REVISTA HISTÓRICA DO HISTÓRIA
IHGRN CELEBRA
123 ANOS
PRESERVANDO A MEMÓRIA
O LEGADO DE MANOEL
DANTAS E A
SUA NATAL
SOLARES QUE
ILUMINAM A
NOSSA HISTÓRIA
MÁRIO DE ANDRADE: O OLHAR DO TURISTA APRENDIZ
IHGRN CELEBRA
123 ANOS
PRESERVANDO A MEMÓRIA
O LEGADO DE MANOEL
DANTAS E A
SUA NATAL
SOLARES QUE
ILUMINAM A
NOSSA HISTÓRIA
MÁRIO DE ANDRADE: O OLHAR DO TURISTA APRENDIZ
EDIÇÃO 2025
8 29 de março: uma data para se ter na memória
Há 123 anos, fundava-se o IHGRN, a Casa da Memória do Estado
12 Cem anos sem o visionário de Natal
Com preparo intelectual e olhar meticuloso, Manoel Dantas refletiu as revoluções do seu tempo
18 Solares que iluminam a nossa história
O Coração da Avenida Câmara Cascudo vive um novo momento, unindo passado e futuro
22 O olhar curioso do turista aprendiz
A temporada de Mário de Andrade no RN, há 95 anos, permanece inspiradora e atual
EXPEDIENTE
Direção Geral Jarbas Filho
Historiador Alexandre Rocha
Redação e edição
Octávio Santiago / Quero Prosa
Diagramação César Augusto
Capa
26
30 Retratos da nossa história
As imagens vencedoras do concurso fotográfico de Natal
Novidades animadoras direto do Centro Histórico de Natal
Foto: Maria Simões / Adaptação: Gustavo Torquato
Perfil oficial @festivalhistorico
Aqui estamos novamente para mais uma prosa sobre a cidade de Natal, especialmente sobre seu centro histórico, abrigo de passado e memórias. O Festival Histórico de Natal chega à 12ª edição da Caminhada Histórica, promovendo concursos de fotografia, música, redação e jornalismo, além da produção desta revista e, agora, de documentários, que são fundamentais para os novos tempos de conexão intensa e comunicação multimídia. Um novo desafio que temos abraçado e que tem se mostrado um grande sucesso.
Após a repercussão do documentário
Centro Sagrado, que passeou por igrejas, templos, terreiros, comunidade indígena e sinagoga para mostrar como a espiritualidade está presente na formação da cidade, apresentamos agora uma nova produção. Dessa vez, voltaremos nossa atenção para as praças do Centro Histórico, explorando o que esses espaços representam, o que nos deram e o que ainda podem nos oferecer.
Os concursos continuam crescendo a cada ano, com mais adesão, explorando esquinas, recantos, becos e vielas que ajudam a contar a história da cidade. Ou, ainda, revirando a história pelo avesso, como fez a provocação da última edição do prêmio de jornalismo
“Natal Sem Igual”, que quis saber o que a Ribeira que resiste ainda tem a nos contar. Essa vontade de manter viva nossa história vira verso, se transforma em manchete e é registrada em cliques a cada edição.
A Caminhada Histórica também diz muito sobre a nossa própria caminhada. Ao tomarmos as ruas de Natal, fazemos isso como quem reconquista algo que já nos pertence. E isso é a mais pura verdade. Mas, ao reunir tantas pessoas no mesmo asfalto que nos sustenta, mostramos que tudo é da coletividade. Cabe a todos nós lutar para valorizar, preservar e (re)conhecer.
Neste ano, a Caminhada olhará com respeito para o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN). Por isso, a revista segue a mesma direção. A instituição mais antiga do estado é, também, a Casa da Memória, criada para preservar documentos, objetos, outras fontes históricas e, sobretudo, nossa identidade. Afinal, com tudo o que fazemos em prol da memória, não poderíamos deixar de celebrar sua primeira e essencial morada.
Vamos aprofundar nossa prosa! Falar mais sobre essa rica Natal, que nunca nos cansamos de explorar: sobre seus telhados, portas e janelas, sobre suas fachadas, sobre suas ruas, por onde passa uma Caminhada disposta a garantir que aqueles que aqui estiveram antes não sejam esquecidos, e que quem está aqui hoje não perca nada da sua memória. Boa leitura!
Jarbas Filho e Alexandre Rocha
Há 123 anos, fundava-se o IHGRN, a Casa da Memória
Por Redação
Adata de 29 de março de 1902 pode passar despercebida para muitos potiguares, mas é nela que a história do Rio Grande do Norte, até então efêmera, ganhou concretude e garantiu seu lugar no tempo. Nesse dia, um grupo de notáveis, que contava com ex-governadores, intelectuais e figuras proeminentes do estado, fundou o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).
A importância desse ato não é exagero. Com a criação do instituto, fundava-se a Casa da Memória, que viria a ser responsável por preservar artefatos, documentos e livros relacionados à história e à cultura potiguar. Ao longo de 123 anos, esse acervo se ampliou, agora incluindo telas, esculturas, fotografias e até mesmo um dos registros mais antigos do Império Romano presentes no Brasil, a Coluna Capitolina. O IHGRN
não apenas preserva o passado, mas também propicia a reflexão e o estudo sobre a identidade cultural e histórica do Rio Grande do Norte. E isso é muito, muito importante.
Atual sede do IHGRN, um ícone da Rua da Conceição
A fundação do IHGRN se mistura com um novo momento da construção da identidade nacional. Nessa época, a República ainda estava engatinhando e havia a necessidade de construir um novo Brasil. Na época, outros oito estados já haviam instituído seus próprios institutos. O modelo maior, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), já existia desde 1838, e o Rio Grande do Norte, agora transformado de província em estado, precisava formalizar sua história para garantir que ela não
se perdesse. O IHGRN surgiu como uma ferramenta para registrar documentalmente essa trajetória, solidificando a identidade potiguar.
Como conta o jornalista e pesquisador Gustavo Sobral, membro do IHGRN, a fundação ocorreu na biblioteca do colégio Atheneu, quando ainda funcionava na Cidade Alta de Natal, e reuniu figuras históricas de grande renome. Alguns membros estavam presentes, enquanto outros foram representados por procuração. Os 26 fundadores, todos homens, muitos dos quais hoje fazem parte do cotidiano dos natalenses como nomes de ruas e avenidas, uniram-se, naquele 29 de março de 1902, para dar um novo rumo à preservação da história local.
Foram eles: Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, Antonio José de Mello e Souza, Augusto Tavares de Lyra, Eloy Castriciano de Souza, Francisco Carlos Pinheiro da Câmara, Francisco de Salles Meira e Sá, Francisco Pinto de Abreu, Henrique Castriciano de Souza, João Avelino Pereira de Vasconcelos, João Baptista de Siqueira Cavalcanti, Joaquim Ferreira Chaves Filho, Joaquim Manuel Teixeira de Moura, José Ber-
nardo de Medeiros, José Theotonio Freire, Luiz Manoel Fernandes Sobrinho, Manuel Dantas, Manuel Hemeterio Raposo de Mello, Manuel Moreira Dias, Olympio Manuel dos Santos Vital, Pedro Celestino da Costa Avelino, Pedro Soares de Araújo, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, Sergio Paes Barreto, Thomaz Landim, Veríssimo de Toledo e Vicente Simões Pereira de Lemos.
Na ata, assinada por todos, um preâmbulo formal: “Aos 29 dias do mês de março de 1902, 14º da República, nesta cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, no salão do Atheneu norte-rio-grandense, em que funciona a biblioteca estadual”. Em seguida, todos os fundadores são citados e o propósito da reunião é registrado: “Tomando a palavra, o desembargador Vicente Lemos diz que o fim da presente reunião era a fundação, nesta capital, de um instituto histórico e geográfico, que, assumindo um encargo altamente patriótico, visava firmar com dados autênticos, colhidos em pacientes e constantes investigações, a verdade histórica da vida potiguar em qualquer sentido, promovendo-se todos os meios conducentes à realização desse desiderato”. O momento, segundo o relato, foi muito aplaudido.
A criação do IHGRN tornou-se ainda mais urgente devido a um conflito jurídico que o Rio Grande do Norte enfrentava na época: a questão de Grossos. Essa disputa territorial com o governo do Ceará envolvia uma área de terra contestada, gerando tensões entre os dois estados. De acordo com o professor e historiador Kokinho, também membro do IHGRN, “o Ceará, que dependia do sal
produzido em Grossos para a fabricação de carne de sol, havia elevado a localidade à categoria de vila, incorporando-o ao seu território, o que deu origem ao conflito”.
O então governador do Rio Grande do Norte, Alberto Maranhão, tentou resolver a questão de forma armada, mas o impasse foi parar nos tribunais. Em primeira instância, o Ceará saiu vitorioso, mas o RN não se deu por vencido. O ex-governador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão chamou o renomado jurista Ruy Barbosa e o advogado Augusto Tavares de Lyra para defender a causa potiguar. Em 1920, após intensas disputas jurídicas, a justiça deu ganho de causa ao Rio Grande do Norte, encerrando definitivamente a questão.
O Instituto Histórico e Geográfico do RN é a mais antiga instituição cultural do estado, com um legado de relevância histórica e acadêmica. Em 1903, apenas um ano após sua fundação, o instituto deu início à publicação da Revista do IHGRN, uma importante publicação periódica que reúne textos sobre a história, geografia, genealogia e cultura do Rio Grande do Norte. Até hoje, a revista continua sendo a mais antiga em circulação no estado,
A biblioteca e o arquivo abrigam livros e documentos importantes
consolidando-se como uma fonte essencial de pesquisa sobre a história local, e exemplares podem ser adquiridos na sua recepção.
Nos primeiros anos, o IHGRN funcionou na biblioteca do Atheneu, mas, a partir de 1903, passou a ocupar a Intendência Municipal, onde hoje temos o Palácio Felipe Camarão, atual sede da Prefeitura de Natal, e, mais tarde, a antiga sede da Justiça Federal, na Rua Princesa Isabel. Hoje, o instituto está estabelecido na Rua da Conceição, onde segue sendo um espaço de preservação e difusão da memória potiguar.
Embora a data de 29 de março de 1902 não seja amplamente celebrada, é interessante pensar que ela representa a capacidade de lembrar e de registrar a própria história, algo que o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte tem feito com excelência ao longo de mais de um século. E afinal, “lembrar” e “registrar” são meios seguros para não esquecer.
O manuseio adequado é essencial para garantir a integridade de informações
Com preparo intelectual e olhar meticuloso, Manoel Dantas refletiu as revoluções do seu tempo
Por Redação
Suas previsões eram ambiciosas: “Natal deverá possuir uma estação monumental na Praça Augusto Severo, que será cortada pela Estrada de Ferro Transcontinental, com seus trens partindo de Londres, passando pelo canal da Mancha, percorrendo a Europa, o norte da Ásia, atravessando o estreito de Behering, cortando a América do Norte, galgando em cima dos Andes, des-
cendo pelos campos de Mato Grosso e Goiás, seguindo o vale do São Francisco, pairando sobre a cachoeira de Paulo Afonso e terminando essa estrada em Natal. O ponto de atração dessa gente cosmopolita seriam os morros e as dunas alvas”.
Mas não é difícil imaginar a Natal de Manoel Dantas quando se conhece melhor o
que se passava em sua mente e, claro, em seu coração. Sobretudo ao pensarmos nele como uma das expressões mais emblemáticas da intelectualidade da “belle époque potiguar”, vivendo na transição do século XIX para o XX, um período de grandes transformações em todo o mundo.
Além do seu preparo intelectual e olhar meticuloso, Manoel Dantas experimentou as revoluções de sua época, e foi testemunha da administração do macaibense Alberto Maranhão (1900-1904) no Rio Grande do Norte, que deixou uma marca de modernidade no estado. Havia, portanto, um terreno fértil para suas projeções.
Essas projeções visionárias foram compartilhadas na célebre conferência “Natal daqui a Cinquenta Anos”, em 1909, que também se tornaria livro. O futuro imaginado por Dantas para a Natal de 1959 era um lugar sem provincianismos, uma cidade em pé de igualdade com as grandes metrópoles do mundo.
Apesar do vínculo profundo com Natal, Manoel Gomes de Medeiros Dantas nasceu em Caicó, a 26 de abril de 1867, e se mudou para a capital para estudar. Na cidade, viveu como hóspede dos parentes, que transformavam cada residência em um pequeno pedaço do Seridó.
Sua formação acadêmica também foi determinante. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife em 1890, foi promotor público em Jardim do Seridó e Acari, além de ser nomeado juiz substituto seccional do RN. Manoel Dantas implantou a Justiça Federal no estado.
Era um homem culto, com uma vasta biblioteca, incluindo obras estrangeiras como revistas francesas. Muitas dessas obras ainda estão nas estantes do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN). E o mais impressionante é que essas obras foram encadernadas à mão por ele. Segundo Katte Jesus, bibliotecária do instituto, “é fácil reconhecer a biblioteca dele pois os livros estão encadernados em couro e a sua letra está em todas as capas e lombadas dos livros”.
Em 1897, foi nomeado diretor-geral da Instrução Pública, cargo que ocupou até 1905. Também foi professor de Geografia no Atheneu Norte-Riograndense e procurador-geral do Estado. No segundo governo de Alberto Maranhão, Manoel Dantas voltou à direção da Instrução Pública, onde permaneceu até seu falecimento. Durante sua trajetória, também se destacou como político, sendo eleito intendente de Natal e deputado estadual constituinte em 1915.
É preciso dizer que Manoel Dantas fez previsões para Natal justamente porque conhecia bem a cidade, e esse conhecimento em muito se deve à sua atuação jornalística. Passou pelas redações de O Povo (1889), A República (18971924), Diário de Natal (1893) e O Estado (1895), o que lhe proporcionou um olhar atento sobre a transformação e os rumos da capital potiguar.
Aliás, consta, dito por seu neto, Edgar Dantas, que Manoel Dantas não dispensava o jumento para a sua locomoção ao trabalho, que sem precisar de comando, já sabia o destino: a redação do jornal e todos os dias. E foi pelos jornais que narrou um sonho e escreveu a lenda da cidade do Natal. Ele mesmo conta como tudo aconteceu. Natal teria nascido quando o anjo, no alto da duna, diante de Mascarenhas Homem, disse: “Surge e levanta!”
Além disso, possuía uma máquina fotográfica com a qual registrou a Natal de sua época, produzindo uma coleção valiosa de imagens. Basta dizer que Manoel Dantas tirou as primeiras fotos 3D de Natal! Algumas dessas fotos documentam momentos históricos, como a inauguração da ponte ferroviária de Igapó, em 1916. Ele legou uma memória visual imortal, através de uma rara coleção fotográfica que permite visualizar a Natal de um tempo já distante.
O futuro que Manoel imaginou para a Natal de 1959 já é passado, e, infelizmente,
Autorretrato de Manoel Dantas e Dona Chiquinha, publicada no livro Seridó
nada se assemelha à realidade dos dias de hoje. Contudo, sua utopia ainda fascina leitores e admiradores e atravessa gerações.
A publicação da conferência de 1909 não foi seu único feito literário. Manoel Dantas também produziu outros trabalhos sobre o Rio Grande do Norte, como Denominação dos Municípios (1922), Thomaz de Araújo (1924) e Homens de Outrora (1941), este publicado após sua morte.
Manoel Dantas é um dos fundadores do IHGRN, a Casa da Memória do povo potiguar, e sua contribuição para a história e a cultura do estado é indelével e, por isso mesmo, o instituto preserva até hoje o busto e a biblioteca de um dos seus mais importantes colaboradores.
Foi um homem moderno, com ideias liberais e uma visão progressista da sociedade. Faleceu em Natal a 15 de junho de 1924, há aproximados cem anos. Manoel Dantas se foi. Seus sonhos e ambições, no entanto, permanecem, mais vivos do que nunca.
1. Praça André de Albuquerque
2. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação
3. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
4. Praça Padre João Maria
5. Instituto Histórico e Geográfico
6. Memorial Câmara Cascudo
7. Rua da Conceição
8. Antigo Armazém Real da Capitania
9. Sobradinho
10. Palácio Potengi
11. Praça 7 de Setembro
12. Assembleia Legislativa
13. Antigo Tribunal de Justiça
14. Palácio Felipe Camarão
15. Largo da Junqueira
16. Casa da Estudante
17. Igreja Presbiteriana de Natal
18. Antigo Atheneu
19. Relógio do SESC
20. Antiga OAB
21. Praça das Mães
22. Capitania das Artes
23. Solar João Galvão
24. Solar Bela Vista
25. Travessa PAX
26. Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo
27. Departamento Estadual de Imprensa
28. Estação Ribeira
29. Colégio Salesiano São José
30. Praça Augusto Severo
31. Museu Djalma Maranhão
32. Antigo Cine Polytheama
33. Antiga Junta Comercial
34. Antiga Escola Doméstica
35. Antigo Grupo Escolar Augusto Severo
36. Teatro Alberto Maranhão
Por Redação
Quem caminha pela parte baixa da Avenida Câmara Cascudo, no cora-
ção de Natal, não apenas atravessa a cidade, mas também o tempo. A via, que já foi palco de memórias de uma Natal antiga, carrega consigo a essência do final do século XIX e início do século XX, muito bem preservada em seus solares, que guardam e iluminam a história da cidade.
Para quem deseja embarcar completamente nessa viagem no tempo, há um solar pronto para receber: o Tavares de Lyra, que foi parte da antiga Fábrica de Fiação e
Imponente e repleto de história: o Solar Bela Vista
Tecidos Natal e depois residência do ex-governador, agora convertido em um ponto de imersão cultural. Graças ao uso de tecnologia de ponta, como inteligência artificial e realidade aumentada, é possível vislumbrar como era a cidade daquela época – com suas fachadas originais, o movimento dos transeuntes e o bonde que cortava a rua, transportando o visitante diretamente para o passado.
Esse trabalho inovador permite que, ao olhar pela janela do solar recentemente restaurado, o público veja o mesmo cenário que
o próprio Tavares de Lyra contemplava em sua época. A restauração do imóvel, portanto, vai além de uma simples preservação histórica: o solar renasce como a nova sede do Memorial do Legislativo Potiguar, vinculado à Assembleia Legislativa. Mais do que um restauro arquitetônico, ele se torna um centro de memória do legislativo potiguar, oferecendo à cidade um espaço dedicado à formação da cidadania no Rio Grande do Norte.
Quase em frente, o Solar Bela Vista também revive suas memórias. Imponente e repleto de história, o casarão, que já foi residência, sede do Tribunal de Justiça e, mais recentemente, o Hotel Bela Vista, conserva com cuidado seus traços originais, esquadrias e adornos que transportam o visitante ao início do século XX. Atualmente, o Solar abriga o Centro de Cultura e Lazer do SESI, servindo como palco para diversos eventos culturais.
Indícios sugerem que um novo rumo está sendo planejado para o espaço. A superintendência do SESI está analisando a possibilidade de transformá-lo no lar do Memorial da Indústria, um projeto arrojado que inclui, entre outras inovações, o uso de projeção mapeada para dar vida à história de forma imersiva e dinâmica. A torcida é para que isso aconteça.
Vizinho ao imponente Solar Bela Vista, surge outra construção de grande destaque: o Solar João Galvão de Medeiros, que completa o trio dessa nobre vizinhança. Sede do Centro de Documentação Eloy de Souza, da Fundação José Augusto, e lar do Centro de Folclore do Rio Grande do Norte, o casarão
do início do século XX preserva seu charme original. Ali, estão guardados livros, documentos e obras de importantes figuras do Rio Grande do Norte, como Café Filho e Dix-Sept Rosado, assegurando que o legado cultural do estado continue vivo para as futuras gerações. Embora a visitação seja restrita a pesquisas, o que se pode vislumbrar da rua já é o suficiente para despertar a curiosidade e preencher o imaginário.
De acordo com o historiador Alexandre Rocha, curador da Caminhada Histórica, os solares da Avenida Câmara Cascudo são verdadeiros guardiões da memória de Natal, testemunhas de uma época em que a cidade se expandia. “Eles marcam a memória de um tempo entre a tradição e a modernidade. Mais do que construções imponentes, representam a riqueza arquitetônica e cultural da capital potiguar, agora ressignificados como espaços de preservação e difusão histórica”, comenta ele.
Durante o período colonial e nos séculos XIX e XX, o termo “solar” foi importado de Portugal para o Brasil, sendo utilizado para descrever as casas de classe alta, com fachadas elegantes, adornadas com detalhes arquitetônicos sofisticados, como colunas, janelas amplas e varandas. Esse tipo de construção, com grandes esquadrias e espaços arejados, era associado ao conforto, à sofisticação e à saúde, pois o sol e a luz natural eram aspectos muito valorizados nas habitações da época.
Hoje, o termo “solar” continua a ser utilizado para se referir a esses imóveis antigos, frequentemente restaurados e preservados como patrimônio histórico ou transformados em espaços culturais, centros de documentação e memoriais. É o caso do Tavares de Lyra, do Bela Vista e do João Galvão de Medeiros. No coração da Avenida Câmara Cascudo, os solares permanecem fiéis ao significado original do termo que os distingue, mas agora também irradiam luz, revelando tanto o passado da cidade quanto suas perspectivas para o futuro.
Embora não ostente o título de “solar” em seu nome, a sede do Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo – não deixa de ser um, em sua essência, com uma arquitetura distinta, trazendo uma residência construída em formato de chalé, com detalhamento maior nos adornos da beira. E é impossível não olhar para o próprio nome da avenida, que carrega a marca de um dos maiores moradores que já teve: o historiador, folclorista e muitos outros mais, Luís da Câmara Cascudo. Foi aqui, ainda sob o nome de aveni-
da Junqueira Aires, que o “grande mestre” se estabeleceu e produziu boa parte de sua vasta obra intelectual. O Ludovicus, localizado na casa onde ele viveu por mais de 40 anos, tornou-se um ícone da avenida, preservando um acervo valioso que mantém viva a memória e o legado do pesquisador.
Na virada para o passado, o cenário da Avenida Câmara Cascudo era bem diferente. Registros antigos revelam que uma área alagada separava a Cidade Alta da Ribeira.
A ladeira acentuada, um obstáculo natural, dividia Natal em duas. A única via de acesso entre os bairros era, uma ponte de madeira, que nem sempre estava em boas condições e, como o próprio Cascudo escreveu em História da Cidade do Natal, a população precisava enfrentar “a ladeira íngreme, escorregando sabão depois das chuvas” para chegar à Cidade Alta. Era uma cidade difícil de transitar.
O nome dessa via mudou ao longo do tempo. Passou por Aterro, Ladeira, Subida da Ladeira e Rua da Cruz – o último devido ao cruzeiro que marcava o fim da cidade de Natal no período colonial. No final do século XIX, em 1873, a ladeira começou a ser ocupada, com a chegada da Companhia de Aprendizes Marinheiros, hoje Capitania das Artes, da Prefeitura de Natal. No entanto, a via, tão importante para ligar a Cidade Alta à Ribeira, demorou a ser pavimentada, o que só aconteceu na gestão de Omar O’Grady, entre 1924 e 1930.
O Memorial do Legislativo Potiguar não é a única novidade na região. A Assembleia Legislativa anunciou recentemente que o prédio vizinho, onde também funcionou empresa do setor têxtil, será reformado e transformado em um auditório/teatro com capacidade para mais de 200 pessoas.
Além disso, o restauro da antiga sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), próximo à Praça das Mães, tem a pretensão inicial de transformar o espaço em um anexo moderno, com coworking e – se tudo correr bem – o Memorial da Advocacia Potiguar.
Tudo isso não é apenas uma revitalização urbanística, mas um movimento de resgate da memória histórica e cultural de Natal. A parte baixa da Avenida Câmara Cascudo, com sua arquitetura centenária e seu novo fôlego, volta a ser o epicentro de uma nova narrativa, mais conectada com o passado e mais viva do que nunca.
A temporada de Mário de Andrade no RN, há 95 anos, permanece inspiradora e atual
Por Redação
Foi a curiosidade insaciável do poeta, romancista e pesquisador Mário de Andrade que o trouxe ao Rio Grande do Norte em 1928, onde ele imergiu no rico e vibrante universo folclórico local. Sua viagem foi motivada pelo desejo de mapear a diversidade cultural do Brasil, registrando festas, cantos e tradições populares. Esse mergulho profundo na cultura potiguar se tornou um dos pilares de um dos seus livros mais emblemáticos: O turista aprendiz
O pesquisador Rostand Medeiros escreveu que, no RN, Mário “viu coisas interessantes, conversou, fez amizades e levou uma imagem sobre Natal e o Nordeste que marcariam sua obra”. De fato, são muitos os trechos do livro lançado postumamente, em 1976, que fazem referência à sua passagem pelo estado, com experiências vividas tanto na capital quanto no interior.
Em 1928, Mário já era uma figura consagrada na literatura nacional, especialmente após a realização da Semana de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo, evento cultural mais marcante daquela década. Mário foi um dos líderes do movimento modernista, exercendo grande influência sobre outros escritores. Naquele mesmo ano, publicou Paulicéia Desvairada, que provocou forte reação do público e da crítica. Mário de Andrade já era grande quando veio a Natal.
A partir de 1924, o paulista passou a manter uma constante troca de correspondências com Luís da Câmara Cascudo. Essa interação seria importante para que, mais tarde, ele decidisse realizar mais uma “viagem etnográfica”, a segunda pelo interior do Brasil. A primeira, em 1927, havia contemplado apenas a região amazônica, ocasião em que Mário desceu no porto de Natal por algumas horas. A estadia no estado, no entanto, aconteceria só depois.
parte importante do seu processo de descoberta e contemplação da nossa cultura”. Com os laços estreitos com Luís da Câmara Cascudo - e Antônio Bento de Araújo Lima, outro grande amigo -, Mário encontraria, no RN, o terreno perfeito para sua pesquisa.
As cidades de Natal, Recife e Parahyba (atual João Pessoa) foram suas principais bases para levantamentos e coletas. É preciso dizer que Natal foi o local de sua permanência mais longa. Ele passou um mês e meio na capital potiguar, treze dias na pernambucana e onze na paraibana.
Rostand Medeiros conta que “possuído por uma irrequieta e curiosa vontade de descobrir o que o Brasil dos rincões guardava, o escritor paulista não se contentava em ser um pesquisador de gabinete. A viagem era
A chegada se deu pelo mar, no porto de Recife, em 3 de dezembro. Daí em diante, Mário seguiu por terra, de carro e trem, retornando a São Paulo apenas em 20 de fevereiro de 1929. O turista aprendiz veio viver um verão imersivo na porção do “Norte” que acabara de ser denominada Nordeste. Uma novidade discursiva, uma “nova” porção de Brasil.
Mário de Andrade chegou a Natal no dia 14 de dezembro de 1928, uma sexta-feira, e foi recepcionado na estação ferroviária da Great Western, a mesma que ainda temos na Ribeira, por Antônio Bento e Câmara Cascudo, de quem seria hóspede na casa de seus pais, no Tirol.
De acordo com Rostand Medeiros, a visita do escritor movimentou a intelectualidade da cidade. O jornal A República deu o tom, afirmando que sua passagem pelo Rio Grande do Norte se dedicava a “estudos literários”.
O colunista Aderbal de França apresentou, à época, Mário de Andrade com a seguinte pergunta: “E a que veio o notável escritor de Macunaíma?”, para, mais adiante, ele mesmo responder: “Na sua simplicidade habitual, estudar as tradições da nossa terra, para decantá-las na feição moderna que tão bem sabe lapidar os hábitos conservadores da nossa raça”.
Aderbal disse mais: “Mário de Andrade se desagrega das ruas, cheirando a indústria da Paulicéia e vem às ruas com anseios de progresso da terra de Itajubá (referência ao poeta potiguar Ferreira Itajubá), que, se vivo fosse, seria, talvez, um dos da ‘es cola paulista’...”. E avançou: “Vem, dentro do seu modernismo, ver de perto o que possuímos pelos recantos da cidade e do interior, porque, em verdade, a vida do norte vive sempre tão ignorada pelos intelectuais do sul!”.
No dia seguinte à sua chegada, Má rio e Cascudo visitaram o governador Juvenal Lamartine em seu gabinete, numa visita de cortesia, que seria repetida e registrada. Já nos primeiros dias, Mário foi criando, na cidade, um círculo de amigos e companheiros de banho de mar, principalmente na praia da Redinha. Foram muitos os passeios, os momentos de descanso, mas também houve intensa pesquisa. Em toda parte, conforme o próprio autor, encontrou “gente suavíssima que me quer bem, que se interessa pelos meus trabalhos, que me propor ciona ocasiões de mais dizer que
o Brasil é uma gostosura de se viver”, escreveu mais tarde.
É nessa condição de “honestidade cultural” que o pesquisador parte para conhecer o Boi, o Fandango, a Chegança, os Congos, o Catimbó, seus mestres e feiticeiros. Ele percorreu os bairros populares, mostrando sua predileção pela Natal menos visível. Mário realizava um roteiro até então pouco usual para a introdução às cidades nordestinas: apreciando a cultura, as festas populares, a arte, a história, mas também as comidas e as bebidas locais, as praias e, claro, os banhos de mar.
produção documental: Vamembolá, produzido por Lucila Meirelles e Cid Campos.
Após visto o RN do açúcar, chegou o momento de seguir para o interior do estado e conhecer o sertão potiguar. Mário percorreu 1.104 km, passando por Macau, onde conheceu suas salinas, por Assu e pelas regiões Oeste e Seridó, tudo isso em apenas cinco dias. A bordo de um Cadillac e na companhia de Cascudo.
Depois de sua permanência em Natal, o escritor desbravaria o interior, começando pela fazenda Bom Jardim, na região de Goianinha, onde se encantou com o trovador Chico Antônio, como era conhecido o embolador de coco Francisco Antônio Moreira. Para Mário, “Chico Antônio não sabe que vale uma dúzia de Carusos”. O líder modernista transformou Chico Antônio num dos símbolos do modernismo, cultuado pela intelectualidade dos anos 30 e 40 como um exemplo do talento do artista popular.
A obra de Chico Antônio foi musicalizada e pode ser acessada, inclusive, no YouTube, por meio de uma iniciativa da Fundação Hélio Galvão. O cantador de cocos também encontrou seu espaço no audiovisual. Em 1983, o documentário Chico Antônio, o herói com caráter, de Eduardo Escorel, contextualizou sua importância. Mais recentemente, em 2024, foi lançado outra
Na manhã do dia 27, o escritor paulista encerrou sua jornada no RN e seguiu por terra para a cidade da Parahyba (atual João Pessoa), parada final da sua passagem pelo Nordeste recém-batizado.
Oito décadas após sua morte e 95 anos após a visita, o pensamento de Mário de Andrade continua sendo essencial para entender a complexidade cultural do Brasil. É possível conhecer os detalhes dessa visita no livro O Turista Aprendiz, lançado após sua morte. A obra é resultado de suas anotações, o que torna a leitura ainda mais rica e a compreensão de seu legado, que perdura, mais profunda.
Mário de Andrade, ícone do modernismo, continua a inspirar e possui a capacidade de ajudar o potiguar a olhar para si mesmo. Até com mais entusiasmo. É o que se pode chamar de boa visita.
Por Redação
OConcurso Fotográfico de Natal “Fotografias que Eternizam a Alma da Nossa Cidade” segue ganhando adesão de entusiastas da fotografia, tanto profissionais quanto amadores, e chega à sua sétima edição. Além de prêmios nas categorias amador e profissional, o concurso também oferece menções honrosas e certificados de participação. Uma das atrações do Festival
Histórico de Natal, o concurso convida os participantes a capturarem momentos únicos durante a Caminhada Histórica de Natal, sendo apenas essas fotografias elegíveis para a competição. A curadoria é assinada pelo fotógrafo Henrique José. Nesta seção, apresentamos as imagens vencedoras da edição 2023, que celebram o patrimônio e a história da nossa cidade.
PROFISSIONAL
A segunda edição do projeto Ocupação Literária acontecerá nos dias 24 e 25 de maio em Natal, com o objetivo de reposicionar a cidade na rota nacional dos eventos literários. Em 2024, o evento contou com a participação de nomes como Itamar Vieira Júnior e Bruna Beber. Para a edição de 2025, que foi oficialmente lançada com a presença do imortal potiguar
João Almino, da Academia Brasileira de Letras (ABL), o público poderá prestigiar grandes nomes da literatura, como Jarid Arraes, Natália Timerman e Raphael Montes. O evento é uma realização da Viva Promoções, em parceria com o jornalista Octávio Santiago.
Após a entrega do Memorial do Legislativo Potiguar, no Solar Tavares de Lyra, a Assembleia Legislativa dá continuidade aos seus planos de reocupar o centro histórico de Natal. As negociações estão avançadas para que o legislativo passe a administrar a casa que pertenceu ao ex-presidente da República Café Filho, localizada na Rua da Conceição. O espaço será transformado no Centro Cultural Café Filho, com direção do jornalista e pesquisador Alexandre Gurgel. Além de homenagear Café Filho, a proposta é manter uma agenda cultural ativa, com referências a grandes nomes da história local.
Uma das livrarias mais charmosas de Natal está instalada na Rua da Conceição, nº 622, dentro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN). No local, é possível encontrar uma variedade de itens à venda, como plaquetas, catálogos, livros, cartões e outras publicações, com destaque para obras de autores potiguares e sobre o Rio Grande do Norte, tanto publicadas pela instituição quanto cedidas pelos próprios autores. Entre os destaques, está a Revista do IHGRN, a mais antiga em circulação no estado.
Os valores arrecadados com as vendas são integralmente revertidos para a manutenção da instituição, firme no propósito de preservar a memória potiguar.
O documentário Centro Sagrado, disponível no YouTube, explora o patrimônio religioso e histórico do Rio Grande do Norte, desde o período pré-colonial até os dias atuais. Inspirado no Projeto Memória Religiosa da Cidade do Natal da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), o filme foi rodado em Natal e na região metropolitana, trazendo influências do movimento antropofágico de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. A produção reúne especialistas e lideranças religiosas para enriquecer a narrativa. Realizado pela Viva Promoções, o documentário tem direção e roteiro de Athos Muniz, direção criativa de Eris Rangel, produção da Hills e consultoria de Alexandre Rocha.
O governo do Rio Grande do Norte está em processo de recuperação do Cine Panorama, um antigo cinema de rua localizado no bairro das Rocas, em Natal, com o objetivo de transformá-lo em um cinema público. Inaugurado em 29 de janeiro de 1967, o Cine Panorama encerrou suas atividades no início dos anos 1990. O prédio será tombado e desapropriado, passando por um processo de restauração e modernização. O cinema será equipado com novos dispositivos de exibição e será gerido por uma empresa selecionada por meio de edital. A reabertura do Cine Panorama está prevista para 2026.
Ponto histórico e tradicional de Natal, a Pedra do Rosário, situada às margens do Rio Potengi, no Passo da Pátria, está sendo completamente reconfigurada pela Prefeitura de Natal. O projeto contempla a criação de uma Estação Turística e Religiosa no local, que recebe, todos os anos, milhares de fiéis durante a missa que marca o início das celebrações do dia da Padroeira de Natal, Nossa Senhora da Apresentação, em 21 de novembro. Além de enriquecer a experiência religiosa, o projeto valoriza a beleza natural do Rio Potengi e o famoso pôr do sol visto da área. A conclusão das obras está prevista para 2026.
Foto: Canindé Soares
Há 120 anos, falecia Padre João Maria, conhecido como “o anjo da caridade”. Ele, que dá nome a uma das praças mais visitadas do centro histórico da cidade, continua sendo lembrado com carinho, especialmente pelos fiéis. Todos os dias 16, às 12h, data de seu falecimento, missas são celebradas na praça, por iniciativa da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. A exceção ocorre quando o dia 16 cai no domingo. Vale ressaltar que o dia 16 de outubro entrou para o calendário oficial de eventos do Rio Grande do Norte como o Dia Estadual da Caridade. Desde 2002, a Arquidiocese de Natal, em colaboração estreita com o Vaticano, trabalha incansavelmente no processo de beatificação de Padre João Maria, um passo significativo em seu caminho rumo à santidade.