Artigo Cientifico

ESTRUTURAS EMERGENCIAIS E A DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL

FLOR, Anny; Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, anny.flor.980@gmail.com1

Resumo: Este artigo apresenta um contexto de precariedade urbana, desigualdade social e arquitetura brasileira, nos quais as ocupações periféricas foram comumente erguidas em áreas de fragilidade. Evidenciando os discursos e matérias sobre a preocupação com a população carente, sinalizamos uma segregação do espaço público desde o período da urbanização brasileira no século XX, no qual a cidade e o uso da terra eram interesses priorizados a classes mais altas, e as mais baixas eram esquecidas, aspecto que vemos até hoje.

Palavras-chave: Desigualdade Social; Infraestrutura; Problemáticas; Políticas.

Abstract: This article presents a context of urban precarity, social inequality, and Brazilian architecture, in which peripheral occupations were commonly erected in vulnerable areas. By highlighting the discourses and materials regarding concern for the underprivileged population, we signal a segregation of public space since the period of Brazilian urbanization in the 20th century, in which the city and land use were prioritized interests for higher social classes, while lower classes were neglected, an aspect that we still see today.

Keywords: Social Inequality; Infrastructure; Problematic; Policies.

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Estudante do 7º semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, estagiando do Fundação Vanzolini – AQUA.

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Introdução:

A desigualdade social no Brasil é uma problemática que se faz cada vez mais presente, basta andar nas ruas para perceber nitidamente o quanto esse fator ainda existe no cotidiano do nosso país em pleno século XXI. Percebemos que há um desequilíbrio social relacionado a má distribuição de renda, alto índice de desemprego, residências sem infraestrutura, falta de oportunidade na inserção da economia de forma justa, e falta de uma política pública para resolver todos os aspectos. Para que uma sociedade possa se desenvolver de forma justa, igualitária, econômica e socialmente ideal é necessário por parte do governo os seus direitos básicos e que sejam cumpridos de forma eficaz.

No entanto, no Brasil há́​́​́​́ uma carência em saúde, segurança, residências, educação e bem-estar social tornando-o incapaz de estabelecer tal equilíbrio entre as diversas camadas sociais: baixa, média e alta. A má distribuição de renda acentua a desigualdade social. De acordo com o IBGE, 10% da população brasileira concentrava 43,3% da renda do país em 2017. Esta acumulação meritocrática só atinge uma minoria da população e acontece de forma viciosa e restrita, pois há uma acumulação de herança que passa de geração, enquanto a maioria depende dos serviços do governo para se inserir na economia, não alcançando êxito.

Neste contexto, torna-se explícito que políticas públicas devem ser feitas para que haja oportunidades iguais para todos. Logo, o Governo Federal deve aumentar os recursos direcionados a melhorias do bem-estar da sociedade com construções regulares, programas sociais e educação pública, construindo novas instituições de ensino (regular, técnico e superior). Infelizmente a desigualdade social não acabará de forma fugaz, é um processo moroso iniciado por meio da educação, ajuda, programas sociais e direitos igualitários.

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Evolução Habitacional no Brasil:

Décadas de 1930 a 1950: Durante o período conhecido como Estado Novo, sob o governo de Getúlio Vargas, foram integradas como primeiras ações de política habitacional no país, com destaque para a criação da Caixa Econômica Federal (CEF) em 1934, que iniciou a financiar a construção de moradias populares.

Décadas de 1960 e 1970: Nesse período, houve um crescimento acelerado das cidades brasileiras e um aumento significativo do déficit habitacional. O governo federal implementou programas de construção massiva de habitações, como o Banco Nacional da Habitação (BNH), criado em 1964, que financiou a construção de conjuntos habitacionais em todo o país.

Décadas de 1980 e 1990: Com o fim do regime militar, ocorreram mudanças na política habitacional. O BNH foi extinto em 1986 devido a problemas financeiros, e a política habitacional passou a ser descentralizada, com maior participação dos governos estadual e municipal. Houve um foco maior na regularização fundiária e na melhoria das condições das favelas e assentamentos informais.

Década de 2000: O governo federal implementou o programa Minha Casa Minha Vida em 2009, com o objetivo de reduzir o déficit habitacional e promover o acesso à moradia para famílias de baixa renda. O programa oferece títulos e financiamentos facilitados para a aquisição de imóveis.

Década de 2010 em diante: Além do Minha Casa Minha Vida, foram criados outros programas e iniciativas para enfrentar desafios específicos, como o programa de Urbanização de Assentamentos Precários, voltado para a melhoria de favelas e assentamentos precários. Houve também um esforço para promover a sustentabilidade e a inclusão social nas políticas habitacionais. É importante ressaltar que o déficit habitacional ainda é um desafio no Brasil, e a política habitacional continua a evoluir para atender às demandas e necessidades da população.

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Ocupações Periféricas:

O Brasil se destacou como o país onde o processo de urbanização do território foi o mais veloz durante a segunda metade do século XX. Esse processo conheceu seu momento decisivo na década de 1970, quando a população urbana começou a superar a rural (56% contra 44 %), em função das fortes migrações na direção dos principais centros urbanos. Toda essa mudança trouxe novas dimensões para questão da habitação nas cidades, especialmente para as grandes cidades que se tornavam maiores com a concentração de empresas privadas e estatais.

Com a população nas áreas urbanas e o desemprego, o número de moradores de ruas e de famílias morando em situações precárias cresce, com isso muitos tiveram que criar suas residências com seus próprios recursos, diante da insuficiência das políticas estatais de habitação e do desinteresse do mercado formal, face às demandas das “populações de baixa renda”. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Déficit Habitacional em 2014 chegava a mais de 6 milhões de moradias. Salienta-se que nessa estatística estão incluídos os domicílios precários e o excedente de aluguel (porcentagem salarial do indivíduo comprometida com os altos valores de aluguéis) Por outro lado, os investimentos em infraestrutura e serviços urbanos empreendidos pelo Estado, foram amplos em espaços de interesse de empresas, imobiliários e bancários, beneficiando diretamente as classes de maior renda. O capital imobiliário e bancário teve, portanto, um papel decisivo na conformação das nossas cidades, pois foram os seus interesses que conduziram a estruturação urbana e a distribuição residencial das classes sociais. A atuação concentradora e especulativa do capital imobiliário, retendo áreas centrais urbanizadas e terras urbanizáveis à espera de valorização, implicou aos trabalhadores pobres a ocupação de sítios geomorfológicos, com riscos consideráveis (encostas íngremes, margens de rios, planícies inundáveis), de lotes e áreas urbanas destituídas de serviços básicos, e, no limite extremo, na periferia urbano-rural, sem qualquer infraestrutura básica, inclusive as de saneamento.

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As comunidades se fazem presentes como um fenômeno da urbanização do território brasileiro, inclusive marcando sua presença em diversas cidades médias, com um crescimento mais expressivo do que o observado em capitais, em especial as da Região Sudeste do país. Ou seja, o que queremos afirmar é que as favelas se fazem presentes tanto em processos de urbanização concentrada, como nos que são considerados como expressões da urbanização difusa. As favelas são complexas e muito diferentes entre si.

Para além das particularidades de sua morfologia e localização, há também uma composição diferenciada de formas de trabalho, níveis de renda, de inserção ao consumo de bens e de acesso aos serviços públicos urbanos. Os moradores das favelas possuem históricos complexos e relevantes atos de resistência contra desapropriações e remoções, conjugam estratégias diversas para conquistas de equipamentos e serviços urbanos (mesmo que precários e insuficientes) e inventam formas particulares de proteção e solidariedade.

Cerca de 30% da população localiza-se em áreas não pertencentes “A Cidade Formal “, tais ocupações podem ser exemplificadas pelo uso de loteamentos irregulares, cortiços, moradias precárias e favelas. Esse cenário de desigualdade e segregação social no espaço urbano começou a muito tempo atrás e fazem parte da nossa paisagem. Com todo esse processo de urbanização houve intenso crescimento demográfico, fixação de residências através de ocupações insustentáveis, ademais, realizando a ocupação do solo urbano de maneira totalmente desordenada.

Normalmente ocorrem nas periferias das cidades, onde os imóveis são avaliados a preços mais baixos e mais acessíveis à população de baixa renda.

Esse aspecto, juntamente com a falta de planejamento urbano, acaba gerando profundas desigualdades na cidade, que por vez, implica na escassez dos serviços públicos, que quase sempre acabam sendo investidos nos centros urbanos. Com isso a realidade dos cortiços também é bastante complexa não apenas por causa do conjunto de situações precárias vividas por seus moradores basicamente, espaços reduzidos e falta de qualidade de vida, mas também pelas condições exploratórias dos valores dos aluguéis no acesso a essas moradias.

O objetivo da regularização fundiária é transformar as áreas irregulares em áreas legítimas, tanto com relação ao domínio e a posse quanto em relação ao cumprimento da função social da propriedade. Entretanto, o impasse está na 5

questão de legitimar a posse aos habitantes pois, frequentemente, a regularização fundiária fica limitada somente a realizar a transferência da propriedade privada, sem levar em consideração as questões de urbanização.

Neste contexto, destaca-se que a regularização fundiária urbana pode ocorrer de várias formas, dependendo da maneira que se deu a ocupação do espaço urbano. Assim, imprescindível identificar e esclarecer as principais formas de irregularidades fundiárias em loteamentos, tendo em vista que frequentemente há confusão nos conceitos jurídicos e urbanísticos com relação à loteamentos clandestinos e loteamentos irregulares.

Quando já se trata das comunidades, a habitação não se resume aos padrões hegemônicos de uso exclusivamente residencial. A casa na favela tem outro sentido. Isto porque a habitação, no cotidiano dos espaços populares, tem funções muito mais amplas do que uma simples residência. Embora as comunidades não sejam homogêneas, é inegável que há em muitas delas comunidades que experimentam condições precárias de existência urbana, sobretudo em termos da presença de serviços básicos de saneamento que mais afeta a condição das pessoas. Quanto a esse aspecto, apesar de ser um direito, informações trazidas pelo Instituto Trata Brasil, apontam que apenas 50,3% da população brasileira possui integral acesso à coleta devida do esgoto e a função da qualidade da edificação construída ou da localização de suas moradas em termos de sensibilidade ambiental aos desmoronamentos e às enchentes.

Acrescenta-se à situação de vulnerabilidade territorial, o domínio coercitivo e violento (e os recorrentes conflitos daí advindos) de grupos criminosos armados (narcotraficantes e milícias) em diversas comunidades. É desse modo que os moradores dos espaços populares enfrentam o desemprego, os baixos salários, a discriminação racial e inventam um mercado socialmente necessário de trabalho, de bens e de consumo. De fato, rompendo com a lógica da habitação em núcleos familiares reduzidos, um imóvel na favela pode reunir diferentes domicílios, com diferentes tipos de arranjos familiares.

Nesse quadro, por exemplo, a possibilidade de possuir uma laje abre grandes possibilidades em termos de herança familiar, reserva de valor econômico e espaço lazer, de congraçamento de grupos diversos. Todavia, são justamente esses territórios os mais vulneráveis diante das limitações e incompletudes das políticas sociais governamentais, da notória concentração de renda e 6

propriedade urbanas, dos interesses exclusivistas do mercado e da criminalidade violenta. Contraditoriamente, as favelas são expressões da afirmação cotidiana do viver e do inventar a cidade, como obra humana compartilhada. As diferentes comunidades urbanas, que se fazem como favelas em seu processo legítimo de habitar a cidade, possuem diferentes marcações simbólicas e movimentos de pertencimento ao território usado, protagonizando modos particulares de permanência de grupos populares no espaço urbano.

O território não é apenas um lugar físico que se habita. É uma experiência de comunicação entre sujeitos sociais. E, em se tratando de espaços populares, por mais precária que se nos apresente a sua forma-aparência, não podemos desconsiderar as vivências compartilhadas pelo grupo social, que os animam com suas histórias e, por meio destas, possibilitam que os indivíduos e grupos sociais se posicionem no mundo. Emergem desse movimento homens e mulheres que superam os estigmas sociais e raciais que lhes são impostos.

Pessoas que não necessitam somente, mas que sonham, desejam e exigem direitos. Logo, cabe aos profissionais que atuam nos territórios favelados, em particular considerando os objetivos do presente artigo, os arquitetos e urbanistas, abrir-se para um olhar plural sobre as favelas e seus moradores. E, nesse processo, buscar apreender suas práticas, suas criações, inventividades e processos constitutivos de forma respeitosa e aberta. Cabe ir além dos juízos tradicionais e buscar contribuir para que essa rica construção socio territorial seja preservada e, ao mesmo tempo, garantir condições efetivas para a melhoria permanente da qualidade de vida desses cidadãos. O desafio é abrangente, profundo e acima de tudo necessário.

ATHIS:

O Brasil se destacou como o país onde o processo de urbanização do território foi o mais veloz durante a segunda metade do século XX. Esse processo conheceu seu momento decisivo na década de 1970, quando a população urbana começou a superar a rural (56% contra 44 %), em função das fortes migrações na direção dos principais centros urbanos. Toda essa mudança trouxe novas dimensões para questão da habitação nas cidades, especialmente

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para as grandes cidades que se tornavam maiores com a concentração de empresas privadas e estatais.

Com a população nas áreas urbanas e o desemprego, o número de moradores de ruas e de famílias morando em situações precárias cresce, com isso muitos tiveram que criar suas residências com seus próprios recursos, diante da insuficiência das políticas estatais de habitação e do desinteresse do mercado formal, face às demandas das “populações de baixa renda”. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Déficit Habitacional em 2014 chegava a mais de 6 milhões de moradias. Salienta-se que nessa estatística estão incluídos os domicílios precários e o excedente de aluguel (porcentagem salarial do indivíduo comprometida com os altos valores de aluguéis) Por outro lado, os investimentos em infraestrutura e serviços urbanos empreendidos pelo Estado, foram amplos em espaços de interesse de empresas, imobiliários e bancários, beneficiando diretamente as classes de maior renda. O capital imobiliário e bancário teve, portanto, um papel decisivo na conformação das nossas cidades, pois foram os seus interesses que conduziram a estruturação urbana e a distribuição residencial das classes sociais. A atuação concentradora e especulativa do capital imobiliário, retendo áreas centrais urbanizadas e terras urbanizáveis à espera de valorização, implicou aos trabalhadores pobres a ocupação de sítios geomorfológicos, com riscos consideráveis (encostas íngremes, margens de rios, planícies inundáveis), de lotes e áreas urbanas destituídas de serviços básicos, e, no limite extremo, na periferia urbano-rural, sem qualquer infraestrutura básica, inclusive as de saneamento. A Lei de Assistência Técnica para a Habitação de Interesse Social (ATHIS) é uma legislação brasileira que estabelece diretrizes para a prestação de serviços de assistência técnica gratuita às famílias de baixa renda que residem em habitações precárias. Essa lei busca garantir o direito à moradia adequada e a melhoria das condições de vida dessas famílias.

Os programas habitacionais são iniciativas do governo, tanto no âmbito federal como estadual ou municipal, que têm o objetivo de promover o acesso à moradia digna para a população de baixa renda. Esses programas geralmente envolvem a construção ou aquisição de unidades habitacionais e a concessão de créditos ou financiamentos para viabilizar o acesso dessas famílias à moradia.

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A relação entre os programas habitacionais e a Lei de ATHIS é que a assistência técnica gratuita fornecida por profissionais protegidos é um componente essencial para garantir que as habitações construídas ou reformadas atendam aos requisitos de segurança, conforto e qualidade de vida.

A ATHIS prevê que as famílias beneficiadas por programas habitacionais tenham direito a receber assistência técnica para orientar a construção, a reforma ou a regularização de suas moradias.

A partir da promulgação da Lei de ATHIS, os programas habitacionais devem incluir em seus projetos a previsão de assistência técnica gratuita, fornecendo orientações quanto às questões técnicas, legais e sociais envolvidas na melhoria habitacional. Essa assistência pode abranger desde o projeto projetado adequado às necessidades da família, passando pela orientação na compra de materiais e treinamento de mão de obra, até o acompanhamento da obra e orientação para regularização fundiária.

Dessa forma, a nova Lei de Assistência Técnica para a Habitação de Interesse Social uma conexão importante estabelece com os programas habitacionais, garantindo que as famílias de baixa renda sejam assistidas por profissionais capacitados durante todo o processo de melhoria habitacional, garantido para a construção de moradias mais ajustado e com melhores condições de vida.

Arquitetura e a Desigualdade:

Por volta dos anos 80, surgiram programas do governo para intervir nas localidades precárias, porém em questões isoladas, como é o caso da instalação de redes de saneamento básico. Contudo, o que se discute é que, além de moradia e serviços básicos de infraestrutura, é possível promover qualidade de vida e inclusão social às comunidades periféricas. O caminho é a criação de espaços e equipamentos públicos de qualidade, mantendo, sempre que possível, a comunidade em seu lugar de origem. Sem moradia digna, o que resta para uma grande parte da população é se migrar para periferias assim tendo uma alta densidade geográfica no local, com espaços escassos e com estruturas prejudicadas. Geralmente ocupados em áreas de riscos, beira de córregos, e terrenos públicos e até invasão de terrenos de propriedade particular. Há uma 9

série de problemas sociais que abalam a vida dessas pessoas diariamente, como a violência urbana, saneamento básico, despache e o medo de desabamento a qualquer momento. Segundo a Pesquisa Desigualdade Social de 2018 apenas 1% da população brasileira é do alto padrão, ao analisarmos as cidades grandes brasileiras podemos facilmente perceber a desigualdade entre elas. Um exemplo para se usar é no bairro do Morumbi na zona sul de São Paulo, no qual de um lado encontra-se diversos prédios e mansões luxuosos e ao lado tem a comunidade de Paraisópolis, cuja desigualdade é imensa nessa região, cerca de 49% dos domicílios são considerados irregulares ou não tem posse ou escritura.

Figura 1: Divisa entre o bairro Morumbi e a periferia Paraisópolis.

Fonte: BBC News Brasil, 2019

O Programa de Urbanização de Favelas é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Habitação e tem como foco a urbanização e a regularização fundiária

de

áreas degradadas,

ocupadas desordenadamente

e

sem

infraestrutura. A urbanização é indispensável para a regularização fundiária dessas áreas que, por sua vez, é fundamental para promover a inserção dessa população no contexto legal da cidade. Este é o maior Programa de

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Regularização Urbanística e Fundiária do país e abrange ainda loteamentos irregulares e precários. Os objetivos são transformar favelas e loteamentos irregulares em bairros, garantindo a seus moradores o acesso à cidade formal, com ruas asfaltadas, saneamento básico, iluminação e serviços públicos. Apesar de ser um programa bom, atendia a pequena parte da população, evidenciando o número de habitações encontradas em situações perigosas em São Paulo.

A grande dificuldade das cidades brasileiras é oferecer essas habitações, porque de 11 milhões de habitantes, 30% da população vive em situação precariedade urbana. No ano de 2009 o Governo Federal junto a parcerias ofereceu o programa “minha casa minha vida”, constituído por condições de financiamento de moradias para as famílias de baixa renda.

Analisando o programa podemos destacar alguns pontos positivos e negativos, quanto ao primeiro referimo-nos ao tamanho e velocidade do programa, 4,2 milhões de unidades habitacionais construídas em apenas 7 anos e 2,7 milhões de moradias, a redução do déficit habitacional que caiu 2,5% em 4 anos e o subsídio do governo são aspectos positivos desse processo. Por outro lado, a localização dos terrenos, situadas em território barato, periférico, com má acessibilidade e distante dos serviços essenciais como saúde, transporte e educação, ocasionam maiores gastos e tempo para o deslocamento. Com as construções padronizadas, o conceito de segregação social é ainda mais visível, o lucro é da construtora e a dificuldade fica para as famílias maiores que não cabem no padrão de 2 quartos para uma unidade, as áreas públicas concebidas ao resto do terreno não são valorizadas, poderiam ser utilizadas para comercio e serviços, já que não são existentes, ou ainda promover a socialização e integração da população também não existente. A dificuldade para sustentar surge como problema também aos moradores, o financiamento e posse da moradia não são suficientes para estabilizar a situação financeira, a má organização do cadastro dos beneficiários prejudica o trabalho social e facilitam a ação de tráfico e milícia.

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O Programa de Urbanização das Favelas promoveu a favela de Paraisópolis, obras de drenagem e de saneamento básico, remoção dos moradores em áreas de alto risco e projetou a construção de um trecho da Via Perimetral, de um Centro de Educação Infantil (CEI), uma Unidade Básica de Saúde (UBS), uma unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA), um Centro Psicossocial (CAPS) e um Centro de Referência e Atendimento Social (CRAS). O Governo do Estado inclui ainda uma Escola Técnica Estadual (ETEC) e a Prefeitura construiu no local um Centro Educacional Unificado (CEU). Em 2009 o escritório Elito Arquitetos Associados Ltda., construiu o Conjunto Habitacional Paraisópolis, no qual nota-se que as diferenças espaciais e arquitetônicas entre os novos conjuntos e o restante da favela são visíveis numa nítida segregação (fig.2). Constituído por sete condomínios, denominados pelas letras: A, B, C, D, E, F e G (fig. 4) são formados por blocos lineares compostos de módulos conectados por meio de passarelas. Todos os blocos possuem quatro pavimentos acima do térreo (fig.3) e até quatro pavimentos abaixo do térreo dependendo da declividade do terreno. No pavimento térreo encontra-se a circulação de uso coletivo e o acesso aos blocos de escadas e equipamentos de educação e lazer, centros comunitários. Os condomínios E e G receberam o Selo Casa Azul da CAIXA, certificação brasileira de classificação socioambiental de projetos de empreendimentos habitacionais e considera que ao se projetar uma habitação, é necessário aproveitar ao máximo as condições bioclimáticas e geográficas locais, estimular o uso de construções de baixo impacto ambiental, garantir a existência de áreas permeáveis e arborizadas, adotar técnicas e sistemas que propiciem o uso eficiente de água e energia, bem como realizar a adequada gestão de resíduos, originando assim um ambiente interior e exterior saudáveis, possuem cento e setenta e uma unidades habitacionais, sendo quatro destas adaptadas para pessoas com necessidades especiais.

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Figura 2: Programa de Habitacional Paraisópolis.

Fonte: Elito Arquitetos, 2022

Figura 3: Programa de Habitacional Paraisópolis.

Fonte: Elito Arquitetos, 2022

Figura 4: Programa de Habitacional Paraisópolis.

Fonte: Elito Arquitetos, 2022

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Considerações Finais Com isso, ao longo trajeto em que a habitação se adapta aos usos e necessidades modernas, se moderniza, a negação de estender seus benefícios a toda população se repete. A possibilidade de prover habitação para os necessitados serviu muitas vezes para viabilizar a produção/difusão dos novos tipos, que, uma vez estabelecidos, ratificam a exclusão. A modernização urbana significou a exclusão de grande parcela da população dos novos espaços e meios de consumo coletivos. A modernização da moradia significou a exclusão de amplos segmentos populares dos progressivos melhoramentos incorporados às formas de habitação produzida no sistema de mercado. Tanto na construção da cidade quanto na construção da moradia os melhoramentos, o saneamento e a ordenação dos espaços privaram as camadas de menores rendas destes progressos. As condições de habitação popular estabelecidas a partir da modernização expuseram claramente na paisagem a desigualdade social que antes se entremeava no tecido urbano. Deixando ainda mais claro a resistência contra as forças que afastavam a população das suas condições de trabalho e dos seus círculos de vizinhança, as favelas inscreveram no espaço não somente a afirmação da necessidade imperativa da proximidade entre a moradia e o trabalho, mas também a resistência da população às transformações da modernização.

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Referências:

ATHIS – ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL CAU/SP. Disponível em: <https://causp.gov.br/athis/>. Acesso em: 18 maio.

2023.

Brasil tem 48% da população sem coleta de esgoto, diz Instituto Trata Brasil. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/09/25/brasil-tem-48da-populacao-sem-coleta-de-esgoto-diz-instituto-tratabrasil?fbclid=IwAR2wz6vFVMTYU48IGHUddfcZoH3u9e9KqDztpSLetvym0UOv _dnchy-zQls>. Acesso em: 18 maio. 2023.

Como funciona o programa Minha Casa Minha Vida? Disponível em: <https://editalconcursosbrasil.com.br/blog/economia_programa-minhacasa-minha-vida/>. Acesso em: 18 maio. 2023.

DOMINGOS, J. Nexo Jornal. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/08/01/Qual-arela%C3%A7%C3%A3o-entre-arquitetura-desigualdade-e-trabalhodom%C3%A9stico-no-Brasil>. Acesso em: 18 maio. 2023.

Minha Casa, Minha Vida deu certo? Veja pontos positivos e negativos.

Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimasnoticias/2016/06/19/minha-casa-minha-vida-deu-certo-veja-pontospositivos-e-negativos.htm>.

PEDRO, S. A tragédia de Paraisópolis e a desigualdade social em São Paulo Simão Pedro. Disponível em: <https://www.brasil247.com/blog/a-tragediade-paraisopolis-e-a-desigualdade-social-em-sao-paulo>. Acesso em: 18 maio.

2023.

Saneamento básico no Brasil: por que não se investe mais? | Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/saneamento-basicono-brasil/>. Acesso em: 18 maio. 2023.

ZECHIN, P.; HOLANDA, F. A dimensão espacial da desigualdade socioeconômica. GOT - Journal of Geography and Spatial Planning, v. 13, p.

459–485, 30 jun. 2018.

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