Novembro 2020 - Edição em português

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VOLO PER VERITAS

Juliana Torchetti Coppick jutorchetti@yahoo.com.br

O Melhor Piloto Agrícola

O que somos no campo profissional, inevitavelmente reflete muito do que somos como pessoas.

Em qualquer atividade, a busca pela excelência é um hábito dos profissionais de qualidade. Aliás, a palavra “excelência “ por si só, soa bastante atrativa aos ouvidos. Gostamos de colocá-la em nossos currículos e propagandas. As divergências começam quando nos perguntamos: o que é de verdade a excelência? O que define um ótimo piloto agrícola? Se o conceito de “excelência” se estabelece de forma deturpada, o que fazemos em nome dessa busca, ao invés de nos fazer profissionais melhores, pode nos conduzir a resultados desastrosos. Em nossa atividade, egos inflados são mais comuns do que gostamos de admitir. Assim sendo não é raro encontrarmos pilotos ou operadores que se auto intitulam como “os melhores”. Será que ser o melhor é ser o mais seguro, o mais rápido, o mais arrojado ou o que faz mais dinheiro? Será a excelência a junção de todas essas características? Como os leitores já devem ter percebido, hoje eu tenho mais perguntas do que respostas. Porém, não espero que um guru surja como um daqueles personagens da ficção (uma espécie de Mestre Yoda ou Mestre dos Magos) e calmamente nos guie pelo obscuro vale das incertezas. Até porque sabemos que não existe uma receita única para o sucesso. Aliás, esse é outro conceito que varia de pessoa para pessoa. O que somos no campo profissional, inevitavelmente reflete muito do que somos como pessoas. Nossas prioridades, valores, receios, vaidades e ambições... Cada uma dessas coisas impactará de maneira diferente na nossa equação “excelência/sucesso”. Eu costumo usar uma técnica que vem se mostrado bastante eficiente aos longos dos anos.... Costumo observar a trajetória de

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alguns respeitados e experientes aviadores. Particularmente, eu presto atenção aos indivíduos com histórico mais seguro e personalidades menos vaidosas; visto que a vaidade, via de regra, é péssima conselheira. Mas um piloto veterano com a cabeça no lugar, pode ser uma fonte de sabedoria da qual vale a pena beber. Somada à trajetória desses aviadores, eu busco informações em livros e publicações. Sempre bato na tecla de que precisamos diferenciar informação e opinião. Ter opinião não é pecado algum... pelo contrário, é um direito! Mas sinceramente, se a opinião de um aviador vai contra o manual de operações, por exemplo, eu já fico com um pé atrás. Na dúvida, sigo o manual. Afinal, ao assumirmos o comando de uma aeronave somos responsáveis pela operação da mesma. E se eu tiver que me explicar diante de um juiz, creio que vale mais justificar minhas decisões respaldada pelo manual de operações da aeronave do que pela opinião daquele amigo “Top Gun”. Estranhamente, na aviação agrícola parece ser mais comum se envolver em um acidente ou incidente, do que operar dentro dos limites. Panes secas, colisão com fios, operações acima do limite máximo de peso de decolagem/pouso rendem menos caras de surpresa do que fazer as coisas “by the book” (expressão que significa seguir as recomendações do fabricante da aeronave). Sei que muitos vão dizer que na aviação agrícola, se a operação for feita seguindo o manual, não se faz dinheiro. Mas... quanto custa um acidente? Quanto custa uma trinca estrutural por constante fadiga mecânica? Qual o valor da nossa imagem profissional diante do mercado e da sociedade? Não se preocupem em responder aos


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