Lutero

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LUTERO E O SEU COMPROMISSO COM O SER HUMANO Rev. Waldyr Hoffmann1 Analisar Lutero dentro do seu contexto social, econômico e eclesiástico é um desafio para os teólogos e historiadores de todos os tempos, especialmente por se tratar de alguém que tanto contribuiu para a sociedade, desencadeando todo um processo de mudanças antes não visto. O objetivo em questão é tirar conclusões das conseqüências práticas da Reforma, ressaltando o compromisso de Lutero com o ser humano. Exponho, de forma sucinta, a sua influência sobre a sociedade, querendo, com isso, estimular a todos ao aprofundamento das questões. CONTEXTO Do ponto de vista da Igreja católica, as mudanças de caráter social, econômico e cultural que ocorreram a partir do século XIV, marcando o fim da Idade Média e o nascimento do mundo moderno ocidental, provocaram uma crise muito forte na instituição eclesiástica e na vivência da fé católica. Diversos grupos passaram a solicitar reformas urgentes e a protestar contra a lentidão e a dificuldade da igreja em adaptar-se aos novos tempos. Dessas divergências resultou a cisão no seio da Igreja Católica e o surgimento das denominações protestantes. A figura do monge católico Martinho Lutero é exemplar a esse respeito. Diante da emergência progressiva dos idiomas modernos, Lutero apregoava a necessidade de que o culto fosse celebrado em língua vernácula, a fim de diminuir a distância que se interpunha entre o clero e o povo. Desejoso de que os cristãos de sua pátria tivessem acesso às fontes religiosas da fé, traduziu a Bíblia para o alemão. Nessa mesma perspectiva, proclamou a necessidade de adotar para os clérigos os trajes da sociedade em que viviam e contestou a necessidade do celibato eclesiástico. As diversas denominações protestantes surgidas nesse período, como o luteranisno na Alemanha, o calvinismo na Suíça e o anglicanismo na Inglaterra difundiram-se rapidamente em vista de sua maior capacidade de adaptação aos valores da emergente sociedade burguesa. A profunda vinculação da igreja romana com o poder político, a partir de Constantino, e a progressiva participação da hierarquia eclesiástica na nobreza ao longo da Idade Média fizeram com que os adeptos da fé católica tivessem dificuldades muito grandes para aderir à evolução da sociedade européia. A Igreja Católica reagiu de forma conservadora não só às novas perspectivas culturais, como também às reformas propostas por Lutero. A expressão mais forte dessa reação antiburguesa e antiprotestante foi o Concílio de Trento, realizado em meados do século XVI. Em oposição ao movimento protestante que defendia a adoção da língua vernácula no culto, os padres conciliares decidiram-se pela manutenção do latim. Acentuou-se o poder clerical na estrutura da igreja e o celibato sacerdotal foi reafirmado. Diante da popularização da leitura bíblica promovida por Lutero, a hierarquia católica recomendou a divulgação de catecismos com resumo das verdades da fé. Na visão protestante percebemos que os problemas eram diversos, não foi muito diferente da nossa época:  A situação dos cristãos sob a autoridade do papado ia se tornando cada vez mais sombria.  Havia abandono espiritual do povo;  Não tinham escolas, nem livros e nem Bíblia;  Conhecimento cristão era coisa rara – em conseqüência, a ignorância ia aumentando;  O diabo semeia joio no meio do trigo. Com isso, doutrinas errôneas vão surgindo, como por exemplo: a) Purgatório – imaginavam que o papa e a igreja pudessem amenizar a situação rezando missas com mais assiduidade. Quem tivesse muito dinheiro, não ficaria muito tempo no purgatório;

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Palestra proferida pelo Prof. Waldyr, numa ótica protestante, para ser resenhada e debatida em brupo


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Lutero by Waldyr Hoffmann - Issuu