buscar interesses institucionais. Logicamente as ações individuais ainda farão parte da cooperação internacional, mas, a partir de agora, inseridas em um contexto maior, definido pela instituição. Isso pode determinar um novo marco para o avanço na arena internacional das instituições que aceitarem esse desafio. JU: Como a Unesp vem enfrentando o tema da internacionalização? Freire: A Unesp percorreu um

longo caminho em seu processo de internacionalização. Passou de uma instituição que apoiava basicamente iniciativas individuais a uma instituição que tem um planejamento e ações de internacionalização reconhecidas nacional e internacionalmente. Ela desenvolveu legislação própria e inovadora no Brasil no que tange ao reconhecimento de atividades realizadas no exterior por seus estudantes – processo que certamente ainda precisa ser melhor regulado e reconhecido –, buscou incessantemente recursos externos para apoiar suas atividades internacionais e, nesse contexto, foi das primeiras instituições do Brasil a participar como cocoordenadora de projetos europeus. Desenvolveu ainda um programa pioneiro no país para o oferecimento de um conjunto de disciplinas em inglês, atuou no ensino de idiomas para apoiar a mobilidade de parte de seus estudantes e teve papel de destaque no programa Ciência sem Fronteiras do governo federal. Mas muito ainda precisa ser feito. Para identificar o melhor caminho a seguir, ela realizou diversos Fóruns Internos de Internacionalização, e diversas consultas a diferentes

atores da comunidade foram feitas, assim como reuniões internas para identificar suas fortalezas e fraquezas, além das oportunidades e dos riscos que ela deve enfrentar para sua internacionalização. Todo esse trabalho resultou no Plano Estratégico de Internacionalização apresentado à comunidade. JU: Quais são as propostas da Universidade para os próximos anos? Freire: Os próximos anos da internacionalização da Unesp estarão baseados nas propostas presentes no Plano Estratégico de Internacionalização. Esse Plano está fundamentado em ações básicas voltadas para o desenvolvimento de Talentos Globais para seus acadêmicos, o desenvolvimento de pesquisa de excelência que dê respostas concretas e eficientes às necessidades da sociedade, uma estratégia para uma construção e manutenção de parcerias, um conjunto de temas transversais (administrativos, associados ao idioma, etc.) e um conjunto de indicadores para avaliar o desenvolvimento do plano. A ampla discussão com a comunidade é o caminho para termos uma Unesp mais internacionalizada e que responda mais, melhor e com

JU: Quais os maiores desafios da internacionalização das universidades em escala internacional, nacional e especificamente na Unesp? Freire: Certamente a questão dos recursos para financiar a internacionalização representa para todas as universidades do mundo um desafio enorme, talvez o maior deles. Não é à toa que menos de 4% dos estudantes do mundo realizam um intercâmbio internacional. Ao mesmo tempo, a partilha de recursos facilita a busca de soluções para os grandes desafios do milênio, que envolvem questões complexas. No âmbito nacional, talvez o maior dos desafios, além do financeiro, se concentra na questão do idioma. É impossível ter uma universidade internacionalizada e monolíngue. O inglês deve ser disseminado como a “língua franca” que é na comunidade acadêmica internacional, mas sem esquecer do oferecimento do português como segunda língua e das outras línguas que também atuam na arena internacional. Outro grande desafio para o país é mostrar sua competência no exterior. Enquanto no cenário internacional algumas instituições têm estruturas complexas de marketing, esse assunto ainda é tratado como tabu no Brasil. Todas essas questões se apresentam para a Unesp também.


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Ciências Biológicas

Extinção da megafauna Pesquisa internacional liderada por docente da Unesp de Rio Claro chama a atenção para o tema

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ocente do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro, Mauro Galetti lidera um grupo de pesquisadores de Brasil, Dinamarca, Espanha, Suíça, EUA, África do Sul e Austrália que aponta os impactos da extinção da megafauna em todo o planeta. Uma publicação da equipe acaba de sair na revista Biological Reviews. Os autores compilaram informações sobre quais as consequências da extinção de mamutes, preguiças-gigantes, tigres-dente-de-sabre, entre outros, nas interações ecológicas. Interações tróficas e indiretas entre a megafauna e seu ambiente são exemplificadas na ilustração pelo elefante-da-savana (Loxodonta africana) da África e outros dois animais da megafauna já extintos: a preguiça-gigante (Megatherium americanum) da América do Sul e o marsupial gigante (Diprotodon optatum) da Austrália. Nesse trabalho, os pesquisadores enfatizaram como a extinção da megafauna afetou parasitas, predadores, ecossistemas e outros processos

ecológicos. “Se você fosse um parasita dentro de uma preguiça-gigante, você teve duas alternativas antes da extinção da preguiça, ou você buscou outro hospedeiro, e muitas vezes foi o próprio homem, ou você se extinguiu junto com a preguiça”, complementa Galetti. Com a extinção de mais de 177 espécies da megafauna da América do Sul, muitas interações e espécies associadas à megafauna foram extintas. Um exemplo é uma espécie de morcego-vampiro-gigante que provavelmente foi extinta depois da extinção da megafauna. “Sem esses gigantes para chupar o sangue, o vampiro-gigante deve ter morrido de fome”, diz Galetti. O trabalho aponta que muitos parasitas que têm o homem, o cachorro e o gado como hospedeiros provavelmente evoluíram em grandes mamíferos. O berne e a bicheira, por exemplo, devem ter “saltado” da megafauna para os homens e seus animais domésticos. O trabalho de Galetti e colaboradores tem grandes implicações para a atual onda

Limpeza de parasitas

Interações tróficas (diretas) Interações tróficas (indiretas) Interações não tróficas Outros processos não consumptivos

Parasitismo Ectoparasitas

Aves de limpeza

Micropredadores

Necrofagia Predação

Aves necrófagas

Predação

Defecação

Parasitismo

Epizoários

Defesa vegetal Endoparasitas

Coprofagia

Frugivoria

Endozoocoria Herbivoria

Grandes predadores Escaravelhos Predação Dispersão de sementes

Habitat Herbívoros intermediários

de extinção pela qual o planeta passa, a chamada Sexta Extinção. O estudo também incluiu Marcos Moléon, Pedro Jordano, Mathias M. Pires, Paulo R. Guimarães Jr., Thomas Pape,

Vegetação

Elizabeth Nichols, Dennis Hansen, Jens M. Olesen, Michael Munk, Jacqueline S. de Mattos, Andreas H. Schweiger, Norman Owen-Smith, Christopher N. Johnson, Robert J. Marquis e Jens-Christian Svenning.

Contato: Mauro Galetti <mgaletti@rc.unesp.br> Link para o artigo: <https://goo.gl/BHWv7A>

Mamíferos terrestres da Mata Atlântica Material produzido com armadilhas fotográficas resulta no maior inventário desses animais

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onsideradas um grande avanço no monitoramento de mamíferos terrestres em ecossistemas ricos em biodiversidade, as armadilhas fotográficas (camera trap) surgiram para facilitar os estudos científicos em áreas florestais mais fechadas, ajudando pesquisadores na compreensão do comportamento da fauna e no levantamento da presença de espécies em determinadas áreas. Inspirados na capacidade das câmeras de revelar dados importantes para a ciência, um grupo de pesquisadores decidiu organizar as informações resultantes de 170 pesquisas com mamíferos terrestres de médio

a grande porte. O resultado: o maior inventário de mamíferos terrestres da Mata Atlântica com base em camera traps. O estudo foi publicado dia 31 de agosto no formato de artigo na renomada revista Ecology, com a participação de 56 autores, entre eles Fernando Lima, pesquisador do IPÊ e doutorando do Departamento de Ecologia da Unesp Rio Claro, que liderou o levantamento. “Não fazia sentido informações tão ricas e de tanta qualidade ficarem espalhadas e desorganizadas. Em conjunto, elas podem representar informações mais robustas, que darão suporte a estratégias de conservação de diversas espécies”, afirma Fernando.

O trabalho é parte de uma grande iniciativa elaborada pelos professores Mauro Galetti (LABICUnesp) e Milton Ribeiro (LEECUnesp): o Atlantic-Datasets. Essa proposta visa a sistematizar e disponibilizar grandes bancos de dados sobre a biodiversidade na Floresta Atlântica para que possam ser utilizados pela comunidade acadêmica, por políticas públicas e esforços conservacionistas. O levantamento envolveu informações de armadilhas fotográficas espalhadas por 144 áreas, abrangendo seis tipos de vegetação de Mata Atlântica (do Brasil e da Argentina) e focalizando a composição e riqueza das espécies. O conjunto

de dados completos compreende 53.438 registros independentes de 83 espécies de mamíferos, 10 espécies de marsupiais, 15 de roedores, 20 de carnívoros, 8 de ungulados e 6 de tatus. De acordo com o levantamento, apenas seis espécies ocorreram em mais de 50% das áreas: o cão doméstico (Canis familiaris), o cachorro do mato (Cerdocyon thous), a irara (Eira barbara), o quati (Nasua nasua), o mão-pelada (Procyon cancrivorus) e o tatu-galinha (Dasypus novemcinctus). A informação contida nesse conjunto de dados pode ser usada para entender padrões macroecológicos da biodiversidade, comunidade e estrutura populacional, mas também para

avaliar as consequências ecológicas da fragmentação, da defaunação e de interações tróficas.

O vídeo de divulgação do trabalho está disponível em: <https://goo.gl/6tUfXu>. Veja um mapa interativo com registros de câmeras trap no interior de São Paulo clicando em: <https://goo.gl/iyzoiS>. Entenda a história e como funcionam as armadilhas fotográficas acessando: <https://goo.gl/3SFPfW>. Contato do pesquisador Fernando Lima <pardalismitis@gmail.com>.


Ciências Agrárias

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Produção e menor poluição Adubação e dieta diminuem emissão de metano e aumentam produtividade de gado de corte Elton Alisson – Agência Fapesp

Shutterstock

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adubação do pasto com nitrogênio e a suplementação da dieta do rebanho com nutrientes selecionados podem resultar tanto na diminuição das emissões de gases de efeito estufa quanto no aumento da produtividade e da eficiência econômica na criação de bovinos de corte em sistema de pastagem. As constatações foram feitas num estudo realizado por pesquisadores da Unesp de Jaboticabal, em colaboração com colegas da University of Queensland, da Austrália, da University of Florida, dos Estados Unidos, da Embrapa Pecuária Sudeste e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), Polo Regional Alta Mogiana. Alguns resultados preliminares do estudo, realizado no âmbito do Projeto Temático "Estratégias de manejo para redução de impactos ambientais em sistemas de produção de bovinos de corte", apoiado pela Fapesp, foram apresentados na reunião anual de projetos do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). “O objetivo do projeto é avaliar os impactos da

qualidade, com alta proporção de folhas no pasto, além de proteína verdadeira de alta digestibilidade, nitrogênio solúvel e baixas quantidades de fibras indigestíveis – causadoras de emissão de metano (gás de efeito estufa), produzido na digestão dos ruminantes e eliminado por eructação (arroto) e respiração. Além dos impactos climáticos, a eliminação do metano pela boca e narinas representa perda de energia do animal – entre 2% e 12% da energia bruta do alimento consumido – , o que afeta a produção de carne. Alimentação aumentou peso do gado de 100 a 150 gramas por dia

adubação nitrogenada e da suplementação estratégica nas emissões de metano, óxido nitroso e dióxido de carbono na produtividade do pasto e dos animais e na eficiência da atividade em termos de ganho por hectare e de utilização da energia consumida”, disse Ricardo Andrade Reis, professor da FCAV-Unesp de Jaboticabal e coordenador do projeto. Estima-se que cerca de 80% dos 45 a 50 milhões de hectares da área de pastagens nos Cerrados do Brasil Central apresentam algum grau de degradação devido à redução da fertilidade do solo,

reduzindo a capacidade de suporte da pastagem e de ganho de peso dos animais. A fim de reduzir os impactos ambientais dos sistemas de produção de bovinos de corte e melhorar o rendimento zootécnico e econômico, os pesquisadores de Jaboticabal estudam desde 2014 estratégias de manejo de pastagens tropicais utilizando técnica conhecida como interceptação luminosa, num porcentual de 95%, e altura do pasto aliada à adubação como critérios de avaliação. A técnica permite oferecer aos animais uma forragem de melhor

ADUBAÇÃO E SUPLEMENTAÇÃO Os pesquisadores conduzem desde 2014 dois experimentos. No primeiro, avaliaram o aumento das taxas de lotação de tourinhos nelore em regime de pastejo de capim-marandu, manejado com 25 centímetros de altura e adubado com quatro níveis de nitrogênio – de 0, 90, 180 e 270 kg por hectare durante 150 dias na estação chuvosa –, assim como as emissões de óxido nitroso, dióxido de carbono e metano em função da aplicação do fertilizante nitrogenado. No segundo experimento,

a dieta dos animais foi complementada com sal e com suplemento proteico. Os resultados preliminares do primeiro experimento indicaram que, com a forragem de melhor qualidade – sem aplicação de fertilizante nitrogenado –, a taxa de lotação do pasto atinge a faixa de três animais por hectare/ano. Já ao aplicar 180 kg de nitrogênio na estação chuvosa a taxa de ocupação chega a seis animais por hectare/ano. As emissões de metano entérico foram inferiores às registradas pelo setor pecuário sem uso de fertilização. Os animais também tiveram ganho de peso diário de 980 gramas a 1,1 kg com a adubação nitrogenada. “No atual sistema de criação de gado de corte em pasto, sem adubação nitrogenada, o ganho de peso dos animais varia entre 500 e 700 gramas”, comparou o pesquisador. Os resultados preliminares do segundo experimento também indicaram que a dieta com suplemento proteico/ energético resultou em um aumento de 100 a 150 gramas por dia no peso do gado, comparado ao obtido com o uso do sal mineral.

Aprovado Núcleo de Estudo em Agroecologia e Produção Orgânica Professor e Grupo Timbó, da FCA, elaboraram projeto para criação do órgão em Botucatu Fotos divulgação

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professor Filipe Pereira Giardini Bonfim, do Departamento de Horticultura da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, Câmpus de Botucatu, e o Grupo Timbó de Agroecologia, formado por alunos dos cursos de Engenharia Agronômica e Engenharia Florestal dessa unidade, tiveram aprovado o projeto que haviam elaborado para a criação do Núcleo de Estudo em Agroecologia e Produção Orgânica (NEA) em Botucatu. A aprovação deu-se no âmbito do edital 21/2016, que tem como objetivo apoiar projetos que integrem ensino, pesquisa e extensão para a construção e socialização de

Grupo Timbó vai promover eventos e criação de material educativo

conhecimentos e técnicas relacionados à agroecologia e à produção orgânica, bem como à promoção dos sistemas orgânicos de produção. O projeto tem como meta fortalecer o movimento agroecológico e o desenvolvimento rural e

urbano sustentável na cidade de Botucatu e região, manter a articulação e contribuir para a sistematização de experiências dos outros NEAs da Região Sudeste e do Centro Vocacional e Tecnológico, que formam as redes estaduais de agroecologia. “A cidade de Botucatu faz parte

da APA Corumbataí, Botucatu e Tejupá e encontra-se em um território de fragilidade ambiental, tendo em vista a sua localização em uma área de abastecimento do Aquífero Guarani”, comenta Bonfim. “Nesse contexto, a criação de um Núcleo de Estudos em Agroecologia por intermédio da atuação do Grupo Timbó procura fortalecer o sistema agroecológico de produção vegetal e promover a soberania e segurança alimentar de Botucatu e região.” Além de construir e socializar conhecimentos relacionados aos sistemas de produção e comercialização de produtos orgânicos, por meio de ações indissociáveis entre ensino, pesquisa e extensão, a iniciativa

Segundo Bonfim, proposta visa fortalecer agroecologia na região

conta também com a organização de eventos e a criação de materiais educativos, tendo como atores principais famílias agricultoras, técnicos, estudantes e professores. A premissa do projeto será envolver a comunidade na difusão de informações referentes à soberania e segurança alimentar.


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Ciências da Saúde

Nova arma contra tuberculose Molécula que eliminou totalmente a doença em camundongos infectados chama atenção no exterior Fotos divulgação

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esquisas lideradas pelos professores Fernando Rogério Pavan e Jean Leandro dos Santos, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Câmpus da Unesp de Araraquara, em busca de novas alternativas de combate à tuberculose, estão tendo repercussão internacional. Eles desenvolveram uma nova molécula, batizada de benzofuroxano 8 (ou BZ 8), que comprovou alta eficiência em camundongos infectados pelo bacilo da doença (Mycobacterium tuberculosis). O trabalho gerou um artigo publicado na Journal of Medicinal Chemistry (JMC), a principal revista relacionada à química medicinal no mundo. A molécula também foi incluída no portfólio do Working Group on New TB Drugs, uma organização não governamental relacionada à entidade Stop TB, que por sua vez é ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS). A BZ 8 integra assim um grupo de moléculas em desenvolvimento consideradas promissoras para futuras terapias

Da esq. para a dir.: o doutorando Santos, os professores Pavan e Jean dos Santos e a doutora Paula

da tuberculose – e é a única contribuição brasileira a esse time. “A benzofuroxano 8 (BZ 8) é uma molécula inédita, que acreditamos ser capaz de aumentar o estresse oxidativo celular e ter uma ação na inibição da síntese de proteínas bacterianas”, esclarece Santos. Pavan explica que as pesquisas da equipe, iniciadas em 2012, avaliaram 50 moléculas, quimicamente muito semelhantes. “A partir de

estudos in vitro, como atividade frente ao bacilo, ou estudos em cultura celular, dentre muitos outros, fomos selecionando as melhores até chegar aos estudos de toxicidade em animais”, relata. “No final, de todas, a molécula mais promissora foi a BZ 8, que foi testada em camundongos infectados e eliminou por completo a infecção pulmonar dos animais.” Das pesquisas também participam a doutora Paula

Carolina Souza, o doutorando Guilherme Felipe Santos – autores principais do artigo publicado na JMC – e o doutor Leonardo Biancolino Marino. Os trabalhos têm a colaboração da Universidade de Illinois, em Chicago (EUA), onde Paula realizou experimentos com animais infectados, e do Instituto Francis Crick, em Londres (Grã-Bretanha), no qual Marino avaliou o mecanismo de ação da molécula, além de

grupos da Espanha e da Itália, que analisaram o processo de síntese molecular. Jean Santos ressalta que a pesquisa está na fase préclínica, em que são realizados os experimentos com camundongos. “Nós pesquisadores chegamos ao ponto máximo que a academia pode atingir em relação ao desenvolvimento de um novo fármaco”, acentua. Segundo Pavan, agora é necessário o envolvimento de uma empresa pública ou privada nos trabalhos. “Esses estudos são caros, e precisa haver o interesse da indústria farmacêutica em investir para dar sequência às pesquisas clínicas”, enfatiza.

Mais informações em: <https://goo.gl/eK2wbC>. Contato dos docentes: Fernando R. Pavan <ernandopavan@fcfar.unesp.br>. Jean L. dos Santos <santosjl@fcfar.unesp.br>.

Para enfrentar o Alzheimer, informação de qualidade Médico e jornalista lançam livro que aborda a doença com dados técnicos e linguagem acessível Fotos divulgação

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om o envelhecimento da população mundial, é crescente o número de casos do mal de Alzheimer. Essa doença degenerativa e progressiva afeta principalmente os idosos, reduzindo sua capacidade de memória, julgamento e raciocínio. Ela representa 65% dos cerca de 47,5 milhões de casos de demência no mundo, atingindo 13% das pessoas com mais de 65 anos e 45% da população acima de 85 anos. A fim de auxiliar a sociedade a encarar esse desafio, o médico geriatra e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Câmpus da Unesp de Botucatu (FMB) Alessandro Ferrari Jacinto e a jornalista Marisa Folgato estão lançando o livro Alzheimer – A doença e seus cuidados. Publicada pela Editora Unesp (123 páginas, R$ 23), a obra apresenta diversos aspectos da doença, com dados técnicos e linguagem acessível. O livro

Marisa colheu relatos que são analisados por Jacinto

baseia-se em entrevistas realizadas por Marisa com 17 pessoas de 15 famílias diferentes. “Elas contam sobre a experiência que tiveram e como lidaram com esse problema”, comenta a jornalista. A partir dos relatos apresentados, o professor Jacinto analisa a situação e explica o que deve ser feito. “Nossa proposta é mostrar ao leitor o que acontece durante a doença, de maneira acessível e humanizada”,

ressalta o docente. O médico enfatiza que o Alzheimer atinge todos os níveis sociais e seus efeitos não se limitam ao doente, prejudicando também os que cuidam dele, seja os integrantes de sua família, seja os profissionais encarregados dessa tarefa. “Cuidar do idoso é uma responsabilidade muito difícil, as pessoas envolvidas costumam se sentir desorientadas, sozinhas, sem

apoio do sistema público, e acabam por também adoecer”, alerta. O livro reúne informações sobre questões como diagnóstico, tratamento e necessidades do doente. A orientação oferecida abrange temas que vão do estímulo à memória do paciente ao que deve ser levado em conta na escolha de cuidadores, na organização do local onde ele vai viver ou até mesmo na seleção de clínicas onde ele pode ser internado. “Fomos bastante abrangentes, esclarece Marisa. “O livro é praticamente um guia para familiares, cuidadores e interessados nesse assunto.” Além de sua bagagem profissional, a jornalista recorre à experiência de ter cuidado por oito anos de sua mãe, acometida pela doença. A preocupação de oferecer informação de maneira humanizada levou os autores a recorrer ainda a textos literários que tratam de algum exemplo do mal de Alzheimer: uma crônica de Walcyr Carrasco sobre a perda de

Obra é praticamente um guia para família e cuidadores

memória de sua avó e um trecho da peça O campeão de dominó do Alaska, de Mário Viana. Saiba mais em: <https://goo.gl/WCbvgk>.


Ciências da Saúde

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Cerco à hepatite C

Compostos do veneno de cascavel e do amendoim-bravo têm sucesso contra vírus da hepatite C Peter Moon – Agência Fapesp

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o Brasil, a hepatite C é a maior responsável por casos de cirrose hepática e, por consequência, pelos transplantes de fígado, de acordo com o Ministério da Saúde. As terapias disponíveis para o tratamento dos doentes com hepatite C são dispendiosas, apresentam efeitos colaterais e resistência viral. Por todas essas questões, estudos para o desenvolvimento de terapias antivirais mais eficientes são necessários. Compostos isolados do veneno de animais têm mostrado atividade contra alguns vírus, como os da dengue, da febre amarela e do sarampo. Foi a partir dessa linha de investigação que pesquisadores da Unesp, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade de São Paulo (USP) acabam de publicar dois artigos com resultados promissores de compostos capazes de combater o vírus da hepatite C. O primeiro experimento, cujos resultados saíram na PLoS One, visou testar propriedades contra o vírus da hepatite C de três compostos isolados do veneno de uma espécie de cascavel, a Crotalus durissus terrificus, conhecida como cascavel-de-quatro-ventas, boiçununga ou maracamboia. O trabalho foi realizado no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) da Unesp, em São José do Rio Preto, pelo grupo de Virologia do Laboratório de Estudos Genômicos, coordenado pela professora Paula Rahal, e no Instituto de Ciências Biomédicas (ICBIM) da UFU, no Laboratório de Virologia, coordenado pela professora Ana Carolina Gomes Jardim. O trabalho contou com diversos apoios da Fapesp, além de CNPq, Fapemig e Royal Society (Newton Fund). Os compostos retirados do veneno de cascavel foram isolados no Laboratório de Toxinologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, chefiado pela professora Suely Vilela Sampaio. Trata-se de duas proteínas: a fosfolipase A2 (PLA2-CB) e a crotapotina (CP). No veneno da serpente, esses compostos se encontram associados como subunidades de um complexo

A professora Paula (3.ª da esq. para a dir.) e equipe: estudo de proteínas retiradas da cobra

proteico, a crotoxina (CX), também testada. Em uma série de experimentos in vitro com culturas de células humanas, foi testada a ação antiviral dos dois compostos, tanto em separado como em conjunto no complexo proteico. Foram observados os efeitos dos compostos em células humanas (para ajudar a prevenir a infecção pelo vírus) e diretamente no vírus da hepatite C. O genoma do vírus da hepatite C é constituído de uma única fita de RNA, o ácido ribonucleico, que é uma cadeia simples de nucleotídeos que codifica as proteínas do vírus. “Esse vírus invade a célula humana hospedeira para se replicar, produzindo novas partículas virais. Dentro da célula hospedeira, o vírus produz uma fita complementar de RNA, a partir da qual serão produzidas moléculas de genoma viral que constituirão as novas partículas”, disse Gomes Jardim.

“Nosso trabalho demonstrou que a fosfolipase tem a capacidade de se intercalar com o RNA dupla fita, intermediário de replicação do vírus, inibindo a produção de novas partículas virais. A intercalação reduziu em 86% a produção de novos genomas virais, quando comparada ao que ocorre na ausência da fosfolipase”, disse. Quando o mesmo experimento foi feito usando-se a crotoxina, a redução na produção de partículas virais foi de 58%. A segunda etapa do trabalho consistiu em verificar se os compostos conseguiriam bloquear a entrada do vírus nas células humanas em cultura. Nesse caso, os resultados foram ainda mais satisfatórios, pois a fosfolipase inibiu em 97% a entrada do vírus nas células. Já o uso da crotoxina reduziu a infecção viral em 85%. Por fim, foi testada a crotapotina. Muito embora não se tenha verificado efeitos para

impedir a entrada do vírus nas células humanas nem a sua replicação, a crotapotina agiu em outro estágio do ciclo viral, reduzindo em até 78% a saída das novas partículas virais das células. No caso da crotoxina, a saída das partículas foi inibida em 50%. Segundo os pesquisadores, os resultados dos experimentos demonstram que a fosfolipase e a crotapotina agindo isoladamente tiveram melhor resultado do que em associação. FLORA BRASILEIRA O segundo artigo sobre a ação de compostos químicos contra o vírus da hepatite C partiu de compostos naturais da flora brasileira. O estudo, também com apoio da Fapesp, CNPq, Fapemig e Royal Society (Newton Fund), teve resultados publicados na Scientific Reports. Os autores testaram o potencial antiviral dos flavonoides de uma planta conhecida como amendoim-

-bravo (Pterogyne nitens). Flavonoides são compostos encontrados em frutas, flores, vegetais em geral, mel e também no vinho. Foram isolados dois flavonoides presentes nas folhas do amendoim-bravo: a sorbifolina e a pedalitina. O trabalho foi conduzido pelo professor Luis Octávio Regasini no Laboratório de Química Verde e Medicinal na Unesp de São José do Rio Preto. Os flavonoides foram investigados de forma idêntica aos compostos do veneno de cascavel. Foi testada a ação antiviral dos dois compostos, em células humanas infectadas com o vírus da hepatite C e em células não infectadas. “A sorbifolina bloqueou a entrada do vírus nas células humanas em 45% dos casos. Já a pedalitina obteve um resultado mais promissor, bloqueando em 79%. O experimento foi feito com dois genótipos do vírus da hepatite C, o genótipo 2A, que é o padrão para todos os estudos, e o genótipo 3, que é o segundo mais prevalente no Brasil. Nos dois casos, a ação antiviral dos flavonoides foi equivalente”, disse Gomes Jardim. Na outra ponta do ciclo viral, os flavonoides não apresentaram nenhum tipo de ação antiviral no processo de replicação das partículas virais, nem impediram os vírus de sair da célula infectada. “Os flavonoides de amendoim-bravo estão entre os cerca de 200 compostos testados, que foram isolados de plantas brasileiras ou sintetizados com base em estruturas naturais pelo professor Regasini”, explicou Rahal. “Os dois flavonoides foram testados contra o vírus da hepatite C porque já haviam demonstrado possuir efeitos antivirais em experimentos com o vírus da dengue”, disse.

O artigo sobre o uso do veneno da cascavel contra a hepatite C pode ser lido em: <https://goo.gl/Xvy1Ch> O artigo sobre o uso do flavonoide do amendoim-bravo contra a doença pode ser lido em: <https://goo.gl/A5VMj7>

Pesquisa coordenada pelo professor Regasini (de camisa clara) envolve dois flavonoides


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Reportagem de capa

INTEGRAÇÃO COM O MUNDO Unesp apresenta seu Plano Estratégico de Internacionalização para os próximos quatro anos Marcos Jorge

Divulgação

Dirigentes da Unesp na Universidade de Birmingham: especialistas dessa instituição e da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, atuaram como consultores para novo plano

ESTRUTURAÇÃO DO PLANO Os temas centrais identificados no PEI são Parcerias, Pesquisa e Talento Global. Em comum, os três temas compartilham tópicos transversais e indicadores de desenvolvimento (ver Figura 1). A seguir, uma descrição detalhada de cada tópico: • Talento Global Desenvolver um ambiente que contribua para a força de

trabalho de estudantes graduados formados na instituição, bem como para seus pesquisadores, a fim de transformá-los em indivíduos com talentos globais, oferecendo-lhes oportunidades para desenvolver suas capacidades e iniciativas de compreender e agir sobre questões de importância mundial. Para alcançar essa meta, educar os atores institucionais para promover o desenvolvimento de competências

Parcerias

Pesquisa

FIGURA 1 – TEMAS DO PLANO ESTRATÉGICO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

Talentos Globais

A

Unesp está elaborando um Plano Estratégico de Internacionalização (PEI), que deverá orientar as ações da Universidade nesse campo ao longo dos próximos anos. A iniciativa está alinhada às prioridades da atual gestão e remonta ao ano de 2009, quando a internacionalização foi inserida no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Universidade. O tema ganha ainda mais importância com a publicação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no final de janeiro, do edital Programa Institucional de Internacionalização, que vai selecionar 40 projetos institucionais de internacionalização, com recursos de até R$ 300 milhões por até quatro anos. Nos últimos meses, duas consultas foram realizadas entre alunos, docentes, gestores e servidores técnico-administrativos por meio de questionários e entrevistas, visando à maior participação possível da comunidade unespiana na elaboração da proposta. O texto a seguir traz uma breve apresentação do plano e detalha o seu processo de elaboração, por meio de consultas à comunidade.

Tópicos Transversais Indicadores

adequadas, redefinir a aprendizagem para um mundo interconectado e repensar conhecimento e habilidades nesse contexto tanto para estudantes quanto para acadêmicos. • Pesquisa Trabalhar em colaboração para promover ideias genuinamente inovadoras e melhorar a qualidade e o impacto da ciência produzida, compartilhando habilidades e recursos e evitando a duplicação de esforços. Produzir ciência que leve ao progresso científico e econômico e que promova a educação global, facilitando a mobilidade dos estudantes. Dessa forma, melhorar a reputação da instituição não só de forma acadêmica, mas também socialmente, descobrindo soluções para desafios globais. • Parcerias Definir intercâmbios e parcerias no centro da estratégia de internacionalização, repensando seu significado e movendo o foco de parcerias transacionais para transformacionais. Ao mesmo tempo, trabalhar na consolidação, ao invés da expansão, de parcerias formais, a fim de promover a melhoria institucional, facilitar uma cooperação mais aprofundada e significativa

que catalise os esforços em busca da excelência. • Tópicos transversais Prestar apoio a iniciativas indiretas associadas a um plano de internacionalização é uma ação crucial para a implementação bem-sucedida da estratégia estabelecida. Se questões relacionadas ao ensino e uso de línguas, a legislação e políticas específicas para a recepção de estrangeiros estão sempre presentes e são dignas de atenção, outras, como treinamento de recursos humanos, desburocratização, interação com fundamentos de apoio universitário e agências de inovação, não podem ser desconsideradas sob pena de falha na busca dos objetivos estabelecidos. • Indicadores O desenvolvimento ideal do Plano Estratégico de Internacionalização depende do seu constante monitoramento e avaliação. A implementação dessa atividade será baseada essencialmente em indicadores que mostrarão sinais de progresso da iniciativa e ajudarão a medir seu impacto. Dessa forma, como em qualquer projeto, a implementação do Plano também será baseada na existência de processos,


Reportagem de capa resultados e indicadores de impacto adequados. Para cada tema, um ou mais objetivos irão detalhar as metas estabelecidas, cada uma delas sendo implementada através de Estratégias. Cada uma dessas estratégias estará sob a responsabilidade de um setor particular na administração (ver figura 2). INTERNACIONALIZAÇÃO ATÉ AQUI Se hoje o desenvolvimento do PEI é um tema central colocado em debate para a comunidade, cabe lembrar também que a internacionalização está inserida desde 2012 no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) – com alocação anual de recursos – e, em 2017, inserida também no Plano de Gestão atual (2017-2021). Do ponto de vista administrativo, a reestruturação da AREX levou a uma melhor organização da informação e a maior eficiência na realização de tarefas relacionadas ao planejamento e à implementação de projetos internacionais e apoio à mobilidade acadêmica. Isso não só atraiu recursos externos de projetos como o Erasmus Mundus e de programas internacionais Capes, mas também trouxe o reconhecimento da Unesp em um cenário internacional de grande competitividade. Em 2016, uma nova estrutura organizacional interna foi criada. A estrutura é composta por um Comitê Superior de Relações Internacionais (CSURI), coordenado pelo vice-reitor e que determina, por meio de decisões técnicas e políticas, um Comitê Executivo de Relações Internacionais (CERI) coordenado pelo

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FIGURA 2 – ORGANIZAÇÃO DO PLANO ESTRATÉGICO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

Temas Objetivos Estratégias Responsabilidade

assessor-chefe de Relações Externas e pelos Comitês Locais de Relações Internacionais (CLIs) para cada unidade, sob a coordenação dos pró-reitores. Através deles, a universidade gerencia e promove a divulgação da cultura de internacionalização na instituição, além de propor normas e procedimentos para a mobilidade internacional. Ainda no que diz respeito às oportunidades externas aproveitadas, deve-se considerar a presença da Unesp no Programa Idiomas sem Fronteiras, desenvolvido pelo Ministério da Educação para oferecer aos estudantes de graduação e pós-graduação cursos de proficiência em línguas estrangeiras. A implementação de um novo Marco Legal para Ciência, Tecnologia e Inovação, também realizada em 2016, surge como outra oportunidade a ser explorada, pois oferece incentivos à formação e ao desenvolvimento científico e tecnológico do país. Como resultado dessas me-

didas, os índices de publicações em revistas internacionais, o número de acordos de cooperação internacional, cotutela e duplo diploma também mostraram um aumento significativo, assim como o número de alunos que participaram de processos de mobilidade, especialmente através do Programa Ciência sem Fronteiras. METODOLOGIA A etapa final da construção do novo Plano Estratégico de Internacionalização foi iniciada em julho de 2017 pelo vice-reitor, professor Sergio Nobre, pelo pró-reitor de Pós-Graduação (PROPG), professor João Lima Sant’Anna Neto, e pelo assessor-chefe de Relações Externas, José Celso Freire Junior, com um processo em duas etapas. O primeiro passo envolveu a elaboração de um relatório contendo uma análise aprofundada das atividades internacionais da Unesp, especialmente nos últimos anos, incluindo documentos, regulamentos

e resultados. Em seguida, os pró-reitores foram convidados a indicar, em suas áreas específicas, os objetivos e ações que devem ser tomadas, bem como os resultados a serem alcançados com a internacionalização. Esse primeiro passo terminou com um grupo de gestores da universidade participando de uma imersão de uma semana nas Universidades de Birmingham e Nottingham, no Reino Unido, que, com sua vasta experiência no tema da internacionalização do ensino superior, atuaram como consultoras para discutir a elaboração do novo plano. O passo seguinte começou em setembro de 2017 com uma pesquisa comunitária para obter informações sobre as fortalezas, desafios, oportunidades e riscos de internacionalização da Unesp. Além de mostrar o entendimento da comunidade sobre o tema, o levantamento serviu para definir de maneira mais clara quais ações cada grupo deve desempenhar no processo de elaboração do plano.

FIGURA 3

Servidores técnico-administrativos

12,73%

Corpo docente Alunos de pós-graduação

39,93% 5,3% 13,35%

1,4% 20,5%

Alunos de graduação

Não importante

8,64%

Pouco importante Importante Muito importante 77,6%

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O questionário teve uma resposta significativa por parte do corpo docente, atingindo quase 40% de respostas desse grupo. Estudantes e servidores técnico-administrativos tiveram níveis muito menores de resposta, mas, considerando que a participação no questionário não era obrigatória, os números podem ser considerados expressivos. O dado mais importante da pesquisa foi o que apontou que a internacionalização é considerada muito importante ou importante para 77,6% e 20,5% dos participantes, respectivamente (ver figura 3). As respostas do questionário eletrônico também ajudaram a entender que, para o corpo docente, o aumento da presença em redes internacionais de pesquisa, a atração de pesquisadores visitantes e as visitas técnicas de curto prazo são consideradas ações importantes de internacionalização para a instituição. A mobilidade e o ensino de línguas estrangeiras também aparecem como ações relevantes para esse grupo. PARTICIPAÇÃO DOS CLIS Outra pesquisa foi realizada junto aos CLIs. Essas unidades de apoio à internacionalização localizadas na maioria dos câmpus da Universidade têm como função propor normas e procedimentos para a mobilidade e para a recepção de delegações internacionais, além de promover a disseminação de uma cultura de internacionalização na unidade em que se encontram. Essa pesquisa envolveu as atividades realizadas por essas unidades de apoio nos últimos quatro anos. Também foi pedido aos CLIs um plano de atuação para o período 2018–2021. Essa pesquisa, destinada a um grupo específico de servidores ligados diretamente ao processo de internacionalização, forneceu informações sobre os objetivos, estratégias, resultados e avaliação da internacionalização que está sendo desenvolvida atualmente na Universidade. Entre os objetivos apontados por esse grupo estão: 1) maior flexibilidade e internacionalização dos currículos; 2) incentivo à captação de recursos internacionais; 3) intensificação da mobilidade de docentes e servidores técnico-administrativos; 4) aumento do número de professores com experiência internacional; 5) aumento dos acordos de duplo diploma; 6) estímulo a ações de inovação a partir de relações entre universidades e empresas de nível interna-


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cional; 7) preparação do aluno para trabalhar em um mundo mais conectado e globalizado. O diálogo com os CLIs também resultou na sugestão de estratégias para direcionar a internacionalização, tais como: 1) privilegiar projetos de natureza multidisciplinar; 2) promover a internacionalização dos programas de ensino; 3) reconhecer disciplinas EAD (MOOCs) como atividades complementares que valem créditos; 4) desenvolver disciplinas virtuais internacionais; 5) promover ações para atração de professores e pesquisadores estrangeiros; 6) reduzir a burocracia para processos oficiais. FORÇAS, FRAQUEZAS, OPORTUNIDADES E AMEAÇAS Uma terceira pesquisa foi realizada junto aos coordenadores dos 150 programas de pós-graduação da Universidade. A reunião dessas três

Reportagem de capa

pesquisas permitiu elaborar uma Análise SWOT sobre o processo de internacionalização (ver Figura 4). A Análise SWOT é uma ferramenta amplamente usada em gestão e planejamento estratégico para fazer análises de cenário. O termo SWOT é uma sigla em inglês oriunda do acrônimo Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças). Dentre essas oportunidades externas apresentadas na tabela, destaca-se o novo programa de financiamento de programas de pós-graduação criado pela Capes. Essa iniciativa é a motivação para a elaboração do Plano Estratégico de Internacionalização que está sendo feito na Unesp, porque irá mudar o regime de financiamento federal para a internacionalização das instituições de ensino superior. A Unesp, como uma das mais importantes universidades do país, deve ser necessariamente protagonista desse processo.

FIGURA 4 INTERNAS

EXTERNAS

Forças

Oportunidades

• Internacionalização é um tema transversal no Plano de Gestão (2017-2021) • A existência de uma assessoria dedicada ao tema (a AREX) • Nova estrutura para as relações internacionais (CSURI - CERIs – CLIs) • Crescimento da Unesp no cenário nacional e internacional • Atividades sólidas existentes em acordos de cooperação, de cotutela e de duplo-diploma • Todas as áreas do conhecimento em uma universidade multicâmpus • Esquema de financiamento permanente (PDI)

• Capes: Programa para internacionalização da Pós-Graduação • Novo Marco Legal da Ciência e Tecnologia (Lei 10.973/16) • Inserção internacional • Oferta de cursos gratuitos de proficiência em inglês e outras línguas estrangeiras pela Capes e pelo Ministério da Educação (Idioma sem Fronteiras)

Fraquezas

Ameaças

• Ambiente não internacionalizado • Heterogeneidade no entendimento do conceito • Heterogeneidade na execução do conceito • Baixa atração de estudantes estrangeiros • Burocracia • Pouca proficiência em línguas estrangeiras • Currículos altamente rígidos • Dificuldades logísticas para receber estudantes estrangeiros

• Cenário político e econômico • Nova Estrutura do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

A análise de uma autoridade internacional Divulgação

U

ma das principais autoridades mundiais na área da internacionalização, Hans de Wit é diretor do Center for International Higher Education (CIHE), do Boston College, nos Estados Unidos, e professor da Amsterdam University of Applied Sciences, na Holanda. Nesta entrevista, ele analisa a situação das instituições de ensino superior em relação aos desafios de seu setor. Jornal Unesp: Quais são os tópicos atuais mais destacados no contexto da internacionalização do ensino superior no mundo? Hans de Wit: A internacionalização está no topo da agenda das instituições de ensino superior, governos nacionais, setor privado e entidades internacionais como a OCDE, o Banco Mundial e a Unesco. Isto é, por si só, importante e relevante, na sociedade em que vivemos, alicerçada no conhecimento global. Essa agenda é impulsionada principalmente por incentivos políticos e econômicos e focada na mobilidade de estudantes, estudiosos, programas, projetos e instituições (sucursais, franquias e operações), com uma lógica econômica de curto prazo. A internacionalização do ensino superior deve ser

estratégicas com universidades em outros países emergentes e em desenvolvimento e não se concentrar exclusivamente no mundo desenvolvido.

Para Hans de Wit, setores público e privado têm que colaborar entre si pela internacionalização impulsionada mais por motivos sociais, culturais e acadêmicos, abordando a necessidade de um ensino superior de qualidade, não só para um pequeno grupo de alunos e acadêmicos, mas para todos. A internacionalização do currículo, o desenvolvimento de resultados de aprendizagem interacionais e internacionais, tornando a mobilidade internacional mais inclusiva e menos elitista, são

pontos de atenção para o desenvolvimento da internacionalização no ensino superior. JU: Quais são os principais desafios que as IES brasileiras enfrentam para manter-se atualizadas nesse contexto? Wit: Os principais desafios para o ensino superior brasileiro no desenvolvimento de estratégias internacionais passam pela mudança de um foco exclusivo

na mobilidade de curto prazo, de um pequeno grupo de estudantes e estudiosos que rumam para universidades de classe mundial na Europa e América do Norte, para uma abordagem mais abrangente de internacionalização, contendo componentes de mobilidade e uma internacionalização com foco doméstico. Além disso, o ensino superior brasileiro deve procurar mais oportunidades de parcerias

JU: Que potencialidades as IES brasileiras poderiam explorar para facilitar uma maior inserção no cenário da educação internacional? Wit: As instituições brasileiras públicas e privadas de ensino superior, junto com as entidades públicas nacionais e locais e o setor privado, têm que trabalhar em conjunto para promover a educação internacional no Brasil. A concorrência em si é boa, mas a colaboração para se inserir o ensino superior brasileiro na agenda nacional e internacional não está em conflito com um ambiente tão competitivo; pelo contrário, fortalecerá a posição do ensino superior brasileiro na arena internacional da educação. Participar desse papel ativo para criar uma área de educação superior latino-americana efetiva e ativa, não baseada em declarações políticas mas em ações concretas, será uma base essencial, como a experiência do Processo de Bolonha e programas europeus como Erasmus + e Horizon 2020 ilustram.


Ciências Exatas

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Cimento mais ecológico Grupos do Brasil e da Espanha desenvolvem produto com resíduos como cinza de caroço de azeitona Divulgação

A

união de esforços entre pesquisadores espanhóis e brasileiros está desenvolvendo o primeiro cimento do mundo feito a partir de resíduos, que, além do baixo custo de fabricação, é mais sustentável que os produtos similares hoje disponíveis. O novo material, obtido a partir de cinza de caroço de azeitona e escória de altos-fornos, é resultado da colaboração entre equipes da Unesp e do Instituto de Ciencia y Tecnología del Hormigón (ICITECH), da Universitat Politècnica de València (UPV), na Espanha. A ideia de produzir o novo cimento surgiu há aproximadamente sete anos, quando Mauro Mitsuuchi Tashima, hoje professor do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia, Câmpus da Unesp de Ilha Solteira, desenvolvia sua tese de doutorado na UPV, sob a orientação do professores Jordi Payá e Maria Victoria Borrachero. De acordo com o professor Payá, o novo cimento se destaca

Da esq. para a dir.: professora Maria Victoria, professor José Monzó, aluna de doutorado Alba Fontes, professor Tashima, professora Lourdes Soriano e professor Payá principalmente pela sua baixa emissão de CO2: “É muito inferior quando comparada com os cimentos utilizados atualmente na construção civil”, ressalta. Além disso, o pesquisador afirma que esse trabalho abre uma nova via para o reaproveitamento e valorização energética de biomassas, como a cinza de caroço de azeitona. Segundo o professor Tashima, que integra o Grupo de Pesquisa em Materiais Alternativos de Construção (MAC) da Unesp, o novo cimento não necessita

de matérias-primas para a sua produção, o que contribui significativamente para o desenvolvimento sustentável. Para o professor Payá, o processo de fabricação do novo cimento é “muito simples”, envolvendo a moagem da cinza do caroço de azeitona e da escória, a definição da proporção adequada entre os materiais e a mistura com a água. Nos testes realizados até o momento, o novo cimento contém cerca de 20% de cinza de caroço de azeitona e 80% de escória.

Com relação às propriedades mecânicas, o cimento produzido pode alcançar resistências adequadas para a sua aplicação na construção civil – aproximadamente 300 quilos por centímetro quadrado à compressão. Entre as novidades do produto, os pesquisadores ressaltam a substituição do reativo químico comercial – substância adicionada com a finalidade de provocar uma reação química com a escória – pela cinza do caroço de azeitona. No caso, o reativo químico substituído é o hidróxido de sódio, que apresenta alto preço e elevada emissão de CO2. Reativos químicos são necessários em outros cimentos que envolvem ativação alcalina, em que uma fonte de aluminosilicato (composto de alumínio, silício e oxigênio) reage quimicamente com uma fonte de álcalis para formar produtos que apresentam resistência mecânica. Além disso, a preparação desse tipo de cimento não precisa de altas temperaturas, como ocorre

no cimento Portland, em que são necessárias temperaturas de 1.450 °C. “Agora o trabalho está focado na melhoria da formulação para obter melhores propriedades mecânicas, estudar a durabilidade e a possibilidade de aplicação do material”, afirma o professor Payá. A pesquisa teve seus resultados publicados na revista Materials Letters, e contou com a colaboração da empresa espanhola Almazara Candela (Elche – Alicante), que forneceu a cinza do caroço de azeitona. Atualmente, Tashima está na Espanha para dar continuidade às pesquisas que o grupo MAC realiza com o ICITECH. “Trabalhamos em diversas linhas de pesquisa, entre elas o estudo da cinza de caroço de azeitona”, comenta.

Informações Professor Mauro M. Tashima: <maumitta@gmail.com>.

Vigia eletrônico de trânsito Software desenvolvido em parceria com a Serpro identifica placa e reconhece modelo do veículo Ricardo Aguiar

A

Serpro, maior empresa pública de prestação de serviços em tecnologia da informação do Brasil, anunciou em novembro a criação de um novo produto validador cognitivo de infrações de trânsito. O software, além de identificar a placa do automóvel, reconhece o modelo do veículo, o que permite, por exemplo, verificar se um carro é clonado ou não. O resultado é fruto de uma colaboração entre a empresa e o Núcleo de Computação Científica (NCC) da Unesp. A parceria, que teve início em julho de 2017, está no âmbito do projeto Centro de Excelência em Machine Learning realizado com a Intel. Ao longo de mais de quatro meses, equipes do NCC, Serpro e Intel mantiveram reuniões semanais para otimizar o desempenho de aplicações de reconhecimento de marca e

Reprodução

modelo de veículos por meio de imagens. Para isso, foram utilizadas técnicas de machine learning e inteligência artifical com hardware da Intel e ferramentas de código aberto. “Os resultados da prova de conceito que realizamos foram superiores aos do artigo de referência utilizado”, disse Silvio Stanzani, pesquisador associado do NCC. O novo produto poderá ser utilizado, por exemplo, por órgãos de trânsito para identificar veículos no momento de uma infração e fazer com que a multa seja despachada automaticamente para o condutor. “Para esse projeto, usamos cerca de 12 desenvolvedores para criar uma solução que identifica a placa e modelo do carro, consulta a base de dados do Renavam e encaminha a multa para o infrator, sem interferência humana e

processos manuais”, explicou Thiago Oliveira, superintendente de Engenharia de Infraestrutura da Serpro, durante o Intel Press Summit, realizado dia 27 de novembro em São Paulo. As tecnologias usadas no processamento de imagens ajudaram a reduzir o tempo de classificação de cada imagem. Utilizando até 12 grupos de processadores, um processamento de multas que antes levava 45 horas agora poderá ser realizado em menos de 2 horas. “Com isso, tivemos uma acurácia de 90% no sistema, além da automação de todo o projeto”, disse Gustavo Rocha, chefe de divisão do Serpro, em notícia publicada no portal Decision Report. As colaborações entre NCC, Serpro e Intel continuarão em 2018. O próximo passo da parceria será testar o novo produto na base de dados de produção.

Imagem de carro se transforma em sinais que computador identifica


12 Reitor toma posse no Conselho do Instituto Confúcio na China Janeiro/Fevereiro 2018

Geral

Pela primeira vez, um representante da América Latina assume assento na instituição Divulgação

O

reitor da Unesp, Sandro Roberto Valentini, foi empossado como membro do Conselho da Matriz do Instituto Confúcio na China durante a 12.ª Conferência Global dos Institutos Confúcio, que reuniu 516 Institutos Confúcio de 142 países, entre 11 e 13 de dezembro, na cidade de Xi’an, na China. O conselho é o mais alto corpo decisório dos Institutos Confúcio no mundo. A presidente é a vice-premier do Conselho de Estado da República Popular da China, a senhora Liu Yandong. Os vice-presidentes do Conselho são os ministros e vice-ministros de 13 ministérios do governo chinês. Fazem parte desse conselho 15 reitores, sendo 5 de universidades chinesas e 10 de estrangeiras. É a primeira vez que um reitor da América Latina assume assento nesse colegiado. “Pretendemos fortalecer ainda mais o Instituto Confúcio na Unesp, considerando seu papel estratégico na formação de uma nova geração de pesquisadores

Valentini (sexto no grupo da frente, da esq. para a dir.): convite revela prestígio da Unesp entre chineses e profissionais que atuarão de maneira mais eficiente nas parcerias entre Brasil e China”, disse Valentini em seu discurso. O reitor viajou acompanhado pelo professor Luis Antonio Paulino, diretor do Instituto Confúcio da Unesp, com despesas pagas pela matriz do Instituto Confúcio na China. “O convite ao professor Valentini para ser membro desse conselho revela o elevado prestígio adquirido pela Unesp junto ao governo e às universidades chinesas e o reconhecimento ao apoio que o professor Sandro vem dando ao

desenvolvimento do Instituto Confúcio na Unesp, que se tornou um modelo para os Institutos Confúcio no mundo”, informa o professor Paulino. A conferência discutiu temas de relevância para o intercâmbio acadêmico e cultural entre universidades chinesas e estrangeiras que abrigam Institutos Confúcio em todo o mundo. VISITA O reitor Valentini aproveitou a ocasião para visitar a Universidade de Hubei, parceira chinesa do Instituto Confúcio da Unesp, no dia 14 de dezembro, na

cidade de Wuhan. Pela manhã, o dirigente participou da reunião do Conselho do Instituto Confúcio na Unesp ao lado do presidente da Universidade de Hubei, professor Zhao Lingyun. Nesse encontro, o professor Paulino apresentou o balanço das atividades do Instituto em 2017 e foram discutidas as metas para o ano de 2018 para apreciação do conselho. Na mesma ocasião, os dois reitores assinaram um aditivo ao acordo de cooperação entre as duas universidades cujo objetivo é realizar o intercâmbio de estudantes de graduação e pós-graduação. De acordo com o aditivo, a Unesp compromete-se a receber anualmente até 45 estudantes chineses da Universidade de Hubei e a enviar o mesmo número de alunos àquela instituição. À tarde, o professor Valentini foi agraciado com o título de Professor Honorário da Universidade de Hubei e proferiu a palestra “Construindo Parcerias Estratégicas com Universidades

Chinesas”. Em seguida, reuniuse com professores e jovens pesquisadores chineses, que apresentaram seus principais projetos de pesquisa, tendo em vista o estabelecimento de cooperação com pesquisadores da Unesp. A Universidade de Hubei já recebe os alunos do Instituto Confúcio na Unesp para cursos de um mês, seis meses, um ano ou dois anos (mestrado) com bolsas de estudo oferecidas pela matriz do Instituto Confúcio na China, já tendo enviado 400 alunos para a China nos últimos 10 anos. SOBRE O INSTITUTO CONFÚCIO NA UNESP O Instituto Confúcio na Unesp é o primeiro a ser criado no Brasil e já foi premiado em três ocasiões – 2010, 2012 e 2016 – como “Instituto Confúcio do Ano”, o que revela o enorme apreço e reconhecimento por parte das autoridades chinesas à Unesp pelo seu esforço de promover o intercâmbio acadêmico e cultural entre o Brasil e a China.

Encontro com ministro analisa expansão da TV Unesp Emissora fez pedido para uso de estações retransmissoras em Dracena, Botucatu e Itapeva Divulgação

N

o dia 8 de janeiro, o reitor da Unesp, professor Sandro Valentini, participou de uma reunião com o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, para tratar dos pedidos de autorização para uso de canais secundários de rádio e TV nas cidades de Dracena, Botucatu e Itapeva. Participaram da reunião o professor Francisco Machado Filho, diretor da TV Unesp, o professor Edson Luiz Furtado e a professora Vanderlan da Silva Bolzani, respectivamente presidente e vice-presidente da Fundunesp, e o secretário para assuntos de radiodifusão do Ministério, Moisés Queiroz Moreira. A solicitação dessas estações retransmissoras faz

Em sentido horário: Moreira (esq.), Machado, Valentini, Kassab, Vanderlan e Furtado em encontro que debateu solicitação parte do planejamento da TV Unesp de ampliar sua área de cobertura e atuação, atendendo às demandas dessas localidades na produção e divulgação de conteúdo educativo, voltado para o desenvolvimento local.

A TV Unesp, sediada em Bauru, atende atualmente apenas a essa cidade, com uma população de cerca de 340 mil pessoas. A partir da instalação das retransmissoras, a população

estimada atendida será de aproximadamente 600 mil pessoas. Além disso, a Unesp poderá ser a primeira universidade no país a contar com uma rede de TV aberta, o que representa um passo gigantesco da atual gestão na construção de uma rede de comunicação desse porte. Os pedidos de autorização seguem a normativa da migração do sistema de TV analógico para o sistema digital que está em implantação no Brasil. Em cidades que ainda não desligaram o sistema analógico, os canais disponíveis podem ser solicitados até a data do desligamento. É o caso de Dracena, Botucatu e Itapeva, assim como de Ilha Solteira,

Ourinhos, Marília, Rosana, Registro e Tupã, cidades que também terão os canais secundários solicitados, desde que as unidades universitárias demonstrem interesse. O objetivo principal da reunião foi reafirmar o interesse da Unesp no uso dos canais e o compromisso da instituição em implantar essa rede de comunicação, que possibilitará às unidades locais compartilhar saberes e divulgar seus projetos de pesquisa e extensão. Aguarda-se para os próximos meses a publicação das autorizações para que as providências de instalação sejam tomadas. Essa expansão da TV Unesp ocorrerá sem custos para a Universidade.


Gente

Parceria com a Harvard Medical School

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Professor na Academia Brasileira da Qualidade Divulgação

ntre setembro e dezembro de 2017, a professora Izildinha Maesta esteve em Boston, nos EUA, para realizar pesquisas sobre doenças trofoblásticas. A permanência na cidade norte-americana foi garantida por uma bolsa de estudos que a docente da Faculdade de Medicina, Câmpus da Unesp de Botucatu (FMB), obteve da Harvard Medical School (HMS). A bolsa, ou scholarship, resultou do intercâmbio científico entre o Centro de Doenças Trofoblásticas da Unesp de Botucatu e o New England Trophoblastic Disease Center (NETDC), da HMS, que se iniciou em julho de 2011, com o pós-doutorado da professora Izildinha Maesta nessa instituição. O intercâmbio se mantém, com espaço acadêmico para a pesquisadora realizar estudos a cada dois anos no NETDC. Os estudos permitem a atualização do banco de dados das pacientes com neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) – tumor de placenta que pode acompanhar ou seguir qualquer tipo de gravidez e que é curado em quase 100% dos casos com o tratamento quimioterápico. Essa atualização promove novas publicações conjuntas, visitas de pesquisadores do exterior, participação de alunos de pós-graduação, envolvimento de professores de outros países em coorientação de teses e em disciplinas do Programa de Pós-graduação em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia da FMB. “Essa scholarship que recebi na Harvard Medical School baseou-se no meu desempenho em pesquisas realizadas em parceria com o NETDC”, diz a docente. O período de 2017 possibilitou a pesquisa sobre a segunda linha de tratamento quimioterápico para pacientes com

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Professora Izildinha em Boston: estudo de doenças trofoblásticas neoplasia trofoblástica gestacional resistente ao medicamento metotrexate. Por meio da parceria com a NETDC, a professora Izildinha também se tornou Officer for South America da International Society for the Study of Trophoblastic Diseases (ISSTD). “Participar da Comissão Executiva da ISSTD, representando os países da América Latina, significa ampliar a divulgação e os estudos colaborativos sobre doenças trofoblásticas, e a realização de eventos científicos, como os que foram feitos com a coordenação da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu – o IV e o V Congressos Sul-Americanos de Doenças Trofoblásticas”, explica.

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rofessor da Faculdade de Engenharia do Câmpus da Unesp de Guaratinguetá, Messias Borges Silva foi indicado, aceito e empossado como acadêmico da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ). A cerimônia de posse ocorreu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), no dia 8 de novembro. A ABQ é uma organização não governamental e sem fins lucrativos que tem como membros pessoas experientes e de reconhecida competência profissional, adquirida ao longo dos anos – nas universidades, nas empresas e em outras organizações privadas ou públicas – em atividades relacionadas à engenharia da qualidade, à gestão da qualidade e à excelência na gestão. “É uma honra e uma grande

responsabilidade fazer parte de um grupo desse nível, que reúne as 50 maiores autoridades do país na área, com nomes como Dorothea Werneck, Jorge Gerdau e Claudius D’Artagnan da Cunha Barros”, enfatiza o professor de Guaratinguetá. Docente da Unesp desde 2005, Silva acentua que uma das principais metas dos acadêmicos da ABQ é participar de forma atuante nas questões de qualidade no Brasil. “Precisamos melhorar a qualidade de produtos, serviços e organizações”, resume o docente. “Isso aumenta a produtividade do país, que se torna mais competitivo em nível internacional.” Mais informações sobre a ABQ em: <https://goo.gl/UKNZvi>.

Divulgação

Silva (centro), na homenagem: entre melhores do Brasil na área

SEMPRE UNESP

Ex-alunas desenvolvem Prêmio Fazenda Sustentável com Globo Rural Marcela Porto Costa / Comissão de Comunicação Social do Câmpus de Sorocaba Divulgação

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x-alunas do curso de Engenharia Ambiental da Unesp de Sorocaba, Aline Aguiar e Marcela Costa trabalharam juntas no ano de 2017 para conduzir o 4.º Prêmio Fazenda Sustentável da Revista Globo Rural. Aline Aguiar ingressou na primeira turma do curso. Integrante da sexta turma, Marcela já concluiu o mestrado e está iniciando o doutorado, ambos pelo programa de Ciências Ambientais. Aline e Marcela se conheceram na faculdade e se reencontraram em 2016, para desenvolverem o Prêmio Fazenda Sustentável de 2016 e 2017, que avalia as fazendas em

Marcela (esq.) e Aline são egressas de curso de Sorocaba relação a sua sustentabilidade, ou seja, seu desempenho ambiental, social e financeiro. Nessa iniciativa, podem se inscrever propriedades de qualquer tamanho e cultivo. Aline trabalha na área de risco socioambiental do Rabobank,

o maior banco de agronegócio do mundo. Ela conduziu a primeira fase da seleção, em que as fazendas são avaliadas por critérios como adequação às legislações como o Cadastro Ambiental Rural (CAR). As fazendas eleitas passam para a segunda fase. Nessa etapa, Marcela Costa, que trabalha na Fundação Espaço ECO, consultoria para sustentabilidade fundada pela empresa BASF, analisa as fazendas pelo conceito de Avaliação de Ciclo de Vida Ambiental, além de examinar indicadores sociais e de boas práticas ambientais. As cinco fazendas com melhor avaliação são visitadas e auditadas por especialistas do Rabobank.

Os resultados são discutidos em um comitê julgador, que em 2017 foi composto por representantes da Embrapa, da Esalq-USP e da GV-Agro. “É muito gratificante poder aplicar um pouco do que aprendemos nas mais diversas áreas de atuação, como por exemplo bancos, que são cada vez mais cobrados pela responsabilidade socioambiental dos seus financiamentos”, ressalta Aline. “Nunca me imaginei trabalhando em uma instituição financeira, mas descobri que, sim, há espaço para a agenda de sustentabilidade!” Marcela considera uma realização fazer parte do projeto

do prêmio. “Além de representar a Fundação em uma parceria importante, eu estou em contato com produtores que possuem um olhar atento à gestão, produzindo de maneira diversificada e integrada, e que mesmo com a complexidade de financiamento e colocação desses produtos no mercado, continuam batalhando pela sustentabilidade, investindo em pessoas por meio de educação, capacitação e inclusão.”

Para saber mais sobre o projeto, acesse: <https://goo.gl/7PcgSy>.


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Alunos

Alunas conquistam Prêmio Jovem Jornalista Reportagem abordou realidade das mulheres em situação de rua em Bauru e na capital Alice Vergueiro

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s estudantes de Jornalismo Ana Carolina Moraes e Daniela Arcanjo Rodrigues, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), Câmpus da Unesp de Bauru, receberam, no dia 31 de outubro, em São Paulo, o troféu do 9º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão. Ao todo, dez pautas foram premiadas, numa cerimônia realizada no Tucarena, em São Paulo. Com o tema “Sob a ponta do iceberg: Revelando a violência contra as mulheres que ninguém vê”, o concurso foi promovido pelo Instituto Vladimir Herzog, em parceria com o Instituto

Avon, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e as empresas Intercom e Oboré. Com o projeto Marias das Ruas, as alunas da Unesp concorreram com 226 estudantes de 18 Estados do Brasil. Ana Carolina e Daniela fizeram uma reportagem sobre mulheres em situação de rua em Bauru e em São Paulo, com orientação do professor Juarez Tadeu de Paula Xavier e mentoria do jornalista Douglas Calixto, do Opera Mundi. A ideia da pauta nasceu da experiência das duas estudantes no projeto Fatos da Rua, iniciativa das duas e de outros colegas que produz um jornal impresso junto com moradores

Daniela (vestido xadrez) e Ana Carolina, com prêmios recebidos de rua de Bauru. Os textos do Marias das Ruas estão hospedados em um site (www.mariasdasruas.com.br).

Alunos do CTI vencem competição da Unicamp

O projeto ainda conta com canal no YouTube e página no Facebook. “A gente está falando

de um grupo social que é extremamente vulnerável e exposto a uma série de violências e que, por ser formado por mulheres, ainda tem todas as consequências e violências da sociedade patriarcal machista’’, explica Ana Carolina Moraes. Daniela acentua que às vezes a universidade e o mercado de trabalho desestimulam os estudantes, mas o contato com outros profissionais durante o concurso lhes trouxe outras visões: “Você vai lá e vê que tem um caminho, uma rede de pessoas que tão dando certo e eu achei isso muito legal’’, completa. Com informações de Caique Resende – ACI/FAAC

Trabalho de Conclusão de Curso gera espaço virtual Divulgação

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Equipe Economicus, do Colégio Técnico Industrial (CTI) de Bauru, foi a vencedora da edição de 2017 do Programa Inova Jovem, competição de empreendedorismo promovida pela Agência de Inovação Inova Unicamp e destinada aos alunos dos colégios técnicos e de ensino médio regular de todo o Brasil. O evento, cuja final aconteceu no dia 9 de novembro, em Campinas, envolveu cerca de 500 alunos de 45 cidades. A equipe do CTI é composta pelos alunos Felipe Urso Parreira Pinto, Gabriel Rocha Guimarães, Luca Kiatake Creppe, Matheus Fortunato das Mercês e Déborah Domeneghetti de Francisco, do 2º ano do curso de Informática do CTI. Eles foram orientados pela professora Jovita Hojas Baenas, que ministra as disciplinas de Administração e Gestão de Negócios no Colégio. O projeto da Economicus tem o objetivo de ensinar os conceitos de finanças básicas para crianças e adolescentes por meio de uma plataforma que, através de atividades lúdicas, orienta os jovens a poupar, utilizar conscientemente seu dinheiro e fazer investimentos, além de conhecer obrigações tributárias.

Equipe Economicus venceu competição com cerca de 500 alunos Déborah relata que a fase inicial da competição compreendeu o envio de um documento com detalhes do projeto. Com a proposta aprovada, a equipe recebeu um mentor indicado pela Unicamp, Carlos Eduardo Moura, da empresa Superlógica, de Campinas. “Ele avaliou a viabilidade do nosso projeto, deu ideias e conselhos”, recorda a aluna. Na fase final, que teve a participação de seis projetos selecionados, Déborah e Luca Creppe fizeram uma apresentação concisa da proposta da Economicus na Unicamp, para uma banca de

avaliadores. Logo em seguida, foram anunciados os vencedores. Déborah considera a competição uma experiência muito enriquecedora. “O aprendizado que estamos tendo no CTI nos deu segurança para obter esse resultado.” Para a professora Jovita a vitória no Inova Jovem é consequência da dedicação de toda a comunidade do CTI. “O importante é sempre atingirmos nossos objetivos. Todos juntos fazemos acontecer!”, comemora. Com informações de Flávia Izidoro – ACI/Faculdade de Engenharia da Unesp de Bauru

Frida Diria é um espaço virtual colaborativo com notícias e discussões sobre feminismo e temas relacionados, como raça e questões LGBT, entre outros. Ele nasceu do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) realizado por Nathalia Rocha, quando era aluna do curso de Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), Câmpus da Unesp de Bauru. Nathalia explica que, durante a graduação, fez iniciação científica sobre novos modelos de negócio no jornalismo, no contexto da mídia, a partir de algumas análises de caso. “Para o TCC, resolvi unir valores e crenças políticas e sociais – meu interesse e envolvimento com o movimento feminista – à pesquisa que estava em curso”, esclarece a ex-aluna, que foi orientada pelo professor Francisco Rolfsen Belda, do Departamento de Comunicação Social da FAAC. A ex-aluna assinala que colocou o projeto no ar antes do período normalmente utilizado para produção do TCC e constatou que tinha pouco tempo para pôr em prática as estratégias de monetização de um portal – ou seja, para torná-lo uma fonte de renda.

“Então resolvi trabalhar com um mínimo produto viável, apresentando o site e seu plano de negócios”, revela. Segundo Nathalia, o conhecimento que adquiriu com a iniciação científica e o TCC a estimulou a ampliar sua visão da área de comunicação e a optar por outras possibilidades de trabalho, além do jornalismo tradicional. “Além disso, ter criado um site sobre feminismo e questões de gênero fez com que eu tivesse contato com discussões enriquecedoras do ponto de vista político e social e me permitiu entrar em contato com pessoas muito inspiradoras.” Reprodução

Espaço no Facebook debate sobre feminismo e questões de gênero

O Frida Diria está acessível no Facebook: <https://www.facebook.com/ fridadiria/>.


Geral

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AGÊNCIA UNESP DE INOVAÇÃO

Sob nova direção

GOVERNADOR: Geraldo Alckmin SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO SECRETÁRIO: Márcio França

Divulgação

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esde janeiro, Wagner Cotroni Valenti, professor do Centro de Aquicultura da Unesp, é o diretor da Agência Unesp de Inovação (AUIN). A missão primordial da AUIN é gerir a proteção e o licenciamento das criações intelectuais da Unesp e desenvolver o pensamento empreendedor no corpo discente e docente. Isso inclui a obtenção de patentes e registros de softwares, cultivares, desenhos industriais e outros produtos intelectuais criados pelos docentes, pesquisadores e alunos da Unesp. O professor Wagner deverá desenvolver uma estrutura consolidada e eficiente para a agência e atuar na adaptação das normas da Unesp à nova legislação que regula a interação entre a universidade e as empresas, ou seja, o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei Federal no 13.243/2016) e o Decreto 62.817/2017 – Normas Gerais sobre Política Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação, que regulamenta a aplicação do Marco Legal no

Valenti: escritório moderno para captação de recursos

Estado de São Paulo. “Pretendemos dotar a agência de uma estrutura administrativa, financeira e jurídica adequada e especializada em inovações, de modo a incentivar a produção de patentes e registros de qualidade, aumentar o número de licenciamentos e o pensamento empreendedor dentro da Universidade”, afirma Valenti. Ele ressalta ainda que a inovação é um tema transversal e a interação com todas as pró-reitorias e a Assessoria de Relações Externas é essencial. “Juntamente com a Prope, pretendemos criar um escritório moderno para captação de recursos para pesquisa”, completa.

SOBRE WAGNER COTRONI VALENTI O professor Wagner Valenti foi criador e diretor do Centro de Aquicultura da Unesp, chefe do Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária da FCAV, Câmpus de Jaboticabal, e criador e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura. Recentemente, foi coordenador-executivo do Câmpus Experimental do Litoral Paulista. Tem bastante experiência em transferência de tecnologia para o setor produtivo na área de aquicultura. É consultor do Small Business Innovation Reseach Program do US Department of Agriculture, dos EUA, e participa dos comitês do PIPE Fapesp desde sua criação. Coordena grandes redes de pesquisa e auxilia o MCTIC em missões internacionais. Publicou mais de 150 livros e artigos científicos. Recebeu vários prêmios, entre eles o título de Fellow da World Aquaculture Society, em 2014.

Prograd define cronograma para o Censo da Educação Superior 2017

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ela primeira vez, a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) definiu um cronograma de alinhamento, padronização e otimização de procedimentos, a fim de contribuir com a gestão dos processos de trabalho do Censo da Educação Superior 2017. A Unesp contará com 39 colaboradores para a coleta de dados do Censo, sendo 1 pesquisador institucional (PI), 35 auxiliares institucionais (AIs) das 34 unidades e do NEaD, além de 3 AIs na Reitoria. Ainda para o Censo de 2017, a Prograd, numa ação pioneira articulada com o MEC, possibilitou capacitação por meio de educação a distância para os auxiliares institucionais e para o pesquisador institucional,

em um novo formato de treinamento do MEC para o Censo, que até então era disponibilizado somente ao PI. O treinamento está estruturado por módulos, no decorrer dos quais o participante terá apoio da equipe do Censo Superior para esclarecer dúvidas sobre o conteúdo abordado, por meio da ferramenta do "Fórum". O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) comunicou a abertura do sistema eletrônico de coleta de dados do Censo a partir do dia 1º de fevereiro. O Censo é pré-requisito para a expedição de atos regulatórios e participação da universidade em programas do MEC, por exemplo, bolsas da CAPES. O Censo também subsidia a

avaliação, a supervisão e o cálculo do Conceito Preliminar do Curso (CPC) e do Índice Geral de Cursos (IGC). É importante enfatizar que, após a divulgação oficial dos dados do Censo, a informação prestada pela Universidade passará a figurar como estatística oficial da educação superior.

O Cronograma da Unesp para o Censo da Educação Superior está disponível em: <https://goo.gl/9DKpPK> Mais informações na Prograd: Pesquisador Institucional: Assessor técnico Alexandre Donizeti Pazoti Tel. (11) 5627-0367 <alex.pazoti@reitoria.unesp.br>.

REITOR: Sandro Roberto Valentini VICE-REITOR: Sergio Roberto Nobre PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E GESTÃO: Leonardo

Theodoro Büll PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO: Gladis Massini-Cagliari PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO: João Lima Sant’Anna Neto PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA:

Cleopatra da Silva Planeta PRÓ-REITOR DE PESQUISA: Carlos Frederico de Oliveira Graeff SECRETÁRIO-GERAL: Arnaldo Cortina CHEFE DE GABINETE: Carlos Eduardo Vergani ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA : Oscar D’Ambrosio ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA DE INFORMÁTICA :

Edson Luiz França Senne ASSESSOR-CHEFE DA ASSESSORIA JURÍDICA :

Edson César dos Santos Cabral ASSESSOR-CHEFE DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO:

José Roberto Ruggiero ASSESSOR-CHEFE DE RELAÇÕES EXTERNAS:

José Celso Freire Júnior ASSESSOR ESPECIAL DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO:

Rogério Luiz Buccelli DIRETORES/COORDENADORES-EXECUTIVOS DAS UNIDADES UNIVERSITÁRIAS:

Max José de Araújo Faria Júnior (FMV-Araçatuba), Wilson Roberto Poi (FO-Araçatuba), Luis Vitor Silva do Sacramento (FCF-Araraquara), Elaine Maria Sgavioli Massucato (FO-Araraquara), Cláudio César de Paiva (FCL-Araraquara), Eduardo Maffud Cilli (IQ-Araraquara), Andréa Lúcia Dorini de Oliveira (FCL-Assis), Marcelo Carbone Carneiro (FAAC-Bauru), Jair Lopes Junior (FC-Bauru), Luttgardes de Oliveira Neto (FE-Bauru), Carlos Frederico Wilcken (FCA-Botucatu), Pasqual Barretti (FM-Botucatu), Maria Dalva Cesario (IB-Botucatu), José Paes de Almeida Nogueira Pinto (FMVZ-Botucatu), Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo (FCAT-Dracena), Célia Maria David (FCHS- -Franca), Mauro Hugo Mathias (FE-Guaratinguetá), Enes Furlani Junior (FE-Ilha Solteira), Antonio Francisco Savi (Itapeva), Pedro Luís da Costa Aguiar Alves (FCAV-Jaboticabal), Marcelo Tavella Navega (FFC-Marília), Edson Luís Piroli (Ourinhos), Marcelo Messias (FCT-Presidente Prudente), Patrícia Gleydes Morgante (Registro), Cláudio José Von Zuben (IB-Rio Claro), José Alexandre de Jesus Perinotto (IGCE-Rio Claro), Guilherme Henrique Barris de Souza (Rosana), Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira (Ibilce-São José do Rio Preto), Estevão Tomomitsu Kimpara (ICT-São José dos Campos), Valerie Ann Albright (IA-São Paulo), Marcelo Takeshi Yamashita (IFT-São Paulo), Marcos Antonio de Oliveira (IB/CLP-São Vicente), Eduardo Paciência Godoy (ICT-Sorocaba) e Danilo Fiorentino Pereira (FCE-Tupã).

EDITOR: André Louzas REDAÇÃO: Marcos Jorge COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Caique Resende, Flávia Izidoro,

Marcela Porto Costa e Ricardo Aguiar (texto); Alice Vergueiro (foto). EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Phábrica de Produções Alecsander Coelho e Paulo Ciola (direção de arte); Daniela Bissiguini, Érsio Ribeiro, Kauê Rodrigues, Marcelo Macedo e Rodrigo Alves (diagramação) REVISÃO: Maria Luiza Simões PRODUÇÃO: Mara Regina Marcato APOIO ADMINISTRATIVO: Thiago Henrique Lúcio TIRAGEM: 3,5 mil exemplares Este jornal, órgão da Reitoria da Unesp, é elaborado mensalmente pela Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI). A reprodução de artigos, reportagens ou notícias é permitida, desde que citada a fonte. ENDEREÇO: Rua Quirino de Andrade, 215, 4.º andar, Centro, CEP 01049-010, São Paulo, SP. Telefone: (11) 5627-0323. HOME PAGE: http://www.unesp.br/jornal E-MAIL: jornalunesp@reitoria.unesp.br IMPRESSÃO: 46 Indústria Gráfica

VEÍCULOS Unesp Agência de Notícias: <http://unan.unesp.br/>. Rádio Unesp: <http://www.radio.unesp.br/>. TV Unesp: <http://www.tv.unesp.br/>.


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Leitura

OS 10 (PRIMEIROS) LIVROS QUE EU QUERO LER (OU RELER) EM 2018

Shutterstock

Bibliotecária da Unesp de Bauru faz uma lista bem-humorada das suas prioridades de leitura

Maith Martins de Oliveira 1. ZORBA, O GREGO – NIKOS KAZANTZAKIS Minha mãe é super mega master blaster importante na minha vida. Em todos os momentos. Em todos os aspectos. Esse é o livro preferido dela. Por que será que ainda não li? Agora é a hora. Para conhecer um pouco mais sobre seus gostos, sua personalidade. Além disso, o autor é considerado o mais importante escritor grego do século XX. E o livro virou filme ganhador de três Oscars. 2. NOS CONFINS DO HOMEM: OS ANIMAIS DESNATURADOS – VERCORS A primeira vez que ouvi falar desse livro foi na excelente palestra “Fraude em ciência: casos e causas”, do professor William Saad Hossne (in memoriam) da Unesp na USP (disponível na internet). Ele contou um trecho da história e atiçou minha curiosidade dizendo que o livro é extremamente difícil de ser encontrado para compra. O que aconteceria se alguém encontrasse o elo perdido? Como saber se aquele seria um animal ou um ser humano? Que tal se um humano topasse ter um filho com ele e depois matasse o filho/filhote para que a justiça decidisse se era um homicídio ou não?

3. CAVALOS PARTIDOS – JEANNETTE WALLS Quero ler um livro de uma personagem verdadeiramente corajosa. O livro é baseado na história da avó da autora. Aproveito pra aumentar minha leitura de obras escritas por mulheres. #LeiaMulheres 4. OUTROS JEITOS DE USAR A BOCA – RUPI KAUR Sucesso de vendas nos EUA. E olha que é livro de poesia! Rupi escreveu e ilustrou o livro. Ela é pop e polêmica. E quando li isso: “Quero pedir desculpa a todas as mulheres que descrevi como bonitas antes de dizer inteligentes ou corajosas. Fico triste por ter falado como se algo tão simples como aquilo que nasceu com você fosse seu maior orgulho, quando seu espírito já despedaçou montanhas. De agora em diante vou dizer coisas como, ‘você é forte’ ou, ‘você é incrível!’, não porque eu não te ache bonita, mas porque você é muito mais do que isso.” Descobri que precisava ler o livro todo. 5. O FIO DA VIDA – KATE ATKINSON Dejá vu. Efeito borboleta. Mesmo rio, outras águas. Quantas chances temos na vida? Li resenhas que me deixaram curiosa para saber o que fez a personagem que teve muitas chances para viver a mesma história.

6. O SOL É PARA TODOS – HARPER LEE A autora ganhou o Pulitzer de ficção com este livro. O livro virou filme que ganhou quatro Oscars. Eu ganhei Vá, coloque um vigia. Assumo, quero ler os dois (e ver o filme). Mas sou meio metódica. Preciso ler O sol primeiro. 7. A VERSÃO DOS AFOGADOS: NOVAS COMÉDIAS DA VIDA PÚBLICA – LUIS FERNANDO VERÍSSIMO Veríssimo está entre meus autores prediletos. Leve, divertido, seu estilo me conquistou desde a primeira leitura. Adorei suas Comédias da vida privada. Vamos ver como serão suas comédias da vida pública. 8. MINHAS VIDAS PASSADAS: [AGORA COM MAIS DUAS VIDAS] – MARIO PRATA Lembra uma época, mais ou menos recente, quando “estava na moda” muitas vidas, muitos mestres e outros afins? Caiu-me nas mãos o Minhas vidas passadas (a limpo). Li na praia. Eu não conseguia largar o livro, nem sob o sol, nem sobre a areia, nem sob as ondas do mar (mesmo porque eu tenho medo de água e não entro no mar, mas isso não vem ao caso). Eis que recentemente descobri

a edição com mais duas vidas! PRE-CI-SO ler. Antes que eu morra! Certeza que as pessoas da minha vida atual são minhas velhas conhecidas... Para o bem ou para o mal. Ou será que não? (Rolando de rir só de pensar.) 9. A MORTE DE IVAN ILITCH – LEON TOSTÓI Ele é Ilitch, eu Maith. Ele é funcionário público, eu idem. Ele estava morrendo e meditando sobre o passado. Eu, graças a Deus, estou ótima, obrigada. Mas também estava pensando sobre o passado, o presente, o futuro. Foi quando num evento virtual do Galeno Amorim ouvi a sugestão do Dante Gallian. Ah, a Internet! (Suspiro.) Não sosseguei enquanto não li. É tão curtinho e BOM (assim mesmo, com maiúsculas) que qualquer dia desses, quando eu conseguir colocar meus dois baby amores (de dez meses e 5 anos) na cama mais cedo, vou aproveitar para reler. Menos hoje, porque fiquei redigindo esta lista. 10. COMO SE ESTIVÉSSEMOS EM UM PALIMPSESTO DE PUTAS – ELVIRA VIGNA Elvira recebeu o prêmio APCA de melhor romance com esta obra.“Mas nessa hora que faço, vou contar uma história que não sei bem como é. Não vivi, não vi. Mal ouvi. Mas acho que foi assim mesmo.”

(Citação.) Mas nessa hora que escrevo, vou contar que estou interessada nessa história que não sei bem como é. Não vi, não li. Ouvi falar. Bem. A lista é minha, fiquei com vontade de ler e pronto. Acho que foi assim mesmo. (Paródia.) E olha que notícia boa!: já pesquisei e vi que tem nas bibliotecas da Unesp, ou seja, ler sem gastar nem um tostão! Sou bibliotecária, mãe, filha, esposa, amiga. Leal, bagunceira, responsável, exuberante, apaixonada, passional, eclética, mandona, medrosa, corajosa, instável, realizada. Feliz. Por isso a lista está em ordem “analfabética”. Está na ordem que EU quis.

Maith Martins de Oliveira é graduada em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela Universidade Federal de São Carlos e especialista MBA em Gestão de Unidades de Informação. Atualmente bibliotecária da Unesp de Bauru. É supervisora da Seção Técnica de Referência, Atendimento ao Usuário e Documentação. Contato: <maith@bauru.unesp.br>.


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