
Compartilhar conhecimento e aprender com o próprio ensinamento

![]()

Compartilhar conhecimento e aprender com o próprio ensinamento


A Revista Abit Review é uma publicação digital da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção – Abit , com artigos de convidados que aceitam compartilhar experiências e conhecimentos com outros profissionais e empresários do setor T&C. Periodicidade quadrimestral.
Fernando Pimentel (Dir. Superintendente da Abit), Rafael Cervone (Superintendente Área Internacional), Lilian Kaddissi (Superindente Marketing e Negócios), Luiza Lorenzetti (Sustentabilidade e Inovação), Camila Zelezoglo (Sustentabilidade e Inovação), Patrícia Pedrosa (Comércio Exterior), Oliver Tan Oh (Inteligência Competitiva), Haroldo Silva (Economia), Sylvio Napoli (Normas e Regulamentos), Julieta Pagliuca (Eventos e Novos Projetos), Antonio Carlos Cambauva (Eventos e Novos Projetos), Roberto Lima (Comunicação e Marketing) e Leandro Mira (Comunicação e Marketing)
Coordenação Editorial: Roberto Lima – MTB 25712/SP
Diagramação e Arte: Leandro Mira
Fale com a redação (sugestões de artigos): roberto@abit.org.br
Anúncios e Patrocínios: Antônio Carlos Cambauva: antonio.carlos@abit.org.br (11) 98455 8545






em ordem alfabética:
Ailton Santos (Professor e empreendedor) ajsantos.pro@gmail.com
Antonio Carlos de Francisco (Muush) acfrancisco@muush.earth
Camila Zelezoglo (Abit) camila@abit.org.br
Cleiton Hluszko (Muush) cleitonhluszko@gmail.com
Fernando Carvalho (Opersan) suzane.melo@viveiros.com.br
Fernando Pimentel (Abit) presidencia@abit.org.br
Gesner Oliveira (GO Associados) gesner@goassociados.com.br
Laura Madalosso (Cora Design) oi@coradesign.co
Lilian Kaddissi (Abit) lilian@abit.org.br
Marcio Luiz Bertoldi (Karsten) sara.quevedo@karsten.com.br

Raquel Chamis (Cora Design) oi@coradesign.co
Roberto Lima (Abit) roberto@abit.org.br
Sarah Saldanha (IEL) soliveira@ielcni.com.br
Silmara S. Ferraresi (Sou de Algodão) silmara@abrapa.com.br
A Revista Abit Review é enviada para todo mailing de associados e engajados da entidade (empresários do setor, fornecedores, profissionais, acadêmicos, pesquisadores, autoridades de governo, imprensa, estudantes e formadores de opinião). Se você quer receber a Abit Review clique aqui
Há momentos na história em que um setor inteiro precisa decidir se deseja apenas acompanhar o ritmo do mundo — ou assumir o papel de protagonista. A indústria têxtil e de confecção brasileira vive exatamente esse momento. Diante de transformações profundas na economia global, nas tecnologias e no comportamento do consumidor, somos chamados a dar um passo além: elevar nossa produtividade, acelerar a inovação e reafirmar, com coragem, o compromisso com a sustentabilidade.
Esta edição da Abit Review é um convite a enxergar esse futuro possível — e a reconhecê-lo já acontecendo.
Abrimos com Bráulio Borges colocando, com precisão, o grande desafio nacional: romper a barreira da baixa produtividade que limita nossa capacidade de crescer. Mas seu diagnóstico vem acompanhado de esperança e direção. Com investimento em tecnologia, educação, eficiência e políticas que impulsionem a indústria, o Brasil pode, sim, transformar potencial em prosperidade. E nosso setor tem tudo para liderar essa virada.
As reportagens desta edição mostram que esse movimento já está em curso. A Lunelli revela que responsabilidade e expansão não apenas coexistem — elas se reforçam mutuamente. A Karsten inspira ao mostrar como tradição e inovação podem conviver, guiadas por metas ousadas até 2030. O micélio, por sua vez, surge como símbolo de uma nova era: a era da bioeconomia, onde a criatividade da natureza encontra a engenhosidade humana para gerar materiais regenerativos e soluções antes inimagináveis.
O algodão brasileiro ganha destaque especial. A consolidação do SouABR, com rastreabilidade robusta, traduz transparência em valor para toda a cadeia — do campo à moda. E a colhei-
ta em Ingá (PB) lembra algo essencial: por trás de cada fibra, há histórias, pessoas e territórios que revelam o Brasil profundo, produtivo e comprometido com o futuro.
Falamos também de continuidade e legado. O IEL nos traz reflexões valiosas sobre sucessão em empresas familiares — tema fundamental para que nossos negócios sigam fortes por gerações. E a governança aparece como alicerce para integrar a inteligência artificial generativa ao ESG, abrindo portas para um novo capítulo de transparência, eficiência e responsabilidade.
A água, elemento vital, surge como ponto de atenção e de ação. Integrar o tratamento de efluentes às práticas ambientais não é mais obrigação: é um gesto de respeito ao planeta e às próximas gerações. Na mesma direção, a logística reversa e a economia circular, analisadas na coluna de Gesner, mostram que a sustentabilidade não é um freio — é uma alavanca para uma indústria mais moderna e inteligente.
A moda brasileira também se reinventa. O Rio Ethical Fashion projeta ao mundo uma narrativa vibrante: a de um país capaz de costurar um futuro regenerativo, criativo e conectado à vida. Uma moda que olha para o amanhã sem perder a autenticidade que nos distingue.
E, por fim, destacamos o Congresso Internacional da Abit, onde produtividade e sustentabilidade caminharam lado a lado. A mensagem é clara: quando nosso setor une eficiência, inovação e responsabilidade, toda a sociedade avança.
O Brasil tem uma indústria têxtil que sonha grande, trabalha duro e acredita no que faz. Esta edição celebra essa força — e reafirma uma convicção que nos move: quando produzimos com propósito, criamos não apenas produtos, mas caminhos para um país mais competitivo, sustentável e próspero.
POR:

Ricardo Steinbruch Presidente do Conselho de Administração Abit

Fernando Valente Pimentel Diretor-superintendente e presidente emérito da Abit
Produtividade em xeque: caminhos para destravar o crescimento e a competitividade da indústria brasileira Ganhos de eficiência e absorção tecnológica serão determinantes diante da nova dinâmica global.




O futuro que a moda costura agora ....................18
Rio Ethical Fashion reforça o papel do Brasil como protagonista na transição para uma moda regenerativa, transparente e conectada à vida
Governança como porta de entrada para IA Generativa no ESG: evidências, desafios e impactos reais ..............................................................20
A governança corporativa surge como o ponto de partida mais seguro e estratégico para integrar a IA generativa às práticas ESG, equilibrando inovação, transparência e controle de riscos
A Revolução do Micélio para o Setor Têxtil ......22
Micélio, rede viva de fungos, desponta como alternativa regenerativa ao couro e aos sintéticos, impulsionando o setor têxtil a uma nova era de bioeconomia e inovação sustentável
Uma colheita que fala de Brasil ..........................26
A Colheita do Algodão, em Ingá (PB), revela o elo entre agricultores, indústria e moda responsável
Karsten: sustentabilidade com propósito e metas até 2030...............................................................28
Empresa avança na transformação da gestão, unindo tradição, inovação e propósito para gerar impacto positivo na cadeia têxtil
SouABR consolida expansão da rastreabilidade do algodão brasileiro e aproxima moda, indústria e consumidor.............................................30
Programa da ABRAPA ganha política estruturada de adesão, reforçando o compromisso da moda nacional com a transparência e a sustentabilidade
Sustentabilidade e produtividade avançam juntas no setor têxtil....................................................32
No Congresso Internacional Abit, especialistas e empresas destacam a integração entre sustentabilidade e produtividade como caminho para um setor T&C mais competitivo e responsável
O ESG que começa e termina na água..............36
O desafio de integrar o tratamento de efluentes à governança ambiental
Moda com significado: o caminho sustentável da Lunelli....................................................................38
De Santa Catarina para o mundo, Lunelli mostra que crescer com responsabilidade é possível
COP30 em Belém: Setor têxtil e de moda como agente da descarbonização...............................44
Participação da Abit no evento fortalece a construção de uma agenda de sustentabilidade para a indústria têxtil e de moda brasileira
Sucessão em empresas familiares brasileiras: evidências, desafios e caminhos para a perpetuidade.......................................................................52
IEL aborda o desafio de preparar novas lideranças e garantir a perpetuidade dos negócios

30

55

Logística reversa e economia circular: caminhos para uma indústria sustentável
Mais do que uma exigência legal, a logística reversa representa uma nova forma de pensar a produção

58
Empresas investem e são reconhecidas por iniciativas da agenda ESG e ODS.


O debate sobre produtividade ganha urgência em um cenário no qual o Brasil já deixou para trás o seu bônus demográfico e enfrenta o desafio de crescer com uma força de trabalho que encolhe. Para Bráulio Borges, economista sênior da área de Macroeconomia da LCA 4 intelligence e pesquisador do FGV IBRE, esse é o ponto-chave para garantir a competitividade industrial nas próximas décadas. Em entrevista à Revista Abit Review, ele analisa como a Reforma Tributária, o investimento em capital humano e a melhoria da infraestrutura econômica podem redefinir a eficiência produtiva brasileira. Ele também explica por que o setor têxtil e de confecção precisa acelerar sua transformação tecnológica para permanecer relevante no mercado global.

AR – Por que discutir sobre produtividade se tornou tão urgente para a indústria brasileira?
Bráulio Borges - O tema da produtividade é importante não só para a indústria, mas para a economia brasileira e para o mundo como um todo, pois sabemos que boa parte dos países já não tem mais o que chamamos de bônus demográfico, que é a fase em que o ritmo de crescimento da população em idade de trabalhar é maior do que o ritmo de crescimento da população em geral. Vários estudos mostram que a fase de bônus demográfico é um impulso para o crescimento econômico por vários canais, com disponibilidade de mão de obra e taxa de poupança, o que impulsiona investimento. O Brasil já deixou essa fase de bônus demográfico para trás, entre 2018 e 2019. Então cada vez mais vamos sofrer um ônus demográfico, trazendo desafios com o peso gerado sobre o gasto previdenciário, que no Brasil já é mais alto do que em outros países. E com a necessidade de financiar esse impacto da economia, o governo tem que arrecadar mais.
AR – Como conciliar e resolver todos esses problemas sem ter mais o bônus demográfico?
Bráulio Borges - É com a aceleração do crescimento da produtividade. O lado bom dessa história é que, como o Brasil tem um nível de produtividade que está muito aquém da fronteira tecnológica, principalmente Estados Unidos e alguns países europeus, temos muito espaço para que a nossa produtividade cresça imitando e absorvendo tecnologias já existentes. O desafio de produtividade é muito maior para países que estão na fronteira tecnológica, porque o que eles têm que fazer realmente é inovar. No caso do Brasil, não estou dizendo que a gente não possa inovar em um setor ou outro, não, mas temos um espaço grande para acelerar nossos ganhos de produtos simplesmente pela imitação, pela absorção, pela incorporação de tecnologias já existentes.
AR - Por que a produtividade é importante para a indústria brasileira, principalmente a indústria de transformação, como o setor têxtil e de confecção?
Bráulio Borges - Tem a ver muito com a questão da concorrência internacional. A China se tornou a grande manufatura do mundo, mas isso já está mudando um pouco, pois temos observado um deslocamento dessa manufatura de produtos menos sofisticados para países onde a obra é mais barata, ali na Ásia mesmo, como Bangladesh, Índia, Camboja e Vietnã. Se o setor têxtil de confecção brasileiro quiser se manter competitivo, não só dentro do próprio mercado brasileiro, mas também eventualmente exportando, temos que alcançar, no mínimo, os níveis de produtividade desses outros países e até mesmo superar. Justamente porque não tem como imaginar que o custo de mão de obra no Brasil vai ser inferior ao desses países que têm populações muito mais jovens e que ainda crescem. Então a produtividade, nesse contexto, se torna um aspecto crucial para a própria sobrevivência da indústria brasileira, pensando no contexto global.
AR - Como você define “eficiência produtiva” no contexto da economia brasileira e quais são, na prática, os principais caminhos para que a indústria brasileira alcance esse ganho de eficiência?
Bráulio Borges - É produzir mais com a mesma quantidade de fatores, como trabalho, capital e infraestrutura, ou conseguir combinar melhor esses elementos para ampliar a produção. Então, a eficiência produtiva tem vários aspectos, dentro e fora da firma, pois sabemos que há muitos casos no Brasil de empresas que são muito eficazes da “porteira para dentro”, como a gente diz, mas, ao enfrentarem o ambiente de negócios brasileiro — com infraestrutura deficiente e diversos custos de conformidade tributária — acabam perdendo competitividade da “porteira para fora”. Existem várias maneiras de definir esse conceito,

e é por isso que os economistas falam de um indicador chamado produtividade total dos fatores. Nada mais é do que uma medida agregada que busca avaliar não só o desempenho interno da firma, mas também esses aspectos mais amplos, fora dela, que afetam a competitividade das empresas brasileiras dentro do próprio país e em relação aos produtos importados, especialmente no exterior.
AR - Como estão os índices de produtividade do Brasil em comparação com as últimas décadas? Quais fatores explicam esse desempenho?
Bráulio Borges - Os nossos índices de produtividade têm crescido muito pouco nos últimos 40 anos. Tiveram alguns períodos na década de 2000 e 2010 com algum crescimento, mas depois foi revertido. São vários os fatores por detrás disso. Um deles, que era um aspecto ruim, mas que vai melhorar, é o sistema tributário brasileiro que, atualmente, trabalha contra ganhos de produtividade no Brasil. O sistema estimula a verticalização de atividades para pagar menos imposto, tem muitos custos de conformidade tributária e insegurança jurídica, o que faz com que as empresas tenham que fazer provisão e isso diminui o investimento. Outro fator são as infraestruturas econômica, logística, energética, de telecomunicações e de saneamento deficientes, com um nível muito aquém de países com renda parecida com a do Brasil. Isso prejudica a produtividade sistêmica, talvez não tanto a empresa “porteira para dentro”, mas essa produção, obviamente, tem que sair da firma para ganhar o mercado brasileiro e o mercado global, e ela acaba sendo afetada por essa infraestrutura deficiente. A notícia boa, no caso do sistema tributário, é que a Reforma Tributária sobre o Consumo vai melhorar muito os ganhos de produtividade brasileira, principalmente na próxima década. Tem uma fase de transição que vai ser iniciada no próximo ano, mas que vai durar até 2032 e, a partir de 2033, teremos um
novo sistema bem mais pró-eficiência do que o que temos hoje, pró-investimento.
AR - Com a reforma tributária, quais os principais efeitos esperados para a indústria nos próximos anos?
Bráulio Borges - Para mim, a maior política industrial que o Brasil implementou foi a reforma tributária. Os estudos mostram que o PIB brasileiro, daqui a 15 anos, vai ser de 10% a 20% maior do que seria sem ela. Esse ganho virá basicamente de aumento da produtividade, da eficiência produtiva e aumento dos investimentos em ativos fixos. Então é uma política que vai melhorar muito a produtividade agregada da economia brasileira como um todo, mas sabemos também que tem setores que ganham mais do que outros com a reforma tributária. Um deles é a indústria manufatureira. Então, nesse sentido, a reforma tributária, na prática, tem um quê, sim, de política industrial porque ela vai melhorar muito mais a situação da indústria manufatureira do que dos serviços e da agricultura, do agro.
AR – Por qual motivo?
Bráulio Borges - Porque hoje a indústria no Brasil é o setor mais prejudicado pelo atual desenho do nosso sistema tributário. A CNI estima, por exemplo, que um produto manufaturado exportado pelo Brasil, carrega ali o que a gente chama de resíduo tributário de 7% a 8% do valor do produto. O que é esse resíduo? São todos os impostos pagos ao longo da cadeia produtiva que as empresas não conseguem re-


cuperar, porque temos um sistema com muita cumulatividade e vários desses tributos acabam sendo incorporados ao preço final e, com isso, o Brasil perde competitividade no mercado exterior. Outro exemplo do sistema tributário atual é que a gente onera investimento em ativos fixos. Não deveria, mas, na prática, de 5% a 7% do valor de um ativo fixo hoje no Brasil, um caminhão, uma fábrica, enfim, é tributo cumulativo pago em várias etapas. Então, de um modo geral, quanto mais longa for a etapa, a cadeia produtiva de um determinado produto, maior o impacto negativo que ele sofre da cumulatividade tributária. A indústria tem cadeias muito longas, comparativamente, por exemplo, aos serviços e ao agro. Então, naturalmente, a indústria é o setor que sofre mais. E o contrário vai acontecer: com a reforma tributária vai ser o setor que mais vai se beneficiar. Isso não é imediato, vai acontecer gradativamente.
AR - Apesar do potencial positivo, a transição da reforma trará desafios. Que pontos críticos o setor deve observar nesse período de adaptação?
Bráulio Borges – Por um tempo teremos dois sistemas tributários convivendo. Isso pode gerar algum aumento momentâneo da complexidade do sistema tributário. O governo vem tentando evitar isso por meio da adoção de uma simplificação de várias obrigações acessórias, visando minimizar esse aumento da complexidade. Mas o fato é que há o risco de, antes de melhorar, piorar um pouco nesse aspecto da complexidade. O fato é que não podemos deixar de ter a perspectiva de que lá na frente, eu diria que já no começo da próxima década, que a gente vai estar com 70% ou 80% do sistema implementado, que os efeitos são claramente benéficos boa parte da economia brasileira. Durante muito tempo foi vendida a ideia de que era um jogo de soma zero e isso é um equívoco. Não é que para alguns setores ganharem, outros terão que perder. Não.
A reforma tributária melhora a vida para praticamente todos os setores da economia. Tem estudos que fizeram esse tipo de avaliação e tem pouquíssimos setores que ou não vão ganhar muito ou podem perder um pouco. Mas a grande maioria dos setores, inclusive, nos serviços, no agro, vão ganhar. A questão é que alguns ganham bem mais do que outros.
AR - A taxa de desemprego nacional está em torno de 5,6%, a menor da série histó rica do IBGE. Esse cenário já reflete uma melhora estrutural ou ainda há riscos de estagnação produtiva?
Bráulio Borges - Tem uma melhora cíclica da economia: o crescimen to econômico tem sido bem sur preendente, pelo menos desde a pandemia em 2020, superando o que se esperava nas projeções de mercado e, quando o crescimento é maior do que se esperava, a taxa de desemprego reduz em uma relação quase mecânica. Além do componen te cíclico, há também um componente estrutural, como a questão da demo grafia, pois, quanto maior o envelhe cimento, menor a taxa de desempre go, com menos pessoas ofertando a sua mão de obra. Há também a reforma trabalhista de 2017, com a modernização da legislação trabalhista e a ampliação da ter ceirização para várias atividades fim e meio, que acabaram criando mais flexi bilidade no mercado de trabalho brasilei ro, o que contribuiu para uma queda mais estrutural da taxa de desemprego. Temos ainda o fenômeno dos trabalhadores de aplicativo com a explosão da gig eco nomy, que aumenta a empregabilidade de várias pessoas que, infelizmente, em outras situações não conseguiriam se empregar. São quase dois milhões de trabalhadores dessas plataformas no


Brasil, um número que era praticamente nulo há 10 anos. Agora, uma coisa é o desemprego cair, outra coisa é saber se esses empregos são de qualidade. Para isso, precisa analisar o próprio salário e a volatilidade desse rendimento, pois sabemos que, em muitos casos, os trabalhadores por conta própria podem até ter uma renda maior, mas essa renda é mais volátil do que se eles tivessem um vínculo de trabalho tradicional com carteira assinada. Estudos mostram que trabalhadores autônomos podem até ganhar mais em um primeiro momento, mas depois esse salário não cresce muito ao longo das décadas. Quem está no emprego tradicional acaba vendo seu salário subir com o tempo de trabalho porque consegue acumular experiência e, portanto, capital humano conforme vai ficando no emprego.
AR - Quais são hoje as principais dificuldades relacionadas à produtividade do fator humano e como educação e bem-estar se conectam à eficiência?
Bráulio Borges - O capital humano é um ingrediente essencial para ganho de produtividade, seja para o empregado, que precisa dele para performar melhor como contratado, seja para o próprio autônomo ou empreendedor, pois quanto maior a qualificação e o desenvolvimento do empreendedor, maior o potencial de crescimento e sobrevivência da firma. Uma estimativa do FGV IBRE aponta que esse indicador no Brasil cresceu quase 2,5% ao ano, desde meados dos anos 90 até agora. Então, a notícia boa é que não é que o nosso capital humano esteja estagnado — ele está crescendo bem, mais do que a produtividade da economia brasileira. O problema é que ainda temos um nível muito aquém do desejável. Nesse senti-
do, o “filme” é favorável, só que a “fotografia” ainda não é tão boa assim. A questão não depende só de educação formal, seja ensino básico, médio ou superior, mas também do acúmulo no ambiente de trabalho. O Brasil, com todas as crises e volatilidade enfrentadas nos últimos 40 anos — momentos de alta muito expressiva do desemprego e depois queda — acabou afetando a acumulação de conhecimento e experiência prática. De 2015 até 2021 e 2022, a taxa de desemprego no Brasil estava muito elevada, com um desemprego médio nesse período de mais de 10%, então muitos não estavam trabalhando, ou estavam trabalhando parcialmente e, com isso, não estavam acumulando aprendizado no ambiente profissional via experiência.
AR - O avanço da automação e da digitalização pode compensar essa mudança demográfica? Como equilibrar inovação tecnológica e manutenção do emprego?
Bráulio Borges - Com o avanço da tecnologia, as habilidades exigidas no ambiente de trabalho mudam o tempo todo. O trabalhador hoje tem que saber o mínimo de Excel e saber mexer na internet. O trabalhador típico de 20, 25 anos atrás não precisava disso. Óbvio que, se tivesse, ajudava, inclusive, a ganhar mais, mas não era uma exigência mínima. Hoje é. Então, as próprias habilidades exigidas pelo mercado de trabalho vão mudando ao longo do tempo e é nesse sentido que o Brasil se destaca muito negativamente, porque a gente não tem uma política ativa e efetiva de requalificação da mão de obra. Uma pessoa que entrou no mercado de trabalho há 20 anos, quando as exigências eram menores, hoje ela pode estar desempregada e ela tem uma dificuldade em se reinserir, justamente porque ela não estudou mais. Nesse sentido, seria importante que o Brasil emulasse algumas políticas que funcionam muito bem, por exemplo, em países como a Dinamarca, onde o governo gasta bastan-


te com requalificação de mão de obra com programas efetivos. É preciso pensar em requalificar a mão de obra que já está aí, que já passou pela escola e pela faculdade, mas está com conhecimento e habilidades defasadas em relação às exigências de hoje no mercado de trabalho. Além disso, temos visto uma explosão do uso da inteligência artificial no ambiente de trabalho nos últimos anos e como têm complementado algumas profissões e atividades, ajudando a aumentar a produtividade dos trabalhadores. Mas em outras atividades a inteligência artificial está substituindo trabalhadores, como programadores e tradutores. De modo geral, ela tende a ser positiva para ganhos de produtividade, mas gera, sim, alguns perdedores. E é importante que essas políticas de requalificação tenham um foco específico também nessas atividades que certamente vão sofrer mais com o avanço do uso da IA no ambiente de trabalho. AR - Quais são as responsabilidades do setor público no aumento da produtividade?
Bráulio Borges - O setor público tem uma responsabilidade muito grande de promover um ambiente mais pró-eficiência no Brasil e em qualquer outro país, favorecendo o ambiente de negócios com menor custo para as empresas, atuando com políticas públicas, educação, política pública de incentivo à pesquisa e inovação, P&D, melhoria da infraestrutura, reforma do sistema tributário, promoção da competição. Não precisamos do setor público produzindo muita coisa. No Brasil, ainda tem esse viés, inclusive, pois parte da população suporta que tenhamos empresas estatais produzindo. Não necessariamente é o melhor modelo para todos os setores, em alguns deles não tem muita opção, mas o setor público, mesmo que não seja produzindo, tem um papel muito crítico para estimular a produtividade, regulando, seja por meio de políticas públicas, seja por meio da promoção da competição. Sabemos que maior competição leva as empresas a inovarem, a aumentar seus ganhos de eficiência, seja pelo próprio sistema, desenho do sistema tributário, que pode ajudar ou atrapalhar a produtividade.
AR - O programa Brasil Mais Produtivo sinaliza avanços efetivos no que se refere a políticas voltadas ao aumento da produtividade?
Bráulio Borges - O Brasil Mais Produtivo é uma experiência interessante, porque na primeira rodada dele, entre 2015 e 2016, foram três mil empresas selecionadas de alguns setores específicos. Mas chamou muita atenção que, com pequenas intervenções, pequenos investimentos ou simplesmente uma mudança de processos, de gestão de estoques ou do próprio processo produtivo, foi possível observar ganhos de produtividade altíssimos, da ordem de 50%. E isso é o que chamamos de “low hanging fruit”, aquela fruta que está ali em um galho baixo que conseguimos apanhar muito fácil, sem pegar uma escada e subir no alto da árvore. Depois, o Programa Brasil Mais Produtivo foi escalado para chegar a muito mais empresas, mas infelizmente, sem muito mais estatísticas. Isso mostra que pequenas intervenções podem ser suficientes. Como uma boa parte das empresas no Brasil tem níveis de produtividade e eficiência produtiva muito aquém da fronteira tecnológica desses países que já são mais avançados, não precisamos reinventar a roda, apenas adotar, imitar, absorver tecnologias já existentes.
AR - E o programa Nova Indústria Brasil (NIB)? Quais outras iniciativas deveriam ser adotadas?
Bráulio Borges - O programa Nova Indústria Brasil é um programa recém-lançado, então não temos muitos resultados para poder avaliar como ele está performando. Existe muito ceticismo, porque sabemos da experiência internacional que há experiências bem-sucedidas e mal-sucedidas de política industrial. Eu, ao contrário de vários colegas economistas, não vejo a política industrial como algo que não deveria ser feito. Não. Temos visto mais recentemente muitos trabalhos acadêmicos de altíssima qualidade mostrando que algumas políticas industriais funcionam. Políticas industriais que geralmente tem um foco mais voltado a promover a competitividade da in-

dústria de um país nos mercados internacionais, que tenham um monitoramento contínuo e que têm metas de performance e que sabem dizer “não”, afinal você pode ter escolhido algum setor ali para incentivar, mas se depois de cinco anos não deu certo, você tem que saber dizer: “Não deu certo, pronto, acabou”. Infelizmente, no Brasil, tem muita política pública que não é bem-sucedida, mas que vai sendo postergada. Um exemplo clássico é a Zona Franca de Manaus, criada lá na década de 1970 e que, em 2014, foi prorrogado até 2074, sem nenhum tipo de análise cuidadosa de custo-benefício. Esperamos que o NIB, já levando em consideração esses estudos recentes, seja bem-sucedido. Mas, por hora, não temos muita evidência, nem positiva, nem negativa.
AR - Uma abertura comercial, com uma maior integração com o mercado internacional, é um fator importante para aumentar a produtividade? Quais os maiores diferenciais do Brasil em relação a outros concorrentes?
Bráulio Borges - A abertura comercial é sim um ingrediente importante por várias razões: promove e incentiva mais produtividade e, quando temos uma economia mais aberta, conseguimos absorver mais tecnologia importada. Se tivéssemos um grau de abertura maior, talvez pudéssemos incorporar mais rapidamente tecnologias importadas em relação ao que temos hoje. Outro canal é a escala. Quando acessamos novos mercados internacionais, o que geralmente acontece por meio de
acordos comerciais, seja um acordo União Europeia-Mercosul ou bilaterais , é possível aumentar a escala de produção. Sabemos que em muitos casos o aumento de escala de produção leva à redução de custo unitário do produto e, na prática, é um ganho de produtividade e de eficiência. Um terceiro aspecto é competição. Quando se abre a economia, óbvio que não se está abrindo mais o mercado só para os produtos brasileiros lá fora, mas também se está abrindo mercado para os importados aqui dentro e, quando isso acontece, temos mais competição. Vários estudos mostram que a abertura comercial gera maior ganho de produtividade. O ideal é fazer isso de forma gradativa, para dar tempo para as empresas se adaptarem e por meio de acordos comerciais, para que o Brasil possa não só abrir o mercado interno às importações, mas também criar mais mercado externo para os produtos e para evitar alguns efeitos colaterais negativos.
AR - Diante do maior custo de mão de obra no Brasil em relação a países asiáticos, quais estratégias o país deve adotar em processos e inovação para manter sua competitividade global?

Bráulio Borges - Não dá para competirmos com alguns países asiáticos. A realidade é essa, porque o Brasil já é um país de renda média alta e não é mais um país pobre, como países como Bangladesh, Camboja, Índia, mesmo o Vietnã, que vem crescendo muito, mas ainda é um país que tem uma renda per capita mais baixa. Esses países possuem um nível de sa-
lário muito mais baixo que o Brasil, o bônus demográfico ainda não cessou, a população cresce bastante e ainda é jovem. Nesse sentido, não tem como competir. Agora, isso quer dizer que é só mão de obra que importa para a competitividade lá fora? Não. Sabemos que produtividade não vem só de redução de custo, temos que olhar também para o numerador e não só para o denominador. Se não conseguimos ser tão competitivos quanto os países asiáticos, temos que aumentar o valor agregado dos nossos produtos. Isso também gera ganho de produtividade. Produtividade é o quê? Valor da produção dividido pelo número de horas trabalhadas. Se pensarmos em produtividade do trabalho e número de horas, obviamente, tem um custo monetário associado a isso. Se não conseguimos melhorar no denominador, conseguimos melhorar no numerador.
AR - E quanto ao setor privado, que papel as empresas devem assumir para contribuir de forma mais efetiva com o aumento da produtividade nacional?
Bráulio Borges - O setor privado é responsável por boa parte dos ganhos de produtividade, mas reage a incentivos, que podem ser bons ou ruins, como o sistema tributário,
o ambiente de negócios e o grau de abertura comercial. Se esses estímulos estiverem mal alinhados, com incentivos perversos, os resultados ficarão aquém do esperado. Cabe às empresas e entidades representativas cobrar do governo a adoção de medidas mais pró-eficiência e pró-produtividade. Um exemplo foi a própria reforma tributária: boa parte do empresariado apoiou a proposta e ajudou a enfrentar resistências, principalmente vindas de estados e municípios, cumprindo um papel essencial ao atuar politicamente e fornecer estudos técnicos.

AR - Há processos produtivos que ainda funcionam como entraves à eficiência? Como superá-los?
Bráulio Borges - Para melhorar a competitividade da indústria como um todo, precisamos dar um salto na infraestrutura econômica que o Brasil tinha razoavelmente boa para o nosso padrão de desenvolvimento
econômico até uns 40 anos atrás, mas estamos retrocedendo desde então. Por mais que o governo venha fazendo várias políticas, o fato é que investimos pouco mais de 2% do PIB em infraestrutura todos os anos, quando precisaria investir no mínimo o dobro disso para poder tirar o atraso e ter um nível de infraestrutura parecido com o de outros países, com nível de desenvolvimento semelhante ao nosso. Talvez o principal entrave nesse aspecto seja um fator puramente macroeconômico, a taxa de juros real, que aqui é muito alta, comparativamente a outros. Isso reflete uma série de desequilíbrios, principalmente na questão fiscal. Se conseguíssemos fazer um ajuste mais evidente, poderíamos reduzir muito a taxa de juros básica da economia e os prêmios cobrados para financiamento, para crédito mais longo. Isso, por sua vez, poderia dar um impulso adicional para o investimento em infraestrutura, principalmente aquela executada pela estrutura privada.
AR - Quais seriam as três prioridades que o Brasil deveria adotar agora para elevar a produtividade industrial? O cenário é otimista quanto à capacidade da indústria brasileira, e especialmente o setor têxtil, de recuperar competitividade nos próximos anos?
Bráulio Borges - Uma delas é a reforma tributária, a mais importante que o Brasil aprovou na parte econômica, desde o Plano Reall, só que vai levar ainda uns seis anos para começar a ver os efeitos mais plenos. Uma outra prioridade é reduzir a nossa taxa de juros de maneira estrutural e isso, na minha opinião, passa necessariamente pela questão fiscal. Não é a austeridade pela austeridade. O Brasil tem uma dívida alta que não para de subir. Resolver o problema fiscal vai levar a uma redução da taxa de juros relevante no Brasil e isso, por sua vez, vai reduzir o custo de capital que é um ingrediente importante para viabilizar mais investimento e mais ganho de produtividade. Uma terceira prioridade deveria ser o investimento em requalificação de mão de obra. É inequívoco o avanço que fizemos em termos de acúmulo de capital humano nos últimos 30 anos, mas sabemos que tem uma parte da população que já está com habilidades muito defasadas em relação ao que o ambiente de trabalho está exigindo hoje. Então precisaríamos de um programa mais efetivo, bem desenhado, para dar um treinamento técnico, para evitar que algumas pessoas fiquem para trás e nunca mais sejam empregáveis diante das habilidades exigidas pelo mercado de trabalho que têm subido rapidamente, ainda mais com a entrada da inteligência artificial cada vez mais presente nos processos produtivos.


No Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, a quinta edição do Rio Ethical Fashion mostrou que a moda brasileira está costurando uma nova narrativa — uma em que sustentabilidade não é somente adereço, mas também é essência. Em um momento em que o planeta pede freio e responsabilidade, o evento reuniu vozes da indústria, da criação e da pesquisa para discutir como transformar propósito em prática e discurso em ação.
A tônica das discussões foi clara: a sustentabilidade na moda sai do lugar de uma questão ambiental para algo mais humano e cultural. O desafio está em reconstruir vínculos entre quem produz, quem consome e os ecossistemas que sustentam essa engrenagem. A moda, nesse novo contexto, deixa de ser puramente estética e passa a ter um viés mais ético — uma plataforma para regenerar, incluir e educar.
Entre os temas de destaque, nos diversos painéis do REF, a manualidade emerge como símbolo de reconexão. Fazer à mão é resistir à lógica da pressa, recuperar o tempo do gesto e ressignificar o valor das coisas. O artesanato, longe de ser oposto ao luxo, reafirma que o verdadeiro prestígio está na entrega de sentido, na história bordada em cada peça e na relação justa e transparente com quem cria.
Outro ponto central foi a necessidade de circularidade. A moda que apenas recicla materiais, sem repensar o modelo de consumo, não rompe o ciclo da insustentabilidade. A economia circular propõe mais do que reuso: sugere colaboração, inovação e novos negócios baseados na regeneração dos recursos e das relações. No Brasil, onde o mercado de segunda mão cresce e iniciativas de reaproveitamento se multiplicam, há terreno fértil para liderar esse movimento.

A bioeconomia permeou as trocas e foi apresentada como uma ponte entre conservação e desenvolvimento, unindo tecnologia, ancestralidade e inclusão social. A partir de saberes locais e recursos naturais renováveis, é possível construir um modelo produtivo que respeite a biodiversidade e valorize comunidades. O desafio é pensar o futuro com os pés no chão, transformando a criatividade brasileira em motor de regeneração.
Mas nenhuma mudança será duradoura se não for clara. O Índice de Transparência da Moda Brasil – Edição Clima, do Fashion Revolution, reforça que o setor ainda enfrenta um abismo entre intenção e prática. Apesar de avanços na divulgação de emissões e metas de descarbonização, grande parte das marcas segue distante de compromissos sólidos com desmatamento zero e transição justa. A moda precisa olhar de frente para suas pegadas — e medir o impacto real de cada escolha.
Mas há motivos para otimismo. Iniciativas que valorizam o algodão cultivado de for-

ma responsável na Caatinga nordestina, a extração sustentável da borracha amazônica e o uso de biomassa como insumo para o setor têxtil mostram que inovação e consciência podem caminhar juntas. O Brasil tem biomas, talentos e histórias capazes de inspirar o mundo.
O Rio Ethical Fashion evidenciou que a sustentabilidade já não é um nicho, mas uma revolução em curso. Cabe à moda brasileira assumir o papel de quem cria cultura além do puro consumo. Cuidar da moda é cuidar de quem faz, de quem usa e do planeta que nos veste. Oxalá talvez seja essa a costura mais importante do nosso tempo.


Por Roberto Lima Gerente de Comunicação e Marketing da Abit


Imagine uma empresa que enfrenta os desafios diários de compliance e gerenciamento de dados, conseguindo implementar uma solução de IA generativa que automatiza relatórios e auditorias de maneira eficiente, sem abrir mão da transparência e do controle de riscos. Este exemplo prático ilustra como a governança pode ser a chave para explorar o potencial transformador da IA no contexto ESG (Environmental, Social and Governance).
Nos últimos anos, o ESG deixou de ser um mero diferencial para se tornar uma exigência do mercado. Entre seus três pilares, a governança se destaca como o
terreno mais fértil para a aplicação eficaz dessa inteligência artificial, proporcionando agilidade, acessibilidade e um impacto positivo, desde que os riscos estejam devidamente controlados. No entanto, a realização desse potencial depende da existência de uma infraestrutura sólida e de políticas internas bem definidas.
De acordo com a EY – renomada empresa de auditoria e consultoria - em 2024, 43% das empresas já investem em IA generativa, e outras 30% planejam iniciar essa implementação dentro de um ano, totalizando 73% com alguma movimentação nesse sentido. No Brasil, 51% das

empresas utilizam IA para compliance e integridade, superando a média global de 29%. Essas estatísticas indicam uma tendência clara: ela está ganhando espaço, mas a governança precisa se consolidar para acompanhar essa evolução.
Apesar desse avanço, a infraestrutura de governança ainda é incipiente. Apenas 25% das empresas trabalham com modelos personalizados de IA generativa e se sentem preparadas para lidar com os riscos e a regulação dessa tecnologia. No Brasil, 40% das empresas estão considerando estruturar a governança para IA e 68% realizam auditorias internas, o que demonstra progresso, mas ainda está distante da maturidade desejada. Além disso, existem falhas evidentes: 94% das empresas investem na preparação de dados para IA, mas apenas 21% integram efetivamente esses dados às operações, evidenciando lacunas que podem comprometer a confiança e os resultados. Em um nível ainda mais crítico, somente 10% das empresas brasileiras se consideram preparadas para a regulamentação da inteligência artificial criativa, e 98% não possuem uma estrutura robusta, enquanto apenas 4% monitoram possíveis vieses ou riscos à privacidade.
Dados acadêmicos comprovam o valor estratégico da IA generativa. Um estudo realizado em 2025, com uma amostra ampla, concluiu que a inovação digital mediada pela IA melhora significativamente o desempenho ESG, com a governança como elemento central. Outro trabalho propõe um framework ESG-AI para a avaliação ética e sustentável das iniciativas de IA pelos investidores. Contudo, é importante reconhecer que, embora a governança seja crucial, focar exclusivamente nela pode não resolver todos os desafios. Questões como a adaptação dos modelos de IA em contextos variados e os custos de implementação precisam ser consideradas. Um debate mais amplo, que incorpore essas possíveis limitações, poderá fortalecer a argumentação e oferecer uma visão mais completa do cenário.
Evidências indicam que a governança é a porta de entrada mais prática e impactante para o uso da IA generativa no con-
texto do ESG. A automatização de relatórios, o aprimoramento do compliance e a comunicação transparente fortalecem a operação das empresas com um baixo investimento, utilizando em grande parte a infraestrutura já existente.
Para que o potencial transformador da inteligência artificial generativa se concretize, é imprescindível investir em uma governança robusta: políticas internas rigorosas, auditorias frequentes e supervisão humana constante são fundamentais para mitigar riscos e garantir o uso ético e sustentável dessa tecnologia. Nesse contexto, empresas de todos os setores devem repensar suas estratégias e considerar a governança como um pilar essencial em sua jornada de transformação digital. Convido gestores, investidores e profissionais do setor a explorar essa abordagem, pesquisando, debatendo e implementando práticas que possam equilibrar inovação com responsabilidade.

Por Ailton Santos Professor e empreendedor














COURO ANIMAL COURO SINTÉTICO* BIOTECIDO DE MICÉLIO
PECUÁRIA INTENSIVA FÓSSIL (PU/PVC) RESÍDUO AGRÍCOLA
Como CEO da Muush, uma das entidades da holding Fungi Biotecnologia Ltda., tenho o privilégio de liderar uma jornada que transforma fungos em materiais inovadores para o setor têxtil. Desde nossa fundação, nosso propósito é claro: desenvolver soluções sustentáveis que substituam couros animais e tecidos sintéticos derivados de fontes não renováveis. O micélio, a rede subterrânea de filamentos fúngicos, é o coração dessa revolução. Ele não é apenas uma matéria-prima; é um agente de mudança que alinha bioeconomia circular, respeito ao meio ambiente e qualidade de vida no trabalho. Neste artigo, compartilho como estamos impulsionando essa transformação, com base em nossas conquistas de 2024.
Nossa abordagem de modelo de negócio permite focar em ações sustentáveis práticas e efetivas, otimizando o impacto positivo ambientais, Econômico, Social e de Governança (AESG). Como resultado, consolidamos um produto biodegradável, com baixa pegada hídrica e emissão de CO2.
Imagine um material que cresce em substratos orgânicos, sem depender de recursos fósseis ou práticas predatórias. O micélio permite isso: cultivamos fungos em condições controladas, colhendo folhas miceliais que se assemelham a couro ou tecido, mas com propriedades superiores em termos de sustentabilidade. Para ilustrar a superioridade técnica, comparamos
BAIXA/MÉDIA
MUITO BAIXA ALTÍSSIMA SIM (CURTIMENTO) SIM (SINTÉTICOS) NÃO (TANINOS VEG.)
nosso Biotecido de Micélio com alternativas tradicionais:
Uma das nossas maiores conquistas em 2024 foi o Prêmio SESI ODS na categoria Pequena Indústria – Vertente Ambiental. Esse reconhecimento valida o valor gerado para a sociedade e o mercado de alternativas ao couro. Implementamos melhorias estruturais em todo o processo produtivo. Por exemplo, reduzimos o ciclo de crescimento do fungo de 15 para 13 dias, otimizando a eficiência. Adotamos um sistema de energia renovável, que melhorou os resultados da Análise do Ciclo de Vida (ACV) por metro quadrado produzido. Simplificamos etapas, diminuindo o consumo de recursos e a geração de resíduos. E expandimos nossa capacidade de produção de 80 para 270 m², ampliando o alcance sem comprometer o planeta.


MESES/ANOS
DIAS/SEMANAS
MUITO BAIXA
MUITO BAIXA TOTAL/CIRCULAR
No setor têxtil, onde a dependência de materiais sintéticos e animais gera impactos ambientais massivos (como poluição hídrica e emissões de gases de efeito estufa), o micélio surge como uma alternativa disruptiva. Ele promove a economia circular: usamos resíduos agrícolas como substrato, transformando lixo em valor. Diferente dos couros sintéticos à base de petróleo, nosso material é compostável, retornando ao solo sem deixar resíduos tóxicos. Além disso, a baixa pegada de CO2 – graças ao processo de cultivo que captura mais carbono do que emite – atende às demandas globais por descarbonização. Pense no potencial para marcas de moda: bolsas, calçados e vestuários que combinam estética premium com ética ambiental.
Nossa governança reforça essa revolução. O Conselho de Liderança, com conhecimento coletivo em biotecnologia e sustentabilidade, define remunerações alinhadas a metas EASG. Engajamos stakeholders (fornecedores, downstream entities e parceiros) para co-criar valor. Em 2024, priorizamos temas materiais como gestão de resíduos, emissões climáticas, recursos hídricos e saúde do consumidor. Por exemplo, nossa estratégia fiscal e tributária é transparente, garantindo conformidade e contribuição social. No marketing e rotulagem, destacamos a presença de mercado com produtos que promovem relações de trabalho justas e seguras.
Olhando para o futuro, impulsionados por premiações em competições de alto nível, vemos o micélio escalando globalmente. Estamos investindo em inovação para diversificar aplicações, como tecidos híbridos com propriedades antimicrobianas naturais dos fungos. Essa revolução não é só tecnológica; é cultural, incentivando o setor têxtil a adotar bioeconomia. Agradeço aos nossos parceiros e ao Laboratório de Estudos de Sistemas Produtivos Sustentáveis (LESP) pelo apoio. Juntos, estamos moldando um futuro onde o têxtil é regenerativo, não extrativo.

Por Antonio Carlos de Francisco CEO da Muush

Por Cleiton Hluszko Colaborador Muush






Depois de tantos anos acompanhando ações da moda brasileira pelo mundo, participar do Dia da Colheita do Algodão 2025, na Paraíba, foi uma experiência que ficará na memória. O evento, promovido pela Cooperativa dos Agricultores Familiares de Ingá e Região, reuniu agricultores, estilistas, empresários e representantes da cadeia têxtil e de confecção em uma celebração que vai além da matéria-prima: é o reconhecimento do valor de quem faz o algodão florescer no coração do semiárido.
No final da tarde, a luz do sertão paraibano criava o cenário do desfile ao ar livre, com roupas confeccionadas a partir do algodão cultivado na região. Na passarela, filhos, filhas e parentes de agricultores locais foram os modelos que desfilaram as mesmas peças que recentemente foram apresentadas em uma semana de moda na Itália. Cada peça de roupa traduzia o cuidado com o solo, o orgulho dos agricultores e o talento dos que valo-
rizam a origem da matéria-prima que coloca a Paraíba como maior produtor de algodão orgânico colorido do Brasil. São mais de 160 toneladas por ano.
Trabalho na Abit há mais de duas décadas e, pelo Texbrasil, programa de internacionalização desenvolvido pela Abit em parceria com a ApexBrasil, já acompanhei o talento nacional em feiras, desfiles e missões comerciais em diversos países. Vi a moda brasileira se apresentar em importantes mercados, como Estados Unidos e Europa. Mas ali, foi possível ver de perto outro tipo de conquista: a integração entre o campo e a indústria, entre o social e o criativo.
A programação da Colheita do Algodão também evidencia a força de uma cadeia produtiva que aprende a se reinventar, valorizando o algodão agroecológico, a moda responsável e o protagonismo local. A iniciativa conta com o apoio de empresas que acreditam nesse propósito, como Dalila Têxtil, Cataguases e Natural Cotton Color, que ajudam a fortalecer a conexão entre os pequenos produtores e a indústria. Essa colaboração constrói um novo modelo de desenvolvimento, sustentável, inclusivo e alinhado às tendências globais, mas sem perder a identidade e o sotaque do Brasil.
Voltei de Ingá com a convicção de que o futuro do nosso setor passa justamente por esse reencontro com a origem, com o valor do trabalho coletivo, da inovação e da produção feita com propósito. No sertão paraibano, vi um Brasil que colhe mais do que algodão: colhe talento, dignidade e esperança.



Por Lilian Kaddissi Superintendente de Marketing e Negócios da Abit


Ao longo dos nossos 143 anos de história, crescemos lado a lado com o país, acompanhando mudanças sociais, econômicas e ambientais. Hoje, essa trajetória nos conduz a um novo momento: consolidar uma gestão que olha para o futuro com os olhos da sustentabilidade.
A decisão de alinhar nosso relatório às diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) foi estratégica. Queríamos adotar um modelo de comunicação reconhecido internacionalmente, que traduzisse nossas práticas em indicadores concretos, mensuráveis e comparáveis. A elaboração do relatório foi resultado de um processo de escuta ativa com diferentes públicos, colaboradores, lideranças, comunidade, conselheiros e especialistas, que ajudaram a definir os temas materiais que nortearão nossa jornada ESG até 2030.

O que mais me inspira nesse movimento é perceber que sustentabilidade não é apenas uma pauta corporativa, mas um compromisso diário que envolve cada pessoa da empresa. Transformar processos exige tempo, investimento e engajamento, mas também exige propósito. Por isso, nossas metas foram estabelecidas com base em um princípio essencial: crescer de forma responsável, garantindo que cada avanço seja consistente e verdadeiramente realizável.
Entre os marcos desse relatório estão a meta de destinar 97% dos resíduos gerados à reciclagem ou reaproveitamento até 2027, reduzindo o envio a aterros sanitários, e a mitigação das emissões de gases de efeito estufa até 2030. São objetivos que reforçam nossa visão de economia circular e o compromisso com a regeneração dos recursos que utiliza-

mos. O reconhecimento com o selo “Lixo Zero”, obtido pelo segundo ano consecutivo, com índice de 91,6% de desvio de resíduos, é um indicador concreto de que estamos no caminho certo.
Mas sustentabilidade também é sobre pessoas. Por isso, a Política de Sustentabilidade aprovada em 2024 marca um avanço na governança e na ética corporativa, integrando a agenda ESG ao planejamento estratégico e aos comitês de decisão.
Essa estrutura garante o acompanhamento contínuo de metas e indicadores, fortalecendo uma cultura organizacional que valoriza o respeito, a diversidade e a responsabilidade social.
Do ponto de vista ambiental, seguimos investindo em tecnologia e modernização do parque fabril. A inovação é uma aliada importante para tornar nossos processos mais limpos e eficientes, reduzindo o consumo de recursos naturais e ampliando a durabilidade dos produtos. Em paralelo, intensificamos ações de educação ambiental e desenvolvimento humano, reafirmando nossa crença de que o futuro da indústria depende da formação de pessoas conscientes e preparadas para inovar com responsabilidade.
A publicação do relatório não representa um ponto de chegada, mas um novo ponto de partida. Cada indicador mensurado,
cada meta estabelecida e cada resultado compartilhado são partes de uma jornada contínua de aprendizado. Sabemos que o desafio é grande, mas também sabemos que a transformação começa dentro de casa, e é isso que estamos fazendo: transformando nossa cultura, nossos processos e nossa forma de pensar o negócio.

O setor têxtil brasileiro tem um papel essencial nessa transição para uma economia de baixo carbono e de maior impacto social positivo. Acreditamos que compartilhar nossos aprendizados e desafios é uma forma de inspirar outras empresas a seguir pelo mesmo caminho. O futuro que queremos construir não é apenas o da Karsten, é o de todo um setor mais ético, eficiente e comprometido com as próximas gerações.
Seguiremos firmes nessa trajetória, guiados pela convicção de que tradição e inovação caminham juntas quando o propósito é claro: tecer um futuro mais sustentável, inclusivo e transparente.

Por Marcio Luiz Bertoldi Diretor Presidente - CEO
Karsten


O SouABR acaba de dar mais um passo em direção à consolidação da moda consciente no Brasil. Durante o Congresso Internacional da Abit, realizado nos dias 29 e 30 de outubro, em São Paulo, o movimento Sou de Algodão, liderado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), lançou oficialmente a Política de Adesão do programa SouABR, que estabelece critérios, responsabilidades e benefícios para empresas que desejam participar da cadeia rastreável do algodão brasileiro com certificação socioambiental ABR (Algodão Brasileiro Responsável).
A iniciativa reafirma o compromisso histórico da Abrapa com a sustentabilidade e rastreabilidade, pilares que fortalecem o algodão brasileiro em toda a cadeia produtiva. O novo modelo formaliza o engajamento de marcas, indústrias têxteis e varejistas no ecossistema do SouABR, garantindo que cada peça em algodão rastreável contenha informações verificadas sobre origem, certificação e boas práticas socioambientais.
O avanço representa uma conquista coletiva da cadeia têxtil nacional. Com o SouABR, a Abrapa consolida um modelo de rastreabilidade, que eleva o padrão da moda brasileira. É uma conquista construída em rede, que une produtores, indústrias e marcas em torno de uma agenda comum: a sustentabilidade e o orgulho de vestir o que o Brasil produz com responsabilidade.
O Programa SouABR nasceu em 2021 como evolução do trabalho iniciado pela Abrapa com o Sistema Abrapa de Identificação (SAI), em 2004, que permite o rastreamento da origem de cada fardo de algodão produzido no Brasil, e o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), criado em 2012, para certificar fazendas com boas práticas sociais, ambientais e econômicas. Hoje, o SouABR conecta essas informações à indústria e à moda, utilizando tecnologia blockchain, e etiquetas com QR-Code para permitir a rastreabilidade completa de cada peça do campo ao produto final.
Atualmente, o programa contabiliza mais de 578 mil peças rastreadas, com participação de 19 indústrias têxteis parceiras
e marcas como Almagrino, Calvin Klein, C&A, Döhler, Dudalina, Individual, Renner, Reserva e Youcom, que já integram a plataforma. O consumidor pode acessar a jornada de cada produto escaneando o código presente na etiqueta, conferindo as fazendas certificadas de origem e o caminho percorrido pela fibra até o ponto de venda.
A moda vive um novo momento, em que propósito e origem têm tanto valor quanto estilo. O SouABR conecta o campo e o consumidor por meio da transparência, mostrando que cada escolha pode gerar impacto positivo para quem produz e para o meio ambiente.
Com linguagem contemporânea e apresentando dados sólidos e transparentes, o SouABR consolida o algodão brasileiro como uma das fibras responsáveis, e um símbolo de uma nova era da moda nacional rastreável, ética e com propósito.
Para fazer parte do programa, basta acessar a política, e se cadastrar para mais informações.
O Sou de Algodão foi criado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), em 2016, para despertar uma consciência coletiva em torno da moda e do consumo responsável. Para isso, a iniciativa une e valoriza os profissionais da cadeia produtiva e têxtil, dialogando com o consumidor final com ações, conteúdo e parcerias com marcas e empresas. Outro propósito é informar e democratizar o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que segue rigorosos critérios ambientais, sociais e econômicos e certifica mais de 80% de toda a produção nacional de algodão.

Por Silmara S. Ferraresi Diretora de Relações Institucionais da Abrapa e gestora do Movimento Sou de Algodão
POR ELENI KRONKA

Sustentabilidade é tema que permeia todas as edições do Congresso Internacional Abit. Uma vez mais, especialistas nacionais e internacionais discutiram o assunto, apresentaram iniciativas bem-sucedidas, consideraram os atuais desafios e, sobretudo, levaram ao público novas possíveis soluções inovadoras.
Sob o eixo central “Produtividade como catalisador do crescimento e da prosperidade”, o encontro reforçou a importância de integrar desenvolvimento e responsabilidade ambiental. A Abit Review apresenta, aqui, um panorama das discussões realizados.

O painel “Sustentabilidade e Produtividade: Um Caminho Integrado” abordou desafios e oportunidades da economia circular na indústria têxtil, a busca por eficiência energética e inovações em materiais sustentáveis.
Carla Joana Silva, diretora do Departamento de Química e Biotecnologia do Citeve (Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal), lembra que a moda está entre as cinco maiores geradoras de emissões globais, atrás apenas dos setores de alimentação e construção. No contexto europeu, as apostas para reverter este cenário envolvem ampliar a circularidade na bioeconomia e fortalecer o uso de biomassa sustentável, entre outros.
A executiva destaca o Programa Be@t, criado em 2022, para o desenvolvimento de materiais têxteis rastreáveis, de origem biológica e com alta performance ambiental. Segundo Carla Joana, o programa está “alinhado com o Plano para a Economia Circular Europeia” e incorpora “abordagens inovadoras de ecodesign e ecoengenharia”.
A inovação, aliada à produtividade, foi destacada por Ricardo Formento, gestor do Centro de Negócios de Transição Energética da WEG, como um dos principais motores da indústria atual. A empresa alcançou 55,1% do faturamento global em projetos de inovação nos últimos cinco anos, resultado de um sólido ecossistema que conecta startups, universidades e grandes companhias.
Formento também ressalta o papel essencial dos colaboradores: 90% dos funcionários participam de cerca de 74 mil projetos de inovação, muitos resultando em patentes registradas com o nome dos próprios autores. “No laboratório de inovação, as ideias se transformam em projetos concretos”, afirma.
A sustentabilidade integra a política do Grupo Malwee desde sua fundação, há 57

anos. Sediada em Jaraguá do Sul (SC), a empresa mantém o Parque Malwee, símbolo de seu compromisso ambiental. Segundo o gerente de Operações Luiz Thiago Ribeiro de Freitas, entre as ações de neutralização de gases de efeito estufa, destacam-se a camiseta carbono neutro (2007), a linha de algodão colorido (2011) e, mais recentemente, a coleção Ar.voree (2024), cuja malha inédita no Brasil captura CO₂ do ambiente e o elimina durante a lavagem. O executivo frisa que 90% das 40 milhões de peças produzidas anualmente têm atributos sustentáveis. “Obtivemos um ganho acumulado de 20% em produtividade na tinturaria nos últimos cinco anos”, confidencia.
Com base em quatro décadas de análise de mercado, o IEMI – Inteligência de Mercado aponta a sustentabilidade como fator estratégico para a competitividade de fabricantes e varejistas. De acordo com o consultor e diretor Marcelo Prado, práticas sustentáveis “reduzem impactos ambientais e fortalecem a imagem das marcas”. Entre as prioridades elencadas na pesquisa, estão o uso racional de água e energia, o reaproveitamento de resíduos têxteis e o emprego de materiais orgânicos ou reciclados. Segundo o levantamento, 22% das empresas do setor já possuem programas sustentáveis. “É um avanço que consolida
a sustentabilidade como diferencial competitivo no mercado têxtil”, afirma Prado.
Marcelo Ramos, gerente de Desenvolvimento Estratégico Sustentável da instituição, apresentou o estudo “A Visão de Futuro 2030 – Estratégias para o Desenvolvimento Sustentável do Setor Têxtil e de Confecção”, elaborado pelo SENAI CETIQT. A pesquisa partiu da versão de 2015 e incorpora os impactos de transformações globais, como a pandemia da Covid-19. “Revisitamos o primeiro estudo para analisar tendências que se consolidaram, as que perderam força e as novas que surgiram”, afirma Ramos.
Sustentabilidade, economia circular, digitalização e inteligência artificial são agora considerados pilares estruturantes. O executivo destaca o uso de materiais sustentáveis, as fábricas inteligentes, a logística verde entre outros. “Tais elementos já estavam no radar em 2015, e hoje podem ser conferidos por meio de projetos reais em pleno funcionamento”. O estudo também introduz o conceito de economia circular regenerativa, com resíduos têxteis sendo reprocessados e reinseridos na cadeia produtiva.
Durante o Congresso, a Abit apresentou o site oficial da Liga de Descarbonização,



iniciativa voltada à mobilização de empresas da cadeia têxtil e de moda em torno da agenda climática.
Segundo Camila Zelezoglo, gerente de Sustentabilidade e Inovação da Abit, o movimento estimula as empresas a mensurarem e divulgarem suas emissões até 2027, conforme o Protocolo GHG. A adesão ocorre por meio de uma Carta-Compromisso, que reforça o engajamento e a transparência das participantes. O site reúne informações sobre as signatárias e links para inventários de emissões, consolidando um hub de boas práticas.
A Liga surgiu no Congresso Abit 2023, após a apresentação do Guia Moda e Clima, e desde então tem promovido encontros e parcerias que culminam neste novo marco digital. “A Abit abraçou a missão e, desde então, vem promovendo encontros e construindo um caminho conjunto”, frisa a executiva.
O Congresso Abit 2025 foi palco de inovações. Em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Abit desenvolveu o Dashboard Produtividade do Setor Têxtil e de Confecção no Brasil, apresentado na ocasião por Danilo Severian, espe-
cialista em Políticas e Indústria do Observatório Nacional da Indústria. A mediação foi do gerente de Planejamento, Tecnologia, Inteligência e Finanças da Abit, Oliver Tan Oh. A ferramenta inaugura uma nova era de transparência e análise de dados no setor, sendo a primeira a disponibilizar informações detalhadas sobre o uso de energia na produção têxtil brasileira.
A plataforma interativa reúne dados, indicadores e análises inéditas sobre produtividade, eficiência energética e sustentabilidade ambiental, destacando, por exemplo, a expressiva redução das emissões de CO₂ nas últimas duas décadas, mesmo com o aumento da produção.
Sob a mediação do diretor Superintendente da Abit, Fernando Pimentel, o painel “Produtividade sustentável: o novo motor da competitividade” contou com a participação do empresário Dan Ioschpe. Presidente do Conselho de Administração da Iochpe-Maxion e Campeão de Alto Nível do Clima para a COP30, Ioschpe destacou que produtividade e sustentabilidade caminham juntas como vetores de transformação econômica. “O crescimento do setor têxtil brasileiro deve avançar em harmonia com as metas ambientais e sociais do país”, observou.






Vivemos uma época marcada por relatórios de sustentabilidade cada vez mais robustos e cobranças públicas sobre compromissos ambientais, na qual o termo ESG (Environmental, Social, and Governance, na sigla em inglês) deixou de ser apenas um diferencial competitivo e tornou-se uma exigência mínima. Podemos notar que as empresas buscam cada vez mais se adequar a essa realidade, seguindo metas de redução da pegada de carbono, uso de energias renováveis e promoção da diversidade e inclusão. Porém, em meio a todas essas diretrizes, é necessária atenção para outra frente importante: a gestão de efluentes.
Tratar corretamente os resíduos líquidos gerados por processos produtivos não é só um pilar essencial da responsabilidade ambiental, mas também uma obrigação legal. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n.º 12.305/2010), promulgada em 2010, definiu como obrigatório o tratamento e a destinação adequada de resíduos líquidos industriais que não podem ser lançados sem risco ambiental. Inclusive, há entidades estaduais encarregadas de fiscalizar o grau de poluição gerado pelas empresas e de que maneira elas lidam com seus efluentes.
Embora a legislação seja bem detalhada, muitas empresas têm dificuldades em estabelecer processos adequados para gerenciar a emissão de poluentes e assegurar que ela seja cumprida. No setor industrial ainda há muitas oportunidades desperdiçadas de aliar tratamento de efluentes, reuso e inovação tecnológica.
Dados do Instituto Trata Brasil mostram que volumes equivalentes a mais de 5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejados diariamente na natureza no País. Apenas 51% do total gerado no Brasil é efetivamente tratado. Esses números escancaram o tamanho do desafio nacional com relação ao saneamento e mostram que o setor privado também precisa assumir protagonismo na gestão responsável da água.
Há uma crescente expectativa internacional por compromissos ambientais ambiciosos por parte do Brasil. Enquanto temas como carbono e energias renováveis dominam o holofote, corremos o risco de invisibilizar uma questão essencial: a água. A gestão de efluentes e a eficiência hídrica precisam fazer parte das metas climáticas das empresas e das políticas públicas, pois são diretamente ligadas à adaptação climática, à segurança no abastecimento do mais precioso líquido do planeta e à justiça ambiental.
Além de evitar a poluição de corpos hídricos e danos à biodiversidade, o tratamento dos efluentes permite que as empresas reduzam custos. Essa alternativa também contribui para a diminuição da dependência de recursos naturais e a pressão sobre mananciais, o que é proveitoso, especialmente num cenário delicado como o que vivemos.
Companhias que negligenciam os riscos ambientais também podem estar mais vulneráveis à desvalorização no mercado e danos à reputação. A água, cada vez mais escassa, tornou-se um ativo estratégico. Sua gestão é uma questão de governança.

Investir em soluções de tratamento, monitoramento e reuso de efluentes é mais do que cumprir uma norma. É sinalizar que a empresa compreende seu papel num planeta de recursos finitos. Em outras palavras: se ESG é mais do que discurso, começa pela água que se devolve ao mundo.

Por Fernando Carvalho Diretor-presidente da Opersan

POR ROBERTO LIMA
Com 44 anos de história completados em outubro de 2025, a catarinense Lunelli — gestora das marcas Lunender, Lez a Lez, Alakazoo, Hangar 33, Fico, Vila Flor e Lunelli Malhas e Tecidos — acaba de alcançar um marco que reafirma seu protagonismo na indústria da moda brasileira: a Certificação Sistema B. O selo, concedido pela organização global B Lab e pelo Sistema B Brasil, reconhece empresas que atendem aos mais altos padrões de desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade corporativa. A Lunelli submeteu igualmente todas as suas fábricas, no Brasil e no exterior, à certificação e o resultado foi exitoso, o que reforça ainda mais o significado de receber o selo de conformidade.




A conquista posiciona a Lunelli entre um grupo restrito de companhias no mundo: apenas 18 empresas de moda e vestuário com mais de mil colaboradores possuem essa certificação. No Brasil, o grupo têxtil é o segundo do setor com esse porte a integrar oficialmente o movimento B, que reúne negócios comprometidos em gerar impacto positivo para pessoas e para o planeta.
“É um momento importante, que nos deixa muito orgulhosos. Não é uma certificação de um dia para o outro, mas o resultado de uma longa jornada. Trata-se da conquista de clientes, colaboradores, fornecedores e de toda a nossa rede de relacionamento”, afirma Viviane Cecília Lunelli, presidente da empresa.
A certificação, que tem validade de três anos e passa por auditorias periódicas, avaliou o desempenho da Lunelli em cinco dimensões de impacto: Governança, Trabalhadores, Comunidade, Meio Ambiente e Clientes. Esse modelo de avaliação diferencia o Sistema B de outras certificações, pois considera o negócio
como um todo, e não apenas processos ou produtos isolados.
Com a Certificação Sistema B, a Lunelli passa a integrar uma comunidade global de mais de 8 mil empresas certificadas em 96 países. No Brasil, o movimento reúne cerca de 560 organizações, e no Paraguai, aproximadamente 100. O ingresso da companhia reforça a presença do setor têxtil brasileiro nesse ecossistema de negócios de impacto positivo.
Mais do que um selo, o reconhecimento simboliza a maturidade de uma jornada construída com coerência. Ao longo de mais de quatro décadas, a Lunelli consolidou uma cultura empresarial baseada na ética, na inovação e na valorização das pessoas — pilares que agora ganham uma chancela internacional.
“Fazer parte do Sistema B é reafirmar o nosso propósito de ser uma força para o bem. Crescer de forma sustentável é o único caminho possível para o futuro da moda e para o desenvolvimento da sociedade”, acrescenta Viviane Lunelli.


14 fábricas
15,4 mil toneladas de malhas produzidas
7,9 milhões de metros de malhas e tecidos estampados digitalmente
26,5 milhões de peças produzidas
MODA RESPONSÁVEL:
colaboradores
69% mulheres e 31% homens
21,5 mil clientes multimarcas
46 lojas
13 lojas próprias, 28 franquias e 5 VQL (Varejo Qualificado Lunelli)
99,88% de fio de algodão BCI
R$ 1,6 bilhão de faturamento
R$ 15,6 milhões distribuídos no Programa Conquista de Resultados e Prêmio de Produção
R$ 1,1 milhões aporte em projetos sociais com mais de 10 mil pessoas beneficiadas diretamente
100% de fio de viscose responsável
19% de redução no envio de resíduos para aterro








A Lunelli atua com a visão de “fazer moda com significado que promova impacto positivo no mundo e para todos” — conceito que orienta sua estratégia desde a fundação. Essa filosofia está refletida em um modelo de gestão que combina sustentabilidade corporativa e princípios ESG (ambiental, social e de governança) em toda a cadeia produtiva.
A companhia divulga, há seis anos, seu Relatório de Sustentabilidade, instrumento de referência quando se trata de transparência no setor. O documento, que detalha as iniciativas e resultados que levaram à conquista da Certificação Sistema B, evidencia o compromisso da empresa com nove dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: saúde e bem-estar; educação de qualidade; igualdade de gênero; água potável e saneamento; trabalho decente e crescimento econômico; indústria, inovação e infraestrutura; redução das desigualdades; consumo e produção responsáveis; e ação contra a mudança global do clima.
Na Lunelli, a sustentabilidade é incorporada às operações do dia a dia. O grupo
tem certificação ISO 14001 em suas unidades de beneficiamento têxtil no Brasil e no Paraguai, e adota processos de produção ecoeficientes, com destaque para a estamparia digital — a maior do país —, que reduz significativamente o consumo de água, energia e insumos químicos.
Em 2024, a empresa registrou faturamento de R$ 1,6 bilhão e produção de 26,5 milhões de peças. Os resultados financeiros caminham lado a lado com metas ambientais e sociais. Cerca de 75% dos produtos do setor de tinturaria têm certificação ZDHC, que atesta a eliminação de substâncias perigosas. Além disso, a Lunelli utiliza algodão BCI (Better Cotton Initiative) e viscose de fontes responsáveis, reforçando o compromisso com matérias-primas mais sustentáveis.
A Lunelli também se destaca por políticas internas voltadas ao desenvolvimento humano. Programas como o PCR (Programa de Conquista de Resultados) e o Prêmio de Produção estimulam a participação dos colaboradores nos resultados da empresa. Há ainda iniciativas de educação financeira, como o LunelliPrev, um plano de previdência complementar, e ações contínuas de saúde, segurança e qualidade de vida.

O avanço sustentável da Lunelli não se limita à gestão: está enraizado na forma como a empresa produz. São 13 unidades no Brasil –Guaramirim/SC (Lunelli Vestuário, Lunelli Comercial), Jaraguá do Sul/SC (Abimex, Unidade Confecções, Lunelli Têxtil e Outbox), Luiz Alves/ SC (Lunelli Luiz Alves), Corupá/SC (Lunelli Beneficiamentos), Maracanaú/CE (Lunelli Nordeste), Avaré/SP (Lunelli Avaré), Massaranduba/ SC (Unidade Massaranduba) e Barra Velha/SC (Unidade AJD) e uma no Paraguai (Unidade Beneficiamentos - Minga Guazú). Nelas estão quase 4,9 mil colaboradores responsáveis por produzir 15,4 mil toneladas de malhas e cerca de 7,9 milhões de metros de malhas e tecidos estampados digitalmente.
Em sua unidade de beneficiamento, em Corupá, são 110 teares circulares responsáveis por gerar 32 toneladas de malhas por dia, todas sob demanda. Na tinturaria, 52 máquinas processam cerca de 30 toneladas diárias, e três quartos dos produtos seguem os parâmetros do ZDHC. A estamparia rotativa alcança mais oito toneladas por dia, enquanto a estamparia digital, incorporada em 2012, já produz 30 mil metros diários, com 11 máquinas que operam em diferentes velocidades — de 2 a 12 metros por minuto.
O processo fabril é completo e inclui diversas etapas, como fiação, malharia, tinturaria, estamparia, acabamento e expedição. Na área de corte, em Guaramirim, o ritmo é intenso: 12 máquinas de enfesto e seis de corte preparam até 100 mil peças de roupa por dia, movimentando 600 mil peças por mês. Na unidade comercial, na mesma cidade, o fluxo chega a 1 milhão de peças diárias, distribuídas em 28 mil caixas.
A preocupação ambiental acompanha todo o ciclo produtivo. A estação de tratamento de efluentes da empresa opera em três fases — biológica, química e de decantação — garantindo que a água devolvida ao rio esteja dentro dos parâmetros ambientais exigidos. O lodo resultante é destinado a aterros controlados, em conformidade com as melhores práticas de gestão de resíduos.
A empresa continua a aprimorar seus indicadores e compromissos socioambientais, estimulando uma rede de fornecedores, colaboradores e parceiros a adotar as mesmas práticas. Assim, a Lunelli demonstra que é possível conciliar crescimento econômico, responsabilidade social e respeito ambiental, e segue inspirando o setor a trilhar essa mesma direção.



COP30 EM BELÉM:



A COP30, realizada em Belém em novembro de 2025, foi feita de negociações, grandes discussões e encontros entre pessoas e culturas. Marcou também um momento histórico para a indústria têxtil e de moda brasileira, que se viu representada por atores de diversos elos: varejo, indústria, academia, pequenos negócios, movimentos de ativismo, designers e comunicadores.
Juntos, vimos emergir soluções para a descarbonização – ainda que, ao final, o termo “combustíveis fósseis” tenha sido suprimido do Acordo Climático firmado no último dia de conferência. Juntos, celebramos as empresas brasileiras que se posicionam como agentes criadores de

soluções em tempos de crise climática. Em um ano cuja temática-chave foi a implementação, essa presença ativa do setor ganha ainda mais relevância.
Estrategicamente, a realização da conferência em solo brasileiro e amazônico criou condições para uma excelente participação do setor privado nacional. Foi também uma oportunidade de demonstrar que a transição para modelos mais sustentáveis precisa ser economicamente viável – no sentido da produção e da competitividade internacional – além de socialmente justa, especialmente para os trabalhadores da base da cadeia de valor.
A participação da Abit na COP30 ampliou e aprofundou nosso trabalho na construção de uma agenda de sustentabilidade para a indústria têxtil e de moda brasileira. Esse é um trabalho que se fortalece ano após ano, endereçando os principais desafios setoriais e auxiliando empresas na evolução de práticas mais responsáveis diante dos desafios coletivos das mudanças climáticas.
Representados por nosso Diretor Superintendente e Presidente Emérito, Fernando Pimentel, e por nossa Gerente de Sustentabilidade e Inovação, Camila Zelezoglo, estivemos ativos em diversos espaços: desde a Zona Azul – estrutura oficial da conferência – à Zona Verde, aberta à sociedade civil. Essa atuação foi cuidadosamente preparada desde o ano anterior, quando participamos da COP29

Primeiro painel da Abit no pavilhão da
em Baku, e foi pensada junto à iniciativa Sustainable Business COP , plataforma global liderada pela CNI e lançada na COP30, que permitiu uma participação estruturada do setor privado nas negociações climáticas e se estenderá a futuras COPs. Vale destacar que a Abit participa ativamente do grupo temático de economia circular e gestão de materiais.
Integramos painéis relevantes para o debate internacional sobre clima e indústria, abordando diferentes temáticas como novos materiais, circularidade, resíduos, rastreabilidade e adaptação climática. Outro destaque foi nosso diálogo com representantes de outros países do Sul Global, como o Paquistão. O debate centrou-se no engajamento ativo do setor têxtil e de moda em ações climáticas, bem como no diferencial competitivo que o Brasil possui na agenda de descarbonização – tema central para a Abit e que embasa iniciativas como a Liga da Descarbonização. Tal movimento setorial liderado pela Abit foi destaque em mais de um momento.

Celebração da assinatura do Convênio entre Abit e ABDI para diagnóstico, valorização e rastreabilidade de resíduos via Recircula Brasil

Durante as duas semanas de COP30, foi possível observar como a circularidade emergiu com recorrência tanto em atividades da agenda oficial quanto nos espaços de diálogo da sociedade civil. O conceito se consolida como orientação para a transição do setor têxtil e de moda, apontando para transformações profundas nos modelos de produção e consumo.
O Brasil ocupa posição singular para liderar um caminho de mais circularidade: somos o único país do Ocidente com parque têxtil integrado, da produção de fibras à confecção e ao varejo. Essa capacidade estrutural nos permite escalar soluções de reciclagem têxtil de forma mais ágil e eficiente que a maioria dos países.
Um marco concreto dessa potencialidade foi a assinatura, durante a COP30, de um convênio entre Abit e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), para impulsionar soluções em logística reversa e rastreabilidade de resíduos têxteis. O objetivo é mapear o volume de resíduos, a cadeia de reciclagem, propor recomendações para política pública e aproximar o setor da plataforma Recircula Brasil, cuja missão – ressaltada por representantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA) – consiste em rastrear resíduos desde sua origem até a reinserção como matéria-prima em novos produtos, fechando o ciclo produtivo.

Transformação nos processos produtivos:
Empresas como Azzas 2154, Brand Têxtil, Capricórnio, C&A, Lunelli, Lojas Renner e Riachuelo estão implementando modelos que reduzem desperdício e maximizam aproveitamento em todas as etapas da produção e pós-consumo. As estratégias circulares desenvolvidas para o segmento de jeans, já amadurecidas após anos de experimentação, demonstram que é possível replicar essas soluções em outras categorias.produtos, fechando o ciclo produtivo.

Responsabilização compartilhada pelos resíduos:

A gestão adequada de resíduos exige esforço coletivo que integre empresas, marcos regulatórios e engajamento consciente dos consumidores. A responsabilidade estendida do produtor precisa ser estruturada de forma sistêmica.

Transição justa e inclusiva:
As mudanças tecnológicas não podem onerar desproporcionalmente os elos mais vulneráveis da cadeia. Catadores, pequenos empreendedores e trabalhadores informais devem ser integrados aos novos modelos circulares com garantia de dignidade, capacitação e geração de renda justa.

E CONHECIMENTOS
TRADICIONAIS
A COP30 valorizou, de forma inédita dentro do histórico das COPs, o conhecimento de povos tradicionais e comunidades indígenas como elemento estruturante da solução climática, não apenas como símbolo de alternativas. Algo que, felizmente, também reverberou para as marcas de moda, onde as cadeias de valor têm a chance de gerar renda para quem historicamente foi marginalizado.
Iniciativas como Associação de Negócios da Sociobioeconomia da Amazônia (Assobio) e seus negócios associados – Tucum, DaTribu, LABB4, Yanciã, Sioduhi – conectam comunidades tradicionais amazônicas com moda através de fibras nativas (curauá, juta, algodão orgânico) e corantes naturais (urucum, jenipapo). A colaboração com designers como Flavia Aranha e Day Molina deu forma a um desfile memorável na Ilha do Combu, que materializou como é possível gerar renda enquanto preservam conhecimento ancestral.
Para o setor têxtil e de moda, as parcerias firmadas na COP30 também geram oportunidades de financiamento e um novo olhar para os biomateriais inovadores, como corantes e fibras de alto valor agregado.

A agenda do algodão ganhou profundidade em Belém, o que era esperado diante da importância dessa produção para a indústria têxtil e de moda. Como país líder global em produção e exportação, temos responsabilidade de manter e reforçar nossa visão de sustentabilidade.
A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) defendeu em Belém uma rastreabilidade mais rigorosa, a substituição de bases sintéticas por naturais, e a permanência do algodão como fibra estratégica num modelo de moda regenerativa. Essa posição ressignifica o algodão não como commodity de monocultura poluente, mas como fibra de transição ecológica
Dentro dessa temática, a Lojas Renner SA apresentou o projeto Florestas de Algodão, parceria com a startup FarFarm e a Universidade Federal do Mato Grosso, que cultiva algodão em sistema agroflorestal no Cerrado. O modelo integra plantios de alimentos – milho, feijão, hortaliças – que ampliam a segurança alimentar das famílias envolvidas. O cultivo regenerativo aumenta a renda das famílias, reduz a dependência de químicos sintéticos e amplia a resiliência hídrica dos solos.




Painel “Futuro sustentável do Jeans: do resíduo a reconciliação com o meio ambiente”
O lançamento do Plano Clima durante a COP30 foi um dos eventos de abertura, ocorrido já no primeiro dia. Não à toa: trata-se de um mapa estratégico intersetorial do governo brasileiro para mudanças climáticas, que estabelece diretrizes com impacto direto sobre a indústria.
As tecnologias da indústria são essenciais para a transição do país.
A indústria têxtil não é problema a ser resolvido, mas uma solução a ser escalada em busca de mais sustentabilidade. Somos um ator central da descarbonização, como a Abit defende desde a Liga da Descarbonização.
Medidas de adaptação devem ser implementadas em alinhamento com empresas, comunidade científica e movimentos sociais.
Isso significa que a sustentabilidade não é apenas uma responsabilidade da iniciativa privada, mas precisa caminhar junto às políticas públicas e à pesquisa acadêmica. A Abit participou da construção do plano de adaptação climática da Indústria, que está no guarda-chuva do referido Plano Clima.


Ao mesmo tempo em que a COP30 revelou avanços em relação ao setor têxtil e de moda, o encontro também expôs distâncias entre discurso e implementação – na linha do que a Edição Clima do Índice de Transparência da Moda, produzido pelo Instituto Fashion Revolution, documenta: muitas empresas anunciam metas ambiciosas, porém os passos intermediários permanecem pequenos ou instáveis.
Enquanto a indústria têxtil brasileira demonstrou força em Belém, por meio de empresas e entidades, houve ausências notáveis das grandes marcas globais de moda, que são centrais para uma transição setorial. Esse desequilíbrio de responsabilidade, em que alguns atores se comprometem enquanto outros se isentam do debate, fragiliza alguns movimentos.
André Corrêa do Lago , presidente da COP30 e secretário do Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, em conversa com a Abit, reforçou a necessidade de todos se adaptarem à agenda climática, destacando a posição positiva do país e da indústria têxtil e de moda neste contexto: “Todo mundo tem que se adaptar às agendas (debatidas na COP30), e a indústria têxtil está em uma posição tão positiva que só faz fortalecer o Brasil”.
Convivem, hoje, múltiplas velocidades da mudança do setor têxtil e de moda.
Os avanços na economia circular (amparados pelas múltiplas iniciativas do setor), as propostas referentes ao cultivo regenerativo de algodão, e a integração de conhecimento tradicional indígena à moda, a partir da bioeconomia, representam movimentos concretos por mudanças para mais sustentabilidade – não promessas abstratas.
Porém, o compromisso das empresas, independentemente de tamanho, precisa ser ainda mais intencional na direção de



uma rede de responsabilidade climática compartilhada. Nesse sentido, um bom exemplo a ser destacado é o anúncio de uma coalizão de empresas de moda que integram o Sistema B Brasil para 2026, e que em breve contará com a publicação de um guia de boas práticas já experimentadas pelas empresas.
Para a Abit, este é o momento de consolidar estratégias mais sustentáveis e escalar as soluções que já estão gerando impactos positivos: replicar modelos bem-sucedidos, integrar pequenos negócios e

trabalhadores de base na transição, fortalecer rastreabilidade, e manter constante o diálogo entre setor, governo, academia e sociedade civil.
A indústria têxtil brasileira provou em Belém que possui capacidade, tecnologia e determinação para ser parte da solução. Agora, acelerar essa transformação em escala é imperativo, e só poderemos fazer isso com coordenação, articulação setorial, ambição e coragem. Nossa atuação na COP30 reforça o compromisso com o ecossistema do qual fazemos parte.
Diretor Superintendente e Presidente Emérito da Abit
A COP30 reuniu marcas de moda para discutir o futuro da moda e a agenda de sustentabilidade.
A meu ver, o movimento da indústria têxtil e de confecção, que é uma enorme cadeia produtiva e de conhecimento, nos coloca em uma posição invejável, que permite sermos protagonistas em território nacional e internacional. Temos praticamente todos os elos da cadeia produtiva, matérias-primas renováveis, design, criatividade e cultura. Temos obviamente problemas a superar, como as questões macroeconômicas, mas em

Por Fernando Pimentel
Diretor Superintendente e Presidente Emérito da Abit

Por Camila Zelezoglo Gerente de Sustentabilidade e Inovação da Abit
Belém discutimos o que podemos fazer e apresentamos exemplos que mostram a consciência do conjunto.
É importante lembrar que o ótimo individual não significa que teremos o ótimo coletivo: se não coordenarmos esse processo, o conjunto da obra não será suficiente para colocar o setor em uma posição concorrencial, sustentável e de longo prazo. Por isso, a articulação que aconteceu na COP30 nos apoia a seguir em uma agenda positiva pelo crescimento da indústria têxtil.

Por Laura Madalosso Cora Design

Por Raquel Chamis Cora Design
O processo de sucessão em empresas familiares brasileiras constitui um tema central para a sustentabilidade do setor industrial, da economia e do emprego no país. Estudos indicam que cerca de 90% das empresas no Brasil possuem perfil familiar, respondendo por aproximadamente 65% do Produto Interno Bruto e empregando cerca de 75% da força de trabalho. Apesar dessa predominância, a continuidade das empresas familiares enfrenta desafios significativos, especialmente no que diz respeito à transição entre gerações. A literatura evidencia que apenas 30% dessas organizações alcançam a segunda geração de gestão, enquanto apenas cerca de 5% sobrevivem até a terceira geração. Mais de 70% das empresas familiares encerram suas atividades após a primeira sucessão ou falecimento do fun-
dador, fenômeno frequentemente denominado “vale da sucessão”.
Entre os fatores que contribuem para a vulnerabilidade nesse período crítico, estão a ausência de planejamento sucessório formal, a governança pouco estruturada e a sobreposição de papéis familiares e empresariais, bem como a resistência à modernização cultural e a preparação inadequada da próxima geração. Estudos mostram que apenas cerca de 42% das empresas familiares brasileiras possuem planos estruturados de sucessão, evidenciando lacunas importantes na formalização de estratégias de continuidade. A transição entre gerações frequentemente envolve mudanças culturais, como a migração de uma cultura mais “clã” para uma abordagem voltada ao mercado, o


que pode gerar tensões internas e exigir reestruturação organizacional. Além disso, a próxima geração frequentemente enfrenta desafios relacionados à experiência técnica, preparo para liderança e alinhamento com os valores e a visão estratégica da empresa.
A literatura e as evidências indicam que a continuidade das empresas familiares depende de um conjunto de elementos críticos inter-relacionados. O planejamento antecipado, que envolve o diálogo aberto, definição de cronogramas e mapeamento de competências, é fundamental. Da mesma forma, a governança estruturada, com conselhos de família, comitês específicos e regras claras sobre papéis e responsabilidades, oferece segurança e previsibilidade no processo sucessório.
A capacitação e o desenvolvimento da liderança sucessora, por meio de educação executiva, experiência operacional e mentoria, contribuem para que os herdeiros assumam responsabilidades com competência e alinhamento estratégico.
A profissionalização da gestão, incluindo métricas de desempenho, transparência e a possível participação de profissionais externos, alia-se à necessidade de equilibrar a cultura de legado da empresa com capacidade de adaptação e inovação. Finalmente, a participação em redes de apoio e articulação institucional permite o compartilhamento de práticas, experiências e acesso a especialistas, fortalecendo o ecossistema da sucessão.
No contexto brasileiro, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) desempenha um papel es-
tratégico ao apoiar empresas familiares em sua preparação para a sucessão. Programas educacionais voltados para a sucessão consciente devem integrar dimensões técnicas, comportamentais e de governança, oferecendo uma abordagem holística aos membros das famílias empresariais. A atuação em rede, articulando Núcleos Regionais do IEL, possibilita o intercâmbio de práticas, cases reais, benchmarks e a formação de uma comunidade de sucessores. Além disso, a integração com instâncias institucionais, como o Fórum Nacional dos Novos Líderes Industriais, coloca a sucessão em empresas familiares no centro da agenda estratégica da indústria, envolvendo jovens lideranças e famílias empresariais. Formatos diferenciados, como sessões privativas com especialistas internacionais, trilhas de maturidade e módulos customizados por porte e setor, permitem que o IEL ofereça soluções adaptadas às necessidades específicas de cada empresa, mensurando impacto por meio de indicadores como a taxa de implementação de planos de sucessão e a continuidade pós-transição.
Para operacionalizar essa abordagem, propõe-se um modelo estruturado em cinco fases: diagnóstico, planejamento, capacitação e experiência, implementação e avaliação com sustentação. Na fase de diagnóstico, realizam-se workshops, questionários e entrevistas para avaliar a maturidade da sucessão. O planejamento envolve a definição de papéis, cronogramas, políticas de
governança e regras familiares. A capacitação prepara sucessores e gestores por meio de educação executiva, mentoria e experiências práticas. A implementação consiste na execução do plano de sucessão, com acompanhamento e ajustes necessários. Por fim, a avaliação monitora a continuidade e permite lições aprendidas, fortalecendo redes de sucessores e revisando práticas de governança.
Em síntese, a sucessão em empresas familiares brasileiras representa um dos maiores desafios estratégicos de continuidade da indústria nacional. A transferência de poder, por si só, não garante a perpetuidade do legado empresarial. É necessário um processo estruturado que combine planejamento, governança, capacitação e rede de apoio. Nesse contexto, o IEL se posiciona como agente diferenciador, capaz de transformar a transição entre gerações em um momento de renovação estratégica, ampliando o impacto para a empresa, a família e o ecossistema industrial como um todo.

Por Sarah Saldanha Superintendente do IEL Núcleo Central

Bissani, L. G.; Milano, L. K. “Survival factors of Brazilian family businesses crossing the third generation of succession.” Research, Society and Development, v.12, n.12, 2023.
Cortes Faria, R.; Dias, M. de O.; Lafraia, J. “Changing Organizational Culture in Family Business Succession: A Case Study of a Brazilian Mining Company.” GPH-International Journal of Educational Research, 8(02), 2025.
“Sucessão nas empresas familiares brasileiras.” Long Vision.
“Family Businesses: building a legacy of success.” Connexpand, 2025.

O planeta enfrenta um desafio crítico: a humanidade utiliza atualmente recursos equivalentes a 1,8 planetas por ano. Isso impõe uma pressão crescente por eficiência e sustentabilidade, colocando a logística reversa no centro das discussões sobre competitividade industrial e responsabilidade ambiental.
A logística reversa é uma ferramenta de gestão ambiental e econômica que permite às empresas assumirem a responsabilidade pelos materiais que colocam no mercado, em conformidade com o princípio de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (Lei nº 12.305/2010).
Mesmo após o consumo, quando o controle físico sobre o produto é perdido, fabricantes, importadores e distribuidores devem comprovar a destinação ambientalmente adequada de uma fração equivalente de resíduos, assegurando a equivalência de massa ou de impacto. Essa comprovação pode ocorrer por meio de sistemas de rastreabilidade, créditos de reciclagem (Recicla+, Decreto nº 11.044/2022) ou certificações ambientais.
Do ponto de vista técnico, a logística reversa funciona como um mecanismo de balanço de massa ambiental, integrando fluxos diretos e inversos da cadeia produtiva e viabilizando o cumprimento de metas de reciclagem, reutilização e recuperação de materiais, em consonância com normas internacionais de gestão ambiental (ABNT NBR ISO 14001:2015; ABNT NBR ISO 14044:2009).
Essa abordagem concretiza os princípios da economia circular, que propõe restaurar e regenerar os sistemas produtivos, em oposição ao modelo tradicional de “extrair, produzir e descartar”. Nesse novo paradigma, os resíduos passam a ser fontes de inovação e competitividade, e não apenas passivos ambientais (LACY & RUTQVIST, 2015).
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos consolidou a responsabilidade compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e o poder público. Regulamentações recentes, como o Decreto nº 11.413/2023, reforçam esse marco ao instituir os Certificados de Crédito de Reciclagem e Logística Reversa (CCRLR) e os Certificados de Estruturação e Reciclagem de Embalagens (CERE), que permitem rastrear digitalmente o cumprimento das metas de circularidade, aumentando a transparência e a credibilidade das cadeias produtivas.
A transformação digital vem redefinindo a sustentabilidade industrial. Tecnologias como IoT, blockchain e analytics já são aplicadas para mapear fluxos de resíduos, otimizar rotas de coleta e garantir rastreabilidade completa de insumos e embalagens. O digital product passport, ou passaporte digital de materiais, permite que cada produto tenha um registro detalhado de origem, composição e destino, facilitando desmontagem, reuso e reciclagem.
A implementação de sistemas de logística reversa, porém, enfrenta desafios estruturais, como a insuficiência de infraestrutu

ra de coleta e triagem e a baixa conscientização do consumidor sobre o descarte adequado. Mesmo assim, o setor industrial tem respondido com soluções criativas.
No setor têxtil, a logística reversa assume papel estratégico diante do alto volume de resíduos e da complexidade dos materiais utilizados na produção. Segundo a Fundação Ellen MacArthur, 80% dos resíduos têxteis são incinerados, aterrados ou vão parar em lixões e o mundo gera atualmente cerca de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, sendo que o Brasil responde por aproximadamente 4 milhões de toneladas anuais.
Investimentos em tecnologias de separação automatizada de tecidos e em soluções baseadas em blockchain contribui para garantir a rastreabilidade dos materiais desde a confecção até a reciclagem. Iniciativas de upcycling, slow fashion e comércio

Por Gesner Oliveira
Professor da FGV
EAESP e Sócio da GO Associados
REFERÊNCIAS

Por Francielly Almeida Economista e consultora na GO Associados

de roupas de segunda mão exemplificam como a circularidade pode ser incorporada ao modelo de negócios da moda.
Dessa forma, a logística reversa no setor têxtil não apenas reduz impactos ambientais, como também estimula novos modelos de negócio circulares e socialmente inclusivos, alinhados às metas globais de sustentabilidade e à transição para uma economia de baixo carbono.
A consolidação da economia circular exige mais do que inovação tecnológica: requer mudança cultural e colaboração setorial. Ao adotar práticas de logística reversa, investir em rastreabilidade e promover modelos de produção responsáveis, as empresas contribuem para uma economia baseada na regeneração e eficiência, na qual sustentabilidade e competitividade caminham lado a lado.

Por Luccas Espinoza Coordenador de Governança Corporativa na GO Associados

Por Bruna Leal Consultora na GO Associados e Especialista em Sustentabilidade
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 14001:2015 – Sistemas de gestão ambiental – Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 14044:2009 – Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida – Requisitos e orientações. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 3, 3 ago. 2010.
BRASIL. Decreto nº 10.936, de 12 de janeiro de 2022. Regulamenta a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1, 13 jan. 2022.
BRASIL. Decreto nº 11.044, de 13 de abril de 2022. Institui o Programa Recicla+, que dispõe sobre o Certificado de Crédito de Reciclagem de Logística Reversa. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1, 14 abr. 2022.
BRASIL. Decreto nº 11.413, de 13 de fevereiro de 2023. Institui os Certificados de Crédito de Reciclagem e Logística Reversa (CCRLR) e os Certificados de Estruturação e Reciclagem de Embalagens em Geral (CERE). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1, 14 fev. 2023.
ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. A new textiles economy: redesigning fashion’s future. Cowes: Ellen MacArthur Foundation, 2017. Disponível em: https://www.ellenmacarthurfoundation.org/publications/a-new-textiles-economy-redesigning-fashions-future. Acesso em: 6 nov. 2025.
LACY, Peter; RUTQVIST, Jakob. Waste to Wealth: The Circular Economy Advantage. London: Palgrave Macmillan, 2015.

Este espaço da Revista Abit Review vai noticiar algumas iniciativas das empresas que estão investindo em ações dentro da agenda ESG, como eventos, certificações, prêmios, boas práticas junto a comunidades, colaboradores, e outras ações.


A Santista Jeanswear apresentou a coleção Verão 2027 na Denim City São Paulo, com o tema “Viver, Vestir e Sentir”, a roupa como experiência sensorial e lugar de pertencimento”. Com oito lançamentos e atualizações de clássicos, a marca utilizou algodão certificado pela Better Cotton Initiative (BCI) e pela (ABR) Algodão Brasileiro Responsável, garantindo práticas responsáveis no cultivo e respeito social em toda a cadeia. Nos acabamentos, para tornar o processo mais limpo e renovável, insumos convencionais foram substituídos por Bio Soft, amaciante derivado de fontes renováveis, isento de carbono fóssil, e soluções como a biogoma, produzido a partir de fécula de mandioca e resíduos de batata chips. Já a linha Eco Laundry assegura resultados autênticos em lavanderia, com economia de até 70% de água, 30% de energia e 85% de químicos.

A Orfama, especialista em malhas de luxo, voltou à feira Première Vision para apresentar produtos sustentáveis após uma ausência de cinco anos, em razão da pandemia e do preenchimento total da capacidade produtiva. Entre as novidades está a utilização de Brewed Protein, uma fibra proteica feita a partir de processos de fermentação, desenvolvida pela japonesa Spiber e usada por marcas como a The North Face e a Patagônia. A Bananatex, proveniente da folha da banana, e lãs certificadas, está entre as outras inovações da Orfama. A estratégia passa por consolidar este posicionamento no setor de sustentabilidade, no qual integra matérias-primas recicladas.

A Sensihemp, marca portuguesa sediada na Póvoa de Varzim, conquistou o prêmio de melhor marca de moda sustentável na Circular Sustainable Fashion Week de Madrid, reconhecimento concedido pelo projeto espanhol “The Circular Project”. Fundada em 2021, a marca vem utilizando exclusivamente o cânhamo cultivado de forma responsável em território português e em outros países da Europa, com foco em desperdício zero e circularidade total. As peças possuem caráter artesanal e são confeccionadas com detalhes feitos à mão e técnicas de upcycling.


Karsten, empresa de artigos de cama, mesa e banho, com sede em Blumenau (SC), criou o Programa Kostura 60+ em parceria com o SENAI, oferecendo vagas exclusivas para pessoas com 60 anos ou mais que desejam aprender ou retomar o ofício da costura. A iniciativa combina capacitação técnica em costura básica industrial com formação socioemocional, focada em trabalho em equipe, ética, comunicação e resolução de conflitos. Além das aulas teóricas e ambiente acessível e acolhedor, os alunos contarão com acompanhamento psicológico, nutricional e ginástica laboral.

A Malwee anunciou a ampliação de sua nova coleção cápsula, Ar.voree, produzida com a única malha no Brasil que captura gás carbônico (CO₂) do ambiente e o elimina na lavagem. A marca havia lançado em maio uma camiseta da linha e, devido à alta procura, com as peças esgotando em poucos dias, a coleção agora terá também um vestido midi preto. A malha Ar.voree foi criada em parceria com a StartUp de Singapura Xinterra e funciona capturando o CO2 da atmosfera. Na lavagem, em contato com sabão em pó ou líquido, o gás carbônico vira bicarbonato de sódio e é totalmente dissolvido. Durante esse mesmo processo de lavagem, os agentes de captura de CO2 são recarregados e, ao usarem a peça novamente, ela seguirá capturando mais gás carbônico.

A ViX, tradicionalmente reconhecida pelo resortwear, apresentou pela primeira vez peças em jeans em sua coleção de verão 2026, todos confeccionados em denim com lavagem considerada clássica e de menor impacto ambiental. A novidade integra a narrativa Dreamland Diaries, que marca a temporada, e chega em formato de coleção cápsula, composta por itens como calça, short, camisa, top e vestido. O processo de fabricação utiliza cerca de 80% menos água, em alinhamento à linha CARE (Conscious Alternatives, Responsible Efforts), que reúne iniciativas sustentáveis desenvolvidas pela marca.

A 60ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW) contou com a presença de um estande institucional do Sebrae, com foco em mostrar o potencial competitivo de recursos naturais da Amazônia capazes impulsionar a moda brasileira e gerar novas oportunidades para pequenos negócios. O estande trouxe produtos de moda, biojoias e decoração, além de uma pesquisa de percepção pública realizada em parceria com o Instituto Focus Têxtil. Os empreendedores desse porte representam 97% das empresas do setor de moda no país, o que reforça sua relevância para o desenvolvimento da economia criativa e sustentável.


A Youcom, marca de lifestyle jovem da Lojas Renner S.A, criou um jeans circular na cor preta a partir de resíduos pós-consumo, mantendo os padrões de qualidade. O lançamento, que conta com três modelos, representa um marco na trajetória do projeto Jeans for Change, iniciativa criada há mais de uma década com o propósito de dar nova vida a peças de jeans descartadas. A varejista contou com parceiros industriais especializados, sob coordenação técnica da Cotton Move, empresa focada em inovação têxtil e economia circular. Todo o processo produtivo foi orientado por critérios de eficiência hídrica e energética, especialmente nas etapas críticas de tingimento e acabamento.

A Döhler, empresa têxtil de Joinville (SC), recebeu a Certificação de Responsabilidade Social da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), que destaca organizações públicas e privadas comprometidas com boas práticas de governança, sustentabilidade e valorização das pessoas. A Comissão Mista de Certificação, responsável pela análise dos inscritos, é composta por representantes de diversos órgãos, incluindo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Economia Verde e o Movimento ODS Santa Catarina. A equipe avalia os Balanços Sociais, Relatórios de Sustentabilidade e informações institucionais, conforme critérios definidos em edital público.

A Better Cotton Initiative (BCI), organização internacional sem fins lucrativos com sede na Suíça, lançou uma etiqueta de rastreabilidade que permite aos consumidores conhecerem a origem e a percentagem de algodão BCI nas peças, visando reforçar a transparência e a sustentabilidade na cadeia de valor têxtil. Conforme a organização, a nova etiqueta reflete a certificação tanto das explorações agrícolas como dos fornecedores, retalhistas e marcas segundo as normas da BCI. A etiqueta é opcional, mas apenas os produtos com pelo menos 30% de BCI Cotton, rastreado através do programa de rastreabilidade da organização, poderão utilizá-la, sendo que o restante material não pode incluir outro tipo de algodão.

A Sintequímica do Brasil foi reconhecida com o Selo de Eficiência Energética, concedido pelo SENAI-SP em parceria com o Programa PotencializEE - Programa Investimentos Transformadores de Eficiência Energética na Indústria, na categoria Prata Destaque. Especializada na fabricação de tintas para têxtil, adesivos e selantes industriais, a Sintequímica conquistou o selo devido a ações implementadas após um diagnóstico energético completo. Entre as mudanças estão a redução significativa do consumo de energia, aumentando a eficiência, a contribuição direta para a diminuição de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e o aumento do fortalecimento da governança e responsabilidade ambiental.

A Insider Store, marca brasileira de roupas, em parceria com a fibra têxtil TENCEL™ Liocel, do Grupo Lenzing, e com a fiação Textil Carmem, lançou uma camiseta ecoeficiente que integra a iniciativa NEXTECH – Essenciais do Futuro, dedicada a básicos ecoeficientes. A peça é produzida com fibras celulósicas em processo de ciclo fechado, que recupera água e solventes e reduz significativamente os resíduos. As fibras TENCEL™ Liocel são obtidas a partir de madeira de fontes controladas ou certificadas e podem ser rastreáveis por tecnologia exclusiva de rastreamento. A Textil Carmem, empresa reconhecida internacionalmente por soluções têxteis de menor impacto, é responsável pelo fio que dá vida a essa malha.

A Vicunha apresentou sua nova coleção de tecidos denim e brim, com um portfólio de produtos sustentáveis e tecnológicos, desenvolvidos com menor impacto hídrico e de carbono. Entre os destaques de artigos sustentáveis estão: Catarina Dark Blue Plus; Catarina Baby Blue Plus; Ester Dark Blue Plus; e Missy Black BW Plus. Todos eles integram o selo Zero Fresh Water, contando com tecidos produzidos sem uso de água de manancial, graças à estação de tratamento VSA, que trata o esgoto doméstico de cidades vizinhas à sua fábrica, em Pacajus (CE), resultando em água de reuso para seus processos industriais. Além disso, a coleção ainda traz tecidos com o selo Less Water, que minimiza o consumo de água na produção.

O Grupo Têxtil Manuel Gonçalves, empresa portuguesa diversificada com origem na indústria têxtil, publicou seu primeiro relatório de sustentabilidade elaborado de acordo com os princípios da Global Reporting Initiative (GRI). O documento indicou avanços da empresa em áreas como eficiência energética, gestão de resíduos, uso de fibras mais sustentáveis e investimento em I&D. Em 2024 – ano em que aumentou a produção em 49% –, a TMG Textiles reduziu o consumo energético em 18% e diminuiu em 45% a intensidade energética por tonelada de têxteis produzida, em comparação com 2023. Isso ocorreu devido à adoção de medidas como a instalação de uma nova caldeira a gás natural com economizador, a redução de fugas de ar comprimido, a otimização da iluminação interior e a aquisição de compressores com variação eletrônica de velocidade.




