Caderno do Festival de Cinema de Vitória - Zezé Motta

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Como protagonista, coadjuvante ou emprestando sua imagem a pequenos papéis — o que ela garante que nunca foi um problema — a presença de Zezé Motta ajuda a compor o imaginário do nosso cinema e, mais que isso, reivindica o espaço da mulher negra ao recusar a invisibilidade imputada por sua cor de pele. A força e o orgulho da ancestralidade africana sempre estiveram presentes no trabalho da atriz e, não por acaso, é no cinema que essa potência é elevada ao máximo em Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues. Ao protagonizar a “imperatriz do Tijuco”, Zezé Motta incorpora a figura de uma poderosa e sedutora mulher negra que se afirma na nobreza acima de todo o preconceito. Baseado na história real de Xica da Silva, uma ex-escrava negra que se torna “rainha” do Arraial do Tijuco (atual Diamantina, em Minas Gerais), ao conquistar o representante da Coroa Portuguesa em plena era de extração de diamantes, o filme se tornou um sucesso instantâneo, com mais de 3 milhões de espectadores e uma série de prêmios nacionais e internacionais que marcaram para sempre a carreira da atriz.

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“Foi um divisor de águas na minha vida, porque eu passei a ser conhecida no Brasil e no mundo e abriu muitas portas para mim”, comenta Zezé. Com o papel de Xica, ganhou diversos prêmios como melhor atriz, como o Air France de Cinema; o Candango, do Festival de Brasília; o Governador do Estado de São Paulo; o Troféu Coruja de Ouro; e o prêmio do Festival de Gramado. Em diversas entrevistas, o diretor do filme, Cacá Diegues, admite que a própria existência do filme dependia de uma atriz que fosse capaz de imprimir a energia necessária para compor essa personagem e que, inclusive, estaria disposto a encerrar o projeto caso não encontrasse uma candidata à altura. Felizmente, Zezé Motta ficou sabendo das audições e conquistou o papel que seria o trampolim para o seu sucesso. Xica da Silva não lhe trouxe apenas prêmios, mas também o status de celebridade e o reconhecimento do seu trabalho pela carga erótica da personagem, que passou a ser venerada por todo país como sex symbol. Foi nesse momento que Zezé Motta começa a perceber seu poder de influenciar as pessoas, como mulher negra desejada e representada como um ícone de beleza, além da importância de se colocar no mundo.


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