Cada música da banda representa uma fase do relacionamento do “trisal”, como os três se intitulam
O
coração batia acelerado, como se algo quisesse sair. Isso não poderia esperar mais. Ela precisava contar para seu parceiro o que sentia. O medo do que poderia acontecer após revelar seus sentimentos criava uma prisão que a estava enlouquecendo. Era noite, mas o sentimento queria nascer. Enquanto ele jogava despreocupadamente no computador, ela se aproximou e falou para seu companheiro: “Bardo, precisamos conversar. Eu também gosto de mulher, e preciso libertar esse sentimento”. A DESCOBERTA DA BISSEXUALIDADE Foi assim, depois de quatro anos de relacionamento, duas filhas e muitas mudanças, que o casal de músicos Bardo e Fada (Ricardo Killian e Vanessa Tiburski) começaram a conversar sobre abrir o relacionamento. Para Fada, se aceitar bissexual foi algo que levou muito tempo. “Contar isso para o Bardo era algo difícil. Fiquei com PRIMEIRA IMPRESSÃO | 128 | JULHO DE 2016
medo de perdê-lo, de perder nossas filhas, nossa família”, conta. Mas o músico conseguiu compreender o que ela estava sentindo, e juntos começaram a conversar sobre o assunto. Foram dois anos de conversa, pensando e usando a imaginação. O casal começou a fantasiar mais, a pensar como seria se houvesse uma terceira pessoa na relação. Primeiro eles idealizaram a mulher perfeita para se relacionarem. Mas a mulher perfeita é muito difícil de encontrar. Os dois começaram a ler mais na internet sobre relacionamentos abertos, sobre o poliamor e descobriram outras pessoas que também pensavam como eles. Assim conheceram os grupos de casais e o swing. CASAS DE SWING Bardo e Fada começaram a fazer parte do mundo do swing, porém não conseguiram acompanhar muito a vida de swingers. “As pessoas vivem uma vida dupla. Durante o dia são ‘normais’, o prefeito e a primeira dama, e à noite a coisa muda”, relata Bardo. Nos grupos
de swing, os nomes reais não são usados, só em casos raros. Muitos utilizam nicknames, apelidos para manter certa aparência ou não serem descobertos. Para Diana Dahre, que realizou mestrado em psicanálise na Argentina sobre o poliamor, os casais, principalmente por questões morais e éticas, acabam se escondendo. O preconceito e a falta de aceitação na sociedade forçam as pessoas a agirem assim. Bardo e Fada frequentavam os grupos e casas de swing, mas queriam poder viver uma relação aberta fora desses grupos. Queriam conhecer pessoas que não se importassem com o que o resto da sociedade pensa, que não sentissem vergonha do que são. “Nós sempre fomos Bardo e Fada, não usamos isso como codinomes”, conta Fada. Os sites de bate-papo eram usados por eles para conversar e conhecer pessoas. Durante essa época, algo interessante aconteceu. Os dois inventaram uma personagem e criaram um perfil em uma rede social: a Anie Marie. Esse alter ego do casal passou a ter tantos contatos que Anie virou a “promoter” da banda BardoeFada,