Edição 196 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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17 de Abril de 2009 | Sexta-feira | a

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17 1969 ABRIL

MEMÓRIA FORMIDÁVEL © CMC

dantes que gritam com o Chefe de Estado. Na sala, Alberto Martins acaba o seu discurso e dá a palavra a Carlos Baptista que lê a Carta Aberta da Junta de Delegados de Ciências, e a Barros Moura que fala pela Confederação Nacional dos Estudantes Portugueses. Reina a “verdadeira inauguração”. Terminada a “cerimónia”, cá fora os dirigentes, que recusaram o almoço oficial com os responsáveis de Estado, abraçam-se e congratulam-se, e são discutidas e pronunciadas as directivas para o futuro da AAC. A discussão continua tarde fora nos jardins da associação. Não é de uma Assembleia Magna que se trata, mas a discussão é agora permanente. Com o cair da noite, urge tomar medidas de precaução, “nenhum dirigente deve dormir na sua casa” e conclui-se a última decisão da noite: saem todos pela porta da frente da AAC, Alberto Martins deverá ser o último a sair. O plano corre como previsto e o presidente é o último a abandonar o edifício, acompanhado por Osvaldo Castro. Surgem então sete agentes da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) que identificam Alberto Martins e que o conduzem à sede da polícia política. Sem qualquer resposta sobre o incidente, por parte da reitoria e do ministério, a dirigente estudantil Fernanda Bernarda, inicia uma ronda de telefonemas às repúblicas convocando todos os estudantes para a porta das instalações da PIDE. Depressa, a Rua Antero de Quental fica repleta de estudantes que exigem a libertação de Alberto Martins. A resposta do regime não se faz esperar e a polícia carrega sobre a massa estudantil. Estão assim abertas as portas para uma crise que se vai prolongar por todo o ano de 69. *este relato baseia-se em entrevistas feitas a testemunhas, como Osvaldo Castro, Matos Pereira, Carlos Baptista; no relato dos livros “Grandes Planos – Oposição Estudantil à Ditadura”, de Gabriela Lourenço, Jorge Costa e Paulo Pena, e “Coimbra, 1969”, de Celso Cruzeiro e na Acusação inserida nos processo disciplinar académico levantado.

NOTA EDITORIAL Era intenção do Jornal ACABRA publicar uma entrevista com o Ministro da Educação Nacional em 1969, José Hermano Saraiva. Quando contactado telefonicamente, este recusou a entrevista e remeteu qualquer esclarecimento para a as suas memórias, publicadas em livro. Já em 1999 e 2001, José Hermano Saraiva havia recusado prestar declarações ao jornal sobre o 17 de Abril e a Crise Académica de 1969. A Direcção

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