Antenado #21

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Jornal Laboratório do curso de Jornalismo - Centro Universitário Módulo

Ano 6 - edição 21 | Segundo Semestre 2015 www.modulo.edu.br/antenado

NESTA EDIÇÃO Educação e Ações Sociais

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A luta no combate do Câncer

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A dificil vida na prostituição Vidas na rua

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O Recomeço

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Questões Sociais Várias vidas e uma realidade


educação

Nunca é tarde para recomeçar Elisa Santos e Lucas Fernandes

2 Educação e Ações Sociais

O Antenado é um Jornal Laboratório produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Módulo Coordenador do Curso: Prof. Dr. Gerson Moreira Lima Professor Orientador: Prof. Ricardo Hiar (Jornalista Responsável: MTB ) Repórteres e Diagramação: r, Ana Souza, Bárbara Mello, , Eder Maciel, Elisa Santos, Ingrid Adolpho, Juliane Zapparoli, Karol Cândido, Lucas Fernandes, Marina Lara, , Rafael Franco, Rebeca Ingride, , Wagner Bastos. Modelo Capa: Elisa Santos Projeto Gráfico: Prof. Ms. Paulo Rogério de Arruda - MTB 36577 Tiragem: 6 mil exemplares (Gráfica Lance!) Distribuição: Escolas do Ensino Médio de Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba. CENTRO UNIVERSITÁRIO MÓDULO – CAMPUS MARTIM DE SÁ Av. Mal. Castelo Branco, s/nº CEP 11.662-700 Caraguatatuba/SP. Tel. (12) 3897-2008 www.modulo.edu.br/antenado / jornalantenado@modulo.edu.br

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funileiro Ednaldo Jesus da Silva, 39 anos, é natural da cidade de Coaraci, na Bahia, mas atualmente mora do bairro Poiares, em Caraguatatuba. Sirlene do Nascimento Santos, ajudante de fábrica de sorvetes, tem 35 anos e também nasceu em solo baiano. Ambos têm mais do que a naturalidade em comum: eles são estudantes da escola estadual Antônio de Freitas Avelar, no Estrela Dalva e estão matriculados no programa EJA (Educação de Jovens e Adultos). Eles estão entre dezenas de outras pessoas que resolveram enfrentar a sala de aula na vida adulta, em nome do sonho de voltar a estudar. Silva mudou-se para o litoral norte há cerca de 20 anos, época em que foi viver em São Sebastião com a esposa (hoje ex) e os três filhos do casal. Na infância, estudou até o quarto ano do ensino fundamental. Depois de 30 anos longe das salas de aula, muita coisa foi esquecida. Ele conta que deixou de frequentar a escola quando criança porque morava em fazenda, então o acesso era difícil. A situação não foi diferente se mudou para a cidade, a situação ficou ainda mais complicada porque começou a trabalhar. Foi apenas este ano que, ao se mudar para Caraguatatuba, um tio começou a incentiva-lo a voltar a estudar. Ele sentia que isso era o seu desejo também, e que precisava apenas de um apoio. Sem demora, decidiu procurar uma instituição que o acolhesse e acabou encontrando a escola estadual Antônio de Freitas Avelar, no bairro Estrela

Dalva. O estudante conta que foi muito bem aceito na unidade, e logo voltou aos estudos. Alguns meses se passaram e hoje ele escreve e lê com mais facilidade, além de conseguir fazer operações matemáticas. Silva diz ter não só gratificação em voltar a aprender coisas novas, mas também satisfação por fazer novos amigos, viver algo novo e ser um exemplo para a família e amigos, que se sentem motivados a fazer o mesmo. O sonho de Ednaldo Silva não para na conclusão do ensino fundamental e médio: ele não descarta a possibilidade de cursar uma faculdade na área da mecânica. A maior inspiração Sirlene conta que também deixou a escola, quando morava no estado da Bahia, porque morava na ‘roça’ e o acesso era difícil. Veio para São Paulo com 12 anos,

para trabalhar como babá. Não ficou por muito na capital, já que seu grande sonho era conhecer a mãe, que estava em Caraguatatuba. Ela veio para o litoral com esse objetivo, mas não morou por muito tempo com a mãe. Logo se casou e teve uma filha. Sempre atuou em casas de família, até que encontrou o trabalho na fábrica de sorvetes. A sua maior inspiração e incentivo para voltar aos estudos foi sua filha Bianca, que sempre falou para a mãe que ela deveria estudar. Sirlene seguiu o conselho da filha e em agosto deste ano se matriculou na escola estadual Antônio de Freitas Avelar. O sorriso no rosto de Sirlene e outras pessoas de sua turma na sala de aula é nítido. Elas não escondem sobre o grande passo que estão dando em suas vidas, assim como as dificuldades e obstáculos enfrentados por todos, nessa busca pela realização profissional e pessoal. Assim como Ednaldo, a jovem mãe sonha com uma facul-

dade. Sua vontade é focar na área de biológicas e veterinárias. Duas histórias de pessoas que deixaram o comodismo de lado e correram atrás de algo melhor para si e suas famílias.

Quer voltar a estudar? Para quem acha que é tarde para estudar, está enganado. Não há limites para aqueles que tiverem em interesse na retomada dos estudos. O trâmite é simples e inclui até mesmo as séries iniciais, de alfabetização. Para mais informações, é possível entrar em contato com a Diretoria de Ensino Região de Caraguatatuba ou as secretarias municipais da educação. O telefone de contato da escola estadual Antônio de Freitas Avelar, que é uma das que possui o EJA, é: (12) 3882-2493.


bolsa família

Milhares de famílias são atendidas na região, mas burocracia ainda gera entraves Marina Lara

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Bolsa-família, programa federal que atende famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 77 mensais, visa o acesso aos direitos sociais básicos: Saúde, alimentação, educação e assistência social. Em Caraguatatuba, 4377 famílias são beneficiadas pelo programa. Os valores podem variar de acordo com as necessidades de cada família, sendo o valor mínimo a ser recebido de R$ 35. Arlete da Silva usufrui do programa há mais de 12 anos e, segundo explica, o valor é usado na educação de seus três filhos que têm 1, 12 e 14 anos. Conforme relata, o valor não suficiente para sobreviver

integralmente, mas funciona como complemento de renda. Arlete trabalha como diarista durante o dia, e seus filhos frequentam a escola, um dos requisitos para o programa, “Uso o dinheiro exclusivamente para as crianças. A minha

Vagas são definidas pelo CENSO filha de 14 anos está finalizando um curso de informática com o dinheiro que recebo do Bolsafamília. Ele ajuda muito”, conta. Na cidade existem moradores que estão a mais de um ano na fila de espera programa. Uma moradora de Caraguatatuba, que preferiu

não se identificar, afirma que está há mais um ano aguardando a liberação do benefício. Ela possui três filhos e, por estar desempregada, decidiu recorrer ao cadastro do bolsa família para complementar a renda familiar. Segundo ela, neste ano não houve novos munícipes contemplados pelo programa. A prefeitura afirma que as vagas do programa para a cidade são definidas pelo CENSO – IBGE. Quando é ultrapassada a cota preestabelecida, a família fica na lista de espera, ou seja, mesmo que atenda os pré-requisitos do programa, não há garantia do recebimento do recurso. Para quem ainda não foi concedida a renda, é possível recorrer a programas municipais alternativos, como Auxílio-alimentação e cursos de geração de renda. Já no âmbito federal existe o RendaCidadã, Ação Jovem e Viva Leite.

minha casa minha vida

Projeto transforma a vida de famílias em Caraguatatuba Karol Candido “Agora eu posso dizer que tenho uma casa”, diz Lorien Stafani Moreira, uma das contempladas pelo “Minha Casa Minha Vida” em Caraguatatuba. Após alguns meses de espera essa iniciativa do Governo Federal fez com que, em 2015, cerca de 500 famílias - com renda abaixo de R$ 1.600,00 - pudessem realizar o sonho de ter sua casa própria no município. As habitações, localizadas no bairro do Getuba, já estão ocupadas pelos proprietários, que se adaptam à nova casa e a nova

vida. Lorien conta que aguardou cerca de oito meses para ser sorteada. Ela ficou surpresa, pois não esperava que fosse tão rápido. Ao contrário da moça, muitas pessoas esperam, talvez por anos, para receber o benefício. Juliana Pereira Leite, que também faz parte do time dos contemplados, é uma das que necessitaram de paciência para realizar este sonho. Ela fez sua inscrição em 2009 e só agora, em 2015, foi sorteada. “A expectativa era enorme, nem acreditei quando ganhei”, conta. Juliana ainda diz que a notícia veio em boa hora. “Eu soube quando minha mãe viu que já tin-

ham sido sorteadas as casinhas e, no meio delas, o meu nome estava lá. Fiquei feliz, porque morava de aluguel, com uma renda baixa e ainda precisando me dedicar totalmente à uma filha deficiente. Agora eu pago uma casa que é minha e bem mais barata que uma locação”. O governo entrega as casas do projeto já com acabamento, todas as instalações também prontas e aquecedor solar no banheiro, com intuito de fazê-los gastarem menos energia. “O aquecedor é só no chuveiro, mas já é de grande ajuda para economizar”, diz Juliana. Como tudo tem seu lado bom

e ruim, as duas reclamam da falta de vagas na escola da região. “A escola não tem suporte para aguentar todos os alunos que se mudaram para o bairro. Só alguns conseguiram. Os meus filhos, por exemplo, estudam no centro, então, tem ficado difícil ir e voltar. As vezes acabo ficando mais por lá, do que aqui na minha casinha. Espero, no ano que vem, conseguir muda-los para cá”, conta Juliana. “O mais difícil é a dificuldade em relação aos meus filhos, pois não consegui vagas para eles aqui no bairro, mas, como disse, o mais importante é que agora estou no que é meu. É uma conquista minha”, finaliza Lorien.

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câncer Histórias da luta diária contra a doença Ana Souza e Éder Maciel

Cida Ivanov

Saúde

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nquanto a cidade de São Sebastião dorme, Aline Lopes Pinheiro Romão, de 34 anos, está se preparando para enfrentar uma longa jornada. A van, que passa em frente à sua casa, conduz ela e outros pacientes com câncer para Jacareí. A cidade é a opção de tratamento mais próxima. Acompanhada de sua irmã ou do namorado, Aline realiza a sessão de quimioterapia, que dura em média de duas a três horas. Entre os vários efeitos colaterais, ela conta que dor de cabeça e enjoou são os principais. Para aliviar as náuseas, o hospital oferece água de coco. No entanto, as refeições principais ficam por conta dos pacientes e acompanhantes. “Alguns motoristas da van, ao verem as pessoas com fome, ficam com dó e pagam o almoço”, diz Romão. Com relação a alimentação, segundo a Prefeitura de São Sebastião, a cidade faz parte do programa Transporte Fora do Domicílio – TFD –, que tem como objetivo fornecer auxílio a pacientes atendidos pela rede

pública pública ou conveniados, desde que esgotadas todas as formas de tratamento de saúde na localidade em que o paciente reside. Trata-se de um programa responsável por custear o tratamento de pacientes que não possuem condições de arcar com suas despesas. O paciente que necessitar do TFD deve pedir ao médicoque lhe assiste, nas unidades vincu-

O mais importante é estar viva ladas ao SUS, que preencha o formulário de TFD, para que uma comissão avalie o caso. Aline luta contra o câncer de mama a três anos. Tudo começou quando ela sentiu um caroço nos seios, após o um ultrassom foi constatado uma glândula de gordura. Durante um ano e meio, Romão utilizou medicamentos para tentar dissolver a glândula. Mas após esse período, Aline sentiu dois caroços na mama, então veio o diagnóstico: câncer. “No

começo foi difícil, achei que ia morrer”, diz Romão. No seu caso, a cirurgia veio antes da quimioterapia. Ela retirou toda a mama direita e 16 linfonodos da axila. Por conta disso, possui deficiência no braço. Teve que viajar para tratamento ainda operada e sentia muitas dores, mas conta que a vontade de se curar sempre foi maior. Além do sofrimento do trajeto, havia a dificuldade de lidar com a própria aparência. “Não tenho prótese ainda. Fiquei com medo e vergonha de me olhar no espelho”, diz Aline. Apesar dos obstácu los, ela se mantém positiva diante das perspectivas. “Posso ter uma vida normal, entre aspas. O mais importante é estar viva”, diz Romão. No começo as sessões eram uma vez por semana, depois todos os dias durante um mês e atualmente duas vezes ao mês. Aline se divide entre São José dos Campos e Jacareí para tratar o câncer e a depressão desenvolvida por ele. A rotina só tem fim a sete horas da noite, às vezes mais. Porque a van espera a conclusão de todos os tratamentos para retornar à cidade.

Maria Aparecida Ivanov, de 52 anos, enfrenta a mesma luta de Aline. No seu caso, o câncer encontra-se na laringe. A cada 21 dias um gol ou uma ambulância, disponibilizada pela prefeitura de São Sebastião, a leva para Barretos. São aproximadamente 8 horas de viagem e 33 radioterapias para realizar. O veículo chega as 22h na casa de Cida e retorna, no dia seguinte, às 18h. Ivanov conta que perdeu a esperança no hospital de Taubaté. Devido a uma falha do sistema, seus exames ficaram perdidos durante sete meses, quando reapareceram, veio o laudo confirmando a doença. “Quando recebi a notícia, minha única reação foi tratar, não fiquei aborrecida e nem desesperada”, diz Cida. Por sorte, Ivanov não possui nenhum efeito colateral, o que torna a viagem menos penosa.


prostituição A difícil vida fácil Bárbara Mello

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o contrário do que muitos pensam a prostituição já foi uma ocupação respeitada. Antigamente ter relações com garotas de programa era sinônimo de poder e respeito. Popularmente conhecida como a “profissão mais antiga do mundo” a prostituição existe há muito tempo dentro da sociedade. Mulheres, travestis e até mesmo homens, de diferentes idades e situações financeiras, entram nesse mundo e nem sempre conseguem sair. Garota de programa a 15 anos, Patrícia, 30 anos, contou que, devido a dificuldade financeira após o nascimento da filha, através de um anuncio de jornal começou a se prostituir. “Tornou um hobbie. Já parei várias vezes, mas sempre volto. É um vício”. Sua família é de Minas Gerais e não conhecem a sua realidade, ela mente dizendo que está em São Paulo trabalhando em supermercado, buffet ou hotéis. Disse ainda que existe muita rivalidade entre as garotas, que os programas são feitos em lugares discretos e sempre com uso de preservativo. Há aqueles que fazem simplesmente pela sensação de se sentirem desejadas. “Ver que os homens te procuram e querem pagar por você é maravilhoso, para mim isso é um luxo. Mas também tem aqueles momentos em que sinto um vazio por acabar sozinha”, contou

a travesti Bruna Faria, de 20 anos. “Ainda quero terminar meus estudos, conseguir um emprego e dar orgulho para a minha mãe”, concluiu ao dizer que sua família é contra. Homens de todas as idades, solteiros e casados, vão as ruas a procura de garotas para se satisfazerem sexualmente. Os valores dos programas variam de acordo com a profissional e o local onde trabalham, mas varia de R$100,00 a R$200,00 reais, uma hora. Elas também ganham uma porcentagem da consumação dos clientes. Segundo fontes durante a noite acontece ainda muita bebida e drogas. Atualmente existem projetos de lei que defendem o reconhecimento e proteção trabalhista das garotas de programas, mas que ainda não foram aprovados. “Há decisões de tribunais trabalhistas reconhecendo o vínculo empregatício e direitos delas. Todavia, se as garotas recolherem o carnê da previdência, podem ter todos os benefícios previdenciários, como licença maternidade, auxílio doença e aposentadoria”, informou a advogada e Coordenadora da Pós-Graduação da Damásio Unidade Caraguatatuba, Cíntia Yara Silva Barbosa. Disse também que a prostituição ainda não foi reconhecida como profissão devido a exploração de casa de entretenimento adulto ter sido considerada como crime até pouco tempo atrás (rufianismo).

A prostituição para muitas se torna um vício

Marginalidade

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morador de rua A triste realidade de quem não tem um lar

Descaso

Rafael Franco

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Pesquisas apontam o crescimento do número de moradores de rua no país. Hoje são quase dois milhões segundo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012. Em Caraguatatuba, a equipe do Antenado foi para a rua conhecer a vida de quem não tem um teto e ver de perto como sobrevivem estas pessoas. à praça Diógenes Ribeiro de Lima estava Wilson Vieira de Almeida de 50 anos. Nascido em Jequié, na Bahia, veio para a cidade após o término de seu casamento e decidiu tentar uma nova vida na cidade. Depois de algum tempo atuando como marinheiro e outras tentativas frustradas de trabalhar com carteira registrada, Wilson teve que ir para as ruas buscar uma forma de sobreviver. O simpático senhor, que hoje faz ‘bicos’ como guardador de veículos, conta que não bebe e não entra em confusão.“As vezes algumas pessoas fingem que não existo, outras me cumprimentam todo dia”, afirma. Para se proteger do tempo, ele se abriga debaixo das barracas dos comerciantes da praça. “Em dia de chuva eu me viro pra dormir, não tem problema nenhum”, conta. Wilson revela que a vida nas ruas não é fácil, porém não é algo que ele trocaria pelo conforto de um lar. “Hoje não troco a liberdade que a rua me dá”, explica. Em outro ponto da cidade, José Antônio Gon-

çalves de 51 anos se abrigava na cobertura de um comércio no Indaiá. Ele veio da cidade de Cachoe irinha, em Pernambuco, para São Paulo, no início dos anos 80. No fim da década, decidiu tentar a sorte em Caraguá. Visivelmente embriagado, José Antônio revela que morar na rua não foi uma opção. “Hoje eu estou na rua porque não tenho oportunidade de trabalho”, e nos revelou que sairia da rua se tivesse uma chance. Aos domingos ele vigia carros no centro da cidade e assim ganha alguns trocados para se alimentar. José não tem contato com a família. “Família quer mandar em mim e colocar regras”, comenta.Ajuda A Comunidade Divina Providência atua há 13 anos no tratamento destas pessoas, que muitas vezes são dependentes de álcool e drogas. Rose Loiola que é membro e foi quem iniciou os trabalhos de recuperação do morador de rua, nos conta que hoje são 27 pessoas em tratamento na sede da comunidade e que a maioria não tem condições de ser reinserida na sociedade. É realizado todas as terças-feiras uma ação que abrange boa parte da cidade e que tem o intuito de oferecer abrigo e tratamento. “Levamos cobertores e comida e oferecemos o tratamento, mas a vontade de mudar tem que partir deles mesmos”, conta Rose, que ressalta a importância destas ações que deram certo com diversas pessoas que foram posteriormente recolocadas na sociedade e no mercado de trabalho. Fone: 12 3883-4547.


fundação casa Ex-interno explica a vida dentro da Instituição Juliane Zaparolli e Wagner Bastos

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iago chega trazendo a garrafa de café e os clientes que estão na loja de eletrônicos vão logo se servindo. Bermuda, tênis, aparelho dentário... Verde! Na mão um celular novinho, também verde, cor da esperança: “Custou mil reais, dinheiro do meu trabalho”, vai logo disparando. Parece uma metralhadora cuspindo palavras, para atacar e se defender, conforme a ocasião. Vivia no mundo das drogas, do crime. “Esse mundo é assim - cadeia ou caixão. Paguei meus pecados pra justiça. Meu castigo veio da herança do meu pai que morreu no tráfico. Pra ele foi caixão. Com 13 anos fui ‘tocar’ os negócios da ‘biqueira’ que ele me deixou”, fala Tiago Souza, 19 anos. Biqueira é o nome popular para ponto de venda de drogas mantido por traficante. E acrescenta: “Não tenho vergonha de dizer o que eu era. Mas aprendi que isso era ruim”. A salvação que diz ter encontrado na Fundação Casa parece refletir no orgulho ao falar que está cursando o 3º colegial e, também está “tirando” a carteira de motorista. Agora, aos 19 anos, recomeça vendendo sorvete numa máquina colada à parede da loja de celulares, parte

baixa da Barra Velha, bairro popular de Ilhabela: “Se todo mundo tem direito a uma segunda chance essa é a minha”. Muito diferente do trabalho de vender cocaína no ponto herdado do pai, que ficava no local conhecido como Tesouro da Colina – alto da Barra Velha. PASSAGEM PELA FUNDAÇÃO CASA O trabalho do tráfico rendeu quatro internações na Fundação Casa. A primeira foi na unidade de Caraguatatuba, aos 14 anos. Daí em diante, as medidas socioeducativas foram cumpridas na Capital: com 15 anos de idade a segunda internação. Aos 16 anos estava internado pela terceira vez. Ficou seis meses. Aos 17 anos teve que cumprir dez meses de punição: “Aí foi sofrimento. Estava de novo no mesmo lugar, a cabeça chapou de depressão. Minha mãe me visitava uma vez por mês. Os outros

Paguei meus pecados para a justiça moleques recebiam visita toda semana”. Tiago foi internado nas três últimas vezes em unidades do Brás, bairro da Capital. Para

lá são levados os reincidentes. Como a família ficava a 200 km de distancia, em Ilhabela, Litoral Norte de São Paulo, não tinha dinheiro para ir visitálo todos os finais de semana. A mãe, Dona Lucilene C. Aguilar, 42, disse ter ficado espantada quando viu o filho assim que ele saiu da Fundação: “Você está com um semblante ótimo”, lembra a mãe. Tiago sorri ao se lembrar do episódio e acrescenta que pesava 40 kg quando entrou e saiu com 60 kg. “Lá se come muito bem”, disse e sorriu. “Quem obedece aos funcionários não sofre. Quem fica xingando apanha, e apanha na frente de todos. Tem que ser esperto pra entender isso. Tem unidade que tá nas mãos dos funcionários. Tem outras que tá nas mãos dos moleques. Tiago explica que ‘nas mãos dos moleques’ é quando o Crime está no comando e controla os internos. Quando deixam a Casa “os moleques saem mais inteligentes ou com mais raiva! Eu espero ter saído mais inteligente”, afirma. ROTINA SEM LIBERDADE Levantamos as 6 h da manhã, escovamos os dentes, tomamos café, estudam lá mesmo

na unidade e almoçamos. A tarde tem atividades como capoeira e pintura. Mas acrescenta em tom de reclamação: “O chato é as revistas. São várias por dia. A gente tem que tirar e sacudir toda a roupa e depois ‘pular canguru’ pra vê se tem arma escondida”.

Recomeço

Quem não obedece apanha Difícil é encarar o banho: “São cinco minutos... água fria. No inverno a gente liga o chuveiro, se molha rapidinho e fica esperando passar os minutos. Só então os funcionários deixa a gente sair e se secar. Acho essa parte errada”, desabafa. “As 22 h a gente escova os dentes, pega a coruja e vai dormir”. Diz Tiago apressando-se a explicar que “Coruja é cueca”. Nesse momento dá uma gargalhada solta entre os dentes presos no pequeno aparelho cor de esperança. A cor favorita de Thiago. O Jornal Antenado entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Fundação Casa, mas ate o fechamento desta edição não obteve resposta.

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