Revista Universidade | nº 08

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Lugar de gente é na sociedade”. É o que defende a professora Maria das Graças Carvalho, do Centro de Educação Física e Desportos da Ufes (CEFD), principalmente quanto à necessidade de inserção social das pessoas com deficiências. Entretanto, a professora declara que essa mesma sociedade ainda tem muita dificuldade em aceitar as diferenças e especificidades de cada indivíduo e conviver com elas. Além disso, o Estado, que deveria desenvolver políticas para garantir os direitos de todos os cidadãos, vem se mostrando ineficiente nessa tarefa. “Desde a década de 1950, o Estado negligencia a sua responsabilidade no que se refere aos direitos sociais de todos, principalmente dos mais necessitados”, afirma a professora. Dessa forma, o trabalho desenvolvido no Laefa, por meio do projeto de extensão Práticas Pedagógicas de Educação Física Adaptada para Pessoas com Deficiência e seus Familiares, surge como uma alternativa de enfrentamento ao preconceito, ao isolamento e às rotulações vivenciados por eles no cotidiano, e também em virtude da falta de opções de espaços de cultura, de esporte e de lazer para esses indivíduos. Iniciado em 1995, o projeto atende cerca de 120 pessoas, em cinco ações, cada uma voltada para um segmento específico. Com as crianças, são desenvolvidas atividades de Ginástica Infantil, além das realizadas na Brinquedoteca. Para o grupo com deficiência intelectual e autismo, são oferecidas práticas corporais relacionadas à cultura jovem, que favorecem o desenvolvimento da autonomia e dos processos de emancipação, como a capacidade de fazer as próprias escolhas. Já para o segmento com baixa visão e cegueira, público mais idoso, são oferecidas atividades que visam minimizar as perdas funcionais ocasionadas pela idade e pela condição visual, tendo sempre foco na autonomia e qualidade de vida. Além das pessoas com deficiências, no Laefa também são atendidos os cuidadores e acompanhantes com a ação “Cuidadores que dançam”. Segundo a professora Maria das Graças, o projeto só é possível devido ao envolvimento de uma equipe de cerca de 60 pessoas, entre professores, bolsistas e voluntários – estudantes do bacharelado, da licenciatura e da pós-graduação e egressos, tanto do CEFD, quanto de áreas afins – que têm nas ações do Laefa um campo de prática para atividades de ensino, pesquisa e extensão. Para o professor José Francisco Chicon,

coordenador do projeto desde 2000, essa experiência vem permitindo aos envolvidos o desenvolvimento de valores como respeito, autoconfiança, cuidado de si e cooperação, constituindo-se, assim, num instrumento de empoderamento social. Brincando de conviver com as diferenças No projeto de extensão “Brinquedoteca: aprender brincando”, são realizadas duas atividades: “Brincando e aprendendo” e “Brincando e aprendendo com a ginástica”, desenvolvidas com crianças de quatro e cinco anos de idade, com autismo e síndrome de Down. Elas participam das atividades dividindo o espaço com as crianças com desenvolvimento típico, da mesma faixa etária, do Centro de Educação Infantil da Ufes (Criarte). Segundo o professor José Francisco Chicon, coordenador das duas atividades, desenvolver esse trabalho em um ambiente interativo traz benefícios para todos os participantes. O coordenador explica que os traços de desenvolvimento mais avançados das crianças com desenvolvimento típico – como a linguagem verbal, a criatividade, a imaginação, a sociabilidade, a relação com a brincadeira, o entendimento de regras de conduta e a dinâmica dos movimentos corporais – podem tornar mais fácil o desenvolvimento desses aspectos nas crianças com autismo. “Por outro lado, as crianças não deficientes, ao se relacionarem com essas crianças especiais, aprendem que existem outros modos de ser e estar no mundo, ficando mais sensibilizadas para acolher e respeitar a diversidade. Elas aprendem valores relacionados à solidariedade, respeito ao próximo e colaboração, compartilhando experiências de dificuldade e superação”, acrescenta o professor. No entanto, o professor Chicon enfatiza que, para que seja possível essa integração, devem ser respeitadas as necessidades de cada participante. “Essa troca só se torna positiva se for organizada em um ambiente esclarecedor, rico em estímulos, mediados por professores que se preocupam em acolher a diferença e a diversidade em seus modos de ser e estar no mundo. Caso contrário o ambiente pode ser até desumanizador”. No Laefa, as 40 crianças encaminhadas pelo Centro de Educação Infantil Criarte-Ufes e as 20 com autismo e síndrome de Down são divididas em grupos de dez participantes não deficientes e cinco com deficiência, de ambos os sexos, para participarem das duas atividades citadas.

UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Junho 2018

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