LÓTUS
Projeto de Ambientação da Sala de Acolhimento na Casa da Mulher de Bauru - SP
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito à obtenção do título de Bacharel em Design de Produto
ANA CAROLINA BIANCHI DANIELA DO NASCIMENTO GONÇALVES
Orientação: Prof.ª Dr.ª Fernanda Henriques
BAURU 202
Dedicamos este trabalho a todas as mulheres que terrivelmente ainda sofrem com violência em suas vidas.
3
AGRADECIMENTOS
Certamente estes parágrafos não irão atender a todas as pessoas que fizeram parte dessa importante fase de nossas vidas. Portanto, desde já, pedimos desculpas àquelas que não estão presentes entre essas palavras, mas podem estar certas de que fazem parte do nosso pensamento e gratidão.
Primeiramente, o agradecimento dirige-se aos membros de nossas famílias, principalmente nossos pais: Ana Rita, Bibiano, Denize e Eduardo pelo apoio e amor incondicional que nos despenderam desde a primeira centelha de vida que expressamos e sem os quais não teríamos concluído este desafio, gostaríamos de dizer o quanto amamos vocês.
Igualmente importante estão Deus, Oxalá e todas as correntes de entidades nas quais acreditamos terem nos dado suporte espiritual e emocional em épocas difíceis.
Agradecemos à nossa orientadora Prof.ª Dr.ª Fernanda Henriques, pela sabedoria com que nos guiou nesta trajetória.
Aos nossos amigos, que, por tantos anos, estiveram do nosso lado em momentos agradáveis e também nos trouxeram conforto e apoio nas horas de angústia e apreensão: Matheus Machado,
Juliana Paixão, Vítor Barduco, Beatriz Marigonda, grupinhos
“Kisha Cota” e “meninas do Alessandra”, dentre tantos outros que deixaram suas marcas nesses anos de graduação.
Nosso especial agradecimento ao Rubens, que nos apresentou nossa terceira orientadora e amiga, Viviane Gama que tanto contribuiu com o nosso aprendizado.Não só por isso, mas por ter sido melhor amigo e parceiro indispensavelmente incondicional de nós duas durante todo esse trajeto, estando presente nos momentos de desespero para nos acalmar, devolver o ânimo e nos fazer acreditar que tudo daria certo.
E deu! Nós te amamos, xuxu!
Aos funcionários do Centro de Atendimento à Mulher, por toda a colaboração dedicada à nossa pesquisa.
Aos amigos que nos abrilhantaram com suas colaborações neste projeto: Giovanna Lavezo, Pedro Munhoz e Victoria Zocchio.
À Secretaria do Curso, pela cooperação de sempre.
Enfim, a todos os que por algum motivo contribuíram para a realização deste projeto.
4
RESUMO
BIANCHI, A. C. ; GONCALVES, D. N.
Lótus: Projeto de Ambientação da Sala de Acolhimento na Casa da Mulher de Bauru. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso - Bacharelado em Design de Produto, Departamento de Design, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Bauru-SP.
O projeto Lótus tem como objetivo apresentar uma ambientação tridimensional de uma reforma completa da Sala de Acolhimento, presente da Casa da Mulher em Bauru-SP. Visando uma pesquisa objetiva sobre o panorama de violência à mulher, em âmbitos nacional e regional, o ambiente pretende proporcionar conforto e humanização para as vítimas que buscam ajuda e aguardam atendimento.
Keywords: Design. 3D Project. Women violence. Care.
5
ABSTRACT
BIANCHI, A. C. ; GONCALVES, D. N.
Lótus: Projeto de Ambientação da Sala de Acolhimento na Casa da Mulher de Bauru. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso - Bacharelado em Design de Produto, Departamento de Design, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Bauru-SP.
The Lotus project aims to present a three-dimensional environment of a Reception Room complete renovation, located at Casa da Mulher in Bauru, São Paulo State. Presenting an objective research on the panorama of violence against women, national and regional wide, the environment intents to provide comfort and humanization for victims who seek help and await care.
Palavras-chave: Design. Projeto de Ambiente 3D. Violência à mulher. Acolhimento.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Feminismo e o panorama de violência à mulher
2.2 Casa da mulher de bauru
2.3 Estudo dos ambientes hospitalares
2.4 Normas técnicas da ambientação hospitalar
2.5 Método da constelação de atributos
3. OBJETIVOS
4. JUSTIFICATIVAS
5. MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 Planejamento
5.1.1entrevistas
5.1.2 Organização do projeto
5.2 Coleta de dados do ambiente
5.3 Desenvolvimento
5.3.1 Questionário
5.3.2 Softwares de base
6. RESULTADOS
6.1 Resultados do questionário
6.2 Identidade visual
6.3 Aplicação do método de constelação de atributos na ambientação
6.4 Cores
6.5 Mobiliário
7. CONCLUSÃO DO PROJETO - PRODUTO FINAL
7.1 Renderização de cenas internas finalizadas
7.2 Plantas
7.2.1 Técnica - estruturas originais e mobiliários hidráulicos em escala
7.2.2 Humanizada
7.3 Cortes
7.3.1 Cortes técnicos centrais contínuos direcionados às paredes principais
7.3.2 Cortes humanizados
7.4 Vídeo em formato walkthrough do espaço interior finalizado
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
9. REFERENCIAL TEÓRICO
7
09 10 11 12 13 13 16 18 19 20 21 21 21 24 25 25 26 27 28 30 31 33 34 39 40 46 46 47 48 48 49 50 52 53
8 1. INTRODUÇÃO
VOCÊ ESTÁ LENDO
1. INTRODUÇÃO
A história da Casa da Mulher iniciou-se de forma conturbada: o prédio alocado para essa Instituição ocupado previamente pelo Instituto Branemark (na Avenida Nações Unidas nº. 27-28, ao lado da Caixa Econômica Federal), uma empresa de serviços ortodônticos. Ao perderem o prédio judicialmente, levaram consigo todos os móveis, deixando o espaço com uso precário e poucos recursos. Os profissionais e enfermeiras, dedicados à causa, fizeram o possível para operar em um ambiente ainda improvisado, sendo que recentemente houve um auxílio para o prédio o qual foi muito foi melhorado; no entanto, a sala de acolhimento primário ainda continua na mesma situação: um espaço aberto com 6 pias dos antigos donos.
O projeto teve início em 2019, através de uma grande oportunidade e convite feito pela Prof.ª Dr.ª Fernanda Henriques, grande ponto de apoio nessa jornada. A responsável por desempenhar os primeiros passos foi a Ana Carolina Bianchi, que, com muito entusiasmo, começou a conceber os primeiros desenhos do projeto e coleta de dados, visto que trabalhava em uma empresa de
planejamento de móveis e ambientes. Durante o projeto, com os diversos trabalhos e experiências vividas nesses anos de graduação, surgiu a ideia de convidar a segunda integrante: Daniela Gonçalves. Amigas desde o primeiro dia de aula, aprendemos a construir e compartilhar pensamentos complementares; desde reflexões sobre Design, projetos específicos e até mesmo visões de mundo. A colaboração só traria bons frutos. Assim iniciouse então o processo de planejamento, tentativas, erros, mudanças (inúmeras mudanças no âmbito pessoal além do projetual), aprovações. Fizemos as primeiras coletas de dados presenciais: medidas, entrevistas com as responsáveis pelo atendimento, enfermeiras, registros.
Desenvolvimento de métodos de organização, divisão de trabalhos operacionais, primeiros sketches, descoberta de novos softwares e em que a tecnologia poderia nos auxiliar, planejamentos tridimensionais. Assim foram os meses subsequentes. No entanto, a parte mais enriquecedora deste estudo foi, sem dúvida, mergulhar na pesquisa e no universo do sofrimento real que inúmeras mulheres passam, dia após dia, nesse país.
Apesar de não entrevistar vítimas nos abrigos por questões éticas, a oportunidade de conhecer novas realidades, colher dados reais, entender o privilégio de uma vida estruturada que milhões de cidadãs sequer
sabem da existência e compreender o que nós, como designers, podemos proporcionar de conforto a elas que já sofreram tanto nos deu ânimo e empenho para pensar o melhor e mais cuidadosamente sobre o que colocaríamos em cada centímetro da sala.
Com focos ergonômico, físico e psicológico, desenvolvemos um espaço personalizado, confortável, que seja capaz de trazer instantes de paz e sensação de acolhimento em meio ao caos psíquico de cada ser humano que passar por ele em busca de refúgio e auxílio.
9
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
10
VOCÊ ESTÁ LENDO
2.1 FEMINISMO E O PANORAMA DE VIOLÊNCIA À MULHER
O movimento feminista, nos anos 1970, deu visibilidade à violência contra a mulher, até então considerada um assunto do âmbito privado, e mostrou que ela decorre da estrutura de dominação masculina, consequência da histórica relação de poder assimétrica entre os gêneros. Na época tratou-se de uma interpretação que não estava presente nas práticas jurídicas e judiciárias de enfrentamento às violências perpetradas contra mulheres.
Sabendo que a agressão física, moral e psicológica está enraizada em uma cultura sexista que mantém a desigualdade de poder presente nas relações entre os gêneros, um dos objetivos do movimento foi configurar a violência contra a mulher como violação dos direitos humanos. No Brasil, elaborou-se uma lei que garantisse proteção e procedimentos humanizados para as vítimas: a Lei Maria da Penha. Sabese que, até então, os crimes eram considerados de menor potencial ofensivo com penas simbólicas (cestas básicas ou trabalho comunitário). A Lei tem base em normas e diretivas consagradas na Constituição Federal, na Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência
contra a Mulher e na Convenção Interamericana para Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Afirma que toda mulher, independentemente, de classe, raça, etnia ou orientação sexual, goza dos direitos fundamentais e pretende assegurar a todas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar a saúde física e mental e o aperfeiçoamento moral, intelectual e social, assim como as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança e à saúde. (BRASIL, 2006)
O movimento feminista foi um participante crucial na elaboração e aprovação da Lei Maria da Penha, que, a partir daí, decretou o ato como violência doméstica e o definiu como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico e dano moral ou patrimonial às mulheres, ocorrida em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Configurou-se uma das grandes vitórias já conquistadas pelas mulheres. No entanto, sabe-se que estamos muito longe de alcançar um patamar ideal de proteção. Há muitos fatores que contribuem, ainda hoje, para a impunidade dos agressores e para a desistência de denúncia por parte das vítimas. Muitas mulheres não são adequadamente informadas sobre esta questão jurídica e há juízes que não
deferem as medidas protetivas sem representação, situações que levam as mulheres a desacreditarem da lei. Falhas no sistema de coleta de dados, revivência do trauma ao ter que contar a história para vários responsáveis diferentes (ponto de apoio, policial, delegados, etc), falta de tato dos oficiais em delegacias, dentre outros. (PASINATO, 2010).
Os números de agressão e feminicídio no Brasil são elevados. De acordo com a Folha de São Paulo (2019), dados de 2014 a 2018, há registros de 1 caso de agressão a cada 4 minutos, dando-se sobretudo em casa, com agressor conhecido. Somente no ano de 2018 foram 34.352 casos de violência sexual, 97.757 de violência física, 52.267 de violência psicológica e 5.188 de tortura.
São dados que se agravaram ainda mais no período de quarentena e confinamento domiciliar. Segundo o Núcleo de Gênero e o CAOCrim (do Centro de Apoio Operacional Criminal) do Ministério Público de São Paulo (2020), os casos aumentaram em 30%. Medidas protetivas de urgência foram solicitadas: 2.500 em março e 1.934 no mês anterior.
Em Bauru, especificamente, em 2017 a Polícia Civil registrou 660 boletins de ocorrência (2018) por lesão corporal e 595 em 2018, gerando uma média de 2 mulheres agredidas por dia. Dados da Secretaria Pública de São Paulo
11
também expõem que casos de violência contra a mulher superam número de homicídios no município.
A fim de prestar um serviço mais humanitário e especializado para essas vítimas, surgiram os Centros de Acolhimento para Mulheres Vítimas de Violência. Os mesmos visam oferecer orientações gerais, como: atendimento psicológico, social e jurídico para as pessoas que buscam atendimento.
VOCÊ
2.2 CASA DA MULHER DE BAURU
O Prefeito Rodrigo Agostinho e a Secretária Municipal do Bem Estar Social, Darlene Tendolo, inauguraram, no dia 26/11/2010, o Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. Sendo que o encaminhamento dos usuários aos serviços é feito por meio das Unidades Básicas de Saúde.
250 já estão em atendimento. O serviço funcionará como porta de entrada especializada para atender a mulher que se encontra em situação de risco. A implantação do serviço no município foi possível graças à aprovação de um projeto pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, do Governo Federal, e que vem fortalecer a rede de atendimento à mulher, garantindo a efetivação de seus direitos. Este serviço propõe-se a elaborar diagnóstico preliminar da situação concreta de violência, encaminhando os casos à Rede de Serviços, além de ampliar o atendimento à atenção básica, especialidades ou na urgência, com acompanhamento pré-natal qualificado e humanizado, grupos de orientação, exames de ultrassom para gestantes de risco habitual e de alto risco e exames preventivos, aconselhamento sobre métodos contraceptivos e atendimento a adolescentes sobre saúde sexual, gravidez precoce e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), bem como orientações jurídicas para futuras ações legais. As mulheres poderão procurar pelo serviço de forma espontânea ou por encaminhamento de algum serviço ou instituição.
decisões relativas à situação por ela vivenciada. O foco da intervenção do Centro de Referência será de prevenir futuros atos de agressão e de promover a interrupção do ciclo de agressões, contribuindo, assim, para a redução dos casos de violência contra a mulher no município de Bauru.
Conforme artigo publicado pela Prefeitura de Bauru (2010), O Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência visa atender 350 mulheres sendo que
Segundo as enfermeiras e profissionais que lá atuam, o principal objetivo do atendimento é cessar a situação de tormento vivenciada pela mulher atendida, sem ferir o seu direito à autodeterminação, mas promovendo meios para que ela fortaleça sua autoestima e tome
12
ESTÁ LENDO
Foto: Fachada da Casa da mulher.
Foto: interior da sala de acolhimento antes do projeto.
REGULAR BOLD
L Ó T U S L Ó T U S L Ó T U S L Ó T U S L Ó T U S L Ó T U S L Ó T U S L Ó T U S