Revista valeparaibano - Abril 2012

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Abril 2012 • Ano 3 • Número 25 R$ 7,80

Negócios

QUEBRA DE BARREIRAS

Novo modelo de gestão corporativa aposta na liberdade dos funcionários para incentivar interação e turbinar resultados


Formar pessoas competentes na vida acadêmica, no mundo do trabalho e na vida social são objetivos de toda escola. Fazer a diferença é o nosso desafio! Comece escolhendo uma ótima escola.

Alunos bem formados, com visão de futuro, focados na sustentabilidade pessoal e do planeta, são indivíduos prontos para formar um mundo melhor.

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Formando um mundo melhor.

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Opinião

Palavra do editor

DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno

Interação é a palavra de ordem

N

ão é novidade que vivemos em um mundo cada vez mais interconectado, globalizado. E esse compartilhamento de ideias e de opiniões já enraizado nas redes sociais tem se transportado para dentro dos ambientes corporativos na tentativa de horizontalizar a comunicação interna para buscar melhores resultados para as empresas e qualidade de vida aos funcionários. Uma das formas de viabilizar essa proposta é o ‘Open Space’, muito adotado pelos norte-americanos e europeus. Pela proposta, o prédio perde as paredes e diretores e gerentes dividem o mesmo espaço com os demais colaboradores da empresa. O conceito atenderia ao dinamismo e à velocidade dos tempos atuais porque favorece a ideia de equipe, de um time trabalhando em busca de uma meta, rumo à vitória. Mas é preciso cautela. O método não poderia ser aplicado em todos os segmentos corporativos e a reformulação dos espaços viraria um problema. Em empresas de recursos humanos, por exemplo, dificilmente a técnica funcionaria porque haveria muita interferência. O mesmo ocorreria em um escritório de contabilidade, onde o ambiente necessita de maior concentração. Outro mecanismo para turbinar a produção são as chamadas áreas de descompressão, com direito a sessões de filme, massagens ou videogames em pleno horário de trabalho. O uso desses espaços antiestresse durante o expediente estimularia o entrosamento dos profissionais, tornando-os mais participativos nas decisões e nas soluções de problemas do dia a dia. De qualquer forma, o importante é essa consciência corporativa, que segue em busca de melhores resultados sem excluir a qualidade de vida dos colaboradores. Por outro lado, os trabalhadores também devem se preparar para atuar com responsabilidade nessa nova plataforma do século 21. Para ser um profissional da Era do Conhecimento é preciso aprender a transformar as oportunidades em competência.

DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Isabela Rosemback (isabela@valeparaibano.com.br) e Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br ARTE CAPA Ana Paula Comassetto anapaula@valeparaibano.com.br COLABORADORES Cris Bedendo, Franthiesco Ballerini e Marrey Júnior COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti e Ozires Silva CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.

DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Cristiane Abreu, Mellise Carrari,

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Essencial Mídia Carla Amaral e Claudia Amaral (11) 3834 0349

A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000

ASSINATURA E VENDA AVULSA 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h FAX: (12) 3909 4605 relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br

PARA FALAR COM A REDAÇÃO: (12) 3909 4600 EDIÇÕES ANTERIORES: 0800 728 1919

A TIRAGEM É AUDITADA PELA

Marcelo Claret editor-chefe

BDO AUDITORES INDEPENDENTES



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MODA

Sumário

CORES DO INVERNO P60

MERCADO

Espaço aberto O modelo de gestão que aposta na liberdade individual de cada funcionário e reserva na agenda momentos de lazer dentro do ambiente de trabalho já chegou ao Vale do Paraíba

POLÍTICA DISTRIBUIÇÃO

MÚSICA

MUNDO ARMAS

O laboratório do Renda Mínima P10

A bossa do surfista P70

Aumentando as defesas P38

Santo Antônio do Pinhal será a primeira cidade do Brasil a receber o programa

Marcos Valle revisita sua carreira com o lançamento de um box de CDs e em entrevista exclusiva

ECONOMIA AVIAÇÃO

Aeroporto São José: choque de gestão P18 Mesmo sob risco de perder concessão, Infraero anuncia pequeno pacote de investimentos ENTREVISTA MV BILL

“O tráfico não vai acabar nunca, sempre vai gerar demanda” P32

CENTENÁRIO

Parabéns Jeca Mazzaropi completa 100 anos; amigos lembram como era a convivência com o artista P64

Países emergentes investem na compra de material bélico com o objetivo de se tornarem potências militares TURISMO MALÁSIA

Entre os melhores destinos P52 Ensaio Fotográfico p44 Hi-Tech p58 Cinema p74 Arnaldo Jabor p82



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Política

Da Redação

por Hernane Lélis

Justiça avalia terreno do Pinheirinho em R$ 220 milhões Valor definido por perito é quase 160% maior que os R$ 85 milhões especulados antes da desapropriação da área ocupada por famílias sem-teto em São José Fotos: Flávio Pereira

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área conhecida como Pinheirinho, na zona sul de São José dos Campos, foi avaliada pela perícia judicial em R$ 220 milhões –160% a mais que os R$ 85 milhões especulados à época da desocupação da gleba, no início do ano. O valor foi divulgado pelo juiz da 18ª Vara de Justiça de São Paulo, Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, responsável pelo processo de falência da empresa Selecta, do megaespeculador Naji Nahas, proprietário do terreno. O magistrado afirmou ainda que um novo levantamento é realizado para chegar-se a quantia exata da dívida da massa falida. Por esse motivo o prazo de um mês estimado pela Justiça para a área ir a leilão foi prorrogado. “Daqui uns três, quatro meses ainda. Tem muita coisa para ser feita no processo. Mudou tudo por causa dessas contas. A dívida está em apuração”, explicou o juiz. Ainda sim, ele acredita que o valor judicial da área seja suficiente para cobrir todas as despesas com os credores e garantir um bom lucro a Nahas caso a área seja arrematada logo na primeira tentativa de venda. “Vai sobrar muito, vai sobrar um dinheirão nisso”, concluiu Giffoni Ferreira. O pregão do Pinheirinho será realizado pela empresa Sodré Santoro, de Guarulhos. O edital com as especificações do terreno e o valor inicial para lance será publicado em maio, uma vez que o processo ainda está nas mãos da Justiça e retornará para a mesma após as definições do certame realizado pelo setor jurídico do pregoeiro em conjunto com o juiz de falências. “Ainda

PINHEIRINHO Dois meses após a reintegração de posse, caminhões ainda retiram o entulho do terreno


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Naji Nahas, proprietário da área do Pinheirinho

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“Sonho em ver no local um bairro lindo, com o nome de Esperança. Esperança de o governo resolver o problema desses coitados” Em entrevista à imprensa sobre a desocupação da área invadida por sem-teto em São José

está tramitando. Terei condições de colocar esse edital no início de maio apenas. O diferencial será a oportunidade de participar online, com antecipação de até 20 dias do leilão presencial”, disse Sidney Palharini, advogado da Sodré Santoro. O sindico do processo de falência da Selecta, Jorge Uwada, nomeado pela Justiça para cuidar dos interesses da empresa, disse ter concordado com a avaliação do perito e que espera agora a definição para a data do leilão. “Sabemos que não existem dívidas trabalhistas. Com a Prefeitura de São José a quantia é bem alta, ainda estamos calculando os valores exatos, pois existem os problemas fiscais e correções”, explicou. Ele afirmou que os credores não se limitam a órgãos públicos. “Tem, por exemplo, diversos terrenos em um condomínio de alto padrão em Itu (SP) que estão em nome da Selecta com débitos condominiais. O processo falimentar junta tudo isso, é muita coisa”, concluiu. Denúncias A reintegração de posse da área de 1,3 milhão de metros quadrados do Pinheirinho ocorreu no dia 22 de janeiro desse ano –oito anos após a ocupação do terreno por semteto. A operação seguiu determinação judicial expedida pela juíza da 6ª Vara Cível de São José dos Campos, Márcia Mathey Loureiro e contou com a participação de 2.000 policiais militares, gerando 36 horas de tensão na região sul da cidade. No último mês, o Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo) divulgou um relatório com denúncias de violações de direitos humanos que teriam ocorrido na ação de despejo das 1.700 famílias que ocupavam o local. O documento diz que houve violência da Polícia Militar e da Guarda Municipal de São José, tanto na área da ocupação quanto nos bairros vizinhos. Ao todo o conselho recebeu 1.876 denúncias de ameaças e humilhações sofridas pelos ex-moradores do Pinheirinho, desde demolição de casas antes da retirada dos bens, até agressão física e morte de animais. Foram ouvidas 634 pessoas que, após a desocupação do ter-

reno, foram levadas a abrigos provisórios. O relatório ressalta ainda que a desocupação causou a quebra de vínculos de crianças e adolescentes com escolas e creches em que estudavam. Oficialmente, apenas uma pessoa ficou ferida com gravidade, após levar um tiro nas costas.

REINTEGRAÇÃO Famílias sem-teto foram removidas da área do Pinheirinho após decisão da Justiça de São José

Nahas Em entrevista à Folha de São Paulo, no último mês, Naji Nahas foi enfático ao dizer o que pensa sobre a desocupação. “Eu faço o que eu quiser do terreno. É problema meu. É engraçado me censurarem por eu ser o único beneficiário dessa reintegração de posse. Sou, sim, mas sou o dono. Paguei pelo terreno e fiquei oito anos sem poder usá-lo.” Nahas declarou ainda que sonha ver no local “um bairro lindo” com o nome de Esperança. “Esperança de o governo resolver o problema desses coitados”, declarou na publicação. A reportagem da revista valeparaibano, tentou contato com Waldir Helu, advogado de Nahas, para falar sobre o leilão e as declarações de seu cliente, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.


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Fotos: Flávio Pereira

Política

EM FAMÍLIA Marli Rosa Fonseca Moreira, 24 anos, com os quatro filhos em frente à casa, no bairro Fazenda Velha, em Santo Antônio do Pinhal


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PROGRAMA SOCIAL

Renda para todos Santo Antônio do Pinhal, com seus 7.500 habitantes, é a primeira cidade brasileira a aprovar o Renda Mínima e servirá de ‘laboratório’ do projeto criado para todo o país Yann Walter santo Antônio do Pinhal

entro de alguns anos, a pacata cidade de Santo Antônio do Pinhal, na Serra da Mantiqueira, poderá ser lembrada como a pedra angular de um vasto projeto socioeconômico que mudou a cara do Brasil. Conhecida na região por sua tranquilidade, clima agradável e o Festival da Truta, a pequena localidade de 7.500 habitantes talvez seja, em breve, conhecida em todo o país por ter sido a primeira a aplicar a Lei 10.835, que institui a Renda Básica de Cidadania. Sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 8 de janeiro de 2004, a RBC, também chamada de Renda Mínima, é um projeto antigo do senador Eduardo Suplicy (PT), que não perde uma oportunidade de defendê-la nos mais diversos palcos e em conversas com lideranças nacionais e internacionais. Ele até escreveu um livro sobre o assunto, “Renda de Cidadania – A Saída é Pela Porta”, que já está em sua sexta edição. E a dedicação do senador já deu resultados. Em outubro de 2009, a Câmara de Santo Antônio se tornou a primeira do Brasil a aprovar a RBC. Em fevereiro de 2010, o Congresso Nacional do PT aprovou uma diretriz estipulando a instituição da RBC em todo o país durante a presidência de Dilma Rousseff. Um ano depois, o prefeito de Santo Antônio, José Guarnieri Augusto Pereira (PT), deu os primeiros passos rumo à aplicação da lei ao assinar um decreto formalizando a criação do Fundo Municipal da Renda Básica de Cidadania (FMRBC) e do Conselho Municipal da Renda Básica de Cidadania (CMRBC). “Se nosso desejo é melhorar a distribuição da renda, favorecer a emergência de uma sociedade justa e erradicar a pobreza absoluta, a solução do bom senso é a Renda Básica de

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Cidadania”, afirmou Eduardo Suplicy, que recebeu a revista valeparaibano em sua casa em São Paulo. “A finalidade da Renda Mínima é garantir a todos os brasileiros o direito incondicional de participar da riqueza da nação. A ideia é que cada um receba o benefício, independentemente de sua raça, cor, religião, sexo, idade e condição socioeconômica. A RBC será a mesma para todos, e ninguém, absolutamente ninguém, deixará de recebêla”, enfatizou o senador, ressaltando que o primeiro parágrafo da Lei 10.835 estipula que a Renda Mínima deverá ser aplicada gradativamente, e que os mais necessitados serão os primeiros contemplados pelo benefício. De acordo com Suplicy, as vantagens da

Serão necessários R$ 4,5 milhões por ano para dar a cada habitante de Santo Antônio do Pinhal R$ 50 por mês, sem falar das crianças ainda por nascer

Renda Mínima em relação aos outros programas assistenciais existentes no Brasil são muitas. A primeira delas é sua grande simplicidade. Enquanto o programa Bolsa Família, aplicado no país desde 2003, exige a realização de uma série de cálculos complexos para definir quem tem direito a quanto, a RBC elimina todo tipo de burocracia. Como o benefício não é atrelado à renda, não é necessário avaliar quanto cada pessoa ganha no mercado formal ou informal para determinar a quantia que ela pode receber. O custo logístico e administrativo é reduzido, bem como os gastos com fiscalização para detecção de possíveis fraudes. Fora estas vantagens práticas, há uma sé-

rie de fatores humanos a considerar. “A RBC acaba com qualquer estigma ou sentimento de vergonha de a pessoa ter que dizer quanto ganha para receber um complemento de renda. Além disso, elimina o fenômeno da dependência, que se dá quando a pessoa é levada a escolher entre aceitar um emprego –e, consequentemente, elevar sua renda– ou continuar recebendo o benefício concedido pelo governo aos que ganham menos. Em outras palavras, a RBC não desestimula a procura por trabalho”, destacou Suplicy. Assim como o Bolsa Família e outros programas de ajuda, a Renda Mínima dará uma sobrevida aos mais necessitados, evitando que eles tenham de se submeter a condições de trabalho humilhantes ou perigosas para garantir sua sobrevivência e a de suas famílias. De acordo com Suplicy, a RBC permitirá às pessoas investirem em um curso profissionalizante ou procurarem um emprego com carteira assinada, melhorando a situação delas no mercado de trabalho e contendo o crescimento do setor informal no país. “O desenvolvimento, para valer a pena, deverá significar um grau maior de liberdade para todos na sociedade”, sentenciou o senador petista, citando o economista indiano Amartya Sen. O Brasil é o primeiro país cujo Congresso aprovou uma lei para instituir a Renda Mínima, mas já existe um lugar que devolve a todos seus habitantes uma parcela de sua riqueza: o Alasca. O maior Estado dos EUA –que também é o terceiro menos povoado– conta desde 1982 com uma política incondicional de redistribuição de renda que abrange praticamente todos os seus 700 mil habitantes. A ideia surgiu pela primeira vez nos anos 60, quando Jay Hammond, prefeito de uma pequena vila de pescadores, constatou que a pesca gerava muita riqueza, mas que mesmo assim vários moradores da aldeia continuavam pobres. Ele sugeriu então a instauração de um imposto de 3% sobre o valor do pescado para criar um fundo para toda a comunidade. Nos


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Política

primeiros anos, enfrentou uma resistência enorme. Mas depois que o fundo foi instituído, o sucesso foi tão grande que Hammond foi eleito governador do Alasca. Em 1976, o visionário político propôs separar 25% dos royalties da exploração do petróleo (o Alasca é a maior reserva petrolífera dos Estados Unidos) para constituir um fundo para todos os residentes do Estado, que eram então 300 mil. A proposta foi aceita, e o dinheiro separado passou a ser investido em diversas operações financeiras. Com o tempo, os investimentos foram se diversificando, incluindo bens imobiliários, títulos do governo americano e ações de empresas locais, nacionais e internacionais. Hoje, o Fundo Permanente do Alasca (FPA) tem, inclusive, participação no capital de algumas das maiores empresas do Brasil, como Petrobras, Vale e Bradesco. De US$ 1 bilhão no início da década de 80, o FPA saltou para US$ 40 bilhões. Em 2008, cada uma das 611 mil pessoas beneficiadas pelo programa recebeu US$ 3.269, maior dividendo pago na história do FPA. O valor foi dividido por dois no ano seguinte devido à crise econômica, mas, segundo Suplicy, já está aumentando novamente. De acordo com os dados apresentados pelo senador, o objetivo primeiro do FPA –fomentar uma sociedade mais justa– foi amplamente atingido. Entre 1989 e 1999, nos Estados Unidos, a renda per capita das famílias mais ricas aumentou 26%, e a das famílias mais pobres cresceu 12%. No Alasca, durante o mesmo período, os percentuais foram, respectivamente, de 7% e 28%. “Hoje, graças ao FPA, o Alasca é o mais igualitário dos 50 Estados americanos”, sinalizou Suplicy. Aplicação Assim como deverá ser para a RBC, as condições para ter direito ao benefício no Alasca são mínimas. Basta ter nascido no Estado, ou estar morando lá há pelo menos um ano. Para se cadastrar, a pessoa preenche um formulário de uma página informando os endereços residencial e comercial, o número de membros da família que têm até 18 anos e alguns outros dados. É preciso ainda apresentar o testemunho de duas pessoas para confirmar a veracidade das informações. Não é necessário fornecer qualquer informação sobre bens, salários ou fontes de renda. Em Santo Antônio, que servirá de laboratório para a aplicação da RBC em nível nacional, a tendência é que tenham direito ao benefício os naturais do município e as pessoas que moram lá há pelo menos cinco anos. Como estipulado

REAÇÃO À esq., o prefeito de Santo Antônio do Pinhal, José Guarnieri Augusto Pereira; ao lado, senador Eduardo Suplicy; abaixo, vista aérea da cidade serrana

”A aplicação da Renda Mínima em Santo Antônio vai ser gradativa, começando pelos moradores mais necessitados. Mas a ideia é que todos recebam” Do prefeito de Santo Antônio, José Guarnieri Augusto Pereira

na lei de autoria de Suplicy, a distribuição começará pelos mais pobres. “A aplicação da RBC no município vai ser gradativa, começando pelos mais necessitados. Mas a ideia é que todos recebam”, ressaltou o prefeito Augusto Pereira. “Exatamente como na lei federal, a Renda Mínima terá um mesmo valor para todos e será suficiente para satisfazer as necessidades vitais de cada um, tendo em conta o nível de desenvolvimento e as possibilidades orçamentárias de Santo Antônio”, completou o senador Eduardo Suplicy. Ainda não foi decidido o valor do benefício, nem por quanto tempo a pessoa o receberá. “Estamos avaliando estas questões”, ressaltou o prefeito, que teve o primeiro contato com o programa em 2007, quando Suplicy ministrou uma palestra sobre a Renda Mínima na Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em São José dos Campos. Contudo, de acordo com Suplicy, a ideia é que ele gire em torno de R$ 40 ou R$ 50 por mês,


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INCERTEZA Lourdes Rosa, 65 anos: “sou de Paraisópolis, mas moro em Santo Antônio faz 30 anos”

pelo menos no início. “Se quisermos ir mais longe que o Bolsa Família, teremos que começar com um valor no mínimo mais alto que a média paga pelo programa. Mas com o tempo, o progresso do país e a aprovação crescente da população, a RBC poderá chegar a R$ 100, R$ 1.000 ou até mais”, exagerou. Em Santo Antônio, uma comunidade rural que vive principalmente do turismo e da agricultura, a Renda Mínima poderá mudar a vida de muita gente. Ivonete Jacinto da Silva Ribeiro, 37 anos, mora em uma casa do bairro de Cassununga com seu marido e seis filhos. Toda a família é nascida, ou registrada, em Santo Antônio. “Aqui não tem maternidade, então todas as crianças nascem em Campos ou em São Bento. Mas meus filhos foram registrados aqui, o nome de Santo Antônio é o que consta nas certidões de nascimento”, afirmou. Assim, trabalhando com um valor de R$ 50 por mês e por pessoa, os seis receberiam R$ 400 mensais, o equivalente a quase

50% do orçamento total da família. Para Nelson José de Oliveira, um autônomo de 64 anos que mora no centro de Santo Antônio, a RBC será apenas um complemento de renda, uma vez que ele mora sozinho e fatura entre R$ 600 e R$ 700 por mês. Ainda assim, ele aguarda com impaciência o lançamento do programa. “Tenho certidão, RG e até título de eleitor”, disse, mostrando os documentos. O cadastramento das pessoas que terão direito ao benefício poderá ser complicado para alguns moradores. Quem tem RG ou Certidão de Nascimento com o nome de Santo Antônio não terá problemas, mas os demais deverão provar que moram no município há pelo menos cinco anos. “Sou de Paraisópolis (MG), mas estou em Santo Antônio há 30 anos. Não tenho certidão nem RG, e moro em um terreno doado. Não recebo nenhuma conta no meu nome”, contou Lourdes de Rosa, 65 anos. “Nasci em São Bento e vim para cá em 2004,


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Política

quando casei. Meu marido é daqui e tem RG e certidão. Três dos meus filhos nasceram em Campos, e o quarto nasceu em São Bento. Nenhum deles é registrado aqui”, disse Marli Rosa Fonseca Moreira, 24 anos, que mora com a família no bairro Fazenda Velha. O marido de Marli receberá a RBC, mas ela e seus filhos terão de comprovar que residem no município há mais de cinco anos. “Casamos aqui há oito anos, temos Certidão de Casamento. Serve como prova?”, indagou. O prefeito de Santo Antônio, Augusto Pereira, frisou que os critérios sobre os quais será feita a avaliação das pessoas que terão direito à Renda Mínima ainda são definidos pelo CMRBC, mas ele já antecipou alguns elementos. “Agora estamos na fase de captação de recursos. Depois, haverá a fase de cadastramento e triagem. Para as pessoas que não têm RG ou Certidão de Nascimento restarão diversas opções, como o cadastro do PSF (Programa de Saúde das Famílias), que contém os dados de todas as famílias do município, ou ainda as matrículas das crianças nas escolas”, tranquilizou. O prefeito avisou que os títulos de propriedades não serão considerados, para que os donos de pousadas ou casas de campo que moram fora de Santo Antônio não sejam incluídos no programa. Por ser o primeiro município do país a aplicar a RBC, Santo Antônio talvez seja invadida por um número indeterminado de pessoas interessadas apenas em receber o benefício. Questionado sobre esta possibilidade, o prefeito mostrou tranquilidade. “Pensamos nisso, mas há muitas áreas de preservação no município e a construção de moradias é muito regulamentada. Além disso, o benefício somente será pago depois de cinco anos na cidade”, lembrou. À primeira vista, a escolha de Santo Antônio do Pinhal como sede do projeto-piloto para a aplicação da RBC foi acertada. Afinal, como lembrou o prefeito, “a cidade é tranquila, pouco povoada, e as pessoas ganham, em média, mais do que os moradores de outros municípios rurais do mesmo tamanho”. De fato, será muito mais complicado administrar a aplicação da Renda Mínima nas grandes metrópoles do país. Financiamento Como frisou Augusto Pereira, Santo Antônio está agora diante de seu maior desafio, que é a captação dos recursos para a aplicação da RBC. “Precisamos de uma quantia importante para começar. A ideia é financiar a Renda Mínima apenas com os rendimentos do capital do Fundo, e não com o capital em

BENEFICIADA Ivonete Jacinto da Silva Ribeiro, 37 anos, que tem seis filhos e mora no bairro de Cassununga

si”, explicou. Seriam necessários R$ 4,5 milhões por ano para dar a cada habitante da cidade R$ 50 por mês, sem falar das crianças ainda por nascer. Em São José dos Campos, se cada um dos 630 mil moradores recebesse R$ 50 por mês, a quantia anual seria de R$ 378 milhões. Já uma metrópole como São Paulo precisaria de R$ 7,2 bilhões por ano. Para aplicar a RBC em todo o território nacional, o custo mínimo seria de R$ 115 bilhões anuais. Por iniciativa de Suplicy, que apresentou uma emenda parlamentar neste sentido, Santo Antônio deverá receber uma verba federal de R$ 1 milhão para colocar o projeto em prática. Além disso, segundo Pereira, a prefeitura destinará 6% das receitas tributárias municipais ao fundo. “É claro que vamos precisar de outras fontes de renda. Para atrair os investidores privados, vamos criar um selo social, em virtude do qual toda empresa que contribuir para o FMRBC receberá uma série de vantagens a serem definidas. Também

trabalhamos com a possibilidade de pessoas físicas contribuírem em troca de abatimentos no Imposto de Renda”, disse o prefeito. De acordo com Suplicy, um caminho promissor para o financiamento da RBC seria a criação de taxas adicionais para as fontes de poluição. “Normalmente as entidades de maiores recursos são as que mais usam as fontes de energia que causam a poluição, então delas se cobraria mais para que todos passassem a receber a Renda Mínima”, propôs Suplicy, sugerindo ainda separar parte dos rendimentos do Pré-sal para este fim. “Sempre será possível separar parte das riquezas de uma comunidade, um município ou uma nação para constituir um fundo para todos”, sentenciou o senador. Ainda é cedo para determinar se a aplicação da Renda Básica de Cidadania em todo o território brasileiro é uma utopia ou uma realidade, mas a experiência conduzida atualmente em Santo Antônio do Pinhal dará as primeiras respostas. •


JÁ ESTÃO SURGINDO NOVAS OBRAS PARA GARANTIR AINDA MAIS SAÚDE, ESPORTE E LAZER PARA A POPULAÇÃO.

O futuro de São José não é uma promessa, mas uma realidade que se consolida dia após dia. Em breve, a cidade vai ganhar três novas Casas do Idoso. Somadas à unidade do centro, elas vão atender cerca de 40 mil idosos. Com toda a estrutura para fazer com que São José seja ainda mais um modelo de atenção e respeito ao idoso no Brasil. Também está em obras o Centro de Referência da Juventude, que vai reunir num só lugar um ginásio e um centro cultural, além de ambulatório, consultório médico e odontológico para os jovens de toda a cidade. E, no Jardim das Indústrias, está sendo construída a Arena de Esportes, um avançado complexo poliesportivo que também será utilizado para grandes eventos, com muita tecnologia, conforto e segurança para todos. Esta é a São José que estamos fazendo hoje, construindo o amanhã.

SÃO JOSÉ: FUTURO EM CONSTRUÇÃO.


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Política

Ozires Silva

O desenvolvimento só aparece se adotarmos uma cultura do sucesso ivemos num novo continente, descoberto pelo espírito colonizador dos europeus, em particular portugueses e espanhóis, que na busca de riquezas do alémmar encontraram muito mais do que esperavam. Após o período das descobertas, nações foram criadas e algumas delas conseguiram taxas de progresso e de desenvolvimento realmente expressivas. No Norte do continente americano, os resultados materiais foram mais significativos e comparáveis com os melhores do mundo, enquanto no Sul as diferenças não foram tão marcantes, e mesmo menos satisfatórias.

V

As descobertas de Cabral e Cristovam Colombo ocorreram mais ou menos ao mesmo tempo, e cabe a pergunta: O que nos aconteceu? Os americanos do Norte construíram bases para o desenvolvimento econômico e para padrões culturais entre os mais avançados, enquanto o Sul não avançou nas mesmas proporções. Embora, há também no Sul sucessos a serem comemorados. E tudo indica que não há razões para desesperos ou para desesperanças em relação ao que pode ser feito aqui. Países latinos na Europa estão demonstrando que nossas origens étnicas ou religiosas não podem ser consideradas culpadas pela pobreza endêmica que afeta parcelas significativas dos americanos do centro e do sul.

MUNDO “Encontrei líderes esclarecidos por aqui e lá fora” Não sendo sociólogo, ou psicólogo, posso somente argumentar com base em experiências longas e densas dedicadas às atividades criativas e construtivas. Tendo trabalhado com equipes das mais diferentes origens, tendo convivido e negociado com instituições industriais e comerciais do mundo mais desenvolvido, confesso que não encontrei diferenças marcantes. Encontrei líderes esclarecidos e com iniciativas por aqui e lá fora. Assim, aonde teriam origem os problemas que vivemos e como são formuladas as soluções que não nos agradam ou não colocamos em prática? Responder a essas questões é um propósito difícil e pode gerar prolongadas discussões. Todavia há indícios importantes para identificar diferenças. Nas regiões que prosperaram, seus povos praticam tipos de comportamento voltados ao sucesso. É o aplauso superando a crítica, é o otimismo vencendo o pessimismo, é a ajuda ao próximo mais perto do que o alheamento daquele que se comporta como “nada tenho com isso!” Pode ser que os Estados Unidos tenham mudado nos dias de hoje e vemos os americanos mais pessimistas. O fato é, pelos comentários dos eco-

Ozires Silva Engenheiro

ozires@valeparaibano.com.br

nomistas, financistas e magnatas do dinheiro, que há preocupações, mas não notam que eles mesmos podem ser os culpados na origem das crises que, parece, estariam tentando combater. O dinheiro, que naquele país, até um passado recente, era usado para criar valor, para fabricar produtos, para reduzir os riscos dos empreendimentos, parece não mais exercer essas funções. Sem querer afirmar, pode ser que, a partir do uso do dinheiro para conseguir mais dinheiro –fato recente nos EUA– a prosperidade começou a se afastar da grande nação do norte. Uma relação de causa–e-efeito? Não sei, mas creio que vale a pena pensar nessa alternativa. Já que estamos falando em progresso e desenvolvimento podemos imaginar que a diferença no esforço para educar a população, encetado pela sociedade americana lá pelos anos de 1890, pôde iniciar o processo diferencial. Os Estados Unidos foram, e ainda são, o berço de uma quantidade de invenções que fundamentalmente mudou o mundo. Em pesquisas e constatações recentes, o nosso aluno médio coloca-se entre os últimos. O Brasil tem tudo para crescer e se desenvolver. Parece que precisamos mudar a chave básica de nossa cultura que não tem funcionado a contento. Temos de nos estimular a pensar diferentemente, comemorando muito mais sucessos do que perdermos tempo a explicar fracassos. Temos que transformar a educação dos brasileiros numa real prioridade!!! •


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Economia AVIAÇÃO COMERCIAL

Choque de gestão Mesmo sob risco de perder concessão, Infraero anuncia pequeno pacote de investimentos no aeroporto de São José; ampliação segue sem prazo definido Hernane Lélis São José dos Campos

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nquanto o pedido de municipalização do aeroporto de São José dos Campos feito pelo prefeito Eduardo Cury (PSDB) à SAC (Secretária de Aviação Civil) segue indefinido, a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), atual administradora do terminal, traça o que pode ser seus últimos planos para o local. Até 2013, quando a concessão do aeródromo se encerra, estão previstos investimentos de R$ 3 milhões. O montante será empregado em pequenas melhorias que excluem a implantação de um MOP (Módulo Operacional Provisório), antiga promessa da estatal. A empresa pretende usar a verba para ampliar a oferta de vagas de estacionamento, que

hoje é de apenas 49 lugares, implantar sinalização para o percurso de pedestre entre o terminal e aeronaves, além de readequar o saguão de desembarque, os balcões de atendimento e a sala de embarque. Os detalhes do projeto não foram divulgados, no entanto é possível afirmar que a principal queixa de quem utiliza o aeroporto vai continuar sem solução: a falta de espaço para receber, acomodar e garantir trânsito aos passageiros que embarcam e desembarcam diariamente em São José. Os estudos para a expansão do terminal de passageiros com a implantação de um MOP (Módulo Operacional Provisório) continuam em andamento desde o ano passado e sem previsão de conclusão. No mesmo ritmo segue o processo de zoneamento civil/militar para implantação de um novo terminal, próximo à Rodovia dos Tamoios. O MOP, uma espécie de contêiner, seria uma solução apresentada pela Infraero para ampliar a área de circulação no aeródromo de 100

mil para 600 mil pessoas. O projeto estava orçado em R$ 2,5 milhões para um espaço de mil metros quadrados, porém há um ano ele foi suspenso para novos estudos. Já a questão do zoneamento prevê a definição do uso compartilhado do aeroporto entre as companhias aéreas, Aeronáutica e Embraer para dinamizar suas operações e definir o local exato do novo terminal. A SAC garantiu que a proposta do prefeito Eduardo Cury está sendo analisada, mas, assim como a Infraero, evitou dar prazo para a solicitação. O órgão, vinculado à Presidência da República, informou apenas que a prioridade é viabilizar o MOP, o que resolveria provisoriamente a questão do pequeno espaço para acomodar o crescente número de passageiros no terminal. Mesmo fornecendo as informações solicitadas pela reportagem, nenhum representante da SAC e da Infraero quiseram comentar o assunto. A estatal informou apenas que


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Flávio Pereira

INFRAESTRUTURA Falta espaço para receber, acomodar e garantir trânsito aos passageiros no aeroporto

segue as diretrizes do governo definidas para o setor. Mauro Gandra, ex-ministro da Aeronáutica e ex-diretor do Departamento de Aviação Civil, acredita que a Infraero deve atender a solicitação de municipalização independentemente dos investimentos que pretende realizar no aeródromo, uma vez que a estatal tem obrigação de aplicar recursos para otimizar as operações das companhias aéreas e garantir fluxo de usuários. “Se eu estivesse na posição de tomar decisão atenderia ao pedido do prefeito. É muito mais fácil garantir uma boa gestão acompanhando os problemas do aeroporto de perto. Provavelmente a SAC vai pedir alguma contrapartida ao município no sentido de comprometimento de gestão e terceirização do terminal. Agora, deixar de aplicar os recursos e garantir as melhorias por conta da municipalização não acredito que vá acontecer, é obrigação da Infraero investir nos aeroportos de sua administração”, disse Gandra.

Negociação Em reunião realizada no último mês com o prefeito Eduardo Cury juntamente com o deputado federal Carlinhos Almeida (PT), o ministro Wagner Bittencourt, da SAC, disse acreditar que o aeroporto de São José tem potencial para chegar ao porte de Congonhas e se comprometeu acelerar a construção do módulo operacional. “Ele ainda estuda a ampliação, o que deve demorar um ano. Disse ao ministro que já que demoraria tanto para que alguma coisa seja feita com urgência. Eles vão tentar falar com a Infraero para acelerar as obras emergências para ter a mínima condição de utilização do aeroporto, coisa que hoje não tem”, disse o prefeito. Cury afirmou que a municipalização ocorrerá após a solução dos atuais problemas. “A etapa do investimento maior (novo terminal) a SAC ainda não definiu se vai passar para a Infraero, municipalizar ou entregar para o mercado. O que a Infraero está fa-

zendo agora é praticamente manutenção. Depois que a SAC definir o plano maior será decidido quem vai operar, a decisão da municipalização vai sair nesta segunda etapa. Vamos colaborar com as exigências da secretaria”, concluiu. O deputado federal, Carlinhos Almeida, acredita que a municipalização é importante, mas destaca que, no momento, o que deve ser discutido é como acelerar a questão dos investimentos prometidos. Para ele, o maior desafio é concluir o programa de zoneamento da área sem que nenhum dos envolvidos –companhias aéreas, Embraer e Aeronáutica– seja privilegiado. “Na reunião destacamos essa importância, a municipalização não ficou em pauta. Precisamos de soluções imediatas, resolver os problemas pendentes para a implantação do MOP e depois discutir sobre municipalização e a implantação do terminal com entrada para a Tamoios”, disse o deputado. •


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Ciência & Tecnologia

Fabíola de Oliveira

A divulgação científica diminui superstições e crenças infundadas

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xiste uma necessidade universal de uma cultura científica. Eu defendo esta afirmação com argumentos derivados de duas demandas crescentes nas nações modernas. A primeira é a premência por uma força de trabalho treinada tecnicamente. E a segunda requer que cidadãos sejam juízes das promessas e ações de seus governantes, assim como dos responsáveis pela publicidade de bens de consumo.(...) A cultura científica também é necessária para o envolvimento do público informado na vida política e pública de uma nação. As informações sobre assuntos científicos e tecnológicos são cada vez mais solicitadas nas tomadas de decisão dos altos escalões governamentais. O trecho acima, extraído de uma palestra que Francisco José Ayala, biólogo e filósofo da Universidade da Califórnia, apresentou na Unesco há alguns anos, me parece bastante oportuno para analisarmos a questão da cultura científica e tecnológica no momento que vivemos no Brasil, sobretudo em São José dos Campos. Aqui, a efervescência com as expectativas de um Parque Tecnológico futurista e gigante, centros de inovação no ITA, e de formação de engenheiros e especialistas em parceria com empresas estrangeiras do porte da Boeing americana e da Dassault francesa, requerem que a sociedade, sobretudo os

INFORMAÇÃO Boa parte da população não sabe o que acontece na área científica

jovens, conheça e compreenda a fundo essa realidade tecnológica e inovadora que se avizinha. E por quê? Novamente aqui um assunto complexo, que não apresenta somente uma resposta simples e linear, mas alinhavo alguns pontos a seguir. O grau de desenvolvimento científico e tecnológico dos países pode estar diretamente associado à melhoria da qualidade de vida de suas populações. Além disto, no Brasil a maior parte dos investimentos feitos em C&T é oriunda dos cofres públicos, ou seja, da própria sociedade para quem devem ser retornados os benefícios conquistados com estes investimentos. A divulgação científica aproxima o cidadão comum dos benefícios que ele tem o direito de reivindicar para a melhoria do bem-estar social. Ela também pode contribuir com uma visão mais clara da realidade, contra-

Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br

pondo-se a aspectos característicos de uma cultura pouco desenvolvida, ainda contaminada por superstições e crenças, que impedem as pessoas de localizar com clareza as verdadeiras causas e efeitos dos problemas que enfrentam na vida cotidiana. Em resumo, o nosso espaço urbano com cerca de 650 mil habitantes merece (e carece) de uma melhor atenção com as informações e ações educativas sobre as questões da ciência, tecnologia e inovação que acobertam a cidade. Fosse feita uma consulta pública, grande parte da população de certo muito pouco saberia dizer sobre o que acontece intramuros nas instituições de pesquisa e desenvolvimento, nos parques tecnológicos e nas empresas de base tecnológica que salteiam pela cidade afora. Propostas e ações neste sentido serão bem-vindas. •


O D DI

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Esportes Fotos: Flávio Pereira

MEDICINA ESPORTIVA

Formando campeões Universidades do Vale do Paraíba vão ajudar a prevenir e tratar lesões dos jogadores do Corinthians; trabalho é coordenado por fisioterapeuta de São José


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Hernane Lélis São Paulo

e olho em preservar músculos e ligamentos dos novos talentos da categoria de base e otimizar o tratamento de futuras lesões, o Corinthians fechou uma parceria de cooperação acadêmica com duas instituições de ensino do Vale do Paraíba. A iniciativa propõe unir os trabalhos do Departamento de Fisioterapia da Unitau (Universidade de Taubaté) com a engenharia mecânica da Unesp (Universidade Estadual Paulista), de Guaratinguetá, para obter, dentro das possibilidades tecnológicas que a medicina esportiva possui, uma mensuração perfeita das condições físicas de seus atletas. O trabalho realizado pelas universidades começa a ser aplicado ainda neste mês e será praticamente uma extensão do que já é conduzido pelo time paulista por meio do inovador Lab Corinthians R9, coordenado pelo fisioterapeuta e doutor em biomecânica, Luciano Rosa,

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RECUPERAÇÃO O fisioterapeuta Luciano Rosa avalia Romeu, 27 anos, jogador do Larissa, da Grécia, que trata de uma tendinite patelar na perna esquerda no laboratório do Corinthians


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Esportes

de São José dos Campos. O complexo permite que o corpo médico do Corinthians tenha um mapeamento completo de todos os atletas, medindo entre outras coisas, força de contato e velocidades das articulações, força e reação durante aceleração e desaceleração numa jogada e análise de como o esforço afeta articulações, músculos e tendões dos jogadores. “Já fizemos avaliações em alguns atletas em reabilitação. A intenção é atender todos, são mais de 300 jogadores. É nesse ponto que contaremos com as universidades. Quem dará o suporte da biomecânica será a Unesp de Guará, números e cruzamentos de dados quantitativos. A Unitau ficará com a análise dos dados, são muitas informações. Isso permite aos alunos atuarem na avaliação de biomecânica, poucos têm essa experiência no Brasil dentro do esporte. Faltam profissionais na área”, explicou Luciano. O Corinthians é o único time de futebol a ter um laboratório de biomecânica em funcionamento no país. No mundo, apenas Real Madrid, Milan e Porto possuem algo similar. Para viabilizar o centro foi necessário investir cerca de R$ 1 milhão em equipamentos de informática, robótica e softwares, um deles, inclusive, desenvolvido pela Unesp de Guaratinguetá. Trata-se de um programa que prepara e coleta os dados de movimento do atleta, como velocidade das respostas musculares para um chute, salto ou uma corrida e a carga utilizada nas articulações e tendões durante a ação. As informações obtidas garantem, entre outras coisas, o índice de propensão à lesão. Com isso em mãos é possível realizar um trabalho específico de prevenção para a região deficitária. “Queremos encontrar os atletas que possuem déficits musculares e articulares para tratarmos isso, fazer chegar ao profissional sem grandes riscos de lesão. Teremos várias amostras controladas e uma estrutura universitária para realização de pesquisas. Eles (alunos) não vão vir ao Corinthians, aqui será feito por mim, mas terão acesso aos dados para trabalhar”, disse o fisioterapeuta. Tratamento A biomecânica é, ao pé da letra, pegar a parte mecânica da física e aplicar dentro da biologia. O que é feito no Lab Corinthians R9 é a biomecânica aplicada ao movimento humano, ou seja, interpretar o movimento do homem e tentar intervir, quando necessário, dentro da avaliação que foi feita. Essa modalidade da fisioterapia até então existia apenas em algumas universidades. O meia Kaka do Real Madrid, que viveu sérias lesões em 2010, passou por

INFRAESTRUTURA Ao lado, o campo de futebol do time; abaixo, vista da piscina do Centro de Treinamento Joaquim Grava, do Corinthians

O Corinthians é o único time de futebol a ter um laboratório de biomecânica em funcionamento no país. No mundo, apenas Real Madrid, Milan e Porto possuem algo similar

análise num laboratório semelhante ao do Corinthians na USP (Universidade de São Paulo) enquanto esteve no Brasil durante tratamento. Cada vez mais aplicada ao esporte, a biomecânica é vista como ideal para análise, diagnóstico e tratamento de lesões em atletas, seja ele de alto nível ou não. O laboratório do Corinthians ainda tem o diferencial de ter sido estrategicamente construído ao lado do campo de futebol, sendo o gramado uma continuidade do ambiente de análise. Outra característica singular do Lab Corinthians R9 é o fato da reabilitação biomecânica


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VEJA COMO É FEITA A ANÁLISE BIOMECÂNICA DOS MOVIMENTOS Com o mecanismo, departamento médico tenta prevenir e diminuir possibilidade de lesões de seus atletas DISPARADOR DE BOLA Ao lado do campo, disparador lança bola a uma altura de até 1 metro para ser chutada pelo atleta. Computador mede a força, angulação e nível de desgaste na perna do jogador

COMPUTADOR Programa auxilia os profissionais no armazenamento e cruzamento dos dados realizados nos testes

TVS 3 TVs instaladas em 3 paredes do laboratório mostram em tempo real todos os movimentos do jogador

CÂMERAS São 4 câmeras instaladas no chão da sala. Elas captam cada movimento do atleta avaliado MOCHILA Para ter seus movimentos captados, o atleta é avaliado com uma mochila que carrega um transmissor ligado a eletrodos colados ao longo das pernas para medir o nível de esforço e desgaste

ser realizada no próprio laboratório por meio de biofeedback (treinamento simultâneo com software de movimento)utilizando os mesmos equipamentos para realização dos testes. Com esse trabalho realizado é possível ter o “mapeamento biomecânico” dos atletas, e desta forma prevenir as lesões, aperfeiçoar e personalizar o treinamento físico, além de proporcionar uma reabilitação mais segura e otimizada, ou seja, reduzir o tempo de afastamento e permitir um retorno mais rápido do atleta aos jogos –fator cada vez mais importante dentro de um clube. “São instrumentos que conseguem monitorar a movimentação buscando dados para atuar na prevenção de lesões, é uma coisa inovadora para a gente. A universidade tem como pré-requisito atividades de pesquisa e extensão, seria uma atividade que envolve tudo isso e proporcionaria ainda uma vivencia acadêmica diferenciada aos alunos”, afirmou Rodrigo Santos, coordenador de fisioterapia da Unitau. Tamotsu Hirata, coordenador do Laboratório de Biomecânica da Unesp, considera a parceria com o Corinthians uma oportuni-

PISO Placas instaladas no centro da sala captam o peso e a força do salto e da corrida do atleta

dade de colocar os 15 anos de projetos e estudos em biomecânica em prática. “Temos muita coisa já desenvolvida e em desenvolvimento, queremos aplicar isso ao esporte e essa será a oportunidade. Os projetos e programas serão voltados para doutorados e mestrados, vamos conseguir observar melhor os trabalhos existentes e criar novos equipamentos”, disse o docente. Resultados Desde a inauguração do Lab Corinthians R9, em setembro do ano passado, cerca de mil coletas de dados já foram realizadas somente pela equipe médica do Corinthians. O time profissional realizou os exames na pré-temporada. As próximas avaliações serão feitas no início do Campeonato Brasileiro e ao término de todas as competições. Atletas com um passado de lesões sérias passam por um acompanhamento especial. A resposta imediata desse trabalho está no direcionamento do treinamento físico realizado atualmente e no baixo número de lesões até o momento. A estrutura oferecida e os resultados obti-

dos vêm atraindo a atenção de outras equipes e jogadores, entre eles o zagueiro Henrique, do Bordeaux, e o atacante Túlio de Melo, do Lille, brasileiros que atual no futebol francês. Quem segue em tratamento no laboratório é o volante Romeu, ex-jogador do Fluminense que defende hoje o Larissa, da Grécia. O atleta de 27 anos sofre com uma tendinite patelar na perna esquerda e está sob os cuidados do fisioterapeuta Luciano Rosa há um mês. Tempo suficiente para senti-se fisicamente apto para voltar aos gramados. “Consigo fazer todos os movimentos sem dor, inclusive as atividades físicas, mas só quem pode dizer se já está tudo bem é a equipe médica. Quando o doutor Joaquim Grava (consultor médico do Corinthians) me convidou para fazer o tratamento aqui, sabia que teria uma excelente estrutura para a reabilitação. Acho que se estivesse realizando o tratamento na Grécia não teria os mesmos resultados”, avaliou Romeu. No último mês, profissionais do Roma visitaram a instalação alvinegra para conhecer de perto o método usado pelo departamento de fisioterapia. •


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Reportagem de Capa

MERCADO

Acredite: isso é um escritório Novo modelo de gestão aposta em ambientes de trabalho sem barreiras e com espaços antiestresse Isabela Rosemback São José dos Campos

compartilhamento ágil de ideias e de opiniões tem atraído milhares de adeptos às redes sociais, mas também tem se transportado gradativamente para os ambientes corporativos por meio de mecanismos que horizontalizam a comunicação interna e acabam gerando melhores resultados tanto para a empresa quanto para a qualidade de vida dos funcionários. A quebra de barreiras físicas e psicológicas nos escritórios e a criação de espaços de descontração, para serem usados durante o expediente, são apenas algumas das posturas adotadas pelos empreendedores que assimilam a tendência natural deste início de século 21 de proporcionar maior interação entre equipes para turbinar o processo produtivo. Esse novo modo de pensar acaba por criar um ciclo que volta aos sites de relacionamento, uma vez que eles estreitam laços com consumidores e o perfil do profissional, nas redes sociais, começa a ser avaliado pelo empregador com atenção especial aos seus gostos pessoais e à sua desenvoltura no trato interpessoal. Outra consequência é uma crescente abertura para o uso dessas plataformas no horário de trabalho, ainda que alguns segmentos permaneçam as restringindo por questões de segurança. “Estamos vivendo, hoje, em uma sociedade do conhecimento, e a informatização do trabalho nos traz novos desafios para racionalizar e padronizar processos atrelando a

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capacidade de o funcionário reter e transferir aos que o cercam os aprendizados oriundos dessas adaptações”, afirma Emerson Morais Vieira, gerente do escritório regional do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em São José dos Campos. Para gerir essa troca de experiências adquiridas, Vieira lembra que a figura do líder ainda é fundamental, mas atenta para o fato de que o perfil de quem organiza as equipes também sofreu reformulações. “Ele não é mais o chefe que delega processos para obter resultados. Hoje ele deve mobilizar os funcionários, os incentivando a apresentarem propostas a partir de ações que favoreçam a interatividade”. Nessa hora entram em cena reuniões e atividades que estimulam o debate sobre assuntos relacionados às funções que desempenham. Em tese, o entrosamento dos profissionais, assim, os tornariam mais participativos nas decisões da empresa e as soluções para os problemas poderiam surgir com mais facilidade diante desse intercâmbio de ideias. Na prática, entretanto, é recomendável cautela. Embora o vento sopre forte para essa direção, há correntes que resistem ao movimento e que devem ser consideradas. A autora norte-americana Susan Cain lançou um livro e publicou um artigo no jornal “The New York Times”, recentemente, condenando a ode ao espírito coletivo do novo ambiente corporativo. Entre os argumentos de que lança mão, baseada em dados científicos, ela defende que o trabalho em grupo resulta em reuniões com interesses dispersos a muitos, o que acaba por ofuscar qualidades de alguns e por fomentar a acomodação de outros, caminhando para um pensamento comum e pouco criativo.

As empresas eliminam obstáculos de gestão e derrubam paredes ou divisórias entre mesas para todos da hierarquia tornarem-se acessíveis


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Fotos: Flávio Pereira

ILHAS A interação é um dos pontos fortes dos ambientes de trabalho sem barreiras

Também conclui que os introspectivos nesta nova concepção perdem o seu direito ao isolamento e, portanto, transcendem menos –o que afetaria diretamente o seu ponto forte para o alcance do sucesso. “Aí é que está a sutileza da questão. É saudável manter pessoas comunicativas e outras introspectivas no mesmo ambiente, porque há momentos em que problemas merecem soluções conjuntas, mas há outros em que é necessário um pensamento prático”, defende Vieira, gerente do Sebrae.

Espaço comum Agregando diferentes perfis de funcionários e para facilitar a valorização crescente da interação entre eles –considerando, este, um fator motor de produtividade, criatividade e afrouxamento da tensão–, empresas têm optado por quebrar barreiras que não apenas de gestão. Agora, paredes ou divisórias têm sido derrubadas para todos da hierarquia tornarem-se acessíveis aos demais. “São os chamados ‘Open Spaces’, que têm chegado ao Brasil por influências norte-

americana e europeia. São grandes lajes com bancadas sem pontos fixos para os funcionários, apenas com carrinhos com gavetas. Elas tornam-se uma plataforma sem paredes da qual os diretores também fazem parte, atendendo ao dinamismo e à velocidade dos tempos atuais. Muito porque, hoje, os funcionários usam notebooks e ficam menos no escritório”, afirma Fábio Rocha, especializado em arquitetura corporativa. Rocha diz que, em São Paulo, esse modelo já é bem adotado. “No Vale do Paraíba não


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Reportagem de Capa

muito, porque ainda está bastante enraizada a ideia de que o gerente ou o presidente da empresa tem de ter uma sala própria”, avalia. Outros fatores limitantes à adesão desse novo padrão, aqui, são as particularidades da estrutura física dos espaços e os custos para a reformulação desses locais. Quebrar paredes não é tão simples, e há prédios que não permitem adaptações, pois mantêm nas divisórias pilares responsáveis por sua sustentação –a queda de três prédios na avenida Treze de Maio, no Rio de Janeiro, no início do ano, deixa um exemplo claro das restrições que devem ser respeitadas na hora em que se planeja uma reforma. “Nas indústrias costuma ser mais fácil, porque elas têm paredes de gesso. Mas ainda há resistência e elas preferem investir em tecnologia, não se importando se o ambiente de trabalho está desatualizado. Também preferem evitar os transtornos da obra e temem que o retorno não seja bom a curto prazo. Porque não é só mudar o mobiliário, isso muda toda a filosofia de trabalho da empresa. Já atendi um caso em que as pessoas não se adaptaram e pediram para voltar a ser como era antes”, diz Rocha. A solução para muitos acaba sendo mudarse para um prédio que proporcione essa organização, como foi o caso da Supera, agência de comunicação situada em São José dos Campos. “No prédio que ocupávamos antes, as paredes existiam. Agora temos ilhas, uma de frente para a outra, com diretores trabalhando junto com as equipes. Melhorou muito o clima de trabalho, porque as pessoas se reaproximaram e passamos a ter uma noção do todo”, afirma Domenico Eric Justo, 35 anos, diretor de criação na empresa. A funcionária Suzan Eiko, 32 anos, aprova o novo sistema e afirma que a qualidade de vida melhorou. “Ficou mais rápido, rico e prazeroso trabalhar. As atividades fluem mais tranquilas, porque estão todos mais participativos nas decisões, trocando mais informações. Antes, as pessoas tinham receio de chegar na sala ao lado para falar alguma coisa, então foi uma quebra de barreira”, defende. Às quintas-feiras, também, a sala de reuniões recebe a todos para sessões de filmes a que deram o nome de Pipocando. Nelas, algum vídeo que tenha relação com a atividade que desenvolvem é exibido para que fomente discussões que acrescentem valores ao grupo. A ideia é tornar a equipe cada vez mais integrada e atualizada.

”As salas de descompressão são criadas para o relaxamento dos funcionários. Podem ter mesas de jogos, cadeira vibratória, games e até sacos de pancada” De Fábio Rocha, especializado em arquitetura corporativa

“Há vezes em que alguém está discutindo alguma coisa e uma outra pessoa já ouve e compartilha algum conhecimento que tem sobre aquilo, sem nem precisar sair da mesa. Ficou tudo mais fácil”, avalia Maria Fernanda Chacon, 24 anos, também da agência. Valorização Com os líderes mais próximos aos funcionários, também, o reconhecimento das qualidades de cada um acaba sendo facilitado e elas podem ser trabalhadas em conjunto, proporcionando a troca de saberes de uma forma espontânea. Na Phocus Interact, empresa de São José dos Campos que oferece soluções digitais diversas, essas vantagens já puderam ser comprovadas. Em uma bancada única e sem repartições, os funcionários trabalham frente a frente, vestidos em confortáveis bermudas – se assim preferirem–, conversando entre eles. “Cheguei aqui para fazer estágio sem conhecer nada sobre sites. Aprendi muita coisa


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ner e, em dois anos, jĂĄ era diretor de criação. No ano seguinte, uniu-se a Costa na condução da empresa. “Considero um crescimento rĂĄpido. Sempre tivemos essa linha de trabalho, mas hĂĄ dois anos moldamos a nova metodologia ao dinamismo dos muitos projetos que desenvolvemos. Mantendo o profissionalismo, o serviço rende bem desse jeito. É produtivo, independentemente do que cada um faz entre uma tarefa e outraâ€?, afirma. Ambos os sĂłcios-proprietĂĄrios consideram que a realização de pesquisas e de atividades alheias ao serviço, durante o expediente, ĂŠ uma prĂĄtica positiva por agregar informaçþes no repertĂłrio do funcionĂĄrio, alĂŠm de ser necessĂĄria para estimular a criatividade. Tanto, que Ricardo de Oliveira Borges, 25 anos, estĂĄ na equipe hĂĄ trĂŞs meses e jĂĄ foi liberado para fazer uma viagem a Portugal. “Vim de agĂŞncias de SĂŁo Paulo em que o ego dos profissionais se sobrepunha Ă troca de conhecimento e prejudicava o crescimento dos outros. Senti muito a diferençaâ€?.

RAQUETES AndrÊ de Paula Pinto, 27 anos, e Felipe Spadoni, 21 anos: entre um serviço e outro, pausa para partida de pingue-pongue

com os outros e, um ano depois, fui efetivado. Gosto porque aqui trabalho Ă vontade, sem muita pressĂŁo, ouvindo mĂşsica para me deixar mais concentradoâ€?, afirma JoĂŁo Marcus Gomes de Paula, 19 anos. Isso ĂŠ possĂ­vel porque os sĂłcios-proprietĂĄrios da empresa seguem um sistema de gerenciamento de trabalho em que as tarefas do dia ficam expostas em uma parede, destacando o que jĂĄ foi feito, o que estĂĄ sendo realizado por quais pessoas e o que ainda falta para ser concluĂ­do. “Cada um administra o seu tempo de acordo com a sua meta e fica por dentro do que estĂĄ sendo concluĂ­do por todos naquele dia. Trabalhamos com muitos jovens e queremos que eles se sintam relaxados, mas ainda com controle sobre a demanda de serviços. Se nĂŁo for assim, eles trocam rĂĄpido de empregoâ€?, afirma Eduardo Costa, idealizador do empreendimento. Seu atual sĂłcio, Bruno Tavares, tem 26 anos, entrou na Phocus Interact como desig-

Quebra da rotina Ainda seguindo as tendĂŞncias dos ambientes corporativos da atualidade, tanto a Supera quanto a Phocus Interact oferecem opçþes para a descontração dos funcionĂĄrios. A primeira tem mesa de pingue-pongue e, a segunda, prepara a instalação de um televisor com videogame, alĂŠm da inauguração de um espaço para happy hour na ampla sacada da sala comercial que ocupou recentemente. “SĂŁo as chamadas salas de descompressĂŁo, que jĂĄ sĂŁo bastante usadas em SĂŁo Paulo e as indĂşstrias daqui tambĂŠm estĂŁo fazendo. SĂŁo ĂĄreas criadas para o relaxamento dos funcionĂĄrios, entĂŁo podem ter mesas de jogos, cadeira vibratĂłria, videogame e atĂŠ sacos de pancada, porque sĂŁo prĂłprias para desestressarâ€?, explica o arquiteto FĂĄbio Rocha. Ao contrĂĄrio do que possa parecer mais Ăłbvio, esses ambientes nĂŁo devem ter cores claras, mas sim vivas. “Devem ser espaços informais, entĂŁo mais alegres e ousados. JĂĄ foi comprovado que eles interferem na produtividade. Virou tendĂŞncia porque, em meio Ă velocidade de produção de hoje, o funcionĂĄrio pode dar uma pausaâ€?, completa. Por isso, especialistas consultados pela valeparaibano mencionam que nĂŁo seria adequado que fossem estipuladas regras como horĂĄrios especĂ­ficos para o uso da sala ou um tempo mĂĄximo para usufruto dela. Seguindo essa lĂłgica de gestĂŁo, se a pessoa cumpre com

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Reportagem de Capa

Modelo não é para todas as empresas Ainda que a quebra de paredes e de divisórias nas áreas de trabalho seja uma tendência, esse padrão não se encaixa em todas as situações, e a reformulação desses espaços deve ser feita preservando as necessidades de cada setor. “Em empresas de tecnologia ou nas que têm mais funcionários em trabalho externo dá mais certo. Em uma empresa de recursos humanos, por exemplo, já não daria, pois haveria muita interferência. Quando essas plataformas únicas são criadas, o ideal é que nelas sejam separadas ilhas de trabalho. Profissionais de contabilidade, que precisam de concentração, jamais poderiam ficar junto dos de venda, que vivem falando ao telefone”, explica o arquiteto Fábio Rocha, que defende que as empresas também conseguem, com isso, manter o pessoal necessário economizando na metragem da área que ocupa. O gerente do Sebrae em São José dos Campos, Emerson Morais Vieira, também tem considerações: “A quebra de paredes expõe mais as pessoas e, por isso, elas acabam se policiando para não falarem alto ou não resolverem problemas pessoais durante o trabalho. Acaba esbarrando no limite de privacidade. Mas se a equipe é bem treinada vai saber usar isso para crescer. O problema é maior nas empresas em que a competitividade é estimulada, porque pode aumentar a animosidade entre os funcionários”. Vieira não acredita que esse modelo faça com que os funcionários sintam-se mais oprimidos pela liderança e defende que, nessas plataformas, seja sempre reservado um espaço ao qual o empregado mais introspectivo possa recorrer quando precisar se concentrar.

DISTRAÇÃO Na loja Nova Mania, apenas na pausa do almoço os funcionários podem relaxar

as suas metas, não haveria motivos para o controle sobre o acesso dela a esses espaços. O incentivo ao bom senso seria o melhor caminho. Ainda que limite o uso da área que criou em sua loja ao horário de almoço, a comerciante Sonia Ferreira da Silva, 42 anos, sócio-proprietária da Nova Mania, confirma ter sentido resultados positivos no desempenho e no ânimo dos funcionários. “Melhorou o rendimento. Antes, eles almoçavam e ficavam na pracinha enquanto outros descansavam em um banco de perua que tinha perto do estoque, sendo acordados a todo instante para um outro passar. Isso me incomodou e resolvi criar a sala, que hoje tem jogos de cartas e dama, além de sofá e de uma televisão com opções de filmes para eles assistirem”, conta. Para ela, que mantém a loja no centro de São José dos Campos há dez anos, os quase 40 funcionários passaram a conversar mais entre eles, além de descansar melhor. “Então vejo que ajuda no físico e no psicológico deles. É um espaço reservado, em que eu não interfiro”, afirma Sonia, que criou o espaço há três anos. Para quem tem acesso a esses recursos, a análise é parecida. “Costumamos jogar pingue-pongue no almoço e na hora da saída. Geralmente ficamos até mais tarde um pou-

quinho por isso. Todos acabam disputando. Quando um serviço exige mais tempo, fazemos intervalos e jogamos. Entre um projeto e outro também é bom, para tirar o primeiro da cabeça”, afirma André de Paula Pinto, 27 anos, diretor de arte da Supera e que também comemora o acesso irrestrito à internet. Redes sociais Para quem trabalha com criação e desenvolvimento de produtos digitais costuma ser mais fácil manter o contato com a rede de amigos e de profissionais da área por meio de sites de relacionamento como o Facebook, o Twitter e o LinkedIn. Mas nem todas as profissões são contempladas com o acesso às redes sociais durante o expediente, embora essa abertura das empresas aos empregados esteja se tornando uma crescente. “Esses sites, hoje, já são vistos como mais um canal para a troca de conhecimento. E os funcionários têm sido entendidos como mais uma ferramenta de divulgação da empresa se usa esse recurso em prol dela. As que favorecem, em suas rotinas, a interação com o cliente, deveriam incentivar seus funcionários a usá-los”, afirma Emerson Morais Vieira, gerente do escritório regional do Sebrae-SP.


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PHOCUS Ricardo Oliveira Borges, há apenas 3 meses na empresa, já foi liberado para uma viagem

Vale reforçar que alguns cuidados devem ser tomados na hora de se expor nessas redes, como o de evitar fazer comentários negativos sobre a empresa ou sobre parceiros e colaboradores dela. “A mesma coisa quando trabalham informações e conteúdos da empresa por meio desses sites”, diz Vieira. Em muitos casos, a tendência ao uso das redes sociais para a promoção da empresa não é adotada sob a justificativa de que elas colocariam em risco segredos ou a segurança da firma. E a preocupação tem fundamento. “O problema é que a maioria tem receio de que as pessoas usem recursos além dos que já estão prontos. São os chamados aplicativos, como aqueles convites do Facebook para criar calendários. Alguns deles, quando instalados, pedem para o usuário ceder a sua lista de amigos para eles, por exemplo. Por meio de outros, podem ter acesso ao que ele publica ou rastrear informações do computador dele. Espionagem industrial não é de hoje e ainda existe”, explica Roberto Carlos Mayer, presidente da Federação Ibero-Americana de Entidades de Tecnologia da Informação. Ainda assim, em empresas médias e grandes, o uso da intranet –canal de comunicação restrito ao ambiente corporativo– é valori-

zado para facilitar o contato entre funcionários. “Aí cada empresa cria a sua estratégia. O mais importante é que as redes sociais são mais um item para melhorar o relacionamento com os clientes, mas ainda são vistas com reservas. Além dos riscos de segurança, o retorno financeiro ainda não está garantido. Os sócios de empresas menores têm de decidir se querem investir nisso. Já houve campanhas milionárias de empresas para angariar seguidores nas redes em que os valores gastos nunca foram recuperados”, diz. Por outro lado, se a empresa proíbe o uso dessas plataformas durante o expediente, apenas por prevenção à queda de rendimento, será cada vez mais difícil a ela controlar os seus funcionários em consequência dos avanços da tecnologia a favor da mobilidade. “O acesso à internet 3G pelo celular não põe em risco a segurança da empresa, já que não se integra à rede corporativa. Profissionais têm recorrido a elas e também aos tablets para acessar seus perfis sociais durante o trabalho. É difícil controlar e é um processo em evolução, que ainda é caro”, admite Mayer. A vantagem que se pode tirar dessa história é que cada vez mais empresas de re-

cursos humanos têm recorrido ao perfil na internet dos candidatos a vagas de emprego, e uma pesquisa recente divulgada nos Estados Unidos mostra que os que aparentam ser mais sociáveis são vistos com bons olhos. O estudo, publicado no Jornal de Psicologia Social Aplicada dos Estados Unidos e divulgado pelo site Read Write Web, conclui que essas pessoas são consideradas, pelos avaliadores, mais extrovertidas e simpáticas que as outras. “Elas demonstram ter um bom network, mostram ter bons hábitos e gostos pessoais, e, pelas fotos e comentários, apresentam o conhecimento que agregam. Mas a escolha do candidato não deve ser baseada só nisso, porque ele pode mentir nas informações pessoais”, diz Vieira, do Sebrae. De qualquer forma, novamente é a capacidade da pessoa interagir com os grupos que começa a ser valorizada. “Porque as empresas estão percebendo que o ser humano precisa compartilhar o que sabe e que isso aumenta o rendimento das equipes. Assim, as pessoas trabalham com um estresse menor e em um ambiente que busca um equilíbrio entre a descontração e a formalidade”, encerra o gerente.•


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Entrevista

Dois Pontos >MV Bill, 38 anos, usa a música para falar sobre a realidade do país, sob a ótica de quem nasceu e ainda mora na favela Cidade de Deus

“O tráfico não vai acabar nunca. Sempre vai gerar demanda” Isabela Rosemback São José dos Campos

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ono de uma voz grossa e de um sotaque carioca carregado, o rapper MV Bill, 38 anos, canta a realidade brasileira sob a ótica de alguém que cresceu e ainda mora na favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e que é cofundador da Cufa (Central Única das Favelas), organização que desenvolve atividades culturais e sociais em diferentes comunidades. Também já lançou dois trabalhos conjuntos que adentraram no universo de traficantes em diversas cidades do país: o aclamado livro “Cabeça de Porco” (2006), escrito com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares, e o documentário “Falcão - Meninos do Tráfico” (2007), também em parceria com Athayde. Em uma visita a São José dos Campos no mês passado, quando ministrou uma palestra em um evento da prefeitura, o artista conversou com a valeparaibano sobre as suas impressões acerca de assuntos como drogas, hip-hop e preconceitos. Comentou o caso Pinheirinho e a atuação de rappers na mobilização da opinião pública e também falou sobre a sua participação no folhetim adolescente “Malhação”, da Globo. “Percebi que atuar diante das câmeras é muito importante, mas que importante também é a gente se tornar roteirista. É ter preto no elenco, mas também gente que saiba escrever sem medo dos personagens pretos. Aí sim será uma grande contribuição para o povo brasileiro”, desabafa. Confira, nas próximas páginas, a entrevista na íntegra.

“Cabeça de Porco” foi lançado há sete anos, e, “Falcão - Meninos do Tráfico”, há seis. De lá para cá, que mudanças você percebe no modo como o tráfico atua e como é tratado por autoridades e pela sociedade? < O tráfico não vai acabar nunca. Sempre vai gerar demanda para a oferta. Já sobre o que abordamos no documentário, tivemos avanços muito pequenos, muito aquém do que esperamos ou do que o Brasil necessita. A gente conta com mobilizações, mas elas são pontuais. Lógico que a gente se vê muito distante daquilo que a gente acha importante. Por isso que eu não parei em minuto algum de ir aos lugares falar sobre essa questão. Sabemos que os jovens são recrutados cada vez mais cedo para participar do tráfico. Que considerações faria sobre essa relação da violência com as crianças e os adolescentes? < A violência gerada pela droga, principalmente pelo crack, ultrapassou os limites da favela. Mas é inegável que os jovens com menor atividade social, ou da periferia, ainda estão mais vulneráveis a esse tipo de realidade. Eu vejo com facilidade e com clareza a diferença entre favelas que têm projetos sociais e outras que não têm. A realidade dos jovens é bem diferente. Os anseios, as expectativas e as perspectivas deles estão de acordo com aquilo que existe à sua volta. Nas favelas em que há mais programas sociais, onde há assistências social e comportamental, o número de jovens inseridos no crime é menor, porque ele tem opção. Nas favelas em que não existe isso, a pessoa que tem mais dinheiro acaba sendo o dono do tráfico, e isso torna-se uma referência para eles.

D O M


Flávio Pereira

Domingo 6 Junho de 2010

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PERFIL NOME: Alex Pereira Barboza IDADE: 38 anos NATURALIDADE: Rio de Janeiro ESTADO CIVIL: Casado PROFISSÃO: Rapper

DROGAS “A VIOLÊNCIA GERADA PELA DROGA ULTRAPASSOU OS LIMITES DA FAVELA. MAS É INEGÁVEL QUE JOVENS COM MENOR ATIVIDADE SOCIAL SÃO OS MAIS VULNERÁVEIS”

DESTAQUES: Livro “Cabeça de Porco” (2006), escrito com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares, e o documentário “Falcão - Meninos do Tráfico” (2007), também com Athayde


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Entrevista

LIVRO “Cabeça de Porco” (2006) é um relato real, analítico e humanizado da vida de crianças que vivem no e para o mundo do crime

DVD D Documentário retrata a vida d de jovens brasileiros que trab balham no tráfico de drogas

PINHEIRINHO “MESMO QUE QUISESSEM DEVOLVER A ÁREA PARA O NAJI NAHAS, O GOVERNO PODERIA TER FEITO UMA DESOCUPAÇÃO MENOS TRUCULENTA” Sobre a pacificação nos morros do Rio, acha que esta é uma medida que minimiza, de fato, os problemas sociais nas favelas ocupadas? < Eu a vejo como um trabalho bem-intencionado, mas que obviamente não consegue resolver todo o problema do Rio de Janeiro. Nós temos 19 favelas pacificadas, estamos indo para a vigésima, só que a cidade tem 800 favelas. Não há efetivo para ocupar todas elas, nem preparo ou armas suficientes para isso. Então é uma iniciativa bem-sucedida naqueles locais que eles conseguiram ocupar, mas também não sei se esse mesmo modelo serve para outras favelas. Outras talvez possam não se adaptar. A peculiaridade de cada realidade, às vezes, requer medidas completamente diferentes para cada lugar. É uma iniciativa que não pacifica, mas sim ocupa. Pacificação é outra coisa. Em suas músicas, você costuma discutir o racismo para além dos problemas de classe no Brasil. É possível separar os dois, acha que há um peso maior em algum deles, ou defende que um está diretamente ligado ao outro? Você, inclusive, incentiva a autovalorização dos negros... < Vejo os dois muito interligados. Muita coisa que é de âmbito social torna-se racial quando você vai averiguar quem está naquela situação. Procurei não me preocupar mais com se é um ou outro o problema, porque acho que estão automaticamente ligados. Acho que parte dos negros já

aprendeu a se autovalorizar e a conhecer a nossa própria história. Porque não é uma história de derrota, e, sim, de vitórias, de muita construção e coisas bonitas. Mas tem uma outra parte que ainda não tem consciência, não tem educação, então não sabe ainda da própria origem. Mas diante do quadro que tínhamos no passado, acho que a gente já deu uma avançada. Está longe de ser o ideal, mas já avançamos. Recentemente, São José dos Campos repercutiu até internacionalmente devido ao caso Pinheirinho, o que mobilizou rappers brasileiros e em evidência em prol dos sem-teto. O que pensa sobre o ocorrido? < Achei importante a mobilização da comunidade em torno do Pinheirinho, que acabou virando um símbolo de outras favelas que acabam passando pelo mesmo processo de desocupação. E em torno da maneira como aconteceu e do que sobrou, que foram os abrigos sujos e desconfortáveis. É uma dor muito grande para essas pessoas, depois de tanto tempo morando no Pinheirinho, terem de ir para esses lugares. Achei bacana a atitude dos rappers. A forma como essas pessoas foram tiradas de lá foi muito ruim, porque é gente que também tem seus direitos. E mesmo que quisessem devolver a área para o Naji Nahas, o governo poderia ter feito a desocupação de maneira menos violenta, menos truculenta, e abrigado as pessoas em outro local. Deveria ter construído casas populares ou conjuntos habitacionais, e não tê-las tirado de suas moradias para colocar


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Entrevista

MÚSICA “ACHO BOA A CENA ATUAL PARA O HIP-HOP, QUE CONSEGUIU SAIR DE ANOS TRISTES, EM QUE NÃO SE PODIA FALAR EM OUTRA COISA, SÓ EM CRIMINALIDADE” nesses abrigos provisórios que eu já conheço e sei como são. Isso é um crime maior do que ocupar uma terra qualquer. Ali vimos muitos moradores de comunidades periféricas se voltarem contra os despejados, que chegaram a enfrentar preconceito até na hora de alugar casas. Conflitos entre semelhantes (negro contra negro, pobre contra pobre, gay contra gay) não costumam aparecer, mas também existem. Percebe isso nas comunidades com que trabalha? < Sim. Existe dentro da própria Cidade de Deus, onde eu moro. Tem a favela e tem a subfavela. É parte daquilo de que falava, de famílias que crescem com e sem planejamento. É o caso de adolescentes que engravidaram, foram postos para fora de casa e, sem a menor condição, montaram um barraco. Esse barraco já é visto como uma subfavela porque ali já há casas de alvenaria, mansões, conjuntos habitacionais, creches... Então, quem monta esse tipo de moradia, que já é arcaico e está sendo extinto na Cidade de Deus, acaba criando uma subfavela e tem mais dificuldade para se comunicar com aqueles que têm casas de alvenaria. Também sofre para alugar imóveis, porque as pessoas acham que ela não vai honrar os seus compromissos. Esse tipo de preconceito é mais fácil de ser trabalhado, por serem pessoas de convívio, ou não? < Depende do histórico. Há lugares que carregam conflitos históricos, a ponto de moradores não poderem passar para o outro lado da rua por uma questão de décadas atrás, e que são difíceis de quebrar. Tem a favela Lagamar, em Fortaleza, que tem uma parte separada por um canal. Todos ali parecem parentes, mas um irmão mora de um lado dele e, o outro, no oposto. E, desde que a favela existe, os lados são rivais, inimigos. Fizemos um evento com a Cufa, lá, e conseguimos reunir os dois lados da favela, que cantaram e dançaram juntos o tempo todo. Mas depois cada um foi para o seu lado e não se falou nunca mais. Não tem jeito. Com sua música, consegue romper com o discurso de um Brasil que respeita as diversidades. Já declarou que isso incomoda aos outros por esperarem que o negro da periferia cante pagode e funk. Considera, estes, ritmos que favorecem a alienação? Acredita que o rap tem essa função social, necessariamente? < Nem funk, pagode ou sertanejo têm obrigação de conscientizar ninguém, e também não acho que o problema de toda a tragédia periférica seja culpa desses ritmos musicais. Nem acho que o hip-hop tem essa função de socializar ou reeducar. Pode fazer isso também, mas isso não é mais uma obrigação. No mundo tem muita música que ainda fala dessa realidade, mas há músicas, também, que falam

de discussão de casal, de diversão... Eu tenho um pouco de cada. Ainda mais que tenho uma organização como a Cufa, que me ajuda a praticar as coisas que eu falo e que já tinha em teoria. Fico com a minha música mais solta, não preciso expor tanto a minha militância porque eu milito fisicamente. A cena musical mundial vive uma era em que coloca o rap em evidência. O que pensa sobre a forma como esse estilo está sendo feito, hoje, aqui e lá fora? <Estou achando muito boa a cena atual para o hip-hop brasileiro, porque ele conseguiu sair de anos tristes, em que não se podia falar em outra coisa, só em criminalidade. Hoje, já tem muito jovem falando de positividades, até porque a favela vem se modificando. O mesmo jovem que antes só tinha o sonho do fuzil, hoje, encontra posição de apoio na internet, para mexer nas redes sociais. Então isso faz com que as letras ganhem outra conotação. Elas passaram a falar de outras coisas, que não só aquelas, mas com outra linguagem, que é a linguagem natural da juventude. O caminho que o rap está tomando é totalmente positivo. E os rappers estão aprendendo a lidar com as questões das mídias, não tendo medo de aparecer e de dialogar na TV... Estou gostando muito. Como surgiu a oportunidade de trabalhar em “Malhação” e o que te convenceu a embarcar nesse trabalho? Houve receio de, em algum momento, os rappers te considerarem um ‘traidor do movimento’? < Nunca fiz parte de movimento nenhum, sempre curti a cultura hip-hop e sou um crítico ferrenho da televisão. Não da existência dela, mas da forma como ela conduz a sua programação. Sinto que há uma exclusão em seus programas. Na própria “Malhação” havia uma dificuldade muito grande em colocar gente preta para participar, e, quando a colocava, era em papéis de empregados, ladrões ou subalternos. Aí, um dia, fui chamado porque sabiam que eu criticava muito o programa, e iam fazer uma temporada em que as questões sociais seriam abordadas. Eu faria o papel de um professor da periferia que passaria a lecionar no colégio mais caro do Rio de Janeiro. Achei que esta seria uma oportunidade de contar uma outra história, que eu sempre achei que faltava ser contada. E achei que, encarando aquele papel, mesmo sem ser ator, eu poderia dar um tempo para aprender ou mesmo poderia abrir portas para atores profissionais, coisa que eu não sou, que não tiveram a chance de atuar. Achei bacana a experiência, mas, no meio do caminho, eu percebi que atuar diante das câmeras é muito importante, mas que importante também é a gente se tornar roteirista, que é quem escreve as histórias. É ter preto no elenco, mas também gente que saiba escrever sem medo dos personagens pretos. Aí sim será uma grande contribuição para o povo brasileiro. •


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INDÚSTRIA BÉLICA

Defesas reforçadas Na contramão das grandes potências, os países emergentes investem para se transformarem em potências militares

Yann Walter São José dos Campos

ntes mesmo de vencer a eleição presidencial de 4 de março, Vladimir Putin, que sequer imaginava a possibilidade de perder, anunciou que a Rússia investirá US$ 772 bilhões nos dez próximos anos para modernizar seu Exército, no maior esforço militar empreendido pelo país desde o fim da Guerra Fria. Dias antes, o grupo de estudos norte-americano IHS divulgou que o orça-

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mento da China para a Defesa será superior a US$ 238 bilhões em 2015, o que representa um crescimento anual de 18,5%. A Índia, por sua vez, encomendou em fevereiro 126 caças Rafale, o mesmo que é avaliado pelo Brasil. O quarto integrante do grupo BRIC também tem investido pesado no setor da defesa: de acordo com o IISS (International Institute for Strategic Studies, na sigla em inglês), as despesas militares brasileiras aumentaram 30% entre 2001 e 2010. Esta corrida armamentista entre os países emergentes acontece justamente no momento em que as principais potências militares ocidentais tentam conter seus in-

vestimentos no setor. Embora os Estados Unidos sejam, de longe, a maior delas -com um orçamento de US$ 700 bilhões, a nação norte-americana representou mais de 40% do esforço militar mundial em 2011–, o presidente Barack Obama já começou a cortar gastos. O objetivo é diminuir progressivamente as despesas até chegar a um orçamento anual de pouco menos de US$ 500 bilhões em 2022. A Europa, que passa por uma das piores crises econômicas de sua história, tem outras preocupações. De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Defesa do Brasil, a proposta de orçamento para o setor em 2012 prevê R$


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Fotos: divulgação

EMBRAER O KC-390 está entre os planos de investimento do governo brasileiro

63,7 bilhões, o que significa um aumento de 5,8% em relação a 2011. Deste total, R$ 16 bilhões são destinados para custeio e investimentos, e o restante corresponde aos gastos com pessoal e encargos. No ano passado, o MD ficou com um limite de R$ 10,8 bilhões, ou seja, a proposta orçamentária para este ano projeta uma elevação superior a 48% para as despesas relacionadas a custeio e investimentos. É preciso ressaltar, porém, que a pasta da Defesa foi a mais afetada pelo corte de R$ 50 bilhões no Orçamento de 2011 decidido pela presidente Dilma Rousseff. O Ministério da Defesa ressaltou, por meio de sua assessoria, que os investimentos

prioritários do setor para este ano são, entre outros, o programa de submarinos Pro Sub, que envolve a implantação de um estaleiro e de uma base naval para a construção de submarinos; a compra de 50 helicópteros franceses EC-725; o desenvolvimento, em parceria com a Embraer, do avião cargueiro KC-390; a aquisição de blindados Guarani; e a implantação do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron). Com o projeto HX-BR (dos helicópteros), o KC-390, a modernização de aeronaves e o sistema de controle do espaço aéreo, a Aeronáutica vai receber R$ 4,6 dos R$ 8 bilhões de investimentos previstos para

toda a Defesa em 2012. Individualmente, o projeto mais caro é o Pro Sub, pelo qual a Marinha receberá R$ 2,15 bilhões. “A maior parte destes projetos tem horizonte de longo prazo, ou seja, preveem investimentos ao longo de vários anos. Sobre o corte orçamentário, há uma orientação de poupar, na medida do possível, projetos e ações com compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, a exemplo do Pro Sub e do KC-390”, destacou a assessoria de comunicação do MD. O aumento das despesas militares nas nações emergentes se deve a dois fatores. O primeiro é econômico. Todos os paí-


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Mundo

ses do BRIC têm registrado crescimento constante nos últimos anos. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a economia do Brasil cresceu 2,7% em 2011 –contra 7,5% em 2010. A Rússia, por sua vez, registrou um crescimento de 4,3%. O PIB (Produto Interno Bruto) da Índia teve aumento de 6,9%, e o da China, de 9,2%. O segundo motivo é estratégico. Através destes investimentos, os emergentes vislumbram um meio de serem reconhecidos como potências militares globais. Para a China, a Índia e o Brasil, este status seria uma novidade. Serviço secreto Já a Rússia deseja voltar aos ‘anos dourados’ da União Soviética, quando equilibrava as forças com os Estados Unidos. Em seu discurso pré-eleitoral, Putin –que, vale lembrar, foi um agente do temido KGB, o serviço secreto soviético, de 1975 a 1990 –insistiu na construção de 400 mísseis balísticos intercontinentais, 2.300 blindados, oito submarinos com mísseis nucleares e 600 caças T-50 em parceria com a Índia. Assim, a pasta da Defesa deverá representar 5% a 6% do PIB russo em 2022. “A economia da Rússia foi muito afetada pela crise de 2008, que provocou uma forte queda do preço do petróleo. Mas as condições econômicas do país melhoraram exatamente pela revalorização do petróleo no mercado internacional. Com isso, os planos de investimentos na área da defesa tornaram-se mais viáveis”, explicou Alexandre Uehara, professor de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo). “No caso da Rússia, uma justificativa para o interesse em alocar recursos para a defesa é dada pela preocupação com seu status internacional, que ficou bastante prejudicado depois do fim da Guerra Fria. Além disso, Vladimir Putin vem demonstrando insatisfação com a política externa dos Estados Unidos, que têm buscado expandir e aproximar sua área de atuação estratégica das fronteiras russas”. Neste contexto, existe a possibilidade de um acirramento das tensões entre as duas superpotências? Assim como a Rússia, os Estados Unidos elegem este ano –no dia 6 de novembro– seu próximo presidente. No entanto, na opinião de Tullo Vigevani, professor de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), as relações entre os dois gigantes não deverão sofrer fortes

RÚSSIA O país deseja voltar aos ‘anos dourados’ nos quais o poderio militar se equiparava aos EUA

A economia do Brasil cresceu 2,7% em 2011. Na Rússia, o crescimento foi superior a 4%. Já o PIB da Índia aumentou 6,9%, e o da China subiu para 9,2%

alterações, mesmo que Obama perca para o candidato republicano. “Não vejo possibilidade de grandes tensões. Não acho que o candidato republicano –qualquer que seja este– será muito diferente de Obama no que diz respeito às grandes orientações de política externa. E a Rússia não deseja um conflito aberto com os EUA. Quer apenas quebrar a hegemonia militar norte-americana e restabelecer o equilíbrio. Putin quer argumentos para conter a dominação geopolítica dos EUA no Oriente Médio e em outras partes do mundo”.


Domingo 1 Abril de 2012

A China também está preocupada com os Estados Unidos, cada vez mais presentes na zona Ásia Pacífico. Obama já avisou que os cortes orçamentários previstos na Defesa dos EUA não afetarão a região. Pelo contrário, a presença americana será reforçada no Japão, na Coreia do Sul e na Austrália. Taiwan –onde parte da população contesta a tutela da China– anunciou que irá renovar completamente sua frota de 145 caças F-16. As despesas militares da ilha têm registrado crescimento anual de 10%, pouco acima das de Indonésia (8,2%) e Vietnã (9%). “A

China quer controlar as rotas marítimas para garantir suas linhas de suprimento petrolífero, e o país mantém conflitos com o Japão, Taiwan e o Vietnã sobre suas fronteiras marítimas”, observou Vigevani. O projeto chinês de multiplicar por dois o orçamento de sua defesa até 2015 é plausível, até porque, como lembrou o professor Uehara, os custos dos investimentos são menores na China. “Assim, o orçamento destinado à defesa naquele país pode gerar, proporcionalmente, mais projetos e produtos”, frisou.

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Atraso É preciso destacar que o aumento dos gastos militares também se deve ao fato de que a maior parte do equipamento do Exército Popular de Libertação da China data da época de Mao Tse Tung. Em 2002, segundo especialistas estrangeiros, o exército chinês equivalia à metade do exército espanhol em termos de material. Assim, ela estaria apenas recuperando o tempo perdido. O próprio governo da China disse que sua tecnologia militar tem 20 a 30 anos de atraso em relação aos Estados Unidos. As motivações do Brasil são diferentes, pois o país não tem as mesmas metas geopolíticas que os EUA, a Rússia e a China. “O objetivo do Brasil é garantir a segurança de suas fronteiras e de suas águas territoriais, particularmente nas áreas do pré-sal. Os investimentos estão sendo aplicados na resolução dos problemas logísticos pendentes, e não na ampliação da capacidade militar do país. Existe uma grande defasagem entre a necessidade de forças aptas para a ação e a real capacidade operacional das forças brasileiras”, analisou o professor Vigevani. Para alguns especialistas, o Brasil quer se firmar como a maior potência militar da América do Sul. Um dos motivos, segundo eles, seria o desejo de ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas ao lado de Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido, as maiores potências militares –e nucleares– do planeta. A posição, porém, é refutada por Vigevani. “O Brasil é visto como uma potência econômica, e não militar. A eventual entrada no Conselho da ONU não será vinculada a questões militares, e sim à atuação do país nos âmbitos econômico –em cúpulas internacionais como o G20-, político e diplomático”, esclareceu. “O Brasil é, de fato, a grande potência militar da América do Sul. Em números absolutos, o orçamento brasileiro é o maior. Mas ainda assim, a Marinha chilena é mais equipada que a brasileira. E o Exército da Colômbia –um país assolado há décadas por conflitos internos contra guerrilheiros e paramilitares– tem uma capacidade operacional superior à do Exército do Brasil”, ainda ponderou o especialista da Unesp. Em todo caso, a corrida armamentista dos emergentes não vai alterar a hegemonia dos Estados Unidos, pelo menos no curto prazo. Basta lembrar que o orçamento da Defesa norte-americano para 2011 foi amplamente superior aos da Rússia e da China juntos. Mas os chineses estão se aproximando em ritmo acelerado, e os russos não querem ficar para trás. •


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Ensaio fotográfico

Diego Migotto e Kadu Schiavo Repórteres Fotográficos

Todo dia era dia de índio Em um trabalho realizado a quatro mãos, os fotógrafos Diego Migotto e Kadu Schiavo revelam em “Faces da Extinção” o que ainda resiste e o que já se perdeu da cultura indígena no Brasil para a civilização; as imagens da etnia ParesíHaliti, no Mato Grosso, contam a história.

FUTURO O jovem índio representa a esperança de manter a tradição, os hábitos e a cultura da tribo enquanto o desenvolvimento chega rapidamente às aldeias


Domingo 5 Setembro de 2010

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FESTA Os índios ParesíHaliti usam essas vestimentas em dias de eventos e apresentações

Ensaio


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OCAS Também chamadas de hati, na língua aruak, são bastante comuns na reserva

TECNOLOGIA Em 10 anos muita coisa mudou, há ocas com luz elétrica e água encanada




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Coisa & Taltigo

Marco Antonio Vitti

Transtornos alimentares são cada vez mais comuns nos dias de hoje

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tendendo há quarenta anos em São José dos Campos, tem me impressionado e preocupado o aumento dos casos de transtornos alimentares, que de maneira psicopatológica também tem a característica dos transtornos bipolares, quando o paciente sofre de depressões profundas e períodos de euforia ou mania e hipomania. Os dois extremos dos transtornos alimentares são a obesidade e a anorexia nervosa. Outro fato que me chama a atenção é que qualquer tipo de depressão virou moda, e chama-se pejorativamente a pessoa de “bipolar”. Infelizmente, o nome de anorexia nervosa é errado, uma vez que as portadoras deste grave distúrbio não são pessoas “neuróticas”, termo que Freud criou e se tornou estigmatizante, tanto quanto o termo “piti”. Segundo o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais”, a anorexia nervosa é definida como: “a recusa do indivíduo a manter um peso corporal na faixa normal mínima, um temor intenso de engordar e uma perturbação significativa na percepção da forma ou do tamanho do corpo”. As mulheres são as mais afetadas, na maioria das vezes na adolescência, quando se dá o início da anorexia nervosa. As adolescentes pós-menarca, ou seja, após a primeira menstruação, com este transtorno ficam inclusive com a menstruação suspensa. No

ANOREXIA “A greve de fome é um dos recursos utilizados por fanáticos políticos, por quem quer chamar a atenção” entanto, a patologia começa na vida pós-natal quando são criadas por mães que não fornecem carinho ao bebê, principalmente na hora de alimentar. Muitas mães com dificuldades afetivas praticamente empurram os alimentos goela abaixo da criança. A pesquisadora Tiffany Field e sua equipe criaram uma estratégia de massagear sistematicamente bebês prematuros na unidade dos neonatais. O resultado surpreendente e maravilhoso foi que se confirmou o maior poder que as mães têm sobre os filhos: dar carinho a seus recém-nascidos. O termo anorexia nervosa é errôneo, uma vez que quem sofre de anorexia tem fome, só que não come. A greve de fome é um dos recursos utilizados por fanáticos políticos, por pessoas que querem chamar a atenção para seus afetos ou desejos não atendidos, como líderes que se utilizam da fome para serem atendidos em suas reivindicações. Isto vemos também na maioria das religiões que fazem jejum para a purificação da alma, como os católicos na quaresma, os muçulmanos no Ramadan, etc. Geralmente o anoréxico é criado

Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br

em um ambiente opressor e, muitas vezes, tratado como ‘infantil imbecil’, e por isso emocionalmente não quer deixar de ser criança e muito menos chegar à adolescência –daí a amenorreia, suspensão da menstruação, que causa, principalmente, a falta de libido para continuar sendo criança, pois como é tratada como uma criança imbecil, ela gratifica os pais, se tornando uma criança imbecil crônica. Recusando os alimentos, inconscientemente, exerce um poder que supera o poder dos pais opressores. Lógico que existem exceções. O neurocientista canadense PHD – Dr. Michael Meaney, afirma em seus trabalhos que: “O cérebro de quem recebe carinhos maternos, muda sua resposta ao estresse pelo resto da vida e gera um indivíduo mais tranquilo, saudável –e propenso a passar o carinho adiante”. Este carinho pode ser feito tanto pela mãe biológica ou adotiva. O tratamento só pode dar resultado se forem regulados alguns neurotransmissores que no anoréxico estão muito diminuídos e aumentados. Agora, para surpreender, o anoréxico não sofre, por isso, não tem consciência sobre sua imagem corporal. O cérebro da pessoa que não se alimenta entra num sofrimento tal que quando em dor extrema, para compensar, produz as famosas endorfinas, os analgésicos naturais do organismo que aliviam todos os sentimentos de dor e levam a doente a um estado de uma pseudo felicidade. •


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pesar de mais esperados durante o passeio, provocam surpresa. Surgem um, dois, três e de repente se está rodeado por mais de uma dezena deles. O mergulho com tubarões é uma das principais atrações para quem visita as Ilhas Perhentians, na Malásia. Não é preciso ser experiente para vê-los. Com apenas snorkel (pequeno tubo de respiração), máscara e pés-de-pato, é possível vivenciar isso. Também não é necessário afundar tanto. Esses peixes famosos por sua ferocidade ficam bem próximos à costa, a menos de três metros de profundidade, na-

dando próximos a barreiras de corais. Nesse trecho do território malaio, eles quebram um mito, são mansos. Ou melhor, não atacam. Somente pela experiência de fazer mergulho livre (aquele que não são necessários tubos de oxigênio e outros acessórios) com tubarões, não é ousadia dizer que esse é um dos melhores pontos para a prática desse esporte no mundo. Mas a riqueza da fauna marinha não se resume somente a essa espécie. Durante o mergulho livre se avistam tartarugas gigantes, que fogem quando os turistas tentam contato. As Ilhas Perhentians são um importante ponto de desova das tartarugas das espécies verde e de pente. Cerca de 300 ninhos são encontrados por ano no arquipélago. Ambientalistas fazem um trabalho de preservação das espécies com moradores e turistas. Nesse passeio submarino, também é possí-

vel ver arraias com pintas azuis fluorescentes, peixes-leões de um vermelho intenso, peixes-palhaços que ganharam a fama por causa do desenho animado “Nemo”, peixes-papagaios, anêmonas das mais diversas cores, enfim, uma grande variedade de espécies marinhas reunidas em uma área relativamente pequena. É emocionante estar entre peixes gigantes e tão perto da superfície. Perhentians é um desses destinos em que é preciso disposição para chegar. Elas ficam a mais de 500 quilômetros de distância da capital Kuala Lumpur. A partir da cidade de Kuala Besut, o acesso é somente por barco, as ilhas ficam a 20 quilômetros da costa. Graças a esse isolamento, as Perhentians estão no roteiro de poucas pessoas que visitam o sudeste da Ásia. Esse arquipélago está no Mar da China, no


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Fotos: Marrey JĂşnior


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Turismo

nordeste da Malásia, a poucas dezenas de quilômetros da fronteira com a Tailândia. Muitos visitantes alteram o roteiro quando chegam a esse lugar e ficam mais dias para aproveitar esse cenário paradisíaco pertencente ao Parque Marinho de Terengganu. O nome Perhentians significa “ponto de parada” em malaio. As ilhas serviam de entreposto de mercadores que vinham do sul do país com destino à Tailândia. Atualmente a colônia de pescadores vem perdendo um pouco das suas características para se render ao turismo. Prova disso, são as inúmeras escolas de mergulho existentes no arquipélago. Mergulhadores do mundo inteiro convergem para as Perhentians ao saber da fama de excelente ponto para a prática do esporte. Debaixo d’água a visibilidade ultrapassa os 20 metros, ela é tão cristalina que é possível ver muitos peixes fora dela como se fosse um imenso aquário. Há 20 pontos de mergulhos que são mais frequentados para quem pratica esse esporte. A água é tão clara, que todas as noites grupos saem para apreciar animais da fauna marinha de hábitos noturnos. A natureza nos arredores da ilha está conservada, apesar do número crescente de construções para abrigar um maior número de turistas. As leis de proteção ao meio ambiente são severas. É proibido pescar, colher corais e também jogar lixo ou poluir esse território. Mesmo com tanta proibição, muitos turistas insistem em destruir esse maravilhoso arquipélago, deixando a praia suja com restos de comida, bitucas de cigarro, embalagens e sacolas de plástico. Mas tudo é limpo no início da manhã e no fim do dia. Kecil e Besar As duas principais ilhas de Perhentians são Kecil, para onde vai a maioria dos mochileiros porque o clima é mais descontraído, jovial e os preços mais baratos, e Besar, que abriga resorts com maior infraestrutura, com um jeito mais família. Quem opta ir para qualquer um desses lugares tem que abrir mão de um pouco do conforto oferecido no continente, entre eles, a eletricidade. A energia elétrica é racionada nas duas ilhas. Os geradores são ligados somente à noite. Geralmente eles funcionam a partir das seis horas da tarde e são desligados por volta das onze horas da noite. Rebocados a isso, esqueça televisão, internet durante todo o dia, banhos de água quente (a maioria das pousadas nem tem chuveiro elétrico) e até os aparelhos de telefonia celular. O sinal costuma não ser dos

NATUREZA Os barcos são o único meio de transporte em todo arquipélago, considerado um dos melhores pontos de mergulho do planeta


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MAR A água é tão cristalina que é possível ver muitos peixes fora dela como se fosse um imenso aquário

melhores nesse canto da Malásia. Mas isso não faz falta para quem vai às Perhentians aproveitar o que elas têm de melhor: praias de areia branca, mar de um azul transparente, dias quentes e ensolarados. A temperatura mínima é de 20 graus com máximas que ultrapassam os 30 graus, calor que é aliviado nas sombras de árvores tropicais. Mas é desaconselhável visitar as ilhas entre dezembro e fevereiro, época das monções. Chove forte e intensamente nesse período. Pousadas, restaurantes e lojas fecham durante essa época. A mais famosa das praias das Perhentians fica em Kecil e chama-se Praia Grande. É a mais movimentada de todo o arquipélago e também com o maior número de bares, restaurantes e pousadas. A imensa faixa de areia fica cheia de turistas de diversas partes do mundo, principalmente europeus. Apesar de ser uma das mais barulhentas, porque há o movimento dos barcos que chegam todo momento, é uma das melhores para banho por causa da ausência de corais. A praia é rasa e a água, morna. Durante a noite, a Praia Grande é ponto de diversão certa. As mesas dos restaurantes à beira da areia são enfeitadas com velas e arranjos florais. Esteiras com almofadas também são colocadas na areia para os turistas

relaxarem. Há apresentações musicais feitas pelos próprios habitantes da ilha. Eles também fazem apresentações com fogo. Nem sempre é fácil encontrar bebidas alcoólicas. Elas são bastante caras quando vendidas. Assim como em toda a Malásia, a maioria da população das Perhentians é formada por muçulmanos. O consumo do álcool não é permitido para quem segue essa religião. Do outro lado da ilha está a Baía dos Corais. Ideal para quem quer tranquilidade. Mas o banho é melhor durante a maré alta. Durante a baixa há uma infinidade de peixes coloridos nadam nas piscinas formadas pelos corais. Caminhada Em Besar, também conhecida como a Grande Perhentian, há um número muito maior de praias. Um jeito de conhecer boa parte delas é fazendo uma caminhada ao redor da ilha. O percurso por toda a trilha leva duas horas para ser concluído, mas é impossível não parar durante o caminho para um banho de mar, para tomar água de coco ou mesmo descansar com um visual sensacional. O píer dos pescadores é outra atração nesse trajeto. O colorido dos barcos chama atenção. A chegada das embarcações carregadas de peixes frescos também. Os moradores das ilhas se aglomeram para negociar o melhor

preço pelos pescados. Alguns pescadores ainda preservam o hábito de vestir o sarongue, um tipo de saia longa estampada e muito confortável para o calor que faz na Malásia. Caminhar é pré-requisito para se conhecer as Perhentians. Além dos barcos não há outra opção de transporte. Não existem carros, motos e sequer bicicletas. Muitas das trilhas levam a praias totalmente desertas. Nas estreitas vias é possível ver vários animais típicos das florestas tropicais como pássaros, macacos, répteis, entre eles, os mais impressionantes são os lagartosmonitores, que ficam atravessados nas trilhas em busca de um pouco de sol. Esses lagartos são enormes, chegam a ter mais de três metros de comprimento, e pertencem à família dos dragões de Komodo. Apesar do tamanho, sempre se assustam e fogem quando os turistas se aproximam. Natureza conservada, lindas paisagens e tranquilidade em quase todos os cantos foram os requisitos que elegeram as Perhentians como um dos dez melhores lugares do mundo para se ficar balançando na rede. A escolha foi feita por especialistas responsáveis pelo famoso guia de viagens “Lonely Planet”. Com certeza, quem visita essas ilhas pelo menos uma vez na vida, endossa a opinião desses experientes viajantes. •


CHEGOU A ANTENA 1 EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. A FM COM MAIS MÚSICA POR HORA QUE QUALQUER OUTRA RÁDIO.

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23/03/12 15:51


NOVAS TECNOLOGIAS ESTÃO SENDO EMPREGADAS PARA PROMOVER A INCLUSÃO DIGITAL E A SEGURANÇA NA CIDADE. O futuro de São José não é uma promessa. Através do CCO, todos os semáforos da cidade estão ligados em rede e podem ser controlados remotamente. Além disso, semáforos inteligentes, que operam através de sensores, estão sendo instalados nas principais vias. Este sistema melhora a fluidez do trânsito, diminuindo o tempo nos deslocamentos do trabalho para casa. O número de câmeras de segurança espalhadas pela cidade, que dobrou nos últimos anos, continua aumentando. Já são 328 câmeras protegendo as ruas, áreas e prédios públicos. E, através do Espaço Ponto Com Livre, a internet gratuita já chegou em 127 bairros da cidade, beneficiando mais de 60.000 pessoas. Esta é a São José que estamos fazendo hoje, construindo o amanhã.

SÃO JOSÉ: FUTURO EM CONSTRUÇÃO.


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Hi-Tech NOVIDADES

3ª geração Com pouca inovação, mas com atualizações inteligentes, o novo iPad já é realidade fora do Brasil; aliás, aqui a ‘conexão’ anda lenta

Yann Walter São José dos Campos

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odernizar, não inovar. Assim pensou a Apple ao desenvolver o novo iPad, lançado no dia 16 de março nos Estados Unidos e em vários outros países da Europa e da Ásia –ainda não há previsão de lançamento no Brasil. De fato, o novo brinquedo da empresa da maçã mordida não traz recursos tecnologicamente inovadores. Porém, em compensação, vem com uma série de atualizações inteligentes que deverão satisfazer as dezenas de milhões de fãs da marca em todo o planeta. O ‘novo iPad’ –por algum motivo, a Apple não quis chamá-lo de iPad 3– tem basicamente quatro novidades em relação ao

iPad 2: um processador gráfico ‘quad-core’ (quatro núcleos), uma tela retina de ultradefinição, uma câmera traseira de 5 megapixels e um suporte para conexões 4G. Desta vez, a Apple fez questão de caprichar na parte gráfica. A tela retina, já utilizada no iPhone 4 e no iPhone 4S, tem alta densidade de pixels, o que permite uma melhor qualidade de imagem. Com 264 pixels por polegada, a tela do novo iPad tem resolução de 2048 x 1536 pixels, muito superior à resolução de 1024 x 768 pixels do iPad e do iPad 2. É por isso que a Apple investiu no A5X, que conta com processador gráfico de quatro núcleos –o anterior tinha apenas dois. Outro recurso interessante é a câmera traseira iSight de 5 megapixels, que permite a gravação de imagens em Full HD. Além disso, o novo iPad pode ser conectado à rede 4G, ou LTE (Long Term Evolution), que proporciona uma transmissão de dados até 10 vezes mais rápida que a 3G. Uma ressalva, porém: a


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4G ainda não existe no Brasil. O governo brasileiro prometeu à Fifa (Federação Internacional de Futebol) disponibilizar este serviço até a Copa do Mundo de 2014, mas não há garantias de que a promessa será cumprida. Um pouco mais pesado que seu antecessor (entre 30 e 50 gramas a mais, conforme os modelos), o novo iPad é vendido pelo mesmo preço: US$ 499 para a versão 16 GB, com conexão Wi-Fi. O de 32 GB sai por US$ 599, e o de 64 GB por US$ 699. Já os modelos com conectividade 3G e 4G custam, respectivamente, U$$ 629 (16 GB), US$ 729 (32 GB) e US$ 829 (64 GB). Os valores são referentes ao mercado americano. Custo Brasil Ainda não se sabe quanto custará o aparelho por aqui. Hoje, um iPad 2 sai por, no mínimo, R$ 1.399, segundo preço divulgado no site da loja oficial da Apple no Brasil. Em janeiro, a taiwanesa Foxconn, que fabrica os produtos

da empresa no país, foi habilitada para receber incentivos fiscais para a produção de tablets no país. Isso significa que o iPad foi incluído na chamada ‘Lei do Bem’, que outorga isenção do PIS/Cofins e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de apenas 3%. Na teoria, a medida deve acarretar um desconto de 30% para o consumidor. Na prática, porém, a realidade pode ser outra. Rumores não confirmados dão conta de que o iPhone 4 fabricado no Brasil pela taiwanesa Foxconn já começou a ser vendido por R$ 1.799, mesmo preço do importado. A Apple se nega a comentar o assunto, mas suspeita-se que o chamado Custo Brasil –uma combinação de impostos, taxas e encargos trabalhistas elevados com mão de obra cara e pouco qualificada– esteja corroendo demais as margens de lucro da Foxconn. A Lei do Bem pode alterar este quadro, mas resta saber se o desconto obtido será, de fato, repassado ao consumidor. •


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Moda&estilo FRIO

Cores do inverno Cartela da estação conta com novidades e vai muito além dos tons sóbrios Cristina Bedendo São José dos Campos

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m dos assuntos preferidos a cada troca de coleções é a cartela de cores da estação. Não há como negar: a moda nos leva a um desejo de renovação a cada temporada e, no quesito cores, fica fácil atualizar o look com um novo acessório ou até mesmo com alguma peça que você já tem no guarda-roupa. E esse promete ser um inverno com boas novidades na cartela de cores. Os tons sóbrios, típicos da estação fria, dividem espaço com cores mais vibrantes, como o azul klein (também chamado de azul bic), verde esmeralda e amarelo mostarda, mais fechado. No entanto, os mais unânimes entre as coleções são realmente o vinho –também conhecido como burgundy– e as variações do uva que, aliás, rendem ótimas coordenações entre si e com as cores neutras, como preto e cinza. Já os tons mais vibrantes, como verdes e azuis, são ótimos para serem coordenados com os neutros mais claros, como cáquis, camelo e marrom, além do preto, sempre presente nas araras de inverno. Outro bom investimento são as peças em off white. As variações de branco, off white e nude deixam o estereótipo de cores de verão de lado e ganham destaque nas produções de inverno, especialmente em looks inteiros ou em combinações com tons pastel, como azul, rose e verde. E para quem optar por looks monocromáticos, uma boa sugestão é apostar na mistura de texturas: rendas, couros diferenciados, veludo e metalizados garantem composições mais interessantes e práticas para o seu dia a dia ou até mesmo para aquela festa especial. •


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Fotos: divulgação

KLEIN O azul Klein é uma ótima opção aos acessórios, como sapatos e bolsas. Coordenam com peças neutras ou em tons de uva e vinho, que também são hits da estação. À esquerda, o verde menta e outros tons pastel garantem frescor aos looks de inverno, principalmente para as mais românticas. E mais: a cor continua em alta no verão 2013

MATCHING

VINHO

PRETO E BRANCO

O vinho, chamado de burgundy, rende combinações com tons pastel

Do lado mais étnico, o tom é perfeito para coordenações com amarelo queimado

Uma combinação clássica com produções modernas faz a diferença


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Tempos ModernosArtigo

Alice Lobo

Cuidados na gravidez também devem seguir conceitos sustentáveis

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oram nove meses para cuidar da minha saúde, garantir uma gestação tranquila e fazer tudo ao meu alcance para ter um filho saudável. Estou escrevendo esta coluna no meu último mês de gravidez. Quando você estiver lendo, provavelmente o meu filho já vai ter nascido. Resolvi dar dicas baseadas na minha experiência, em orientações médicas e no que aprendi em livros. Algumas podem parecer radicais. Mas eu acho que é melhor prevenir do que remediar. Ou como dizem por aqui, “It’s better be safe than sorry”. Cuidados com a alimentação: evite ingerir produtos com agrotóxicos. Invista nos orgânicos e nas comidas naturais. Se você não puder ou quiser pagar mais caro por eles, compre pelo menos a versão orgânica das frutas e legumes com casca mais finas e que absorvem mais pesticidas. É o caso do morango e dos tomates. Outra dica: diminua a cafeína consumida diariamente (lembre que ela é encontrada em café, chás, refrigerantes e chocolates). Aposte em alimentos ricos em vitaminas. Vegetais com folhas verdes escuras têm ácido fólico e bons nutrientes. Ovo, desde que cozido, também tem proteínas importantes, assim como carnes (aliás, esqueça as cruas). Leite e seus derivados são importantes fontes de cálcio. Selecione bem os cosméticos que vai usar. Prefira os naturais. Fuja

daqueles com ingredientes químicos nocivos ou controversos, como ftalatos, lauril sulfato de sódio e parabenos. Esqueça os cremes contra celulite nesta fase. Cuidado com uso de tinturas ou descoloração, consulte antes sempre um médico. Hidrate a pele desde o começo da gravidez e use cremes para prevenir estrias. Atenção pois existem específicos para grávidas. Estudos e livros dizem que, na verdade, ter ou não estrias na gravidez é genético. Sua mãe teve? Mas os cremes são bons para não dar aquela coceira na pele. E também ajudam na sua elasticidade. Cuidados com esmaltes. Prefira os livres de tolueno, ftalatos e formaldeídos. Invista em produtos de limpeza naturais. No Brasil existem poucas marcas que vendem e elas costumam ser mais caras. Mas vale a pena pagar, ou ainda fazer as receitas caseiras, como usar vinagre ou fazer uma mistura de limão e bicarbonato. O problema é que quando têm ingredientes tóxicos, estes produtos também podem soltar gases nocivos. Então não basta usar luvas na hora de aplicá-los. Na minha lista “nem pensar”, incluo bebida alcoólica e cigarro. Como não fumo, meu maior desafio foi deixar de lado o vinho. Ainda mais no frio daqui. Mas consegui. Durante toda a gravidez, somente tomei uma taça de champanhe na ceia de Natal, no Réveillon e no meu chá de bebê. Tudo com o aval do médico, claro. Faça exercícios. Ioga, hidroginástica, caminhada foram meus maiores alia-

Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br

BOM SENSO é o melhor remédio

dos. Se você não pratica nada, essas são boas opções para começar. Se você é uma atleta nata e corre, pedala ou nada, pode continuar com suas atividades. Escute o que seu corpo pede. Isso vale para exercício físico, sono e comida também. Aliás, se estiver cansada, durma, descanse. Faça massagens relaxante e prenatal. Ajuda na circulação e no bem-estar. É claro que toda grávida escuta de várias pessoas, amigas próximas ou desconhecidas, dicas e recomendações. São quase “verdades absolutas”. Mas a verdade mesmo é que não existe um jeito certo. Então, escute os pitacos e concorde (para não causar conflito) mas só faça o que seu bom senso e coração mandarem. Você saberá o que fazer. Cante para seu bebê, converse com ele, curta sua barriga e escute seu corpo. É a melhor fase da vida. Aproveite! •



Fotos: Flávio Pereira

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ValeViver CULTURA

Jeca centenário Visionário com fama de pão-duro, simples e atento, Amacio Mazzaropi permanece no imaginário popular cem anos após o seu nascimento Isabela Rosemback São José dos Campos

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longa fila em frente ao cinema logo se transforma em uma plateia lotada, pronta para se entregar ao riso fácil e inocente. Nem imaginam, os espectadores, que o ídolo de quem foram prestigiar o filme pode estar sentado próximo a eles, observando cada uma de suas reações às cenas projetadas na tela. Mas o fato é que, naqueles anos compreendidos entre as décadas de 1950 e 1980, Amacio Mazzaropi repetiu a atitude, e ela, por fim, sintetiza o seu caráter visionário nos campos das artes e dos negócios. O eterno Jeca tem o seu centenário de nascimento celebrado no dia 9 deste mês e traz de volta, com a data,

o saudosismo das boas histórias que contou ao longo dos 69 anos que viveu, atento àqueles com quem se comunicava. Oriundo do circo, o cineasta importava-se em divertir o povo e, por isso, misturava-se bem a ele para compreender a que tipos de piada imprimiria a sua espontaneidade para provocar gargalhadas. Ao mesmo tempo, sabia que esse humor poderia render-lhe bons negócios e o usava, com astúcia, a seu favor. A ida ao cinema lhe aproximava também dos exibidores e das roletas, que ele logo tratou de fiscalizar de perto para evitar fraudes que interferissem no retorno financeiro que teria com suas produções. Preferiu o cinema à TV, pois não queria entediar o seu público precocemente, mas, sim, ser ovacionado por ele sempre que estreasse um trabalho. Assim, tornou-se dono do próprio estúdio, em Taubaté. “Quando começou no cinema, todos o


Fotos: Flรกvio Pereira


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ValeViver

O cinema de ‘Mazza’, para mim, é o verdadeiro cinema. Ele fazia o humor caipira para que o povo entendesse, sem sofisticação. Nas estreias, as filas dobravam mais de quatro quarteirões, e era como se ele estivesse na sala da casa dele. Marly Marley, atriz

Aquela foi uma época de ouro, ele foi um ícone imbatível do cinema nacional. Ele já tinha tudo na cabeça na hora de filmar, o raciocínio era rápido e era muito sensato. Ele trabalhava para o povo e a sua obra deve ser sempre preservada. Agnaldo Rayol, cantor

Seus filmes eram como uma reivindicação por um Brasil responsável. Sua história é uma glória emocional. Mazzaropi não gostava de se expor em entrevistas, mas fazia questão de aparecer na melhor parte do filme e foi bemsucedido. Renato Teixeira, músico

MUSEU

Funcionárias que cuidam do acervo do Museu Mazzaropi, na antiga sede da PAM Filmes

viam como o caipira que já representava, mas ele era refinado e esperto, bem sabia o valor que tinha. Pedia cachê muito acima do que lhe propunham e garantia que assumiria o risco caso fracassasse. Mas Mazzaropi já fazia sucesso no rádio e na televisão e, quando percebeu que era ele a estrela dos filmes, decidiu montar o seu próprio estúdio e demonstrou que era um empresário talentoso, que se autossustentava enquanto outros só pensavam em incentivos públicos”, avalia a jornalista Marcela Matos, autora da biografia “Sai da Frente!”, sobre o ícone do cinema brasileiro. Ganhou fama de pão-duro, mas nem por isso deixava de se preocupar com aqueles que estavam próximos a ele, embora soubesse unir o tino empreendedor com a sua disposição em ajudar os artistas. “Quando comprei o meu primeiro apartamento, e não tinha todo o dinheiro da entrada, pedi a ‘Mazza’ um empréstimo, e ele me perguntou como eu iria pagá-lo. Respondi que faria um monte de filmes com ele. Ele riu muito e me emprestou o dinheiro. Paguei atuando em ‘O Puritano da Rua Augusta’”, confirma a atriz Marly Marley, que também protagonizou outros filmes ao lado dele, que pagava aos atores salários acima do que era comum na época, e em dia, mas nada além do combinado.

Mazzaropi também nunca deixou de subir aos picadeiros para dialogar com irreverência com aqueles que lhe assistiam. Já com o seu nome consolidado nacionalmente, o ator e cineasta aproveitava o momento em benefício dele e dos donos de pequenos circos em crise. “Ele os ajudava fazendo sessões especiais com a sua participação, o que levantava mais caixa. Mas também negociava uma porcentagem do faturamento daquele dia. Como artista, nunca deixou de atrair gente a esses espetáculos”, afirma João de Oliveira, que concluiu uma dissertação de mestrado sobre a vocação de Mazzaropi para os negócios. Para o cineasta, esse contato direto era importante para testar as piadas que elaborava para as suas próximas produções. Se o respeitável público deixasse de rir em alguma graça que ele fizesse, automaticamente a brincadeira seria cortada do roteiro. Dessa forma, ele ficava cada dia mais próximo daquilo que acreditava ser o que as pessoas gostavam de ver. Ainda assim, fazia questão de integrar discretamente a plateia de seus filmes para se certificar de quais cenas arrancavam ou não o riso dos espectadores. A caminho da fama Nascido em São Paulo, em 9 de abril de 1912, Amacio Mazzaropi passou o início da


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infância em Taubaté, teve passagem pela casa do seu inspirador avô violeiro, em Tremembé, voltou para a capital e chegou a ser enviado a Curitiba, ainda que tenha ficado lá por pouco tempo. Mesmo que os pais, a princípio, tenham tentado afastar de Mazzaropi a ideia de ser ator, vocação que já aflorava quando ele ainda era garoto, na adolescência o filho já daria os primeiros sinais da obstinação e da teimosia que o acompanhariam por toda a sua jornada. Aos 14 anos, saiu da aba da família, no Vale do Paraíba, para ser ajudante de um faquir de circo. Dali para a frente, não haveria mais como impedir que ele seguisse o caminho das artes, e logo o aspirante a ator ganharia destaque nos intervalos das atrações, contando suas piadas. O caminho para as companhias de teatro e para as rádios tornou-se uma consequência de seus talento e empenho e, quando a televisão foi inaugurada no país, naturalmente ele foi incluído no grupo de profissionais que trocaram de estúdio para, além da voz, emprestarem a sua imagem para uma comunicação de massa. Torna-se o pioneiro do

humor na TV, levando o programa “Rancho Alegre”, em 1950, à TV Tupi. Naquele momento, a identidade do caipira ingênuo, mas astuto, e que seguia uma linha de condutas mais envergada para questões morais, já começava a se fortalecer na figura de Mazzaropi, a ponto de, mais tarde, o roceiro e o intérprete se fundirem, involuntariamente, no imaginário do público. O Jeca, de andar esquisito e fala engraçada, tornou-se a sua marca. “Mas ele já tinha, naquela época, a visão de que a TV desgastaria o personagem pela repetição de situações e, por isso, resolveu abandonar o trabalho para se dedicar ao cinema. Ele dizia que com um filme por ano atrairia a plateia sempre”, conta a autora Marcela Matos. O olhar curioso de Mazzaropi é uma das características pessoais e profissionais que mais se sobressaem quando estudado o seu desenvolvimento na indústria de cinema. Sua estreia nas telonas acontece em 1952 no filme “Sai da Frente”, produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz. No mesmo ano, estrela “Nadando em Dinheiro”, da mesma empresa. Passa por outras com-

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MORADA

Casinha cenográfica do Jeca, presevada no Hotel Mazzaropi

nova coleção de sapatos outono/ inverno 2012

VENDA EXCLUSIVA


ValeViver

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Flávio Pereira / Reprodução

IRREVERÊNCIA

A famosa espingarda de caçar veado na curva: peça está no Museu em Taubaté

panhias e consolida-se como um artista de grande plateia. Nem por isso, limita-se a se dedicar aos papéis que incorporava. “Ali ele já lança a sua esperteza. Nas pausas das gravações, enquanto os outros atores descansavam, ele perguntava de tudo para os técnicos. É quando também conhece profissionais que, com a falência da Santa Cruz, mais tarde seriam alguns de seus parceiros nos filmes de sua produtora”, afirma o estudioso João de Oliveira. Oliveira refere-se à PAM Filmes (Produções Amacio Mazzaropi), construída em um amplo terreno adquirido pelo cineasta, em Taubaté, e transformado em uma fazenda cenográfica com pavilhões que serviam de estúdio. Ali, 24 dos 32 filmes estrelados por ele em toda a sua carreira seriam finalizados e, em boa parte, filmados. O primeiro deles é “Chofer de Praça”, de 1958. Os anos de observação sobre como eram feitos os filmes, bem como o olhar sensível sobre a vida na roça, além de sua experiência nas idas e vindas a São Paulo, deram a Mazzaropi propriedade para escrever, protagonizar e supervisionar a equipe técnica dos filmes que lançava a cada início de ano e, em raras exceções, no segundo semestre. Neles, alguns temas eram recorrentes: o amor entre jovens de diferentes classes

sociais, o preconceito racial, os políticos corruptos, a encarnação de espíritos, mas também os valores católicos, a exploração do trabalho, a migração do homem do campo para a cidade, entre outros. “Mas ele aproveitava aquilo que estava sendo vivido no país para incrementar os seus filmes. Por isso, alguns deles são referências a elementos que fizeram parte da época em que foram lançados”, ressalta Jorge Arthur Ribeiro, gestor da Fazenda Mazzaropi –antiga PAM Filmes onde, hoje, são mantidas atividades hoteleiras e funciona o museu que leva o nome do cineasta. Como explica Ribeiro, o filme “Betão Ronca Ferro” (1970), mesmo, é uma clara referência à novela “Beto Rockfeller”, de Cassiano Gabus Mendes, que revolucionou a teledramaturgia brasileira nos anos 1968 e 1969. “Uma Pistola para Djeca”, do mesmo final da década de 1960, fazia clara alusão ao filme cult italiano “Django”, um western spaghetti cujo protagonista carregava uma metralhadora em um caixão. “Os títulos de seus longas eram sempre extremamente populares e de acordo com o contexto de época. Em ‘A Banda das Velhas Virgens’ [1979], a ideia é atrair aquele público que migrava para as pornochanchadas. Ele era fiel aos seus valores,

mas pensava que tinha de incluir ali alguma malícia para não perder espectadores”, complementa João de Oliveira. Do mesmo modo, “Meu Japão Brasileiro” (1964) e “Portugal, Minha Saudade” (1973) são filmes para dialogar com os imigrantes. Internacionalização, essa, que atinge seu auge em 1973, quando grava cenas de “Um Caipira em Bariloche” na Argentina. Divertido e perfeccionista Para garantir o sucesso de suas produções, Mazzaropi não perdia tempo na elaboração de um novo projeto e, muito menos, saía do controle de tudo o que estava sendo realizado. A palavra final era sempre a dele. Mas, nem por isso, perdia o bom humor. “Ele era um cineasta nato, o cinema lhe saía pelos poros. Era uma delícia trabalhar com ele, porque atrás das câmeras ele era o amigão brincalhão que contava os seus causos maravilhosos. Na frente das câmeras, porém, entrava o profissional que queria tudo perfeito. Mas até falando sério, tudo era motivo de riso, e no sangue dele imperava o humor. A recomendação que recebíamos era a de sempre darmos o melhor de nós e vivermos o personagem. E assim dava certo”, recorda-se Marly Marley. A atriz diz que as filmagens não costuma-


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vam demorar mais que três meses e que, quando eram fora de São Paulo ou de Taubaté, ele costumava alugar casas para os atores. “Mas nunca deixou os atores morarem na mesma casa das atrizes”, frisa. As recordações do cantor Agnaldo Rayol, que participou de quatro filmes do cineasta, não diferem das de Marly. “Ele era muito querido, tinha um bom caráter, era carinhoso com a mãe e um homem à frente do tempo dele. Contava histórias engraçadíssimas. Ele era danado! Quando viu que tinha um alcance enorme de público criou sua própria produtora e convidava muitos artistas novos para trabalhar. Ele lançava muitos cantores que estavam começando”, destaca. Para ambos os artistas, o cineasta se destacava pelo respeito ao público, com quem se recordam que ele mantinha um bom relacionamento. Tanto, que muitos moradores das regiões em que filmava acabavam sendo figurantes em seus longas. Rayol recorda-se, ainda, de que era sempre Mazzaropi quem definia as músicas que ele iria cantar em cena. “Não adiantava a gente argumentar. Ele ouvia a música e dizia que era aquela e ponto. Se intrometia em tudo. Também gostava demais de cantar. Tenho, inclusive, a ligeira impressão de que ele foi um cantor frustrado, que queria ter uma carreira nesse sentido. Ele tinha uma voz muito boa e gostava de cantar nos filmes e nos bastidores”, diz. O músico Renato Teixeira, que viveu a sua adolescência em Taubaté, e tem um trabalho voltado para o cancioneiro regional, também elogia o Mazzaropi cantador. “É um dos mais belos intérpretes do gênero. E a beleza está em seu jeito sutil de cantar”, afirma. Para ele, o legado deixado por Mazzaropi, com quem chegou a ter contato em uma visita, permaneceu por um tempo em segundo plano, mas aos poucos tem sido recapitulado. “Na transição dos anos 1970 para os anos 1980, a humanidade parou para assimilar novos tempos e mídias. O futuro estava em foco, o rock, as cores fortes. Não mais a análise do caipira. Agora, começam a buscar essa história e a perceber como ela é gloriosa. Mazzaropi fazia uma caricatura desse trabalhador do campo com trejeitos exagerados, mas também engraçado e que não negava inteligência”, defende. A crítica e o Jeca Nem simpático aos jornalistas especializados em cinema, nem militante nas esferas política e social, Mazzaropi permaneceu con-

victo de que fazia os seus filmes para o grande público e, por isso, não mudava o seu jeito simples de contar histórias. Ainda assim, Marcela Matos, autora da biografia “Sai da Frente!”, conta que nos depoimentos que deixou registrado é possível identificar uma certa mágoa dele por nunca ter sido reconhecido pela crítica como o cineasta que era. “Mazzaropi se incomodava, dizia que os jornalistas só sabiam perguntar se ele estava rico. E, antes de morrer, disse que um ciclo de discussões sobre a sua obra, depois, não faria sentido. Sobre as problemáticas sociais apresentadas em seus filmes, ele não as criticava de forma pontual. Era mais isento, mas os temas ainda são atualíssimos”, avalia. O estudioso João de Oliveira faz a mesma análise, ponderando que Mazzaropi tinha amizades no meio político, e acrescenta que ele costumava criticar o Cinema Novo – movimento brasileiro que tem entre alguns de seus expoentes nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues. “Ele tinha muita preocupação com a narrativa, que achava que tinha de ser linear. Não discursava contra, mas achava os filmes do Cinema Novo sem pé nem cabeça, voltando a dizer que não trabalhava para intelectuais. E foi assim que ele conseguiu desatrelar da origem italiana o seu sobrenome, que passou a ser associado ao roceiro”. Com seu tipo caipira –que foi declarado por ele que é uma homenagem, mas não uma adaptação diretamente inspirada no Jeca Tatu de Monteiro Lobato–, o talentoso Amacio Mazzaropi atraiu milhares e milhares de pessoas aos cinemas brasileiros e superou a crise das companhias cinematográficas graças ao seu faro para os negócios e a um “exército”, montado por ele, que garantia que o dinheiro recolhido nas bilheterias das salas de exibição fossem devidamente repassados à produtora. Em 13 de junho de 1981, os créditos finais dessa história tiveram de subir a contragosto. Aos 69 anos, o roceiro das multidões morria em decorrência de um câncer de medula. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Municipal de Pindamonhangaba. “Ligaram do hospital para me dar a notícia. Não consegui dizer uma palavra por todo o dia, nem tive coragem de ver o caixão descer o túmulo. Fiquei na estrada esperando o carro passar e, quando aconteceu, desabei a chorar. Com ele aprendi que quem sustenta o artista é o público, que deve ser respeitado acima de tudo”, despede-se Marly Marley. •


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ENTREVISTA

O surfista quer voar Marcos Valle faz curta turnê com a cantora Stacey Kent, neste mês, e revê a versatilidade de sua carreira com o lançamento de um box com seus sucessos dos anos 80 Isabela Rosemback São José dos Campos

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fato de a criatividade de Marcos Valle, músico que ganhou destaque na segunda geração da bossa nova, viver em constante renovação não impede que o grande sucesso da carreira do eterno surfista da MPB continue a lhe render bons frutos. Após ser convidado para abrir o show que deu origem ao DVD “Cristo Redentor – 80 anos” com a canção “Samba de Verão”, ao lado da cantora de jazz americana Stacey Kent e de Jim Tomlinson –músico e marido dela–, Valle estende a espontânea parceria que formou-se a partir do encontro e reserva apresentações especiais, para este mês, ao lado do casal. “São músicas minhas, escolhidas pela Stacey. Fiz novos arranjos para valorizar a suavidade, o frescor e a sensualidade de sua voz”, explica ele, que confirma shows em São Paulo (12, Bourbon Street) , Rio de Janeiro (13 e 14, Miranda) e Fortaleza (11, Teatro Via Sul). Até o próprio “Samba de Verão” ganhará uma releitura. “Da última vez que soube, e já faz um tempo, essa música, que se tornou a minha maior alegria, estava perto das 500 regravações e das 3 milhões de execuções no mundo. Só eu já a gravei mais de seis vezes, mas sempre procurando fazer algo novo sem mexer muito na estrutura. É um desafio”, confessa. Em uma hora de conversa, Valle falou à valeparaibano sobre música brasileira, projetos, e comemorou o lançamento recente

das caixas que reúnem a sua discografia completa entre as décadas de 1960 e 1980. “É um presente muito bem trabalhado para esses jovens que têm procurado muito as minhas canções pela internet e contém, inclusive, textos com depoimentos e faixas bônus. É um documento para sempre. Para, quando eu me for, esses discos estarem sempre acessíveis a quem quiser saber algo sobre mim”. Além do projeto com Stacey, que poderá virar internacional, o músico ainda esboça uma nova parceria com a banda Casuarina, futuramente, e já pensa em um disco para 2013. “A minha cabeça está a mil”, vangloria-se. Confira outros trechos da entrevista: Houve tempo para ensaiar “Samba de Verão” com a Stacey, antes da apresentação? < Isso foi uma coisa muito importante no processo todo, porque ela e o marido vieram aqui em casa dois dias antes do show. Foi uma noite bem calma e musical. Eles são muito doces e têm, entre eles, uma empatia total. O clima foi tão bom que, depois dessas três horas batendo papo e tocando muitas coisas, já estávamos ensaiados. Quando chegou no palco, parecia a continuação do que tínhamos feito em casa. Ouvir seu repertório todo em sequência, durante a produção das caixas cronológicas, te fez pensar sobre os caminhos que sua música tomou? < Foi uma viagem realmente muito emocionante, porque aquilo me levou à minha própria vida, à minha idade da época e ao que eu estava sentindo naquele momento. Quando recebi a

primeira caixa pronta, ouvi até as 6h disco após disco, na ordem certa. Tudo me veio à mente, sabe? E eu fui gostando de tudo. Fiquei até surpreso sobre como a minha música é eclética. Em cada disco prevalece uma certa influência, que vem do baião, ou da música clássica, do samba tradicional, das marchinhas de carnaval, e até do rock e da música negra americana, que eu acho que tem muito a ver com o samba, até que chega à bossa nova. Fiquei horas sem conseguir dormir, com aquilo tudo orbitando. Quantas coisas eu fiz! Quantas e quantas ideias! Foi muito forte. A caixa dos anos 1980 já dá um pulo para quando eu morei


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Divulgação

NOVA BOSSA

Com um trabalho que passeia por vários gêneros, nenhum rótulo faz jus a carreira do músico

nos EUA, que trabalhei com a Sarah Vaughan, com o grupo Chicago, e tive mais contato com muitos parceiros do Marvin Gaye, como Leon Ware. Aí é que eu sinto que já tenho 68 anos e vejo como fiz coisas e como eu gosto da vida e de estar sempre em contato com o presente. Talvez pelo grande sucesso de sua carreira ser “Samba de Verão”, ainda há uma forte associação de seu nome à bossa nova. Mas houve algum momento de ruptura que deixou evidente para você que as pessoas passaram a entender a sua versatilidade?

< Sim. Essas influências todas já estavam comigo há muito tempo, mas, no começo, a bossa nova batia mais forte. Em 1968 gravo “Viola Enluarada”, que já é outra coisa. Tem a bossa nova, mas já caminha muito para a toada, o baião, o samba, e é um disco muito político, porque é da época do AI-5. Mas todas as características aparecem no disco seguinte, o “Mustang Cor de Sangue”. Ali acredito que o público entendeu a diversidade da minha música. E as letras do meu irmão, Paulo Sérgio, começaram a ser críticas. “Mustang Cor de Sangue” fala das pessoas que estão comprando coisas das quais não precisam. “Não

Confie em Ninguém com Mais de 30 Anos” é para quem acha que já sabe tudo e não deixa os jovens criarem um mundo diferente. “Capitão de Indústria” é sobre pessoas que só pensam em grana e não vivem... Esse ecletismo, na época, foi bem entendido pelas pessoas que eram da bossa nova? Porque a gente sabe que havia uma resistência por parte delas a influências como as do rock... < Sim por parte dos músicos. Roberto Menescal, um dos craques do ritmo, me disse que eu já cheguei na bossa nova revolucio-


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pedaço. Tem Tulipa Ruiz, Monique Kessous, Jairzinho, Casuarina, o pessoal de Recife, o Max de Castro, o Kassin, o Domenico, o Moreno Veloso... Gente incrivelmente talentosa, criativa e com um amplo conhecimento do que a gente já fez. Esse elo é perfeito. Tem de haver essa continuidade. Não sou saudosista. Gosto do que foi feito, mas hoje há outra política e outro Brasil. Acho a nossa música a melhor do mundo, muito criativa. Recentemente, houve uma tendência à mixagem de músicas brasileiras que resultou até em festas temáticas. Isso também teria sido positivo? < Lógico. Foi o que aconteceu com a minha música e de João Donato lá fora, quando os DJs as levaram para as pistas. Quando você pode fazer com que a sua música esteja presente no momento em que a moçada está curtindo, você penetra nesse mundo. E é recíproco.

PARCERIA

A cantora americana Stacey Kent volta a cantar ‘Samba de Verão’ com Valle

nando. Mas com certeza decepcionei, surpreendi e conquistei fãs na época. Hoje já enxergam isso sem preconceitos. Não há mais espaço para esse tipo apaixonado de críticos. Você tem disco e música chamados “Nova Bossa Nova”. É apenas uma brincadeira, ou acredita que existiu, realmente, uma nova bossa nova em algum momento? < É uma brincadeira. Esse disco foi o primeiro que fiz para a Far Out Recordings, de Joe Davis, e ele me pediu uma típica bossa nova. Eu já tinha gravado essa música um pouco antes e, enquanto Paulo Sérgio criava a letra, brincou: “Estou fazendo uma nova bossa nova”. Ela é uma brincadeira com “O Telefone”, música do Roberto Menescal e do Ronaldo Bôscoli em que ninguém atende à ligação, tanto que tem a secretária eletrônica. Adaptamos a

bossa nova àqueles tempos de 1996. Quando esse disco saiu na Europa, com o mesmo título por terem o considerado sonoro e chamativo, não sabiam classificar minha música. Não era drum ‘n’ bass nem bossa nova. Eu não queria que as pessoas rotulassem o meu trabalho assim, mas alguns críticos usaram isso de uma maneira positiva por algum tempo. Aproveitando, o que acha do rótulo de Nova MPB dado aos novos talentos da música brasileira? Acha realmente que ela esteve adormecida e está, agora, sendo reerguida? < Estamos vivendo um momento muito bom da MPB, depois de as multinacionais ficarem muito tempo investindo em músicas comerciais. Hoje, com internet e outros meios de divulgação, tem muita gente boa no

E como você tem usado as novas tecnologias a favor da sua música? < Utilizo a internet para mandar músicas ou para gravar em casa coisas em que eu quero fazer uma pré-produção. Já fiz até mixagens. Na parte de instrumentação, eu toco teclados, fora os pianos acústicos Fender Rhodes e sintetizadores. Mas não acho importante ter conhecimento técnico sobre isso, porque acredito em trabalho em equipe e quero que o produtor me ajude. No meu último disco, operei sintetizadores dos anos 1970, mas não perdi tempo com isso. Cabe a mim estar ligado na parte musical, na harmonia e nas frases que eu quero fazer. Você disse que a internet é uma boa ferramenta para a divulgação de músicas, mas o que pensa sobre o compartilhamento de músicas gratuito e pirata, que também é feito nela? < No meu caso, os jovens começaram a trocar meus discos pela internet. Artistas passaram a formar público nela, como foi com a Mallu Magalhães. A música ficou mais criativa e livre, longe de fórmulas comerciais. Agora, como fazer com que o artista seja pago? Já falam em iTunes. Acho que tem de haver uma autorização e que tudo tem de ser pago. Como o letrista, que não faz shows, vai sobreviver? Acredito que o próprio público é quem vai, de alguma maneira, encontrar essa resposta. Se você colocar um preço real, sincero e acessível, ele vai entender que o artista precisa disso para continuar fazendo o som que ele gosta de escutar. •



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CINEMA

A liga Marvel Apostando nos dois filões mais rentáveis de Hollywood, ‘Os Vingadores’ junta super-heróis dos quadrinhos e cinema em 3D em um longa de ação


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PÓS-GUERRA

Os personagens que os EUA precisavam logo depois da 2ª Grande Guerra

Franthiesco Ballerini São Paulo

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maior fonte de lucro cinematográfico em Hollywood tem vindo de dois universos nos últimos anos: filmes de superheróis e produções em 3D. Por que não, então, juntar ambos os mundos e turbiná-lo com vários heróis unidos no mesmo produto? Essa é a proposta de “Os Vingadores”, que chega ao Brasil no próximo dia 27 em sua versão tradicional (2D) e também em muitas cópias em 3D. Baseado nos quadrinhos da Marvel de

mesmo nome, o filme é dirigido por Joss Whedon (roteirista de “Alien – A Ressurreição”) e reúne estrelas como Robert Downey Jr. (Homem de Ferro), Chris Evans (Capitão América), Mark Ruffalo (Hulk), Chris Hemsworth (Thor), Scarlett Johansson (Viúva Negra), Jeremy Renner (Capitão Arqueiro), Tom Hiddleston (Loki) e Samuel L. Jackson (Nick Fury). Em outras palavras, é uma reunião de personagens que pouco tem a ver um com o outro –uns futuristas outros da mitologia grega. Reunir todos estes astros –a maioria indicados e vencedores de Oscar– num só filme parece difícil, mas não foi. Primeiro porque todos ganharam salários milionários (pelo menos metade do orçamento de US$ 300


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milhões do filme) e uma garantia extra: têm contratos para mais de cinco filmes com o mesmo personagem, como é o caso de Samuel L. Jackson, que fará Nick Fury em nove filmes. Até Edward Norton queria voltar a viver Hulk, mas era tarde demais e Mark Ruffalo fisgou antes o herói verde. “Os Vingadores” já está com game pronto para contra-atacar nas lojas enquanto os fãs de quadrinhos saboreiam o filme. E no mês passado, o diretor Joss Whedon já avisou que está preparando “Os Vingadores 2”, com previsão de estreia em dois anos. “Gostaria que ele fosse um filme mais pessoal, menor, mais doloroso, como sendo a próxima coisa a acontecer com todos os personagens, e não apenas uma nova versão do que deu certo no primeiro filme. Quero trabalhar com um tema que seja completamente novo e orgânico”, comentou o diretor. Roteiro Com relação à trama, nada de grandes novidades ao que os filmes de quadrinhos sempre apostam. A Terra está novamente em perigo e nas mãos destes heróis. De um lado está Nick Fury e sua agência “SHIELD”, que reúne todos os heróis. De outro está Loki e seus vilões para derrotá-los. As sequências de batalha –o que interessa para os fãs de 3D– valem o ingresso, mas em nada evoluíram com relação aos filmes de super-heróis produzidos nos dois últimos anos. Em outras palavras, uma sensação de dejá vu com relação aos socos, saltos e objetos que saltam em direção aos olhos do espectador. Os diálogos são previsíveis no nível “este é o nosso maior desafio” ou “temos que salvar o planeta”, exceto pelas falas de Robert Downey Jr. como o egocêntrico e antissocial Tony Stark, de longe o personagem mais bem desenvolvido das últimas franquias. A ideia de juntar vários heróis em uma só história não vem de hoje. Um dos quadrinhos mais bem-sucedidos foi justamente “A Liga da Justiça” (com Batman, Superman,

STARK

Robert Downey Jr. volta como o Homem de Ferro: cachê milionário



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Mulher Maravilha etc.), no início dos anos 1960, lançado pela DC Comics. A Marvel viu que ficou para trás e correu para lançar “Os Vingadores”, que também fora um êxito comercial, embora juntasse personagens tão distintos entre si em termos de filosofia de vida – ao contrário de “A Liga da Justiça”, onde os traços de personalidade dos heróis não são tão variáveis. Em “Os Vingadores”, há um egocêntrico capitalista de direita (Iron Man), uma figura nacionalista da Segunda Guerra Mundial (Capitão América), um homem furioso, transtornado, quase bipolar (Hulk), uma espiã soviética dark (Viúva Negra) e um machão de poucas palavras e de índole inatacável (Thor). Se esta união for bem-sucedida nas telas, grande parte do êxito está nas mãos de Kevin Feige, produtor que é um dos maiores experts em super-heróis de Hollywood na atualidade, tendo produzido praticamente todos os filmes em que estes personagens brilham sozinhos nas telas nos últimos 15 anos, incluindo “Wolverine”, “Homem Aranha”, “X-Men”, “Quarteto Fantástico” etc. Foi ele um dos nomes que resgatou Robert Downey Jr. das trevas e o ressuscitou em “Homem de Ferro”. Foi ele quem teve a ideia de unificar a escrita do roteiro com a direção do filme sob responsabilidade de um só profissional, o que não é algo comum em filmes de quadrinhos nos estúdios, que costumam ter vários roteiristas. Feige achou que isso seria bastante confuso e criaria uma colcha de retalhos perigosa. Duas curiosidades finais: é a primeira vez que o ator que viverá Bruce Banner também fará Hulk, já que anteriormente era Lou Ferrigno quem incorporava o verdão. Ruffalo fará ambos graças à tecnologia de captura de movimento, transformandoo em qualquer personagem, utilizada por exemplo em filmes como “O Expresso Polar”. A segunda curiosidade é que é um dos poucos filmes deste estilo em que os atores realmente passaram muito tempo no set juntos, ao contrário de grande parte dos filmes de heróis, em que os astros atuam na frente de um telão verde e são unidos depois na pós-produção. Sabe-se que o elenco se deu muito bem –não houve uma guerra de egos– e que promoviam festas de arromba à noite após as filmagens. Porque afinal de contas, até os heróis que salvarão o planeta têm direito a algumas noites de descanso. •

DARK

A bela Scarlet Johanson é a Viúva Negra; o lado russo da trama



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Música&mais Fotos: divulgação


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11/09

SOLTA O PAUSE

FAMA DE MAU

As impressões de Paul McCartney sobre os atentados de 11/09 e os bastidores do show beneficente em DVD

Acompanhe as notícias do mundo da música por meio do blog http://soltaopause.com.br

A biografia do “Tremendão” chega agora em versão de bolso e preço bem atraente: R$20,60 (Saraiva)

WEB

REVIVAL

Soprando com o vento

CD’S & MAIS

O genial Bob Dylan volta ao Brasil para uma série de shows, dois deles em SP

VALE DESTAQUE

Adriano Pereira São José dos Campos

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er uma música composta por você sendo escolhida como “a melhor de todos os tempos” deve dar um orgulho infinito, mas também gera uma responsabilidade do mesmo tamanho. O que pode vir depois de “Like a Rolling Stone”? Isso pelo menos nunca afetou um dos mais geniais artistas desse mundo, Bob Dylan fez muito mais do que o hino já citado, e mostra nos dias 21 e 22 de abril, no Credicard Hall, em São Paulo, porque é tão celebrado no mundo inteiro. Seu longo e célebre trabalho remonta à década de 1960. Algumas de suas primeiras canções, como “Blowin ‘in the Wind” e “The Times They Are a-Changing” tornaram-se hinos para os direitos civis e movimentos antiguerra. Deixando a sua base inicial na cultura da música folk para trás, Dylan revolucionou a percepção dos limites da música popular em 1965 com o single de seis minutos “Like a Rolling Stone”. “Modern Times”, um

dos seus últimos álbuns de estúdio, entrou diretamente no topo da parada Billboard 200 e se tornou o álbum do ano na revista Rolling Stone. Mas Bob Dylan ainda tem uma participação mais do que crucial no desenvolvimento da música popular. Se não fosse sua ligação com os Beatles e um “bendito” cigarro de maconha apresentado aos meninos de Liverpoll, a maior banda de todos os tempos não faria metade do que fez. Foi essa influência de Dylan que fez os Beatles partirem para a psicodelia e para a melhor fase da carreira. Lennon era quase um discípulo do cantor americano. Curioso é que a mesma revista que escolhe “Like a Rolling Stone” como a melhor música de todos os tempos tenha, em 2004, escolhido Dylan como o 2º melhor artista de todos os tempos, ficando atrás apenas dos Beatles. Bob Dylan ainda se apresenta no Rio de Janeiro, no dia 15, Brasília (17), Belo Horizonte (19) e Porto Alegre (24). Os ingressos vão de R$ 150 a R$ 900 e podem ser comprados pelo site da Time for Fun (www.ticketsforfun.com.br).

JACK WHITE “Blunderbuss” O título do disco diz bastante sobre o trabalho, o “bacamarte” de Jack White volta com tudo, mais calmo, mas sempre criativo

COUNTING CROWS “Underwater Sunshine” Disco no qual a banda faz uma série de covers, alguns bem obscuros, mas que servem para divertir

THE DANDY WARHOLS “This Machine” Segundo disco do grupo americano que também produziu o trabalho

Flashback dos 80 nos palcos

Há quatro anos sem fazer turnê na América do Sul, em 2012 o Duran Duran virá com os quatro membros originais da banda –John Taylor, Roger Taylor, Nick Rhodes e Simon Le Bon– apresentando as canções de seu álbum mais recente, “All We Need Is Now”, e sucessos emblemáticos dos anos 80 e 90. Os shows acontecem em Brasília, Ginásio Nilson Nelson, dia 28 de abril; no Rio de Janeiro, Citibank Hall, dia 30 de abril; e em São Paulo, Credicard Hall, dia 2 de maio.Os dados sobre a trajetória do Duran Duran são notáveis. Eles somam um total de mais de 80 milhões de discos vendidos, 18 singles de sucesso nos Estados Unidos, 30 canções no topo das paradas no Reino Unido. Mais notável ainda é a maneira como a qual eles conseguiram isso, que une a música pop, moda, arte e tecnologia. Quando eles estouraram no início da década de 80, o Duran Duran conseguiu transformar vídeo clipes de música, a partir de uma ferramenta de marketing chamativo, em um dos ativos mais valiosos da indústria da música.


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Ponto Final

Arnaldo Jabor

O imperador, o filósofo e eu

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á 16 anos, em Nova York, entrei numa livraria e comprei um livro de ensaios de Joseph Brodsky. Muitos perguntarão: quem é esse cara? Joseph Brodsky era um grande poeta e ensaísta russo, que ganhou o Nobel de 87. Fora preso na União So¬viética em 64.

Acusaram-no de “parasita social” e mandaram-no para um “gulag”. Saiu dois anos depois e foi morar nos Estados Unidos. Teve a experiência de sair do comunismo e entrar na América individualista. Mas ficou na faca de dois gu¬mes: nem comuna traidor, nem americanófilo deslumbrado. Abri o livro e li um artigo sobre as “Me¬ditações” do imperador romano Marco Aurélio. Este rei-filósofo escreveu há 2.000 anos um livro de melancólica sabedoria sobre as regras de viver com justiça e bondade, suportando com fortaleza a vida finita. O ensaio de Brodsky era cheio de curvas escuras, sobre a antiguidade e a filosofia e foi me levando a uma funda re¬flexão sobre nossa crise da pós¬utopia. Acabo de ler o ensaio, emocionado. Abro o jornal no dia seguinte e vejo que Brodsky tinha morrido naquela noite. Gelei. Agora, reli o ensaio e fiquei impressionado com a atualidade de um texto de 20 anos atrás. Imaginei uma conversa com ele, do qual sai este texto misturadamente dele, de Marco Aurélio e com intrusões aqui de quem vos fala. - Joseph, como está o mundo? - Eu acho que vocês estão vivendo um grande pânico: o pânico do presente. Eu acho que só agora o ho-

mem está descobrindo na carne que não tem qualquer procedência, nem qualquer consequência. Está descobrindo uma dolorosa finitude e um despropósito na existência que ele sempre procurou evitar. É tudo muito novo, tudo muito gelatinoso ainda, com a morte das certezas do totalitarismo e dos individualistas. Está se formando uma nova “enteléquia”. - O quê? - Ah... “enteléquia”, uma força vital, um agente formador de crescimento no mundo que ainda não está claro. Acho até bom que a teoria não dê conta dela, que fique tudo no mistério para acabar com a arrogância desses franceses que acham que tudo é inteligível. Marco Aurélio não escreveu para a posteridade. Epíteto, o estoico, o escravo-filósofo, êmulo de Marco Aurélio, disse que “a origem dos males do mundo, da crueldade, não é a morte; é o medo da morte”. O escravo e o rei sabiam que o homem não tem controle sobre seu futuro, como não teve sobre seu passado. E tudo o que o homem perde na morte é o dia em que ela acontece. A humanidade levou 15 séculos para que o pens¬mento de Marco Aurélio fosse reiterado por Spinoza e hoje, séculos depois, se reencontra com a morte e a natureza. - Joseph, ninguém vai entender isso que você está falando. - Entenderão. Não entender tudo é bom sinal. O mundo é uma forma desconhecida como a morte. Quanto mais medo da morte, mais utopias que são a ilusão de que a morte é controlável, de que a morte pode ser vencida. Vinte séculos de¬pois, vem Marco Aurélio e nos diz que a ética é o único critério do presente, pois ela transforma

Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta

jabor@valeparaibano.com.br

todo ontem e todo amanhã em agora. É aquela flecha que em cada momento da trajetória está parada. Como fazer uma utopia do presente, como tolerar a morte e ser feliz, como lutar pelo bem? Eu saí da URSS, de um futuro que não chegava nunca, para um presente que não acaba mais, um “enorme presente”, nos EUA. Aqui, existe uma inocência quase estúpida que é, por outro lado, uma amostra de autonomia humana, que é quase trágica. Não há utopia coletivista que apague este individualismo. Seria um erro chamar o estoicismo, na sua aceitação da realidade perceptível, de resignação como mal do mundo. “Serenidade” seria um melhor termo; até “melancolia” poderia se usar, mas a melancolia de reis sábios. Raramente políticos se interes¬sam por filosofia, mas filósofos se interessam por política. A “divisão” de Marco Aurélio reinando sobre si mesmo, o homem mais poderoso do mundo colocando freios em seu próprio poder é a imagem maior de uma ética para hoje. O imperador Marco Aurélio via seu poder com melancolia. Os melancóli¬cos são bem razoáveis e, como dizia Marco Aurélio, “O que é razoável é social”. Nada existe para o futuro. Perder as esperanças nas utopias liberais ou socialistas, perder a esperança “tout court” foi o início de uma nova era, uma nova sabedoria. Benditos sejam os que amam o parcial, porque herdarão a Terra. Se as “Meditações” são antiguidade, nós é que estamos em ruínas. - Joseph, foi muito legal te conhecer... Pena que você tenha que ir. - A vida é breve. Aproveita. •



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Creci: 16988J

0800 600 6904 O loteamento AlphaVille São José dos Campos encontra-se registrado sob o R. 02, na matrícula nº- 18.460, do 2º- Registro de Imóveis da Comarca de São José dos Campos-SP, em 20/9/2011. O loteador assumiu junto à municipalidade a obrigação de executar as seguintes obras de infraestrutura: terraplanagem, guias e sarjetas, pavimentação viária, paisagismo, rede de esgoto, rede de água, rede de drenagem de águas pluviais, rede de energia elétrica e iluminação pública e de áreas verdes, iniciando o prazo para execução, da expedição do licenciamento para o início das obras, emitido pela Prefeitura Municipal de São José dos Campos-SP, em 22/8/2011 e ¿nalizando-as 24 meses após referida data. Os projetos arquitetônicos da área de lazer, área de apoio e portaria serão aprovados nos órgãos públicos competentes, podendo sofrer alterações sem prévio aviso.


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