Unipautas nº 01 (2013/1)

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ESPORTES PORTO ALEGRE/RS SEMESTRE 2013/1 ANO I • NÚMERO 1

Exercício a céu aberto • Torcidas organizadas • Categorias de Base • Centenário do São José • Novos estádios • Skate páginas 21 a 24 Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA. Edição: Marcelo Corrêa

JORNAL DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIRITTER destaQue

Nativos da capital

“ELES CHEGAM AQUI COM O BIQUINHO NA BOCA E A ROUPA DO CORPO” Cerca de mil menores moram em abrigos em Porto Alegre. p. 13

pág. 05

tRansPoRte BEM-VINDO, AEROMÓVEL Depois de mais de trinta anos de espera, aeromóvel do gaúcho Oskar Coester é inaugurado. p. 07 MÍdia e tecnoloGia APLICATIVO FACILITA DESLOCAMENTO EM POA Com mais de 13 mil downloads, Mobbly é o aplicativo gaúcho mais popular no Google. p. 20 nas altuRas

Tribo kaigang mantém as tradições na aldeia Tüpe Pën, no Morro do Osso. Foto: Victória Kubiaki

Personagens de Porto Alegre ESPECIAL

O MAIOR PRÉDIO DE PORTO ALEGRE Edifício Santa Cruz, maior prédio da Capital, tem 32 andares e 96 metros. p. 09

Moradores da Capital, como Eva Shopher (abaixo) falam de sua relação com a cidade pág. 03

PolÊMica

Cidade em Baixa?

Eva Sopher há 40 anos preside a Fundação Theatro São Pedro. Foto: Brayan Martins

Campanha de fiscalização a bares e restaurantes, chamada de Operação Sossego, divide o tradicional bairo boêmio de Porto Alegre. Enquanto moradores saúdam a tomada de uma atitude em relação ao barulho, proprietários de bares e restaurantes relatam prejuízo e lembram da tradição do bairro. Prefeitura afirma que vai continuar fiscalizando regularmente todos os 183 estabelecimentos no bairro para que a lei seja respeitada. pág. 7

cultuRa PORTO ALEGRE ESTÁ NO CINEMA Capital já serviu de cenário para diversos filmes que rodaram o Brasil e o mundo. p. 18


2  •  UNIPAUTAS • 2013/1

APRESENTAÇÃO

EDITORIAIS

O início de uma trajetória

Nasceu o primogênito

Laura Glüer*

Construir um novo veículo de comunicação é sempre um grande desafio. É preciso pensar no formato, na linguagem, no perfil editorial, no público, enfim, planejar e executar todos os detalhes que cercam este veículo. Este foi o desafio que professores e alunos da Faculdade de Comunicação Social da UniRitter tiveram neste semestre, ao produzir, pela primeira vez, o jornal laboratório do curso de Jornalismo. Consolidando o nome Unipautas, presente também no blog dos cursos de Comunicação, o jornal ganhou vida nas disciplinas de Redação Jornalística I, sob a responsabilidade dos professores Marcelo Spalding e Rodrigo Rodembusch, e Projeto Experimental Jornal, ministrada pelo professor Solon Saldanha, do curso de Jornalismo.

O jornal laboratório conta, ainda, com anúncios de cunho social, produzidos pelos alunos de Criação Publicitária, do curso de Publicidade e Propaganda, sob orientação da professora Cláudia Trindade. Para a elaboração do projeto gráfico, contamos com o apoio dos colegas professores Sandro Fetter e Jaire Passos, do curso de Design Gráfico. Para a diagramação deste primeiro jornal, a Faculdade recebeu também o apoio super especial do jornalista Rogério Grilho, aluno de pós da UniRitter, com experiência de mais de uma década como diagramador. As matérias desta primeira edição são resultado de um processo de aprendizado contínuo dos estudantes, desde a pauta até a reportagem e edição. Os anúncios nasceram de ideias e sua estratégia criativa, construídas a partir dos conceitos vistos

Bier

em sala de aula. O foco na cidade de Porto Alegre trouxe um olhar Solon Saldanha, professor local para esta primeira edição, afinal é nesta cidade que os curO primeiro filho sempre traz sos de Comunicação da UniRitter consigo a graça da esperança, realizam suas atividades. mas também o peso da expectaEm maior ou menor grau, to- tiva. E há gestações e partos que dos se envolveram e cresceram são tranquilos, enquanto outros com este desafio. Não foi fácil. são bem mais trabalhosos, pelas Percalços aconteceram, o prazo mais diversas razões. Se isso vale estourou, o semestre terminou na vida de um casal, imaginem só e nem todas as páginas estavam o que pode acontecer quando a diagramadas. Mas, em uma força- “criação” resulta de um trabalho -tarefa, conseguimos cumprir a de muitas mãos e inúmeras parmissão proposta para 2013/1. ticipações, com todos os envolviCertamente, há muito a me- dos querendo ver o seu DNA em lhorar nas próximas edições, mas evidente destaque ao final. este primeiro jornal laboratório Este é o número de estreia de fica na história da UniRitter, mar- um jornal-laboratório que, justacando o início de uma trajetória. mente por ser isso, um campo de Parabéns a todos os envolvidos experiência para jornalistas em neste processo, essa é a mate- formação, tem que cumprir a misrialização do esforço coletivo de são de unir teoria e prática. E isso nossa comunidade acadêmica. significa desenvolver habilidades específicas, do ponto de vista * Coordenadora da Faculdade de técnico, bem como condições de Comunicação Social da Uniritter trato interpessoal. O que se obtém na discussão de pautas, no contato com fontes, com colegas, no enfretamento de dificuldades

operacionais, na capacidade para suportar frustrações e no direito ao exercício da alegria de ter o produto resultante nas mãos. Chegou o primeiro Unipautas impresso. Nele procuramos priorizar temas que fossem ligados à nossa cidade. Este foi o território delimitado para que cada um buscasse suas histórias, desenvolvesse a narrativa e também o desejo de mostrar a realidade que nos cerca, a comunidade onde estamos inseridos. E o resultado já pode ser conferido. Ter olhos e ouvidos atentos, exercitando a capacidade de analisar e descrever e que vê e ouve, com postura ética e compromisso com a cidadania. Este é o maior acréscimo que cada um dos alunos envolvidos pode comemorar. Nesta publicação, ao longo do curso, ao longo da vida profissional. A caminhada é longa, mais um passo foi dado. Agora, é “lamber a cria” e acompanhar o que as turmas seguintes farão, dando continuidade ao processo. Vida longa ao Unipautas!

Olhares sobre Porto Alegre Marcelo Spalding, professor

O cartunista Bier, premiado profissional com charges e desenhos editoriais publicados em diferentes veículos nacionais e internacionais, colaborou com esta primeira edição de Unipautas Jornal.

Expediente O Jornal UniPautas é um projeto da Faculdades de Comunicação Social (FACS) do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter/Laureate International Universities. A iniciativa surgiu da necessidade de criar um espaço de divulgação do material produzido nos cursos de jornalismo e publicidade. Seu projeto gráfico foi desenvolvido pelos designers e professores Sandro Fetter e Jaire Passos. A tipografia principal dos textos e títulos é a Directa Serif, produzida pelo designer capixaba, Ricardo Esteves Gomes. UniRitter / Laureate International Universities Campus Porto Alegre: Rua Orfanotrófio, 555• Alto Teresópolis • Porto Alegre/RS CEP 90840-440 • Fones: (51) 3230.3333 | (51) 3027.7300 Campus Canoas: Rua Santos Dumont, 888 • Niterói • Canoas/RS • CEP 92120-110 Fones: (51) 3464.2000 | (51) 3032.6000

Há dezenas de estudantes neste jornal. Tantos quanto possível. E o que une todos eles? Uma paixão e uma temática. A paixão é pelo jornalismo, uma profissão tão vilipendiada nos últimos anos por incomodar demais a pessoas importantes demais. Paixão essa compartilhada por nós, professsores, que ao escolhermos o jornalismo escolhemos também um jeito de ver o mundo, pois ser jornalista, meus amigos, é muito mais que um diploma. Como apenas essa paixão não seria suficiente para fazermos

juntos um jornal, coeso como deve ser uma edição impressa de jornal, escolhemos um tema norteador: Porto Alegre. E aqui você encontrará dezenas de olhares sobre nossa capital, do olhar da grande Eva Sopher ao olhar de um anônimo morador de rua, do olhar de quem curte cinema ao olhar dos amantes de skate. Claro que esse jornal é, acima de tudo, um aprendizado. Mas para nossos queridos alunos que veem pela primeira vez seus nomes impressos na milenar folha de papel-jornal, sentindo cheiro de papel-jornal, é a reafirmação de uma certeza. Uma única, singela, fugidia mas sempre necessária certeza: vale a pena.

Fale conosco: unipautas@uniritter.edu.br  •  www.facebook/unipautas  •  @jornal_unipautas Reitor: Telmo Rudi Frantz Chanceler: Flávio D'Almeida Reis

Unipautas Conselho Editorial: Laura Glüer, Marcelo Spalding, Rodrigo Rodembusch e Solon Saldanha

Pró-Reitora de Graduação: Laura Coradini Frantz

Projeto Gráfico: Sandro Fetter e Jaire Passos

Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão: Márcia Santana Fernandes

Diagramação: Marcelo Spalding

Faculdade de Comunicação Social Coordenação: Laura Glüer

Consultor em diagramação: Rogério Grilho (MT 7465)

Supervisão fotográfica: Rogério Soares Equide de apoio: Estudantes Brayan Martins, Jean Lazarotto e Shalynski Zechlinski Professores envolvidos: Solon Saldanha (Projeto de Jorn. Gráfico), Marcelo Spalding e Rodrigo Rodembusch (Red. Jornalística), Rogério Soares (Fotografia) e Cláudia Trindade (Criação Publicitária)


2013/1 • UNIPAUTAS  •  3

Personagens de Porto Alegre  ESPECIAL

Não tenho orgulho, tenho satisfação.” Eva Sopher, presidente da Fundação Theatro São Pedro

A mulher que reergueu o Theatro São Pedro Eva Sopher fala por que aceitou o desafio de restaurar o teatro mais antigo de Porto Alegre e dos planos para o Multipalco Débora Pires, texto Brayan Martins, foto

C

om seus 90 anos, a presidente da Fundação Theatro São Pedro, Eva Sopher, conhecida como Dona Eva, exibe interesse e amor pelo que chama de sua segunda casa, o Theatro São Pedro. Juntamente com o

Multipalco, o São Pedro, inaugurado em 1858, forma um dos maiores complexos culturais da América Latina, ocupando um espaço considerável no coração da capital gaúcha. Essa história começou há 40 anos, quando Dona Eva recebeu o convite para assumir a restauração do teatro, que estava fechado havia 10 anos. Segundo ela, aceitou o desafio pelo seu amor à cultura e por palavras de Wolf, seu marido: “ou aceitas a coordenação da restauração do São Pedro ou irão derrubá-lo como fizeram com o irmão gêmeo do outro lado da rua”. E conclui: “Se

hoje o Theatro São Pedro está em pé, é graças a ele”. Após o término da restauração e reconstrução, foi criada a Associação Amigos do Theatro São Pedro (TSP), que em seu início contava com colaborações sem fins lucrativos: “Naquele tempo as pessoas ajudavam porque queriam colaborar na simples construção do veludo de uma poltrona, sentiam-se honradas e orgulhosas como cidadãos colaborativos com a cultura”, afirma Eva. Já hoje, com a criação de leis de incentivo à cultura, segunda ela “a colaboração é feita com segundas intenções”.

Dessa forma, a única ajuda espontânea que o Theatro recebe mensalmente é de pessoas que se associam na TSP, e é através desta iniciativa que o teatro se mantém em pé. O Theatro São Pedro opera, diariamente, com uma programação variada, sendo que a maioria dos espetáculos apresentados são produções locais. A já tradicional apresentação de Tangos & Tragédias é a que tem o maior número de apresentações dentro da casa, sempre retornando para exibir seu show e lotando o teatro. O mais recente projeto de Dona Eva é o Multipalco, audacioso

projeto com estacionamento fechado para 230 veículos, salas para cursos, ensaios, coletivas, palestras e múltiplas atividades para as artes de palco. “Mas ainda há muito a fazer no Multipalco e não existe previsão de quando a obra será concluía”, confirma Dona Eva. Ao ser questionada sobre qual projeto, dentre tantos que já realizou, orgulha-se mais, Eva Sopher afirma sem pestanejar: “Não tenho orgulho, tenho satisfação de ver e saber que estas obras, estes dois prédios, este conjunto servirá para a capital que me adotou e eu adotei. Mas não orgulho”.

O peruano que o destino trouxe à Capital Walter Farfan, o artista de rua que anima os coletivos da capital

residindo em Porto Alegre há dez anos, ele já se autodenomina um “perucho” (peruano gaúcho). Farfan conta que deixou Lima aos 19 anos, em 1991, quando o Fabiano Chaleira Peru passava por uma ditadura e era assolado por inúmeros travessar a América Latina atentados terroristas do grupo em busca de oportunidade, Sendero Luminoso. Com uma mofugir da miséria extrema de seu chila nas costas, saiu a desbravar país, escapar da violência do alguns países da América do Sul terrorismo e expandir sua visão em busca de oportunidades. de mundo: essa é a história de Sua primeira estada foi em Walter Farfan, 40 anos, perua- Cochabamba, na Bolívia. Depois no nascido em Lima, artista de seguiu por diversas cidades rua, marinheiro, promotor de do Chile, Paraguai, Argentina, shows, técnico em informática e Uruguai e Brasil. Em solo brasivendedor. leiro, passou por outras capitais Casado com uma brasileira e até chegar a Porto Alegre em

A

2003. ”Uma vez, quando ainda era jovem, escutei no rádio que falavam de Porto Alegre, não lembro bem o que era, mas me pus a pensar: onde ficará esta cidade? Nunca poderia imaginar que passaria uma parte de minha vida por aqui”, conta. Na capital gaúcha, o peruano conheceu sua esposa, Aline Lima da Silva, e acabou fincando suas raízes. Hoje Farfan atua como músico dentro de coletivos: “a música que toco geralmente é bem recebida por todos, parece que alivia um pouco o dia de trabalho ou estudo”. Henrique Rosa, usuário há 10 anos da linha D43, relata que a música tocada por Farfan

é muito bem vinda dentro do coletivo. Para Henrique, “este tipo de apresentação valoriza também o passageiro, pois o artista vem até ele”. Para o peruano, este trabalho é tão digno quanto qualquer outro, apesar das dificuldades, que não são poucas: “De um modo geral tem que se trabalhar de manhã até a noite, pois não conto com salvaguardas trabalhistas, sou autônomo”. Nessas idas e vindas, o peruano conheceu Porto Alegre como poucos gaúchos. Para ele, a capital gaúcha se encontra mais avançada na relação a menores centros urbanos, ou seja, lugares

que não são capitais federais ou ainda megalópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Ele afirma que aqui a arborização se faz presente em maior número que qualquer outra cidade e que o céu azul do Rio Grande do Sul não tem comparação a nenhum outro: “é o mais belo que já vi”, afirma. Futuramente, Farfan deseja viajar ao Peru com sua esposa, passando de motocicleta por pontos onde já esteve e apreciando toda a beleza da América do Sul sem pressa de chegar: “O mais importante é fazer as coisas que gostamos de forma honrada, sem fazer mal a ninguém”.


4  •  UNIPAUTAS • 2013/1

ESPECIAL Personagens de Porto Alegre O olhar de quem não vê A história de Roberto Luiz Veiga Oliveira, que “enxerga” Porto Alegre pelos seus sons e aromas Camila Delvaux

“N O português Rui Cassapo com sua esposa. Foto: Arquivo Pessoal

O português que descobriu POA num anúncio de jornal

Há 40 anos, Rui Cassapo veio com a família para o RS, apaixonou-se pela cultura e elegeu a capital do estado para viver e educar os filhos

com Maria José Cassapo e tinha dois filhos, Carla Maria e Rui Pedro. Como havia sido selecionado, veio com a família para Porto Alegre e trabalhou na empresa têxtil por pouco mais de 25 anos. Quando chegou a aposentadoria, perguntou-se se havia neLeonardo Mayer cessidade de parar de trabalhar. Decidiu, então, que abriria um restaurante típico português na oi em 1972 que o português cidade, apresentando aos portoRui Cassapo, na época com -alegrenses sua terra natal atra29 anos, descobriu a capital vés da culinária. gaúcha. E ele não precisou atraO nome do restaurante ele vessar um oceano como Pedro buscou na culinária dos seus viziÁlvares Cabral e outros portu- nhos espanhóis, Calamares, nome gueses, tampouco pegar um avião. de um típico polvo das águas da Cassapo conheceu Porto Alegre península ibérica. “O nome era através de um jornal de Lisboa: exótico aqui no Brasil e precisávaenquanto folheava suas páginas, mos de um nome marcante para viu um anúncio que ofertava nosso restaurante”, conta Rui, vaga para técnico têxtil em Porto ainda com um carregado sotaque. Alegre. Como ele já trabalhava em Vivendo na capital dos gaúLisboa como técnico de tecidos, chos há mais de 40 anos, Ruy viu na oportunidade a chance de afirma que a cidade foi muito acodesbravar um novo continente. lhedora, fez amigos com facilidaForam dois meses de testes até de e a família inteira se adaptou vir a notícia de que ele tinha sido rapidamente: “é uma cidade que selecionado. Rui já estava casado lembra muito Portugal”.

F

asci sem deficiência alguma, era o filho mais saudável dentre meus outros cinco irmãos, nunca fui de ficar doente, até chegar aos meus doze anos.” O autor da frase, Roberto Luiz Veiga Oliveira, 58 anos, é alguém que descobriu ainda na adolescência que não é preciso enxergar para viver. Sua cegueira começou após tomar um antibiótico para amigdalite, que provocou alergia e acarretou na perda total da visão. Casado, morador da Vila dos Comerciários, no bairro Santa Tereza, Oliveira é torcedor fanático do tricolor, ama ouvir rádio e tem paixão por jogar xadrez. Após toda superação, Oliveira casou, teve dois filhos, é graduado em Fisioterapia e pós-graduado em Medicina do Esporte. Foi funcionário público da extinta Caixa Econômica Estadual, depois cedido para a Secretaria de Segurança, onde trabalhou por 12 anos, ajudando a criar o serviço de fisioterapia na Policlínica da Policia Civil. Em março de 2011, foi eleito presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência

(COEPEDE) e hoje voltou à Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para as Pessoas com Deficiência (FADERS), onde pretende dar continuidade a esse trabalho. “Não penso em parar, colocar pijama e ficar em casa de chinelinho, né?”, afirma Oliveira, sorrindo, que no ano que vem poderia se aposentar. Família Como pai, Oliveira sempre participou de todas as atividades escolares e extraescolares, como ser obrigado pela filha a ir assistir um ensaio de ballet: “Fui o único pai presente no meio de várias mães. Além de não ter visto nada!”, brinca. Com seu filho, jogava até futebol: “É claro que eu errava a própria bola, e meu filho dizia: ‘mas

tu é bem cego mesmo, né?’”. Fora isso, seu dia a dia é tomado de sensações. “A audição, o olfato, o paladar e o tato passaram a ser os meus ‘olhos’, os meus maiores informantes do mundo que me cerca”, diz. Logo ao sair de casa Oliveira já sabe como vai ser seu dia, ao sentir o barulho perturbador de carros e ônibus, mas ao mesmo tempo o tão aconchegante aroma das árvores e o cheiro do chimarrão, seu companheiro diário. “Minha rotina é como de todas as pessoas, porém não enxergo. Só isso. Os meus ouvidos e o meu olfato me dizem tudo do meu dia, minuto a minuto”, afirma. Para quem se queixa, Oliveira costuma dizer: “a vida é curta e passageira, por este motivo devemos valorizar as coisas boas e menosprezar as ruins”.

Roberto (D) em evento na COEPEDE. Foto: Arquivo Pessoal

Minha rotina é como de todas as pessoas, porém não enxergo. Só isso. Os meus ouvidos e o meu olfato me dizem tudo do meu dia, minuto a minuto.” Roberto Luiz Veiga Oliveira, presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência


2013/1 • UNIPAUTAS  •  5

Personagens de Porto Alegre  ESPECIAL

A menina que brincava de apresentadora de TV Apresentadora da TV Pampa, Cris Barth conta sobre sua trajetória e sua identificação com a cidade de Porto Alegre Bárbara Figueiró Scussel

C

Cris Barth apresenta programa diário na TV Pampa. Foto: Arquivo Pessoal

ristina Barth da Silveira, ou somente Cris Barth, é uma jornalista e apresentadora que ao longo de 18 anos de carreira tem conquistado seu espaço e por onde quer que vá atrai os olhares e a admiração do público. O jornalismo e a televisão na vida dela não vieram por acaso. De acordo com Cris, o desejo de ser jornalista e fazer parte do mundo da televisão a acompanha desde a infância: “Eu me lembro de estar no berço, cantar as músicas do Silvio e minhas bonecas chegando para serem juradas. Sempre brinquei que era apresentadora e eu fui fazer jornalismo porque eu queria trabalhar na TV”, recorda.

Porto Alegre tem tudo a ver comigo.” Vivendo a infância e a juventude no bairro Cidade Baixa, próximo ao centro de Porto Alegre, Cris viu grandes evoluções na capital. “Vi a Cidade Baixa evoluindo, se tornando conhecida, crescendo. Vi a Lima e Silva, o coração da Cidade Baixa, criando novos rumos, novos ares e tornando-se hoje um dos points da capital”, diz a menina que, nos anos 80, via seus amigos jogarem bola em plena Lima e Silva, algo impensável hoje em dia. A vida na televisão começou cedo. Em 1998, Cris ingressou na TV e, de lá para cá, teve a oportunidade de trabalhar como jornalista na TVE, RBSTV e atualmente na TV Pampa, além de ter tido experiências com assessorias de imprensa e como correspondente no Rio Grande do Sul da revista semanal Caras.

Cris, entretanto, afirma que realmente se encontrou nos programas de entretenimento, como o que apresenta atualmente, o Studio Pampa, que desde 2007 traz noticias, brincadeiras e músicas aos telespectadores. “Eu nasci para fazer isso. Eu não consigo me imaginar fazendo outra coisa que não isso e da maneira com que eu faço, com a paixão que eu faço”, afirma. Paixão esta que é refletida pelo público. Cris admite ser reconhecida nas ruas e sofrer assédio dos telespectadores que desejam tirar foto, abraçá-la e beijá-la, além de repetirem os bordões que já se tornaram marca registrada da apresentadora: “As pessoas me olham e me falam ‘meu povo e minha pova’, ‘Cris, tu é linda e loira’, ‘é bafônico’. Eu acho um amor, uma delícia”, conclui.

O homem que faz crianças sorrirem

Os índios que ainda resistem em Porto Alegre

Presidente da Associação de Moradores da Comunidade da Orfanotrófio revela sua visão sobre Porto Alegre

Tribo kaigang mantém as tradições na aldeia Tüpe Pën, no Morro do Osso

Leandro Cougo

E

m um pequeno escritório dentro de uma creche com mais de 200 crianças, Carlos Alberto Fagundes de Oliveira, ou Carlinhos, como é conhecido pela comunidade, trabalha cuidando das crianças e ajudando na organização da creche. É lá que ele passa a maioria de seus dias: “tenho um agradecimento à comunidade que pago através desse trabalho voluntário, e também é bom pra caramba ver uma criança de um ano e meio sorrir e te chamar pelo nome”. A relação de Carlinhos com Porto Alegre começou em 1978, quando ele saiu de Itaqui para fugir da pobreza e da fome do interior do estado. Logo que chegou à Capital, aos oito anos, começou a vender pão para ajudar financeiramente sua família. Um pouco mais velho, com 14, recebeu sua primeira carteira assinada e seguiu sua jornada de trabalho até se

tornar policial militar. Hoje, aos 43, é o presidente da Associação de Moradores da Comunidade da Orfanotrófio e um dos voluntários na Creche Boa Esperança. Carlinhos gosta de ir a todos os lugares caminhando e pensando sobre a Porto Alegre que observa. Por conta disso ele acredita que o único meio de conhecer realmente a sua cidade é através do convívio diário com ela: “Se eu fosse vereador, eu criaria uma lei que daria para os vereadores um cartão TRI, para eles conhecerem a sua cidade. Se tu representas as pessoas e a cidade, você deve conhecê-las, se tu tiver dentro de um carro tu vai conhecer avenidas, mas não vai conhecer a periferia”, diz. Carlinhos também relata problemas, como o dos banheiros públicos da cidade: “Eu não entendo porque eu tenho que pagar o banheiro público da rodoviária, por exemplo. Se é público é público, não pode cobrar”. Independente dos problemas, Carlos Alberto acredita que Porto Alegre é maravilhosa e um ótimo lugar para viver. “Acredito que todos que moram aqui gostariam de passar o resto de suas vidas nessa bela cidade”, conclui.

Victória Kubiaki

O cacique Che. Foto: Victória Kubiaki

O

dia amanheceu ensolarado povo, conforme foram mudane com os primeiros raios al- do os sistemas políticos. Em 513 cançando o pico do Sétimo Céu, anos passamos de escravos para no Morro do Osso, em Porto invisíveis. Se os descendentes Alegre. Era mais um Dia do Índio, africanos conquistaram seus die a tribo kaingang comemorava reitos aqui, por que nós não soa data. No lugar, com estrada de mos respeitados na nossa terra chão, alguns barracos e precária ainda?”, questiona. condição de vida, se localiza a alOs problemas de direito terrideia Tüpe Pën (“Pé de Deus” em torial são visíveis, pois os terrecaingangue), onde os índios ini- nos ao redor da aldeia têm sido ciaram a sua comemoração com transformados em condomínios danças típicas e muitas cores. O de luxo, criando um forte concacique Valdomiro Vergueiro, co- traste com os barracos e as casas nhecido como “Che”, participou de madeira dos Tüpe Pën. A área das danças, mas diz que tem indígena tem sido disputada com sido difícil manter sua cultura: a Associação de Moradores do “dizem que dia 19 é o dia do ín- Sétimo Céu (AMSC), que exige a dio. Dia do índio é todo dia e fico desocupação da área há 9 anos triste nessa data pelo rumo que em um processo que tramita na a nossa história vem tomando”. Justiça Federal. Ainda assim, segundo ele a coA origem do nome “Morro munidade indígena se mantém do Osso” remonta aos cemitéfirme e segura para que não per- rios indígenas encontrados no ca seu próprio idioma, danças e local. Esta é a razão pela qual, crenças. segundo Iracema, uma das moDurante a comemoração, o radoras da aldeia, os indígenas Cacique revela que os maiores escolheram o local para residir. problemas pelos quais a comu- “Nós prezamos a nossa cultura e nidade tem passado são a posse a mãe natureza em primeiro luterritorial e o que deveria ser es- gar. A aldeia é um lugar especial sencial, como saúde, educação considerando que aqui tenha e alimentação. “O Poder Público vivido nossos ancestrais. A culfinge que esqueceu a dívida que tura indígena somos nós, terra os ‘não-índios’ tem com o nosso e carne”.


6  •  UNIPAUTAS • 2013/1

ECONOMIA Inflação

Criatividade e ofertas são ingredientes para o rancho Consumidores afirmam que promoções ajudam a lidar com as constantes oscilações da cesta básica Kyane Sutelo

O

mercado internacional e commodities”, explica. Entretanto, a composição da cesta básica de Porto Alegre, instituída pelo Decreto-lei 399 de 1938, tem gerado cada vez mais questionamentos (confira tabela ao lado). A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) não considera a legitimidade dos produtos, por julgar a lista ultrapassada, conforme assegura o presidente Antonio Cesa Longo. Longo afirma que os 13 itens analisados na Capital gaúcha diferem das outras cidades em quantidade, tipo ou marca: “A cesta básica de Porto Alegre é a que tem mais produtos, pelo poder de compra e exigência do nosso consumidor. Por isso, quando não é a mais cara ficamos preocupados”, brinca Longo. Já a economista do Dieese, Daniela Sandi, argumenta que os estudos mensais da instituição seguem a lei: “Não foi o Dieese quem criou as regras. O nosso objetivo é, apenas, informar o consumidor”, justifica.

preço dos alimentos há meses tem sido apontado como o vilão da inflação, mas os consumidores mostram desenvoltura na hora de lidar com o problema na Capital gaúcha. Com o uso de artifícios na cozinha e as promoções do comércio, os porto-alegrenses comprovam que é possível preparar as refeições sem apertos no orçamento familiar. “Como todo brasileiro, a gente precisa ter criatividade e pesquisar. Com a cesta básica não é diferente”, aconselha o presidente interino do Movimento das Donas de Casa e Consumidores do Rio Grande do Sul, Claudio Pires Ferreira. Quem segue à risca esta dica é a diarista Cláudia Lara. Moradora do bairro Partenon, localizado na zona leste, ela faz faxinas Desonerações em diversos pontos da Capital e aproveita para fazer suas comA desoneração de impostos pras: “Eu ando por toda a cidade proposta ocorrida em março ajue comparo preços. O bairro que dou um pouco o consumidor a mais vale a pena comprar é o Rio fechar o mês no azul. Ajuda bem Branco”, garante a dona de casa. vinda, pois segundo estatísticas Porto Alegre, há mais de 24 do próprio Dieese, o brasileiro demeses, oscila entre as 5 capi- veria hoje receber quatro vezes tais com cesta básica mais cara o valor do salário mínimo atual, dentre as 18 pesquisadas pelo que é de R$ 678,00. Departamento Intersindical de O presidente da Agas, Antonio Estatística e Estudos Econômicos Cesa Longo, garante que a (Dieese). Segundo a economista Associação está negociando com da instituição, Daniela Sandi, o governo do Estado também a esta variação é natural: “Os pre- isenção do ICMS da cesta básica. ços oscilam muito devido a fa- “O impacto será imediato nos pretores como sazonalidade, clima, ços”, afirma.

entenda o cálculo da cesta básica Análise do Dieese divide o país em três regiões RORAIMA

Região 2

AMAPÁ

Estrutura das cestas básicas pelo DL 399/38 Alimentos

AMAZONAS

PARÁ MARANHÃO

CEARÁ RIO GRANDE DO NORTE PARAÍBA

PIAUÍ

PERNAMBUCO ACRE

ALAGOAS TOCANTINS

RONDÔNIA

SERGIPE BAHIA MATO GROSSO

DISTRITO FEDERAL GOIÁS

MINAS GERAIS MATO GROSSO DO SUL

ESPÍRITO SANTO

Região 1

SÃO PAULO RIO DE JANEIRO PARANÁ

SANTA CATARINA

RIO GRANDE DO SUL

Região 3

Região 1

Região 2

Região 3

Carnes

6kg

4,5kg

6,6kg

Leite

7,5l

6l

7,5l

Feijão

4,5kg

4,5kg

4,5kg

Arroz

3kg

3,6kg

3kg

Farina

1,5kg

3kg

1,5kg

batata

6kg

-

6kg

Legumes (tomate)

9kg

12kg

9kg

Pão francês

6kg

6kg

6kg

Café em pó

600gr

300gr

600gr

Frutas

90unid.

90unid.

90unid.

Açucar

3kg

3kg

3kg

Banha/Óleo

750ml

750ml

900ml

Manteiga

750gr

750gr

750gr

A pesquisa do Dieese é realizada em quatro tipos de estabelecimentos: supermercados, feiras, açougues e padarias. Devem ser analisadas as marcas mais ofertadas nos locais de amostra. O levantamento é feito em, pelo menos, 30 estabelecimentos de cada tipo. As visitas aos estabelecimentos devem ser feitas sempre no mesmo dia da semana, a fim de respeitar as datas de oferta.

Fonte: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese

Educação para combater a pobreza Bolsa Família bate recorde de matrículas nos cursos do PRONATEC no RS Cristielle Valle

O

Programa Bolsa Família (PBF) foi criado pelo Governo Federal em 2003 com o objetivo de erradicar a pobreza no país, repassando um benefício em dinheiro de até R$ 306,00 por mês para famílias com renda mensal por pessoa até R$140,00. Em Porto Alegre, há mais de 176 mil pessoas que recebem o benefício. Para a Diretora do Depar­ tamento de Assistência Social da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), Viviane Goulart, “o dinheiro que

essas pessoas recebem é tão pouco que, se no Norte alimenta uma família, aqui no Sul esse dinheiro não dá para nada”. Por isso em 2011 foi criado o PRONATEC, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, que possibilita às pessoas do Cadastro Único, incluindo os beneficiários do PBF, se qualificarem profissionalmente e ter maior possibilidade de conseguir um emprego. De acordo com a Diretora do Departamento do Trabalho, Eliane Martins, “os postos de trabalhos que já existiam foram absorvendo a população que já estava formada, e com o crescimento da economia é preciso chamar aquela população que estava numa situação mais precária de formação profissional e escolar”.

Em Porto Alegre, uma formatura de 2.300 alunos do PRONATEC, dia 12 de abril deste ano, chamou a atenção da mídia pela presença da presidente Dilma Roussef e da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello, para quem “hoje, estamos superando o mito de que a população fica acomodada com o Bolsa Família”. Ainda segundo a ministra, o RS é campeão de matrículas em todo o Brasil: “das 380 mil matrículas, 60 mil estão aqui”. Com isso, podemos entender que o Rio Grande do sul, e isto inclui Porto Alegre, está com um número de pessoas de baixa renda, como os beneficiários do Bolsa Família, que procura qualificação profissional e um futuro melhor cada vez maior.


2013/1 • UNIPAUTAS  •  7

Mobilidade ECONOMIA

Após três décadas, Aeromóvel é inaugurado Primeira linha comercial aeromóvel inicia as operações em Porto Alegre

com recursos de compressibilidade do ar que tornam praticamente impossível a colisão entre os veículos que trafegam em direções opostas. O Aeromóvel possui propulsão pneumática e movimenta-se sob rodas de aço em trilhos tradicionais. Os turbo-ventiladores centrífugos comerciais, que insuflam o ar, são acionados eletricamente e localizam-se em casas de máquinas distribuídas em diferentes pontos do solo.

Maureci Junior

A

pós mais de três décadas parado, o projeto aeromóvel finalmente deixa de ser um sonho e entra para a realidade dos porto-alegrenses. A chegada do primeiro veículo, em abril, e a inauguração oficial, em agosto, sinaliza a consolidação de uma era de grande crescimento urbano para a capital dos gaúchos neste início de século. Este sistema já operou na década de 80, entre as Avenidas Loureiro da Silva e Presidente João Goulart, mas, na época, não passou da fase experimental. Agora, o aeromóvel irá realizar o trajeto entre o Trensurb e o Aeroporto em 90 segundos. Idealizador do projeto, o gaúcho de Pelotas Oskar Coester afirma que o transporte elevado pode significar um grande avanço para a capital gaúcha: “o problema de mobilidade, hoje, é uma realidade do mundo inteiro. O aeromóvel deve ser uma mudança de paradigma”. Aos 74 anos, o inventor ratifica a convicção em sua tecnologia: “não vejo possibilidade de não dar certo. Um veículo que transporta centenas de pessoas e se desloca sem sofrer interferência do trânsito será um upgrade para Porto Alegre, não só na mobilidade, mas também no crescimento tecnológico. O tempo vai dizer isso”. Coester só lamenta a ideia não ter se concretizado antes, pois em 1982 o Ministério dos Transportes cortou a verba

História

O trem, conhecido como A-100, tem capacidade para 150 passageiros. Foto: Divulgação

do governo federal ao projeto. O gaúcho Cloraldino Severo, ministro naquela ocasião, é lembrado até hoje pelo interrompimento da obra. Exatamente pelo longo tempo de espera, o veículo despertou curiosidade nos porto-alegrenses. Rodrigo Pompeu, que trabalha no Aeroporto Salgado Filho, prestigiou o momento: “nosso trânsito está mesmo carecendo de alternativas, o aeromóvel pode ser uma grande solução. Como porto-alegrense, estou orgulhoso”. Segundo a assessoria da Trensurb, o primeiro veículo comercial deste tipo, conhecido como A-100, foi fabricado no Rio de Janeiro e tem capacidade

para 150 passageiros. O A-100, que tem 14,5 metros de comprimento, mede 3 metros de altura, 3,5 metros de largura e pesa 9,9 toneladas. Ele integra a Estação Aeroporto do Trensurb e o Aeroporto Salgado Filho em um trajeto de 998 metros. Também já está em construção o segundo equipamento desta linha, que tem previsão para chegar a Porto Alegre no mês de setembro. Ele terá o dobro da capacidade do primeiro e se chamará A-200. O custo total do projeto é calculado em R$ 33,8 milhões. Está sendo estudada a criação de outra linha de aeromóvel em Porto Alegre, que faria a ligação do centro com a zona sul da

O balanço do Catamarã De olho na Copa do Mundo, novos píers para o Catamarã serão inaugurados Everton Cordeiro

D

epois de 50 anos, a travessia fluvial entre a capital e o município de Guaíba voltou a ser realidade desde outubro de 2011. É o Catamarã, serviço de transporte hidroviário com embarcações modernas e confortáveis. No primeiro semestre de 2013, foi inaugurado um píer próximo ao Barra Shopping Sul, e outro será construído na Ilha da Pintada. O diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Luis Cappellari,

afirma que “foram analisados 12 pontos ao longo do Guaíba até se decidir pelos atuais”. A expectativa do diretor da CatSul, Carlos Bernaud, é de que a parada do shopping receba uma boa demanda, assim como a atual travessia: “Começamos transportando entre Porto Alegre e Guaíba cerca de 1.700 pessoas e atualmente já ultrapassamos a contagem um milhão de passageiros”. O diretor acredita também que a proximidade do novo píer não somente com o shopping, mas também do estádio Beira-Rio, vai dar um aspecto mais turístico para o transporte. Segundo Bernaud, a pontualidade e a rapidez são os

diferenciais do Catamarã, uma vez que as viagens são feitas em apenas 20 minutos: “O transporte fluvial metropolitano deu certo e acreditamos que o urbano também dará”, conclui. As novas rotas são demandas antigas da população e também uma ação de marketing visando alavancar o turismo e a economia, uma vez que resta menos de um ano para o início da Copa do Mundo. “Aos finais de semana vêm turistas de várias localidades do Estado, do País e até mesmo do exterior”, afirma Bernaud. Segundo a CatSul, o próximo píer incluso nesse segundo projeto de ampliação deverá ser na Ilha da Pintada. Para esse novo

cidade. Além disso, a cidade de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, também já estuda a possibilidade de implantar o sistema. Segurança Para Oskar Coester, o sistema oferece total segurança aos usuários: “o aeromóvel da Indonésia foi feito todo no galpão da nossa empresa, do primeiro ao último rebite, e ele está funcionando há 25 anos sem ter apresentado nenhum tipo de problema”. Segundo ele, o projeto teve origem em conceitos fundamentais da aviação, como falha segura e redundância. Logo, é considerado um sistema de alta confiabilidade,

Embora a Indonésia ainda seja o único país a ter uma linha do aeromóvel operando comercialmente sob a administração pública, outros países também já aderiram ao projeto. Começou em 1977, com a Inglaterra, depois foi a vez dos alemães, japoneses, americanos e franceses. A tecnologia do aeromóvel é 100% brasileira e, em qualquer lugar do mundo onde seja utilizada, a patente deve ser concedida ao pelotense Oskar Coester. No entanto, todos esses países passaram a utilizar esta tecnologia antes do Brasil. Vale ressaltar, ainda, o quanto alguns países valorizam o aeromóvel. Na Alemanha, Japão e EUA, por exemplo, os maiores veículos de comunicação produzem longas matérias sobre este sistema. No início dos anos 2000, a NHK, do Japão, chegou a enviar uma equipe de repórteres a Porto Alegre para mostrar, com detalhes, o aeromóvel experimental da Avenida Loureiro da Silva.

Começamos transportando cerca de 1.700 pessoas e já ultrapassamos um milhão de passageiros.” Carlos Bernaud, diretor da CatSul destino, inicialmente está sendo construído mais um barco, com capacidade para 140 pessoas (os dois existentes levam até 120 pessoas) e vai atracar em dois pontos, na Colônia dos Pescadores Z5 e no antigo estaleiro Mabilde. A Secretaria Estadual de Obras da capital estima que a rota para a Ilha deva entrar em operação na primeira quinzena de outubro. Entretanto, Bernaud faz a ressalva de que quanto mais distante o destino, mais elevado o custo.

Hoje as tarifas variam entre R$ 3,00 e R$ 7,25. Para Capellari, o valor se justifica porque “esse é um transporte seletivo, não coletivo.” Além de custear metade do custo do píer no Cristal, estimado em R$ 150 mil, a empresa investe cerca de R$ 2 milhões no terceiro barco. A EPTC programa adaptar o sistema de cobrança para que usuários da capital possam utilizar o cartão TRI (municipal), uma vez que o TEU (metropolitano) já faz parte do serviço.


8  •  UNIPAUTAS • 2013/1

GERAL Cidade

Humaitá, o bairro do futuro Mistura de grandes empreendimentos com maior arborização chama a atenção para o Humaitá Lucas Dias de Castro Furtado

O

bairro Humaitá, localizado na zona norte de Porto Alegre, sempre conhecido por ser um bairro humilde e pouco valorizado, está passando por uma grande valorização. Este crescimento se deve à construção da Arena do Grêmio, que valorizou as casas e os terrenos. Outro grande destaque é a localização do bairro, de fácil acesso para quem vem do litoral ou da serra e próximo ao centro de capital. Todas essas características fizeram com que as grandes construtoras e imobiliárias passassem a chamá-lo de “Bairro do Futuro” e investir em novos empreendimentos. Para Felipe Delfino, gerente de empreendimentos da Imobiliária Foxter, “antes mesmo da Arena ou do viaduto Leonel Brizola já existia um interesse no bairro, oriundo dos valores dos terrenos”. E o interesse, segundo

Delfino, não se esgota com a inauguração do estádio: “em virtude das áreas disponíveis para construção civil, podemos esperar lançamentos pelos próximos cinco anos ainda”. Tal interesse tem reflexo direto no valor dos imóveis. Marcelo Magalhães de Sousa, coordenador de empreendimentos da Foxter, lembra que “em 2007 o m² da região custava em torno de R$ 700,00 e, hoje, pode chegar a R$ 3.100,00, um dos maiores retornos do mercado”. Segundo Sousa, com todo o investimento e melhorias na região, o bairro Humaitá perdeu a imagem de um local distante e precário, tornando-se alvo de muitas famílias de classes sociais mais elevadas, que vão em busca de locais mais arborizados e menos populosos: “Em 2007 a infraArena do Grêmio deu novo impulso ao Bairro Humaitá. Foto: Magda Perez estrutura do bairro era horrível, hoje possui tudo o que é necessário para ter uma boa qualida- com um bairro com pouca infra- ruídos. Não vejo nisto uma boa de de vida, e com um alto cres- estrutura, investimentos e menor alteração, mas o lado bom foi cimento demográfico existe uma fluxo de pessoas e automóveis, a preocupação e o crescimento tendência de melhorias e desen- estranham a mudança. do Humaitá”. Sobre o assédio às volvimento urbano, crescimento Para a moradora Andréia Froz residências dos antigos moradoque agrega interesse político na “houve épocas em que as obras res, Andréia afirma que “para região”. dificultaram o acesso e até mes- os imóveis usados o assédio é Já os moradores, acostumados mo criaram engarrafamentos e baixo, talvez mude para estes

moradores a insistência de corretores em saber se seus imóveis estão à venda”. E há quem pense em vender suas residências devido à grande valorização de seus terrenos: “penso em vender o imóvel, mas não pretendo sair do bairro”.

Operação na Cidade Baixa divide o bairro Campanha de fiscalização a bares opõe comércio e moradores da Cidade Baixa Jean Lazarotto Santos

O

bairro Cidade Baixa sempre foi um ponto de encontro para grande parte da população que frequenta a noite de Porto Alegre. Este movimento constante de pessoas acabou gerando tensão entre os moradores, donos de estabelecimentos e frequentadores, culminando em uma operação da prefeitura para a regulamentação do funcionamento destes locais: a Operação Sossego. Rogério Teixeira Stockey, chefe de fiscalização da SMIC, afirma que a operação foi realizada principalmente devido ao grande número de reclamações dos moradores a respeito do barulho no bairro, “Muitos frequentadores destes bares e casas noturnas ficavam na frente dos estabelecimentos consumindo bebidas alcoólicas e fazendo barulho em horários inapropriados”, afirma. A dona de casa Leoni Scheffer,

de 39 anos, moradora da Rua da República, um dos pontos mais movimentados da Cidade Baixa, relata que após a fiscalização e regulamentação dos bares o bairro melhorou muito: “finalmente a prefeitura fez algo a respeito, não aguentava mais a bagunça e o barulho até o amanhecer, agora conseguimos dormir em paz”, comemora. Já o sócio gerente do Eclipse Studio Bar, Conrado Barreto, alega que houve queda de aproximadamente 55% no faturamento mensal do seu estabelecimento, localizado na Cidade Baixa desde

2008: “tivemos que reduzir todos os preços em grande escala para manter os clientes, fizemos corte de até 50% no valor das bebidas”, lamenta. Barreto relata que nunca teve problema com vizinhos do bar e sempre respeitou os moradores da redondeza, e acredita que houve uma grande perda cultural para a cidade devido às novas regras. O empresário acredita ainda que a atual operação é uma campanha de fiscalizações e rigidez desnecessárias por parte dos orgãos públicos, que já apresentavam uma lentidão na liberação de

A Operação Sossego

D

e acordo com as normas da “Operação Sossego”, nome dado pela própria prefeitura, os bares podem ficar abertos nas sextas-feiras, sábados e vésperas de feriados até às 2h da manhã e dos domingos a quintas-feiras até à 1h. Após a 0h, não são permitidas mesas em recuos e em passeios públicos

fronteiros aos estabelecimentos, bem como o funcionamento de decks externos e áreas abertas. Os estabelecimentos que fizerem uso de música amplificada (mecânica ou ao vivo) após a 0h deverão ter Projeto Acústico aprovado e licenciado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam).

documentos e alvarás antes mesmo das novas diretrizes: “onde estava essa vontade imensa de trabalhar quando eu estava batendo na porta deles para pedir que me vistoriassem e aprovassem documentos para que eu pudesse, finalmente, ter um alvará e trabalhar dentro da lei?”, desabafa. A Prefeitura afirma que vai continuar fiscalizando

re­gu­larmente todos os 183 estabelecimentos no bairro para que a lei seja respeitada. Enquanto isso, os donos de bares cobram ações mais enérgicas por parte da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) para que a lei seja flexibilizada e não cause tantos danos ao movimento noturno da região.

O QUE DIZEM OS MORADORES CONTRÁRIOS À OPERAÇÃO Marcus Meneghetti, 24 anos, jornalista, que mora na Cidade Baixa há 5 anos: “Não concordo com a Operação Sossego da forma como ela foi conduzida, poderiam ter solucionado os problemas com mais policiamento e educação ao público, mas resolveram fazer do jeito fácil e fecharam o bairro. A Cidade Baixa ficou muito mais insegura sem movimento nas ruas, sair à noite ficou mais caro e com certeza houve uma grande perda cultural.” Gabriel Canabarro, 24 anos, músico: “A cultura foi prejudicada, as pessoas que pensam em fazer programas após o horário de aula não tem muita opção e nossa banda acaba fazendo muito mais shows fora da capital pois aqui não tem condições. Uma cidade como Porto Alegre necessita de vida 24 horas por dia.” Ana Paula Genesini, 22 anos, estudante e moradora do bairro: “Moro em cima de um bar movimentado e nunca tive problemas com o barulho. A Cidade Baixa ficou em estado de coma após essa operação e me sinto até mais insegura de andar a noite no bairro pois fecharam tudo, mas a segurança não foi reforçada.”


2013/1 • UNIPAUTAS  •  9

Cidade GERAL

O prédio mais alto da cidade Edifício Santa Cruz, maior prédio da Capital, tem 32 andares e 96 metros Lucas Lautert

U

m gigante chama a atenção às margens do Guaíba. E não é o estádio Beira-Rio ou a Arena do Grêmio, que estão ao lado do lago. O gigante é o Edifício Santa Cruz, o maior prédio de Porto Alegre. Situado entre a Rua dos Andradas e a Rua Sete de Setembro, no Centro, o edifício possui 32 andares e uma altura de 96 metros, 12 a mais que o segundo colocado na lista dos “arranha-céus” da capital gaúcha. A história do edifício começou em 1955, quando o Banco Agrícola Mercantil promoveu um concurso fechado com três escritórios de arquitetura, e o vencedor foi Carlos Alberto de Holanda Mendonça. Um ano depois, no dia 27 de junho de 1956, o projeto do prédio foi aprovado pela Prefeitura. Sua construção durou até o ano de 1965. A hegemonia do Santa Cruz como prédio mais alto da capital já dura 48 anos. Esse fato faz do

edifício um dos pontos turísticos totalmente voltados para os últimos sete andares, sendo usados de Porto Alegre. Segundo a ascensorista apenas por residentes fixos. Sandra Maria Rosa, a procura de O empresário Cristiano Paim, visitantes de outros lugares do morador há seis anos, fala das Brasil e do mundo é muito fre- vantagens de morar em um aparquente, quase diária: “É normal tamento situado no 25º andar: tirarem fotos aqui do prédio, on- “Quando você pega o elevador e tem mesmo apareceu um pesso- entra no seu apartamento, parece al da Austrália atrás de autoriza- que está em um bairro bem tranção para subir até o último andar. quilo. O barulho não chega aqui Quase todo dia aparece alguém em cima, não tem aquele tumulto com uma câmera.” tradicional do Centro. Quando tu acordas e desce, acaba levando Dia a dia do prédio um susto até acostumar. Outro diferencial é, sem dúvidas, a vista. Além da procura dos turistas, Tem vezes que acabo me perdeno movimento é intenso durante do no horário por ficar na sacada a maior parte do dia, pois o pré- olhando para a cidade, principaldio serve principalmente como mente no horário do pôr do sol.” ponto comercial.Dos 32 andares, O edifício Santa Cruz, mesmo 24 são destinados para todo tipo com 48 anos de história, parece de negócio, como consultório de um jovem imponente no coração odontologia, fisioterapia, psicolo- da cidade, amado por seus trabagia e terapia, sindicatos, estúdios lhadores, por seus moradores e fotográficos, escritórios de conta- também por todos que trabalham bilidade, empresas de elevadores, no local. “Estou aposentada há central de partido político, etc. quatro anos e mesmo assim não A partir do vigésimo quinto, os pretendo sair deste emprego que apartamentos são apenas para amo. É um orgulho muito grande moradores fixos. Pelo grande nú- trabalhar no maior e melhor prémero de pessoas que passam dia- dio de Porto Alegre. Só saio dariamente no prédio, os elevadores qui de bengalas quando não confuncionam com uma mecânica di- seguir mais dar conta dos meus ferente da normalidade: dois são deveres”, revela Sandra.

O artista Rogério Amaral Ribeiro é um dos proprietários da Argentum. Foto: Amanda Hendz

Procurando espaço para as artes A busca por novos espaços para artes visuais na Capital Amanda Hendz

E

spaços culturais servem para gerar um encontro entre o artista e seu público, mas também com os colecionadores e com as pessoas interessadas em adquirir trabalhos. Em Porto Alegre, há diversas galerias. A maioria com exposições variadas, como a Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ), localizada no Centro. A casa concentra três galerias de arte e três espaços expositivos. No 7° andar, tem ainda a Fotogaleria Virgílio Calegari, destinada a projetos com fotos e vídeos. Só em 2012, a CCMQ realizou 49 exposições, sendo 8 especificamente de fotografia. Já a La Photo Galeria e Espaço Cultural, localizada próximo ao Brique da Redenção, começou como estúdio fotográfico e virou um centro cultural. Para a coordenadora e produtora da La Photo, Regina Peduzzi Protskof, o local tem como principal identidade ser um espaço multicultural, onde todas as artes se encontram, incluindo teatro, pintura, música,

literatura e fotografia: “Galeria e espaço cultural, como a gente faz, eu tenho certeza que é só a nossa em Porto Alegre”, afirma Regina. Em se tratando de comercialização, a Bolsa de Arte de Porto Alegre, galeria de arte contemporânea localizada no bairro Floresta, é uma das mais tradicionais da Capital. “A nossa galeria tem 33 anos de mercado e isso é muito legal, até porque são poucas galerias, no Brasil, em atividade constante. O Brasil é um país de investimento, mas as pessoas abrem as empresas sem terem o conhecimento adequado”, descreve a galerista e empresária Marga Pasquali. A primeira galeria especializada apenas em fotografia no Rio Grande do Sul é a Argentum Foto Arte Galeria. Segundo o artista visual Rogério Amaral Ribeiro, um dos proprietários da Argentum, “outras galerias expõem fotografias, mas também obras de arte”. Para os profissionais da área, como a artista visual Rochele Zandavalli, porém, nossa cidade ainda é muito fraca para o mercado de arte: “Poucos investem, e quem investe dá preferência a artistas consagrados. Fica difícil para o jovem artista”, desabafa.

Poucos investem em arte, e quem investe ainda dá preferência a artistas consagrados. Fica difícil para o jovem artista.” Vista do alto do edifício atrai turistas de todo o mundo. Foto: Lucas Lautert

Rochele Zandavalli, artista visual


10  •  UNIPAUTAS • 2013/1

GERAL Trânsito

Mais fiscalização, menos mortes

Operações conhecidas como Balada Segura diminuem acidentes. Foto: Priscila Valério

DADOS BIMESTRAIS DO DETRAN-RS 300 200

Acidentes com mortes

2012

2013

2011

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2008

2007

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2011

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0

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2010

O

s dados são do próprio Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN): desde que passou a vigorar a Lei Seca, diminuiu em até 28% os acidentes causados por embriaguez no trânsito no RS. O número se deve ao aumento na fiscalização. Na primeira fase da Operação Balada Segura, as blitzes eram realizadas apenas nos finais de semana e o bafômetro era feito somente em quem apresentasse sinais de embriaguez. Agora, as ações são realizadas de quarta-feira a sábado (eventualmente em véspera de feriados) e todos motoristas passaram a ser convidados a soprar o bafômetro. O chefe da Equipe de Operações Especiais da EPTC, Marcelo Cunha da Silva, explica que o tempo de o álcool reagir no organismo varia de pessoa e da alimentação antes

2007

Priscila Valério

de ingerir a bebida: “Caso não te- Secretária da Administração e dos nha se alimentado corretamente, Recursos Humanos do DETRAN. o álcool se manifesta de forma Para Marcelo Cunha da Silva, acelerada”, diz. além da educação e da fiscalizaConforme a Equipe Balada ção, outros motivos estão contriSegura, o índice tolerado é de 0,04 buindo para a redução da acidenmg/l de ar (medição realizada no talidade em Porto Alegre, como teste), sendo, neste caso, o con- repintura constante de faixas de dutor liberado. A partir de 0,05 segurança, instalação de mais plamg/l até 0,33 mg/l, o condutor é cas de orientação e indicativas, autuado de forma administrativa, semáforos com lâmpadas econôcom multa de R$ 1.915,40 e reco- micas de led e a implantação de lhimento da CNH por no mínimo projetos viários com bases em pe24h, além da suspensão da habili- didos de comunidade. tação. O condutor ainda precisará O bancário, Denilson Carneiro, apresentar outro motorista habili- 44 anos, diz que depois da experitado que faça o teste e seja libera- ência de ter sido parado em uma do para retirar o veículo, sob pena blitz dispensa pegar a direção e de este ser guinchado. O mesmo prefere um meio de transporte procedimento é aplicado quando mais seguro, como táxi ou até na recusa do teste. mesmo a nova linha da Balada Caso o índice seja 0,34mg/l ou Segura. mais, o condutor sofre as penaliA linha é uma iniciativa da dades citadas acima e é encami- Carris em parceria com a EPTC. nhado ao Palácio da Polícia, onde Inaugurada no dia 16 de dezemresponderá criminalmente e terá bro de 2011, a linha noturna C4 de pagar fiança. ‘’Já somos capa- Balada Segura atende aos pedidos zes de perceber mudanças no co- dos frequentadores de bares e catidiano da população quando nos sas noturnas dos bairros Moinhos deparamos com a redução do nú- de Vento, Cidade Baixa, Bom Fim mero de vítimas nos acidentes de e Centro Histórico. A linha circula trânsito”, salienta Stela Farias, diariamente, das 22h às 4h30min.

2008

Blitzes e maior fiscalização diminuem acidentes de trânsito na Capital

Mortes

Voluntariado que salva vidas nas estradas Associação Anjos do Asfalto atua ajudando vítimas de acidentes de trânsito no RS Alice Fortes

A

Associação de Resgate Metropolitano Anjos do Asfalto é uma equipe de voluntários que conta com profissionais de diferentes ramos, como bombeiros, militares, técnicos de enfermagem, advogados e instrutores de trânsit, que estrutura o

atendimento de resgate e busca ajudar a comunidade do RS através de atendimento pré-hospitalar em rodovias gaúchas. Morador de Porto Alegre, a 30 km da base em que os Anjos atuam, Fabiano Ferreira, 30 anos, auxilia no atendimento de emergência, limpeza da base, das viaturas, do pátio e de toda manutenção necessária antes e depois das ocorrências. Uma vez por semana ela cumpre o horário de 12h seguidas sendo voluntário nos Anjos do Asfalto. “Cada vítima precisa de uma ambulância,

em um município com relativa- corpo durante uma perseguição mente poucas ambulâncias, um foi o mais marcante. “Apesar de auxilio adicional é sempre bem momentos difíceis acho que todos vindo”, conta. deveriam fazer algum trabalho O trabalho realizado por ele e voluntário, se doar um pouco, às por diversas pessoas que decidem vezes o nosso 10% pode significar fazer parte da equipe dos Anjos 100% para outra pessoa”, acredita do Asfalto não possui remunera- Fabiano. ção, portanto todas as atividades A Associação atua juntamente de risco que eles enfrentam são com órgãos Federias e privados por vontade de ajudar o próxi- auxiliando nas áreas da região mo. Segundo Fabiano, diversos metropolitana e nas Rodovias RS casos que ele presenciou foram 118, 020 e 030. Fora do asfalto, difíceis, mas a colisão de um po- os Anjos buscam conscientizar a licial militar que acabou perden- população através de palestras e do os movimentos inferiores do cursos que chamam atenção para

um dos principais causadores de mortes no Rio Grande do Sul, o trânsito. Na Capital gaúcha, só nos três primeiros meses de 2013 mais de 4.900 acidentes de trânsito já foram registrados, 26 gerando vítimas fatais. A equipe de resgate trabalha durante as quartas e quintas no período da noite e nas madrugadas dos finais de semana. São momentos em que profissionais deixam de lado suas tarefas diárias para enfrentar uma verdadeira corrida contra o tempo para ajudar a vida de desconhecidos.


2013/1 • UNIPAUTAS  •  11

Trânsito GERAL

Transporte coletivo poderá ser licitado ainda em 2013 Prefeitura estuda licitação inédita para a modalidade, e EPTC estima que o primeiro edital possa sair até final de dezembro Luiz Soares

A

pós 140 anos, a prefeitura de Porto Alegre admite a possibilidade de abrir portas para a concorrência no transporte público. A consequência imediata de uma licitação seria alterar o atual quadro do transporte, visando qualificar o serviço e reduzir o valor da tarifa.

Em entrevista concedida à Zero Hora no início de 2012, o Diretor-Presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, já havia falado a respeito da possibilidade de licitar o transporte coletivo na capital gaúcha: “Estamos na metade do estudo. Até o final do ano (de 2012), já devemos ter

Atualmente, três consórcios reúnem 14 empresas privadas que, ao lado da Carris, operam os ônibus de POA. Foto: Rogério Soares

bem definidas as exigências para as empresas que devem assumir o transporte público de Porto Alegre”. No entanto, a partir da recente onda de manifestações populares, a prefeitura porto-alegrense trouxe o assunto à tona novamente e declarou estar analisando formas para lançar o edital até final deste ano. Segundo dados oficiais da EPTC, o transporte público na Capital data de 04 de janeiro de 1873, com a fundação da empresa Cia. Carris. Desde então, Porto Alegre nunca teve o transporte coletivo licitado. Atualmente, além da Carris (empresa municipal de transporte), os ônibus na capital são operados por quatorze empresas privadas, que estão divididas em três consórcios: STS, Conorte e Unibus, que atendem, respectivamente, as regiões sul, norte e leste da cidade. Vanderlei Cappellari diz que o sul da capital deverá ser a primeira zona do transporte coletivo a ser licitada: “A expectativa é começar a lançar os editais

até dezembro deste ano. Serão três editais, para as respectivas bacias – sul, norte e leste – do transporte em Porto Alegre”. Segundo o Diretor-Presidente da EPTC, a prefeitura irá contratar uma empresa de consultoria para analisar as cláusulas do certame. Cappellari ainda esclarece que a relativa demora em iniciar a concorrência se deve à complexidade do documento. O Engenheiro Civil Francisco Schreinert explica que nunca houve um claro alinhamento nos deveres a ser cumpridos pelos empresários do transporte, e que agora os poderes concedentes podem qualificar o serviço, dando mais deveres para as empresas e criando novos parâmetros para calcular a tarifa e novos índices de qualidade. “O empresário tem que acatar as determinações do órgão público, gestor do serviço. É necessário regrar as ações das empresas”, afirma o engenheiro. As empresas de transporte público preferiram não se manifestar ainda sobre o projeto de licitação.

Educação Lei obriga ensino a partir dos quatro anos Nova lei agradou mães e pedagogas. SMED diz que até 2016 demanda será atendida na totalidade Renata Dorneles

A

gora é lei: crianças a partir de 4 anos devem obrigatoriamente frequentar a escola. A lei de número 12.792 publicada no Diário Oficial da União obriga os pais a matricularem seus filhos aos quatro anos de idade na escola de educação infantil. Para que a lei seja cumprida, entretanto, os municípios terão de oferecer vagas para os pais que dependem de escolas públicas. Para tanto, na maioria das cidades brasileiras, entre as quais Porto Alegre, será necessária a construção de novas instituições e a realização de mais concursos públicos que ampliem a oferta na rede pública. Patrícia Speloto, pedagoga da creche municipal Nosso Sonho e

entusiasta da nova lei, ressalta ontem mesmo fui a uma escola que muitos pais têm receio de municipal que é ótima e me dismatricular seus filhos na creche seram que essa lei é para crianpor entenderem que o ingres- ças que fizeram quatro anos até so na educação infantil é uma março, sendo que ele faz em jusubstituição à vida em família lho. A diretora disse que só no em geral e à mãe em particular: ano que vem. Vou aguardar e “Nunca será o objetivo da educa- matricular ele lá mesmo assim”, ção infantil oferecer aquilo que afirma. as crianças já vivenciaram em Sandra Cristina, mãe de uma seus lares e círculos de paren- menina de cinco anos matricutesco e vizinhança, e sim uma lada na creche desde os dois, diz ampliação da dimensão fami- nunca ter tido problemas com liar, inseri-la em um ambiente as escolas municipais: “Nunca em desenvolvimento orientado tive nada a reclamar da escola convivendo com outras crian- municipal, minha filha é só eloças e adultos, experimentando gios e frequentemente estou lá novas situações de interação”. conversando com professoras e Segundo a pedagoga, projetos orientadoras”. pedagógicos que estimulam a Ela também diz respeitar pais criatividade devem complemen- que acham importante a criança tar a ação da família. ficar com a família mais tempo: Mães como Camila Torres, 24 “respeito quem ache importante anos, que tem um filho de três deixar a criança com a família por anos e não trabalha por não ter mais tempo, principalmente pelo onde deixar o pequeno, estão ani- fator saúde, mas isso até os três madas com essa nova lei, porém anos”. encontraram dificuldades para De acordo com a coordenadomatricular seus filhos: “Meu fi- ra do nível de educação infantil lho nunca frequentou a creche, da SMED, Maria Inês Spolidoro,

a Secretaria Municipal da Educação (SMED) se mostra pronta para receber a criançada que ingressará nas creches nos próximos anos: “O município de Porto Alegre está abrindo até o final de 2013, 21 novas instituições conveniadas e até 2016 a demanda de

quatro anos estará atendida na totalidade”. Maria Inês lembra, ainda, que o municipio atende a Educação Infantil em Escolas Infantis Municipais conveniadas e nos jardins das Escolas Municipais de Ensino Fundamental.

Acesso à educação infantil a partir dos quatro anos torna-se obrigação. Foto: Victória Kubiaki


12  •  UNIPAUTAS • 2013/1

GERAL Assistência Social

Fora da caridade não há salvação.” frase pintada na fachada do Instituto Dias da Cruz Moradores de rua se cadastram e entregam seus documentos na entrada do Dias da Cruz. Foto: Vanessa Magnani

Uma antiga chance para um novo começo Há 82 anos, albergue Dias da Cruz atende moradores de rua em Porto Alegre Vanessa Magnani

A

frase pintada em um dos muros da sede do Instituto Espírita Dias da Cruz, fundado em 1907, deixa evidente o foco do trabalho realizado: “fora da caridade não há salvação”. Segundo Éder Geraldo Cardoso, presidente do Dias da Cruz há três anos, o Instituto “começou com um grupo espírita, com estudos do espiritismo, e, com o tempo, foi se vendo a necessidade de fazer caridade, o que se prega muito”. Assim surgiu, em 1931, o albergue. Mari Teresinha, moradora de rua de 68 anos, é uma das pessoas que recebe acolhimento no Instituto. Desde os 60 anos sem um endereço fixo, ela conta que perdeu a casa onde residia, pois o imóvel estava no nome do rapaz com quem dividia espaço e ele faleceu. Mari era ambulante e afirma que atualmente passa por necessidades: “no verão, tudo bem, o problema é no inverno”.

O albergue, situado na esquina da Avenida Azenha com a Ipiranga, abriga até 62 homens e 38 mulheres que recebem, além de um local para repousar, comida, roupas e produtos de higiene pessoal. Eles são recepcionados às 18h30min e devem obrigatoriamente apresentar documento de identificação ou boletim de ocorrência de perda dos documentos. É feito um cadastro e cada indivíduo possui o direito de frequentar o lugar por 15 dias seguidos. Após esse período, eles devem ficar afastados por mais 15 dias, podendo voltar ao Dias da Cruz depois desse tempo. Além de contar com assistentes sociais e psicólogos, o albergue possui advogado, médico e dentista: “aqueles que precisam são encaminhados para o atendimento”, comenta Cardoso. Para ele, as regras utilizadas são importantes para os frequentadores: “as nossas regras são muito rígidas no quesito comportamental, até porque, no momento em que eles passam a respeitar regras, é o primeiro passo para eles retomarem a uma vida social”. No albergue eles devem arrumar suas próprias camas ao saírem e

Ala feminina com camas e berçários que são destinados às crianças pequenas que chegam com as mães. Foto: Vanessa Magnani

tomar banho, que é indispensável. O frio faz aumentar a procura nos albergues, mas isso não é mais regra no Dias da Cruz: “até uns dois anos atrás, a busca era maior no inverno. Só que neste verão, por exemplo, nós tivemos casa cheia todos os dias”, afirma o presidente. Além do Albergue, o Instituto conta com oficinas de música e teatro para o público que participa das evangelizações durante a semana. Possui também a

creche Casa do Pequenino, que desde 1981 funciona diariamente e atende 150 crianças de baixa renda. Elas entram com quatro meses e saem com seis anos incompletos. Para as pessoas que frequentam o albergue, existem oficinas de artesanato e será reaberto a de informática. Há distribuição de enxovais, roupas e medicamentos. “Esse trabalho não tem preço, não tem palavras. A gente está aqui por amor ao trabalho”, declara Cardoso.

COMO DOAR Você pode fazer uma doação mensal através do carnê solicitado no site ou fazer doações via depósito em conta do Banrisul, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Você pode solicitar o carnê ou conferir o número das contas pelo site: ie-diasdacruz.org.br/site/


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Assistência Social GERAL

Quando a família é a cidade

Os abrigos, conhecidos como família extensa, atendem cerca de mil menores em Porto Alegre Shállon Teobaldo

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odos os dias na capital gaúcha pelo menos mil crianças e adolescentes vão dormir sem receber um boa noite dos pais. Esse é o número de menores abandonados que estão sob acolhimento institucional em Porto Alegre, de acordo com a Coordenadora de Proteção Social Especial de Alta Complexidade (PSEAC) da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), Landia Maria Araújo Cunha. Segundo Landia, existem hoje 40 casas lares e 22 abrigos em Porto Alegre, sendo 12 deles inteiramente do Governo, os quais atendem as crianças em situações mais críticas. A FASC é dividida em três níveis de proteção, a proteção especial básica e média, que faz a prevenção e tenta reinserir as crianças em suas famílias de origem, sem necessitar de abrigo,

e a proteção especial alta. Muitos dos abrigos existentes em Porto Alegre são ONGs (Organizações não Go­ v er­ namentais), como a ASA, Ação Social Aliança, que conta com oito casas lares espalhadas pela capital e atende 68 crianças. “Eles chegam aqui com o biquinho na boca e a roupa do corpo”, desabafa Rosália Fernandes, mãe social em uma das casas lares da ASA. Essas ONGs atuam em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, através do setor de abrigos da FASC. A coordenadora da Ação Social Aliança, Vera Morales, explica que a maior parte das crianças que estão nas casas lares vem parar no abrigo por conta das mães serem usuárias de drogas: “muitas dessas crianças não têm pai, a mãezinha tem problemas com drogadição, negligenciam os filhos ou não têm condições de cuidá-los”, diz Vera. O responsável pela área administrativa da ASA, João Morales, afirma que lá as crianças “têm casa boa, comida, estudo de qualidade, fazem atividades extracurriculares, vão à praia, coisas que não teriam fora do abrigo”. A maior luta da FASC é tirar os menores das ruas: “cada ano

Eles chegam aqui com o biquinho na boca e a roupa do corpo.” Rosália Fernandes, mãe social

aumenta o número de crianças abandonadas em Porto Alegre, os abrigos oferecem a esses menores o que chamamos de família extensa”, afirma a representante do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) com ênfase na Criança e no Adolescente, Fernanda Oliveira de Moraes. As crianças podem ficar no abrigo até completarem a maior idade, depois desse período os lares, juntamente com a FASC, tentam reintegrá-los à família de origem. Caso não seja possível, são incentivados a iniciar suas vidas sozinhos. “Eu gosto daqui, mas queria morar na minha casa, com a minha mãe”, conclui um menino de oito anos, abrigado há quatro.

As mães sociais

M

ães sociais são pessoas contratadas para assumir o papel de mãe dentro da casa lar ou abrigo. A contratação é feita diretamente pelo lar e supervisionada pela equipe da FASC, de acordo com a Coordenadora da PSEAC, Landia Cunha. Esse trabalho é regido pela lei 7.644/87, que dispõe a regulamentação da atividade de Mãe Social. É definido pela lei que a mãe social pode cuidar de até dez crianças, deve

se dedicar integralmente à educação e aos cuidados dos menores e tem todos os seus direitos como trabalhadora garantidos. Rosália Fernandes é mãe social em uma das casas lares da Ação Social Aliança: “meu sonho sempre foi ensinar e cuidar de crianças, não consegui me tornar professora, um dia fiz voluntariado na ASA e me encantei, aí resolver ser mãe social e essa agora é a minha casa.”

Quando a cidade é o lar Segundo a FASC, há 1300 moradores de rua em POA Carine Martins Bordin

U

ma pesquisa realizada em 2012 pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), da Prefeitura de Porto Alegre, aponta que atualmente existe cerca de 1.300 moradores de rua na capital. Diariamente passamos por dezenas deles e, na maioria das vezes, nem nos damos conta. Andando pelas ruas, praças e parques, não é difícil visualizar essas pessoas que, por algum motivo, decidiram largar tudo e viver de forma alternativa. Foi isso o que aconteceu com Paulo (que não quis ser

identificado). Há 10 anos, quando se separou da mulher, perdeu o emprego e sua mãe, Paulo resolveu que iria para a rua morrer. “Foi surpreendente. Em todos os lugares que eu ia, as pessoas queriam me ajudar. Eu fui para as ruas porque não tinha coragem de me matar e, ao invés de morrer, só conheci gente boa”, conta. “Eu gosto dessa cidade! Nasci e me criei aqui”. Paulo vive em uma barraca que ganhou de alguns moradores, no bairro Petrópolis. Entre algumas caixas de papelão, uma mesa com copos e comida, Paulo conta com a ajuda de quem passa pelo local. “Eu nunca pedi nada para ninguém. Acho que é por isso que as pessoas que passeiam por aqui conversam e me deixam alguma

coisa. Tem sempre alguém me nós conseguimos tudo. Já retirei ajudando”, diz o morador. E ain- identidade e todas as documenda ressalta que no inverno rece- tações que havia perdido”. be tantos agasalhos que distribui De fato, a Fundação de para outros moradores. Assistência Social e Cidadania traHoje o homem de aproximada- balha na busca de dignidade para mente 58 anos (não soube preci- as pessoas em situação de rua. sar a idade), com uma longa barba A assessora de comunicação da branca e os dentes desalinhados, FASC, Cynthia Flach, afirma que perdeu a vontade de morrer. Ele “Porto Alegre é uma das capitais chegou a frequentar albergues, brasileiras com a história mais mas por pouco tempo: “Quem não consistente no estudo da situação conhece esses lugares, acha que é dos moradores de rua.” Em 2011, seguro, o que não é verdade. Tem em parceria com a UFRGS, foi regente perigosa e o medo não nos alizado um cadastro censitário deixa dormir tranquilos”. da população de rua. A pesquisa Mas se por um lado Paulo não deu origem ao Plano Municipal de gosta de albergues, por outro se Enfrentamento à Situação de rua, sente muito bem acolhido pela atualmente ativo na capital. FASC. Participante dos projetos O plano é desenvolvido por fae programas que a Fundação re- cilitadores sociais que convidam aliza, ele comemora: “Na FASC os moradores de rua a conhecer

os projetos que a Fundação desenvolve, como o Circo da Cultura, que conta com uma unidade móvel que permite aos moradores de rua participar de oficinas de dança, circo e música, segundo Cynthia. Além disso, existem os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e os Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro POP). Espalhados por diversas regiões da cidade, eles são responsáveis pela oferta de orientação e apoio especializado e oferecem diversas atividades aos usuários, funcionando como um pequeno albergue, onde o morador pode tomar banho, se alimentar e socializar com outras pessoas.


14  •  UNIPAUTAS • 2013/1

GERAL Animais

Seres vivos em prol de seres vivos ONG Bicho de Rua chega a intermediar mais de mil doações em um mês

De atletas a puxadores de carroça, cavalos recebem tratamento diferenciado Renata Scheidt

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Bruno Klein

N

ão é raro vermos animais morando nas ruas de Porto Alegre, principalmente cachorros. Alguns tiveram tutores humanos racionais, mas foram - como lixo - descartados. Outros já nasceram sem um lar, filhotes de outros veteranos sem-teto da capital gaúcha. Na contrapartida dessa sitação, atua nacidde a ONG Bicho de Rua. A organização foi criada em maio de 2004 por um grupo de amigos, que já executava ações voluntárias em bnefício de animais, e então decidiu juntar forças a fim de potencializar essa ideia. Os objetivos do projeto são adoção sem preconceito de raça, idade ou eventual deficiência, esterilização como forma de controle de natalidade, estímulo à guarda responsável e programas assistenciais e educacionais para a promoção do bem-estar dos bichos. A organização também deseja sensibilizar as pessoas em relação à importância desse trabalho, seu compartilhamento e contágio das ações. O projeto tem uma demanda expressiva. Conforme Márcia Simch, 50 anos, diretora de marketing da Bicho de Rua, só em abril foram mais de mil doações. Os cadastros mensais superam três mil, e as visitas ao site orbitam em torno de cinquenta mil no mesmo período, além de milhares

Os cavalos da capital gaúcha

ONG trabalha pela adoção sem preconceito de raça. Foto: Priscila Valério

de seguidores, “curtidas” e compartilhamentos nas redes sociais. Mesmo com o grande número de animais cadastrados e acolhidos, o projeto não conta com um local físico por falta de recursos financeros e humanos: “Somos, entre membros de diretoria e conselho e voluntários, apenas 25 pessoas plenamente ativas no trabalho e na logística. Fazemos brechó e temos a nossa loja virtual. Padrinhos também ajudam financeiramente”, conta Márcia sobre a realidade e o modus operandi da ONG. Hoje, apenas treze animais estão sob a guarda da Bicho de Rua - hospedados em locais próprios para isso. Outros ficam com padrinhos e pessoas que colocaram anúncios no site almejando adoção. “Com mais voluntários, ajudaríamos mais animais. Há uma sobrecarga de tarefas sobre

o grupo atual”, revela. Além de intermediar a adoção, a ONG também dispõe de atenção para com o animal após o ato. “A pós-adoção tem um acompanhamento maior quando o acolhimento ainda é recente. E continuamos tendo notícias deles posteriormente. Nosso objetivo não é nos livrarmos dos bichos, e sim dar o lar e as pessoas que eles precisam para viver.”

COMO PARTICIPAR Os endereços para visitas e doações ao projeto e adoções, apenas virtuais, são o site www.bichoderua.org. br, Projeto Bicho de Rua no Facebook, @bichoderua no Twitter e o e-mail bichoderua@bichoderua.org.br.

orto Alegre possui cerca de cinco mil cavalos. Uns são vistos nas ruas carregando lixo, papel, materiais pesados junto com seus donos. Já outros são dignos de um tratamento de esportista. Os cavalos que saltam, por exemplo, vivem em uma das sete hípicas que existem em Porto Alegre. São alimentados de acordo com seu nível de trabalho, segundo a professora de equitação Gilséia Quadros: “É uma alimentação energética. Fora isso, eles têm seus suplementos alimentares, que são alfafa, aveia e algumas medicações caso tenham um número excessivo de trabalho, salto ou competição”, conta. Ao realizarem viagens para alguma competição, os cavalos recebem medicações uma semana antes para que rendam o que precisam render e aliviar o estresse causado. “Quando damos férias aos nossos cavalos, só não são montados, pois são atletas e não podem ficar confinados dentro de uma cocheira, senão ficam estressados, assim como nós”, afirma Gilséia. Já cavalos de corrida têm um treinamento completamente diferente, o que gera uma mudança enorme de temperamento. “Aqui só ensinam a correr, quanto mais correr, melhor. Os cavalos de corrida são inquietos, pois são treinados pra isso”, explica o tratador e treinador de cavalos do Jockey Clube de Porto Alegre, Odinei

Serrão. Por esse motivo, ao sofrerem alguma lesão, dependendo da gravidade estes animais chegam até a ser sacrificados. Os cavalos que puxam carroças, diferentemente do que muitos pensam, também recebem cuidados de seus donos. Vilson dos Santos, que trabalha com sua carroça levando pasto aos cavalos do Jockey Clube de Porto Alegre, diz tratar bem seu cavalo: “Eu mantenho o melhor possível pra ele, porque ele me ajuda, é ele que me sustenta”. O mesmo acontece com a égua de José Alberto Capella, que há 25 anos exerce a função de carroceiro: “Ela tem sua própria cocheira, serragem bem alta, pasto e ração sem nenhum cheiro. Também compro os remédios adequados, caso tenha alguma anemia ou problemas com vermes”. Capella também demonstra preocupação com o dia de descanso do animal: “A minha égua trabalha de segunda a sábado. Domingo é dia dela descansar. Se existe algo que me deixa bravo, é me pedirem ela emprestada. Não empresto e não gosto que maltratem”, comenta. Muito desses cuidados se devem às instituições que zelam pelos animais. Uma dessas instituições é a ONG Chicote Nunca Mais, que atua na capital desde 2008 com o objetivo de acolher animais maltratados e recuperá-los clínica, nutricional e afetivamente: “Nossos cavalos recebem atendimento veterinário de rotina três vezes na semana, além da recuperação clínica e nutricional, todos têm casqueamento regular e os machos são castrados na chegada ou assim que clinicamente possível”, diz Fair Soares, presidente da entidade.

Hotel bom pra cachorro Os cuidados básicos que devem ser tomados em hotéis e hospedaria para cães e gatos Camila Arosi

P

ara muitos, férias é sinônimo de descanso, mas quando se tem um animalzinho de estimação é preciso tomar alguns cuidados especiais, e um deles é onde deixá-lo antes de sair de casa. Com esse objetivo, surgiram

os hotéis para cães e gatos. Em Porto Alegre, há cerca de 36 hotéis e 40 hospedarias. Mas como funcionam esses locais? Vanessa Smaniotto, proprietária da hospedaria Cantinho do Cão, diz que “durante o dia todos vão para o pátio e aproveitam para brincar ou então para tirar uma soneca à sombra”. O local, segundo a proprietária, conta com canis individuais e adequados ao porte de cada animal, veterinários 24h, esteticistas para banho e tosa se necessário e uma lojinha

com medicamentos, rações e brinquedos para serem vendidos. Antônio Carlos Lopes, dono de uma hospedaria e clínica veterinária, conta que seu hotel para cães e gatos possui “um amplo espaço com brinquedos, camas confortáveis, solarium e acompanhamento de ótima índole para entretê-los, além da ótima higienização que é feita regularmente duas vezes por dia por nossa equipe de limpeza”. Segundo ele, o animalzinho terá, ainda, companhia permanente e acompanhamento

veterinário integral. A veterinária Patrícia Pinheiro ressalta a importância de que os donos fiquem atentos ao local onde seu animal ficará hospedado, e um dos principais requisitos para seu bem estar é ficar em um local onde tenha segurança, boa higiene e bons tratos. Os valores para quem deseja deixar seu pet em um local como este varia de 20 reais a 35 reais a diária para animais de pequeno porte e pode chegar até a 75 reais para animais de porte maior.

Foto: Brayan Martins


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Turismo  GERAL

Linha Turismo completa dez anos e impulsiona turismo Projeto Linha Turismo transporta mais de 77 mil passageiros em 2012 e já é referência no país Daniela Fragomeni

Cartões postais de Porto Alegre Brayan Martins

A

Linha Turismo de Porto Alegre, criada em 2003, é a primeira inciativa no país a oferecer um city tour em ônibus de dois andares, com o superior aberto. E o público aumenta a cada ano. Em 2012, a Linha Turismo transportou 77.039 passageiros, 56% a mais que em 2011, de acordo com o Boletim Estatístico Municipal de Turismo de Porto Alegre. O grande crescimento se deu pela aquisição de mais dois veículos no ano passado, ampliando a frota para três veículos. De acordo com Luiz Fernando Moraes, Secretário de Turismo de

Porto Alegre, a Linha é considerada referência no país: “Recentemente fomos procurados por uma empresa privada de Niterói-RJ e também pela Prefeitura de Canoas para obter informações sobre o serviço”, afirma. Hoje Salvador, Brasília, Florianópolis, Manaus e Curitiba oferecem city tours regulares. Curitiba, que tem o serviço há mais de 15 anos, também adotou o ônibus de dois andares, substituindo as “jardineiras”, ônibus com grandes janelas. Entretanto, são poucas as cidades em que a própria prefeitura oferece este tipo

de serviço. No Brasil, apenas Porto Alegre e Curitiba o fazem. Para o Ministério do Turismo, o que importa é que o serviço seja prestado com qualidade e preços acessíveis. Rodrigo Vasconcellos, assessor do Ministério, afirma que “iniciativas como essa são fundamentais para fortalecermos o turismo receptivo nas cidades brasileiras. A solução apresenta ao turista, em um breve período, os principais atrativos, economizando tempo nos deslocamentos. Posteriormente, o turista pode retornar àqueles atrativos de seu maior interesse”. Em Porto Alegre, anualmente são recebidos turistas nacionais e internacionais, muitos apenas de passagem. Itana Gama, 48 anos, funcionária pública de Brasília, esteve em Porto Alegre com o marido por apenas um dia para, a seguir, visitarem Gramado. Eles foram informados sobre o ônibus de turismo no hotel assim que chegaram à cidade, e ficaram encantados: “fica muito fácil visitar a cidade dessa forma, se soubesse teria ficado

mais um dia”, diz. A linha teve início em 2003, inspirada em serviços semelhantes oferecidos em importantes cidades turísticas, como Nova York e Barcelona. Dez anos depois, realiza dois roteiros, o Centro Histórico e o Zona Sul. O roteiro Centro Histórico funciona de terça a domingo. A partir do terminal, na Travessa do Carmo, com paradas no Parque da Redenção, Parque Moinhos de Vento, Mercado Público e Fundação Iberê Camargo. Os ingressos de terças a sextas-feiras custam 18 reais. Sábados, domingos e feriados, 20 reais. Já o roteiro Zona Sul é realizado de quarta a domingo, às 15h. Aos sábados, domingos e feriados, ás 10h30 e às 15h. Não há paradas e os principais atrativos são Caminho dos Antiquários, Orla do Guaíba, Parque da Harmonia, Estádio Gigante da Beira-Rio, Fundação Iberê Camargo, Hipódromo do Cristal, Praia de Ipanema, Estádio Olímpico Monumental e Museu de Porto Alegre.

Fomos procurados por empresas e prefeituras para obter informações sobre o serviço.” Luiz Fernando Moraes, Secretário de Turismo de Porto Alegre


16  •  UNIPAUTAS • 2013/1

CULTURA Gastronomia

Porto Alegre entra no circuito dos botecos “cariocas” Bares como Natalício e Dona Neusa movimentam a tradicional noite portoalegrense Anderson Borges

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uem conhece o Rio de Janeiro com certeza já aproveitou um bom chope gelado acompanhado de um samba e comidinhas tipicamente brasileiras, conhecidas como “comida de boteco”, mas servidas num ambiente estilizado ao gosto da classe média. Em Porto Alegre, esses “botecos” começaram a surgir em 2006 por iniciativa do empresário Eduardo Natalício, que montou seu primeiro bar decorado com o jeito carioca da Lapa. O sucesso é tão grande que Natalício já montou mais duas filiais, uma no bairro Moinhos e o outra na Zona Sul da capital: “O gaúcho gosta desse tipo de bar porque ele acaba relaxando e esquecendo um pouco o seu dia a dia”, conta Marcos Pinheiro, gerente geral do Boteco Natalício.

Marcelino Leite e Valdomiro de Olinda, os pernambucanos proprietários do Boteco Dona Neusa, outra casa do gênero em Porto Alegre, definem o lugar como um lugar de gente feliz: “Aqui no Dona Neusa servimos aquele chopp gelado e cremoso, reunindo pessoas de várias classes sociais, várias idades, unificando todas numa instituição bem nacional, o Boteco mesmo”, conta Marcelino. Para quem frequenta os botecos, a decoração do local no estilo carioca e o chopp fazem lembrar um pouco a cidade maravilhosa. Para o advogado Henrique Noronha, que frequenta os botecos pelo menos uma vez por semana, “o estilo de boteco, com o samba e o chopp, faz a gente esquecer que estamos no frio gaúcho e por isso relaxamos um pouco”. Já a estudante de Nutrição Graziela Schimit gosta de frequentar um desses “botecos” antes de ir a uma balada: “O bom é que você já vai curtindo um sambinha, se animando para entrar na balada já preparada para curtir com os amigos”, relata.

Botecos estilizados pouco lembram os tradicionais botecos que há décadas movimentam as ruas da capital. Foto: Brayan Martins

O centenário deus da cerveja e da culinária História do restaurante Gambrinus, inaugurado em 1889, se confunde com a história da própria capital Bárbara Barros

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Arte de Marcelo Spalding sobre foto de Rogério Soares

ntrar no Gambrinus é como desligar-se por um momento da atualidade e voltar ligeiramente no tempo. No restaurante mais antigo da cidade de Porto Alegre, com 124 anos, a tradição está nos detalhes, como em uma pintura do Gambrinus, deus da cerveja, que nomeia o restaurante, e uma cadeira vazia. Não no chão, mas no alto de uma das paredes, uma cadeira suspensa. A cadeira era do Restaurante Treviso, onde o cantor Francisco Alves costumava almoçar: “Com o fechamento do restaurante a cadeira foi doada, pois imaginaram que ela se perpetuaria aqui”, conta João Alberto Melo, um dos proprietários do restaurante. Segundo Melo, o objetivo do

Gambrinus sempre foi manter a tradição e a qualidade: “hoje tudo está muito automatizado, então tentamos manter um pouco mais as raízes”. O Gambrinus, de acordo com o proprietário, tem clientes de longa data, recebe muitos executivos, turistas, personalidades. Uma delas, o DJ, radialista e cineasta Claudinho Pereira, é todo elogios: “Há uns 40 anos eu venho aqui. Me sinto em casa”. Há também quem frequente o restaurante pela primeira vez, como Maria Helena Cecera e Glória Rodrigues: “Nós conhecemos o Gambrinus passeando pelo mercado, não imaginávamos um lugar como esses. É a primeira vez que comemos aqui”, contam. A culinária é portuguesa, com diferentes pratos de peixes e frutos do mar, mas também mescla pratos regionais, como carnes e feijoada. O cardápio é a la carte com pratos fixos, havendo diferentes opções nos dias da semana. “A tainha recheada com

camarão e siri é muito famosa, o filé de linguado grelhado também”, relata Melo. Entretanto, o sabor nem sempre foi português. Quando nasceu, por volta do ano de 1889, já no Mercado Público, o Gambrinus era uma confraria de imigrantes alemães. Eles ganharam o espaço da Prefeitura para ter um local de encontro, confraternização e, como bons germânicos, para beber cerveja, por isso o nome faz referência ao Deus da cerveja. O local ficou com os alemães até os anos 30 e depois foi adquirido por dois irmãos italianos. Em 1964, novamente dois irmãos, dessa vez portugueses, João e Antônio Melo, então proprietários de um pequeno café no Mercado, adquiriram o local e aos poucos inseriram pratos. Foi a partir de então que o que era um bar tornou-se um restaurante. E Gambrinus, que era conhecido por ser a divindade da cerveja, em Porto Alegre tornou-se também Deus da culinária.


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Gastronomia  CULTURA

Os sabores do mundo na Capital Sakura, Al Nur e Outback simbolizam a diversidade gastronômica e cultural de Porto Alegre, com opções para todo o tipo de paladar Alessandra Pinheiro

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orto Alegre, uma cidade com diversas culturas, tribos, sabores e idiomas, não poderia deixar de oferecer um vasto leque gastronômico de diferentes cantos do mundo, da tradicional culinária japonesa ao exótico tempero tailandês. Segundo o especialista Adelino Bilhalva, administrador da página Guia de Sobrevivência Gastronômica de Porto Alegre, “vivemos numa época cada vez mais global. As pessoas viajam para o exterior e voltam com ideias de negócios e franquias maravilhosas. Cada dia notamos mais coisas novas e a tendência é aumentar. Isso é ótimo porque

amplia a concorrência e a qualidade das refeições”, afirma. No alto da Avenida Cristóvão Colombo, por exemplo, encontramos uma amostra de tradição oriental. Passado de pai para filho, o restaurante Sakura segue à risca os ensinamentos da cultura japonesa: “O nosso cardápio não muda, o cliente que frequentava o restaurante há trinta e dois anos vai chegar no Sakura e encontrar a mesma culinária. Seguimos a tradição”, afirma com orgulho a proprietária Naomi Fujimoto, filha dos fundadores. O restaurante teve inicio na década de 80, no centro da cidade, com um quiosque pequeno coordenado por Hideo e Hario Fujimoto. Na época o local já chamava atenção pelos temperos exóticos que eram utilizados em suas receitas. Hoje o amplo restaurante segue um design totalmente oriental e encanta até os pequenos membros das famílias: “As crianças gostam daqui, pedem aos pais para trazê-las. É maravilhoso

ver uma geração tão nova já se é indicada para todas as famílias. 800 restaurantes espalhados por alimentando de forma saudável. Para a estudante Julia Guerreiro, 22 países. Sinto-me bem”, diz Naomi. frequentadora assídua do local, Claro que encontrar essas emPróximo dali, em uma esquina “é como ter um pouquinho do cli- baixadas gastronômicas em meio do tradicional bairro Rio Branco, ma da Austrália a poucos metros a tantos bares e restaurantes de uma cafeomancista lê o futuro da sua casa”. Diferentemente dos nossa capital requer indicações dos clientes na borra do café, en- outros dois, que são administra- e algum espírito de aventura. O sinando a seu público uma tradi- dos pela família, o Outback é uma resultado, porém, poderá ser sação milenar. É apenas mais uma rede multinacional com mais de boroso. noite de domingo no restaurante Al Nur, onde tradição e enigmas se encontram em um só lugar. “O VOLTA AO MUNDO GASTRONÔMICO EM POA público do Al Nur é feito de clientes antigos, um grupo mais traAustrália: Outback, tradicional rede de restaurantes com estilo austradicional que conhece bem o resliano, tem uma filial no Shopping Iguatemi. taurante”, afirma Carine Matos, Francês: O Chez Philippe, na Av. Independência, 1005, é ideal para quem gerente do local. Fundado em procura um ambiente tranquilo. 1989 por Therese Ghanem, o Al Indiano: Se você não come nenhum tipo de carne, o restaurante Mantra Nur criou raízes gaúchas nesses é uma boa pedida. Fica na Rua Santo Antônio, 372. quase 25 anos de funcionamento. Italiano: Diferente e inovador, o Al Dente mostra aos seus clientes, atraAtualmente quem comanda o esvés de uma vitrine, como as pastas estão sendo preparadas. O endereço paço é o filho de Therese, Cid Said. é R. Mata Bacelar, 210. Fugindo um pouco dos temJapão: Sakura, na Av. Túlio de Rose, 80, segue a tradição em restaurante peros exóticos, o Outback, no passado de pai para filho. Shopping Iguatemi, abre as portas Líbano: Al Nur, localizado na Av. Protásio Alves, 616, é um dos reprepara mostrar a tradição do interior sentantes da culinária árabe. Português: Para um bom jantar que lembre o sudeste da Europa, há a da Austrália. Com um ambiente Casa de Portugal na Av. Bento Gonçalves, 8333. que procura fazer o cliente se sentir em casa, a rede de restaurantes

A tradicional sorveteria de Porto Alegre Jóia completa 35 anos no coração da Cidade Baixa Leonardo Pujol

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a esquina da charmosa Rua da República com a José do Patrocínio, se encontra um dos lugares mais tradicionais de Porto Alegre, a Sorveteria Jóia. O começo da Jóia remonta ao ano de 1978, quando o empreendedor Osmar Corrêa resolveu investir em uma sorveteria. Associou-se ao amigo João Selau. Nos anos 80, o movimento era mediano, inclusive com diversas falências de sorveterias da região. Na década seguinte as coisas não andavam bem no estabelecimento dos dois amigos. Prestes a falir, em 1999 João comprou os outros 70 % da sociedade e resolveu aplicar o que tinha na Jóia. Tudo aconteceu em menos de um ano. De lá até 2003, a sorveteria abria às 10h e só fechava às 4h da manhã do outro dia.

Todo esse empenho fez com que Fernando Selau, filho de João, hoje com 34 anos, se dedicasse com afinco ao lado do pai para ajudá-lo. Em 2004, a sorveteria começou a se restabelecer e o horário foi mudado para o atual, de segunda a sábado das 12h à 0h e aos domingos e feriados das 12h às 23h. “O trabalho árduo, somado à vontade de crescer, fez da sorveteria o que é hoje”, afirma Fernando. O segredo para o sucesso, segundo ele, é a “generosidade” na hora de servir o cliente, dando uma boa quantidade de sorvete a cada pedido. Para o artista visual Jonathan Peres, 29 anos, “o preço e a localização ajudam a quem vive perto da área central de Porto Alegre”. Segundo ele, “não é o melhor sorvete, mas ainda assim é um lugar de encontro bom e barato”, resume. Já a empresária Jennyfer Pereira, 25 anos, diz que vai à Jóia porque lá encontra o que não conseguiu em nenhum outro lugar: “a

sorveteria tem o melhor sorvete de pistache que eu já comi”, afirma. Mesmo com essa certeza, ela acredita que o lugar poderia ser um pouco maior. Para Fernando, entretanto, o tamanho é adequado: “Se aglomerasse muita gente na sorveteria, eu correria o risco que muitos colegas comerciantes sofrem aqui perto, ou seja, o risco de confusões. Sei que muita gente vê um desconforto nisso, e eu entendo,

mas é a nossa política”, conta. Outra característica da casa é não trabalhar com buffet, como explica o gerente: “O perfil da Cidade Baixa não nos permite fazer um grande investimento. A galera quer comer muito e gastar pouco. Além do mais, se eu fizesse buffet de sorvete, faliria em um ano”. A ambientação da sorveteria é retrô, com uma máquina antiga de fazer sorvete no meio do estabelecimento. “O charme antigo

Se eu fizesse buffet de sorvete, faliria em um ano.” Fernando Selau, proprietário da Sorveteria Jóia

Equipe da Jóia, a sorveteria mais antiga da Cidade Baixa. Foto: Daniel Saucedo

tornou-se clássico e isso é um dos fatores da sorveteria ser o que é”, diz Fernando. O certo é que de todas as sorveterias que funcionaram nestes últimos anos na Cidade Baixa, a única que sobreviveu foi a Jóia, o que vale a visita. Só uma dica: coma rápido o sorvete, pois se não o fizer, ele vai virar uma meleca na sua mão. Ainda bem que tem pia lá para se lavar depois.


18  •  UNIPAUTAS • 2013/1

CULTURA Audiovisual

Situações do cotidiano em forma de humor A websérie que aborda o comportamento dos portoalegrenses já possui três milhões de views

Desde então, os seriados “virais” da internet são um sucesso. Só o primeiro vídeo, lançado em março do ano passado, em apenas cinco dias teve mais de 250 mil visualizações. Hoje, todos eles já Sara Munhoz somam mais de 3 milhões. Os vídeos, do diretor Marco aro o arreganho, Bah, Carvalho, tiveram como referênavacalhou, hein. É cia uma famosa conta do Twitter muita mão. Agora caiu chamada “Shit my dad Says”, de a ficha”. Se você é porto-alegrense Justin Halpern. Ele usava este ou vive na capital, certamente perfil para registrar todas as já conhece essas expressões, e o ”bobagens” que seu pai falava. que já era natural para os gaúchos Os twittes fizeram tanto sucesso de Porto Alegre acabou virando que Halpern assinou um contrauma sátira com a série “Coisas to com a Warner Channel e transque Porto Alegre fala”, lançada no formou isso tudo em um seriado, ano passado, a pedido do Grupo que levava o mesmo nome. “Na Bandeirantes, em comemoração ao época eu morava em Los Angeles aniversário de 240 anos da cidade. e presenciei tudo isso, inclusive

“P

Segundo vídeo da série Coisas que Porto Alegre Fala. Crédito: Reprodução

estava no set no dia em que rodaram o piloto do programa”, lembra Carvalho. Quando a Band chamou o diretor para fazer a campanha de aniversário, Carvalho levou a ideia para os roteiristas Maurício Oliveira e Eduardo Boldrini. Estes, a partir da referência, decidiram escrever os roteiros de Porto Alegre, visto que os vídeos eram uma febre no mundo inteiro. Segundo Carvalho, a proposta é fazer humor, fazer com que as pessoas riam dos próprios problemas. Fazer piada com azulzinho, com a prefeitura ou com fatos, de uma maneira boa e fácil de brincar.

Os assuntos são quase infinitos. “Temos muitas possibilidades. Damos prioridade a temas do momento. No caso do último, o trânsito, tinha a ver com o caos que está Porto Alegre”, comenta Boldrini. Já a criação é fácil e divertida de fazer. “A gente passa mais tempo rindo do que qualquer outra coisa. O mais legal é que as ideias vão se completando, um fala uma coisa e o outro já completa”, revela o porto-alegrense, que diz entender o bairrismo e o jeito que o gaúcho pensa. Para Cristiano Godinho, natural da capital e um dos atores da série, a simplicidade do roteiro

ajuda o trabalho: “Gravar os vídeos é a coisa mais natural do mundo. É muito comum a gente inserir palavras novas ou criar cenas diferentes, conforme tudo vai progredindo”, conta Godinho, que revela ser reconhecido nas ruas. A série tem previsão para novos vídeos, mas os temas ainda são mistério. Os fãs dos vídeos podem, agora, assistir ao vivo uma apresentação teatral da série. A peça Coisas que Porto Alegre Fala no Teatro tem como cenário o apartamento onde vivem as meninas, além de participações especiais e muita interação com o público.

Luz, Câmera... Porto Alegre está no cinema! as condições de trabalho dos técnicos deste mercado na cidade, além de contribuir para o crescimento econômico para que cada vez mais se profissionalize o setor audiovisual.

A capital do Rio Grande do Sul já serviu de cenário para diversos filmes, séries, novelas e propagandas que rodaram o Brasil e o mundo

Dificuldades

Carlos Redel

U

ma grande metrópole, com um trânsito intenso, centenas de milhares de pessoas circulando e se esbarrando pelas ruas, sem nem sequer olhar para o lado, barulhos e vozes dos mais variados tipos e volumes, correria e pressa: essas são algumas das situações cotidianas de Porto Alegre. Tais cenas são comuns para quase todos os gaúchos que frequentam a capital, principalmente os que andam pelo Centro, mas a cidade também possui outros espaços que servem de cenário até mesmo para filmes. Produções de alcance nacional, sendo que algumas fizeram sucesso também no exterior, foram ambientadas em Porto Alegre. Quem não se lembra de Lázaro Ramos,

Cena à beira do Guaíba em O Homem que Copiava, 2003. Foto: Casa de Cinema de POA

Leandra Leal, Pedro Cardoso e Luana Piovani andando pelas ruas da capital gaúcha nas cenas de O Homem que Copiava? O filme teve mais de 600 mil espectadores no país e recebeu diversos prêmios, sendo um dos maiores sucessos do cinema nacional dos anos 2000. Segundo Janaina Fischer, assistente de direção da Casa de Cinema de Porto Alegre, responsável por longas como O Homem que Copiava, “é muito legal poder olhar para a cidade em que

passamos todos os dias e procurar um lugar para filmar, um edifício que combine com a história que estamos querendo contar”. Para ela, conhecer a cidade onde vai filmar ajuda a escolher uma rua para o personagem atravessar enquanto pensa em alguém ou ainda a vista de uma janela que, combinada com a trilha sonora, vai levar o espectador para onde o diretor deseja. Em relação ao mercado audiovisual, Janaina acredita que filmar em Porto Alegre melhora

Para o crítico de cinema da Rádio Guaíba, Paulo Casa Nova, a qualidade dos filmes feitos em Porto Alegre tem aumentado, mais tecnicamente do que artisticamente: “Fazer filmes em Porto Alegre sempre será bom, seja por motivos econômicos ou culturais. Até pela nossa auto-estima e pela atração turística”. Entretanto, em sua opinião um dos empecilhos para que o cinema porto-alegrense avance ainda mais é a dificuldade de retenção de pessoal: “à medida que melhoram, os profissionais vão para o eixo RJ-SP”. Nesse aspecto, Janaina lembra da dificuldade das produções contarem com atores renomados, já que muitas vezes a agenda deles é mais complicada para fazer a filmagem fora desse eixo.

A CASA DE CINEMA Fundada em 1987 por um grupo de cineastas gaúchos que já trabalhavam em conjunto desde o início dos anos 80, a Casa de Cinema de Porto Alegre é responsável por inúmeros filmes e séries feitos em território gaúcho, como Sal de Prata, Houve uma vez dois verões, O Homem que copiava, Tolerância. Esses projetos são comercializados para todo o Brasil e, muitas vezes, conquistam também o mercado internacional. As produções da Casa de Cinema de Porto Alegre já arrecadaram mais de 250 prêmios em festivais nacionais e internacionais, transformando-a em referência do cinema brasileiro contemporâneo. Em setembro de 2011, houve uma alteração na composição da Casa. Os quatro sócios atuais são Ana Luiza Azevedo, Giba Assis Brasil, Jorge Furtado e Nora Goulart.


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Carnaval  CULTURA

Vitória Altaneira Os bastidores do surpreendente título da Bambas da Orgia no carnaval de Porto Alegre Liliane Pereira

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uando a última escola passa pelo Complexo Cultural do Porto Seco, para o público os desfiles se encerraram, mas para as escolas é um novo começo, pois iniciam ali os preparativos para o carnaval do ano seguinte. No caso da campeã de 2013, entretanto, não foi isso que aconteceu: a atual diretoria teve menos de seis meses para planejar o desfile vencedor. A escola Bambas da Orgia, fundada em 06 de maio de 1940, há 73 anos, passou por uma atípica eleição de presidência em abril de 2011. Eram dois candidatos e a vitória da Chapa 2 foi por apenas um voto. A Chapa 1 então recorreu na justiça para rever o resultado, e a determinação judicial se deu apenas em junho de 2012, decidindo que deveria haver nova eleição, anulando a anterior. O novo pleito ocorreu em assembleia realizada em 28 de julho de 2012, tendo como presidente eleito o candidato Cleomar Rosa, que teve sua vitória impugnada anteriormente. A posse da nova diretoria aconteceu só em agosto, restando apenas seis meses para organizar o trabalho de um ano inteiro. O passo inicial era definir o tema que a escola contaria na avenida. O presidente do conselho deliberativo Nilton Pereira lembra que a primeira tentativa era buscar um enredo que possibilitasse patrocínio, já que financeiramente a situação era difícil: “Como não foi possível, optamos por um enredo que falasse da águia, símbolo da escola”, recorda.

Devido às adversidades, as pretensões do presidente Cleomar eram humildes. Segundo ele, voltar entre as seis primeiras e participar do desfile das campeãs já seria uma conquista. “Claro que sonhar com o campeonato faz parte, mas nem imaginava que isso poderia ser possível nesse ano”, afirma. Segundo o temista Sérgio Peixoto, a intenção do tema era mobilizar e unir os componentes, pois todo esse processo eleitoral gerou divergências e afastamentos: “A meta de unir os bambistas começou a dar certo, visto que inclusive os integrantes da oposição passaram a ajudar nesse processo, deixando de lado as divergências presidenciais”. No dia do desfile, a escola foi a última a desfilar no Complexo Cultural do Porto Seco no primeiro dia. Na ocasião, o último carro alegórico já estava há poucos metros de cruzar a linha que marca o final do desfile quando quebrou. Pessoas que estavam apenas assistindo saíram de seus lugares para invadir a pista e ajudar a empurrá-lo, e os destaques que adornavam a alegoria desceram

aos poucos para torná-lo mais leve e facilitar a locomoção. Com o acidente, não havia mais nem a esperança de retornar no desfile das campeãs. Contudo, no dia da apuração das notas, conforme cada quesito de avaliação era revelado a surpresa tomava conta do rosto de quem acompanhava. Assim, com todas as adversidades, depois de seis anos sem vencer, a azul e branco se sagrou campeã do grupo especial. O resultado foi polêmico e causou revolta por parte dos dirigentes e torcedores de outras escolas. Entretanto, nenhum dos jurados responsáveis por avaliar o quesito evolução (que analisa o andamento da escola no todo) julgou necessário descontar pontos, já que o acidente não interferiu de maneira drástica no desfile, uma vez que atrás do carro em questão não havia mais componentes e não ocasionou espaços vazios na pista. Para o presidente da escola, foi a união dos bambistas que permitiu a vitória: “O campeonato era inesperado, mas a emoção de ver a azul e branco campeã é indescritível”.

Bambas da Orgia é uma das escolas mais tradicionais de POA. Foto: Leandro Osório

Nomes do Carnaval que não aparecem para o público Figurinista fala sobre o trabalho para que uma escola chegue na avenida Francine Silveira

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uando se fala em carnaval, as pessoas logo o associam ao verão e às festas. Não têm ideia, porém, que esse trabalho vai muito além dos primeiros meses do ano, quando ocorre o evento. Logo após o término dos festejos carnavalescos, ainda na noite do desfile das campeãs, os olhares já não são mais para o Complexo Cultural do Porto Seco, pois é ali que se inicia mais uma jornada rumo ao ano seguinte. As alegorias, fantasias e adereços são repensados e novamente produzidos de acordo com o tema da escola. “Assim que termina o carnaval nós já começamos a montar um novo projeto fazendo pequenas anotações e trabalho de pesquisa”, conta o figurinista Luciano Maia, há 22 anos atuando na área e atualmente na SBR Imperadores do Samba.

Para que parte das confecções sejam feitas, uma legião de homens e mulheres trabalha dentro dos barracões das escolas de samba. Quando chega próximo ao dia do desfile oficial, aumenta a demanda de trabalho, fazendo com que a equipe se reveze até durante a noite. Esforço que nem sempre esse esforço é reconhecido. Segundo Luciano, há muitos carnavalescos ou diretores de barracão que não dão o merecido valor a suas equipes, na maioria das vezes formadas por pessoas desempregadas e que gostam de carnaval: “Por mais que eu fizesse uma cabeça linda e maravilhosa meu nome nunca apareceria”, diz o figurinista, que faz questão que em seu atelier todos sejam chamados pelo nome por qualquer destaque da escola. Outro local que também respira carnaval 24 horas por dia é a quadra da escola. A da SBR Imperadores do Samba, por exemplo, tem projetos e eventos como festas e confraternizações o ano inteiro, além da bateria que começa os ensaios em abril.


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MÍDIA E TECNOLOGIA

Aplicativo facilita deslocamento na Capital

Mobbly já ultrapassou a marca dos 13 mil downloads e é o aplicativo mais avaliado positivamente no Sul do país na Google Play Katiuscia Couto

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plicativos para smartphones cada vez mais fazem parte do nosso dia a dia, e não poderia deixar ser diferente por aqui. Um desses aplicativos que conquistou a preferência dos gaúchos é o Moobly, inicialmente chamado de Porto Bus. O principal objetivo do aplicativo é oferecer uma solução simples, fácil e rápida para quando se quer ir de um lugar ao outro, seja de ônibus, táxi, trem ou até mesmo de bicicleta. A ideia surgiu do analista de sistemas Ederson Schmidt, morador de Cachoeira do Sul que encontrava dificuldade para se locomover toda vez que vinha à capital pela falta de informações dos transportes públicos em Porto Alegre. A partir da criação do Moobly, Ederson compartilhou com os amigos o app e descobriu outras pessoas com o mesmo problema. Decidiu, então, transformar essa ideia em negócio, investindo em estudos e palestras sobre empreendedorismo. Seu segundo passo foi procurar uma equipe qualificada para agregar ao seu negócio. Entre a equipe, está o sócio e estudante de Publicidade e Propaganda Bruno Meira, 23 anos, que cuida

da parte de estratégias de negócios e mar-keting da empresa. É Bruno quem afirma que o aplicativo é grátis e continuará sendo: “Queremos ser um serviço para o usuário e para a cidade. Nosso modelo de negócios envolve publicidade criativa, sem poluir o app”, afirma. Não faz parte dos planos da Moobly uma nova criação, mas sim tornar-se um guia completo de mobilidade urbana: “Nossa ideia não é sermos uma empresa de desenvolvimento, mas sim o Moobly. Ainda temos muito que crescer e melhorar no app, e o usuário é quem diz o que devemos fazer”, relata Bruno. Segundo o sócio, esta experiência está sendo de grande crescimento pessoal e profissional: “É muito gratificante ter o retorno dos usuários agradecendo pelo aplicativo ter ajudado no dia a dia, sem contar quando pessoas brilhantes do mercado e também investidores dizem que o negócio tem muito potencial e realmente se interessam pelo projeto, querendo saber mais e ter reuniões para aplicação em outras cidades, como já aconteceu diversas vezes. É demais”, conclui. Hoje o Moobly está entre os 10 aplicativos mais baixados no Google Play, ao lado dos aplicativos O Bairrista, Bike Poa, EPTC Radares Móveis, Coisas que Porto Alegre fala, Rodoviária Porto Alegre, Reivindique Porto Alegre, Porto Alegre Mobile, Tarifador de Corrida e Frases e ditos gaúchos. Segundo o site da empresa, em breve serão lançadas versões para iOS e Windows Phone.

Site do aplicativo na internet. Foto: Reprodução

Uso excessivo de smartphones pode causar dependência, alerta psicóloga Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria IDC, a venda de smartphones cresceu 51% só no primeiro trimestre de 2013. Só que se o uso constante das mídias digitais ajudam muito no dia a dia, elas também podem viciar. De acordo com a coordenadora do curso de Psicologia da UniRitter Herica Dias, o tema sobre o uso excessivo da internet faz parte do V Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, utilizado por Psicólogos e Psiquiatras de todo o mundo. Entretanto, não é só a internet que vicia. Muitos adolescentes estão viciados em smartphones

Jornalismo contracorrente Os olhares do jornalismo independente da Capital Letícia Bonato

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ndependente ou alternativo, a definição é o que menos importa. Os movimentos culturais porto-alegrenses, o viés crítico da política atual e outras abordagens pouco exploradas pela grande mídia são algumas das características de jornais como Jornalismo B, Tabaré, Opa! e da revista Bastião. Os periódicos são distribuídos gratuitamente em centros culturais, faculdades, bares, e, aos poucos, têm conquistado mais leitores

e estão aceitando assinaturas. Para o jornalista Jimmy Azevedo, repórter de rádio há doze anos e que foi um dos coeditores do jornal mensal Tabaré, o trabalho desenvolvido em uma produção alternativa traz a possibilidade de o repórter exercer aquilo que gosta com mais criatividade: “é trabalhar com os aspectos literários da pauta, as nuances humanas, fazendo com que a reportagem ou o texto se tornem parte do espaço e atemporais”. Para ele, o jornalismo alternativo é marginal: “chamo-o de marginalismo. É como abrir outras perspectivas de reflexão no leitor e em si próprio”. O Jornalismo B, oriundo de

um trabalho acadêmico feito na Fabico (UFRGS) em 2007, é um blog que possui sua edição impressa há três anos. Segundo o editor Alexandre Haubrich, a função que o jornal exerce é a de desconstrução do discurso da mídia dominante a favor da democratização da informação: “enquanto o jornalismo dominante depende do capital, das grandes corporações, da desregulação do setor e das verbas estatais, o jornalismo contra-hegemônico depende do leitor, a quem serve”. Conhecido como um dos precursores do jornalismo alternativo gaúcho, Elmar Bones da Costa afirma que o trabalho de todo jornalista depende de quem o

e redes sociais, alguns deles precisando até mesmo de tratamento psiquiátrico. Estudos da Cisco afirmam que 48% dos brasileiros acessam as redes sociais antes mesmo de levantar para o café da manhã. Gabriela Gama, 25 anos, se diz uma viciada, mas afirma não precisar de tratamento: “Quando acordo já pego o celular pra ver se alguém me deixou recado, mas é mais uma curiosidade ou ansiedade”, declara. Outro ponto em questão é o diagnóstico de ansiedade e depressão causado pelo uso excessivo do smartphone. De acordo

com a professora Herica Dias, já é possível encontrar registros destas doenças, mas não é possível afirmar, se a ansiedade ou a depressão iniciou primeiro: “Às vezes a própria pessoa se dá conta de que se ela fica muito tempo sem olhar o celular ou sem acessar a internet, ela já está ansiosa”, acrescenta. A pergunta que fica é se nós não estaríamos nos tornando reféns dessa tecnologia. A própria Gabriela afirma que não ficaria nem um dia sem celular: “Meu celular quebrou e eu quase morri. No outro dia fui comprar um novo”, relata.

O jornalismo contrahegemônico depende do leitor, a quem serve.” Alexandre Haubrich, editor do Jornalismo B

lê. “Minha preocupação sempre Nosso mercado é um paradoxo, foi com o público, nós trabalhá- cada vez mais encolhe e devemos vamos para o leitor”, diz, comen- romper com isso”. tando também sobre sua atuaA fidelidade com os leitores, ção na década de 70 através do segundo Alexandre Haubrich, é Coojornal. Para ele, “o jornalista construída através da constâné detentor da fé pública, essa é cia e da qualidade do trabalho. uma profissão que depende de “Temos a vantagem da maior que as pessoas aceitem que fale- aproximação com a realidade, e mos de suas vidas”. Bones alerta para mantermos essa qualidade ainda para a influência dos gran- precisamos estar sempre disposdes grupos de comunicação na tos a ouvir e a sentir as respostas formação de opinião: “estamos que recebemos. Abrir mão disso é em uma fase de transição para a abrir mão de ser um instrumento democratização da informação. de transformação”, conclui.


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ESPORTE

Prática de atividades físicas requer preparo e cuidados Pessoas de todas as idades frequentam os parques de Porto Alegre buscando prática de exercícios físicos e diversão Jader Basili

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orto Alegre é uma cidade repleta de parques, nos quais pode-se encontrar muitas pessoas praticando esportes e exercícios físicos. Além disso, e diferentemente de muitas das cidades do Brasil, a capital dos gaúchos oferece um grande número de quadras esportivas abertas e ambientes aptos a caminhadas e passeios de bicicleta, o que também aumenta a preocupação com o risco de lesões, já que muitaspessoas não preparadas para esses esforços físicos. O coordenador do curso de Fisioterapia da Uniritter, Fabricio Duarte, afirma que um dos fatores mais comuns para

as lesões é o despreparo físico: “Um corpo mal preparado para a prática do esporte tem a tendência de se lesionar com mais facilidade”. Segundo o especialista, as lesões mais comuns são lesão muscular, que é um trauma indireto em indivíduos que estão mal aquecidos, contusões, que são choques, batidas ou quedas mais bruscas, e entorses, que ocorrem em modalidades de contato físico ou por fadiga do corpo. Quem não está acostumado à pratica de esforços físicos com regularidade está mais propenso a lesões e possível mal estar, pois seu corpo não está preparado para suportar um grande esforço. O risco aumenta entre pessoas de idade, vistas frequentemente fazendo caminhadas no Parque da Redenção ou no Marinha do Brasil, como a aposentada Julia do Carmo, de 68 anos: “Estou quase sempre fora da cidade, mas sempre que possível venho dar uma caminhada, ver o pôr do sol. Nunca

Parque da Redenção é um dos mais procurados para prática de corridas e caminhadas. Crédito: Brayan Martins

tive nenhum problema com saúde por causa dessas caminhadas, até pelo contrário acho que isso me ajuda até a respirar melhor”, afirma. Já entre os jovens uma atividade comum é o slackline.

Trata-se de uma corda elástica presa entre duas árvores, o que faz com que haja a possibilidade de manobras aéreas sob a corda. A modalidade, porém, traz muitos riscos de lesões a quem não tem o preparo adequado: “Já caí

diversas vezes, é um esporte de pura coordenação. E já tive uma torção no pulso e no tornozelo, foi bem punk. Mas é o que a gente gosta, voltei assim que fiquei melhor”, conta Fabiano Russo, 23 anos, praticante do slackline.

O novo jeito de torcer dos gaúchos Notícias sobre violência nas organizadas reacende discussão sobre a importância dessas torcidas para a dupla Grenal Rodrigo Ramos

S

egundo dados do IBGE de 2010, o futebol ainda é a primeira alternativa de lazer para o brasileiro, seguido pelo cinema. O próprio conhecimento do Brasil, já alertava o escritor paraibano José Lins do Rego, passa pelo futebol. E conhecer o futebol é conhecer também as torcidas, parte fundamental do esporte mais popular do país. Entretanto, com a construção das arenas e a aproximação da Copa do Mundo, uma série de questões surge no horizonte das torcidas. Para o presidente da Frente Nacional dos Torcedores (FNT), João Hermínio Marques, “atualmente as torcidas são o pouco que resta na batalha contra a elitização e a higienização social

nos estádios brasileiros”. Conselheiro do Grêmio e frequentador da Geral desde 2002, Carlinhos Caloghero entende que os ingressos aumentaram e o direito de estar nas arquibancadas diminuiu. A Geral do Grêmio, surgida em 2001, mudou a cultura torcedora no Rio Grande do Sul. Caloghero lembra que a influência castelhana já existia nos anos 90 dentro da Torcida Jovem. No entanto, ainda predominava o estilo carioca: “A Geral é a antítese desse modelo”, afirma. Em 2004, surge a Popular do Inter, trocando músicas baianas por cânticos adaptados do rock n’ roll, além de elementos de torcidas latinas. Em pouco tempo, tanto Geral quanto Popular superaram as demais torcidas. O crescimento de ambas ocorreu pela valorização dos ídolos, apoio incondicional ao clube e o poder de associação, aponta Marques. “As barras trouxeram a classe média e média-alta para o mundo das torcidas. Nas uniformizadas a origem estava na periferia”, afirma

o presidente da FNT. Na Arena, a atuação da Geral, com a tradicional avalanche (quando os torcedores no momento do gol correm em direção à mureta de contenção) ficou comprometida. A saudade desse movimento nos tempos do estádio Olímpico, que virou marca da torcida gremista, é grande entre parte dos gremistas. O comandante do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar, Tenente Coronel Kléber Rodrigues Goulart, é contra a comemoração daquela forma. “É um movimento perigoso, escadas e degraus não foram feitos para correr”, ressalta. Integrante da Popular do Inter, Robinson “Cazuza” avalia que o futebol perde sua essência sem a

festa das torcidas: “a Brigada tem de se preocupar em combater a violência, não a festa”. A reforma do Beira-Rio prevê que o estádio terá 56 mil assentos, sendo que cinco mil dessas cadeiras serão retráteis. Para alguns, a imprensa também contribui para o sentimento de medo nos chamados ‘torcedores comuns’. No livro Para Entender a Violência no Futebol (Editora Benvirá), o sociólogo Maurício Murad destaca que “a mídia sensacionaliza ocorrências secundárias”. Para ele, isso ocorre também quando a mídia oculta o fato de que a violência é no futebol e não do futebol. Guiado por exemplos do exterior, o sociólogo aponta como caminhos para ajudar a pacificar o futebol

A violência é no futebol e não do futebol.” Maurício Murad, autor do livro Para Entender a Violência no Futebol

e a própria sociedade o trinômio repressão, prevenção e educação. História A primeira torcida organizada do Brasil foi a Torcida Uniformizada do São Paulo, fundada em 1940. Também no início dos anos 40, Vicente Rao, Rei Momo do Carnaval de Porto Alegre, criou o Departamento de Propaganda e Cooperação, que instituiu charangas e festa com papéis e bandeiras nos jogos do Inter. Salim Nigri, falecido torcedor símbolo do Grêmio, foi o primeiro a organizar excursões no Estado. E foi daí que surgiu a frase “com o Grêmio, onde o Grêmio estiver”, que mais tarde inspirou Lupicínio Rodrigues na composição do hino gremista. No Rio Grande do Sul, a primeira uniformizada foi a Camisa 12, fundada em 12 de outubro de 1969 e até hoje presente nos estádios. Entre as uniformizadas em atividade no Grêmio, a Torcida Jovem é a mais antiga, de 1977.


22  •  UNIPAUTAS • 2013/1

ESPORTE  Futebol

Centenário movido pela paixão Fundado em 1913, o Esporte Clube São José completa um século neste ano Wagner Miranda

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ouca torcida, mas apaixonada. Não é reconhecido mundialmente, no entanto é considerado o clube mais simpático do estado. Este é o São José de Porto Alegre, carinhosamente chamado de Zequinha, que em 2013 completa 100 anos de história. Presidente do clube, Flávio Pinheiro de Abreu, 57, comenta que estar na presidência do São José no ano do centenário era um desejo que sua família mantinha: “Meu pai está com 86 anos, acho que estou realizando o sonho dele”. Para o presidente, o clube se mantém em atividade durante tanto tempo pelo amor que o São José recebe dos seus adeptos: “O Zequinha não tem grande torcida, mas tem 200, 300 mil simpatizantes, colorados e gremistas, que gostam do São José e vêm aqui assistir aos jogos. Foi isso que manteve o clube até agora”. Assessor da diretoria, Manoel Mario Machado da Silva destaca a relação que o clube tem com os seus admiradores: “Nossa torcida

é pequena, a verdade é que se divide entre torcedores da dupla grenal, por isso o São José é considerado o clube mais simpático de Porto Alegre”. Torcedor fanático e conselheiro, Nilo Sérgio, 53, exalta a importância que o Esporte Clube São José tem em sua vida: “Frequento o clube, sou sócio e estou sempre dando força para o Zequinha”. Uma das características do clube é o investimento nas categorias de base. “O bom de formar um atleta é que não precisamos gastar e depois de um tempo podemos até vender, arrecadando verba”, destaca Manoel Machado da Silva. Do Zequinha saíram jogadores como Foguinho, que surgiu em 1920, Ênio Andrade, que começou carreira no clube em 1949 e, mais recentemente, Carlos Miguel, que saiu das categorias de base para atuar pelo Grêmio. Copa Centenário Um título, pelo menos, já veio: no começo do ano, o clube disputou e venceu a Copa Centenário contra outros três clubes gaúchos que completam 100 anos de história neste ano (Cruzeiro de POA, Santa Cruz e Juventude). Na final, disputada em seu estádio, o Zequinha venceu os caxienses pelo placar de 1 a 0.

Passo D’Areia, estádio próprio do São José, é um dos orgulhos do clube. Foto: Wagner Miranda

O Zequinha tem 200, 300 mil simpatizantes, colorados e gremistas, que gostam do São José e vêm assistir aos jogos. Foi isso que manteve o clube até agora.” Flávio Pinheiro de Abreu, presidente do São José

Muito além do futebol Os desafios dos jogadores das categorias de base ultrapassam as quatro linhas do campo Anderson Mello

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o ver atletas como os gaúchos Ronaldinho, Fernando e Rafael Sóbis, poucos imaginam as dificuldades para chegar até a camiseta titular da dupla Gre-Nal. Longe dos holofotes, os jovens jogadores das categorias de base deixam tudo para trás na busca do seleto estrelato do mundo da bola, mas muitos precisam deixar o sonho no meio do caminho. O coordenador das categorias de base do Grêmio, Diego Cabrera, que já teve passagem por diversos clubes, afirma que trabalhar com sonhos envolve muitos fatores. Conforme Cabrera, é necessário ter habilidades suficientes para desempenhar o bom futebol, comprometimento com entrega total e a facilidade de abdicar de

muitas coisas: “esse é um merOs que seguem no caminho do cado muito competitivo, pois há sonho, como a jovem promessa muitos meninos querendo ser jo- do Grêmio, Arthur Melo, de 16 gador de futebol”, destaca anos, relatam a importância do Segundo a psicóloga do trico- acompanhamento psicológico: lor gaúcho, Fernanda Faggiani, “Por mais que eu escutasse os consão necessários quatro elemen- selhos de outras pessoas, ouvir tos para formação do atleta: téc- de uma profissional desta área é nico, tático, físico e psicológico. bem diferente. Ela sabia realmen“Nós trabalhamos, paralelamente te o que eu estava sentindo e me com as comissões técnicas, para ajudava bastante”, afirma Melo. que os quatro elementos andem A psicóloga do Internacional, juntos, assim o atleta sente-se Evanea Scopel, enfatiza ainda a preparado para enfrentar os trei- importância do apoio dado pelo nos e jogos”, ressalta. clube após o desligamento de Marcelo Dantas, 19 anos, no um atleta: “Dentre as atividades momento sem clube, mas com está prevista a entrevista de despassagem pelo Internacional, ligamento e o acompanhamento diz que sua maior dificuldade ao por dois meses após a saída dos deixar Goiânia, aos 12 anos, foi atletas dispensados pelo Clube. abrir mão de sua infância e ter de Atualmente, essa atividade se ficar longe da família: “Nos 15 pri- dá de maneira informal, quando meiros dias eu chorava quando o atleta procura espontaneamenme deitava. Só que eu via como te o serviço”, informa. oportunidade única, eu aguenVenâncio Vieira, 17 anos, agotava e sabia que muitos queriam ra no Red Bull de São Paulo, é ter a coragem que tive, de abrir um dos jovens que teve de lidar mão de tudo e tão novo e sozi- com uma que teve de lidar com nho”, relata. uma dispensa: “A despedida lá no

Grêmio foi difícil, fiz vários amigos e foi a primeira vez que fui dispensado. Já operei o joelho e fiquei bastante tempo sem jogar, passava muita coisa na minha cabeça, surgiram dúvidas se ia dar certo ou não”, declara. Para ele, assumir mais responsabilidades que os garotos da sua idade é algo que auxilia em sua

formação como jogador, mas ainda assim sente o peso de ter que renunciar um pouco de sua adolescência: “hoje me considero maduro, mas nem sempre fui assim. Perdemos muito da adolescência: festas, formaturas, viagens e etc. Achava ruim ver meus amigos se reunirem, sem eu poder estar junto”, revela.

Grenal de juniores no Gauchão Sub-20 da categoria. Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA


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Futebol  ESPORTE

Do amadorismo à modernidade Baixada, Olímpico e Arena: a transição segundo gremistas históricos Jéssica Maldonado

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m dezembro do ano passado foi inaugurada a novíssima Arena do Grêmio, o primeiro dos dois estádios com padrão Fifa que Porto Alegre terá até a Copa de 2014.Essa história, porém, começou há mais de cem anos, quando os estádios eram como o futebol: amadores. Em 1904, menos de um ano após a fundação do Grêmio FootBall Porto Alegrense, os então amadores do futebol conseguiram um campo para realizar seus “matchs”, a Baixada dos Moinhos de Vento, que sediou jogos do Grêmio por exatos 50 anos. Como frequentador da Baixada desde seus 10 anos, Hélio Dourado, ex-presidente do Grêmio, lembra que viveu jogos memoráveis na antiga casa gremista: “atravessava toda a avenida Independência para chegar à Baixada, era um prazer imenso pra mim”. Entre 1948 e 1954, durante a presidência de Saturnino Vanzelotti, o Grêmio viveu grandes transformações com a construção do Olímpico, que foi inaugurado em 19 de setembro de 1954. Dona Ema Coelho de Souza, diretora do Memorial do Grêmio, guarda muitas lembranças do Olímpico: “no dia da inauguração da nova casa do Grêmio eu estava, foi ali que meu amor pelo clube surgiu. Nunca tinha ido a um estádio”. Para ela, que não conheceu a Baixada, era um grande momento para o Grêmio. Com

um namorado, assistiu a vitória do seu clube do coração por 2 a 0 diante do Nacional do Uruguai. Segundo Hélio Dourado, quando surgiu o Olímpico o Grêmio passou a viver uma outra realidade: “A Baixada era um estádio que não tinha mais condições de receber a torcida, era um campo pequeno e com uma estrutura antiga. O Grêmio precisa crescer e cresceu muito a partir dali”. O Olímpico Monumental Com o passar do tempo, entretanto, o Olímpico já não era mais suficiente para comportar a torcida. Foi então que, em 1976, Hélio Dourado assumiu a presidência Inaugurado em 1954, Estádio Olímpico foi palco das grandes conquistas tricolores. Crédito: Brayan Martins do Grêmio e decidiu colocar o clube num outro patamar: monumental. “Quando assumi a presidência do Grêmio, peguei um problema sério, o clube tinha muitas dívidas e estava sem dinheiro. Foi Jéssica Rodrigues Grêmio, a Arena é o estádio mais A Arena tem reserva de 60 luentão que mobilizamos a torcida completo que ele conhece em gares para pessoas com cadeiras em prol de uma campanha de citermos de acessibilidade: “Tem de rodas e respectivos acompamento para ampliar o Olímpico”, Copa do Mundo se aproxi- rampa para todos os lados e ele- nhantes, sem obstáculos físicos diz o ex-presidente. ma e alguns estádios para a vadores que facilitam o acesso em no topo da arquibancada inferior, Em 21 de junho de 1980, o es- competição já estão em fase de todos os níveis. Com certeza não além dos acessos por rampas e tádio Olímpico renasceu. Ainda acabamento. Os últimos detalhes nos sentiremos incapazes de ir a elevadores. Além disso, conta maior, foi a partir da inauguração estão sendo feitos e a Fifa está em qualquer canto da casa tricolor”, com lugares para obesos e pesdo Olímpico Monumental que o cima dos que ainda apresentam ressalta. soas com mobilidade reduzida. Grêmio alçou voos maiores, con- atrasos. Pouco tem se falado, poquistando títulos regionais, na- rém, sobre como os portadores de cionais e internacionais. necessidades especiais vão acomEm 2010, o Olímpico passou a panhar os jogos nas Arenas. viver um momento de despedida, Também nesse aspecto o país pois tomava forma a construção se adequou ao nível de exigência da Arena. Dona Ema, entretanto, da FIFA e implantou um sistema ainda não assimilou que em al- de normas criado pela entidade. guns meses o Olímpico não vai A Arena do Grêmio, mesmo não existir: “sabemos que vamos per- participando da competição, prioder um ente querido que jamais rizou a acessibilidade. gostaríamos de perder. As granDe acordo com Osório Martins, des vitórias do Olímpico jamais atuante pela causa da acessiserão esquecidas”, afirma sem bilidade e presidente da TAAG Área reservada a cadeirantes na Arena. Foto: Magda Perez segurar as lágrimas. – Torcida Acessível Arena do

Acessibilidade para todos

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O Novo Beira-Rio e a estrutura para a Copa As modificações do estádio e o que isso pode gerar de benefícios para o clube Anderson Furtado

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Estádio José Pinheiro Borda, também conhecido como Gigante da Beira-Rio, está em obras para a Copa do Mundo de 2014. O projeto do novo Beira-Rio foi idealizado por três colorados, sócios da empresa Hype Studio Arquitetura, Fernando Balvedi, Gabriel Garcia e Maurício Santos. Vermelhos de coração,

começaram a formular o projeto em novembro de 2006. O plano foi apresentado para o então presidente Vitorio Píffero em abril no ano seguinte, e logo foi aprovado. Entre novembro de 2007 e abril de 2008, houve uma grande reformulação e atualização para chegar ao projeto final, que envolve a construtora Andrade Gutierrez. Diana Raquel de Oliveira, vice-presidente eleita do clube e uma das responsáveis por responder pela obra e fazer o meio-campo com a construtora, afirma que o projeto foi orçado em R$ 330

milhões, sendo R$ 235 milhões de financiamento federal. “O Clube entrou com uma parte dos recursos (R$ 26 milhões) para amortização dos custos”, diz. O Gigante Para Sempre se adaptará aos mais recentes padrões internacionais do futebol, com um complexo esportivo sustentável. Segundo Diana, “o clube espera arrecadar entre R$ 200 e R$ 400 milhões, valor estipulado durante os 20 anos de parceria”. Essas receitas seriam geradas através da arquibancada, museu, exploração imobiliária, centro de eventos, lojas,

visitas, suítes, restaurantes, entre outros. A torcida também está empolgada com o novo estádio. “A reforma do Beira-Rio vai com certeza ser muito boa economicamente

para o clube, mas como torcedor e pelo que vi do projeto, o que mais gostei é do conforto da arquibancada para o torcedor”, diz Nathanael de Souza, torcedor colorado.

O clube espera arrecadar entre R$ 200 e R$ 400 milhões, valor estipulado durante os 20 anos de parceria.” Diana Raquel de Oliveira, vice-presidente do Internacional


24  •  UNIPAUTAS • 2013/1

ESPORTE Skate

Skate em alta na capital dos gaúchos Guilherme Gottardi

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inal de tarde de um Domingo ensolarado, o local escolhido para o passeio de muitas pessoas é o Parque Marinha do Brasil. Por lá, junto a um lindo cenário natural, vemos inúmeros adeptos do skate, entre familiares e amigos que acompanham os amantes desta prática esportiva na pista ali localizada. Porto Alegre tem uma grande variedade de pistas de skate. A pista construída em meados dos anos 70 é a maior “Snake Run” (pista de velocidade em curvas) da América, e por isso a Capital é considerada por skatistas como um dos melhores lugares do mundo para a prática do skate “Surf Style”. A principal modalidade espalhada pelo planeta ainda é o street (skate de rua). Com o maior número de adeptos no mundo, ela consiste no uso de obstáculos encontrados na cidade, como corrimãos, muretas e escadas, ou nos skateparks (pistas de skate).

O ponto de encontro dos “streeteiros” na capital é a pista do IAPI, localizada no bairro Higienópolis (Zona Norte). Esta é uma das mais importantes pistas do Brasil, por onde já passaram vários skatistas profissionais conhecidos no cenário internacional, como o porto alegrense Luan de Oliveira. Para os praticantes, o skate é mais do que esporte: “conheci grandes amigos através do skate, ele me traz foco e dedicação”, diz Guilherme Medaglia, de 16 anos.

Skatista fazendo uma manobra em parque da capital. Foto de Brayan Martins

Ânderson Henrique Ferreira Aires

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Confira a íntegra dessas matérias no blog do Unipautas http://unipautas.uniritter.edu.br

Street, o skate de rua, é a modalidade mais popular em todo o mundo.  (foto de Brayan Martins)

ão há duvidas que Porto Alegre é uma das capitais do skate, afinal é a cidade de um dos maiores ídolos do esporte, Luan Oliveira, medalha de prata na edição dos X Games realizada no mês de abril, em Foz do Iguaçu. Talvez por esse motivo nos últimos anos a capital presenciou um significativo aumento de adeptos à moda skate, alguns atraídos pela vontade de praticar o esporte, outros pelo simples fato de a modalidade estar na moda. O gerente da loja Matriz Skate Shop, Bruno Dal Pozzolo, 35 anos, acredita que a ação desses simpatizantes do skate, que procuram a loja apenas para buscar um vestuário que está na moda, é valida. “Esse consumo ajuda o esporte, as grandes marcas do segmento lançam mais produtos para variados gostos e isso injeta dinheiro no skate”, afirma Dal Pozzolo. Já para alguns skatistas mais antigos esse público é percebido

como “modinha”: “da mesma forma que eles acrescentam ao skate de maneira financeira, eles também o atrapalham, pois não precisamos apenas de dinheiro, mas também de atletas de alto nível que vivam o skate”, afirma Giovani Ricardo, 25 anos, skatista e vendedor. Para Ricardo, que anda de skate desde os 13, o skate precisa de pessoas que o representem, mas infelizmente a maior parte dos novos adeptos do skate são pessoas que só vão no embalo do momento, aproveitando o fato de ele estar em alta. “Essas pessoas que veem no esporte apenas uma maneira de se inserir em um grupo, são pessoas sem identidade”, completa o vendedor. Outro aspecto apontado como negativo pelo crescimento acima da média de adeptos ao esporte é o uso das pistas: “hoje é praticamente impossível andar de skate de maneira tranquila nas pistas, devido ao aglomeramento de praticantes.”, lembra Rafael Albuquerque, 25 anos, praticante de skate desde a infância.


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