Prancha Concurso Rosa Kliass 2024

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PARQUE PIRAPÓ

ARQUITETURA DE ÁGUA E TERRA

Este projeto de arquitetura da paisagem trata da implantação e estudo preliminar do Parque Pirapó: um centro esportivo e parque público pautado em estratégias de recuperação e educação ambiental localizado à margem do Rio Pirapó, no município de Maringá, Paraná. O parque visa promover o desenvolvimento estratégico regional, tornando-se um polo de treinamento para atletas de Triathlon e remo. A área total possui 255,40 hectares, sendo 181,01 hectares passíveis de intervenção e o restante de Áreas de Proteção Permanente do Ribeirão Maringá e do Rio Pirapó.

A proposta inicial de promover lazer e práticas esportivas à margem do rio que abastence o município tornou-se um processo de recuperação ambiental ao ser constatado em visita à campo e artigos acadêmicos que as águas do rio estão turvas, decorrente de assoreamento, e contaminadas por defensivos agrícolas e lançamento clandestino de esgoto doméstico (Alves et. al 2008). Assim, insurge a proposta de aplicar sistemas regenerativos, que utilizam o relevo, solo, plantas e processos biológicos no tratamento da água. O tratamento aplicado é a fitorremediação. O trabalho apoia-se na importância da prática de atividade física, na carência de um espaço adequado para treinos aquáticos de alta performance na cidade e no caráter educativo da implantação de um parque nas margens do rio e em total simbiose a este. Considera-se aqui a importância de levar a população ao rio que abastece o município, para ilustrar seu imaginário das condições atuais e da importância das medidas de proteção, recuperação e sustentabilidade.

O terreno, em síntese, encontra-se em área rural de uso agrícola. Na região, há algumas indústrias e dois parques aquáticos: Ody Park (16 km) e Solar das Águas Quentes. Este último conta com linha de transporte público. A topografia tem declive suave em direção aos rios, sem impedimentos para a ocupação.

Como estratégia de zoneamento ambiental, a área

3 setores seguindo uma cota intermediária em decorrência da escala do projeto. Assim, propõe-se três classes de uso em seu programa de necessidades: Esportivo, Educativo e Eventos. No setor esportivo, foca-se no usuário praticante de esportes aquáticos, como nado livre, remo e caiaque, além de competidores, amadores e profissionais de triathlon (evento que reúne natação, ciclismo e corrida). No setor educativo, aproveita-se do sistema de fitorremediação para atividades de lazer e educação ambiental voltadas ao público geral e visitações escolares. Em seguida, tratando-se de um parque vicinal, onde há maior tolerância para geração de ruídos, propõe-se uma esplanada para realização de festivais de música e outros eventos.

O setor esportivo está agrupado em esportes aquátivos e esportes coletivos. A área de esportes aquáticos conta com a raia olímpica, um depósito de caiaques, duas piscinas olímpicas e vestiário. Já a área de esportes coletivos é composta por um ginásio coberto, quadras poliesportivas descobertas e um vestiário.

No conjunto voltado à educação ambiental tem-se viveiros para produção de mudas, marquise com vão livre para jogos e atividades escolares, percurso com espécies identificadas na mata ciliar e um deck contemplativo para que os

usuários do parque tenham o imaginário ilustrado com a paisagem do rio. Para o visitante que busca lazer, o projeto traz uma piscina natural alimentada por água tratada, um lago contemplativo, área para piquenique, redário, além de restaurante, loja e uma casa de chá/herbário.

O setor destinado a apresentações musicais é composto por um palco coberto e arquibancada para 3.800 pessoas sentadas, além de estacionamento (200 vagas) e pátio para montagem de praça de alimentação e sanitário

Ainda no que tange a setorização, a raia olímpica exige uma linha reta de 2,2 km e uma declividade suave, portanto, sua posição foi imposta pela topografia. Os setores de eventos e esportivo foram isolados nas extremidades do parque para possibilitar o controle de acesso, enquanto os tanques de fitorremediação e os equipamentos de lazer foram posicionados próximo ao acesso principal. Em razão de possíveis alagamentos e respeitando-se as áreas de amortecimento, evitou-se edificações próximo ao rio.

Segundo a Confederação Brasileira de Triathlon, as distancias oficiais da competição são 1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida. Desta forma, propõe para treinos uma via interna de 8,8 km pavimentada com asfalto borracha (asfalto de pneus) para corrida e ciclismo (Figura 2).

1. PORTARIA 2. RESTAURANTE 3. LOJA 4. ALMOXARIFADO 5. CONCHA ACÚSTICA 3.800

18. PISCINAS OLÍMPICAS 19. VESTIÁRIO 20. ARQUIBANCADA 21. RAIA OLÍMPICA 22. DEPÓSITO DE EQUIPAMENTOS 23. QUADRAS POLIESPORTIVAS 6. MEANDROS DE FITORREMEDIAÇÃO 7. SISTEMA DE FITORREMEDIAÇÃO 8. REDÁRIO 9. VIVEIRO COBERTO 10. VIVEIRO DESCOBERTO 11. MARQUISE PARA EVENTOS 12. PERCURSO EM MATA CILIAR 13. DECK 14. LAGO CONTEMPLATIVO 15. PISCINA NATURAL 16. ÁREA PARA PIQUENIQUE 17. MIRANTE CASA DE CHÁ

ESPÉCIES ARBÓREAS

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Fig. 1: Rio Pirapó.
Fig. 2. Vias internas.

PARQUE PIRAPÓ

No projeto, o uso de insumos locais reduz a pegada de carbono e define a materialidade das edificações. Os materiais disponíveis ao projeto são a terra e a rocha basalto, usadas, respectivamente, no método construtivo e pavimentação (paralelepípedos, petit pavet), além do embasamento das edificações. Construções em terra exigem um intervalo granulométrico específico. O solo local foi analisado e definiu-se as proporções de areia e cal para aumentar sua resistencia.

A técnica construtiva selecionada para as edificações é a taipa de pilão seguindo a tipologia “Culata Yovai”. Nesta tipologia, dois blocos fechados contrapostos definem a espacialidade através da formação de um vão central coberto e vazado. Ainda que as plantas e a espacialidade de cada edificação variem de acordo com o programa de necessidades, a tipologia apresentada no corte a seguir repete-se com pequenas variações no pré-dimensionamento dos elementos estruturais (Fig. 4).

Por fim, a linguagem plástica adotada para o parque remete aos signos de água e terra. No projeto, a água, por sua fluidez e leveza, é retratada por linhas orgânicas, círculos e semicírculos, enquanto a terra, simbolicamente sólida e firme, é representada por paredes ortogonais, espessas, resultantes do sistema construtivo em taipa de pilão, escolhido para construção das edificações de apoio.

TIPOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES

Vista 4. Bloco educativo e viveiros.

PERSPECTIVA EXPLODIDA

VEGETAÇÃO APLICADA

A arborização do parque segue duas estratégias: para o reflorestamento da mata ciliar foram escolhidas espécies adaptadas a solos pobres e com facilidade de germinação de sementes, além de frutíferas para atrair animais (SEMARH, 2007).

Para a composição paisagística utilizou-se de uma diversidade de formas, portes e texturas para criar cenários apropriados para cada tipo de uso. As espécies de médio e grande porte foram usadas para criação de maciços de mata densa, pinheiros e araucárias nos altos topográficos, espécies colunares nas praças, palmeiras e árvores de copa pendentes próximos as águas, além de árvores de forma ou cores vistosas plantadas isoladamente. Os arbustos e forrações escolhidos são plantas tropicais que não demandam poda ou grandes cuidados. Para os tanques de fitorremediação utilizou-se espécies sugeridas pelo correlato e material técnico de fitorremediação. Em referência à pintura “O jardim das delícias terrenas”, citada no capítulo “Água”, buscou-se representar a purificação da água através de um percurso com transição de espécies pouco vistosas (com capins e taboas), passando por arbustos coloridos (helicônias, cana-da-índia, lírios-d’água, etc.) e terminando no tanque e piscina natural com ninféias, bromélias e vitória regia.

Vista 9. Piscina Natural.
Vista 5a. Casa de chá.
Vista 5b. Casa de chá.
Vista 6. Tanque de fitorremediação.
Vista 7. Restaurante e Loja.
Vista 8. Depósito de caiaques, pista de ciclismo e raia olímpica.
Fig. 3. Amostra de solo.

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