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Combate a Incêndio Evolui no Brasil

por Lucas Zanoni Zanoni Equipamentos

2020 marcou a ascensão da aviação agrícola como ferramenta indispensável para a proteção ambiental no país

Mais uma temporada de incêndios no Brasil vai chegando ao fim e o país enfrentou alguns dos mesmos dilemas do ano passado: muita desinformação sobre o agronegócio e muita dedicação do setor aeroagrícola para contribuir com a preservação de nossas riquezas naturais. Dezenas de aeronaves brasileiras levantaram voo nos últimos meses para combater o fogo em todo país, com destaque especial para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e na Bahia. Apesar dos desafios ambientais que o mundo inteiro vem enfrentando e das dificuldades que o Brasil ainda tem para melhor coordenar os esforços de combate a incêndio, 2020 foi um ano de considerável sucesso para essa atividade da aviação agrícola.

Histórico recente da atividade

Apesar do combate a incêndios ser uma prerrogativa da aviação agrícola desde 1969, a última década representou uma mudança significativa na atividade. Com a chegada de aeronaves de maior porte na frota brasileira e uma maior organização tanto do setor público quanto do setor agrícola, a aviação passou a representar uma importante ferramenta para a preservação de florestas e matas e para o controle de queimadas em campos e lavouras. As empresas aeroagrícolas passaram a realizar maiores investimentos na área em todo o país, adquirindo novas tecnologias e capacitando seus pilotos.

No ano de 2006, a Zanoni Equipamentos desenvolveu sua primeira comporta mecânica para a Tucano Aviação Agrícola, uma das primeiras empresas nesse segmento, que está localizada em Primavera do Leste (Mato Grosso) e atua em parcerias com outras empresas no projeto Previncêndio no Estado de Minas Gerais. Alguns anos depois, a Tangará Aeroagrícola iniciou um outro projeto pioneiro em São Paulo, quando adquiriu um Air Tractor 502 para a atividade, buscou capacitação com profissionais chilenos e passou a contribuir e assessorar o Grupamento de Bombeiros e a Defesa Civil local. Desde 2013 o estado passou a contratar aeronaves agrícolas para combate a incêndio, onde também vem se destacando o trabalho da Pachu e da Imagem. Além dos contratos com a administração pública, o parque industrial paulista de celulose e cana de açúcar passou a montar suas brigadas de incêndio, mantendo suas reservas florestais obrigatórias e protegendo suas próprias culturas.

O Centro-Oeste brasileiro também vem se destacando na atividade, já que possui uma grande parte da frota agrícola nacional, a qual vem prestando auxílio contínuo em regiões como Pantanal, Chapada dos Guimarães, Cerrado e Amazônia. Em 2015, a Rondon Aviação Agrícola (localizada em Tangará da Serra - MT) e a Serrana Aviação Agrícola (localizada em São Gabriel do Oeste - MS) conduziram os primeiros testes realizados com as comportas hidráulicas Zanoni no país. As duas empresas têm ganhado notoriedade na região, sendo fundamentais nas operações de combate a incêndios nos últimos anos. O Distrito Federal passou a contratar aeronaves e depois adquiriu algumas delas. O mesmo vem acontecendo no Mato Grosso, onde, além dos contratos com empresas de aviação e da frota governamental, grandes grupos agrícolas também passaram a montar suas brigadas de combate a incêndio, como no caso da Bom Futuro, que equipou diversos Air Tractors nesse ano para a proteção de suas lavouras e reservas florestais. Agora em 2020, uma licitação foi aberta também para contratação no Mato Grosso do Sul.

Segundo dados do SINDAG, “em 2019, empresas aeroagrícolas voaram pelo menos 350 horas contra incêndios em todo o Brasil – na Amazônia Legal e em reservas e lavouras do Centro-Oeste e Sudeste. Foram mais de 1,8 mil lançamentos de águas contra chamas”. Ainda não temos os números para esse ano, mas é provável que a quantidade de voos tenha aumentado consideravelmente, levando em conta as conversas entre o setor e os destaques oferecidos pela mídia ao longo do ano.

Equipe de pilotosda Serrana AviaçãoAgrícola em operaçãode combate a incêndios- Caio Balzan, GustavoBorges, Adriano PereiraCorrêa eAdilsonUrsulino (da esquerdapara a direita). Aempresa atua em todaaregião Centro-Oestedo país.

Relato dos operadores: Gustavo Borges (Serrana Aviação Agrícola)

O piloto Gustavo Borges iniciou o trabalho de combate a incêndio há cerca de quatro anos, tendo realizado algumas poucas missões de pequeno e médio porte na região de Ivinhema com aeronaves comuns e, após ter ingressado no time da Serrana, passou a participar de operações com aeronaves equipadas especialmente para a atividade. No ano passado, participou de missões na Chapada dos Guimarães e na Amazônia (Porto Velho), que foram destaque na edição de outubro/2019 da AgAir. No mês seguinte, a Serrana fechou um contrato com o Paraguai, onde atuou por quinze dias. Agora em 2020, Gustavo participou de uma força tarefa no Pantanal, que envolveu diversas empresas de todo o país e ainda segue em atividade para conter os incêndios. O piloto destaca a diferença entre as operações:

“Na Chapada era um fogo que estava no entorno do parque, era um pequeno foco. Na Amazônia eram vários focos, não necessariamente nas matas, mas em regiões próximas a elas. Lá no Paraguai o fogo era totalmente diferente: 10, 15, 20 quilômetros de linha de fogo, porque ali era cerrado [ou chaco, para os paraguaios]. Oito meses sem chover, estava muito seco e era uma vegetação de dois a três metros para baixo, muita matéria seca, puro combustível. Então estávamos trabalhando e teve momentos que o pessoal não sabia muito bem o que fazer, sem tanto treinamento como no Brasil e poucos recursos. Chegamos com dois Air Tractors 502 no primeiro dia e eles só tinham um caminhão com cinco mil litros d’água. Com a experiência que a gente tinha na época, sugerimos que se fizesse aceiro e contra-fogo, mas houve uma resistência muito grande de ONGs para que não se utilizasse essa técnica. Então o fogo só apagou quando veio a chuva. Eu atuei depois em uma fazenda próxima a Corumbá, onde também tivemos um fogo de difícil controle. Agora seguimos no Pantanal, onde a aviação está há várias semanas trabalhando para conter os incêndios”.

Gustavo ainda destacou a importância do trabalho em parceria com os brigadistas, ressaltando que sem a ajuda deles o trabalho dos aviões pode ser inócuo. Segundo o piloto, a impressão geral é que a atividade de combate a incêndios com aeronaves tem avançado e se popularizado no país. Ele ressalta, no entanto, que ainda há áreas que podemos aprimorar consideravelmente, como a regulamentação e liberação do uso de retardantes e a maior utilização de mapeamentos de focos de incêndio via satélite, duas tecnologias cruciais para o sucesso do trabalho.

Relato dos operadores: Fernando Petrelli (Pachu Aviação Agrícola)

Outro destaque para o combate a incêndios em 2020 foi a Pachu Aviação Agrícola. A empresa, comandada

pelo piloto e diretor do SINDAG Marcelo (China) Amaral, promoveu o primeiro Curso Brasileiro de Capacitação de Pilotos Agrícolas em Combate a Incêndios em Campos e Florestas. Com a participação de doze pilotos agrícolas, foram oferecidas aulas teóricas e treinamento prático no mês de julho de 2020. Cada piloto teve que fazer pelo menos quatro lançamentos contra um alvo representando um ponto de incêndio, com treinamento sobre comunicação, circuito, aproximação, ataque e retorno (segundo a fraseologia técnica). O curso foi realizado em Olímpia, na base da Pachu, e as missões tiveram voos em duplo comando (com instrutor ao lado do aluno), em voos solo e voos de conjunto. A aeronave que fez o ataque às “chamas” foi um turboélice Air Tractor AT-504, com capacidade para 1,8 mil litros de água, equipada com comporta Zanoni.

Está sendo planejado para 2021, entre os dias 24 a 28 de maio na cidade de Formosa/GO, a realização de uma nova edição do Curso Brasileiro de Capacitação de Pilotos Agrícolas para o Combate Aéreo a Incêndios em Campos e Florestas, juntamente com a realização da 1º Conferência Internacional de Profissionais no Combate a Incêndios em Campos e Florestas, onde serão convidados gestores dos diversos órgãos governamentais envolvidos na atividade de combate ao fogo, nas esferas federal, estaduais e municipais. .O diretor de operações da Fundação Astropontes, Edson Mitsuya, destacou a importância de capacitação para a atividade:

Entendemos que não é somente o treinamento para os pilotos que é necessário, mas também para o pessoal que gerencia o combate, como os coordenadores e a brigada de incêndio terrestre, os quais necessitam receber treinamento e capacitação para um trabalho integrado entre todas as equipes, para que o objetivo seja alcançado em menos tempo e com menos recursos. Também será uma oportunidade de os participantes da Conferência assistirem à capacitação dos pilotos agrícolas para o combate aéreo a incêndios e conhecer as aeronaves, os equipamentos utilizados e o potencial de ação dos aviões agrícolas nesta atividade” ➤

Primeiro Curso Brasileiro de Capacitação de Pilotos Agrícolas em Combate a Incêndios em Campos e Florestas, realizado em Olímpia (estado de SãoPaulo), contou com aulas teóricas e treinamento prático.

Serrana Aviação Agrícola prestou auxílio em operação de combate a incêndio no Paraguai, atuando com o exército local.

Comporta Zanoni em operação na Amazônia. Equipamento oferecido pela empresa paranaense tem se destacado como a principal solução tecnológicapara o combate a incêndios com aviões agrícolas na América do Sul

Além do trabalho de instrução dos pilotos brasileiros, a Pachu se destacou no trabalho de contenção de incêndios no Pantanal, cenário que ganhou evidência nas mídias nacionais e internacionais. Desde o mês de agosto, a empresa integra a força-tarefa na região. O piloto Fernando Petrelli, da Pachu, relata os principais desafios enfrentados pela atividade em 2020:

“No geral, com base na nossa experiência não apenas no Pantanal mas também em outros parques, eu acho que falta um pouco de estrutura de comunicação e logística e um monitoramento mais acelerado. Assim conseguiríamos pegar os focos mais no início. Quando os incêndios chegam num certo nível fica um pouco mais difícil de controlar. Nós temos trabalhado e acredito que o trabalho tenha sido muito efetivo, mas quando os incêndios tomam uma determinada proporção fica mais complicado.

A impressão que eu tenho é que a tendência é se utilizar cada vez mais o avião. O setor privado está começando a usar no Brasil, uma coisa que não acontecia antes. Se houvesse mais investimentos e recursos governamentais, certamente conseguiríamos uma logística melhor, mais aviões, teríamos um combate mais preventivo e assim seríamos mais efetivos. De qualquer forma, eu acredito que o setor precisa se profissionalizar um pouco mais, entrar mais em um padrão, para que todo mundo entenda e fale a mesma linguagem no combate aéreo a incêndios. Eu tenho visto que tem muita gente entrando na atividade sem um padrão, cada um está fazendo do jeito que dá. Eu acho que precisamos de um maior profissionalismo, uma linha para todo mundo seguir. Independentemente da empresa que for contratada, todo mundo faz a mesma qualidade de trabalho e garante a efetividade do avião agrícola no combate a incêndio, provando que ele funciona, e aí depois cada um pratique seu preço de acordo com o custo operacional”.

Pachu Aviação Agrícola promoveu treinamento de combate a incêndio para doze pilotos agrícolas dos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso,Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Pará, além de um piloto daBolívia, em sua base em Olímpia.

Relato dos operadores: Jorge Toledo (Imagem Aviação Agrícola)

A Imagem Aviação Agrícola atua no combate a incêndio desde 2005. A empresa, localizada em Monções (SP), começou a atividade trabalhando com o governo do estado de São Paulo, em algumas regiões distribuídas pelo Corpo de Bombeiros. Inicialmente instalaram uma comporta manual Zanoni e depois passaram a utilizar as comportas hidráulicas da mesma marca. Atualmente a empresa conta com quatro aeronaves Air Tractor 502 e um Air Tractor 402 destinados ao combate a incêndios. A equipe foi instruída junto ao Corpo de Bombeiros, pelo Tenente-Cel. Rodrigo Tadeu de Araújo, que oferece treinamentos constantes para pilotos e técnicos. Mais recentemente, grande parte dos serviços prestados pela empresa nessa área são contratados por grupos agrícolas e fazendeiros locais. O sócio-gerente da empresa e vice-presidente do SINDAG, Jorge Humberto Morato de Toledo, relata parte da experiência em 2020:

“Até o ano passado, nós tínhamos operado pelo governo, via Casa Militar e Governo do Estado. A partir do ano passado começamos a fazer contratos diretos com a iniciativa privada, com as Usinas que trabalhamos. Nesse ano tivemos muitos acionamentos. Aliás, os acionamentos foram somente pela iniciativa privada. Atuamos aqui na região para um grupo agrícola para o qual prestamos serviços, que possui unidades em Catanduva, Potirandaba, Sebastianópolis do Sul e Meridiano. Atuamos nessas quatro regiões. Atuamos também em São João da Boa Vista, na Serra da Mantiqueira, junto com outras empresas aeroagrícolas, também pela iniciativa privada, que reuniu empresários locais e bancou o combate a incêndio. Depois voltamos a ser chamados para a mesma região, em São Sebastião da Grama, por um fazendeiro particular, e então o fogo passou para o Pico do Gavião, entre Poços de Caldas e Águas da Prata (onde também atuamos por iniciativa de fazendeiros). Atuamos também em Magda, para um outro cliente nosso do setor agropecuário. Houve também um incêndio em uma reserva florestal ao lado de São José do Rio Preto [próximo à base da empresa]. O fogo foi crescendo e o pessoal demorou demais para acionar. O que precisaria mudar muito é isso: o horário do acionamento. O pessoal demora demais para acionar o avião. Quando chegamos lá o fogo já estava fora de controle. O incêndio foi tomando uma dimensão muito grande e foi chegando próximo aos condomínios. Chegou muito próximo a um condomínio de alto padrão, chamado Quinta do Golfe, conseguimos conter o fogo na divisa com o muro do condomínio, operando bem dentro da cidade”.

Toledo destacou que enxerga com otimismo o avanço da atividade no país, como uma grande oportunidade tanto para a aviação agrícola quanto para a preservação ambiental. A atividade, segundo ele, está ganhando visibilidade, cada vez um maior número de pessoas tem conhecimento do nosso trabalho, inclusive com discussões a nível federal para um plano nacional de combate a incêndios, com a inclusão do setor aeroagrícola. As aeronaves tem se mostrado uma ótima opção para esse trabalho: já que a temporada de incêndios é concomitante ao período em que não há tanta demanda por pulverização aérea, elas ficam disponíveis nessa época e não se onera os cofres públicos com os gastos para se manter uma frota parada. Por fim, ele destacou a necessidade de maior capacitação no país:

“O que falta hoje também é treinamento, principalmente para a equipe de solo. O pessoal acha que chamando o avião, este vai resolver o problema sozinho, o que não acontece. Precisamos de treinamento não apenas para os pilotos, mas também para o pessoal que auxilia no combate, o pessoal da coordenação, a brigada de incêndio terrestre também é importantíssima. Sem capacitação corremos o risco de uma baixa efetividade na atividade e de criarmos a impressão de que os aviões não funcionam no combate a incêndios”.

Treinamento contou com a participação de Edson Mitsuya (Fundação Astropontes), Mônica Maria Sarmento e Souza (Ministério da Agricultura) eMarcelo “China” Amaral (SINDAG/Pachu Aviação Agrícola).

Operação de combate a incêndios no Pantanal, local mais atingido pela estiagem de 2020. (Foto enviada pelo piloto Gustavo Borges).

Relato dos operadores: Luiz Henrique Donatti Teixeira

Luiz Henrique, que atualmente opera uma aeronave Air Tractor AT 502, fez parte do quadro de pilotos de combate a incêndio de uma empresa de destaque na atividade no oeste baiano (com base em Luís Eduardo Magalhães). O piloto relatou parte da experiência, destacando também a importância da coordenação com outras equipes:

“É uma honra saber que nós da aviação agrícola possamos ajudar nosso país, principalmente nesses momentos difíceis das temporadas de incêndios. Em 2015 combatemos na Chapada Diamantina junto com bombeiros e brigadistas, que fazem um incrível trabalho de solo. Lá foi montada uma verdadeira operação de guerra, com aviões da FAB, ajuda do exército e helicópteros, que exercem uma função primordial levando os combatentes em locais de difícil acesso por terra. Outra experiência incrível foi no estado de Minas Gerais em 2019, em meio aos altos morros da região. A operação foi mais complexa, porque em alguns casos a equipe terrestre não conseguiu chegar aos focos de incêndio devido à dificuldade de acesso, então o avião teve de operar sozinho no combate, mas mesmo assim foi muito eficiente”.

Relato dos desenvolvedores: Sérgio Zanoni (Zanoni Equipamentos)

O ano foi bastante movimentado para a Zanoni Equipamentos na área de combate a incêndios. A empresa equipou mais de 30 aeronaves em 2020, ultrapassando a marca de cem comportas instaladas em toda a América do Sul. Além da expansão da capacidade produtiva para atender à essa nova demanda da frota brasileira, a Zanoni deu início a novos projetos nessa linha de equipamentos. Novos modelos de comportas foram fabricadas e estão em testes, bem como novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para aprimorar as comportas Zanoni que já estão em operação. Sérgio Zanoni, presidente e fundador da empresa, destaca a importância da pesquisa e desenvolvimento na área:

“Temos uma satisfação enorme de estar contribuindo com a evolução do combate a incêndios no Brasil. Trouxemos uma tecnologia estrangeira para o país há alguns anos e estamos aperfeiçoando-a constantemente, para atender as necessidades específicas da frota brasileira. Nossa filosofia sempre foi entender o que os pilotos precisam e atendê-los. Foi assim com a comporta manual e também tem sido assim com a comporta hidráulica. Esse equipamento é ideal para o combate a incêndio em campos, já que para sua instalação não é necessário fazer nenhuma alteração no sistema de pulverização da aeronave. Dessa forma, o mesmo avião que está realizando o trabalho na lavoura pode socorrer no combate ao fogo, já que no Brasil a frota exclusivamente dedicada ao combate a incêndios ainda é muito restrita. Além disso, essa comporta será ideal para o uso de retardantes, pois o piloto poderá controlar a quantidade de líquido despejada sobre o alvo. Tanto o sistema hidráulico quanto a regulagem de abertura surgiram de pedidos de nossos parceiros, bem como as inovações que estão em desenvolvimento atualmente. Daí a importância de mantermos sempre um contato direto entre os fabricantes nacionais e os pilotos brasileiros”.

Olhando para o futuro: projeto de lei inclui aviação agrícola no combate a incêndios

Agora no mês de setembro, o senador Carlos Fávaro apresentou o Projeto de Lei 4629/2020 para incluir o uso da aviação agrícola nas diretrizes e políticas governamentais de combate a incêndios florestais. A proposta, que altera o Código Florestal e a legislação que regulamenta o emprego da aviação agrícola, pretende incluir a aviação agrícola nos planos de contingência para o combate aos incêndios florestais e também na Política Nacional de Manejo e Controle de Queimadas, Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais. O projeto determina que os planos de contingência para o combate aos incêndios florestais dos órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) conterão diretrizes para o uso da aviação agrícola no combate a incêndios, podendo significar um avanço na profissionalização e direcionamento de mais recursos para a atividade. A exposição de motivos do PL destaca a viabilidade oferecida pelo setor aeroagrícola:

“A temporada das secas e dos incêndios coincide com a entressafra agrícola na maior parte do território nacional, período no qual nossa frota aeroagrícola, que é a segunda maior do planeta, com 2,3 mil aeronaves, está ociosa. Esses aviões, que na safra são utilizados para a pulverização de agrotóxicos e para a aplicação de fertilizantes, são extremamente eficazes no combate aos incêndios florestais, possibilitando o lançamento de água e de retardantes de fogo com agilidade, precisão e segurança, a um custo módico quando se compara a contratação temporária da frota aeroagrícola com a aquisição de aeronaves pelo poder público. Com o uso da aviação agrícola, em vez de comprar aviões, contratar pilotos e arcar com todo o custo de instalações, manutenção, treinamento e pessoal (estrutura que ficaria ociosa por oito meses), o poder público terceirizaria plantões e horas voadas somente nos meses de incêndios. Isso seria implantado como parte de um sistema, que atuaria com equipes de brigadistas em solo e também com estrutura de detecção rápida dos focos de incêndio, capaz de gerar um salto enorme de qualidade e de efetividade nas ações de combate aos incêndios no Brasil”. O Projeto de Lei foi aprovado pelo Senado e agora segue para apreciação da Câmara dos Deputados.

Em meio a tantas discussões sobre a relação do agronegócio brasileiro com o meio ambiente que tivemos durante o ano de 2020 (como têm acontecido em todos os anos durante o período de seca), o uso da aviação agrícola no combate a incêndios vai deixando de ser apenas uma oportunidade para se tornar uma realidade. Ainda há um longo caminho que exige muito trabalho, investimentos, treinamentos e maior coordenação. De qualquer forma, o setor aeroagrícola já se coloca como uma ferramenta estratégica para a preservação do patrimônio natural do Brasil, contribuindo para uma o país ter uma das produções agrícolas mais sustentáveis do mundo.

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