Vivência Punk N° 4

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2015 e aquele vento direitista que surgiu no embate presidencial entre dilma x serra em 2010 insistem em permanecer, tendo a pretensão de se tornar um furacão e varrer com tudo que conhecemos e entendemos por democracia para bem longe, com o país se tornando mais conservador, menos laico, com diversas garantias civis e trabalhistas sendo sistematicamente ameaçadas e com o trio estado + mídia + fundamentalistas religiosos tentando recriar a história. Antes reclamávamos da apatia e falta de interesse da população por questões políticas. Agora temos que nos preocupar com a impressionante capacidade que esse pessoal tem de absorver merda em forma de “ideias políticas”. A elite (a elite de verdade, aquela que fica tranquilamente no alto da pirâmide social e não essa pretensa elite que andou participando dessas micaretas bisonhas) controla os meios de comunicação, perpetuando o senso comum e assim, guiando a nação rebanho para onde lhe interessa. E se a republiqueta caminha a passos rápidos para uma guinada à direita, a esquerda tem culpa e não é pouca. Preocupada apenas com conchavos, jogou no lixo sua história numa tentativa de se perpetuar no poder. O que era social se tornou partidário e sabemos que isso tem vida curta. O desejo de poder a cegou, a ponto da esquerda se tornar a direita e... o resto é a história ainda sendo escrita. Com pouca idade e ainda frágil, a democracia treme e o conservadorismo ganha espaço. E o que esse blá blá blá tem a ver com o punk? Tudo! Só pegar as letras de músicas, os fanzines, os vídeos, que já estava tudo lá, com o punk avisando que isso não daria certo. Apesar das limitações, os registros estão aí para confirmar. Mas continuamos do lado de cá, rechaçando as patéticas tentativas de “endireitização” de nossa caminhada. Queremos tudo para nós e para as outras pessoas. Não podemos ser felizes apenas se nós tivermos e continuar a faltar para outras pessoas. Ainda que com as dificuldades de hoje, palavras como solidariedade, respeito, camaradagem entre outras estejam em desuso, elas fazem parte do punk e do nosso existir e funcionam como o cimento que mantém juntos os tijolos. Sem o cimento, os tijolos não ficam juntos e a parede cai e essa analogia também vale para o punk. Que continuemos acreditando e lutando pela liberdade e por um mundo onde caibam vários mundos. Sem isso o punk se torna um rolê vazio, e ele tem e pode oferecer muito mais do que tem oferecido nos últimos tempos. Cabem a nós corrermos atrás e fazer acontecer. Agradecimentos: Vinicius Primo (fanzine Serve-se Morto), Angelita, (L)Índio, Daniel Costa e Romulo Carlos por terem compartilhado o zine numa rede social qualquer, Fabio Rodarte, Maria José, Tamires (bilú bilú bilú), Diego & Atos de Vingança, Bereba & blog Atitude Punk Libertária, Leandro & Unleashed Noise Records (pelas palavras de apoio e bons bate papos), Jüninhö (Artigo DZ9?), Contra (especialista em alfajorgebenjor vegana e poliglotismo), blog Fúria de Vênus, Cecília, Jéssica I e II, Juliana, Ana Paula, Ruan Gótico, Legolas, Mackoy, à Terra que nos dá o alimento e não vê a quem e a todxs que com palavras tentam simbolizar a angústia que é viver.

“Eu não morro de amores pelo trabalhador em forma ideal, como existe na mente do comunista burguês. Mas quando vejo um trabalhador verdadeiro, de carne e osso, em conflito com aquele que é seu inimigo natural, o policial, não preciso indagar a mim mesmo de qual lado devo estar.” – George Orwell - Homenagem à Catalunha.

Dedicamos esse zine a Eduardo Galeano e às vítimas da tragédia ocorrida no Chile, promovida pelo capitalismo travestido de punkismo. Eduardo, que seus escritos continuem a servir de inspiração para insurrecionárixs de todo o planeta, assim como possivelmente serviu de inspiração para xs jovens de Santiago. Vocês não serão esquecidos.


TEMPO LIMITADO Por Karl Straight O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo uma vida ociosa e vazia. Não fique preso aos dogmas de quem vive com os resultados das outras pessoas. Não deixe que o barulho da opinião de outras pessoas cale a sua voz interior. E o mais importante, tenha coragem de seguir seu próprio coração e a sua intuição. De alguma maneira, ambxs sabem o que você realmente deseja, o que fazer e como agir. Todo o resto é secundário.

CAIA NA REAL Por Karl Straight Caia na real! Todxs nós já ouvimos algumas vezes essa expressão (é uma das ideias mais estúpidas que já ouvi). Isso nunca vai dar certo! Caia na real! Quanta idiotice. Devido à existência da zona de conforto que muitxs acreditam ter e estar, temos uma tendência a reagir negativamente quando ouvimos algumas ideias inusitadas. Geralmente quanto mais inovadora, mais recusa ela causa nas pessoas. Essa reação pode ser descrita da seguinte maneira: se eu nunca ouvi falar ou se vai contra tudo o que aprendi até hoje, então não presta! Caia na real! Essa atitude negativa não trará qualquer benefício para nosso desenvolvimento individual ou em grupo. Na verdade, este tipo de atitude consegue criar um clima bastante negativo, censurando ações e ideias positivas. No entanto fique atento, existe um lado positivo se você usar esta experiência de acertos e erros. Caia na real! Esteja pronto para mudar completamente seu paradigma e obtenha todos os benefícios de uma mudança.

NOTA DO AUTOR Por Karl Straight Quando vejo um fanzine como esse, primeiro leio e vejo o que o autor tem a dizer. Sublinho seções ou parágrafos/linhas e frequentemente escrevo na margem palavras ou frases que me parecem relevantes. Desse modo, posso mais tarde folhear o fanzine e, de relance, reler frases e ideias que me forem bastante úteis e que me fazem refletir sobre as várias situações da nossa vida. Esse processo me proporciona a oportunidade de absorver a sabedoria das ideias. Com o tempo, os pensamentos que mais significam para mim podem se tornar parte da minha consciência. Eles podem no final se transformar em mudanças e modo de agir. Reflita e pense sobre isto, porque a cada momento temos surpresas no nosso cotidiano. Ler um zine como este de uma única vez pode não ser proveitoso. Se fizer isso, o máximo que pode acontecer é você obter uma noção geral das convicções do escritor. E você pode conseguir muito mais que isso.


Espero que você aproveite os textos que lê e as imagens que vê, que mostram a realidade desse mundo mentiroso. Espero que faça deste fanzine um grande amigo. Com o tempo, a medida que você for convivendo com as ideias que contém aqui - ideias reais de solidariedade, reflexão, consciência política, de companheirismo, militância e cooperação – elas se tornarão sua nova realidade e você se transformará numa nova pessoa. Pessoalmente, acredito que essa transformação seja para melhor. Para você enquanto pessoa e para todo o coletivo.

O APOLITICISMO QUE GERA FALTA DE VERGONHA E LEVA MUITXS A ACEITAREM BANDAS PILANTRAS Por Treva Nos últimos anos temos ouvido com mais frequência termos que nem sempre foram comuns ao punk. Termos como oi!, street punk, skinheads antifascistas, união entre subculturas e mais alguns que no momento não lembro, ganharam adeptxs e gente para fazer sua defesa. Na mesma proporção, muitas pessoas se posicionaram contra essa brisa, gerando debates fundamentalistas entre as partes envolvidas. E antes que alguém venha dizer que esse texto é sectário ou pró-união, digo que ambos os lados tem seus méritos e deméritos na defesa e no ataque. Sem contar que a ideia desse texto não é tomar partido de quem ataca ou defende, e sim comentar uma situação existente hoje e que tem muito a ver com essa brisa. Sempre ouvimos falar ou lemos que, historicamente, as informações quase sempre chegaram de maneira deturpada para punks daqui. E isso é verdade, infelizmente. Não só para punks, mas para toda a juventude das décadas passadas. Mas estamos em 2015, a imensa maioria de punks possui acesso a internet, então informação deturpada deveria ser algo distante. Pois não é! Ainda hoje, mesmo com essa tonelada de informação a disposição, muita gente prefere a ignorância, que em muitos casos leva ao mau-caratismo, e usam a desculpa da informação deturpada numa tentativa de justificar o injustificável. Na década passada, a onda street punk chegou a Sampa. Independente da subdivisão, acho todas estúpidas, servindo apenas para dividir, alimentar egos de pessoas que buscam ser cada vez mais radicais dentro de algo que por sua própria natureza já é radical e para criar divergência. E no caso do street punk, divergência é o que não faltou nem falta. Com a desculpa da informação que chega deturpada, muitxs idiotas abraçaram a nova onda no que tange ao som, visual, comportamento e ideias (ou falta delas). Som e visual é de boa, mas no comportamento e ideias a coisa complicou. Esse binômio girava em torno de encher o rabo de drogas, arrumar treta com qualquer pessoa, vadiar naquele shopping center cheio de lojas de discos que fica na região central de Sampa, parasitar no punk e, para ferrar de vez, ser paga pau de pilantra. Isso rolava porque essa criançada besta via na net punks e skinheads juntos em gigs e manifestações, e como a maioria esmagadora dessa criançada recém-saída do berçário não conhecia nenhum skinhead antifascista (talvez por serem pouquíssimos naquela época), tampouco entendiam as diferenças ideológicos existentes nessa subcultura, acharam que ficar de namoro com carecas era a mesma coisa. E disso para namorarem boneheads foi um pulo. Essa patifaria permaneceu, dando origem a algumas ganguezinhas de merda que circulam pelas ruas de Sampa e insiste em se acharem a versão 2.0 dos droogs ou dos warriors. Vergonha alheia na tóra! Acredito que essa aberração tenha conseguido nascer e sobreviver graças aos anos


despolitizados do movimento na década passada, quando os interesses mudaram e o deslumbramento com novas possibilidades (diga-se grana fácil) se fez presente entre bandas, gravadoras e afins. A raiz do problema já foi comentada na edição anterior em um texto chamado “Uma Década Perdida Para o Punk na Grande SP”. Anos se passaram, mas a idiotice continua a existir, persistindo na tentativa de contaminar o punk com valores doentes. E de uns anos para cá, com o surgimento de uma nova leva de skinheads teoricamente não ligados aos conhecidos grupos intolerantes, muitas bandas com postura ambígua que nutrem desejo de ingressar nessas fileiras ou as que sempre militaram pela causa intolerante, que tocam nos eventos dessa escória, começaram a alimentar o sonho de saírem dos buracos fétidos que se encontram e tocar para mais pessoas (skinheads não intolerantes, punks, pessoas descoladas e rockeirxs em geral) e em espaços mais estruturados. Resumindo: querem se passar por inocentes bandas de rock, ou rock rueiro como muita gente diz. Algumas até deixaram de usar o termo “oi!” para identificar o som, talvez para facilitar a comercialização de suas músicas ruins. Existem bandas desse tal rock rueiro com temática não relacionada à intolerância, mas a questão aqui são as bandas que até pouco tempo eram a trilha sonora da galera intolerante ou simpáticas a essas quadrilhas. Essas bandas de rock bueiro (que é o nome correto da bagaça) sempre estiveram intimamente ligadas a carecas e boneheads. Usam o mesmo visual, cantam a realidade desses grupos, defendem sua “idiotologia”, possuem integrantes que militam nos grupelhos citados acima. Não existe chance de desvincular a imagem dessas bandas das quadrilhas que sempre as apoiaram. Bandas nazistas tem mais dificuldade para passarem despercebidas e serem inseridas em um universo rockeiro por motivos óbvios. Mesmo assim tem gente tentando passar pano. Já as bandas carecas se utilizam da democracia racial existente em seu grupo para tentarem contatos, apresentações e quem sabe, vender algum material para pessoas desavisadas ou mesmo recrutar mais palermas para ingressar em sua fileira de guerreiros sem cérebros. Essa suposta democracia racial que tanto dizem ter em seu grupo não deve ser aceita como desculpa ou justificativa para a aceitação das bandas, já que o grupo em questão também sempre pregou o ódio contra quem consideram inferiores. Como me disse uma pessoa muito próxima, “careca só não é bonehead por causa da melalina”. Pois é, porque de resto é o mesmo lixo. Nos anos 90/00 rolou uma tentativa de suavizar a questão das bandas pilantras, com o lançamento de três coletâneas repletas de bandas escrotas e uma conhecida banda punk. Alguém aí pode dizer que o contexto da época era outro, mas ideologicamente os grupos já estavam definidos e separados, e participar dessa coletânea foi uma escolha infelizmente por parte da banda punk. Felizmente a tentativa de golpe foi rechaçada pelos punks da época e quanto à banda, passou a maior parte dos anos seguintes no limbo e ensaiando algumas voltas. Isso não quer dizer que a banda fosse simpática a esses grupos. Talvez a soma de inocência em aceitar gravar, vontade louca de divulgar a banda e um mais um tanto de desdém para com o punk enquanto movimento sócio-político e contracultural, levou-os a essa presepada. Uma década e meia passou, quando acreditávamos que nunca mais iríamos ver outra baboseira do tipo, um abestalhado morador de condomínio fechado e vocal de banda merda, talvez motivado pela mágoa de ter levado uma simpática tijolada na fuça durante uma apresentação anos atrás em um festival punk (e depois, como compete a qualquer frouxo, pediu socorro para os guardinhas municipais presentes), decidiu lançar uma coletânea “istruiti panqui”, unindo uma geração mais nova de bandas de rock bueiro, outras que ninguém sabe ao certo do que se trata (talvez rock de condomínio fechado com piscina) e algumas bandas punks. Punks? Sim, bandas punks! Não importa de qual lado ideológico a banda se encontra, o que une todas em torno desse


lançamento é o desejo incontrolável de ter material lançado e conseguir alguma visibilidade. O desespero é tamanho que não se importam do material ter sido lançado por um paspalho, tampouco ficam com vergonha por dividirem o lançamento com bandas ideologicamente tão distintas, jogando no lixo coerência, nome e respeito que possuem em seus respectivos rolês. O barraco foi e ainda é grande. No punk, teve gente com cara de pau de defender o lançamento, dizendo que ser contra a coletânea é papo de sectário chato e todo aquele mimimi burro que se tornou característica dessa molecada vazia que passa boa parte do tempo em cima do muro, esperando o momento certo de cair... sempre do lado de lá, do lado da pilantrada. Ainda bem que o choro é livre, mas poderiam ter chorado nos reservatórios para ajudar no combate a falta d’água em SP. Bom, questionar banda punk sobre participação em coletânea que tem banda pilantra é ser sectário? Desculpa, questionar essa patifaria é ser punk com o mínimo de coerência, bizarro é defecar com os dedos no teclado para defender essa abominação de coletânea. E se não fosse algo realmente escroto, as bandas quando questionadas teriam respondido sem estresse, sem barraco ou com aquela falácia fajuta do “eu não tinha informação sobre as bandas participantes, você sabe quanto tempo de rolê eu tenho ou o que já fiz pelo punk?” Basicamente, foram esses os argumentos usados por integrantes de bandas punks envolvidas nessa escrotidão. Na boa, nem argumentos decentes tiveram para se defender e ao verem que estavam sendo questionados de verdade, fizeram beicinho e saíram pela tangente, pique político em depoimento na cpi do mensalão. Muito punk essa atitude! No caso das outras bandas, também rolou polêmica, mas aí quem pode explicar é quem vive esses rolês. E aqui abro parênteses: bandas skinheads teoricamente não ligadas aos grupos intolerantes dividindo uma coletânea com bandas pilantras que cantam para intolerantes? Na boa, melhor sorte na escolha da próxima vez. Com esse bundamolismo sem fim, fica difícil reclamar do flyer, do zine, da mídia ou do que quer que seja que nivela todo mundo que raspa a cabeça, usa botina e suspensório como lixo. Ajudaram a queimar o próprio filme, atrasaram o lado de quem corre pelo que é certo e ainda querem pagar de vítimas. Na boa, vocês são uns bostas! Eu sei que algumas pessoas vão dizer “lá na gringa a coisa é diferente” ou “tal banda participou de uma coletânea ou lançou material por determinado selo”, como se argumentos tão simplistas fossem suficientes para justificar a cegueira ideológica presente nesse caso e que leva pessoas que se intitulam punks a curtirem, apoiarem e defenderem bandas/lançamentos ligados de alguma maneira a grupos direitistas que em seus discursos negam o direito dx outrx de existir. Não estamos anos 70/80 ou 90 e nem na gringa, estamos em 2015 e no Bra$il. Vivemos o presente para termos um futuro. O passado está lá para aprendermos com ele e não repetirmos os erros. De resto, ficar nesse blá blá blá caduco é perda de tempo e uma tremenda falta de vergonha na cara de quem defende. Não vai ser dessa maneira, com essa defesa infantil, sem argumentos concretos, despolitizada e desconexa, que sonhadorxs vão conseguir estruturar uma cena oi!, street ou a porra que seja nas quebradas. Porque, tomando por base essa coletânea bostenga e o monte de besteiras que bandas envolvidas postaram no mundo virtual, tenho a impressão que a união entre subculturas que esse pessoal almeja visa deixar de lado a política (que gera rivalidade e violência) e tomar para si como norte o ato de farrear e nada mais. Nada de política, nada de militância, nada de coerência, nada de bom senso, apenas farra. E isso não vai rolar! Vão continuar a serem rechaçadxs, ridicularizadxs, desprezdxs e levando bicudas. O sonho dessa galerinha abestalhada não pode nem vai sobrepor-se a dura realidade da guerra que vivemos nas ruas. A integridade física de punks e de minorias está envolvida. Um pouco de coerência e bom senso seria interessante. Alguma leitura também poderia ajudar ao invés de ficarem fazendo berreiro na net. Se não está bom no punk, é só fazer aquilo que de melhor esse pessoal tem feito nos últimos anos e já mostraram ser expert: deixa de ser ambíguo e desce do muro, segue a caminhada do lado de lá e para de parasitar do lado de cá.


Além da coletânea, bandas de rock bueiro estão tocando com mais frequência em espaços que até pouco tempo atrás ninguém imaginaria. Isso é o resultado do processo de limpeza da imagem que tenta a todo custo desvincular essas bandas das quadrilhas intolerantes. Todo mundo que tem banda deseja tocar em lugares legais e com algum público e essxs escrotxs não são diferentes. Ao passarem apenas uma imagem de descoladxs por causa do visual, de cantarem sobre breja e futebol e de amenizarem o discurso de ódio em prol do apoliticismo, fica bem mais fácil conseguir agendar shows e aparecer em blogs, sites ou revistas. E tem muita, mas muita gente abraçando isso como se fosse normal, o surgimento de uma nova cena. Mas é só ver quem os integrantes das bandas têm adicionado naquela rede social, pesquisar por cartazes de shows ou mesmo prestar atenção nos códigos visuais das pessoas, nas artes de seus lançamentos e nas letras para termos certeza do que se trata: bandas pilantras, com integrantes pilantras e que tocam para pilantras. Nada mais que isso. Esses ocorridos (aceitação e apoio a bandas pilantras) denotam uma despolitização do rolê, abrindo espaço para que esse tipo de coisa aconteça com mais frequência. Falta de leitura, de apoio, de solidariedade, de estrutura, tudo isso e mais um monte de coisas somadas faz com que o punk se torne menos imune a doenças sociais, incluindo aí o famigerado apoliticismo. Ele é a doença a ser combatida, a porta de entrada para vícios sociais nojentos, para preconceitos e por aí vai. Foi a porta de entrada para o absurdo que é vermos “punks” defendendo e participando com suas bandas nessa coletânea e não aceitando questionamentos devidamente embasados. O apoliticismo é interessante apenas para pilantras, para quem nutre alguma simpatia por essa corja e para quem não tem marcas da dura realidade de um país de terceiro mundo falsamente democrático. Elxs ganham com isso, nós perdemos. Apoliticismo é a árvore que gera frutos podres como machismo, racismo, homofobia, lesbofobia, transfobia, xenofobia entre outros. E no punk não deve haver espaço para isso. Punk vive o punk, seja tocando, escrevendo, organizando eventos, militando na luta social ou colando para prestigiar o que acontece no movimento. Punk não apoia, não defende nem interage com lixo de direita. Defensorxs da coletânea, por favor, façam essa conta: vocalista bunda mole de banda comercial e ruim que segue tendências e dono de selo apolítico + nunca somou nada no punk + defende bandas direitistas porque o que importa é a música + cola com lixo + coletânea incluiu bandas intolerantes + parte gráfica remete ao nacionalismo + sempre chorou na mídia alternativa para justificar sua privilegiada condição social. Conseguiram fazer a conta? Conseguiram né, e tenho certeza que o resultado não foi bom. Na minha conta, o resultado foi “deveria ter morrido quando levou a famosa tijolada na fuça”. É possível chegar a resultados mais ou menos drásticos, depende de cada pessoa. Ainda que para muitas pessoas esse texto possa parecer uma cagação de regras, a ideia passa longe disso. É apenas um questionamento sobre uma situação desagradável e que tem chance de se repetir com frequência, caso não fiquemos espertxs. Quem defende as bandas ou a coletânea não é necessariamente pilantra, até que se prove o contrário. Mas é uma pessoa sem coerência, isso não tem como negar. E insistir na defesa, mesmo tendo consciência dos fatos é que causa estranheza e levanta suspeita. Punk é punk, pilantra é lixo e ambos não se misturam. É assim que deve ser.

POR UM MOVIMENTO PUNK COERENTE, POLITIZADO, COMBATIVO, UNIDO E INDEPENDENTE. FORA APOLÍTICOS COM SUA POSTURA FROUXA E AMBÍGUA. VOCÊS NUNCA FORAM, NÃO SÃO E NEM SERÃO BEM-VINDOS!


P.S.: saiu (ou vai sair) uma coletânea antifascista em resposta ao lançamento do playba bunda mole. E aí ficam os questionamentos: se a cena oi! antifascista é tão real como algumas pessoas afirmam e acreditam, porque demoraram tanto tempo para lançarem algo do tipo? Porque só após o lançamento de uma coletânea bostenga e com algum poder de envenenamento cultural é que surgiu a disposição para lançarem algo? Antes não havia necessidade? Produzir sua própria cultura, batalhar para desmistificar ideias que estão enraizadas no imaginário popular ao invés de ficar pedindo seguro para punks ou de mimimi em rede social não seria mais interessante, útil e produtivo? E uma conhecida banda punk paulistana foi convidada a participar dessa coletânea, mas o teor da letra da música que sairia na mesma foi ofensivo para algumas pessoas envolvidas no trampo e optaram por excluir a banda. Ora bolas, se o punk é anarquista, nutrir desprezo pela política partidária, ainda que seja de esquerda, é algo natural. Pois é, esse foi motivo para que algumas pessoas envolvidas com o lançamento da coletânea e atreladas a essa podre política partidária de ex-querda ficassem melindradas e censurassem a banda. Ou seja, oi! antifascista com pegada Coréia do Norte. Preto, vermelho e subversivo, mas nem tanto.

OITO DE JULHO DE 2014, UM ANO DEPOIS Por Treva 2013 foi um ano atípico para o Bra$il. A republiqueta acostumada com a balela de paz, amor e pedintismo, com lutas sociais fragmentadas, de baixa repercussão e sempre criminalizadas pela mídia suja e reprimidas com extrema violência pelo braço armado do estado, viu multidões tomarem as ruas em grandes manifestações como há muito tempo não se via. Está certo que boa parte dessas pessoas era marinheirxs de primeira viagem e outras eram coxinhas. Sem contar que houve uma clara tentativa de cooptação da luta popular pelos partidecos políticos, repressão, prisões etc. Mas foram dias excitantes por tudo que estava envolvido, mostrando que a mudança começa nas ruas e não com dizeres eloquentes por parte de âncora de telejornalixo ou manchete na primeira página de jornaleco ordinário. E claro, foi a chance que muita gente esperava há anos e que souberam aproveitar muito bem: chutar policiais, quebrar suas cabeças e mostrar que essa cambada de passa fome é apenas merda. Toda a movimentação de 2013 e seu aparente sucesso incentivaram muitas pessoas a se prepararem para 2014, iniciando a campanha Não Vai Ter Copa/Copa Pra Quem? O ano da copa chegou e com ele diversas surpresas desagradáveis. O estado, feito de tonto no ano anterior, dessa vez estava preparado. Armou e muito a jagunçada, criou novas táticas de enfretamento contra manifestantes, criou leis, teve apoio incondicional do judiciário tendencioso e corrupto, da mídia corporativa e de boa parte da pseudo esquerda vendida na defesa intransigente do megaevento e na criminalização das lutas. Inclusive, diversos movimentos sociais optaram por ficar em casa vendo os jogos, não sem antes trincarem num conchavo com políticos para garantir parte de seus interesses (que por sinal, foram deixados de lado após a copa. Se foderam!). Do lado dxs lutadorxs sociais, faltou articulação, preparo para enfretamentos e apoio popular. Houve um gritante esvaziamento nas manifestações de 2014 com a classe média desistindo de engrossar o coro de descontentes com suas coreografias de programa de auditório e gritos de ‘sem violência!’ para a polícia ou para adeptxs da ação direta. Também deve ter ficado o choque do ano anterior, ao se verem sendo espancadxs pela força repressiva que acreditavam só agredir pessoas na periferia e criminosxs (que para o senso comum é a mesma coisa) ou os “baderneirxs” do black bloc, e fez o esperado que era sumir das ruas. A classe média que um ano antes estava nas ruas porque “fazer política é legal, importante e porque o gigante acordou”, coxinhando nojentamente as manifestações, sem


interesse em saber do que se tratava, que só reclamou da ex-guerrilheira que é presidente, decidiu ficar em casa e aceitar o presente dado por ela. Sim, a copa de merda foi um presente para a classe média, algo para se autoestimarem, mas mal agradecida que é, aceitou o presente e deu as costas para a presidente. Como diz o ditado, “um gambá cheira outro.” Classe média e dilma são o mesmo tipo de lixo, aquele podre, fedorento e que causa náusea e vômitos em desavisadxs. Apesar da repressão pesada e do clima de ditadura, manifestantes tentaram se fazer ouvir e exercer um direito que as pessoas acreditam existir, mas que já está quase virando lenda: o da livre manifestação. Esse direito só é válido enquanto está no papel, porque quando é colocado em prática se torna crime. E assim tentaram fazer valer seu direito constitucional, que foi brutalmente reprimido em todos os lugares. Sobrou bomba, spray de pimenta, gás lacrimogênio, detenções, revistas vexatórias, balas de borracha, xingamentos, humilhações e cacetadas. O estado defendeu os interesses da empresa gringa organizadora do evento com toda a violência que é inerente ao capitalismo. Nada poderia atrapalhar a copa do mundo e seriam usados todos os meios necessários para garantir o direito da fifa de ganhar muito dinheiro. Assim foi antes, durante e depois da copa. E não adiantou Anistia Internacional, ONU, ONGS diversas ou imprensa estrangeira criticando a violência estatal. A copa aconteceria por bem ou por mal, situação típica de países vassalos, totalmente subservientes aos desmandos do capital. Uma copa do mundo militarizada para o mundo ver, mas que graças à deficiência intelectual e política que boa parte da população tem, não foi capaz de provocar nenhum mal estar ou vergonha. Vitória fácil do pão e circo para uma população, independente de classe social, que deseja ser servil (mesmo que isso não seja da sua natureza e história), receber migalhas do estado e agradecer por isso. Mas veio o dia 8 de julho e com ele a vergonhosa derrota. Xs manifestantes já vinham avisando nos meses anteriores a copa e erraram por pouco, por muito pouco. Não vai ter copa, e pior que não teve mesmo. Bom, alguém pode dizer que teve, mas não do jeito que a nação rebanho esperava. Para quem acreditou em um time frouxo, cheio de jogadores hipócritas/mercenários, preocupados com sua autoimagem e que se quer conhecem a história do futebol brasileiro, liderados por um ex-treinador e sua comissão técnica de várzea, ficou o assombro com o ocorrido. A seleção que tudo ganha, a maior detentora de títulos, o país que fabrica grandes craques, levou uma surra (fora o show de bola) da seleção alemã em uma semifinal e, para piorar, em casa. 7 x 1 e foi pouco. Em nome da felicidade momentânea que é torcer pela seleção, muita gente deixou a humanidade de lado e fez questão de esquecer as cerca de 170 mil famílias desalojadas violentamente, as mazelas sociais, xs presxs políticos referentes às manifestações, a higienização social nas cidades sedes, a constituição rasgada diversas vezes, a violência policial, os operários mortos durante a construção de estádios, a legislação trabalhista que foi esquecida, a roubalheira desenfreada e a farra com o dinheiro público, o país sendo governado temporariamente por uma empresa “sem fins lucrativos”, o estado de exceção criado para garantir a copa e os lucros da corja, os legados inexistentes. Enfim, para quem aceitou as migalhas que foram oferecidas, sobrou muita decepção. Mas não foi por falta de aviso. Depois de tudo que aconteceu entre 2013 e 2014, resignado em frente à telinha, assistia a partida entre Brasil e Alemanha, na esperança de alguma alegria. Toda a raiva, tristeza, frustração, vontade de explodir com tudo e todos, deu lugar a uma alegria imensa logo no primeiro gol. Não poderia imaginar que outros seis ainda viriam. A cada gol pulava comemorando, lembrando a repressão que lutadorxs sociais sofreram pelo país. Era fácil escutar a vizinhança se lamentando gol após gol sofrido pela seleção brasileira, enquanto eu comemorava na maior cara de pau. Imaginava a cara perplexa das pessoas que não se incomodaram com o custo financeiro e social para a realização desse lixo no país, ao verem seu sonho de título sendo transformado no maior vexame futebolístico do país. Um silêncio


brutal caiu sobre a cidade, só cortado por uns poucos xingamentos de quem ainda, mesmo que desavergonhadamente, torcia pela canalhada de verde e amarelo. A cada gol que o Brasil levava, a euforia aumentava, me tomava por inteiro. Em um curto espaço de tempo, tudo que li, ouvi, vi e vivi relacionado a esse um ano de manifestações passou pela minha mente. Lembrei-me do fenômeno arrombado que disse que com hospitais não se faz copa, do arrombado que é rei de merda do futebol e pediu o fim das manifestações e apoio a seleção, da esquerdalha putrefata que defendeu essa porcaria em troca de vantagens, da fifa e cbf que empurraram o evento goela abaixo das pessoas e essa nova maneira de torcer, de pseudos intelectuais que cagaram pela boca inúmeras vezes, de toda corja política, das polícias que inúmeras vezes tiveram seus rabos chutados com todo o ódio que alguém pode sentir (isso vale também para funcionários do metrô de Sampa, que são uns pelegos escrotos e ainda tem gente que defende esses lixos), do judiciário parcial e de rabo preso, da mídia suja, da alta cúpula criminosa do governo federal (e que ainda acredita ser de esquerda, provando que políticos não possuem ideologia, a não ser amor ao poder e ao dinheiro sujo) que ofereceu a guardinha nacional para ajudar a massacrar as manifestações, do povo coxinha que ama pular e cantar nas manifestações como se estivessem numa micareta e acreditam que revolução se faz implorando por direitos e não com luta, da classe média que recebeu de presente uma copa do mundo e, de quebra, os 7 x 1. Lembrei-me da nação rebanho que se enrolou no trapo verde e amarelo cantando hino e que vai continuar a ter memória curta, que ignorou tudo de nefasto que rolou pelo país para que essa copa fosse realizada no padrão fifa e que gerasse os lucros para uma minoria, que torceu, cantou, chorou pela seleção e que também cantou pela repressão, torceu pela prisão de manifestantes e chorou quando viu que não tinha arrego do lado de cá. Lembrei que intelectualmente a classe média é ignorante e que muito provavelmente ainda iriam defecar pela boca nos meses subsequentes ao torneio, o que se mostrou verdadeiro, com pedidos de impeachment, intervenção militar, panelaços (vergonha alheia), marchas e outras aberrações. Mas ver a decepção estampada na fuça dessas pessoas fez valer todo o tempo nas ruas durante as manifestações, com tudo que de ruim veio com isso. A derrota pode não ter sido o juízo final que muita gente esperava, mas foi vexatória e deixou marcas. Podem até dizer que não se importaram, mas sabemos que é mentira. Os meses passaram e já faz quase um ano que rolou esse jogo fatídico para a autoestima futebolística brazuca. E o que ficou, se é que ficou? Alguém precipitadamente pode dizer ‘nada’, mas não é isso que parece. O legado deixado pelo megaevento foi grana para poucas pessoas, estádios modernos que não atendem a realidade do futebol brasileiro e que para não ficarem totalmente ociosos, estão sendo usados para eventos que nada tem a ver com futebol. Sem contar que tem estádio já dando problemas e necessitando de reforma. Ficaram centenas de obras inacabadas, outras centenas de vidas destruídas por diversos motivos. Ficou um rombo no orçamento devido ao gasto absurdo com esses estádios, uma polícia mais truculenta (se é possível isso), preparada para defender as facções criminosas que governam o país. Ficaram famílias desalojadas, sem nomes e rostos, que já foram esquecidas pelo governo e pela sociedade interessada apenas no espetáculo e indiferente às pessoas. E essa pseudo classe média em avançado estado de putrefação, sempre se colocando como vítima, continua com seu chororô, reivindicando a manutenção de seus poucos e falsos privilégios, independentes de quais sejam e desejando exclusividade no viver cotidiano. Essa tão comentada e cantada classe média repete o discurso da elite e age como se fosse pertencente a ela, mas está a anos luz de distância da mesma. Para sua tristeza, sempre estiveram mais próximos da classe baixa, que tanto desprezam. A ilusão que o consumismo proporcionou se tornou pesadelo em forma de dívidas e agora ficam abraçando toda sorte de ideias estúpidas. Infelizmente, muita gente que faz parte dessa parcela menos favorecida da população, seja por motivos financeiros, religiosos, sexuais ou qualquer outro que as façam sempre ser colocadas


como minoria, também aderiu a onda de diarreia política... oooops, digo, onda reacionária. A semi-elite sente-se em perigo ao cogitar a possibilidade de voltar a ser o que era até pouco tempo atrás (umas pessoas fodidas de grana, essa é a real), com a perda de seus poucos privilégios, justificando seus pedidos estapafúrdios de intervenção militar entre outros absurdos. E a elite, bom, a elite está preocupada em sugar, explorar, dilapidar tudo e todxs até onde for possível e caso algo dê errado e esse buraco que chamam de pátria implodir, pegam suas coisas e vão morar em outro país e desfrutar as benesses que a pilhagem traz. Mas o legado realmente cabuloso foi esse estado autoritário disfarçado de democracia. Ficou definitivamente claro, mesmo para quem sempre fez questão de não enxergar, que a democracia brasileira só é válida enquanto não existe questionamento por parte da população e interesses que não os nossos estejam em risco. Caso contrário... Apesar das coisas não terem funcionado como o esperado, foi gratificante ver a derrota e a decepção na cara da multidão que se contenta com pão e circo. Ficou claro que não vivemos em um estado democrático, mostrando mais uma vez sua face autoritária e preparado para uma guerra contra uma parcela da população, que mesmo sendo minoria naquele momento, conseguiu incomodar. Enfim, para garantir o lucro sujo das grandes corporações envolvidas no megaevento, vidas foram destruídas, vivemos por semanas um estado quase que de exceção e foi necessária a militarização da vida cotidiana para que nada desse errado. Apesar dos discursos inflamados daquela meia dúzia de criminosxs políticos, não há nada para se orgulhar da realização do tal evento nessas condições. Ainda que mídia caseira tenha mostrado apenas festas e confraternização, sabemos que nem tudo foi uma maravilha. Quando se diz que o capitalismo destrói e mata, pode ser difícil imaginar como. Imagens de crianças desnutridas em localidades distantes daqui ou de outros países logo vêm à mente, mas uma copa do mundo em um país de terceiro mundo mostra isso claramente e do lado de casa. As atrocidades, as violações, os escândalos, as mentiras aconteceram e só não viu que não quis, porque não tem humanidade e nem sentimento de solidariedade (cegueira causada pelo egoísmo e indiferença?) ou porque é militante esquizofrênicx do partidinho dos trambiqueirxs ou de algo semelhante. Ano que vem acontece as Olimpíadas, outra roubalheira desenfreada. Mais uma centena de absurdos ocorrendo e pouquíssimas pessoas dando a devida atenção. Outra dose cavalar de pão e circo para manter as pessoas acomodadas, e para quem ousar questionar, mais violência, mais prisões, mais autoritarismo. E a certeza de outro vexame por parte do Bra$il. #nãotevehexa

VIVA O PUNK Por Unxs Punx Texto original em espanhol. Tradução: Contra Me recuso a pensar que os preconceitos, as divisões, o ódio e a violência ocuparam nossos corações destruindo nossa rebeldia, nossa atitude, nossa amizade, nosso sonho, nosso amor real. Nascem essas palavras à raiz da inquietude que nos provoca o sucedido na noite passada de 16 de abril, já que não estamos dispostos a guardar silêncio cúmplice, e tomamos posição crítica ante nós mesmxs como punx.


A questão não é de se devem ou não haver avalanchas... a questão é que até o momento não temos sido capazes de gerar uma forma autogestionada de espaços para compartilhar o punk e o estilho de vida faça você mesmx. Não podemos nos deixar enganar e pensar que as pessoas são “vadias”, que “não querem pagar por nada”, como o que temos lido tanto a propósito dessa história triste, são os responsáveis de que tenhamos mortxs e feridxs em uma gig. A comodidade da sedução comercial, o feito de deixar a dinâmica consumista (consumidor – produto) solucione tudo, acaba em desastre... queremos apreciar bandas, ver nossxs amigxs tocarem? Se limitar a comprar uma entrada e consumir o show, diz o que de nós mesmxs? Que compramos o punk numa loja de varejo?... se é assim, então já perdeu todo o sentido. Basta com as reclamações estilo PROCON. Neste momento necessitamos de correção, reflexão, amor e autogestão. Necessitamos fazer do punk novamente um lugar e um espaço nosso, de encontro fraterno; livre de mesquinhez e ambiguidades. O punk não é uma alternativa a disco para encher nossos ilusórios espaços de ócio que nos concede a vida moderna. Punk é protesto, é contracultura, é uma negação cotidiana à maneira de viver que este mundo nos impõe. Queremos aqui enviar um gesto amoroso à todxs que estão passando por esse momento difícil, e também a aquelxs que se solidarizam com estes sentimentos. Com amor, unxs punx.

OS DEMÔNIOS DO DEMÔNIO Por Eduardo Galeano Texto originalmente postado no site da revista Le Monde Diplomatique Brasil - 2005 O Demônio é mulçumano A experiência prova que a ameaça do Inferno é sempre mais eficaz que a promessa do Céu. Benditos sejam os inimigos Dante já sabia que Maomé era terrorista. Por alguma razão o colocou em um dos círculos do Inferno, condenado à pena de prisão perpétua. “O vi partido”, celebrou o poeta em A Divina Comédia, “desde a barba até a parte inferior do ventre…”. Mais de um papa já tinham comprovado que as hordas muçulmanas, que atormentavam a Cristandade, não eram formadas por seres de carne e osso, eram um grande exército de demônios que aumentava quanto mais sofria com os golpes das lanças, das espadas e dos arcabuzes. Hoje em dia, os mísseis fabricam muito mais inimigos que os inimigos das entranhas. Porém, que seria de deus, afinal de contas, sem inimigos? O medo impera, as guerras existem para


desbaratar o medo. A experiência prova que a ameaça do Inferno é sempre mais eficaz que a promessa do Céu. Benditos sejam os inimigos. Na Idade Média, cada vez que o trono tremia, por bancarrota ou fúria popular, os reis cristãos denunciavam o perigo muçulmano, desatavam o pânico, lançavam uma nova Cruzada, o santo remédio. Agora, há pouco tempo, George W. Bush foi reeleito presidente do planeta graças o oportuno aparecimento de Bin Laden, o grande Satã do reino, que as vésperas das eleições anunciou, pela televisão, que ia comer todas as crianças. Lá pelo ano de 1564, o especialista em demonologia Johann Wier teria contado os demônios que estavam trabalhando na terra, a tempo integral, a favor da perdição das almas cristãs. Eram sete milhões quatrocentos e nove mil cento e vinte sete, que agiam divididos em setenta e nove legiões. Muita água fervente passou, depois daquele censo, debaixo das pontes do Inferno. Quantos são, hoje em dia, os enviados do reino das trevas? As artes do teatro dificultam as contas. Estes falsos continuam usando turbantes, para ocultar seus cornos, e longas túnicas tampam os rabos do dragão, suas asas de morcego e a bomba que carregam debaixo do braço. O Demônio é judeu A colossal carnificina organizada por Hitler culminou uma longa história de perseguição e humilhação Hitler não inventou nada. Há mil anos, os judeus são os imperdoáveis assassinos de Jesus e os culpados de todas as culpas. Como? Jesus era judeu? E judeus eram também os doze apóstolos e os quatro evangelistas? O que você disse? Não pode ser. As verdades reveladas estão além das dúvidas e não exigem mais evidências do que a própria existência. As coisas são como se diz que são, e se diz porque se sabe: nas sinagogas o Demônio dá aulas, e os judeus desde há muito se dedicam a profanar hóstias e a envenenar águas bentas. Por causa deles aconteceram bancarrotas econômicas, crises financeiras e derrotas dos militares; são eles que trouxeram a febre amarela e a peste negra e todas as outras pestes. A Inglaterra os expulsou, nenhum escapou, no ano de 1290, porém isso não impediu Chaucer, Marlowe e Shakespeare, que nunca tinham visto um judeu, fossem obedientes à caricatura tradicional e reproduzissem personagens judeus segundo o modelo satânico de parasita sanguessuga e o avaro usurário. Acusados de servir ao Maligno, estes malditos andaram durante séculos de expulsão em expulsão e de matança em matança. Depois da Inglaterra foram sucessivamente expulsos da França, Áustria, Espanha, Portugal e de numerosas cidades suíças, alemães e italianos. Os reis católicos Izabel e Fernando expulsaram os judeus e também os muçulmanos porque sujavam o sangue. Os judeus haviam vivido na Espanha durante treze séculos. Levaram com eles as chaves de suas casas. Há quem as guardem ainda. Nunca mais voltaram.


A colossal carnificina organizada por Hitler culminou uma longa história de perseguição e humilhação. A caça aos judeus tem sido sempre um esporte europeu. Agora, os palestinos, que jamais a praticaram, pagam a culpa. O Demônio é mulher “Toda a bruxaria provém da luxúria carnal, que nas mulheres é insaciável” O livro Malleus Maleficarum, também chamado O Martelo das Bruxas, recomenda o mais ímpio exorcismo contra o demônio que tem seios e cabelos compridos. Dois inquisidores alemães, Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, o escreveram, a pedido do Papa Inocêncio VIII, para enfrentar as conspirações demoníacas contra a Cristandade. Foi publicado pela primeira vez em 1486 e até o final do século XVIII foi o fundamento jurídico e teológico dos tribunais da Inquisição em vários países. Os autores afirmavam que as bruxas, do harém de Satanás, representavam as mulheres em estado natural: “Toda bruxaria provém da luxúria carnal, que nas mulheres é insaciável”. E demonstravam que “esses seres de aspecto belo, cujo contato é fétido e a companhia mortal” encantavam os homens e os atraíam com silvos de serpentes, rabos de escorpião, para aniquilá-los. Os autores advertiam aos incautos: “A mulher é mais amarga que a morte. É uma armadilha. Seu coração, uma rede; e correias, seus braços”. Esse tratado de criminologia, que enviou milhares de mulheres às fogueiras da Inquisição, aconselhava que todas as suspeitas de bruxaria fossem submetidas à tortura. Se confessassem, mereceriam o fogo. Se não confessassem também, porque só uma bruxa, fortalecida por seu amante, o demônio, nos conciliábulos das bruxas, poderia resistir a semelhante suplício sem soltar a língua. O Papa Honório III sentenciara que o sacerdócio era coisa de machos: – As mulheres não devem falar. Seus lábios têm o estigma de Eva, que provocou a perdição dos homens. Oito séculos depois, a igreja católica continua negando o púlpito às filhas de Eva. O mesmo pânico faz com que os mulçumanos fundamentalistas as mutilem o sexo e lhes cubram a cara. E o alívio pelo perigo conjurado leva os judeus mais ortodoxos a começar o dia sussurrando: “Graças, Senhor, por não me ter feito mulher”. O Demônio é homossexual Em nenhum lugar do mundo se levou em conta os muitos homossexuais condenados ao suplício ou a morte pelo delito de sê-lo


Desde 1446, os homossexuais iam para a fogueira em Portugal. Desde 1497 eram queimados vivos na Espanha. O fogo era o destino merecido pelos filhos do inferno, que surgiam do fogo. Na América, ao contrário, os conquistadores preferiam jogá-los aos cachorros. Vasco Núnez de Balboa, que entregou muitos deles para a refeição dos cães, acreditava que a homossexualidade era contagiosa. Cinco séculos depois, ouvi o Arcebispo de Montevidéu dizer o mesmo. Quando os conquistadores apontaram no horizonte, só os astecas e os incas, em seus impérios teocráticos, castigavam a homossexualidade com a pena de morte. Os outros americanos a toleravam e em alguns lugares a celebravam, sem proibição ou castigo. Essa provocação insuportável devia desencadear a cólera divina. Do ponto de vista dos invasores, a varíola, o sarampo e a gripe, pestes desconhecidas que matavam índios como moscas, não vinham da Europa, mas sim do Céu. Assim, Deus castigava a libertinagem dos índios que praticavam a anormalidade com toda a naturalidade. Nem na Europa, nem na América, nem em nenhum lugar do mundo se levou em conta os muitos homossexuais condenados ao suplício ou a morte pelo delito de sê-lo. Nada sabemos dos longínquos tempos e pouco ou nada sabemos dos tempos de agora. Na Alemanha nazista, estes “degenerados culpados de aberrante delito contra a natureza” eram obrigados a exibir a estrela amarela. Quantos foram para os campos de concentração? Quantos lá morreram? Dez mil? Cinqüenta mil? Nunca se soube. Ninguém os contou, quase ninguém os mencionou. Tampouco se soube quantos foram os ciganos exterminados. No dia 18 de setembro de 2002, o governo alemão e os bancos suíços resolveram “retificar a exclusão dos homossexuais entre as vítimas do Holocausto”. Levaram mais de meio século para corrigir essa omissão. A partir dessa data os homossexuais que tinham sobrevivido em Auschwitz e em outros campos, se é que ainda haja algum vivo, puderam reclamar uma indenização. O Demônio é índio Os conquistadores cumpriram a missão de devolver a Deus o ouro, a prata e outras várias riquezas que o Demônio havia usurpado Os conquistadores descobriram que Satã, quando expulso da Europa, tinha encontrado refúgio na América. Nas ilhas e nas praias do mar do Caribe, beijadas dia e noite por seus lábios flamejantes, habitadas por seres bestiais que andavam nus, tal como o Demônio os havia colocado no mundo, que cultuavam o sol, a terra, as montanhas, os mananciais e outros demônios disfarçados de deuses, que chamavam de jogo ao pecado carnal e o praticavam sem horário nem contrato, que ignoravam os dez mandamentos e os sete sacramentos e os sete pecados capitais, que não conheciam a palavra pecado nem temiam o inferno, que não


sabiam ler nem tinham nunca ouvido falar do direito de propriedade, nem de nenhum direito e que, como se tudo isso fosse pouco, tinham o costume de comerem uns aos outros. E crus. A conquista da América foi uma longa e difícil tarefa de exorcismo. Tão arraigado estava o Demônio nestas terras, que quando parecia que os índios se ajoelhavam devotamente ante a Virgem, estavam na realidade adorando a serpente que ela amassava com o pé; e quando beijavam a Cruz não estavam reconhecendo ao Filho de Deus, mas estavam celebrando o encontro da chuva com a terra. Os conquistadores cumpriram a missão de devolver a Deus o ouro, a prata e outras várias riquezas que o Demônio havia usurpado. Não foi fácil recuperar o tesouro. Ainda bem que de vez em quando recebiam alguma pequena ajuda de lá de cima. Quando o dono do Inferno preparou uma emboscada em um desfiladeiro, para impedir a passagem dos espanhóis em busca da prata de Cerro Rico de Potosi, um arcanjo baixou das alturas e lhe deu uma tremenda surra. O Demônio é negro Supunha-se que a leitura da Bíblia podia facilitar a viagem dos africanos do Inferno para o paraíso, mas a Europa esqueceu de ensiná-los a ler Como a noite, como o pecado, o negro é inimigo da luz e da inocência. Em seu célebre livro de viagens, Marco Polo fala dos habitantes de Zanzibar. “Tinham uma boca muito grande, lábios muito grossos e nariz como o de um macaco. Caminhavam nus, totalmente negros e para quem de qualquer outra região que os visse acreditaria que eram demônios”. Três séculos depois, na Espanha, Lúcifer, pintado de negro, trepado numa carroça em chamas, entrava nos pátios das comédias e nos palcos das feiras. Santa Tereza de Jesus, que viveu para combatê-lo, apesar disso nunca pode entendê-lo. Uma vez ficou ao lado e viu “um negrinho abominável”. Outra vez ela viu que do seu corpo negro saía uma chama vermelha, quando se sentou em cima de seu livro de orações e queimou os textos do ofício religioso. Uma breve história do intercâmbio entre África e Europa: durante os séculos XVI, XVII e XVIII, a África vendia escravos e comprava fuzis. Trocava trabalho pela violência. Os fuzis punham ordem no caos infernal e a escravidão iniciava o caminho da redenção. Antes de serem marcados com ferro quente, na cara e no peito, todos os negros recebiam uma boa unção de água benta. O batismo espantava o Demônio e dava alma a esses corpos vazios. Depois, durante os séculos XIX e XX, a África entregava ouro, diamantes, cobre, marfim, borracha e café e recebia bíblias. Trocava produtos por palavras. Supunha-se que a leitura da Bíblia podia facilitar a viagem dos africanos do Inferno para o Paraíso, mas a Europa esqueceu de ensinálos a ler.


O Demônio é estrangeiro O imigrante está disponível para ser acusado como responsável pelo desemprego, a queda do salário, a insegurança pública e outras temíveis desgraças O “culpômetro” indica que o imigrante vem roubar-nos o emprego e o “perigosímetro” acende a luz vermelha. Se for pobre, jovem e não for branco, o intruso, que veio de fora, está condenado, a primeira vista, por indigência, inclinação ao tumulto ou por ter aquela pele. De qualquer maneira, se não é pobre, nem jovem, nem escuro, deve ser mal recebido, porque chega disposto a trabalhar o dobro em troca da metade. O pânico diante da perda do emprego é um dos medos mais poderosos entre todos os medos que nos governam nestes tempos de medo. E o imigrante está sempre disponível para ser acusado como responsável pelo desemprego, a queda do salário, a insegurança pública e outras temíveis desgraças. Em outros tempos, a Europa distribuía para o mundo soldados, presos e camponeses mortos de fome. Estes protagonistas das aventuras coloniais passaram à história como agentes viajantes de Deus. Era a Civilização lançada nos braços da barbárie. Agora a viagem se faz na contramão. Os que chegam, ou tentam chegar do sul em direção ao norte, não trazem nenhuma faca entre os dentes nem fuzil no ombro. Vêm de países que foram oprimidos até a última gota de seu sugo e não têm a intenção de conquistar nada além de um trabalho ou trabalhinho. Esses protagonistas das desventuras parecem, muito mais, mensageiros do Demônio. É a barbárie que toma de assalto a Civilização. O Demônio é pobre Os bens de poucos sofrem a ameaça dos males de muitos Se lambem enquanto você come, espiam enquanto você dorme: os pobres espreitam. Em cada um se esconde um delinqüente, talvez um terrorista. Os bens de poucos sofrem a ameaça dos males de muitos. Nada de novo. Tem sido assim desde quando os donos de tudo não conseguem dormir e os donos de nada não conseguem comer. Submetidas a um acossamento durante milhares de anos, as ilhas da decência estão encurraladas pelos turbulentos mares da vida desgraçada. Rugem as ondas sucessivas que forçam viver em sobressalto perpétuo. Nas cidades de nosso tempo, imensos cárceres que prendem os prisioneiros ao medo, as fortalezas dizem ser casas e as armaduras simulam ser trajes. Estado de sítio. Não se distraia, não baixe a guarda, desconfie: você está estatisticamente marcado, mais cedo ou mais tarde terá que sofrer algum assalto, seqüestro, violação ou crime. Nos bairros malditos espreitam, ocultos, remoendo invejas, tragando rancores, os autores de


sua próxima desgraça. São vagabundos, pobres diabos, bêbados, drogados, carne de cárcere ou bala, pessoas sem dentes, sem rumo e sem destino. Ninguém os aplaude, porém os ladrões de galinha fazem o que podem imitando, modestamente, os mestres que ensinam ao mundo as fórmulas do êxito. Ninguém os compreende, porém eles aspiram serem cidadãos exemplares, como esses heróis de nosso tempo que violam a terra, envenenam o ar e a água, estrangulam salários, assassinam empregos e sequestram países. Obs.: esse texto foi mantido no original, por isso diversas palavras que normalmente escreveríamos com a letra inicial minúscula, mantivemos com a letra inicial maiúscula. Mas nosso desprezo permanece o mesmo por essas pessoas/instituições/divindades e afins.

ENTREVISTA: ATOS DE VINGANÇA Por Treva VP – Para começar, conte-nos a história da banda. Diego - Bom, primeiramente gostaríamos de agradecer pelo espaço aqui cedido para essa entrevista. A banda foi formada no extremo leste de SP, mais precisamente São Mateus/São Rafael, em 2005, com a proposta de passar através da música nossa indignação e a realidade por nós vivida no extremo leste. VP – A banda esteve um pouco sumida, mas recentemente voltou com força total. O que rolou nesse período? Diego - Ficamos um pequeno tempo parados de shows para produzir alguns materiais, organizar alguns lançamentos e organizar a tour. Além disso, tivemos mais uma mudança na banda, passando de um quarteto para um trio. Isso fez com que nos focássemos mais em produzir coisas com a cara dessa nova formação. VP – Quais são os lançamentos até o momento? Diego - Bom, tivemos três lançamentos recentemente, sendo um deles um Split com uma banda da Indonésia, mas ainda não foi lançado aqui no Brasil (mas em breve estaremos lançado ele aqui), fizemos um EP chamado “Nós que aqui estamos por vós Esperamos” que foi lançado no Chile, por isso a ideia da tour e o split com a Doomsday da Colômbia. VP – Como rolou o contato com o Doomsday e com o English Dogs para o lançamento dos splits? Diego - Bom, o contato com o Doomsday foi bem simples, pois já conhecíamos o Rata (vocal) e tínhamos alguns sons encostados e queríamos fazer algum material novo e decidimos o split com eles. Com o English Dogs conseguimos o contato deles e passamos a ter uma amizade, algumas trocas de informações, até que eles pediram para que nós organizássemos uma tour para eles no Brasil. Foi quando demos a ideia de fazer o split e eles não pensaram duas vezes. Foi assim que surgiu.


VP – Atos de Vingança é uma das muitas bandas que nasceu e cresceu convivendo com a internet e com esse novo jeito de lidar com a música, que é através do compartilhamento. Apesar disso, a banda insiste em lançamentos físicos. Vale a pena insistir no formato físico, mesmo correndo sério risco de não ter retorno? Diego - Vale a pena sim, porque tem pessoas para comprar o material, para trocar etc. Acho que a internet é uma ferramenta importante para as bandas, mas não podemos nos limitar somente a este recurso. As bandas devem continuar fazendo seus lançamentos físicos seja ele em CD, vinil, K7 etc. VP – Ano passado vocês tocaram no Chile. Como foi esse rolê? Diego - Sim, fizemos uma pequena tour e foi muito legal, fomos muito bem recebidos. A galera é muito ativa, produzem materiais, organizam shows, fazem toda a correria pra que as coisas possam sair da maneira que foi planejada. A galera paga a entrada sem questionar, compram materiais das bandas, muito diferente daqui rsrsrsrs VP – O que puderam perceber sobre a cena chilena? Diego - Cara, a cena punk/metal, que foi o circuito que fizemos, tem uma força e união muito grande. Eles produzem muita coisa, tocam praticamente todos os dias e a casa sempre cheia, com bons equipamentos, organização foda, sem contar a força de vontade deles de fazer acontecer as coisas. VP – Muitas bandas punks possuem influências das vertentes mais porradas do metal, mas nem todas assumem isso, talvez pelo fato da influência ser indireta, vindo através de outras bandas punks. No caso do Atos, vocês assumem de cara a influência metálica. Qual a ligação dos integrantes com o metal e quais são as bandas que mais curtem no estilo? Diego - Sim, assumimos abertamente sem nenhum problema. Acho essa parada de bandas punks não assumirem que tem influências de metal ou outro estilo, seja ele qual for, é um pouco de medo de não ser aceito dentro da cena talvez (nosso ponto de vista). Desde o começo da banda já tínhamos um pouco de influências de bandas de metal e de bandas já com o pé no metal como Arnagedom e Lobotomia. Dentro desse, circuito curtimos muito Hellhammer, Venom, Celtic Frost, Dorsal Atlântica etc. VP – As gigs rolam em todos os finais de semana, lançamentos continuam a acontecer, gente agilizando eventos, produzindo, mas parece que a coisa não deslancha. Depois de décadas, ainda estamos discutindo/debatendo sobre os mesmos assuntos de anos atrás: falta de estrutura e apoio por parte de punks, despolitização que leva a vícios sociais escrotos que nada tem a ver com o punk e por aí vai. Enquanto pessoas envolvidas com o punk, onde estamos errando e o que poderia ser feito para pelo menos amenizar os problemas do rolê? Diego - Bom, não vemos erros por parte de quem está organizando ou produzindo algo. Quando vamos fazer algo pensamos e damos o melhor de cada um envolvido. O erro está em quem “frequenta os eventos ou shows”, onde muitas vezes a entrada é de R$ 3,00 e os “punks” ficam pedindo para entrar na faixa, sendo que há dez minutos os mesmos “punks” gastaram R$ 30,00 ou às vezes até mais com drogas e bebidas. Isso sim é um erro porque além do cidadão não colaborar com o evento, ele ainda acaba queimando o local (que por sinal, não são muitos rsrsrs). Esta nova safra de punks surgiu focada em falar de treta, drogas, bebidas entre outras coisas que rola durante os rolês. Muitos deles não estão interessados em ir a um som para curtir as bandas, trocar ideia, materiais ou até mesmo comprar. O foco deles é ficar na porta da casa de show zoando e se drogando (não temos nada contra quem usa drogas, desde que não


venha atrasar o lado de ninguém). Já presenciamos e tocamos em picos que do lado de fora tinha tipo 300 pessoas e dentro do local umas 10/20 pessoas (detalhe, o som era na faixa). Então, por aí podemos ver o interesse que os punks têm. VP – Todos os integrantes tocam em outras bandas. Como estão essas bandas? Diego - Sim, todos nós tocamos em outras bandas. Melody Monster (onde é a mesma formação do Atos rsrsrs), eu, Diego, toco também no Pós Guerra (raw punk), Kaskadura toca no Subexistência (punk rock), o Aranha toca no Eye of Beholder (heavy/thrash). Dessas bandas, o Melody Monster e o Pós Guerra encontram-se paradas. VP – Atos de Vingança completou dez anos de existência. Quais os melhores e os piores momentos nessa década de vida? Diego - Estamos completando dez anos de existência sem nunca ter parado de tocar e produzir materiais. Os melhores momentos são os sons, as risadas que damos quando estamos viajando, as presepadas de sons, as conquistas que tivemos, porque sabemos que se manter dez anos no underground não é nada fácil, amizades que fizemos e que mantemos até hoje. Agora, os piores momentos são as trocas de formação, planos que fazemos e muitas vezes não podemos executar por falta de grana etc. VP – Obrigado pela entrevista. Alguma mensagem final para xs punks? Diego - Nós da Atos agradecemos pelo espaço cedido, muito obrigado mesmo! A mensagem que deixamos para os punks é que apoiem a cena, colaborem com as bandas, leia, produza e que paguem R$ 3,00 para ver as bandas rsrsrs.

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RESENHA Por Treva Artigo DZ9? – Liberte-se do Medo de se Expressar Você chega em casa, pega o CD, abre a caixinha e logo de cara aparece o seguinte: Declaração Universal dos Direitos Humanos - Artigo XIX “Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.” Mesmo sem escutar o som, a satisfação já dá o ar da graça ao ver que não é outra banda cantando sobre coisas com as quais já não se identifica ou fazendo apologia vazia à violência, e sim letras bacanas, positivas e questionadoras como devem ser. A banda surgiu em meados de 2001, na região de Bauru/SP, centro oeste do estado. São quatorze anos batalhando no punk interiorano, tocando, organizando gigs e somando com


outras pessoas. A formação atual conta com Siic (vocal), Juninho Smega (guitarra e vocal de apoio), Léo (baixo e vocal de apoio) e Juninho Miguel (bateria). O nome Artigo DZ9? é uma referência ao Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ou seja, a parada é política sim, começando pelo nome da banda. Lançaram o primeiro registro em 2004, e de lá para cá tiveram diversos materiais lançados, entre material próprio e participações em coletâneas. Esse CD é de 2009 e talvez possa não representar fielmente o som que a banda está fazendo na atualidade, mas também não é tão diferente. Ganhei esse CD do Juninho Miguel na gig que fizeram em Sampa no mês de abril. Ele explicou toda a história deste CD, mas depois de três semanas, é claro que não lembro mais nada. Coisas da idade. O CD conta com oito poderosos sons no melhor estilo hardcore punk encorpado e sem firulas. Infelizmente, a barulheira dura apenas quinze minutos e já tem fim. Não manjo de produção (e também não me importo com isso), mas a gravação pareceu-me estar 100%, com todos os instrumentos e vocal audíveis. A parte gráfica também está caprichada, com encarte colorido, letras e informações. E por falar em letras, é um caso à parte. Em época de despolitização e emburrecimento quase que geral no punk ou de um eruditismo chato pacas, as letras da banda acabam sendo um sopro de vida, “um chutar pra lá” esse peleguismo que teima em ficar embaçando no punk. Simples, diretas, bem escritas e de fácil compreensão, é assim que a semente é plantada e o caos vai se espalhando. Os destaques, tantoos sons as letras, ficam para Maldita Política (sempre atual), Colhendo o que Planta, Stop the Pain (contra a vivissecção), Vivendo, Negando e Aprendendo e Despertar. E só para constar, neste lançamento o Siic não estava na banda e a cantoria era dividida entre os outros três integrantes. Se você está cansadx das bandas pelegas, covers de si mesmas ou das tranqueiras mais que vendidas e ainda nutre interesse em conhecer bandas, fica a dica. Hardcore punk honesto, político, libertário e correria. Aqui o punk está muito bem representado. Contatos: A/C – Jüninhö Migüel Rua Sete de Setembro, 1695, Bairro Professor Simões 17120-000 Agudos/SP https://www.facebook.com/artigo.dz9.hc

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GIGS Por Treva Cama de Jornal, Invasores de Cérebros, Horda Punk, Cólera – 10/01/2015 – Espaço Cultural Zapata – São Paulo/SP Noite de sábado, verão, primeiro rolê do ano, e que rolê! Bandas bacanas, local cheio, preço decente e virando à noite. As bandas Cama de Jornal (BA) e Horda Punk (SC) uniram-se e deram um giro bem legal por SP, tocando em diversas cidades, passando pelo litoral, capital e interior. Contando de antemão com aquele atraso básico que sempre tem nos eventos, fiquei


embaçando em casa, curtindo a preguiça pós-enchimento da pança e acabei quebrando a cara. O atraso não foi tão atraso como de costume e quando cheguei notei que a Cama de Jornal encerrava sua apresentação, com muita gente saindo do lugar. Aí entendi que o pico estava cheião, porque ainda tinha uma galera do lado de fora. Bora entrar rápido para não correr risco de ficar para fora e curtir a frustração de ter perdido uma banda que provavelmente vai demorar um bom tempo para voltar a tocar na cidade. Com um intervalo decente entre as bandas, suficiente para a galera se hidratar, fumar ou conversar um pouco, sobe ao palco Invasores de Cérebros. Na boa, é uma das melhores bandas ao vivo que o punk produziu. Essa nova formação ficou foda e a presença de palco do Ariel é outro nível. Ver a banda me faz acreditar que é realmente possível o punk ser uma ameaça, ser a pedra no sapato. Sobrou para todo mundo: puliça, políticos, deu$ e por aí. Se o pessoal entendesse e absorvesse 10% das ideias lançadas durante a apresentação, o punk de SP seria outra coisa. Na sequência teve Horda Punk, e a banda foi um pouco prejudicada pelo cansaço do pessoal e pelo calor que fazia dentro do Zapata, fazendo com que muita gente optasse por ficar do lado de fora. Mesmo assim a banda não se importou e detonou um set bacana, agradando quem estava lá prestigiando. Pode parecer brincadeira, mas é a primeira vez desde o falecimento do Redson que tenho a oportunidade de ver Cólera. E quem acha que a banda passou a ser cover de si mesma, desculpa decepcioná-lxs, mas a parada ainda é nervosa. E estão com um novo guitarrista, que torna a coisa mais interessante pela união de gerações tão diferentes na mesma banda. A apresentação foi energética do começo ao fim, com banda e galera agitando e cantando muito. Teve até uma guria fazendo declaração de amor a banda e caindo no choro... um tanto estranha a cena. Achei muito bacana essa nova formação e pareceu-me que a banda está mais humilde. Sei lá, de vez em quando o Redson me deixava com uma impressão negativa, algo meio rockstar que eu realmente achava desnecessário. Enfim, apenas uma brisa pós-som e nada que desmereça o cara e sua contribuição ao punk. E fica o desejo de ver a banda lançado material inédito. Fim de rolê, hora de encarar a volta para o cafofo e com a certeza de que valeu a pena ter colado nessa gig.

Reação Adversa, Cambones, Rebeldia Incontida, Esgoto, Desobedients, Herdeiros da Revolta, Kaos 64, Alerta Geral – 07/02/2015 – São Paulo/SP Tempo bom, rolê grátis e virando à noite, bandas legais, tinha tudo para ser uma gig foda. E foi! Evento organizado pelo pessoal da Atitude Punk que caprichou no rolê, respeitando os horários das bandas, com comes e bebes a preços condizentes com a realidade financeira de quem colou, materiais com preços bacanas ou gratuitos e muitos zines sendo distribuídos. E xs punks fizeram sua parte, colaram em ótimo número, ninguém arrastou, não teve choradeira de criança mimada que força a barra para ser aceita, nada nem ninguém para atrapalhar. O som rolou em clima de amizade e respeito, como deveria ser sempre, mas que ultimamente tem sido raro graças às fofocas e intrigas estúpidas que muita gente gosta de semear (atitude mais conhecida como rolê de rede social). Acostumado com os intermináveis atrasos que se tornou marca registrada na maioria das gigs, não botei fé no horário e saí de casa tardão. Como moro longe do pico, o rolê de busão foi demorado e para zicar de vez, esqueci o endereço do lugar. Sorte ter trombado no busão um


cara que também estava indo para o som, que apesar de também não saber chegar ao pico, pelo menos tinha celular para falar com que já estava por lá (valeu Magrão!). E depois de uma caminhada por vielas, pedidos de informação e mais caminhada, chegamos ao lugar. Como demorei em chegar, perdi as três primeiras bandas (Reação Adversa, Cambones e Rebeldia Incontida). Mas ainda tinham cinco bandas para alegrar a madrugada e cada uma delas deu o melhor de si, tocando com garra e a galera representou, agitando muito. Devido ao calor que fazia dentro do pico, em alguns momentos muita gente ficava do lado de fora, mas isso não chegou a prejudicar nenhuma das bandas, já que o clima era de festa. E quase cinco da matina, o evento foi dado por encerrado. Hora da galera se despedir e seguir de volta rumo aos cafofos de origem. Parabéns ao pessoal da Atitude Punk que mostraram não ser necessário ficar com falácias em rede social, tampouco extorquir companheirxs de movimento para agilizar evento bacana, as bandas e a todxs xs punks que colaram e mostraram a real do rolê, onde respeito, camaradagem e apoio mútuo ainda existem e resistem frente à patifaria, hipocrisia e panelices que tentam detonar o punk.

Criminal Mosh, Escuro, Hello Bastards – 14/02/2015 – Caveira Velha Rock Bar – Jandira/SP Último rolê da turnê Brasil em Chamas que uniu Hello Bastards e Escuro em várias datas por São Paulo e Paraná. Entonces, se você só faz rolê na internet e ainda acredita que evento punk são aqueles festivais bostengos que rolam na parte de cima do planeta, cheio de firulas, de patrocinadores capitalistas e bandas ruins que servem apenas para atrair pilantras e posers, digo que talvez você tenha feito o correto e não aparecido em nenhuma das datas dessa turnê. Ou pode ter tido um baita azar por perder a chance de conhecer uma banda simples, política e que realmente ajuda a manter a chama da rebelião acessa. E de quebra, ainda teve as bandas daqui, legais e a maioria não participantes das conhecidas panelas. Pois é, já que era o último rolê, imaginei que a galera fosse aparecer, mas não foi o que aconteceu. Talvez pela distância, talvez por já terem tocado em diversas cidades até que próximas ou por estar acontecendo outros rolês no mesmo dia (sem contar que muita gente viajou para aproveitar o feriadão do rei momo), a galera presente estava em número reduzido. Não que isso faça muita diferença, muitas vezes acaba sendo melhor ter poucas pessoas, mas interessadas, do que trocentas que nem sabem ou não se importam com o que está rolando. Devido à distância que separa o cafofo que ocupo e o lugar do som, cheguei atrasado e perdi o Criminal Mosh. Na sequência teve Escuro, monstruoso. É como misturar hardcore com as bandas mais feias e tortas do metal do mal. Fora o som, ainda teve o vocal Marcelo mandando várias ideias firmezas, às vezes parecendo um bate papo, noutras uma palestra, fugindo daquele papo furado sobre combater pilantras, chutar a bunda de gambé ou união para salvar o mundo. Fechando a noite e encerrando a turnê, rolou Hello Bastards. Anos atrás rolou um papo de que um coletivo estava tentando agilizar algumas datas para a banda, mas acabou não dando certo. A banda tem na formação dois brazucas radicados em Londres e segue a cartilha do punk realmente político, faça-você-mesmo. Música rápida, vocais gritados, algumas partes mais lentas e muita política, do jeito que o punk deve ser (entenda-se aqui por política a atitude combativa e radical, e não apenas letras). E falar o que de uma banda cujos integrantes são sXe e mesmo assim possuem bom senso para criticarem uma cena que se tornou uma repetição da sociedade, no que ela tem de mais imbecil. Straight edge is dead, you’re next!


Além das bandas, tinha material a venda para todos os bolsos, o lugar do som também era legal (tinha umas mesas de sinuca e lugar para sentar, pena que os comes e bebes eram bem caros), o som estava bacana e gente consciente. Tirando o número reduzido de pessoas, acredito que o encerramento dessa turnê tenha sido bacana para todo mundo, especialmente para as bandas. E como foi dito, muito legal ver eventos saindo da região central, nos tirando de nossa zona de conforto. O punk segue resistindo e existindo nos subúrbios, seja em Jandira, em Sampa ou em Londres.

MFC, Massacre em Alphaville, Oligarquia, Sistema Sangria – 22/02/2015 – Bar do Diniz – São Paulo/SP Domingão vagabundo, nada melhor para salvar-nos do tédio do que um som, e se for na faixa e perto de casa, melhor ainda. Depois de um bom tempo sem rolar som no lugar, o espaço voltou a ser utilizado pelo underground paulistano. Infelizmente, a galera ramelou e o público podia ter sido bem melhor. O dia que não tiver mais espaços para o underground, todo mundo vai chorar, independente de qual rolê faça parte. Depois daquele atraso básico, MFC começou a barulheira. O trio toca um de grind/death à moda antiga, e mesmo com uma galerinha legal assistindo a apresentação da banda, limitaram-se aplaudir ao final das músicas. Na sequência teve Massacre em Alphaville, numa apresentação monstro. Crust favela, muito peso e pouca simpatia. Mesmo com a galera apenas assistindo, a banda tocou com fúria. Tanta fúria que um pudim de pinga qualquer quase levou uns tapas de um dos vocais da banda, por cerrar a breja sem pedir. Som de graça tem dessas, sempre aparece um povo doidão, que faz questão de aparecer e quase sempre leva uma corrida. Mais metal, dessa vez com Oligarquia. Metal da morte dos anos 90, a banda continua correndo por fora, militando no/pelo underground metálico. O público, apesar de estar curtindo, continuou apenas assistindo e aplaudindo. Devido ao horário e por ter alguns afazeres domésticos pendentes, saí fora no meio da apresentação dos caras e de quebra, fiquei sem ver o Sistema Sangria. Som de graça com bandas legais e boas conversas. Quem colou se divertiu.

Maldita Ambição, Nuclëar Fröst, Napalm Raid – 23/03/2015 – Centro Cultural Zapata Domingo com tempo meia boca, friozinho, tudo ótimo para ficar em casa cultivando a minha maior virtude que é a preguiça, mas tinha rolê muito foda. O bang envolvia Armagedom, Good Good Things, Uhrit e Napalm Raid, tudo por vinte dilmas. Era para ser foderoso, mas parece que isso não foi suficiente para fazer com que punks saíssem de suas casas para prestigiar o evento. Sei lá o que acontece, talvez o pessoal curta pagar caro para estar em determinados eventos e sustentar rip-off. Só pode, ou então é uma epidemia de bundamolismo que contaminou geral. Mas até que deram sorte dessa vez. Pois é, esse rolê acabou não rolando como deveria porque um acidente interditou a estrada em que se encontrava o Napalm Raid e a banda não iria conseguir chegar para tocar. O jeito foi fazer uma gambiarra e segundo informaram, Good Good Things, Armagedom e Uhrit iriam tocar (os gringos tocariam lá pelas 23h00min) e o Napalm Raid faria uma apresentação no dia


seguinte. Quem entrasse podia pagar as 20 dilmas e no Napalm entrava de graça ou então pagava só dez dilmas no domingo e se colasse na segunda pagava outras dez. Justíssimo! Só que teria gig do Uhrit de graça na cidade, muita gente acabou saindo fora (inclusive eu), motivadas também pela questão do horário. O domingo valeu por ter encontrado pessoas que há um bom tempo não via e pelas conversas. Fazia tempo que não colava num rolê em plena segunda-feira. E para minha felicidade, não fui a única pessoa a colar. Justamente por ser uma segunda, até que uma galera legal compareceu, talvez até mais do que no dia anterior. Com um pequeno atraso, a noite barulhenta começou com Nuclëar Fröst. Como aconteceu nas outras bandas, achei que mandaram um set acelerado (talvez na intenção de evitar que a gig terminasse tarde). Apesar do som brutal, o pessoal estava frio, se limitando a aplaudir entre as músicas. Na sequência, a banda do litoral paulista Maldita Ambição, aparentemente tocou um pouco mais, mas o pessoal continuou na pegada geladeira, só aplaudindo. Os rapazes lançaram recentemente um cd e estão na divulgação do mesmo. Para fechar a noite, os gringos. Manolxs, esse rolê estava zicado desde o começo. No início não teria data em Sampa, depois de pedidos, muito choro, rezas e promessas, acabou rolando, sendo a última data da banda nessa terra. E quase não rolou por causa da estrada interditada. Mas enfim, os caras estavam no palco e foi foda! Apesar de não serem conhecidos do público mainstream do punk (aquele que só curte Pistols, Clash, Ramones e que curte ser extorquido para ver os grandes do gênero), quem manja a banda curtiu horrores. Ainda que a galera continuasse sem agitar, todo mundo estava curtindo a apresentação. Quando tocaram Why? meu coração até pulou de emoção. E o batera... coisa de louco! Em um estilo onde a simplicidade felizmente impera, o cara acaba sendo diferente, mandando muito bem. E antes das 23h30minhs já estávamos do lado de fora pensando em seguir para casa. Enfim, outro rolê lindo, com ótimas bandas, boas conversas, preço decente e sem gente arrastando.

Festival Sinfonia de Cães Xtreme VI: N.Ó.I.A., Anti-Corpos, Hutt, Lobotomia, Fear of the Future, Uhrit – Banco de Alimentos da Cidade de São Paulo – São Paulo/SP Se existe algo atualmente que me deixa muito feliz é flyer com nome de bandas bacanas e com a palavrinha mágica embaixo: grátis. Não que eu seja paspalho a ponto de achar que todo rolê deva ser gratuito, muito pelo contrário. Fazer alguma grana circular no punk é essencial e isso cabe a todxs nós envolvidos com o rolê. Mas como a crise está sabotando meus rolês, deixando minha carteira em uma situação lazarenta, nada como eventos gratuitos para salvar o punkismo no fim de semana. Dia com temperatura agradável, sem chuva, e dois rolês de graça, sendo uma exposição e um festival com muitas bandas. É muita felicidade! Antes de colar no festival, fui conferir a exposição no Centro Cultural da Juventude, com imagens cedidas pelo Ariel (Invasores de Cérebros/Restos de Nada), que mostravam uma parte da história gráfica do punk nos anos 80/90 e com algumas coisas dos 00. As imagens digitalizadas eram de flyers, capas de zines e fotos, mostrando uma pequena parte da história do movimento punk em São Paulo. Tinha muita imagem, servindo como uma viagem no tempo. Quem viveu a época pode recordar dos tempos difíceis e quem não viveu pode aprender um pouco mais. Interessante observar que nos zines da época já rolavam tretas políticas, com alguns poucos ainda achando que carecas eram lado a lado e a maioria já avisando que careca bom é careca morto (ainda bem que a segunda postura prevaleceu). E fiquei feliz em ver a capa do zine Arrepio N° 2, que foi o


primeiro que participei juntamente ao compa Romulo (hoje a frente d’Arrepio Produções) e serviu de base para minhas futuras lambanças zineiras. Fim de exposição, pegar busão e colar no festival. Apesar de contar com quatro bandas gringas, outras tantas nacionais de alto valor, ser de graça, de não estar chovendo nem fazendo frio, não foi o suficiente para fazer com que o público colasse em peso. O pessoal presente era na imensa maioria envolvidxs com o punk e estavam lá por causa das bandas do estilo. Rolou também a apresentação de diversas monobandas (três gringas), mas o povo descolado que curte essa fita não deu as caras. Tempos difíceis para quem tem banda, independente do estilo. O evento contou com duas tendas, uma rolava as bandas punks e na outra as monobandas. Terminava uma banda, começava a monobanda na outra tenda e assim foi, sem muito embaço, com todo mundo tocou por cerca de trinta minutos, suficientes para fazer a alegria de quem estava lá. Fora as apresentações, também tinham várias banquinhas com materiais diversos, rangos e bebidas. Apesar de a organização ter disponibilizado sacos de lixo pelo lugar, a mão do pessoal cai se jogar o lixo no lugar correto e era comum ver alguém recolhendo lixo jogado no chão. A falta de educação parece não ter fim, mesmo quando atitude e proceder são muito valorizados (né punks?). Voltando a parte musical, como a parada aqui não é monobanda e eu nem curto isso, não vi nenhuma das apresentações do estilo. E antes que venham me chamar de cabeça fechada, gosto musical é igual tóba, cada pessoa tem o seu e eu não curto esse tipo som. É só isso! Mesmo rolando um atraso, quando cheguei a banda N.Ó.I.A. já tinha se apresentado. Na sequência teve Anti-Corpos, mas como não curto a banda, optei por colocar a conversa em dia e brisar olhando o movimento. Fazia anos que não via a banda Hutt e o bagulho parece estar mais desgracento do que nunca. Muita rapidez e peso descomunal para alegrar quem curte grindcore. Lobotomia foi a próxima. Muito conhecida, lançou dois plays clássicos, mas já faz um tempo que alternam altos e baixos. A banda está com nova formação e talvez seja o gás necessário para quebrarem tudo. Dois dos novos integrantes parecem oriundos da cena metal e isso refletiu no som, que já tinha influência metálica e agora parece uma banda de crossover em diversos momentos. Se isso é bom ou não, só o tempo dirá. Mas a apresentação foi bacana. Fear of the Future tocando numa boa, galera curtindo, quando começa uma querela braba. Um metal do mal, minutos antes tinha começado um bate boca com duas garotas. Apesar do desprezo com que foi tratado pelas mesmas, a horda de um homem só insistia em ficar fazendo barraco, tanto que foi colocado para fora. Mas quem gosta de arrastar não desiste facilmente e o mané voltou e continuou as ofensas, até que o negócio ficou mais tenso e o mensageiro de satã quebrou uma garrafa e passou a ameaçar o pessoal da equipe que tentava controlar a situação. Daí para frente foi uma confusão, com latas voando na direção do bestão, spray de pimenta, gritos e finalmente, o tão esperado momento da sacode. O coitado já estava levando umas bifas, quando tropeçou e caiu. Levou tanta bicuda que perdeu o rumo. Mesmo com a cara amassada, tomado pela força que satã lhe deu, continuou a meter o louco, levou mais uns tabefes e finalmente decidiu seguir seu rumo, provavelmente para alguma farmácia ou hospital. E tudo isso rolando com trilha sonora ao fundo, que era o Fear of the Future. Uma pena que a banda foi prejudicada por essa confusão. Tudo bem mais calmo, mas uma galera decidiu sair fora antes que a polícia desse o ar da graça para aporrinhar. Com bem menos gente, Uhrit detonou seu som, mantendo a tradição finlandesa de hardcore tosco. Foi ótimo ver outra banda com integrante mulher e detonando no


vocal. Que isso também sirva de incentivo para que mais mulheres montem bandas por aqui. Isso é o punk! E apesar da lindeza do som, saí fora antes do evento terminar. Vida de velho é osso, está sempre com fome, sono e frio. Parabéns para o pessoal da Sinfonia de Cães pelo evento e que muitos outros venham.

Contraste, Ratas Rabiosas, Kolapso 77, Kob 82, Esgoto – 29/03/2015 – Monkeys Bar – São Paulo/SP Em fevereiro o pessoal da Atitude Punk organizou um evento cabuloso que em nada ficou devendo para outros eventos que ficaram registrados na memória dxs punks da Grande SP. E passado pouco mais de um mês, agilizaram outro na mesma pegada. Só que dessa vez foi numa tarde de domingo. Apesar da chuva chata que insistiu em tentar sabotar o rolê, uma galera em ótimo número compareceu ao evento. Barzinho legal, equipamento funcionando decentemente, vários fanzines sendo distribuídos, material sendo vendido a preço decente, várias linhas de ônibus para chegar ao pico. Além das bandas e da chance de trombar o pessoal, trocar aquela ideia e tudo mais, o evento visava arrecadar alimentos para uma instituição de caridade. E não, isso não é assistencialismo. É colocar em prática o discurso ao invés de ficar de falácia em rede social como muitos super-anarquistas boçais fazem com uma frequência impressionante. Com algum atraso, a banda Contraste começou a tarde barulhenta. Tocando um punk 77 que em alguns momentos ficava até dançante, agradaram o pessoal. O único senão foi terem tocado por muito tempo (talvez tenha sido impressão minha), o que veio a prejudicar a última banda por causa do horário. Primeira vez que vi as Ratas Rabiosas e foi uma grata surpresa. Manja aquele punk/core não tão rápido, gritado e propositalmente tosco? Pois é, vai por aí. Semelhança com Kaos Klitoriano ou Kólica é mera coincidência. O destaque ficou para um som chamado “Kings é o Caralho!”, uma singela homenagem aos straight edges machistas e bunda moles e para o cover de FMI (da época que o R.D.P. prestava), só que em uma versão totalmente Ratas, que ficou show de bola. Terminado o set das Ratas, pausa para interagir ou encher a pança, começa uma discussão do lado de fora. Pelo que disseram, um moleque que cola com quem não presta apareceu e rapidamente levou uma corrida. Começou cedo seu treinamento para a São Silvestre 2015. Na sequência, outra discussão tem início, dessa vez envolvendo um jovem skinhead. Essa é uma questão é um tanto quanto complicada e tem gerado muita polêmica por aqui, isso quando não enlameia tudo. Algumas pessoas queriam que o jovem se retirasse, outras tentaram contraargumentar e o debate levou uns bons minutos. Demorou tanto que o Kolapso 77 já estava começando seu set e como quem tem filho/filha grande é elefante, achei melhor conferir a banda e deixar o debate para quem entende e gosta do assunto. A banda ficou uma década parada e voltaram a tocar esse ano, mas nem parece. Punk rock que nos leva a cantar as letras mais do que nunca atuais. Tiveram alguns pequenos deslizes no set, mas esse comentário só está aqui porque o próprio vocalista falou sobre os erros, senão teria passado batido. Outra rápida pausa e é a vez da Kob 82. A banda lançou recentemente o CD “Propaganda Pelo Ato” e tem tocado pelos buracos da cidade. A banda sempre trilhou o caminho do punk UK safra 82, mas achei que o som está mais pesado, talvez com alguma influência de crust ou hardcore bagaceira. Tudo lindo, os caras mandam um cover do Ulster que meu coraçãozinho debilitado pelo junkie food da noite anterior quase parou e aí noto que já passou das 21h00min e de Pirituba para o cafofo na zona sul é uma caminhada. Por isso não vi toda a apresentação


dos moleques. Ainda teria Esgoto, mas informaram que a banda não tocaria por motivo de força maior. Mesmo assim, os integrantes permaneceram no rolê e prestigiaram todas as bandas. Isso é ser punk, diferente de um pessoal que aparece para tocar e estranha e sorrateiramente vaza do lugar, pique rockstar. Outro rolê show de bola organizado pelo coletivo Atitude Punk e com a participação da galera que colou em ótimo número, trocando ideia, agitando e, principalmente, respeitando o lugar, que nada tem a ver com o rolê. Em tempos de espaços fechando, a consciência deve falar mais alto nos rolês para preservarmos os poucos espaços que ainda abrem as portas para o punk e para a música independente em geral.

Maldita Ambição, Ratas Rabiosas, Lokaut, Rotten Flies – 05/04/2015 – Bar do Diniz – São Paulo/SP Domingão com a cara da preguiça, com aquele sol meia boca, vento frio típico do outono e jogo do Coringão. Mas tinha um rolê mais que lindo com a banda Rotten Flies, que encerrava sua mini turnê por SP (depois iriam para Curitiba) com uma apresentação gratuita e perto de casa. Gig agilizada sabiamente pelo pessoal do selo Hardcaos e Jornal Microfonia. Só alegria! Era um dia com vários eventos pela Grande SP, incluindo até bandas gringas (numa época de idolatria desenfreada, isso conta para muita gente), uma galera até que em número razoável compareceu ao Bar do Diniz, que pelo jeito também está fechando suas portas. Outra perda para o underground paulistano. Com aquele atraso básico e chato, Maldita Ambição começou seu set. A molecada do litoral paulista continua divulgando seu trampo recém-lançado. Infelizmente, como se tornou costume em rolês gratuitos ou pagos, a grande maioria das pessoas prefere ficar do lado de fora papeando e as bandas acabam sendo apenas a música de fundo de animados bate-papos. Na sequência teve Ratas Rabiosas, que teve mais sorte no que diz respeito ao número de pessoas prestigiando. Apesar de mais gente assistindo, a frieza marcou presença durante as apresentações, com o pessoal se limitando a aplaudir entre as músicas. Lokaut for a terceira banda da noite. Depois de um tempo parada, voltaram com nova formação e gás renovado. Para quem ainda não teve a oportunidade de ver a banda, possuem duas vocalistas. Até aí, nada demais, já que isso é muito comum em bandas de hardcore e crust com seus vocais dobrados, mas no Lokaut a coisa é diferente, já que a banda segue a linha punk rock. Mas é bacana. Por fim, encerrando a noite, Rotten Flies. Foram mais de 20 anos de estrada até rolar o primeiro rolê por SP. É triste imaginar que acaba sendo mais fácil ver apresentações de bandas gringas do que de bandas de outros estados. Diverso$ interesse$ ajudam a manter essa situação e a idolatria recém-incorporada a vivência de uma parcela de punks (talvez motivadxs pela ferrenha competição feicebuquiana para ver quem tem mais fotos legais) seja mais um dos motivos para explicar esse vacilo. E na boa, nem vem com papo de que isso é uma espécie de nacionalismo travestido de consideração por bandas. Sacomé, hoje em dia é sempre bom avisar, já que não falta gente besta e sem cérebro querendo arrastar. Enfim, antes tarde do que nunca esse rolê. E punks, que baita apresentação! Mesmo com o pessoal apenas olhando e uma minoria agitando timidamente, dava quase para pegar no ar a energia que emanava da banda. Se o pico estivesse cheio e o pessoal agitando, seria um caos. Enfim, outro rolê bacana, com bandas legais, materiais e boas conversas.


SÁBADO CAOS: LIXO ATÔMICO, HERDEIROS DO ÓDIO, DISTÜRBIA CLADIS, ARTIGO DZ9? – 18/04/2015 – ESPAÇO CULTURAL ZAPATA – SÃO PAULO/SP Enquanto seguia para o Zapata, fui refletindo sobre a tragédia ocorrida no Chile na gig do Doom. Para o capitalismo, a vida é descartável, e para o capitalismo travestido de punkismo, a vida continua a ser descartável, como ficou claro em uma postagem dizendo que a banda estava em segurança e tecendo apenas críticas às pessoas, numa clara demonstração de indiferença pelas vítimas, com quem as conhecia e até mesmo com a cena local. As vítimas fatais e xs feridxs não importam, mesmo sendo punks? Independente do que aconteceu, causa-me perplexidade ver comentários chulos aqui e lá, menosprezando as vítimas fatais e as dezenas de feridos, a preocupação exacerbada com a banda e com a continuidade da turnê. Somos punks, deveríamos ter um pouco mais de tato ao lidar com uma situação tão triste, mas ao invés disso, a diarreia virtual se fez presente, nada devendo ao povo das micaretas direitistas. Na boa, esse punk que vi nos dias subsequentes ao ocorrido no Chile me causou nojo e vergonha. Desse rolê punk eu tô de boa, quero distância. Bom, chegando ao local tinha dois gatos pingados esperando o pico abrir. Pensei na possibilidade de ter errado a data ou do som ter sido cancelado em cima da hora. Aí, lembrei que vários eventos estavam rolando na capital e cidades vizinhas desde a sexta-feira e que isso explicaria a ausência de pessoas. Mas conforme os minutos foram passando, uma galera foi chegando, menos que o esperado e merecido pelas bandas. A primeira banda a tocar foi o Lixo Atômico. Estava do lado de fora envolvido em um bate papo daqueles que quase não acontecem mais, do tipo que soma na vida e acabei perdendo a apresentação da banda, que me pareceu um tanto quanto curta, já que a conversa não foi de horas. Na sequência teve Herdeiros do Ódio e para variar, outra apresentação que os moleques quebraram tudo. Tempos atrás gravaram algumas músicas visando um lançamento, mas ainda não rolou por falta de selos interessados. Tanta banda ruim tendo material lançado e pior, sendo chamadas de punks, e uma banda bacana como o Herdeiros não consegue concretizar o lançamento. Distürbia Cladis veio a seguir, detonando seu metal altamente influenciado pelo punk. Na boa, brisando um pouco, se essa banda estivesse na ativa nos anos 80, teria feito um estrago monstro, já que era uma época louca, com as bandas de metal tocando cada vez mais rápido, blasfemando para tudo quanto é lado e buscando referências sonoras, estéticas e até de postura no punk. A banda está para lançar um 7’ chamado Disforia e só nos resta aguardar, porque o bagulho promete ser foderoso. E fechando a noite, Artigo DZ9? Com quatorze anos de existência, foi a primeira vez em Sampa. A banda é do interior (região de Bauru) e está intimamente ligada à movimentação interiorana através da organização de gigs, distro e afins. Mesmo com o pico não estando cheio e a galera contida, só assistindo, a apresentação foi energética. Tão energética que um bico de cara cheia decidiu agitar com as “asas” abertas, sempre deixando o braço para acertar alguém e achando que aqui é a disneilândia. Eu juro que estava vendo uma plaquinha nas costas do saco de vacilo escrito “quero levar uns tapas”. De tanto fazer graça, o cara acabou por levar uns tabefes que até cortou a brisa da pinga. Tirando esse pormenor, era visível a satisfação nos rostos dos moleques por estarem tocando em Sampa depois de tantos anos de correria. No mais, rolê show de bola, galera firmeza, ótimas conversas, bandas bacanas, materiais diversos e sem ninguém para arrastar ou extorquir. Ainda há esperança para o rolê.


Kaos 64, City Rats, Cólera – 20/05/2015 – Espaço Cultural Zapata – São Paulo/SP Quarta-feira de extrema vadiagem. Antes de colar no som, trombei o compa Sagaz e fomos ver a exposição fotográfica Mulheres Livres: Imagens Insurgentes, de Elaine Campos (Abuso Sonoro). Depois do fim da banda, Elaine tem se dedicado a fotografar as diversas manifestações políticas que ocorrem em São Paulo e essa exposição era justamente sobre isso, obviamente focada na participação feminina, com diversas imagens de mulheres protagonizando suas lutas e servindo de inspiração para outras pessoas. Essa exposição nos faz lembrar que o punk é bem mais do que música, podendo ser incrivelmente abrangente se quisermos e tivermos interesse. O rolê rendeu boas horas de conversas e ideias. Depois da exposição, hora de seguir para o som, mas antes fui encontrar minha cara-metade. Ao chegarmos ao local, aquela constatação sempre desagradável e que vem se tornando comum em Sampa: lugar vazio. Entendo que era uma quarta-feira, que a banda é desconhecida da imensa maioria das pessoas e que houve um exagero na quantidade de apresentações na cidade (quatro no total), mas não deixa de ser decepcionante ver que essa ausência de punks é cada vez mais comum. Fora isso rolou um atraso escroto, com o som começando depois das 22h00min. Organizar uma gig não é uma ciência exata e imprevistos ocorrem, mas esse desleixo com horários já virou regra e com certeza é um dos motivos para desmotivar as pessoas a colarem nas gigs que rolam em dias úteis. Como tinha pouca gente, é fácil deduzir que animação não foi a característica da noite, com o pessoal limitando-se a aplaudir as bandas entre as músicas. Kaos 64 foi a primeira banda, tocando com garra um set enxuto, talvez acelerado por causa do horário. Na sequência teve City Rats, que foi uma grata surpresa. Quem não tem preguiça de arriscar rolês com bandas desconhecidas, se deu bem. A banda é de Israel (não que o país de origem tenha alguma importância, mas vale como curiosidade) e toca um hardcore simples, sem firulas ou misturas. Quase tão interessante quanto o som da banda foi ver um adesivo do The Exploited na guitarra do mano. E fechando a noite, teve Cólera. Como os ponteiros do relógio andaram rápido, vi só uns quinze minutos da apresentação e vazei para não ter que ficar dormindo na rua. Na boa, mas esse lance de ter que sair fora e perder parte da apresentação de alguma banda por causa dos atrasos é algo que começa a me irritar profundamente. Pagamos para ver todas as bandas, mas nem sempre isso é possível por causa dos atrasos e as pessoas envolvidas na organização ou com os locais parecem não se importarem com isso. Será que o PROCON consegue resolver essa fita ou tem alguma dica? Outra coisa que gostaria de comentar é referente a uma agressão que rolou. Enquanto discutimos uma reestruturação e novos caminhos a seguir pelo punk, com um movimento mais político, independente e solidário entre nós e com outras pessoas, é inadmissível que uma única pessoa tente jogar a luta no lixo apenas por ser desprovida de bom senso. Felizmente a pessoa agredida não sofreu nada grave, ficando apenas com algumas marcas roxas e esfolados (fora o enorme susto), mas poderia ter sido diferente. Dado a forma que foi agredida, a pessoa poderia ter sofrido alguma lesão realmente grave ou até vindo a óbito, e aí mais um rolê terminaria antes da hora, outro pico fecharia as portas para nós, mais matérias na mídia suja, mais polícia enchendo o saco e mais desunião (porque xs amigxs da pessoa que agrediu tenderiam a passar um pano, coisa básica né). Somos punks e não pessoas desequilibradas desprovidas de bom senso e respeito pelas outras pessoas. Precisamos e queremos pessoas minimamente conscientes ao nosso lado, somando nas correrias e sendo parte da mudança que tanto almejamos. Enfim, tirando as zicas que rolaram, quem arriscou colar no rolê se deu bem e curtiu a noite.


FANZINES Por Treva Não é possível imaginar o movimento punk em qualquer canto do planeta sem os fanzines. Eles foram responsáveis pela rápida difusão do punk enquanto movimento sócio-político e contracultural, divulgando bandas, gigs, consciência política e tudo que acontecia nesse submundo em lugares distantes ou próximos, totalmente independente e a margem da imprensa tradicional e corporativa. Não foram punks xs responsáveis pela criação dos fanzines, mas foi o punk o responsável por sua popularização, revolucionando a forma como as pessoas trabalhavam as notícias relacionadas à música e política (ou qualquer outro assunto), seja na escrita, na parte gráfica ou na distribuição. Serviram, servem e vão continuar a servir como fonte de conhecimento, inspiração e amizades para milhares de pessoas em todo o mundo, insatisfeitas com as mazelas sociais que se perpetuam, divulgando o punk, semeando a rebelião e espalhando o caos, sem a necessidade de logística, propaganda, apoio ou coisas do tipo. Com a popularização da internet, os fanzines caíram em desuso. Em um país de terceiro mundo é até fácil de entender. Ficava mais barato manter um blog, fotolog ou qualquer outra modernidade internética do que ficar pagando para fotocopiar trocentas páginas, montar e ficar distribuindo em gigs. Sim, distribuindo, porque com o advento da internet e do download gratuito, pagar por um zine se tornou algo impensável para muitxs idiotas que acreditam que tudo deva ser gratuito (gente burra!). Com isso, os fanzines punks, assim como de outros assuntos, foram desaparecendo aos poucos. Felizmente a internet já se tornou algo comum e os olhos e interesses se voltam ao passado e os fanzines estão ressurgindo para a felicidade de muita gente, mesmo que ainda não seja em número tão grande (existem outras formas de se divulgar uma banda ou ideia), voltam a ser distribuídos em gigs, trocados em feiras e compartilhados via correio. É claro que esse papo de zine funciona no esquema todo mundo diz curtir, a maioria não apoia e uma minoria insiste em fazer. E assim segue a vida. Nesses últimos meses, em várias gigs que colei, tinham punks distribuindo zines e informativos. Eu sei que tem pessoas (normalmente aquelas que já vazaram do rolê, mas insistem em ficar dando palpite em algo que não lhes diz mais respeito) que vão dizer “aaahhh, ficar distribuindo zine pra punk é de boa. Tem que compartilhar a informação com outras pessoas.” Sabemos disso, mas levando em conta que o próprio movimento punk na Grande SP passou por um processo pesado de despolitização na década passada e que ainda hoje vivemos seus nefastos efeitos, nada mais justo e inteligente que distribuir informação dentro do próprio movimento. É a informação compartilhada que ajudará a diminuir o espaço para parasitas e suas ideias abestalhadas. Talvez se essas pessoas tão pensantes tivessem somado mais ao rolê, não teríamos que em 2015 ainda estar fomentando política. Enfim, fuck off and die! Entonces, com essa renca de zines adquiridos fiz aqui um cata-louco de todos eles. E não adianta achar que aquele blogzinho fuleiro que tem o termo “punk” em seu nome tem algum interesse real em divulgar o punk enquanto contracultura. Aquilo é diversão e grana, assim como acontece em revistas e blogs. Quem está preocupado em falar a real sobre o punk são as pessoas que vivem esse rolê. Leiam zines, acessem blogs, escutem as bandas, colem nos eventos e apoiem quem está batalhando pelo punk. - Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri: aqui é parada é séria. Grupo anarquista da Baixada Santista, atuam na região e mantêm uma biblioteca anarquista na cidade do Guarujá. Os dois informativos trazem textos explicativos sobre o anarquismo, autogestão e sobre como é possível livrarmo-nos dessa doença chamada estado. Os textos são sérios, mas não são acadêmicos, sendo de fácil entendimento.


Em tempos de desinteresse por leitura somada a uma simpatia pelas novas possibilidades que a direita apresenta, manter uma biblioteca anarquista não é para qualquer rebelde de fim de semana. Respeito total pelo trampo. Quer conhecer mais? Sai da rede social e clica em http://nelcarloaldegheri.blogspot.com.br/ ou entra em contato pelo e-mail nelcarloaldegheri@gmail.com. - O Punk Vive: são dois números. Um é uma folha A4 dobrada várias vezes, pique origami, até ficar do tamanho de uma carta de baralho. O outro também é no esquema folha A4 dobrada, só que dessa vez são duas folhas dobradas na metade, deixando o zine com esse aspecto mais conhecido. Ambos seguem a linha daqueles zines mais antigos, repletos de colagens, frases aparentemente soltas, imagens e textos escritos à mão. Não tem contato. - Plante-Resistência Ecológica: pelo nome, dá para imaginar que esse trampo traz a questão ambiental para a realidade punk. É cheio de colagens, misturando imagens e frases que tratam sobre o meio ambiente e sua destruição pelo homem. Outro trampo naquele esquema lindo que são folhas dobradas, que na minha humilde opinião, é o jeito mais bacana de montar fanzines. Trampo feito pelo pessoal do Kääos Ürbano (região do ABC) e não tem contato. - Punk Cultura de Rua: em sua primeira edição, muita colagem, desenhos e textos escritos à mão. Alguns podem até parecer um pouco inocentes, mas a verdade está lá. E para variar, folhas dobradas no esquema que amamos. O pessoal responsável pelo zine também tem um blog, o http://www.punkculturaderua.blogspot.com.br/. No blog tem música e livros para baixar, textos e poesias. Outro trampo do pessoal do Kääos Ürbano. - Cultural Revolução N° 6: o pessoal do coletivo Cultural Revolução já é velho conhecido do rolê. Esse zine têm 14 páginas e a qualidade da cópia que tenho em mãos é nota 10, coisa rara de acontecer. Utilizando as tradicionais colagens, une textos de cunho sócio-político e sobre o rolê, somado a diversas imagens e desenhos. Diferente da maioria dos zines que optam por colagens, conseguiram manter as informações bem distribuídas, dando uma aparência mais limpa ao visual. Não tem contato. - Atitude Punk: estou com uma porrada de trampos do coletivo Atitude Punk. Tem desde informativos, panfletos, até zines com várias páginas. A produção do coletivo é tipo a discografia do Agathocles. Os informativos e panfletos dividem-se em escritos à mão e digitados. Em um dos zine utilizam a tradicional colagem e no outro optaram por escrever à mão. Tanto nos zines quantos nos informativos e panfletos, os textos tratam de libertar-se do sistema, anarquismo, rebelião social e união entre punks, além de algumas poesias e desenhos. Não tem contato. - Anarchists Against the Wall: informativo do coletivo AATW, folha única em formato A4, escrita em inglês. Esse coletivo é um dos muitos que se opõem a construção do muro que separa Israel dos territórios palestinos ocupados e esse informativo trata sobre isso. Possui uma breve explicação sobre o grupo, seu surgimento e sobre a construção do muro, de maneira simples, sem enrolação. Até um analfabeto feito eu consegue entender o que está escrito (e sem o tradutor!!). Contato: www.awalls.org - Freedom and Justice for Victor Hugo Montoya Encina: outro infomativo, dessa vez sobre o jovem Victor. Imagino que tenha sido a família do rapaz ou alguém próximo que tenha feito esse trampo. Folha A4 dobrada em três, texto em inglês, fundo branco e preto. O rapaz é acusado de colocar explosivos em um quartel da polícia chilena e como é de praxe, mesmo sem provas, o estado o sequestrou e faz de tudo para mantê-lo privado de liberdade. O informativo tem a intenção de tornar conhecida para o maior número de pessoas possíveis a situação do Victor e relatar como está o processo. Para maiores informações, clique em https://es-es.facebook.com/FamiliaMontoyaEncina.


- Serve-se Morto: outro “one man zine” (tá Primo, sei que forcei a barra com esse termo). Folha A4 dobrada, fundo preto para ficar mais necro e para nossa infelicidade, apenas duas poesias e um texto. Mas são foda! Texto e poesia muito bem escritos, caprichando no português, mas sem ser pesado ou chato. Uma grata surpresa. E na boa, melhor o cara deixar a guitarra de lado e se concentrar no próximo zine. Não tem contato. - Insurreição N° 10 & Sujem as Ruas N° 3: anos atrás, João (Sujem as Ruas) teve a ideia de fazer um split zine e chamou para essa empreitada esse que vos escreve e que na época tinha parado de fazer o informativo Insurreição. Mas como a ideia era legal, conheço o João há anos e curto seus escritos, topei. Depois de diversos desencontros, atraso monstro, saiu o tal split zine. A soma do Insurreição e do Sujem as Ruas resultou em 22 páginas, com fundo preto desbotado pique as peitas que usamos. O Insurreição é o embrião do Vivência Punk, pelo menos no que diz respeito a minha má vontade sem fim com a hipocrisia que insiste em permanecer no punk, com o habitual apedrejamento do rolê e seus vícios. O Sujem as Ruas vêm com colagens, imagens de grafites, poesias, matéria sobre estêncil e entrevistas com Kob 82 e Massacre em Alphaville. Esse trampo é de 2012, mas só em março desse ano é que consegui minha cópia. Se tiver interesse nesse ou em outros trampos, entra em contato com os responsáveis https://www.facebook.com/johnpaulpunk?fref=ts e https://www.facebook.com/profile.php?id=100008244580089. Quer ler ou pelo menos olhar pra falar prxs amiguinhoxs que leu um zine, segue aí o link do trampo http://issuu.com/sujemasruas/docs/insurrei____o_and_sujem_as_ruas. - Jornal Microfonia N° 24: para quem não sabe, esse jornal está circulando por aí há quatro anos. Para uma publicação voltada para a música e arte independente e feita em João Pessoa, é muito tempo. Como o próprio nome diz, é um jornal de verdade e trata sobre música, filmes, fanzines e quadrinhos. É dividido em seções, parte gráfica limpa, o que deixa o bang com cara de profissional. Nesse número tem entrevista com Ódio Social, resenhas de diversos CDs, zines e filme. Ficou interessado? Segue os http://microfonia.net/loja/quem-somos/, https://www.facebook.com/jornalmicrofonia.

contatos jornalmicrofonia@gmail.com, http://pt.slideshare.net/JornalMicrofonia e

POESIAS MARGINAIS Por Karl Straight Por Juanito* Original em espanhol e de autoria desconhecida, compartilhado entre punks e não punks** Tradução: contra SOCIEDADE DOENTE

Medo e ansiedade

A sociedade desabou

Violência e pobreza

As injustiças e as misérias d’alma aumentaram

A convivência humana que já era difícil, Ficou insustentável

O cárcere das mazelas da sociedade cresceu

O ser humano geme de dor

Dor e lágrimas

E o corre o risco de não sobreviver


DESPERTAR De um lado pro outro me espalho, cresço, evoluo Ou não? Dúvidas frequentes, metades e inteiros pedaços de mim

Amor e ira, talvez Sejam palavras chave sobre tudo que o espelho tenta encobrir E me vejo imerso em sarcasmo

Nós, eles...

Apenas um álibi pra me prender, outro erro pra conspirar

E assim eu sou pura ironia!

E eu, inteiramente tolo

Fardos e cruzes, lágrimas e maliciosos risos de quem vê os dois lados da moeda

1... 2... 3... despertar!

As múltiplas faces da existência

Traços e distorções, chaves e uma pilha de limitações e

Ou puramente, a segunda, terceira ou quarta intenção por trás do fato

Significados de palavras mal compreendidas

Eu vejo!

Relativo, nem tudo é o que parece

E consequentemente, sou doses de provocação

Verdade, cogite antes de estar Real, não pense duas vezes

Mérito das madrugadas sem dormir Aceite, é hora de arriscar! Som, luzes e a trilha do mundo

INÚTIL CRUELDADE Ao som de canhões, aviões jogam suas bombas

E quando a porta do casebre se fechou, a mãe se abraçou ao filho

Para vidas humanas serem dizimadas

Um abraço com tanta força, que provocou lágrimas em todos

Nas vastas filas de uma atroz e cruel caminhada rumo ao fim de tudo Ainda persistia a vontade de primaveras presentes e futuras Nem mesmo a cara rabugenta de um soldado em armas

A criança sorria para sua mãe e imitava a borboleta Mãe e criança ao centro de toda aquela gente morta Enquanto a fumaça das construções em chamas impregnava o local

Conseguiu conter o riso de uma criança Que vislumbrou no voo majestoso de uma borboleta multicolorida

Últimos suspiros foram dados e ambos tombaram

O sonho da esperança

A mãe ainda abraçada à criança, que sorri ao caos

Dando asas a seus pensamentos

Ao fim da vida em uma guerra inútil


A MINHA VERDADE Afogado pelas terríveis águas

Ideias reais

Enterrado pela poeira da miséria

Pessoas que dão sua cara a tapa para demonstrarem o que realmente pensam

E incendiado pelos ventos do desespero Como realmente são Somos obrigados a seguir as regras impostas pela sociedade todos os dias

Sinto pena daqueles que tem a necessidade de seguir o convencional

Modas, pensamentos, opções, opiniões, ações etc

Vazias por dentro

Somos seguidos por hipócritas que dizem “não fale, não ouça, não veja, não sinta”

Recuso-me a ser uma dessas pessoas que dizem ser normais

Apenas finja

Gosto de ser assim

Fingimos ser algo que não somos

Apenas diferente

Para sermos aceitos por pessoas que não se importam conosco

Apenas eu Desculpe-me se sou sincero

Diferente da massa, existem pessoas que possuem coragem para defender suas ideias

Digo o que sinto A verdade dói

MUITO OBRIGADO Muito obrigado por suas verdades e mentiras Muito obrigado por me oferecer ajuda Muito obrigado pelo favor Muito obrigado por estar ao meu lado quando precisei Muito obrigado por me mostrar este mundo doente Muito obrigado por segurar a porta para mim Muito obrigado por fazer o que está fazendo Muito obrigado por influenciar positivamente minha vida e atitude Muito obrigado por mostrar as ilusões desta sociedade Muito obrigado... o que você fez por mim foi algo muito especial


ÁGUA* Cantareira chora água pra Sabesp colher dinheiro

Ela só quer lucrar E com nosso descaso

Pode chover o mundo Por mais uns anos

Muita grana vão ganhar (acabam de acumular)

A água não vai voltar

Besta quem não enxerga

Se não reflorestar

Esse tapa na cara que acabam de nos dar

Não adianta chorar

O futuro é privatizar (o que resta querem doar)

E depois no geraldo alckmin votar Um direito básico São décadas sem ao menos a tubulação trocar

Vamos ter que pagar (e vai dobrar)

Saneamento? Nem pensar!

Mais caro a conta vai ficar

A Sabesp tem ações em NY

E a outra face vamos dar pra apanhar

Que não param de valorizar

Infelizmente

Ela só quer lucrar

VIVÊNCIA PUNK*

ONDE MORA A LIBERDADE?*

A todo dia me deparo

Onde mora a liberdade?

Como o rolê ficou mais caro

Estancada na face da verdade

Subiu a exigência

Que pra aprender não precisa de idade

De conhecimento e experiência Perguntas de como tá sua frequência

Onde mora a saudade?

Na city, na gig, no ato, na rua

De quem jorrava solidariedade

Onde esconderam a luta que continua?

À todas as vidas em necessidade

Cadê os zines que tanto amam? Enterraram a poesia?

Cadê o amor que destruía?

Essa é a vivência

O rancor que nascia

Sem rótulos, cobrança e anti existência

Transformando razão em Utopia

Viver é cada um E o Punk resistência.


NÓS PUNX FAZEMOS AVALANCHAS** Nós punx fazemos avalanchas

Nós punx estamos repensando tudo

E nós punx não fazemos avalanchas

Estamos furiosxs

Nós punx antes de tudo somos animais

E xs que disfrutam do punk estão falando merda e alimentando nossa ira

Todxs distintxs Xs punx não morrem Mas nos identificamos E tampouco esquecerão esse assassinato Nos amamos... Com tudo contra Discutimos Nos levantaremos Brigamos Furiosxs Brigamos uns com xs outrxs Mas agora descansemos Mas sobretudo, nos amamos Amanhã teremos que seguir Simpatizamos, e isso nos faz diferentes dos outros animais humanos

Somos pequenxs ao lado das famílias

Nos faz identificáveis

Apoiemos

Isso nos faz punx Uma coisa indefinível, mas sobretudo identificável Contato: O que não fazem os punx é apoiar o de quinta-feira

vivenciapunk@zipmail.com.br

Apoiar e aprovar o de quinta-feira

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O que nós punx não fazemos é estar contra xs companheirxs É zombar dxs caídxs

Edições anteriores do Vivência Punk:

Chamá-lxs de ratxs

http://issuu.com/vivenciapunk/docs/capa__c__pia

Xs que não sabiam se deram conta Há uma diferença entre xs punx e xs que desfrutam ou fazem música punk, hardcore, crust, skramz Essa diferença não é a roupa nem a música que escutamos Xs punx estão de luto Xs punks somos nós, tão diferentes em nosso meio Nós punx estivemos fora da cena

http://issuu.com/vivenciapunk/docs/viv__nci a_punk_n___2 http://issuu.com/vivenciapunk/docs/viv__nci a_punk_n___3



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