UM OLHAR JURÍDICO, HISTÓRICO E CULTURAL SOBRE AS VIOLÊNCIAS CONTRA A MULHER

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Entretanto, apesar de solidamente construído e influente até os dias atuais, já que o pensamento realista, em suas distintas vertentes, possui capacidade de adaptação constante, não foi capaz de explicar as transformações desencadeadas na sociedade internacional no final da década de 60, e a principal delas consistiu na realocação do lugar até então ocupado pela alta política ─ defesa, segurança, diplomacia, estratégia – diante da crescente importância de outros temas antes tidos como secundários ou irrelevantes. Atividades econômicas, científicas, culturais e sociais passaram a representar papel de destaque, transformando as relações internacionais em algo mais do que estritas relações de força. Os acontecimentos dos anos 70 e seguintes inauguraram novo momento teórico-analítico, quando se vislumbra, com base em novas visões da política internacional, que o aspecto da confrontação de poder conforma-se de modo mais complexo. E, neste cenário, conformado como um mosaico de peças ajustadas, porém absolutamente distintas, as discussões de gênero ocupam na sociedade internacional, juntamente com outros e novos atores não estatais, um espaço que já não pode ser desconsiderado. Ante estas considerações, cabe especificar que o tema, no presente estudo, será abordado com base em dois tópicos: o primeiro dedica-se a contextualizar o leitor a respeito do lugar ocupado pelo realismo no campo das Relações Internacionais, tecendo considerações referentes às suas premissas centrais; e o segundo traz elementos explicativos sobre as questões de gênero e como as mesmas deixaram de ser inseridas na política internacional ante o predomínio realista. 2 RELAÇÕES INTERNACIONAIS E O PARADÍGMA DO REALISMO POLÍTICO

Questão merecedora de continuados estudos e análises no campo das Relações Internacionais é aquela relacionada aos seus paradigmas.40 Entendidos como modelos de compreensão das relações que se dão no cenário internacional, os paradigmas percorreram, desde o início do século XX até os dias atuais, um trajeto teórico que procurou acompanhar e explicar as transformações relacionais nele manifestadas. 41

Pode-se compreender melhor a questão conceitual envolvendo os paradigmas em geral a partir da obra de Thomas Kuhn: A Estrutura das revoluções científicas. Lisboa: Guerra & Paz, 2009. Contudo, faz-se a ressalva de que a particularidade da natureza e do comportamento dos paradigmas no campo das Relações Internacionais não permite a pronta remissão à concepção kuhniana. 41 Sobre o tema, consultar os seguintes estudos: BARBÉ, Esther. Relaciones Internacionales. 3. ed. Madrid: Tecnos, 2007.; BEDIN, Gilmar Antônio [et al]. Paradigmas das Relações Internacionais: realismo, idealismo, dependência, interdependência. 3.ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011.; OLIVEIRA, Odete Maria de. Relações Internacionais: estudos de introdução. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2007. 95 40


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