O RODÃO - Edição Especial - Greve de 1997

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Ano 20 - Florianópolis - Maio de 2017 >>> N° 281

1997

A greve que mudou a categoria

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1997 A GREVE QUE MUDOU A CATEGORIA

Jornais da época noticiaram a greve

Para muitos daqueles que vieram trabalhar no transporte coletivo da grande Florianópolis, na última década por exemplo, pensam que as condições de trabalho e remuneração sempre foram como hoje em dia, mas não é bem assim. Talvez, a grande maioria da categoria nem imagine como era trabalhar como motorista ou cobrador no final dos anos 90.

Além dos baixos salários, uma jornada entendida, intervalos de com mais de quatro horas, vale alimentação não havia, sequer havia lugares adequados para aquecer e comer as marmitas. Uma parcela significativa de trabalhadores ainda dormia a maior parte da semana dentro dos ônibus nas garagens, indo pra casa apenas nos finais de semana.

Parecia espantoso que às portas do Século 21, as condições de trabalho e de renumeração tinham características medievais e deveriam fazer corar de vergonha muitos empresários metidos a modernos naquele tempo.

As coisas eram assim há muito tempo, porque o Sindicato (na época se chamava SINDIMOC), até o final de 1996, estava nas mãos de pelegos que vendiam os direitos da Categoria em troca de benefícios próprios. Esses pelegos foram

tirados da Direção do Sindicato por um grupo de trabalhadores comprometidos em lutar e enfrentar os patrões e sua exploração. A indignação da categoria com a situação em que viviam, a seriedade da maioria da nova direção e o apoio de sindicatos de outras categorias da região, foram determinantes em tudo o que aconteceu desde a abertura da Campanha Salarial de 1997, que terminou com uma importante vitória e se tornou a base de todas as condições negociadas desde então até os dias de hoje.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O primeiro passo foi a realização de um Planejamento que durou três dias do mês de março e contou com apoio do DIEESE, especialistas do setor de transportes e negociações coletivas.

Além de discutir questões sobre a composição da tarifa em Florianópolis e quais eram as tendências das Campanhas Salariais de outras categorias. Também foram estudados os pontos fortes e fracos para garantir melhores conquistas aos trabalhadores.

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ASSEMBLEIAS LOTADAS GARATEM PROPOSTAS E AÇÕES Um dos motivos que mais contribuíram para a consolidação das demandas da Categoria naquele ano, foi sem dúvidas a grande participação dos trabalhadores nas Assembleias. FOI A MASSIVA PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES que passou um recado forte da categoria para os PATRÕES: O SINDICATO não é mais PELEGO, o SINDICATO AGORA É DE LUTA! Na Assembleia de aprovação da Pauta de Reivindicação, que aconteceu em no dia 14 de marco, foram criadas seis Comissões para coordenar as atividades da Campanha Salarial: Coordenação Geral, de Negociação, Comunicação e Cultura, Infraestrutura e Apoio, Finanças e Eventos e de Mobilização.

RODADAS DE NEGOCIAÇÃO INFRUTÍFERAS ALIMENTAM INSATISFAÇÃO DA CATEGORIA Uma característica bastante comum da maior parte dos empresários brasileiros, que parece não mudar ao longo do tempo, é a indiferença com que costumam tratar as demandas de seus empregados.

Naquele ano, após 20 dias da entrega da Pauta, os patrões sequer se manifestaram quanto aquele conteúdo. Os representantes dos trabalhadores insistiam e os empresários se faziam de mortos. As tentativas fracassadas de diálogo, mostraram que o patronato não queria negociar e só estava enrolando, como faziam com as Direções pelegas que antes tocavam o Sindicato.

O SINDIMOC já tinha um planejamento e tinha previsto este cenário de descaso, por isso não ficaria parado esperando a boa vontade dos patrões. Já havia um plano de mobilização para exigir o que constava da Pauta daquele ano.

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TIQUETE, CATRACA ELETRÔNICA, JORNADA e GANHO REAL

estavam entre as principais reivindicações dos Trabalhadores

INSATISFAÇÃO CONVERTIDA EM LUTA A postura, de “não é com a gente”, dos empresários, só aumentou a indignação e disposição de luta da categoria. Assim, no dia 30 abril, uma assembleia realizada no auditório da Catedral, no centro da Cidade, com lotação inédita na história do SINDIMOC até então, aprovou, por unanimidade, o estado de greve,

com previsão iniciar a greve a partir da zero hora do dia 8 de maio daquele ano.

O resultado de 40 dias de desculpas furadas para não negociar foi o que tornou a greve cada vez mais real. Os patrões, acostumados a lidar com pelegos, não imaginavam que as coisas haviam mudado de verdade no Sindicato dos

Trabalhadores. NEM TODO SINDICALISTA É VENDIDO, foi a lição que os patrões aprenderam naquele momento.

GREVE EMINENTE LEVA PATRÕES APRESENTAR PROPOSTA CC Mesmo com a categoria dando mostras de não estar blefando com a greve, os patrões apresentaram como proposta a manutenção do acordo anterior, conhecido como ACORDO CARACU, onde os patrões entraram com a “CARA”. E isso, não contemplava, nem de longe, as reivindicações da categoria.

Rejeitada pela categoria na Assembleia do dia 07 de maio, a proposta foi devolvida com uma resposta bem curta e clara: “Ou é calça de veludo ou bunda de fora!”

Um bordão usado pelo Companheiro Joaquim Martins na abertura de todas as assembleias daquele período. Para alguns, hoje em dia pode parecer um pouco vulgar, mas, representava exatamente a situação daquele momento, onde os(as) trabalhadores(as) do transporte NÃO TINHAM NADA A PERDER, de tão aviltantes que eram as condições de trabalho e de remuneração.

48 HORAS QUE PARECERAM UMA ETERNIDADE Agora era tudo ou nada! Desde a zero hora do dia 08 de maio, os Motoristas e cobradores cruzaram os braços. Como o Sindicato não tinha condições de contratar uma tenda de lutas, como fazemos hoje, as plenárias para organizar os piquetes foram realizadas no Largo da Alfândega.

para tentar coagir os trabalhadores paralisados.

A cidade amanheceu perplexa, não acreditando no que ocorria, os patrões com o apoio dos tradicionais veículos de comunicação, jogava toda a responsabilidade pra cima dos trabalhadores. Mesmo assim boa parte da população reconhecia Já na primeira madrugada o clima ficou as péssimas condições de trabalho da muito tenso já que os “fura-greve” insis- categoria dos transportes. tiam em trabalhar. Incidentes envolven- Aos patrões se uniram os grandes comerdo grupos isolados ocorrem por toda a ciantes da cidade para juntos pressionacidade e a patrãozada acionou a polícia

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rem os órgão de repressão a reprimirem o movimento. Nas primeiras 24 horas dezenas de trabalhadores foram presos e as negociações não avançavam.

No segundo dia a repressão contra os piqueteiros foi ainda maior: Helicóptero, cães, grupos táticos, batalhão de choque sob a benção do Governador Paulo Afonso e da Prefeita Angêla Amin, o número de detentos foi acima de uma centena. Em frente a Empresa Transol houve confronto quando as forças de repressão tentaram remover as barricadas montadas pelos trabalhadores em greve.

Na madrugada de sexta para sábado, após 48 horas na tentativa de obrigar os trabalhadores a retornarem, patrões, seus aliados e as forças de repressão perceberam a determinação dos trabalhadores em não desistirem de terem suas demandas atendidas e cederam na mesa cebeu enfim, que um Sindicato que não garantir alimentação, “rolavam as famode negociação intermediada pela Justiça se vende, luta para defender e conquistar sas vaquinhas” entre trabalhadores(as) direitos para sua categoria. e apoiadores(as). Cada qual colaborava do Trabalho.

O anuncio oficial da vitória e que o mo- O sindicato, recém tirado das mãos da com o que tinha, muitos foram fazer pevimento estava encerrado se deu naquela pelegada, não tinha condições financei- dágios nas ruas, para ajudar. madrugada do dia 10 para o dia onze, em ras e estruturais para garantir a greve e pleno terminal Cidade de Florianópolis. providenciar a infraestrutura necessáA partir dessa greve a Categoria passou ria ao movimento. Foi neste momento a tomar consciência do tamanho de sua que a Categoria deu um banho em emforça, de sua enorme capacidade de re- penho e disposição de luta: quem tinha sistência para enfrentar os ataques e os carro colocou-o à disposição para levar desmandos patronais. A Categoria per- os companheiros para as garagens. Para

O Apoio político e financeiro de outros Sindicatos foi fundamental para garantir a vitória determinante na vida futura de toda a Categoria, que até hoje valoriza a solidariedade entre trabalhadores apoiando outras categorias em suas lutas.

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O RODÃO Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Urbano, Rodoviário, Turismo, Fretamento e Escolar de Passageiros de Florianópolis e Região EDITORAÇÃO ELETRÔNICA MFPG - 11.826.202/0001-03 ENDEREÇO: Av. Mauro Ramos, 398 - Centro Florianópolis (48) 3286-5675 sintraturb@terra.com.br

Confira nos gráficos a evolução que começou com a luta de nossos companheiros a 20 anos atrás.

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Confira a edição do Rodão que apresentou os resultados da greve de 1997.