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PROJETO FADIGÔMETRO
CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES AÉREOS:
ATUALIZAÇÕES DO PROJETO
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FADIGÔMETRO. - Cmte Tulio Rodrigues
É sempre muito gratificante poder compartilhar com os nobres leitores iniciativas de pesquisa que visam contribuir de forma eficaz para a segurança operacional, saúde e bem estar dos tripulantes da aviação regular brasileira , tal qual o Projeto Fadigômetro!
Através de uma parceira inédita entre as instituições representativas ABRAPAC, ASAGOL e ATL e as instituições de pesquisa IB-USP, FSP-USP e IF-USP, o Projeto Fadigômetro atinge atualmente sua plena maturidade, com a adesão voluntária e anônima de 863 aeronautas, cujas escalas de trabalho somadas já ultrapassam a incrível marca de 26.000, com mais de 26 milhões de horas de jornada disponíveis para análise. Tais números são condizentes com o objetivo e com o escopo do projeto, que visa mapear o estado de alerta e sonolência dos tripulantes brasileiros durante suas jornadas de trabalho, propondo recomendações de segurança e estratégias de mitigação do risco da fadiga no modal aéreo nacional.
A inciativa pioneira no mundo tem sido levada ao conhecimento de pesquisadores, operadores, reguladores e tomadores de decisão no Brasil e no exterior, consolidando o estudo como uma ferramenta inovadora para quantificar o risco da fadiga e qualificar eventuais discussões sobre impactos de mudanças regulatórias, tal qual aquela atrelada ao novo Regulamento Brasileiro de Aviação Civil RBAC 117.
Para uma breve retrospectiva, cito abaixo alguns dos principais marcos do Fadigômetro:
·Apresentação para o Comitê HUPER (Human Performance) da IFALPA, Paris, França (Julho de 2017);
·Premiação na Categoria Ouro, prêmio “Dr. Bernardo Bedrikow Inovacão e novas práticas em Saúde e Segurança do Trabalho”, no 17o Congresso Nacional da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, Brasília (maio de 2019); ·Apresentação para a Diretoria da ANAC, Brasília (junho de 2019);
·Apresentação no FRMS Forum 2019, São Francisco, EUA (novembro de 2019);
·Artigo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Trabalho sob o título “Sazonalidade de indicadores de fadiga nas escalas de trabalho dos aeronautas da aviação regular brasileira”, disponível em: www.rbmt.org.br/details/1507/pt-BR/sazonalidadede-indicadores-de-fadiga-nas-escalas-de-trabalhodos-aeronautas-da-aviacao-regular-brasileira (janeiro de 2020);
·Apoio institucional da Azul Linhas Aéreas, com repercussão em matéria na revista Forbes https:// forbes.com.br/forbes-tech/2020/08/exclusivo-comdemanda-reduzida-azul-testa-fadigometro-sistemaque-gerencia-o-cansaco-da-tripulacao/ (Agosto de 2020);

·Apresentação no XVIII Congresso Brasileiro do Sono, São Paulo (Dezembro de 2021).
Já no início de 2022 os pesquisadores do Fadigômetro disponibilizaram um novo estudo com foco nas causas raízes da fadiga, analisando um total de 8476 escalas de trabalho em um período pré-COVID-19. Nesse estudo foi possível determinar relações não lineares entre as quantidades de madrugadas e operações de saídas e chegadas entre 2 e 6 da manhã com importantes variáveis de saída do software Sleep, Activity, Fatigue, and Task Effectiveness / Fatigue Avoidance Scheduling Tool (SAFTE-FAST), relativas à efetividade, reservatório de sono e área de risco, computados nas fases críticas do voo.
A partir desses resultados foi possível verificar um aumento de 23% no risco relativo de fadiga comparando-se escalas com uma ou treze madrugadas em um período consecutivo de 30 dias. Os efeitos adversos das madrugadas também tornamse evidentes na medida em que o déficit de sono acumulado chega a um valor médio superior a oito horas para escalas com mais de 10 madrugadas, correspondendo a um período equivalente de vigília de mais de 24 horas ao menos uma vez durante partidas ou chegadas em um período de 30 dias consecutivos.
As chaves de voo noturnas devem ser observadas com maior atenção quanto aos reflexos nos índices de fadiga da tripulação.
Outro ponto importante é a variação parabólica obtida entre a área de risco nas fases criticas do voo e as quantidades de operações entre 2 e 6 da manhã. De fato, aumentando-se a quantidade dessas operações de 10 para 14 há uma duplicação na área de risco, demonstrando que tanto as madrugadas, quanto as operações entre 2 e 6 da manhã, devem ser tratadas como indicadores chave de performance, sendo mantidas em quantidades tão baixas quanto possível nos processos de otimização das escalas de voo.

Tal estudo e respectivas recomendações de segurança foram apresentados e endossados por consenso em meados de março de 2022 pela Comissão Nacional de Fadiga Humana (CNFH) do Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes (CNPAA), demonstrando a importância dos resultados que vêm sendo obtidos e, principalmente, a aplicabilidade e viabilidade de medidas mitigadoras para a nossa aviação.
Ainda sob o aspecto de divulgação e fomento da pesquisa, também tivemos a oportunidade de apresentar os resultados e recomendações do Fadigômetro para a Diretoria da ANAC, em abril de 2022, solicitando apoio da Agência ao Projeto. Mesmo sem um retorno positivo acerca desse pedido até o presente momento, permanecemos confiantes e esperançosos de que a Agência venha a fomentar esse estudo, por se tratar de uma ferramenta única capaz de avaliar de forma quantitativa eventuais impactos do RBAC 117, além de promover ciência, conhecimento, inovação tecnológica e segurança operacional.
Dada sua robustez estatística e minuciosa metodologia, referido estudo foi recentemente publicado no renomado periódico Safety Science www.sciencedirect.com/science/article/pii/S092575 3522002442 e apresentado na última Conferência do SAFTE-FAST realizada na sede da United Airlines na cidade de Chicago, EUA www.saftefast.com/ userconference2022, representando uma grande conquista de uma iniciativa brasileira, com relevância e reputação internacionais.
Para finalizar o ano de 2022 com chave de ouro, o referido projeto recebeu o apoio e a aprovação do CNPAA em votação histórica realizada na 77a Sessão Plenária do Comitê do dia 30/11/2022, chancelando por definitivo a importância do estudo para a aviação brasileira. Para os próximos passos, a equipe do Fadigômetro pretende retomar as análises das escalas, incluindo dados desde janeiro de 2022, com vistas a avaliação de eventuais impactos na fadiga com a implementação do RBAC 117 em um cenário de retomada da atividade aérea no país. Fiquem atentos aos canais de comunicação das Associações, pois continuaremos o nosso trabalho de excelência com vistas ao gerenciamento do risco da fadiga através da inovação e da ciência.

