Revista Abigraf 276

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Imagens cintilantes.

Ilustrado por imagens de embalagens de frutas das feiras livres de São Paulo,

Camille Paglia, Editora Apicuri, 2014.

Cadernos do olhar#08

Uma viagem através da arte. “Precisamos reaprender a ver. Em meio a tamanha e neurótica poluição visual, é essencial encontrar o foco, a base da e abilidade, da identidade e da direção da vida. As crianças, sobretudo, merecem ser salvas desse turbilhão de imagens tremeluzentes que as vicia em di rações sedutoras e fazem a realidade social, com seus deveres e preocupações éticas, parceria e úpida e fútil. A única maneira de ensinar o foco é oferecer aos olhos oportunidades de percepção e ável – e o melhor caminho para isso é a contemplação da arte. Olhar para a arte exige sossego e receptividade, mas é uma empreitada que re aura nossos sentidos e produz uma serenidade mágica. […] As belas artes e ão encolhendo e recuando no mundo inteiro. Videogames em animação digital e esportes na TV têm muito mais energia e variedade, além de um impa o muito mais significativo sobre as gerações mais jovens. As artes e ão travando um combate de retaguarda, com sua própria sobrevivência em jogo. Os museus têm adotado a publicidade e as mesmas técnicas de marketing inventadas por Hollywood para atrair multidões […] mas os grandes cartazes continuam sendo os Velhos Me res ou a pintura impressioni a, e não a arte contemporânea. Nenhum e ilo galvanizado surgiu desde a Pop Art, que matou a vanguarda ao abraçar a cultura comercial. […] E entretanto, por quinhentos anos, desde a aurora do Renascimento, as mais complexas e particularmente expressivas obras de arte já produzidas no mundo foram executadas em pintura – da têmpera e óleo ao acrílico. O declínio da pintura descone ou futuros arti as de sua mais nobre linhagem.” […] A que ão mais importante acerca da arte é: o que permanece, e por quê? as definições de beleza e os padrões de go o mudam con antemente, mas padrões persi entes subsi em. Defendo uma visão cíclica da cultura: os e ilos crescem, egam ao ápice e decaem, para tornarem a florescer, num renascer periódico.

Em tempos de máquinas tentadoras e mágicas, uma sociedade que esquece a arte corre o risco de perder a alma.

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A linha de influência artí ica pode ser vi a claramente na cultura ocidental, com várias interrupções e recuperações, desde o Egito antigo até hoje – uma saga de cinco mil anos que não é (como diria o jargão acadêmico) uma “narrativa” arbitrária e imperiali a. Grande número de objetos teimosamente concretos – não apenas “textos” vacilantes e subjetivos – sobrevivem desde a antiguidade e as sociedades que moldaram. A civilização é definida pelo direito e pela arte. As leis governam o nosso comportamento exterior, ao passo que a arte define nossa alma. Às vezes a arte glorifica o direito, como no Egito; às vezes desafia a lei como no Romantismo. O problema com as abordagens marxi as que hoje permeiam o mundo académico (via pós-e ruturalismo e Escola de Frankfurt) é que o marxismo nada enxerga além da sociedade. O marxismo carece de metafísica – i o é, de uma inve igação da relação do homem com o universo, inclusive a natureza. O marxismo também carece de psicologia: crê que os seres humanos são motivados apenas por necessidades e desejos materiais. Ele não consegue dar conta das infinitas refracções da consciência, das aspirações e das conqui as humanas. Por não perceber a dimensão espiritual da vida ele reduz reflexivamente a arte à ideologia […]. REVISTA ABIGR AF

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discorre sobre vários aspectos e significados da maçã impressa. Veja em

Cadernos do olhar

the apple a maçã la poma

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Eduardo Braga&Patrícia Rezende. Como foi o início de sua formação? Minha formação na FUMA, de 1988 a 1992, foi muito rica na construção de novos olhares, novos pensamentos, comportamentos e posicionamentos metodológicos criativos para o design. Tudo estava em formação e transformação. Era uma ebulição em tempo integral. Aconteceu a mostra de design na IBM organizada pelo Romeu Dâmaso; o Centro de Design estava se organizando, participamos ativamente como aluno e depois como monitor e mais tarde como professor orientador do pensamento, construção, implantação e criação projetual do Laboratório de Design Gráfico, que tinha em sua marca a sua afirmação máxima: Elaboratório de Design Gráfico. Este projeto foi “bancado” e coordenado pela Bernadete Teixera. Vivia a escola em tempo de três turnos: pela manhã, como estudante, à tarde no laboratório e à noite monitor nas cadeiras de Análise Gráfica e Processos e Materiais de Impressão. O quarto turno era de discussão incessante sobre design, debates conceituais que varavam a madrugada. E se tudo isso não bastasse, no laboratório e nas aulas tínhamos grandes profissionais do mercado, cada um com sua expertise, abertos, sinceros e dispostos a formar uma geração profissional. E além desse quarto turno, o que acontecia? No meio de tudo isso, existia o “universo FUMA de ser”. Muita música, fotografia, aquela vontade de descobrir e fazer. Mais tarde, junto com alguns membros do laboratório e da sala, montamos “o processo” CASA NÃO, uma espécie de grupo, que hoje seria chamado de coletivo. Um local de discussão sobre design e suas convergências – importante frisar que na FUMA já se discutia e praticava o design único como profissão, ou seja a junção dos cursos em uma plataforma curricular integrada – onde era proibido falar a palavra ‘não’ durante as discussões. As discussões rendiam dias e noites, finais de semana e se transformavam em projetos como a tipografia desenhada para o livro de termos técnicos do IEPHA. Somam-se a isso as palestras, participações em mostras e cursos de profissionais como o Silvio Silva, da Lumen Design, de Curitiba; Alvaro Guillermo, Lucy Niemeyer, Adélia Borges, Gilberto Strunck e outros grandes profissionais, professores e pensadores do design. A estrutura curricular atrapalhava ou já continha desafios? Estávamos em um lugar mágico, em um momento único. Foram cinco longos anos de quatro turnos diários de envolvimento. Lembro-me de um curso com o Carlos Righi – Um provável futuro para o design –, em que ele abordou, em 1991, temas que ainda hoje são atuais: biodesign, a teoria dos fractais, caos e prossêmica. Neste cenário compreendi que tinha que conhecer muito bem quatro disciplinas: semiótica, materiais e processos de produção, metodologia. Aqui cabe uma ressalva – existia um debate e a briga clássica na escola sobre metodologia projetual – tínhamos a defesa da metodologia científica e tínhamos a visão do Márcio Lambert que entendia e defendia que design era comunicação, o que soava uma heresia apesar de toda modernidade da escola.

março /abril 2015

22/04/15 14:30


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