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O céu do sul na vinícola Bouchon, no vale do Maule

RAÍZES DE CHILE

RAÍZES DE CHILE

Acompanhando a tendência mundial, o Chile se volta para dentro, em busca de suas origens profundas e de uma identidade que reflita todo seu caráter e natureza

Acompanhando a tendência mundial, o Chile se volta para dentro, em busca de suas origens profundas e de uma identidade que reflita todo seu caráter e natureza

Ogrande exportador mundial do Novo Mundo, o Chile, volta os olhos para si mesmo em busca de uma identidade até então relegada a segundo plano pelos negócios milionários.

Quando se fala em Chile, logo se pensa em vinhos de qualidade, de cepas valorizadas, de grande aceitação internacional e de volumes realmente impressionantes, que colocaram o país na quarta posição dentre os maiores exportadores mundiais.

Uma evolução surpreendente quando se lembra que toda essa poderosa atividade econômica teve

início a cerca de 500 anos, com a introdução da cepa Pais (ou Missión/Missão) pelos jesuítas ibéricos em seu trabalho de catequese dos habitantes do Novo Mundo.

Mas esse passado distante está agora sendo revivido por uma crescente corrente da vitivinicultura chilena, em busca de uma identidade regional um tanto quanto ofuscada pela globalização dos negócios.

A tendência do “territorialismo” tem no Maule, região onde foram implantados os primeiros vinhedos do Chile, os seus defensores mais entusiasmados.

Esse é o caso do enólogo Andrés Sanchez da Gillmore Wines & Vineyards, vinícola de porte médio, localizada no Vale de Loncomilla. Andrés é casado com Daniela, filha de Francisco, fundador da vinícola. Constantemente ocupado com os coelhos que viraram praga na região e adoraram comer as vinhas mais tenras (e quando faltam folhas, fazem buracos para devorar até as raízes), o enólogo produz o imponente Cobre Gran Reserva (corte elegante com produção limitada a 2.500 garrafas por ano), um competente rosé, e bons varietais sob a

POR ZÉ LUIZ TAVARES
ENOLOGIA CHILE
POR ZÉ LUIZ TAVARES

marca Hacedor de Mundos (Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc), este último premiado no recente Concours Mondial Bruxelles - Chile 2015 com uma merecida medalha de ouro.

MAR C A V I GNO

Além de produzir seus vinhos, Andrés é um dos fundadores –ao lado do enófilo, jornalista e jurado chileno Eduardo Brethauer– de um interessante movimento em favor dos pequenos produtores da região do Maule, batizado de Vigno - Vignadores de Carignan (www.vigno.org).

Reunindo 14 importantes produtores regionais, o projeto tem por missão melhorar a imagem do Vale do Maule, com base no desenvolvimento de vinhos de caráter e de classe mundial, a partir de vinhas antigas plantadas em condições de seca, todos sob a mesma marca Vigno.

O terrível terremoto de 2010, que

destruiu a região, foi a inspiração para o projeto que objetiva ajudar os milhares de pequenos agricultores, estimulando-se a produzir uma casta mais valorizada, que lhes deixassem maiores rendimentos para a reconstrução de suas propriedades.

A cepa Carignan, escolhida para iniciar o projeto Vigno, está no Chile desde o ano de 1900. Entre 1995 e 1997 começaram a se produzir os primeiros vinhos dessa variedade, mas somente em outubro de 2011 definiram-se as 8 regras que autorizavam esses produtores regionais a ostentarem a marca do projeto em suas garrafas:

1. Produção em área determinada na região do Maule

2. Feito de uva Carignan ou Carignan enxertada sobre País

3. Colhida de plantas de mais de 30 anos

4. Cultivadas sem qualquer tipo de

irrigação artificial

5. Videiras conduzidas pelo sistema de “cabeça” ou vaso, sem arames

6. Composição com no mínimo 65% de Carignan

7. Mínimo de dois anos de guarda Cada produtor poderá usar seu próprio rótulo e garrafa, desde que a marca Vigno apareça com destaque, em proporção pré-definida.

Atualmente, o projeto Vigno reune as vinícolas Alcance, De Martino, El Viejo Almacén, Garage Wine Co., Garcia Schwaderer, Gillmore, Lapostolle, Lomas de Cauquenes, Meli, Miguel Torres, Morandé, Od ell, Undurraga, Valdivieso e Viña Roja.

V I TA V I N I S

Outra iniciativa que promete mudar a cara do Maule é o projeto Vita Vinis, que vem sendo conduzido na Gillmore com a introdução de cepas italianas em terras chilenas.

Acima,

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colheitador na J. Bouchon; à esq. Julio, Juan e Julio Junior: a dinastia Bouchon do Maule Daniela Gillmore e Andrés Sanchez, da Gillmore. Abaixo o rótulo em comum: Vigno ENOLOGIA CHILE Colheita de videiras que subiram em árvores, na J. Bouchon

ENOLOGIA CHILE

Numa iniciativa do enólogo Andrés Sanchez e de seu mentor em enologia, Mauricio Castelli, com quem estudou na Itália, foram importadas 20 diferentes cepas selecionadas que se encontram em fase de adaptação aos solos e ao clima do Maule.

“A busca foi por cepas que se desenvolvessem bem no tipo de terreno que temos aqui, assim como resistissem ao vento oceânico e ao alto grau de insolação presente na região”, explica Andrés Sanchez.

A partir daí a conexão com as cepas mediterrâneas ficou clara, dando início ao processo de seleção.

Dentre as 20 selecionadas estão a Pinot Grigio, Fianno, Montepulciano, Falagnina, Alignano, Pignoleto, Vermentino, Terrano, Primitivo, Dolcetto, Incrocio Manzoni, Sagrantino, Lagrein, Cezanese, Pinot Bianco, Petit Verdot e –pasme– Carménère (não aquela mesma variedade tinta que abunda no Chile, mas um outro clone, do Norte da Itália).

Trata-se de um projeto de longo

prazo, com o objetivo de quebrar a monotonia da viticultura chilena, capacitando o país a produzir vinhos diferenciados, de guarda, e em especial brancos de alta qualidade.

Espere por boas novidades. Mas seja paciente: ainda deve demorar uns 30 anos para chegar à sua taça!

QU E “PA I S” É E SSA?

A uva Pais estigmatizou-se no Chile –e principalmente na região do Maule–por produzir vinhos simples, rústicos, embora seja vitis vinifera.

Mas a febre “territorialista” está mudando esse conceito, principalmente na vinícola J. Bouchon, que agora se autodenomina Bouchon Family Wines.

Depois de anos à frente da famosa vinícola, o fundador Julio passa a direção da empresa para seus filhos Junior e Juan, apoiando um surpreendente e bem-vindo movimento de resgate dessa variedade histórica.

A contratação do jovem enólogo Felipe Ramirez em 2013, já começa

a dar bons frutos, aparentando uma profunda preocupação em respeitar a autenticidade do terroir hoje sob sua responsabilidade.

Na nova Bouchon, Felipe tem um vinhedo de 120 anos de idade repleto de Pais para utilização como corte em composição com outras cepas.

Mas bem ao lado, na área de mata nativa preservada, que serve de corredor biológico para os animais de região circularem, nasceram espontaneamente vinhas de uva Pais que logo foram se instalando como trepadeiras nas árvores da mata.

Notando o amadurecimento precoce dessas Pais selvagens, a vinícola resolveu apostar na vinificação de um varietal diferenciado, dando origem ao “Pais Selvaje”: um vinho de produção limitada (apenas 2.000 garrafas na última safra), realmente surpreendente em aroma e sabor, com uma elegância capaz de romper preconceitos em relação à estigmatizada cepa.

A aposta da Bouchon no “Pais Selvaje” foi tamanha, que se estendeu

também ao território do marketing: para escolher seu rótulo foi organizado um concurso on line entre designers chilenos.

D E S C OBR I NDO T E RRO I R

Outra demonstração de “territorialismo” que está ocorrendo na nova Bouchon é a vinificação em separado uvas colhidas de diferentes terrenos.

Seguindo esse conceito, o enólogo pode se valer da mineralidade de solos calcários, ao mesmo tempo em que tem à sua disposição um vinho mais encorpado da mesma cepa, plantada em solo argiloso.

O surpreendente é que cada uma dessas plantas estão a poucos metros uma das outras, em quadras contíguas de seu vasto vinhedo.

Durante nossa visita, pudemos provar dois exemplos de Cabernet Sauvignon completamente diversos que envelhecem em diferentes fouldres, à espera da decisão do enólogo sobre o corte ideal que deverá colocar no mercado nos próximos anos.

Mais uma grata surpresa nessa visita ao Maule foi conhecer o projeto agronômico da vinícola catalã Miguel Torres na região do Empedrado, na zona costeira de Constitución.

Ali, nas colinas varridas pelos constantes ventos oceânicos e muito frios do Pacífico Sul, a tradicional vinícola espanhola, também pioneira no Chile, tem investido pesadamente num projeto agronômico, plantando Pinot Noir em terraças.

O visual impressiona, principalmente por ver o belo vinhedo florescer em meio a um vastíssimo eucaliptal, que alimenta uma fábrica de celulose inconsequentemente instalada à beira mar. E, que fique claro, sem nenhuma relação com o empreendimento ecologicamente corretíssimo da Miguel Torres.

Aliás, tão correto, que durante anos, a empresa buscou diversas soluções naturais para espantar os pássaros da região, atraídos pelos doces frutos de seus vinhedos. Tentaram de tudo:

de ruidosos tiros de canhão para os céus aos tradicionais espantalhos, até encontrarem a solução –caríssima–de importar da Itália um tipo de malha para cobrir todas as vinhas.

Outro desafio enfrentado pela vinícola foi o intenso frio da região, que exigiu um sofisticado sistema de monitoramento térmico por sondas. Assim, sempre que a temperatura atinge níveis perigosos para a performance do vinhedo, o sistema de irrigação é automaticamente acionado, aspergindo água nas plantas de forma a encapsular cada fruto com uma finíssima película protetora.

Parece estranho, mas deu certo! E como deu: o Pinot Noir “Escaleras de Empedrado” produzido pela Miguel Torres no Chile tem recebido diversos elogios da crítica especializada, em todo o mundo. Mas infelizmente, não tivemos o privilégio de degustá-lo nesta visita, pois ali, no meio do vinhedo não existia sequer uma garrafa para saciar a curiosidade dos sedentos visitantes!

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I NV E ST I M E NTO E SPAN H O L As vinhas do Empedrado, de onde sai um esplêndido Pinot Noir

OS MELHO R ES DO CHILE

OS MELHO R ES DO CHILE

Assim como ocorre no Brasil, o Concurso Mundial de Bruxelas promove anualmente uma edição no C hile. E ste ano, Z é Luiz, degustador da equipe de Vinho Magazine, participou do júri. Foram 258 amostras degustadas. Veja abaixo o resultado, com os melhores vinhos daquele país

Medalhas de Grande Ouro

NOME | PRODUTOR SAFRA | REGIÃO

Casas del Bosque Gran Estate Selection | 2012 | Casablanca

Promesa Gran Res. Cab. Sauvignon/Syrah | De Aguirre 2011 | Maule Carrilara Syrah | Miguel Torres | 2011 | Colchagua Apalta

Maipo Vitral Carmenere| Viña Maipo 2014 Rapel

Puertas Toro de Casta Limited Edition Puertas 2012 | Curicó

Paya de Millaman Malbec | Millaman | 2012 | Curicó

Apaltagua Colección Limited Edition Carignan Apaltagua 2013 Maule

Libertas Reserva Carmenere | De Aguirre 2014 Maule Korta Reserva Petit Verdot Korta 2014 Lontue Arenal Reserva Cabernet Sauvignon | Peralilo | 2014 | Colchagua

Narkihue Justo Family Collection Nerkihue | 2013 Colchagua Lolol Laku | Requingua | 2010 Central

Medalhas de Ouro

NOME | PRODUTOR SAFRA | REGIÃO

Puertas Obsesión Gran Reserva Puertas | 2012 | Curicó Marty Pirca Syrah Marty | 2012 | Maule Marty Corazón del Indio Marty 2012 | Maule

Mannle Moscatel de Alejandria Late Harvest | Mannle 2014 Itata

Narkihue Justo Family Collection Nerkihue | 2009 Colchagua

Bisquertt La Joya Cabernet Sauvignon Bisquertt | 2014 | Colchagua

Gillmore Hacedor de Mundos Cabernet Franc | Gillmore | 2011 | Loncomilla

Balduzzi Gran Reserva | Balduzzi 2012 Maule

Aves del Sur Gran Reserva Chardonnay Carta Vieja | 2012 Casablanca

Bill Limited Edition Pinot Noir | William Cole | 2013 | Casablanca

Camino Real Etiqueta Negra Selección

Potro de Piedra | Requingua | 2013 Curicó

Toro de Piedra Carmenere | Requingua 2014 Maule

Casa Silva Gran Terroir Cabernet Sauvignon Casa Silva | 2014 | Colchagua

Casa Silva Late Harvest | Casa Silva 2015 Colchagua

Akana Coastal Vines | Akana Wines 2015 Leyda

Casa Silva Gran Terroir de Los Andes Carmenere | Casa Silva | 2014 | Colchagua

Casas del Bosque Sauvignon Blanc Pequeñas Producciones | Casas del Bosque 2015 | Casablanca

Korta Gran Reserva | Korta | 2013 | Lontue

Valdivieso Single Vineyard Sauvignon Blanc | Valdivieso 2014

Viu Manent Gran Reserva Malbec | Viu Manent | 2013 | Colchagua

Aves del Sur Gran Reserva Syrah | Carta Vieja | 2013 | Maule

Puertas Matapenqueros 5 | Puertas | 2010 | Curicó

Colección de Altura de Campos de Solana Gran Reserva Petit Verdot | Campos de Solana | 2014 | Bolivia

Altum Merlot | Terramater | 2013 | Isla de Maipo

Medalhas de Prata

NOME | PRODUTOR SAFRA | REGIÃO

Doña Dominga Res. de Familia Carménère Casa Silva | 2014 | Colchagua

Viñamar Método Tradicional | San Piedro Leyda Casablanca

Grand Reserve Cabernet Sauvignon William Cole 2012 | Maipo

Maipo Cabernet Sauvignon | Viña Maipo 2014 Rapel

Altum Cabernet Sauvignon | Terramater | 2013 | Curicó

Carmen Gran Reserva Merlot Carmen | 2013 | Maipo

Cordillera Carignan Vigno | Miguel Torres | 2013 | Maule

Santa Rita Medalla Real Gran Res. Sauv. Blanc | Santa Rita | 2014 Leyda

Casablanca Late Harvest | Casablanca 2013 | Casablanca

Doncella Gran Res. Cab. Sauv./Carménère De Aguirre | 2011 | Maule

Maycas Reserva Especial Chardonnay Maycas del Limari 2014 Limari

Aresti Trisquel Cabernet Sauvignon | Aresti | 2013 | Colchagua

Carmen Gran Reserva Cabernet Sauvignon | Carmen 2013 | Maipo

Doña Dominga Res, de Familia Cab. Sauv. Casa Silva | 2014 | Colchagua

Errázuriz Estate Series Cab. Sauv. | Errázuriz | 2014 | Colchagua e Maipo

Palo Alto Reserva 1 | Palo Alto 2014 Maule

vinho magazine 63 2015
ENOLOGIA CHILE
Terroir Malbec | 2012 | Cachapoal Santa Rita Medalla Real Gran Res. Cab. Sauvignon 2011 Maipo Caballo Loco Grand Cru Limarí | Valdivieso | 2013 Caballo Loco Grand Cru Sagrada Familia Valdivieso | 2010 LFE Gran Reserva Sauvignon Blanc Luis Felipe Edwards 2015 Leyda Siegel Unique Selection |
Doña Dominga
Morandé Reserva
2015 |
1825 Gran Reserva Carmenere | Carta Vieja 2011 | Locomilla
Siegel 2012 Colchagua
Carmenere | Casa Silva 2015 | Colchagua
1:1 Sauvignon Blanc | Morandé |
Casablanca Since

Errazuriz: arquitetura moderna, sem medo de tecnologia de ponta

ACONCÁGUA!

Grupo na Von Siebenthal: advogado que virou vinho

A versão chilena do mais importante concurso de vinhos do mundo apresenta seus vencedores –e a região do Vale do Aconcágua

TEXTO & FOTOS ZÉ LUIZ TAVARES
Vinhedos da Viña San Esteban: sítio arqueológico
MONDIAL • CHILE
CONCOURS

Casa

Casa

Syrah

Pichaman

LFE

LFE

Mannle

Cordillera

Palo

Santa

Siegel

Siegel

Siegel

Valdivieso

Bill

Sala de degustações e banquetes da Errazuriz

DEMAIS RESULTADOS

Medalhas

No exato momento em que editávamos essa reportagem, o Chile iniciava um doloroso caminho para se recuperar de uns dos mais terríveis incêndios florestais de sua história, que chegou a dizimar vinhedos centenários, atingindo vinícolas nas regiões do Maule, San Javier, Empedrado, Cauquenes, Colchagua, Bio Bio e Bulnes.

Um pouco antes, e alguns quilômetros ao norte da região afetada, o colaborador de Vinho Magazine, Zé Luiz Tavares (que vos escreve) participou como jurado da edição chilena do Concours Mondial de Bruxelles, no Vale do Aconcágua, para avaliar o melhor da vitivinicultura chilena das últimos safras.

Ao lado de jurados do Chile, Alemanha, Japão e Estados Unidos, tive a oportunidade de provar mais de 200 amostras entre tintos, brancos, vinhos de sobremesa e espumantes. Os resultados estão em http://www.concoursmondial.com/ wp-content/uploads/2016/11/PremiosCMBChile-20162.pdf.

Como era de se esperar, os destaques foram o altíssimo nível dos Cabernet, dos Carmenère, de alguns excelentes cortes e dos brancos, também. A surpresa ficou por conta dos Syrah que, apesar de não fazerem grande sucesso no mercado chileno, conquistaram notas muito elevadas dos jurados estrangeiros e até dos locais.

As degustações tiveram lugar na agradável estância termal El Corazón, na província de Los Andes, aos pés da cordilheira, durante três manhãs do mês

de novembro. Nos períodos da tarde, os jurados tiveram a oportunidade de visitar algumas vinícolas que compuseram um fiel retrato da pluralidade dos vinhos do Vale do Aconcágua.

VIÑA SAN ESTEBAN

Produtora dos rótulos Rio Alto, San Esteban e In Situ, a Viña San Esteban tem suas videiras espalhadas aos pés da cordilheira, passando pelas margens do rio Aconcágua, até o lendário monte Paidahuén, onde se localiza um raro sítio arqueológico, repleto de signos pré-históricos.

É justamente desse monte que Horácio Vicente Mena, winemaker da San Esteban, colhe os frutos que dão origem aos vinhos do rótulo In Situ, degustados pelos jurados do Concours Mondial de Bruxelles num inesquecível almoço a la parrila servido num charmoso caramanchão no topo do morro.

Dos oito rótulos degustados, dois merecem destaque: o branco aromático In Situ - Signature Wines, Riverside Blend 2016, de Chardonnay e Viognier; e o In Situ QV 2013, uma bem elaborada mistura de Petit Verdot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Malbec.

VIÑA VON SIEBENTHAL

O fundador Mauro von Siebenthal é um bem sucedido advogado, apaixonado por vinhos que, aos 40 anos de idade, resolveu largar tudo na Suíça para se instalar em Panquehue, San Felipe, no vale chileno do Aconcágua.

Ali, em 1998, plantou os primeiros 10 hectares do vinhedo que hoje triplicou de tamanho, e de onde sai, segundo ele, apenas um tipo de vinho: “o vinho que eu gosto de beber”.

Colocando a paixão e o gosto pessoal acima de questões de mercado, Mauro confessa que só depois de muito insistência de seus enólogos consultores aceitou a ideia de produzir um vinho branco. A raridade leva o rótulo de Riomistico, é composto 100% da casta Viognier, estagiou 12 meses em madeira e teve sua produção limitada a 4 mil garrafas.

Além dele, durante a visita, o grupo de jurados também teve a oportunidade de degustar outras duas “obras-primas” do falante anfitrião: o potente Toknar, 100% Petit Verdot (certamente um vinho para iniciados) e o pungente Tatay de Cristóbal, corte de Carmenère e Petit Verdot.

BODEGA FLAHERTY

Movi é a sigla que identifica um grupo de 32 vinicultores independentes que lideram um movimento pelo resgate e valorização de um vinho chileno com maior individualidade e caráter menos globalizado –como o dos produzidos pelas mega companhias vinícolas do país.

Em ordem alfabética, fazem parte do Movi as vinícolas Acróbata, Alchemy, Armidita, Attilio & Mochi, Bowines, Casa Bauzá, Catrala, Clos Andino, Corral

Erasmo, Flaherty, Garage, Gillmore, Garcia + Schwaderer, Instinto, Kingston, La Recova, Lagar de Bezana,

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Jurados brasileiros presentes à competição: pela Vinho Magazine Jurados de todo o mundo avaliam vinhos e destilados chilenos Mauro Von Siebenthal faz apenas os vinhos de que gosta
CONCOURS MONDIAL • CHILE
Horácio Vicente Mena, vinhateiro chileno da San Esteban
Laura
- GRANDE OURO
Alba Gran Reserva Carménère/Cabernet Sauvignon 2015 - Maule
Andino Cabernet Sauvignon Cuvee 2014 - Alto Cachapoal
Cabernet Franc Reserva Aranjuez 2013 - Bolívia
Silva Gran Terroir De los Andes Cabernet Sauvignon 2015 - Colchagua/LosLingues
Victoria,
RESULTADOS
Santa
Clos
Aranjuez
Casa
Silva Gran Terroir De los Andes Carménère 2015 - Colchagua/Los Lingues
Silva Gran Terroir de la Costa Syrah 215 - Colchagua/Lolol
Pequeñas Producciones 2014 Casas del Bosque - Casablanca
Blanc Reserva 2016 Casas del Bosque - Casablanca
Sauvignon
Assemblage 2013 Folatre - Curicó
Gran Reserva Sauvignon Blanc 2016 Luis Felipe Edwards - Leyda
Marea Sauvignon
Blanc 2016 Luis Felipe Edwards - Leyda
Cinsault 2015 - Itata
Carignan Vigno 2014 Miguel Torres - Maule
Alto Reserva III 2015 - Maule
Rita Medalla Real Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2012 - Maipo
Unique Selection 2013 - Colchagua
Single Special Reserve Syrah 2015 - Colchagua
Single
Special Reserve Cabernet Sauvignon 2015 Colchagua
Chardonnay Single Vineyard - Leyda
Sauvignon Blanc 2016 William Cole - Casablanca
de Ouro, de Prata e Destilados: http://www.concoursmondial.com/wp-content/uploads/2016/11/PremiosCMBChile-20162.pdf
Vinhedos ao pé do monte Paidahuén: San Esteban Barricas de grande porte na Von Siebenthal

Hartwig, Meli, OC, Peumayen, Polkura, Rukumilla, Starry Night, Trabun, Villard, Von Siebenthal, Vultur, 3 Monos e Trapi.

Os jurados foram recebidos no casarão da Bodega Flaherty pelo enólogo e fundador Ed Flaherty com um delicioso almoço preparado pela chef Jenny Hoover e harmonizado com os bons vinhos da casa. O casal de viticultores californianos chegou ao Chile em 1993. Trabalharam em diversas vinícolas de renome, até realizarem o sonho da “vinícola própria”, onze anos depois.

VIÑA SANCHEZ DE LORIA

Uma das visitas mais interessantes se deu numa pequena vinícola familiar, absolutamente desconhecida para brasileiros e, provavelmente, para o resto do mundo também. Uma verdadeira volta ao passado, com tonéis amontoados em salas escuras e garrafas empoeiradas trancadas como tesouros atrás de sólidas grades de ferro fundido.

Fundada em 1890 por Enrique Sánchez de Loria Faulkner, a vinícola é hoje comandada por seu bisneto don Felipe Cruz, que recebeu pessoalmente os jura-

dos do Concours Mondial de Bruxelles para uma degustação de quatro de seus melhores vinhos, com destaque para o excelente Gran Reserva Cabernet Sauvignon e o esforçado Oporto, vinho licoroso à moda do Porto, cuja receita a família mantém em segredo por mais de 120 anos. O nome não deveria ser usado.

Outro detalhe surpreendente dos vinhos da Sanchez de Loria: o preço. Provavelmente, o mais acessível de todas as vinícolas visitadas. O campeão do nosso ranking particular de custo/benefício.

ERRAZURIZ

Com oito vinhedos no Vale do Aconcágua e dois no Vale de Casablanca, a Errazuriz é sem dúvida uma das mais prestigiosas vinícolas do Chile, produzindo em suas bodegas de San Felipe, alguns dos mais icônicos vinhos do país.

Premiadíssima em concursos internacionais, principalmente no e Berlin Tasting, a Errazuriz é responsável por alguns dos melhores vinhos do Chile, como Don Maximiano Founder’s Reserve, Kai Carménère, La Cumbre Syrah e Seña, projeto criado por Robert

Mondavi e Eduardo Chadwick, além do invejável Viñedo Chadwick, que, em maio de 2016, alcançou a marca dos 100 pontos, na opinião do respeitado crítico internacional James Suckling.

Na Errazuriz, o terroir definitivamente não faz o trabalho sozinho. A empresa não tem pudores em lançar mão do que existe de mais moderno em tecnologia, utilizando inclusive softwares que controlam o momento correto para a colheita de cada vinhedo.

Na degustação para os jurados, conduzida pelo enólogo Pedro Contreras, foram servidos sete vinhos, todos da safra de 2014, com destaque para o Don Maximiano Founder’s Reserve que, na opinião dos presentes poderia ainda se manter em guarda por mais 5 ou 6 anos, tendo em vista a potência de seus taninos.

De métodos tradicionais a sofisticadíssimas tecnologias. De vinhos de aceitação internacional a produtos de nicho.

De preços muito acessíveis a verdadeiros investimentos financeiros. Assim é o Vale do Aconcágua, ao norte do Chile. Uma região que vale ser degustada em cada um de seus recantos.

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Ed Flaherty: embaixador do Mobi Felipe Cruz, da Sánchez de Loria Enólogo Pedro Contreras, da Errazuriz

RIO DE OURO

Viaje conosco pela mais linda região vinícola do mundo

Vista Panorâmica da Quinta do Bon m POR ZÉ LUIZ TAVARES FOTOS
DIVULGAÇÃO

Os franceses podem se proclamar os melhores mundo.

Os gregos podem alegar ter sido os primeiros a produzirem vinhos em louvor a Dionísio. Os italianos podem gritar que foram os responsáveis pela expansão da bebida de Baco pelo planeta. Mas os portugueses podem dizer que possuem a região vinícola mais linda de todas: o Douro.

Passamos uma semana visitando essa que foi a primeira região demarcada do mundo do vinho –obra do Marquês de Pombal– e a experiência fez jus à fama: encontramos paisagens deslumbrantes, histórias deliciosas, pessoas encantadoras e, como não poderia deixar de ser, vinhos excepcionais.

Saindo da cidade do Porto, o roteiro limitou-se a sub-região conhecida como Cima-Corgo. Visitamos cinco encantadoras propriedades, bem diferentes, apesar da paisagem e acolhimento encantadores.

DIA 1: O PORTO

O Vinho do Porto bem poderia chamar-se Vinho de Vila Nova de Gaia.

Pois é lá, na margem direita da foz do rio Douro, naquele município fronteiriço à cidade cidade do Porto, que se encontram os armazéns onde ainda envelhece boa parte do famoso vinho fortificado, produzido em diversos pontos mais altos do vale do rio.

Todos os “Big Five” do Vinho do Porto (Sogrape/Sandeman, Ramos Pinto, Real Cia. Velha, Taylor’s e Família Symington) têm armazéns por lá e você pode visitar vários deles pagando o tour com direito a provas de vinho no final do passeio. Especialmente recomendados são os da Sandeman –cujo guia conta histórias bem interessantes– e os da Taylor’s, principalmente pela vista deslumbrante do terraço de seu excelente restaurante.

Até pouco tempo, esses armazéns representavam um grande trunfo no negócio dos Vinhos do Porto, porque havia uma norma do IVP, o poderoso Instituto do Vinho do Porto, uma espécie de agência reguladora do setor, que determinava que para merecer ser chamado de Vinho do Porto, o produto não só deveria ser produzido na região demarcada do Douro, como também ser envelhecido em armazéns em Vila Nova de Gaia. Daí, os produtores que não possuíam tais armazéns não tinham escolha senão vender sua produção para aqueles os possuíssem.

Dica de compra: com tantas excelentes opções, é difícil recomendar apenas um Vinho do Porto. Mas se você estiver disposto a gastar (gastar bem), vale levar um Porto Vintage (de qualquer boa marca) ou Colheita do ano em que você nasceu. Opção mais econômica é comprar um do ano de nascimento dos filhos ou dos netos e, quando fizerem 18, beber com eles.

DIA 2: QUINTA NOVA DE NOSSA SENHORA DO CARMO

Do Porto, seguimos Douro acima. Em cerca de 1h45min, estávamos em Covas do Douro, vilarejo onde se encontra a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, nome que faz referência à pequena capela às margens do rio, presumivelmente ali instalada como forma de proteção aos valentes barqueiros que há séculos desafiavam sua correnteza para levar os vinhos até a cidade do Porto.

Vila Nova de Gaia e osbarcos rabelos

Com a extinção da norma em 1996, começaram a proliferar um sem número de pequenos produtores. E nessa busca, haja criatividade: deparamos com um Porto Rosé, outro voltado para o preparo de drinks e até um vinho doce de baixo teor alcoólico, em que a interrupção da fermentação se dá por resfriamento e não pelo acréscimo de aguardente vínica, como ocorre na produção do Porto tradicional.

A Quinta Nova tem uma história de mais de 250 anos e, desde 1999 passou a integrar o projeto enoturístico do Grupo Amorim, o maior e mais importante produtor de rolhas de vinho do mundo. Américo Amorim, o grande visionário da empresa de quatro gerações, eleito por vários anos consecutivos o homem mais rico de Portugal, faleceu este ano, aos 82 de idade, deixando um incrível império de indústrias e desenvolvimento florestal, responsável por cerca de 40% de toda a cortiça beneficiada no planeta.

Dentre os negócios que deixou, a Quinta Nova pode ser considerada a jóia da coroa. Um projeto concebido por Américo para estar mais perto e se relacionar com clientes de todo o mundo que vinham ao Douro a passeio, a negócios ou por ambos os motivos.

A propriedade tem 85 hectares de vinhas, 3 pomares, pousada 5 estrelas com 11 quartos, restaurante bacana (o

vinho magazine 82 2017
O rio Douro visto da Quinta Nova DIVULGAÇÃO
FOTOS

Conceitus), museu do vinho, sala de provas, loja transadinha, pier para atracar lanchas, heliponto e por todo lado uma vista que emociona. Não é à toa que recebem a visita de 12.000 pessoas por ano, inclusive algumas celebridades de Hollywood e atores Globais.

Segundo Paula Sousa, Diretora de Marketing e Enoturismo, os brasileiros já respondem por 12% do movimento do projeto enoturístico.

Quanto aos vinhos, a produção é limitada, para abastecer o restaurante e as vendas diretas. Apesar disso, trabalham com uma importadora (a Magnun Importadora, de Raphael Zanette), que traz seus bons vinhos para o Brasil. Degustamos 3 tintos das safras 2013 e 2014, que ainda apresentam um bom potencial de guarda. O destaque vai para o Grainha Reserva 2014, da linha intermediária da casa, pelo excelente custo-benefício (€13,90) e pela enorme afinidade gastronômica: um vinho para a mesa portuguesa, com certeza!

Quanto aos Portos, provamos um respeitável Vintage 2013 e o ruby Porto Clã Special Reserve, uma iniciativa da empresa mirando o público mais jovem, pouco habituado ao sisudo e caro mundo dos fortificados. Na verdade, muito mais uma adaptação de embalagem e preço, do que do vinho em si: apesar da marca e embalagem sugerirem o uso no preparo de coquetéis, o Clã continua sendo um impecável Porto Ruby para se apreciar puro, num cálice, após as refeições.

Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Propriedade Grupo Amorim

Endereço: Covas do Douro - 5085-222 - Sabrosa GPS 41.301035, -7.742235

Visitas Guiadas e com prova de vinhos, disponíveis em várias línguas.

Restaurante Conceitus (Menu xo diário das 13h às 15h e das 20h às 22h)

Alojamento: 11 quartos, com diárias entre €225 e €269 Site www.quintanova.com

Reservas: qntourism@amorim.com / 351 254 730 320

DIA 3: QUINTA DO BONFIM

De Covas do Douro até a Vila do Pinhão são apenas 20 minutos de carro. Mas 20 minutos cheios de emoção por conta da estrada estreita, sinuosa e sem guard-rails, que desce do topo dos montes até o nível do rio. A vista, como sempre, é deslumbrante. Principalmente para o passageiro, que passa boa parte do percurso a centímetros das ribanceiras.

Com atenção redobrada e baixos teores de álcool na corrente sanguínea, chega-se rápida e seguramente na Quinta do Bonfim. Localizada bem ao pé da ponte que atravessa a Vila do Pinhão, essa é apenas uma das 28 propriedades da família Symington, de ascendência escocesa, inglesa e portuguesa, presente no Douro desde 1882.

Já há cinco gerações produzindo fundamentalmente Vinho do Porto,

os Symington são considerados um daqueles “Big Five” do segmento. Hoje, operam as marcas Graham’s, Cockburn’s, Dow’s, Warre’s, Quinta do Vesúvio, Altano Douro, P+S e Quinta do Ataíde, que foram adquirindo ao longo do tempo, investindo tecnologia e gestão, mas mantendo as individualidades de cada uma, como forma de manter o mercado já conquistado.

Essa estratégia fez do Grupo o maior produtor de uvas do Douro e líder do mercado mundial de Vinhos do Porto, com a participação de mais de 33% do segmento premium. No Brasil, o importador é a Mistral, que tem em seu portfolio apenas alguns produtos de 4 de suas marcas. O preço é sempre o problema: fizemos as conversões de Euro para Real e comparando os valores praticados lá e aqui, alguns tintos DOC chegam a custar entre 20% e 30% a mais no Brasil. Bem aceitável! O grande espanto está mesmo na diferença dos Portos, que chegam a ter um acréscimo de preço que ultrapassa a casa dos 370%.

Na Quinta do Bonfim, os Symington produzem a marca Dow’s. Mas durante a visita, você pode provar vinhos de várias marcas do Grupo.

Quem nos guiou por lá foi o especialista João Silva. Um dos pontos altos da visita foi ver o robô de pisa das uvas em operação nos grandes lagares de aço inox. Esse sistema vem substituindopelo menos nos maiores produtores - o método tradicional da pisa humana em lagares de concreto, que ainda persiste em várias outras Quintas menores ou mais tradicionalistas.

Ao final da visita, bem acomodados numa belíssima sala de provas com vista para o rio, pudemos experimentar vinhos que variavam entre € 4,95 e € 80,00 a garrafa. Os vinhos tranquilos DOC Douro são muito bem feitos, mas não chegam a impressionar. Prova-

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MUNDO VINHO O DOURO Qª Nossa Senhora do Rosário: Quevedo Vinhedo e casa da Quinta do Bon m FOTOS DIVULGAÇÃO

mos o Altano White 2016 e o Quinta do Vesúvio Tinto 2014. Mas quando chegou a hora dos Vinhos do Porto, aí a experiência dos Symington fala mais alto. João nos serviu uma sequência da marca Graham’s: LBV 2012, Quinta dos Malvedos Vintage 2004, Tawny 10 anos e Tawny 30 anos. E apesar de disponível uma cuspideira à mesa, os dois últimos fizemos questão de sorver até a última gota.

QUINTA DO BONFIM

Propriedade Família Symington

Localização: 5085-060 - Pinhão

GPS: 41.189245, -7.540943

Visitas Guiadas e com prova de vinhos, disponíveis em várias línguas, a partir de €12,00

Restaurante Não existe um no local, mas pode-se reservar - por €25,00 por pessoa e com antecedência de 48 horas - cestas de picnic para degustação nos terraços com vista para o rio.

Alojamento Não dispõe. Se quiser dormir ali por perto, o caminho é tentar um dos hotéis e pousadas da Vila do Pinhão.

Site: www.symington.com

Reservas quintadobom m@symington.com ou +351 254 730 370

DIA 4: QUINTA DO PÔPA

Depois de subir as montagens da margem direita do Douro para dormir na vila de Tabuaço e visitar a encantadora aldeia de Barcos - com sua ruazinhas de pedras, casario histórico e típicas senhoras portuguesas andando de avental pelo meio da rua -, em 30 minutinhos já estávamos de volta ao nível do rio para visitar a Quinta do Pôpa, a mais linda vista do Douro. Fica no alto do morro na margem direita, bem numa curva, que permite ver o Douro desaparecendo entre as montanhas plantadas. Um de seus vinhedos foi caprichosamente plantado num istmo que avança pela água do rio, deixando o recorte do trecho ainda mais impressionante.

A Quinta tem esse nome em homenagem ao pai de seu fundador, o Sr. José Ferreira. Apesar de muito pobre, o pai de José era filho bastardo de um senhor muito rico, que jamais reconheceu sua paternidade, obrigando-o a trabalhar duro nas vinhas de suas propriedades.

O tal Pôpa não tinha dinheiro mas era vaidoso, principalmente com seu vistoso topete que, por se assemelhar ao de um pássaro muito comum na região, rendeu-lhe o apelido.

O filho do Pôpa, o Sr. José, tem o perfil selfmade man estudou pouco, trabalhou duro e com seu talento para os negócios e vontade de crescer, meteu-se no mercado de distribuição de alimentos e acabou se tornando dono de uma rede de supermercados em Portugal. Em dado momento, resolveu comprar umas terrinhas no Douro e, com a privilegiada ajuda do famoso enólogo português Luís Pato, começou a produzir apenas vinhos de mesa.

Hoje, quem toca a vinícola é o casal de filhos do Sr. José, Stefan e Vanessa, jovens e com marketing na veia. Dá pra perceber em cada canto o dedo deles. A equipe também é jovem, ousada e

entusiasmada com o projeto. As experiências eno-mercadológicas são fartas: desde um projeto que une a criação simultânea de vinhos e rótulos artísticos, até um ousado vinho doce, feito como o vinho do Porto, mas sem o acréscimo de aguardente vínica, com a fermentação sendo interrompida a frio, restando bastante açúcar residual.

O Pôpa VV, de vinhas velhas (com mais de 20 castas plantadas lado a lado, sem qualquer controle ou demarcação), é um primor: intenso, madeira muito bem equilibrada, jeitão dos grandes tintos portugueses. Obteve 93 pontos de Robert Parker.

Além dele, Leila Freitas - responsável pelo projeto de turismo da Quinta - fez questão de nos servir outros rótulos da casa, como os Pôpa Branco, Rosé, Black Seleccion, TN (de Touriga Nacional) e o Homenagem, cujo rótulo serigrafado apresenta uma ilustração do velho Pôpa e seu imponente topetão.

No Brasil, quem trabalha com os vinhos da Quinta do Pôpa é o Grupo Ôba, dono de várias lojas de hortifruti na região de Campinas e interior do Estado de São Paulo.

QUINTA DO PÔPA

Propriedade: Família Ferreira

Localização Estrada Nacional 222 Adorigo - 5120-011 Tabuaço

GPS 41.154973, -7.59696

Visitas: Durante todo o ano, com ou sem passeio pelas vinhas e prova de vinhos.

Restaurante: Pode-se reservar almoços especiais com harmonização de vinhos simples ou vinhos premium, com opção vegetariano e infantil. A Quinta tem acordo com chefs da região e pode organizar tudo pra você. Ou, se preferir algo mais descontraído, de abril a outubro, existe a opção de comprar uma cesta Pôpa Pic-Nic Simples ou Premium, e fazer uma boquinha no terraço da Quinta.

Alojamento: Por enquanto, não é possível dormir por lá. Mas já existem planos de investir no enoturismo.

Site www.quintadopopa.com

Reservas turismo@quintadopopa.com /351 916 653 442

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MUNDO VINHO O DOURO Turistas fazem a pisa na Qª do Pôpa Tranalhador colhe uvas na Quinta do Pôpa FOTOS
DIVULGAÇÃO

DIA 4, À TARDE: QUINTA DO TEDO

Da Quinta do Pôpa à Quinta do Tedo são apenas 15 minutos, dirigindo pela EN222 e acompanhando a margem do Douro até seu encontro com o Rio Tedo.

Correndo sinuoso pelo terreno desse pequeno e tradicional produtor de vinho do Porto, o rio Tedo batiza a Quinta de propriedade do francês Vincent Bouchard, de família vinhateira da Borgonha, e de sua esposa californiana Kay.

A Quinta do Tedo produz vinho do Porto, como nos velhos tempos: pisa em lagares, fermentação em cubas de concreto, rotulagem com stencil e, na Europa, só vendem direto ao consumidor, exceto para Noruega e Suíça.

É justamente esse modelo de venda direta que faz com que o ritmo de visitas na Quinta do Tedo seja bem mais intenso do que nas demais quintas que visitamos. É um constante entra-e-sai de grupos de turistas de todas as procedências (inclusive brasileiros, é claro!), atendidos por atendentes poliglotas, que orientam as visitas e provas, encer-

rando sempre com vendas.

E tudo é facilitado para que os turistas comprem os vinhos: embalagens grátis para transporte, vários meios de pagamento e até frete grátis para toda a Europa, em compras a partir de €150.

Quem nos atendeu foi a Vera Matias que, depois de uma rápida visita aos lagares e ao armazém, nos serviu o seu bem cuidado tinto reserva e mais 5 vinhos do Porto, variando de um curioso Porto Rosé a um deliciosamente clássico Tawny 20 anos.

A Quinta do Tedo também conta com uma pequena e charmosa pousada com 5 quartos e um agradável bistrô, comandado pela Chef carioca Jéssica. Os funcionários são jovens franceses, belgas, ingleses, americanos e alguns ainda nem se aventuram na língua de Camões. Tudo é tocado por uma equipe enxuta de 18 pessoas, que durante o período de vindima, ganha o reforço de mais 10 pessoas da região.

No Brasil, todos os 3 tintos da Quinta do Tedo e boa parte de seus vinhos do Porto são distribuídos pela Casa do Vinho Famiglia Martini, de Belo Horizonte - mas que também tem e-commerce. Pelas nossas contas, o preço por aqui tem um acréscimo médio de cerca de 48% em relação aos praticados na venda direta aos países europeus. QUINTA DO TEDO Propriedade Família Bouchard Localização

DIA 5: MUSEU DO VINHO DO PORTO DE S. JOÃO DA PESQUEIRA

Saindo da beira do Douro, mas sempre dentro da região demarcada, seguimos para São João da Pesqueira, para a visita à nossa última Quinta programada.

Mas ao chegar na pequena cidade histórica, nos deparamos com uma outra visita imperdível: o Museu do Vinho de S. João da Pesqueira.

Instalado num edifício de arquitetura arrojadíssima (parecia que estávamos na Quinta Avenida em Manhattan e não num pequenino vilarejo do interior de Portugal), o Museu expõe com recursos de última geração toda a história geológica, sócio-política, econômica e de evolução técnica do Vinho do Porto.

São 3 andares de painéis fotográficos, projeções, textos e objetos, cuidadosamente organizados para provocar uma verdadeira imersão no tema, com a ajuda de práticos áudio-guias portáteis. E ao final da jornada, no ultimo andar do edifício, um solícito funcionário nos aguarda para a degustação de uma taça de Porto, produzido pela cooperativa local, acompanhada de deliciosas amêndoas e Figo seco, outras duas especialidades da região.

Para encerrar com chave de ouro, fomos encaminhados a uma construção histórica logo à frente do Museu, onde uvas pisadas durante o evento Vinodouro - ocorrido no final de semana anterior a nossa visita - ainda repousam fermentando num dos 5 lagares de pedra do edifício.

Alojamento: A pousada tem apenas 5 quartos, com diária de €95

Site www.quintadotedo.com

Reservas: info@quintadotedo.com / 351 254 789 543

O impressionante museu foi construído em sua grande parte com recursos da Comunidade Européia, cabendo aos cofres do município apenas 10% de todo o investimento. Vale muito a visita! Na verdade, é por onde deveríamos ter começado para entender melhor tudo o que encontramos no nosso passeio pelo Douro Vinhateiro.

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Vila Seca - 5110-548 - Armamar GPS: 41.156829, -7.640283 Visitas Aberto todos os dias, das 10h às 19h Restaurante Bistro Terrace. De terça a sábado, das 12h às 16h30min (almoço), das 16h30 às 19h (aperitivos e lanches) e das 19h às 22h30 (jantar). Aos domingos, das 12h às 16h30.
MUNDO VINHO O DOURO Curva do Douro na Quinta do Tedo Vista aérea da Quinta do Tedo FOTOS DIVULGAÇÃO

MUSEU DO VINHO DE SÃO JOÃO DA PESQUEIRA

Localização: Av. Marquês de Soveral, 79 - 5130-321 - S. João da Pesqueira

GPS: N 41o 8’ 52” W 7o 24’ 30”

Visitas Terças a Sextas, das 10h às13h e das 14h30min às 18h30min. Sábados e domingos, das 14h30min às 18h30min. Fechado às segundas-feiras e nos feriados. Site: www.mvsjp.pt Reservas mvp@sjpesqueira.pt ou +351 254 489 983

DIA 5 ( À TARDE ): QUEVEDO PORT WINES

A cinco minutinhos de carro do centro de São João da Pesqueira, nossa visita pelo Douro se encerra na jovem vinícola Quevedo Port Wines. Mais precisamente, na Quinta Senhora do Rosário, localizada bem no meio do planalto da região demarcada do Douro - sub-região do Cima-Corgo, a 611 metros acima do mar.

Durante muitos anos, a família Quevedo produzia uvas e vinho do Porto para vender aos Big Five, donos dos armazéns de Vila Nova de Gaia. Mas quando Portugal aderiu à União Europeia, em 1986, a mudança na legislação passou a permitir que os pequenos produtores exportassem diretamente o vinho do Porto das suas adegas, sem ter que envelhecê-los nos tais armazéns.

Como resultado desta nova legislação, nasce em 1991 a marca familiar “Quevedo”, por iniciativa de Oscar Quevedo e seus filhos Oscar Jr. e Cláudia. Um negócio de família, tocado em família, com todo mundo fazendo um pouco de tudo e ajudando no que puder. Assim que chegamos, encontramos a jovem Marie (que não é da família mas age como se fosse) pilotando uma empilhadeira para carregar a carreta que levaria seus vinhos ao mercado.

O ritmo de trabalho na Quevedo era intenso: chegamos bem no meio da vindima e a uva já colhida estava entrando em produção. Mesmo assim, fomos atendidos (muito bem atendidos) pela enóloga Cláudia Quevedo, responsável apenas (apenas?) por todos os vinhos fortificados produzidos pela casa. A linha de vinhos de mesa DOC Douro, conta com o trabalho de outra enóloga, a Tereza Batista.

O passeio com Claudia pelas instalações da Quevedo transcorreu sem grandes novidades, como em todas as outras Quintas. Isso até chegarmos no armazém.

Ali, Claudia transformou-se de atenciosa guia para uma apaixonada e orgulhosa criadora de vinhos. Fomos convidados a deixar de lado um pouco a linha de produtos da casa para degustar direto das pipas, balseiros e tonéis, vinhos que envelheciam há décadas na penumbra daquele ambiente.

Com a habilidade de quem cresceu no meio daqueles barris, Claudia foi nos servindo doses de um, dois, três... sete diferentes vinhos. E, com atenção professoral, chamando nossa atenção para os detalhes que fazem um grande vinho do Porto.

Em dado momento, a enóloga confessa que cada vez que as garrafas de seu vinho são vendidas, sente um breve vazio: é como se seus filhos saíssem

de casa. Se pudesse, ficava com toda a produção para compartilhar com os amigos, assim como generosamente fez conosco.

O ápice da degustação foi um Porto branco de 1970, extraído de uma pipa herdada de seus avós. Sem dúvida, o melhor vinho que provamos durante toda a viagem.

Da linha comercial da Quevedo, provamos o Claudia’s (nome que homenageia nossa anfitriã): um tinto de bom corpo e aroma de frutas escuras, produzido sem uma receita específica, variando a cada vindima e com uvas de diferentes quintas. A Quevedo é proprietária de 6 quintas em várias partes do Douro, e tira proveito disso preparando seus vinhos com os melhores frutos em cada safra.

Também provamos o delicioso Porto Quevedo Branco 30 Anos, já de coloração âmbar levemente esverdeada e aroma de frutas secas. Segundo Claudia, criadora da obra, o vinho é fermentado em lagares de granito e não passa por qualquer tipo de filtragem.

Infelizmente, nem todos os vinhos da Quevedo estão disponíveis às taças brasileiras. O importador oficial da marca é a Premium Wines, com escritórios em Belo Horizonte e em São Paulo e, segundo seu site, disponibiliza aos enófilos do país os seguintes Portos a marca: Rosé, Tawny, Ruby, LBV 2007, Colheita 1996 e Vintage 2011.

QUEVEDO PORT WINES

Propriedade: Família Quevedo

Localização Quinta Senhora do Rosário - 5130-326 - São

João da Pesqueira

GPS 41.139073N -7.3967597W

Visitas: Diariamente, das 9h às 12h e das 14h às 17h, por €10 com prova de 3 Portos incluída. Nas compras a partir de €25, a prova é gratuita

Site www.quevedoportwine.com; Reservas: info@ quevedoportwine.com / 351 254 484 323

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VINHO O DOURO A enóloga Claudia Quevedo FOTOS DIVULGAÇÃO
MUNDO

URUGUAI BOUTIQUE

País ao sul tem pequena produção, mas elevado nível de qualidade

Por do sol entre os vinhedos da Bracco Bosca, em Atlantida

VIAGEM AO SUL POR ZÉ LUIZ TAVARES TEXTO E FOTOS)

Bouza Vino

Sabe porque você bebe tão pouco vinho uruguaio? Simplesmente, porque eles não chegam até nós, brasileiros!

As vinícolas são familiares, a produção geralmente pequena, o mercado interno é muito ativo e o custo de produção bem elevado, tendo em vista que praticamente todos os insumos têm que ser importados. Dos tonéis de carvalho às garrafas de vidro.

O Uruguai tem cerca de 190 vinícolas profissionais. Mas pouco mais de 15% produzem vinhos finos. A grande maioria sobrevive fabricando vinhos de mesa, embalados em garrafões, bag-in-boxes e até embalagens de caixinha, como as de leite e suco.

A sofisticação da produção vitivinífera uruguaia começou há relativamente pouco tempo: a partir dos anos 1990, a exemplo do que ocorreu no Brasil.

A 20 minutos do centro da capital, a

gente já começa adentrar na zona rural e logo pipocam as placas indicando as “bodegas turísticas”, que aceitam visitação. Mas fique esperto e agende antes.

Começamos pela Antigua Bodega Stagnari, na sub-região de Santos Lugares, em Canelones, município contíguo a Montevidéu. Fomos recebidos por Virginia Stagnari, proprietária de 4ª geração, que ao lado de seus filhos Mariana e Carlo, tocam o negócio iniciado por seus avós imigrantes de Torino, na Itália.

A história da bodega começa em 1928, com a família comprando uma área cercada de pedreiras de granito rosa de decomposição natural de mais de 500 milhões de anos, para vinhedos.

É esse solo rústico e pedregoso de boa drenagem, com uma rasa camada de terra argilosa e arenosa, que favorece a intensidade, concentração e aroma das uvas e do vinho da casa.

Isso ficou bem claro na hora em que abrimos o Pedregal Chardonnay: uma explosão de aromas cítricos e notas de frutas tropicais, com um corpo de respeito para um branco jovem.

Pedregal, numa alusão ao solo do vinhedo, é a marca “de entrada” da vinícola. Já andou por terras brasileiras pelas mãos de duas importadoras, chegando até ao consumidor na faixa dos R$ 70,00. Mas a presença da Antigua Bodega Stagnari no exterior ainda é tímida. Apenas 20% de sua produção é consumida além das fronteiras uruguaias.

Provamos também o excepcional Osiris (nome do deus egípcio que teria ensinado ao seu povo a arte de cultivar a videira). A marca identifica vinhos varietais criados em barricas de carvalho americano por no mínimo 12 meses. O Merlot era o vinho preferido de Hector Nelson Stagnari, pai de Virgínia, responsável pelo ingresso da casa no

mundo dos vinhos finos, nos anos 1990. Aliás, é em homenagem a ele, que a vinícola produz seu “Tannat Tributo”, o Il Nero, apelido de Hector.

Provamos também o Bella Donna Marselan: um dos varietais de um novo rótulo dedicado ao crescente destaque das mulheres no mundo do vinho, a começar pela própria vinícola que, além de Virginia e sua filha Mariana, ainda conta com a renomada enóloga Laura Casella em sua linha de frente.

ANTIGUA BODEGA STAGNARI

Propriedade Virginia Stagnari e lhos Endereço Ruta 5 km 20, La Paz - Canelones, 90100, Uruguai

Rótulos recomendados Bella Donna Marselan, Pedregal Chardonnay, Osiris Merlot e Il Nero (Tannat)

Visitas de segundas a sextas das 10:30 às 16:30, aos sábados a partir das 10:00. Degustações: atividade de 2 horas de duração,

com preços de US$35 a U$80 por pessoa Restaurante: almoços e picnics mediante reservas para no mínimo 6 pessoas Site www.antiguabodegastagnari.com.uy Reservas: turismo@antiguabodegastagnari. com.uy | +598 2 3622137

A 15 minutos dali, chegamos a Pizzorno Family Estates: vinícola familiar, em sua quarta geração e também fundada por imigrantes do Piemonte.

Fomos recebidos por Francisco Pizzorno, jovem administrador de empresas, de 25 anos de idade, que está comandando os negócios de exportação e enoturismo da empresa.

E parece que está indo muito bem: a Pizzorno já oferece em menu de experiências com diversos tipos de degustações, almoço harmonizado, voos de helicóptero sobre os vinhedos da região e até excursões para outras vinícolas das cercanias. E para completar, exatamente

na véspera de nossa visita, foi inaugurada uma graciosa pousada, surgida de uma reforma e decoração de muito bom gosto na antiga casinha dos pioneiros Pizzorno, em meio a vinhedos.

O pai Carlos Pizzorno é o chefe de um time de enólogos. Um desses profissionais é o neo-zelandês Duncan Killiner, especialista em Sauvignon Blanc. Foi dele o primeiro vinho que provamos: Don Próspero Sauvignon Blanc.

Cor amarela pálida, quase incolor, explode em aromas frutais atraindo imediatamente para a boca, onde o pêssego e a banana impõem sua presença, que persiste bem até o próximo gole.

O Don Próspero Sauvignon Blanc vale cada centavo dos cerca de R$ 85,00 que cobram por ele no Brasil. Quem importa os vinhos da Pizzorno é a Grand Cru.

O Tannat Maceración Carbónica é um vinho produzido a partir de maceração carbônica, método greco-romano,

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VIAGEM URUGUAI
Garage: o patriarca da família é colecionador de autos clássicos Vinhedos da Stagnari, em espaldeira, por sistema de condução Guyot José Manuel Bouza, da terceira geração de imigrantes galegos, empresários de sucesso Virginia Stagnari, da Antigua Bodega Stagnari, de Canelones

Vinhedos da Pizzorno, em Canelones: alta qualidade

em que a fermentação se dá sem “espremer as uvas”. O resultado é um Tannat jovem, fácil de beber, suave, de baixa acidez, em que a safra de um determinado ano é consumida no mesmo ano. Vale a pena provar o “Tannat Loco”. Muito longe da “loucura”, a Pizzorno produz Tannats bem sérios. Como o Pizzorno Tannat Reserva (R$184,90), com 12 meses de barrica e mais 12 em garrafa. Ou o icônico Primo, corte de Tannat, Cabernet Sauvignon, Malbec e Petit Verdot, com potencial de guarda de 8 anos, que pode ser encontrado aqui no Brasil por R$599,90.

Já no final da degustação, fomos presenteados por Francisco com uma garrafa de seu Pinot Noir. Cinco meses em carvalho francês fizeram muito bem a esse vinho de média intensidade, com aromas e frutas vermelhas e um leve toque de menta. Acidez, álcool e taninos equilibrados. Pena que a Grand Cru ainda não trouxe esse Pinot Noir.

PIZZORNO FAMILY ESTATES

Propriedade Carlos Pizzorno e lhos Endereço Ruta 32 Km 23 (cruzamento com Ruta

68)

Maceración Carbónica, Tannat Reserva, Primo e Pizzorno Pinot Noir.

Visitas: 4 tipos de visita com degustação, com preços de US$30 a US$60

Restaurante: aberto às 11:00 para almoço harmonizado com visitação aos vinhedos e cantina. Outros horários sob consulta

Alojamento: pousada recém-inaugurada com 4 suítes, entre os vinhedos Site www.pizzornowines.com

Reservas: +(598) 2368 9601 - info@ pizzornowines.com

A CAMINHO DO MAR.

De Montevidéu a Punta del Este são 2 horas de viagem. Vale a pena um desvio a um terço do caminho para conhecer a Bodega Bracco Bosca, a 8 km do mar, na região de Atlântida. Ali tudo começa com a história de dois vizinhos imigrantes italianos. Um deles, o Sr. Bracco, o outro o Sr. Bosca. Um rico, o outro pobre. Um deles teve uma filha, o outro um filho. Bracco e Bosca eram amigos mas viviam discutindo. E foi numa desses discussões,

Francisco Pizzorno, de 25 anos, à frente de exportações e enoturismo da vinícola familiar

Fabiana Bracco lidera a Bracco Bosca em Atlantida: especialista em mercados externos

onde a questão financeira entrou em pauta, que o amigo pobre profetizou para o rico: “um dia meu filho ainda vai se casar com a sua filha e toda a sua fortuna vai ser da minha família também.”

Dito e feito: do casamento das famílias, começa a história da vinícola que hoje está nas mãos de Fabiana Bracco, filha do fundador. De seus belos vinhedos, e com uma estrutura de produção simples, tem conseguido produzir vinhos de qualidade.

O Ombú Moscatel é um vinho branco tranquilo, mantendo o aroma característico dessa importante uva do passado uruguaio, com a leveza de um vinho de acidez intensa e vibrante. Um vinho “sem preconceitos”, como alardeia seu rótulo que estampa uma árvore de ponta cabeça.

É essa árvore, nativa do Uruguai e presente na vinícola, que dá nome aos vinhos da Bracco Bosca. Segundo uma história local, os antigos proprietários das terras da vinícola tinham o costume de guardar suas riquezas enterradas embaixo da tal árvore. O ombú acabou sendo atingido por um raio e perdeu

suas folhas. Com o surgimento da vinícola, a árvore ganhou vida novamente! Isso foi visto como bom augúrio!

Experimentamos mais dois produtos da Bracco Bosca: um Tannat leve, sem passagem por barricas de carvalho e o Gran Ombú Cabernet Franc. Esse um vinho intenso, complexo e volumoso.

Os vinhos da Bracco Bosca são distribuídos no Brasil pela Domno, a preços que variam de R$ 100 a R$ 458,00.

A Bracco Bosca criou atividades diferenciadas para os visitantes, como degustações no vinhedo, parrilla ao ar livre, tirando proveito do espetacular pôr-de-sol que se vê por lá.

BODEGA BRACCO BOSCA

Propriedade Fabiana Bracco Endereço Carretera Sosa Diaz km 43.500Piedra del Toro - Atlantida - Uruguay Rótulos recomendados Ombú Moscatel e Gran Ombú Cabernet Franc Visitas degustações e churrasco ao ar livre, somente com reservas Site: www.braccobosca.com Reservas sales@braccobosca.com +598 (0) 95 225853

DE VOLTA A CANELONES.

A família Varela Zarranz iniciou suas atividades no setor vitivinícola em 1933, adquirindo uma década depois as instalações de uma antiga vinícola construída em 1888 por Diego Pons, um dos pioneiros do setor no Uruguai.

Nosso contato foi com a Mariana Varela Risso: membro da quarta geração de empreendedores.

Eles têm por lá a maior coleção de barricas de carvalho francês em uso no Uruguai, sendo a mais antiga delas datada de 1903.

A Varela Zarranz produz vinhos finos lançados já há mais de 25 anos.

Possuem três linhas de vinhos tranquilos e uma de espumantes. A marca é bastante forte e tradicional no Uruguai, tanto que apenas 20% de sua produção se destina à exportação.

Aqui no Brasil, quem distribui os produtos da casa é a Obra Prima, de Curitiba. No site da importadora, pode-se encontrar alguns tintos, dentre os quais o medalhadíssino Tannat Grand Reserva, que pode chegar na sua mesa por volta de R$ 200,00.

A vinícola Bracco Bosca é muito caprichosa em todos os aspectos e tem detalhes de muito bom gosto

Endereço: Ruta 74, km 29, Joaquín SuárezCanelones, Uruguay - C.P. 91200

Visitas: de segundas a sextas das 10:30 às 16:30, aos sábados a partir das 10:00.

Degustações atividade de 1,5 ou 2 horas, com preços de US$30 a U$45 por pessoa

Almoço na Vinha mediante reserva, com 4 vinhos e 1 espumante, com tábua de queijos e frios + prato tradicional de carne uruguaia, sobremesa, chá ou café, por US$65 por pessoa

Site: www.varelazarranz.com

Reservas: info@varelazarranz.com (+598) 2364 4587 | (+598) 098 312 620

VINÍCOLA BOUZA

Na vinícola Bouza, encontramos com José Manuel Bouza, jovem engenheiro que faz parte da terceira geração da família de imigrantes da Galícia.

Tudo começou com seu avô, torneiro mecânico. Seu principal empreendimento ao chegar no país foi uma fábrica de massas, de olho na grande quantidade de imigrantes italianos que encontrara por ali. Suas pastas fizeram sucesso, o negócio cresceu e a família vendeu a

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- Canelón Chico, Canelones - Uruguai Rótulos recomendados: Don Próspero Sauvignon Blanc, Tannat VIÑA VARELA ZARRANZ Propriedade: Familia Varela Zarranz

fábrica para um grupo internacional. Com o dinheiro, abriram outra indústria, no ramo da panificação. Mais um negócio de sucesso, novamente comprado por uma multinacional e, em 1998 começa a aventura dos Bouza na vitivinicultura.

Apesar de terem 4 vinhedos em diferentes terroirs, os Bouza vinificam e armazenam seus vinhos nas instalações da região frutífera de Melila, bem próxima a Montevidéu.

De seus vinhedos, colhem Tannat, Merlot, Chardonnay, as espanholas Tempranillo e Albariño, além de Riesling e Pinot Noir.

Em cada canto da propriedade –uma antiga vinícola de 1942, adquirida pela família– fica clara a obsessão dos Bouza pelos detalhes que fazem a qualidade de seus vinhos: o cuidado com o manejo de cada planta, a colheita noturna, a seleção cacho por cacho e depois grão a grão, até que cheguem ao tanque de fermentação com a casca intacta para que não exista risco de contaminação.

Para experimentá-los, o local ideal é o Bouza Vinos Garage: um grande salão de degustação decorado com a coleção de automóveis e motos clássicas de Juan Bouza, pai de José Manoel. Um ambiente bem agradável, onde os visitantes podem fazer uma degustação de 4 vinhos, 1 branco e 3 tintos, acompanhados de deliciosas “tapas”.

Mas para degustar os vinhos Bouza em grande estilo, o melhor mesmo é sentar-se no restaurante logo ao lado e desfrutar da Experiência Bouza: um menu harmonizado de cinco pratos, sempre com 2 opções de escolha.

Ali, mais uma vez, os detalhes de qualidade saltam aos olhos: o atendimento é gentil e eficiente (nossa garçonete Anna Mariluz –treinada por Eduardo Boído enólogo e sócio da Bouza– sabia tudo sobre os vinhos que servia), os pratos são preparados pelo chef Gonzalo Bentacur e o desfile de vinhos faz valer cada centavo pago pela experiência.

Dentre os brancos, o Riesling do vinhedo de Pan de Azúcar é levemente

frisante e apresenta uma delicada mineralidade que o torna ainda mais refrescante. Já o Chardonnay dos vinhedos de Las Violetas e Canelones tem um corpo equilibrado, herdado da fermentação de 50% de seu conteúdo em carvalho francês. E o Albariño, produzido com uvas de Las Violetas, Canelones e Melilla, entrega uma complexidade aromática que impressiona.

Na linha dos tintos, provamos 2 varietais: um Merlot muito suave e o Tannat A6, de parcela única e taninos “quase” domados. Os destaques da degustação de tintos, certamente foram os cortes da uva Tannat: o Tempranillo/ Tannat ganhou leveza a ponto de harmonizar até com peixes como merluza ou bacalhau; o Merlot/Tannat ganhou corpo, cor e um agradável aroma vegetal e o “Monte Vide Eu”, que combina as 3 castas em diferentes proporções a cada safra, surpreendeu pela persistência.

Na sobremesa, a opção é o Riesling Colheita Tardia que, apesar de sua modesta doçura, consegue se fazer pre-

vinho magazine 26 2019 VIAGEM URUGUAI
Tanques de fermentação na Bouza: em pequena escala, com controles de temperatura Vinhedo de Tannat da Bouza: o capricho e a preocupação com os detalhes estão em todos os lugares

A Campotinto, de Colonia do Sacramento, tem restaurante e pousada em local estratégico

Vinhedo de Moscatel de Hamburgo, de clones ingleses, plantado em 1995 na área da Campotinto

sente na companhia dos dulcíssimos doces de leite uruguaios.

Destinam apenas 30% do volume produzido às exportações. E o pequeno quinhão brasileiro é da Decanter.

BOUZA

Propriedade Família Bouza Endereço Cno. de la Redención 7658 bisMontevideo - Uruguay Rótulos recomendados: Bouza Albariño, Bouza Riesling, Bouza Tannat A6 e Bouza Monte Vide Eu. Visitas com degustação de quatro vinhos (1 branco e 3 tintos), harmonizados com “tapas” diversas. Valor aproximado: R$135,00/pessoa. Restaurante a “Experiência Bouza” inclui visita guiada, almoço harmonizado de cinco passos e serviço de transporte por cerca de R$340,00. Site: www.bodegabouza.com Reservas (598) 2323 7491 / 3872 / 4030 ou visitas@bodegabouza.com

COLÔNIA DO SACRAMENTO E CARMELO

Nosso passeio por Carmelo começou na Campotinto, empreendimento enoturístico criado e mantido pelo empresário argentino do ramo imobiliário, Diego Viganó.

Quem nos atendeu e convidou para que pernoitássemos na Campotinto foi Veronique Castello, que comanda uma novíssima e confortável pousada de 12 quartos e um restaurante a la carte.

Ao lado de uma simpática e muito bem conservada igrejinha e Incrustada em meio aos vinhedos de Tannat, Merlot, Viognier, Moscatel de Hamburgo e Ugny Blanc, a Pousada Campotinto é ponto estratégico para conhecer os vinhos e vinícolas de Carmelo.

A primeira safra da Campotinto se deu em 2012. Em nossa degustação, provamos 4 vinhos, iniciando com um intenso Viognier que surpreendeu muito positivamente. Passamos para o Tannat/Merlot 2017 e o Tannat Gran Reserva 2016.

A curiosidade da degustação foi o que chamam por lá de “Medio y Medio”, denominação de uma bebida local, nascida em um “bodegón” do porto de Montevidéu, quando um cliente misturou vinho branco seco com espumante doce. O resultado é algo como “um vinho carbonatado demi-sec”.

E como o melhor sempre fica para o

final, lá fomos nós provar a jóia da Campotinto: o Tannat Ícono XVI.

O XVI do nome indica a safra. O vinho estava ainda jovem, potente, com taninos um tanto rebeldes, mas com as características de um grande vinho de guarda. Apesar da tenra idade, foi com o que dele sobrou que harmonizamos nosso jantar no restaurante da pousada: “milanesas con papas”.

CAMPOTINTO BODEGA & POSADA

Propriedade: Diego Viganó

Endereço: Cno. de los Peregrinos, Departamento de Colonia, Uruguai

Rótulos recomendados Campotinto Viogner e Ícono XVI

Visitas incluindo degustações na “Casona”, acompanhadas de queijos e frios

Restaurante: cardápio inspirado na cozinha campesina e clássica italiana.

Alojamento: diária na faixa de US$200, em suítes de 25 a 34m, com cama King Size, Wi-Fi, TV a cabo, frigobar e ar condicionado. Bicicletas à disposição para os hóspedes.

Site: www.posadacampotinto.com

Reservas: +598 4542 7744 ou info@ campotinto.com

vinho magazine 28 2019

De uns meses para cá, parece que os brasileiros redescobriram a capital argentina do vinho. Com a facilidade dos vôos diretos e com o câmbio a nosso favor, Mendoza surge como atração. Depois de um tranquilo vôo de pouco mais de 3 horas, chega-se ao Aeroporto Internacional de Mendoza Francisco Gabrielli, conhecido como El Plumerillo.

O aeroporto é moderno mas minúsculo, com apenas duas portas de embarque internacional; porém, com várias locadoras de veículos à disposição. Numa dessas, pegamos nosso Fiat Cronos brasileiro e seguimos viagem pela mítica Ruta 40, rumo sul para Tunuyán, no centro do Vale do Uco, área de origem de alguns dos mais destacados vinhos argentinos.

LA SAUCINA

Pelo AirBnb escolhemos uma pequena propriedade de turismo rural a pouco mais de 10 km do centro de Tunuyán: La Saucina. O lugar é uma delícia: escondido no final de uma estradinha de terra, cercado de outras

EDUARDO VIOTTI
A região vinícola mais importante da Argentina está mais próxima dos brasileiros: veja dicas de visita, hospedagem e gastronomia
MENDOZA FOTO
POR ZÉ LUIZ TAVARES
VIAGEM ENOGASTRONÔMICA
Anaia: arquitetura integrada

La

Casa Septem: opção pelo enoturismo

pequenas chácaras de agricultura familiar.

A principal edificação é um casarão de adobe restaurado, com cinco confortáveis suítes e uma cozinha comunitária que dá acesso a um delicioso jardim, onde se pode fazer as refeições ao ar livre toda manhã (com direito a frutinhas, iogurte e medialunas), ou mesmo degustar um vinho ao cair da tarde (por lá, no verão, o sol se põe entre 20h30 e 21h00).

Na propriedade há um pomar de várias árvores, inclusive cerejeiras que, segundo nos contaram, estavam lindamente floridas semanas antes da gente chegar.

Armando, o proprietário e gentilíssimo anfitrião, está começando agora a plantar duas parcelas de uvas (Cabernet Sauvignon e, obviamente, Malbec) e em breve pretende engarrafar seu próprio vinho.

Enquanto não tem seu próprio vinho, Armando coloca à disposição de seus hóspedes quatro ou cinco rótulos produzidos por amigos, que ficam expostos na cozinha tentando a curiosidade e a sede da gente. É só pegar, abrir, provar. E depois mandar a foto da garrafa para o whatsapp do Armando, para que ele coloque na conta, é claro! Mas os preços são honestís-

simos, praticamente os mesmos praticados pelos produtores.

O que mais chamou a atenção foi um vinho sem rótulo: o “Sin Nombre”. Segundo Armando, o vinho é produzido por um amigo que estudou enologia no ensino médio e que compra uvas de um produtor muito especial: Gustavo Santaolalla – músico compositor da trilha sonora do filme “Diários de Motocicleta” do brasileiro Walter Salles –, que tem uma pequena propriedade produtiva ali mesmo na região.

É um típico Malbec, com bom corpo e taninos domados.

Não deu pra saber a safra, pois sua única identificação era a gravação “Sin Nombre” na rolha. Mas como o vinho tem agradado, os amigos têm feito um esforço para convencer o produtor a rotular suas garrafas e iniciar a comercialização.

Callejón Ruano 000, M5560 Tunuyán, Mendoza, Argentina

AirBnb: La Saucina - Suite en casa de campo

LA AZUL

A expectativa de almoçar na bodega La Azul era a de uma refeição típica, num ambiente rústico, com vistas para a cordilheira e, claro, bons vinhos!

Não foi bem assim: na verdade, La Azul parece uma mistura de restaurante de estrada com balada latina. É verdade que oferecem vinho à vontade, mas um vinho bem simples. Na verdade, a La Azul é uma produtora de uvas que comercializa seus frutos para as grandes bodegas da região. Só começaram a produzir vinhos em 2017 e ainda têm muito o que evoluir.

A mistura de vinho à vontade com música alta é fatal: gente bêbada cantando e dançando macarena. Se você quer um almoço sossegado e bem harmonizado, La Azul não é o lugar!

Entretanto, a carne servida no menu de três passos estava muito boa, grelhada à moda criolla e servida com vegetais da horta, precedida de uma empanada bem gostosa – mas pequena –, e seguida de sobremesa.

Esse menu com entrada, prato principal, sobremesa e vinho à vontade sai por $7.600 por pessoa, na ocasião algo em torno de R$ 234,46. Isso pelo câmbio oficial. Trocando no paralelo com os doleiros locais, você consegue praticamente o dobro de pesos e o mesmo almoço sai por cerca de R$ 115,00.

La Azul oferece uma visita à bodega, onde o atencioso Pablo conta sobre a história da família e da vinícola, ofere-

cendo provas de vinhos das barricas de carvalho que estão amadurecendo para o próximo engarrafamento Caminos del Vino, M5561 Tupungato, Mendoza, Argentina E-mail: administracion@bodegalaazul.com

Site: bodegalaazul.com

Reservas: +54 2622 603443 (whatsapp)

Restaurante: terça a domingo a partir das 12:00. Jantar sob consulta Degustações: das 10:00 às 12:00 e às 16:00

CASA SEPTEM

A Casa Septem é uma propriedade de plantadores de uva que já se aventuraram na produção de seu próprio vinho, mas deram um passo atrás e resolveram focar no enoturismo.

Em meio a vinhedos de diversas variedades tintas (principalmente Malbec) e algumas brancas, foram erguidas várias edificações, como um hotel boutique, um spa completo com piscinas, uma ampla área de eventos ao ar livre em meio a um parque com lago artificial e um charmoso restaurante.

Batizado de Dux Fuegos, que numa mistura de latim e espanhol pode significar “líder dos fogos”, o restaurante ocupa

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ZÉ LUIZ TAVARES
FOTOS
Azul: carne no ponto certo e vinho à vontade
VIAGEM ENOGASTRONÔMICA

uma construção envidraçada, decorada com elegância rústica, típica da região. Fazendo jus ao nome, os pratos servidos na casa passam por algum tipo de cozimento com chamas, brasas, defumadores ou forno.

O serviço é impecável e gentil. Garçons atenciosos e prontos para esclarecer qualquer dúvida sobre os pratos, os vinhos oferecidos ou a história da propriedade.

Optamos pelo menu de dois passos, escolhendo entre quatro opções de entrada o “Duo de Empanadas em Colchão Fumegante de Alecrim” e a “Linguiça Caseira com Batata Rosty e Molho de Tomate Queimado”. Bárbaro!

Para o prato principal, entre cinco possibilidades, nossa escolha recaiu sobre o “Porco com Mostarda a 62° com Repolho Fermentado e Creme de Erva-Doce” e o “Ojo de Bife Macerado por 7 Dias com Espinafres Salteados, Ostras e Ovo Poché”. Muito bem servidos, elegantemente apresentados e absolutamente deliciosos.

Quanto aos vinhos, como eles não são produtores, elaboraram uma carta com alguns clássicos das principais bodegas mendocinas, como Catena, Zorzal e Zuccardi , além de outras de distribuição regional, menos conhecidas.

Como vendem vinho em taça, provei dois desses “locais”: o ainda muito jovem e rebelde Arrollo Grande 2022, 100% Malbec, da Bodega Piedra Negra; e o curioso Malbec 2018, da Bodega 2456, produzido por quatro ex-jogadores da seleção argentina de rugby: Euse Guiñazu, Manu Carizza, Pato Albacete e Flaco Farías que jogavam, respectivamente, com as camisas 2, 4, 5 e 6. Daí o nome da bodega.

Por esse belo almoço, pagamos $5.000 por pessoa – o que no câmbio oficial representa R$ 154,00 –, mais bebidas, sobremesa e a merecidíssima gorjeta do garçom.

Endereço: El Alamo, Tupungato, Mendoza, Argentina

E-mail: casaseptem@gmail.com

Site: casaseptem.com

Reservas: +54 9 2617 73-6699 (whatsapp)

Restaurante: todos os dias, somente com reserva

ANAIA WINES

No quarto dia de viagem, viajamos por uma hora de volta à região de Agrelo, para conhecer uma bodega absolutamente inovadora. A chegada na Anaia já é impactante. Em meio a 73 hectares de vinhedos, emerge paralelo à cordilheira um impo-

nente edifício horizontal que, segundo o arquiteto mendocino Gabriel Japaz, simula uma dobra tectônica formada a partir do impacto de placas, referenciando o próprio surgimento dos Andes durante o período terciário. Inclusive na mudança de tonalidades terrosas da fachada, comparáveis aos vários estratos que foram se sedimentando ao longo de milhares de anos.

Fomos recebidos por ninguém menos do que a simpática proprietária da bodega, Patricia Serizola, que nos orientou durante toda a visita, degustações e nos relatou a história dessa vinícola realmente diferenciada.

A começar pelo nome, inspirado nos supertoscanos, que em boa parte adotam em suas marcas a terminação “aia”, que no dialeto toscano significa “o lugar de”. Assim como Sassicaia é “o lugar das pedras”, Ornellalia “o lugar das Ornellas” (pequeno arbusto) e Solaia “o lugar do sol’, Anaia pretende ser “o lugar dos Andes”.

Em 2016, Patricia e seu marido Osvaldo Del Campo simplesmente se apaixonaram pelo vinho. Suas famílias não tinham tradição no assunto. A experiência de ambos estava no segmento da tecnologia. E foi justamente sobre o pilar da tecnologia e dos dados que o casal estruturou sua bodega.

Monitoramento via satélite e uma rede de sensores espalhados pelos vinhedos alimentam o servidor da bodega com dados precisos sobre insolação, temperatura, desenvolvimento das plantas, umidade, nutrientes e PH da terra, orientando a necessidade de suplementação nutricional do solo, definindo datas de colheita e comandando a irrigação por gotejamento.

E tudo movido a energia solar, captada por uma bateria de painéis solares instalados no teto do edifício principal.

Os QR codes são presença marcante por toda a vinícola, em cada tonel de fermentação, em cada barril de envelhecimento.

São a porta de entrada para que os enólogos da Anaia acessem o sistema digital de gestão da produção, especialmente trazido da Austrália, para conferir dados de procedência das uvas no vinhedo, detalhes do comportamento das plantas durante o ano, rendimentos, datas de colheita, trabalhos de campo realizados, análises laboratoriais e fichas de degustação dos vinhos. Tudo ali na telinha do celular.

De posse de todos esses dados, então, os enólogos da Anaia – dentre eles o atencioso e empolgado Gonzalo, que acompanhou parte de nossa visita – podem elaborar as ordens de trabalho da vinícola e orientar cada um dos profissionais da

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Vinhedos Anaia: monitorados por sensores
Anaia: tecnologia a favor da qualidade EDUARDO VIOTTI
FOTOS VIAGEM ENOGASTRONÔMICA

bodega no preparo de seus vinhos.

Surpreende na Anaia o fato dos tonéis de fermentação não serem em aço inox. Todos são do tradicional concreto. Mas nem tão tradicional assim! Todos os tanques foram desenhados por Osvaldo, no formato de “cuias de chimarrão”. Parecem enormes “pêras” de concreto, compondo um visual absolutamente “Star Wars”.

Segundo Patricia, esse formato inusitado permitirá, com a ajuda de potentes motores, realizar o balanço ideal para a oxigenação do mosto e a umidificação do chapéu (as massas que bóiam) durante o processo de fermentação.

Tivemos uma degustação de 7 rótulos: Sauvignon Blanc, Malbec Rosé, Malbec, Cabernet Sauvignon, Gran Malbec, Gran Cabernet Sauvignon e o Gran Assemblage de Malbec e Cabernet Sauvignon. Um branco de muito frescor e mineralidade, tintos muito equilibrados e elegantes, e um rosado que nos fez lembrar alguns dos melhores rosés da Provence. Infelizmente, os vinhos da Anaia ainda não estão disponíveis no Brasil, mas devem chegar provavelmente a partir de março ou abril. Vale a pena ficar atento! Ruta 15, km 34, Agrelo, Luján de Cuyo, Mendoza E-mail: info@anaiawines.com - Site: anaiawines.com

FAMÍLIA ZAINA

Depois de um dia imersos em tecnologia na Anaia em Agrelo, demos uma guinada de 180 graus para visitar uma pequena bodega familiar no Vale do Uco: a Família Zaina.

Imigrantes italianos estabelecidos há mais de cem anos na região, são reconhecidos como pioneiros na viticultura argentina. Cultivaram uvas e produziram seus próprios vinhos de forma artesanal até a década de 1990, quando se voltaram para o cultivo de outras frutas, como pêssego e cereja.

Por volta de 2013 a nova geração, capitaneada pelo enólogo Federico Zaina, resolveu voltar a produzir vinhos com a marca da família. Federico possui uma maneira muito especial de ver os vinhos. Para ele, todo discurso técnico sobre castas, safras, blends e envelhecimento, deve se manter restritos a quem os produz, e não a quem os bebe. Para estes, o que importa são as sensações provocadas pelo vinho, o prazer dos aromas e sabores, a degustação de puro hedonismo.

Por isso, fez questão de subverter as leis de mercado, não declarando em seus primeiros rótulos sequer a casta ou origem de seus vinhos. Em seu lugar, preferia contar histórias que remetessem às sensações despertadas pela degustação.

Assim nasceu a “Série Tarot”, com vinhos varietais ou de corte, com nomes referenciando cartas do místico baralho.

“El Loco” foi o primeiro vinho da série, lançado em 2013, com uma pequena edição de precisamente 614 garrafas. Para os curiosos, apenas informavam ser um corte de composição misteriosa. Mas certamente com boa parte de Malbec e Merlot e um toque de Ancellotta.

“La Estrella” foi o segundo vinho da série, inspirado na energia criativa das mulheres da família: profissionais, donas de casa, mães, criadoras, sonhadoras, verdadeiras estrelas. A

edição de 1.300 garrafas começou a ser comercializada em 12 de maio de 2015, aniversário da matriarca Nonna Italia, e é considerado o vinho mais complexo produzido pela Zaina, tendo em vista o tempo de envelhecimento em barril e armazenamento em garrafa.

Logo depois, foi a vez de ”El Ermitaño”: edição de apenas 850 garrafas de Cabernet Sauvignon e Merlot. Ganhou esse nome por ser oriundo de três barricas quase esquecidas na adega, que depois de mais de um ano de maturação tranquila e silenciosa, tiveram seus conteúdos misturados.

Durante a degustação, tivemos a oportunidade de provar o tal eremita que, de fato, mostrou-se um vinho elegante, com taninos bem aparados, corpo consistente e bouquet que remete ao Velho Mundo.

Para acompanhar as provas – e para deixar bem evidente o caráter familiar da bodega – o gentil Juan, nosso anfitrião, nos brindou com uma deliciosa “coca maiorquina” (espécie de foccacia espanhola, receita ancestral de seus descendentes ibéricos), que harmonizou divinamente com os vinhos e histórias.

Também na degustação, viramos outra taça (seria melhor dizer outra carta?): “Los Enamorados”, o quinto vinho da Família Zaina lançado ao público. Apenas 1.500 garrafas de um corte de Malbec e Merlot, segundo eles “em proporções românticas”, após estágio por 10 meses em barricas de carvalho francês e americano. Seguindo a proposta original da bodega, um vinho fácil de beber e capaz de despertar paixões.

Fica claro que, além de competente enólogo, Federico é

marqueteiro nato. Um apaixonado por storytelling e design, sendo ele próprio quem define os nomes e desenha os primeiros rabiscos dos rótulos de seus vinhos, depois aprimorados pelo artista plástico Federico Sola.

Los Volcanes, M5560 Tunuyán, Mendoza Instagram: @familiazaina Site: familiazaina.blogspot.com Reservas: +54 9 2615 87-7915 (whatsapp)

EL PAISANO

Só a descobrimos por indicação do nosso querido amigo Armando, de La Saucina. O lugar é absolutamente ermo, longe de tudo. E aí é que está o seu maior encanto!

Ao pé da Cordilheira dos Andes, depois de um desvio de dois quilômetros por estrada de terra (“La Quebrada” é o nome da tal estrada!) e algumas plaquinhas como referência, chega-se a um portão que finalmente anuncia o destino: El Paisano. Lá dentro, só pela paisagem já vale a viagem!

São apenas uma churrasqueira rústica e 6 mesas ao ar livre, ao lado de um arroio pedregoso que conduz águas de degelo dos Andes. Simplesmente espetacular!

A estrutura oferecida é muito simples. Parece que você está invadindo a casa de alguém. E está mesmo! Segundo reportagem do La Nación, o local era a residência de verão de uma família de descendência síria e libanesa, que a nova geração decidiu transformar em restaurante. Grande sacada!

Pelo whatsapp fizemos e a reserva e recebemos o cardápio do dia: entrada tripla composta de Focaccia Criolla com

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Ambiente familiar na Família Zaina: pioneiros El Paisano: ao ar livre: cuidado com o preço
EDUARDO VIOTTI VIAGEM ENOGASTRONÔMICA
FOTOS

Pasta de Berinjela Defumada (bem normaizinhas!), Sopinha de Maçã, Cebola e Abóbora (superinteressante) e Empanadas de Carne (maravilhosas!); Mollejas no Palito com Curry (dizem ser a especialidade da casa!); e como prato principal Entraña (corte tipicamente argentino, composto da parte de fora do diafragma do boi) com Legumes Grelhados (abobrinha, cenoura, cebola e batata) ou Risoto de Legumes com Queijo de Cabra (como opção vegetariana); e como sobremesas Queijo de Cabra com Doce de Alcayota (fruto local), Hortelã e Pistache, ou Brownie com Cobertura de Chocolate e Doce de Leite com Nozes. Incluindo ainda uma taça de boas-vindas de Sauvignon Blanc e uma garrafa de vinho tinto para acompanhar todo a refeição.

Infelizmente, não reparamos que no cardápio não havia a especificação do preço.

Fomos superbem recebidos pela atendente Aldana e pelo churrasqueiro Camilo (que descobri depois pela reportagem do La Nación que se chamava Daniel), que inclusive nos serviu a Entraña do menu em três diferentes pontos da carne para que pudéssemos observar a diferença.

Quanto aos vinhos, nos serviram um Malbec local bem simples (Icabod Pueblo Dormido) da região de Los Árboles, mas que harmonizou bem com todos os pratos do menu.

O problema foi na hora da conta. Toda a gentileza do tal Camilo, que insistia em dizer que Pelé foi melhor jogador do que Maradona (eu devia ter desconfiado disso!), se transformou numa extorsiva conta de US$100, simplesmente o dobro do que estávamos acostumados a pagar em excelentes almo-

ços. E o pior é que – soube depois – para um outro casal suíço que esteve por lá no mesmo dia, ele cobrou a metade do preço!

É bom tomar cuidado e combinar o preço antes!

Callejón Videla-Guiñazu s/n 5560 Tunuyán, Mendoza, Argentina

E-mail: elpaisanohouse@gmail.com

Facebook: El Paisano Casa de Campo

Reservas: +54 9 2622 44-4338 (whatsapp)

RUDA COCINA

Imagine uma propriedade que junta vinhedos particulares, campo de polo, clube de golfe e – no meio de 800 hectares, a 1.200 metros de altitude, no sopé dos Andes –, um restaurante de chef. O nome desse lugar é Tupungato Winelands e o restaurante é o Ruda Cocina do chef Gastón Trama.

Instalado em uma construção de pedra com mesas e sofás espalhados pelo terraço, o Ruda fica na parte mais elevada do terreno, com vista que se estende até a cordilheira.

A base da cozinha é andina com uso de insumos locais e produtos regionais, e é possível escolher entre uma experiência completa e harmonizada com vinhos da região para duas pessoas, ou pratos avulsos, como a Picanha Inteira de 700 gramas, com salada verde, chimichurri de tomate seco e parmesão, por $6.600 pesos, ou pouco mais de R$ 200,00. Serve tranquilamente duas pessoas; até porque com aquela vista dá até pra se esquecer do prato.

A seleção de vinhos é da sommelier Camila Cerezo, que escalou alguns dos rótulos das bodegas mais representativas do Vale do Uco. Os preços começam em $3.000 (R$ 92,00) e

podem chegar a 30.000 pesos (R$ 1.000,00). Você pode optar por vinho em taça, na faixa dos $800 pesos (R$25,00).

Nossa pedida foi uma taça de Chakana Sobrenatural Tinto, em corte de Tannat e Malbec produzido ali perto, na região de Agrelo, no distrito mendocino de Luján de Cuyo, pela Chakana Wines, antiga dona da propriedade adquirida pelo casal Patricia Serizola e Osvaldo Del Campo para a Anaia.

O rótulo informava tratar-se de um vinho orgânico, biodinâmico e vegano. Na taça, um rubi intenso. No nariz sobressaem os aromas de frutas do bosque. Na boca, um corpo razoável, com acidez e taninos equilibrados e de boa persistência. Enfim, um bom vinho para acompanhar a nossa picanha que chegou à mesa sem aquela grossa camada de gordura que estamos acostumados no Brasil.

Entre as sobremesas, o destaque ficou para o Sorbet de Amoras, Mirtilos e Lavanda, salpicado de sementinhas de girassol. Muito saboroso e refrescante para suportar os quase 40 graus que assolam a região em novembro.

La Costa S/N, Gualtallary, M5561 Tupungato, Mendoza E-mail: ruda.cocina2021@gmail.com

Site: www.grupoalfoz.com/content/ruda.html

Instagram: @ruda.cocina

Reservas: +54 9 2616 18-8114 (whatsapp)

DOMAINE BUSQUET

Foi durante as férias de 1990 que o enólogo francês de terceira geração Jean Busquet descobriu a desértica região de Gualtallary, no Vale do Uco, e vislumbrou seu potencial para a pro-

em prática conceitos de sustentabilidade que sempre os motivaram.

O resultado foi a construção de uma das 20 maiores vinícolas exportadoras da argentinas e líder absoluta na produção de vinhos orgânicos.

No restaurante Gaia, instalado ao lado do lago e de frente para os extensos vinhedos, também servem os famosos menus de quatro passos, harmonizados com vinhos da casa.

Pratos bem feitos, mas nada tão memorável. Já os vinhos têm padrão internacional e caracterizam-se pela valorização de seus aspectos naturais de produção.

Os vinhos da Busquet são todos veganos e orgânicos. Durante o almoço, provamos 4 deles: o Rosé Organic Premium, o Virgen Organic Red Blend (90 pontos JS), o Gaia Organic Red Blend (92 pontos JS) e o Reserve Organic Cabernet Sauvignon (91 pontos JS).

Todos merecedores das excelentes notas concedidas por James Suckling, Tim Atkin, Vinous, Descorchados e outros respeitados analistas mundo a fora. Mas para quem está viajando em busca de novas experiências, é mais do mesmo: nada além do que ótimos vinhos de duty free.

Ruta 89 S/N km 7, Tupungato CP (5561), Mendoza, Argentina E-mail: turismo@domainebousquet.com

Site: domainebousquet.com

Restaurante: experienciagaia.com Reservas: hMps://wineobs.com.ar/mro/domaine-bousquet

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dução de grandes vinhos. Em 2002, sua filha Anne e o genro se encantaram com o lugar e enxergaram na ideia do pai a possibilidade de colocar Ruda Cocina: visual de tirar o fôlego
Gaia da Domaine Busquet: vinhos orgânicos EDUARDO VIOTTI
FOTOS VIAGEM ENOGASTRONÔMICA

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