revista 29HORAS - ed. 64 - fevereiro 2015

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ENTREVISTA

“OS QUE MAIS PRECISAM DE EDUCAÇÃO SÃO OS PAIS” EM SEU NOVO LIVRO, EDUCAÇÃO FAMILIAR – PRESENTE E FUTURO, IÇAMI TIBA DEFENDE A SUSTENTABILIDADE NA EDUCAÇÃO POR CHANTAL BRISSAC FOTOS ÉRICO HILLER

ELE É AUTOR DE 31 LIVROS – ENTRE ELES O BEST-SELLER QUEM AMA, EDUCA!, que passou de 170 edições – e já realizou mais de 80 mil atendimentos psicoterápicos a adolescentes e suas famílias. Nascido há 73 anos em Tapiraí, no interior de São Paulo, filho de imigrantes japoneses, o psiquiatra Içami Tiba não baixa a guarda quando o assunto é família. “Nada é mais sustentável que a educação de valores”, afirma. Confira os principais trechos da conversa com o médico e palestrante, que aconteceu em seu consultório, em São Paulo. O que é a educação sustentável, tema de seu novo livro? É ensinar os filhos a aprender, cobrar responsabilidade e ações coerentes. Os pais devem ajudar os filhos a desenvolver o seu potencial na mais alta performance possível. Pais que não cobram estão no mesmo nível de pais que não ensinam. Mas muitos estão perdidos porque querem se safar na hora do problema, são imediatistas. Se o filho faz uma coisa errada, ele já diz: “você é burro, não sabe!” Eles estão muito impacientes porque também são crianças, foram promovidos a educadores sem um mínimo de condições. Eles queriam namorar mais tempo, curtir a vida, não querem investir tempo na educação dos filhos. Um exemplo que o senhor cita é o dos pais que dão aos filhos tudo o que não tiveram, tentando poupar-lhes angústias e sofrimentos. E isso é um desastre, porque o filho se torna um incapaz, não aprende a fazer. Os pais não devem fazer pelo filho, e sim ajudar o filho a fazer. Não há felicidade pronta, algo que possa ser herdado, doado ou transmitido. A felicidade é conquista pessoal. Aliás, o conceito de felicidade vem do hinduísmo e significa fertilidade, esforço, trabalho, criação. Há muito, muito tempo, Buda já falava nisso.

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Há algum ponto em comum nos pais de hoje? São pais que não receberam educação, receberam muito mais a realização dos sonhos dos pais deles, que não queriam que seus filhos sofressem. Cresceram na zona de conforto, e na zona de conforto não se educa. São infantis. Há pais jovens que se sentem enciumados quando a esposa se dedica muito ao nenê. Eu falo que ele entrou como filho temporão, porque compete com o filho. É uma geração infantilizada, que não queria casar. Mas se hoje não há mais pressão para casar e ter filhos, como acontecia antes, por que ter filhos sem vocação? Justamente porque a sociedade é mais aberta, hoje pode tudo, não se aguenta nada. É aquela história: “se não der certo, eu caio fora”. A paciência é fundamental? É ingrediente básico. Você vê uma mãe descontrolada, irritada, ela começa a falar mais alto e rápido, e as palavras lembram mais as balas de uma metralhadora do que comunicação. Se a mãe quiser ser ouvida, que fale baixo, com calma e pouco. Evite repetir o que já falou, porque esse repeteco desliga o cérebro de quem mais precisa ouvir. Filhos que gritam, em casa ou em lugares públicos, geralmente convivem com quem grita com eles. Quais são os valores mais importantes da educação sustentável? São meritocracia, relação custo-benefício, aprender a aprender, ética, religiosidade, cidadania, gratidão, pragmatismo, disciplina e responsabilidade. No primeiro valor, a meritocracia, é muito comum ver pais que, no aniversário de um filho, também compram presente para o outro, porque ficam


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