Boletim da Academia Paranaense de Medicina

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EDITORIAL

Ser médico é um sentimento que acompanha o verdadeiro doutor desde a sua infância: é gostar de pessoas, das relações humanas, tratar o outro com respeito e dignidade. Uma carreira médica é construída com muito sacrifício: vestibular mais disputado, curso mais longo, anos de pós-graduação, a vida toda de educação continuada. Mas, apesar destas dificuldades, aqueles que nasceram com o ideal de ser médico se sentem plenamente realizados.

Pertencer à Academia Paranaense de Medicina é o coroamento de toda esta jornada. Ser Presidente desta Academia é uma grande honraria e agradeço aos meus pares pela indicação do meu nome para esta função. A eleição não foi só da minha pessoa, mas sim de uma competente Diretoria. Convidei mais que confrades, grandes amigos, para comporem a Diretoria que, com certeza, muito auxiliará no cumprimento dos desígnios da nossa Academia.

Apesar da posse ter sido em dezembro, nossas atividades se iniciaram efetivamente no mês de março. No dia 15 de março foram empossados quatro acadêmicos titulares, sendo dois da capital e dois do interior. No dia 10 de maio teremos mais três posses de acadêmicos titulares, dois de Curitiba e um de Santo Antônio da Platina. O convívio na

Academia é muito gratificante, e, mais uma vez, convido os confrades para que compareçam às nossas sessões solenes e ao nosso picadinho cultural.

Com a elevação de acadêmicos titulares a eméritos, mais 10 vagas foram abertas. O Edital que contempla seis vagas de acadêmico titular para a capital e quatro para o interior já foi divulgado.

Talvez a tarefa mais importante da nossa gestão seja a implantação do site da Academia. Não só para que as pessoas tenham acesso e entendam o escopo da Academia Paranaense de Medicina, mas principalmente para preservarmos a nossa memória. Esta memória está esparsamente contida em uma pequena sala da casa anexa à Associação Médica do Paraná, em alguns livros e com a nossa competente secretária Hilda, memória viva da Academia desde 1993. O site da Academia, reunirá em um único local, toda a nossa história, e sendo “on-line” permitirá uma constante atualização.

Para cumprir nossos ideais estatutários, contamos com a colaboração de todos.

Ainda em tempo, um excelente 2024 a todos os confrades e aos seus familiares.

Henrique de Lacerda Suplicy Presidente da Academia Paranaense de Medicina (Cadeira 7)

JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO DE 2024 ANO 21 – NÚMERO 1

ACADEMIA PARANAENSE DE MEDICINA

Diretoria Biênio 2024 / 2025

Presidente

Henrique de Lacerda Suplicy

Vice-Presidente

Antônio Carlos Corrêa Küster Filho

Secretário Geral

Rogério Andrade Mulinari

Secretário Adjunto

Rodney Luiz Frare e Silva

Primeiro Tesoureiro

Claudio Leinig Pereira da Cunha

Segundo Tesoureiro

Cesar Luiz Boguszewski

Primeiro Diretor Científico

Miguel Ibraim Abboud Hanna Sobrinho

Segundo Diretor Científico

Sérgio Bruno Bonatto Hatschbach

Diretor Sociocultural

Dilermando Pereira de Almeida Filho

Diretor de Publicação

Nicolau Gregori Czeczko

Diretor de Patrimônio

Manoel Augusto Ribas Cavalcanti

Diretor de Expansão

José Fernando Macedo

Diretor de Relações Internacionais

Guilberto Minguetti

Diretor de Relações Institucionais

Edison Luiz de Almeida Tizzot

Diretor de Relações Nacionais

Jurandir Marcondes Ribas Filho

Diretor de Memória

Ehrenfried Othmar Wittig

Conselho Fiscal

Titulares

Avelino Ricardo Hass

Bruno Maurizio Grillo

Renato Araujo Bonardi

Suplentes

João Batista Marchesini

Osvaldo Malafaia

Valdir de Paula Furtado

Secretária da Academia

Hilda Hintz

NOVOS ACADÊMICOS TITULARES

No dia 15 de março de 2024, na sede da Associação Médica do Paraná, em solenidade concorrida, aconteceu a posse dos novos Acadêmicos Titulares, Dalton Bertolim Précoma, Faustino Garcia Alferez, Gastão Pereira Cordeiro Filho e Marco Antônio Araújo da Rocha Loures.

PICADINHO CULTURAL DR. WADIR RÚPOLLO

No Picadinho Cultural do dia 26 de março de 2024, o Doutor Raul Martins Filho apresentou o tema: “Novos Métodos de Diagnóstico por Imagem da Doença de Alzheimer”.

O Acadêmico Avelino Ricardo Hass participou da cerimônia das comemorações dos 65 anos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e homenagem da Concessão de Título de Reitor Emérito, ao Professor Waldemiro Gremski.

2 BOLETIM DA ACADEMIA PARANAENSE DE MEDICINA NOTAS E EVENTOS

TROMBOEMBOLISMO VENOSO EM VIAGENS AÉREAS

Ricardo Cesar Rocha Moreira

Acadêmico Titular da Academia Paranaense de Medicina (Cadeira 16)

Você sabia que neste exato momento cerca de 9 mil aeronaves comerciais estão no ar? E que o número global de passageiros de viagens aéreas em 2023 passou de 5,5 bilhões? Ou seja, o número de passageiros em viagens aéreas em um ano é quase 70% do número de habitantes do planeta. Durante os vôos, estes bilhões de passageiros estão sujeitos a alterações fisiológicas que podem resultar em risco para sua saúde. Um destes riscos é a formação de coágulos nas veias dos membros inferiores, conhecida clinicamente como trombose venosa profunda –TVP. Das alterações fisiológicas que podem provocar TVP, duas estão presentes durante um vôo prolongado: a estase venosa e a hipercoagulabilidade do sangue.

A cabine de uma aeronave comercial é desenhada para alojar o número máximo de assentos, mesmo que isto resulte em espaços exíguos para acomodar cada passageiro. Todos viajam sentados, com pouco espaço para mudar de posição e dificuldade para sair do assento para “esticar as pernas” (exceto os felizardos da classe executiva e primeira classe). O resultado desta inatividade forçada com as pernas pendentes é a estase venosa – redução da velocidade do retorno venoso dos membros inferiores.

O ar ambiente da cabine é mais seco que num deserto (umidade relativa menor que 10%). O aumento da perspiração pelo ar expirado pelo passageiro pode levar à desidratação, hemoconcentração e aumento da viscosidade sanguínea. Em resumo, leva à hipercoagulabilidade do sangue.

O sangue hipercoagulável e estagnado tende a coagular dentro nas veias profundas dos membros inferiores (TVP). Os coágulos podem se fragmentar e serem levados pela corrente sanguínea ao pulmão, causando a embolia pulmonar (TEP). O conjunto TVP – TEP é denominado clinicamente tromboembolismo venoso (TEV).

Cerca de 60% dos vôos têm duração menor que 3 horas; porém, de 10 a 15% têm duração maior que 6 horas. As alterações fisiológicas descritas acima são proporcionais ao tempo de duração do vôo. Portanto, num ano típico, centenas de

Expediente

Academia Paranaense de Medicina

R. Cândido Xavier, 575 80240-280 - Curitiba/PR

55 41 99101-8309

milhões de passageiros correm o risco de desenvolver TEV durante ou logo após uma viagem de longa duração.

Nos últimos 10 anos, tem sido gerada uma literatura sobre a epidemiologia e formas de prevenção do TEV nas viagens aéreas, que permite se recomendem alguns comportamentos para todos os viajantes:

– escolher um assento que permita mover as pernas durante o vôo;

– procurar fazer exercício com os membros inferiores, como contrair as panturrilhas e flexionar/estender os dedos dos pés;

– evitar a ingestão de bebidas alcoólicas antes do vôo, pois aumentam a diurese e produzem desidatração;

– ingerir água várias vezes durante o vôo;

– andar pelo corredor até o banheiro, pelo menos uma vez a cada 3 horas;

– e mais importante: em qualquer vôo com duração de mais de 4 horas, usar meias elásticas de baixa ou média compressão, próprias para viagem. Meias elásticas comprovadamente aceleram o retorno venoso, reduzindo o edema dos membros inferiores e o risco de TVP subsequente.

Alguns grupos de pacientes são considerados de alto risco para o desenvolvimento de TEV em viagens aéreas, especialmente em vôos com duração maior que 6 horas: história familiar de TEV; cirurgia recente; gravidez ou puerpério; câncer em atividade; e terapias hormonais. Além do uso rotineiro de meias elásticas, deve-se considerar nestes pacientes a administração de anticoagulante oral direto (DOAC), algumas horas antes do vôo. Embora não existam evidências claras que esta prática reduz o risco de TEV, o uso de uma ou duas doses de DOAC é medida extremamente simples, com provável efeito protetor e risco quase nulo de complicações e efeitos adversos.

As medidas comportamentais, o uso de meias elásticas e a prescrição seletiva da anticoagulantes reduzem significativamente o risco de TEV nos passageiros. Dado o número assombroso de passageiros que correm o risco de TEV em viagens áereas de longa duração, deve-se aplicar o antigo adágio: “melhor prevenir do que remediar”.

E-mail: academiapr@uol.com.br

www.facebook.com/APMMED

Diretor de Publicação:

Acadêmico Titular Nicolau Gregori Czeczko

O Boletim da Academia Paranaense de Medicina é uma edição trimestral da Academia Paranaense de Medicina.

Design gráfico: Pedro Luis Vieira

Cartas, sugestões, contribuições devem ser encaminhadas para a APM, por e-mail ou no endereço acima.

BOLETIM DA ACADEMIA PARANAENSE DE MEDICINA 3
ARTIGO

I.A. NA MEDICINA

João Caetano Dallegrave Marchesini

Acadêmico Titular da Academia Paranaense de Medicina (Cadeira 42)

A inteligência artificial (IA) tem se tornado cada vez mais fundamental na transformação de diversos setores e a medicina está entre as áreas mais impactadas por essa revolução tecnológica. A capacidade da IA de processar e analisar grandes volumes de dados com rapidez e precisão, oferece possibilidades sem precedentes para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes, prometendo uma medicina mais precisa, personalizada e acessível.

Adicionalmente, a utilização de sistemas baseados em IA, como o ChatGPT na triagem prévia de atendimento primário, emerge como um avanço promissor. Estas ferramentas automatizadas podem realizar uma coleta inicial de sintomas, oferecendo uma pré-avaliação que ajuda a determinar a urgência e o tipo de atendimento médico necessário. Isso representa uma evolução significativa na gestão da saúde, permitindo uma melhor alocação de recursos e encaminhamento mais eficiente dos pacientes, embora sempre sob a supervisão e validação final de profissionais de saúde.

A robótica assistida por IA é outra área de avanço significativo, num futuro breve esta assistência irá melhorar a precisão e reduzir os riscos em cirurgias. No futuro robôs cirúrgicos, guiados por algoritmos de IA, poderão realizar procedimentos minimamente invasivos com maior precisão e menor tempo de recuperação para os pacientes.

Além disso, sistemas baseados em IA estão sendo desenvolvidos para monitoramento contínuo da saúde dos pacientes através de dispositivos vestíveis como relógios, óculos, pulseiras, camisetas entre outros; oferecendo alertas precoces de potenciais problemas de saúde e melhorando o gerenciamento de doenças crônicas.

As expectativas para o futuro da IA na medicina são extremamente promissoras, com potencial para transformar ainda mais profundamente a forma como cuidados de saúde são entregues e recebidos. A previsão é que algoritmos se tornem cada vez mais sofisticados, permitindo não apenas diagnósticos e tratamentos mais precisos, mas também a prevenção de doenças através da análise preditiva de riscos de saúde.

No cerne da aplicação da IA na medicina está o aprendizado de máquina, um subcampo da IA que permite que sistemas aprendam e melhorem a partir de experiências sem serem explicitamente programados para tal. Isso inclui redes neurais, que são algoritmos inspirados no funcionamento do cérebro humano, capazes de reconhecer padrões complexos de dados. Na medicina essa tecnologia é utilizada desde o reconhecimento de imagens médicas, como raios-X e ressonâncias magnéticas, até a predição de surtos de doenças baseada em padrões de dados de saúde pública. Algoritmos de IA agora conseguem detectar com alta precisão condições como câncer de mama, doenças cardíacas e degenerativas a partir de imagens médicas, muitas vezes com maior acurácia do que especialistas humanos. A IA também está revolucionando a genômica, com algoritmos capazes de analisar sequências de DNA para identificar predisposições a doenças e sugerir terapias personalizadas. Essa tecnologia analisa dados de pacientes para prever a resposta a certos medicamentos e terapias, possibilitando a medicina de precisão.

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Outra expectativa é a democratização do acesso à saúde de qualidade, com a IA possibilitando diagnósticos remotos e monitoramento da saúde em áreas remotas ou subdesenvolvidas. Isso pode reduzir significativamente as desigualdades no acesso a cuidados médicos.

Contudo, o futuro da IA na medicina também enfrenta desafios, incluindo questões éticas sobre privacidade dos dados, viés algorítmico e a necessidade de regulamentações rigorosas para garantir a segurança e eficácia dessas tecnologias. A influência da inteligência artificial na medicina é indiscutível e só tende a crescer. Desde aprimorar diagnósticos até personalizar tratamentos e revolucionar cirurgias, a IA está no caminho para tornar a medicina mais eficiente, acessível e personalizada. Apesar dos desafios, o potencial para inovações futuras promete não apenas transformar a maneira como os cuidados de saúde são administrados, mas também melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. A jornada da IA na medicina está apenas começando e seu futuro parece ser tão promissor quanto os avanços que já foram realizados.

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ARTIGO

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