Toque de Saída Nº10

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ANO 4 - Nº 10

TOQUE DE SAÍDA

UM ESPECTÁCULO POR CIMA DE NÓS

No passeio sossegado, caminho para casa, são dez horas da noite quando, vindo de uma direcção inesperada, oiço um chilreio agudo. Viro o olhar, tarde demais, já só consigo vislumbrar a silhueta de um branco fantasma desaparecendo por detrás do CCB, num voo misteriosamente silencioso e perfeitamente nivelado, como se fosse dono do ar – assim nos surpreende a Coruja-das-Torres. Foi com fascínio e surpresa que descobri, anos atrás, que o espaço aéreo do ECB, no coração da vila da Benedita, é visitado com regularidade pela espécie de coruja mais vastamente distribuída pelo mundo inteiro, a Tyto Alba. Da ordem Strigidae, família Tytonidea, nome científico Tyto Alba e nome vulgar Coruja-das-Torres, esta ave de rapina apresenta uma face achatada, com um anel escuro em redor do disco facial, desenhando um coração. No seu todo, a plumagem é clara, possuindo a fêmea pontos negros no peito que servem de

estímulo ao parceiro macho. Variam em altura (em Portugal, entre os 25 aos 35 cm, enquanto na América do Norte, algumas chegam aos 45cm de altura) e pesam entre 200 a 400 gramas. Alimentam-se de pequenos mamíferos, essencialmente ratos, insectos e até mesmo morcegos e aves. É de notar, especialmente para quem está a estudar física, a característica que permite a esta ave captar os ruídos dos ratos, e, no caso das espécies presentes na Lapónia, detectar presas que se encontram a mais de um metro debaixo de neve. A forma de disco côncavo que envolve cada olho, como acontece com as antenas parabólicas, concentra as emissões de ruído para as aberturas dos ouvidos (próximas dos olhos), aumentando consideravelmente a capacidade auditiva. Os olhos são grandes e apontam para a frente. Por esta razão, ao contrário da maioria das aves, a coruja consegue ver um objecto com os dois olhos e ao mesmo tempo. Como nós, elas têm visão binocular, mas, ao contrário de nós, as corujas não podem mover os olhos dentro das órbitas, têm, portanto, de apontar a cabeça para ver um objecto, conjugando assim os sensores auditivos. É de tal ordem a capacidade auditiva que não há animal neste mundo que a consiga igualar. Como a visão binocular confere a aparência de um ser inteligente, para os gregos da Antiguidade, a coruja era dedicada a Atena, deusa da sabedoria. Sabe-se hoje, no entanto, que o corvo, e outras aves são, provavelmente, mais inteligentes do que a coruja. Por todo o Portugal, com excepção dos Açores, é possível observar a Coruja-das-Torres, cuja densidade populacional na Península Ibérica varia de 1 a 50 casais por cada 50 km2. Esta espécie tem sofrido um declínio moderado na maior parte dos países europeus, o qual parece estar associado à intensificação

da agricultura, à utilização de pesticidas, ao armazenamento dos cereais em silos e, subsequente redução de roedores, ao desaparecimento de cavidades naturais e artificiais para nidificação, ao desenvolvimento das redes viárias e ao aumento do tráfego e da mortalidade que lhe está associado. Por esta razão, a Coruja-das-Torres está classificada na Europa como uma SPEC 3, ou seja, espécie cuja população global não está concentrada na Europa, mas que tem um estatuto de conservação desfavorável nesse continente. Os seus habitats favoráveis são zonas de campos agrícolas com sebes, taludes e matos. Também fazem ninhos em construções abandonadas, chaminés, armazéns e torres de igrejas e mesmo em cidades de grande dimensão. A Coruja-das-Torres é geralmente monogâmica, competindo às fêmeas a incubação dos ovos e aos machos a procura de alimento. A postura, que pode variar entre os 2 e os 14 ovos, inicia-se em Março e dura 30 ou 31 dias. As crias permanecem no ninho entre 50 a 55 dias, e tornam-se independentes 3 a 5 semanas mais tarde. Reproduzir-se-ão pela primeira vez com 1 ou 2 anos de idade. Podemos ter, portanto, muito orgulho em albergar na nossa região uma espécie, que, embora discreta, brilha como uma estrela, ao desvendarmos todas as suas capacidades. Nota de precaução: se encontrar uma Coruja-das-Torres aleijada, deve entregá-la ao Instituto da Conservação da Natureza, mais especificamente, na nossa área, em RioMaior, na sede do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros. Uma coruja debilitada não consegue sobreviver sozinha e necessita de intervenção especializada. Miguel Madruga, ex-aluno do ECB

Professor Paulo Coelho

UM PERCURSO DE EXCELÊNCIA No passado dia 18 de Dezembro, Paulo Coelho, professor de Matemática no Externato Cooperativo da Benedita, prestou provas de mestrado com uma dissertação intitulada “Templates e Elos de Órbitas Periódicas em Fluxos de Dimensão 3”. Assente em Sistemas Dinâmicos e Teoria dos Nós, este é um tema actualíssimo, estimando-se que apenas cerca de 20 pessoas, em todo o mundo, se dediquem à sua investigação. «Muito além de meros objectos decorativos e de utilidade prática – escreve Paulo

Coelho no número II dos Cadernos do ECB – nós e tranças são objectos matemáticos que encontram aplicações significativas na ciência contemporânea, nomeadamente na Biologia Molecular, na Física e na Química». A dissertação de mestrado, classificada com a nota máxima de 20 valores, foi largamente elogiada pelos membros do júri, tendo um deles afirmado tratar-se da melhor apresentação de mestrado a que algum dia assistira. Refira-se ainda que o professor Paulo Coelho demonstrou um

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E AMBIENTE

teorema matemático original, facto que levou o júri a aconselhar a publicação desse resultado em revistas da especialidade e a incentivá-lo a prosseguir a sua investigação, com vista ao doutoramento. Congratulamo-nos pelo sucesso do professor Paulo Coelho e expressamos o nosso orgulho pelos padrões de qualidade que a si mesmo impôs – e alcançou. A equipa do Toque de Saída

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