Vilas Magazine | Ed 224 | Setembro de 2017 | 32 mil exemplares

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q VIDA SAUDÁVEL | Especial

Não adianta só correr Sozinho, exercício não emagrece, mas ajuda a ganhar músculo, a limitar a fome e a reduzir o risco de doenças

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omo dar a má notícia para um paciente obeso de que o exercício provavelmente não vai emagrecêlo? E que, mesmo assim, ele deve se esforçar para manter uma prática regular? “É um assunto delicado”, resume Pedro Hallal, cientista brasileiro de renome e entusiasta dos benefícios da atividade física. O exercício comumente é listado entre as boas práticas para quem quer perder peso, mas, sozinho, ele parece ser capaz de fazer pouco por aqueles que almejam ver algum resultado na balança. “O emagrecimento depende essencialmente de uma conta simples: é o total de energia ingerida na alimentação menos o quanto o organismo gasta diariamente”, diz Hallal, que coordenou, para a revista médica “Lancet”, uma série de estudos sobre o impacto da inatividade física na saúde global. Se o plano é não mexer muito na dieta – fator mais importante para o emagrecimento –, a alternativa seria então aumentar o gasto energético. A questão, 28 | Vilas Magazine | Setembro de 2017

porém, é mais complicada do que parece, começando pela quantidade. A prática de atividade física moderada por 30 minutos diários tem impacto pequeno no combate à obesidade, afirma Hallal. “Todas essas diretrizes da OMS e do Ministério da Saúde de praticar meia hora diária de atividade física diária foram pensadas para outros desfechos, como prevenir infarto, diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral e cânceres. Além disso, há melhora da saúde óssea e da saúde mental, diminuindo também o risco do mal de Alzheimer.” Quando a meta é combater a obesidade, pode ser necessária uma dose maior de exercício: de 45 minutos a 1 hora por dia. Mas não de qualquer tipo. Estudos recentes têm apontado que exercícios de força, como lutas e musculação, são mais eficazes do que caminhadas, por exemplo. MÚSCULO A educadora física e professora da Unifesp, Ana Dâmaso e colaboradores

constataram, após dez anos de pesquisa, que corrida e caminhada em esteira até ajudam a reduzir a massa gordurosa, mas também fazem o indivíduo perder músculo, o que atrapalha o emagrecimento. O músculo é um tecido metabolicamente mais ativo do que a gordura, ou seja, quanto mais músculo uma pessoa tem no corpo, mais energia ela gasta diariamente. A melhor opção, no caso, seria fazer um exercício misto, combinando as duas modalidades. Segundo Ana Dâmaso, o desafio é preservar, com o exercício, a quantidade elevada de músculo ao mesmo tempo em que se controla a alimentação, mantendo a taxa metabólica e evitando o efeito sanfona. Outra dica para o obeso que quer fazer exercício e emagrecer – e não se frustrar no caminho – é não ficar olhando para a balança. Isso porque o exercício costuma aumentar a quantidade corporal de massa magra (composta principalmente de músculos) e diminuir o de massa gorda. Como a primeira é mais pesada do que a segunda, é possível se assustar e achar que a prática de exercício engorda. “Por isso que todo o meio acadêmico recomenda medir o emagrecimento não apenas em quilos, mas sim em quilos de gordura ou percentual de gordura”, diz Hallal. Os especialistas elencam mais moti-


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