Vida Universitária | 229

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reportagem

Para consumir,

Pesquisa revela que apenas 5% dos brasileiros consomem de forma responsável, mas mudanças de hábitos simples e novidades como vestidos de noivas veganos e construções sustentáveis revelam que uma transformação vem aí Por Claudia Guadagnin, especial para a Vida Universitária

Em abril deste ano, foram divulgados os resultados de uma pesquisa sobre o Consumo Consciente promovida pelo Instituto Akatu – uma ONG que trabalha pela conscientização da sociedade para o consumo responsável. De acordo com o levantamento, o índice de consumidores responsáveis no Brasil é de 5%. A porcentagem foi a mesma das outras duas últimas edições, feitas em 2006 e 2010. Foram entrevistadas 800 pessoas de todas as regiões do país e analisadas as respostas para 13 indicadores de responsabilidade, entre eles o hábito de reciclar, comprar produtos orgânicos e ler os rótulos antes de fazer uma compra, por exemplo. O estudo indicou, entretanto, que a população vem adotando práticas mais responsáveis, ainda que de maneira indireta e não contínua. Os hábitos sustentáveis que mais se popularizaram nos últimos dois anos foram os de planejar a compra de alimentos e roupas, que sofreram um aumento de, respectivamente, 11% e 7%. Para Aron Belinky, coordenador técnico da pesquisa, essa é a diferença entre consumo consciente e consumismo. “Ninguém defende que as pessoas deixem de comprar, mas que façam compras melhores, com mais sabedoria”. Para Jelson Oliveira, coordenador do curso de Filosofia da PUCPR e professor da pós-graduação, o consumo responsável acompanha as preocupações com crise ambiental e os direitos dos trabalhadores. “A exploração da natureza e a violação das leis trabalhistas acabam alterando o preço dos produtos, que ficam mais baratos na mesma proporção em que beneficiam apenas os proprietários, fazendo mal à sociedade”. Para ele, a educação é capaz de alterar esse cenário. “Defendo a inserção da temática do consumo consciente como disciplina escolar. A cultura hedonista e imediatista atual é o grande empecilho para que

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a população desenvolva a capacidade de pensar sobre o que consome. Ainda acreditamos que, para sermos felizes, precisamos estar cheios de coisas. É uma visão mercantil e individualista. Se um produto me faz bem, mas não é bom para a sociedade porque escraviza pessoas e destrói o meio ambiente, então, ele não traz felicidade verdadeira”, sugere.

A mudança se anuncia A pesquisa também revelou que o brasileiro está mais exigente e leva em conta o comportamento das empresas em suas decisões de consumo. Entre as questões mais consideradas estão não maltratar animais (52%), ter boas relações com a comunidade (46%), ter selos de proteção ambiental (46%), ajudar na redução do consumo de energia (44%) e ter selo de garantia de boas condições de trabalho (43%). Já entre as práticas que mais denigrem as imagens das organizações estão a venda de produtos que causem danos à integridade física das pessoas (72%) e a realização de propaganda enganosa (71%). Aline Baroni, 26 anos, é jornalista e integra o time dos consumidores conscientes. Ela é vegetariana há mais de dois anos – não consome carne, ovos, nem derivados de leite ou outros produtos de origem animal, como mel de abelha, por exemplo – e se diz “no processo” para tornar-se vegana. O veganismo reúne adeptos de uma alimentação ainda mais restrita e comprometida com o bem-estar animal. Além de rejeitar o consumo de animais e derivados, não utiliza produtos como couro, lã, seda ou maquiagens testadas em qualquer espécie. Representa um estilo de vida mais amplo, não apenas alimentar. Aline é responsável pelo blog Le Pixel Gourmet, especializado em receitas veganas, e defende que nossos hábitos


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