NOVA CULTURA #12

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“A Luta Camponesa no Brasil”

Após as diferentes classes e grupos sociais no campo, devemos nos deter na análise das diferentes formas de lutas de classes que se desenvolvem neste meio. Ocupações de terras, construção de acampamentos, retomadas e autodemarcações: Os latifúndios constituem a evidência mais escancarada das sobrevivências feudais no Brasil. Segundo um censo realizado pelo INCRA no ano de 2013, mais de 70% da área das propriedades rurais de mais de mil hectares no Brasil estão improdutivas. Levando-se em conta a quantidade de propriedades, haveriam, segundo esse censo, cerca de 60 mil propriedades latifundiárias improdutivas ou subutilizadas, somando ao todo uma área de cerca de 228 milhões de hectares, ou cerca de 26% do território nacional. Se, por um lado, o meio rural brasileiro comporta um máximo de 60 mil riquíssimos barões, donos de terras cujas extensões ultrapassam a extensão até mesmo de alguns dos maiores países do mundo, por outro, segundo dados do INCRA, há em torno de 5 milhões de famílias camponesas sem-terra, vivendo sob as miseráveis e atrasadas condições do feudalismo e do semifeudalismo, sendo que algumas dessas famílias camponesas sem nenhuma terra (cerca de 120 mil famílias) estão acampadas sobre as terras latifundiárias, cultivando-as sob condições bastante precárias. Soma-se a este enorme contingente de camponeses sem-terra igualmente os camponeses proprietários ou semiproprietários, donos de terras em quantidades insuficientes para o sustento de suas respectivas famílias, e também os trabalhadores assalariados rurais que não possuem terra. O antagonismo entre o monopólio da terra por uma nobreza fundiária e a existência de dezenas de milhões de camponeses e trabalhadores brasileiros sem-terra ou com pouca terra que querem a terra para produzir e morar engendra a forma de luta que consiste na ocupação destes latifúndios, por parte dos camponeses e trabalhadores, para cultivá-los e eventualmente tornarem-se proprietários destas terras que cultivam. Trata-se da forma mais radicalizada de luta pela terra, pois pressupõe, dada a eventual vitória do campesinato sobre os senhores de terras, a conquista completa da propriedade sobre a terra por parte daquele. Apesar das tentativas do oportunismo de sabotar as ocupações de latifúndios e da intensificação da repressão fascista no campo (que atua mais facilmente devido ao papel nefasto do oportunismo), a miséria, a pobreza, a crise e a existência das piores formas de exploração sobre o povo geram terreno propício para a ocupação dos latifúndios, que devem ser retalhados pelo movimento camponês e entregue gratuitamente aos que queiram cultivá-los. Os grandes latifundiários respondem às ocupações de terras por meio do terror fascista, incêndios de casas e roçados, cobranças forçadas de arrendamentos ou tributos, torturas, espancamentos, ameaças de mortes, tentativas de assassinatos e até mesmo chacinas e assassinatos de lideranças populares. A chacina ocorrida no ano passado em Pau D’Arco (PA), que levou ao martírio de dez camponeses sem-terra que ocuparam o latifúndio Santa Lúcia, é a comprovação cabal disto. Os camponeses sem-terra que ocupam os latifúndios acabam com frequência expulsos dos mesmos por parte de pistoleiros, paramilitares e da polícia, o que acaba por levar os primeiros a realizarem ações de retomada das terras das quais foram expulsos, voltando a cultivá-las. Na história da luta camponesa, podemos encontrar casos de latifúndios que foram ocupados e reocupados por camponeses por mais de dez vezes, com as lutas pela conquista da terra estendendo-se até mesmo por algumas décadas. A violência reacionária dos latifundiários contra o campesinato e os trabalhadores acaba por estender-se também às minorias nacionais que, expulsas de seus territórios tradicionais, são segregadas pelo Estado reacionário e pelos fazendeiros em guetos e “reservas” superpovoadas que correspondem a parcelas minúsculas de seu território originário, que por regra acaba coberto por fazendas de gado, plantações de cana de açúcar ou milho e soja transgênicos. Os anos de violência e expropriação compelem as minorias nacionais a rechaçarem as ilusões quanto às falsas promessas de “demarcação de terras indígenas” por parte do velho Estado brasileiro e demarcam seu território originário por suas próprias forças. As lutas das minorias nacionais pela autodemarcação de seus respectivos territórios têm assumido grandes proporções no Cone Sul do Mato Grosso do Sul. Lutas contra o pagamento de tributos: Na condição de camponeses sem-terra ou com pouca terra, a maioria destes brasileiros não têm outra alternativa que não a de cultivar terras

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