Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

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6 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

ENSINO SUPERIOR Organização da queima promete noite A história da festa académica é preenchida de momentos marcantes como “diferente” 110 ANOS DE HISTÓRIA

O outro lado da queima

a interrupção da festa e uma Assembleia Magna de Voto para decidir a sua realização ou não ARQUIVO

Ana Rita Santos Cláudia Teixeira

Realização da queima vai a plebiscito

O início oficial da Queima das Fitas de Coimbra remonta à década de 1930, mas a sua génese remete para uma festa académica já existente nos finais do século XIX. Como conta o Dux Veteranorum, João Luís Jesus, “o que começou por ser uma comemoração satírica do Centenário da Sebenta em 1899, rapidamente se transformou numa festa académica com sarau cultural, um cortejo e fogo-deartifício”. Segundo João Luís Jesus, “esta é a primeira coisa que faz lembrar uma Queima das Fitas, e a essa primeira comemoração estudantil foram acrescentadas mais coisas e a festa foi crescendo”. “Nos anos 30 juntou-se a Venda da Pasta, o Chá Dançante, o Baile de Gala e a Garraiada, daí resultando a Queima das Fitas nos módulos que conhecemos actualmente”, explica. 32 anos depois, a festa académica de Coimbra sofre a primeira interrupção, naquilo que foi uma pequena amostra do que aconteceria na Crise Académica de 1969. Corria o ano de 1962 quando a Queima das Fitas, pela primeira vez, não se realiza “devido a um confronto entre os estudantes, o regime e as autoridades universitárias”, conta o historiador Miguel Cardina. “A interrupção da queima de 62 foi também devida a um processo de luto académico de contestação estudantil, utilizando a tradição como forma de reivindicação da autonomia associativa que resultou, tanto em Lisboa, como em Coimbra, na prisão de vários estudantes e no decreto de luto académico”, acrescenta o historiador. Em 1969, vive-se a Crise Académica e com ela a Queima das Fitas é de novo interrompida, sendo retomada em 1980 com o então presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Maló de Abreu. Miguel Cardina afirma que “o interregno de 11 anos é muito importante porque reflecte uma crítica à forma como os estudantes estavam posicionados em relação à própria sociedade e toda a estruturação associada ao meio tradicional coim-

A Queima das Fitas leva o seu rumo natural até 2003, ano em que é proposta uma moção, na Assembleia Magna de 16 de Dezembro, no sentido de encerrar a festa académica como forma de protesto contra a política do governo para o ensino superior. O então presidente da DG/AAC, Vítor Hugo Salgado, defendeu uma Assembleia Magna de Voto – órgão máximo da AAC –, ou seja, um referendo sobre a realização ou não da Queima das Fitas. 4 452 estudantes, de um total de 5 661 votantes, pronunciaram-se pelo “Sim” à festa académica, enquanto 1129 votaram pela suspensão da iniciativa. Num clima de discussão acesa, a queima acabou por ter lugar. A festa da Academia de Coimbra constitui, desde sempre, uma importante fonte de receitas para as estruturas da AAC. Em 2006, o Relatório e Contas da Queima das Fitas de 2005 revelou um resultado líquido negativo. Na altura, em declarações à A CABRA, a comissão organizadora justificou o mau resultado alegando a existência de uma fraude nas entradas, o que foi investigado pelo Ministério Público. O Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC), presidido então por José Malta, decidiu instaurar um inquérito para apurar a existência de irregularidades na actuação da Comissão Organizadora da Queima das Fitas 2005. O parecer do CF/AAC referiu que a gestão do orçamento da festa académica de 2005 “não foi rigorosa, culminando numa derrapagem orçamental, na qual se destaca o Pelouro da Produção”. De acordo com o órgão, a Comissão Fiscalizadora da queima não havia tomado “as diligências necessárias para evitar o resultado final”. Após o parecer negativo do CF/AAC, os membros da Comissão Central da Queima das Fitas 2005 e o secretário-geral foram demitidos pela Comissão Fiscalizadora da queima. Quatro anos depois, a Comissão Central anuncia ter sido atingido o maior saldo positivo de sempre. Com Alice Alves

EVENTOS como a queima do grelo surgiram na década de 1930

brão foi sendo posto em causa”. “A grande distinção que havia entre caloiro e doutor foi diminuindo, a capa e batina começava-se a vestir cada vez menos, as praxes começa-

ram a ser vistas como algo negativo no contexto social, houve portanto uma erosão das práticas mais hierárquicas e mais punitivas das praxes”, desenvolve.

Cláudia Teixeira A Queima das Fitas conta, este ano, com mais uma noite do que o habitual. De acordo com o secretáriogeral da Queima das Fitas, Filipe Pedro, a comissão organizadora da festa académica “vai tentar que a noite de 9 de Maio, a chamada Noite 110 Anos, seja diferente, que seja uma noite comemorativa e não apenas mais uma noite de folia no Parque da Canção”. Filipe Pedro explica que “o que esta noite tem de diferente das outras é a própria programação cultural já que há cinco artistas de renome nacional a actuar ao mesmo tempo em palco: Sérgio Godinho, Jorge Palma, Boss AC, Lúcia Moniz e Cool Hipnoise”. “Vamos também passar um vídeo com momentos marcantes da Queima das Fitas que vai abrir a Noite 110 Anos, com o objectivo de chamar a atenção das pessoas para outras actividades que a queima tem e que não são muito conhecidas, como a Venda da Pasta e o Chá das Cinco”, acrescenta. A Queima das Fitas inicia-se esta quinta-feira, 30, com a habitual Serenata Monumental e prolonga-se até 9 de Maio com as Noites do Parque. O cartaz conta com bandas como Cansei de Ser Sexy, Deolinda, Buraka Som Sistema, Morcheeba e Brandi Carlile.

UC debate qualidade no ensino Cláudia Teixeira O Auditório da Reitoria recebe quinta-feira, 30, às 9 horas, o Seminário sobre Garantia da Qualidade e Acreditação. O encontro é organizado pela UC, pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e pela Conferência de Reitores das Universidades Espanholas (CRUE), e surge no âmbito do projecto “Peritos de Bolonha 2008/2009 – Furthering Bologna Reforms”. O evento conta com a participação do ministro do ensino superior, Mariano Gago, do reitor da UC e presidente do CRUP, Seabra Santos, e do director do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior, Alberto Amaral, entre outros. PUBLICIDADE


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