Jornal da ABI 380

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COLEÇÃO FONDATION JÉRÔME SEYDOUX – PATHÉ, PARIS

DIVULGAÇÃO

Giulietta Masina como Gelsomina de A Estrada da Vida (La Strada, 1954).

ego nas telas e fez com que as mulheres grotescamente gordas passassem a receber a alcunha de “fellinianas”. Seu método de trabalho era tão sensorial que em várias oportunidades pedia a seus atores que falassem qualquer coisa durante as filmagens (contar de 1 a 100, por exemplo), pois depois ele iria dublar as falas com diálogos que criaria mais tarde. Eternamente fiel às suas origens de cartunista, desenhava cenas, planos, figurinos, cenários e story boards de seus filmes. E entregou a parte musical da maioria de sua obra a um dos melhores compositores de trilhas sonoras de todos os tempos: Nino Rota. Quando descobriu as teorias de Carl Jung, passou a explorar temas relacionados à psicanálise, incorporando ainda mais elementos de sonhos, fantasias e desejos em seus filmes, casos de 8½, Julieta dos Espíritos, Satyricon, Casanova e A Cidade das Mulheres. É responsável por algumas das cenas mais inesquecíveis da História do Cinema. O banho de Anita Ekberg na Fontana di Trevi em A Doce Vida (filme ao qual devemos a expressão “paparazzi” para designar fotógrafos inconvenientes), o homem cego pedindo a alguém que lhe explique como é um transatlântico em Amarcord, a dança de Mastroianni e Giulietta Masina em Ginger e Fred, os delírios de 8 ½, o rinoceronte no porão do navio em E La Nave Vá... Assim, não é difícil perceber por que produtores e distribuidores passaram a incorporar o próprio nome do cineasta à sua obra, como um selo de qualidade. Os filmes já não mais se chamavam Roma, Casanova ou Satyricom, mas Roma de Fellini, Casanova de Fellini e Satyricom de Fellini. Sua carreira foi coroada por quatro prêmios Oscar, dois Leões de Prata, uma Palma de Ouro, o prêmio do Festival Internacional de Filmes de Moscou, o prestigiado Prêmio Imperial da Associação de Arte do Japão, e inúmeros outros. Em 1993, mesmo ano em que recebeu um Oscar de Honra pelo conjunto de sua obra, Fellini sofre um ataque cardíaco fatal, um dia após completar cinqüenta anos de casado (Giulietta morreria seis meses depois). Ambos estão enterrados no mesmo túmulo de bronze esculpido por Aldo Pomodoro, em formato de barco, na entrada do cemitério de Rimini. COLEÇÃO FONDAZIONE FEDERICO FELLINI, RIMINI

felliniano Grande Prêmio no Festival de Cannes de 1946, o troféu de melhor filme estrangeiro pela Associação dos Críticos de Nova York, e nada menos que uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro para Fellini. As portas do cinema se abriam definitivamente para ele. Mas antes de dirigir seu primeiro filme (Mulheres e Luzes, de 1950, que co-dirigiu ao lado de Alberto Lattuada), Fellini foi durante três anos assistente de direção de Rossellini e do próprio Lattuada, e chegou até a ensaiar alguns passos como ator, vivendo um vigarista confundido com um santo no episódio Il Miracollo do longa L’Amore, também de Rossellini. Fellini assinou o roteiro deste episódio. Sua primeira direção solo aconteceria em 1952 com O Abismo de um Sonho, a partir de uma história criada por ele mesmo e por Michelangelo Antonioni. A trama fala de um casal do interior que chega a Roma para uma visita importante aos primos do marido. Porém, a jovem esposa se perde pelas ruas da capital e acaba se envolvendo com um galã de fotonovela. Parece familiar? Pois trata-se basicamente da mesma história que pode ser vista no recente Para Roma, com Amor, de Woody Allen. Não, não há nenhum crédito para Fellini no filme de Allen. Logo no ano seguinte, a confirmação do talento do cineasta: Os Boas Vidas é indicado para outro Oscar de Roteiro, e ganha o prêmio de Direção no Festival de Veneza.

Na foto atribuída a Pierluigi, o momento em que Fellini filma uma das cenas memoráveis da História do cinema: o banho de Anita Ekberg na Fontana di Trevi em A Doce Vida. Abaixo, um dos desenhos do livro dos sonhos de Fellini, feito em 18 julho de 1980.

Daí para frente Fellini dirigiu mais 16 longas para cinema, três episódios, um punhado de comerciais, e um documentário para a televisão que é uma verdadeira preciosidade: Os Palhaços, sobre a profissão mais divertida do circo. O mesmo circo com o qual ele nunca fugiu quando era criança. Fiel ao cinema autoral, Fellini idealizou e escreveu todos os filmes que dirigiu. E ainda escreveu outros que não dirigiu. Jogou em sua obra boas doses de recordações de infância, de vivências pessoais, e das mais oníricas fantasias. Elegeu o ator Marcello Mastroiani como o seu alter

JORNAL DA ABI 380 • JULHO DE 2012

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