TWISSST - ISSUE NUMBER ONE - PORTUGUESE EDITION

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ISSUE NUMBER ONE PORTUGUESE EDITION

FASHION, ARTS & CULTURE MAGAZINE 1


Model: Carlos Ferra Agency: Mayor Paris Photo: Laurent Humbert, Paris


Nota A TWISSST, edição portuguesa, meio editorial independente na área da difusão das ideias e dos conteúdos acredita e defende o pluralismo cultural, filosofia que aplica sem reservas à escrita. Pelo exposto, os textos editados ao abrigo desta publicação não se regem pelas regras definidas no novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa

Norberto Lopes Cabaço Twissst Editor in Chief & Executive Director

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Carta Director

86 Dias passaram desde a edição do número zero da Twissst. Mais de 94.000 paginas visitadas em 14 países diferentes sem manobras de marketing que a impulsionem, resultaram ser um dado mais positivo que o esperado inicialmente . A ilação que deduzimos é que continua a existir espaço para um meio editorial independente cuja definição resulte na solidez de informação e na qualidade artística divulgada. Arrancamos Dezembro e decidimos dedicar a edição #1 da Twissst com uma linha editorial pouco convencional: Tratamos não só a moda como catalisador de tendências mas também a Industria da Moda, analisamos os resultados macro-económicos dos grupos PPR e LVMH , titulares de marcas como Gucci, Yves Saint Laurent, Louis Vuitton ou Alexander McQueen e surpreendemo-nos com a boa saúde financeira e a solvência que a moda internacional dispõe em tempos menos favoráveis, enamoramo-nos pelo trabalho de um fotografo francês e com a naturalidade que dispomos como meio independente optamos por dedicar a capa da edição de Dezembro ao Homem, Laurent Humbert assinou em Paris a fotografia na qual Carlos Ferra plasma de forma soberba o “new masculine look” requerido nas passarelas mais relevantes a nível internacional. Propomo-nos conhecer Phoebe Philo, directora criativa da casa francesa Céline e que, em apenas alguns anos, passou de estar a frente de uma marca adormecida para recuperar o brilho e posicionar a “maison” na vanguarda da industria, ainda desde Paris nos chegam, via Wetransfer, as

imagens do trabalho de Laurent Humbert, que não podíamos deixar se ampliar. Viajamos a Helsínquia e constatamos o porquê da Finlândia ter uma paisagem para cada indivíduo, e casualmente foi num encontro com a leitura num final de tarde que descobrimos e como tal relatamos a extraordinária novela da também finlandesa Sofi Oksanen, “Purge”; de regresso, passamos por Milão e comprovamos a megalómana obra de arquitectura que a cidade acolhe de cara à Exposição Universal em 2015 e que reúne os mais importantes arquitectos da actualidade. Regressados a Madrid, revemos a criatividade indomável da Fura dels Baús e iniciamos a conta atrás para o fecho da edição e o resultado são 104 paginas de informação que culminam num ultimo desafio, o de aspirar a poder contar por um lado, com a fidelidade de quem esteve connosco no numero zero da Twissst e, por outro, introduzir a Twissst na lista de favoritos de mais alguns Twissster’s algures pelo Mundo. Pelas 94.000 mil paginas vistas da edição zero e pelas que aspiramos conseguir com a edição número um, temos uma última palavra a dizer, OBRIGADO!

Norberto Lopes Cabaço Editor in Chief and Creative Director

Ilustração: Ricardo Naranjo González

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YVES

KLEIN O OUTRO YVES

Texto: Jose Manuel Delgado Tradução: Bernardo Saavedra

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auto-propaganda e a megalomania não foram só condutas próprias dos grandes políticos e ditadores de princípio e meados do séc. XX, esta qualidade, se é que a podermos apelidar desta forma, é tão antiga quanto a civilização. Antes de Estaline, Hitler e Napoleão, encontramos exemplos na longínqua antiguidade, exemplo é o Egipto, onde Ramsés II inventou a propaganda, tal e como a conhecemos actualmente, para enaltecer a sua própria figura. Não é, por isso,estranho, que qualquer um de nós conheça, ou tenha ouvido alguma vez, o nome deste Faraó. E a cultura e a Arte também não têm sido seguramente imunes a este fenómeno. O homem que melhor soube utilizar esta ferramenta no âmbito artístico foi sem dúvida Yves Klein. Sem ser um dos poucos elegidos para considerar-se imprescindível na historia da arte.

“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

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ilho de pais artistas, ambos pintores, Yves começou a sua carreira profissional como judóca. Este feito influenciou activamente toda a sua obra e vida pessoal. Como judóca conhece e submergese na filosofia Zen e no conhecimento oriental, intrigado e influenciado claramente pela mística que o envolve. Conhece a seita dos Rosacruces, seita cristã francesa de

finais do séc. XIX dotada de uma mística baseada na procura do vazio, da liberdade que o céu representa. O litúrgico e o místico são a base para entender a sua obra. A primeira aparição oficial de Klein como artista visual aconteceu em 1955, quando apresentou o monocromático “Expressão do Universo” em cor laranja vivo no Salon des Réalités Nouvelles. O

quadro foi rejeitado devido a que “uma única cor não era suficiente para construir uma pintura”. A peça, incluída nesta retrospectiva, apresenta-se junto a uma serie de monocromos, amarelo, branco, preto, vermelho, rosa e verde. A cor adquire uma importância absoluta que supera o desenho e a forma.

“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

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“© Yves Klein, ADAGP, Paris”


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omeça por oferecer a essa cor o seu próprio objectivo, independente de desenho, ou de forma. A cor como meio de materializar o imaterial, capaz de alterar e criar sentimentos. Elimina a linha e o desenho, que agora carecem de significado. Onde o rolo se converte no primeiro instrumento de criação, seguido do fogo e do corpo humano. O ano de 1957 é tido como o de sua consagração, faz duas exposições simultâneas em Paris, na galeria Iris Clert e na Colette Allende, cria uma sinfonia própria destinada a acompanhar a exposição, uma nota permanente durante 20 min seguidos de 20 min de silêncio. Nestas proporções monocromáticas concentra-se só no Azul. Atribui o seu nome a um tom de azul, que desde então até agora se conhece como azul Klein.

“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

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“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

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studou a sua obra como um todo estruturado em duas partes. Orquestrou a sua produção em torno ao vangloriar da sua figura, e foi construindo as suas próprias épocas, como: a azul, a pneumática e a performática, entre outras. Uma das suas incríveis façanhas foi a de tentar pintar de azul o obelisco de Paris, estranhamente, a princípio conseguiu a autorização, mas à última hora o governo cancelou a obra. Até aqui chegou a sua influência de artista. Em 1958 na Iris Clert, galeria, e, rodeado pelos seus galeristas fetiche, realizou uma exposição única para celebrar o seu trigésimo aniversário. Pintou de branco e a rolo todo o interior da galeria. Só a porta e as ombreiras as impregnou de azul Klein. Lançou balões de cor azul Klein por toda Paris, dias antes da inauguração. Tudo decorria de acordo ao planeado para enaltecer, uma vez mais, a sua personagem,

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“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

inclusive criou um cocktail matizado de azul, com base de Ginebra, com a ajuda de um barman parisino. O cocktail seria servido a todos os convidados da exposição, enquanto Yves Klein explicava, passo a passo, a grupos pequenos, o significado de sua obra, uma habitação vazia pintada de branco. As reacções do público foram díspares, enquanto uns se consid-

eraram enganados, outros, fascinados, procuraram reminiscência de traços, ou desenhos na parede, e outros, comovidos, gritaram, ou choraram, porque tinham compreendido o objectivo da obra, o vazio. Todos fizeram parte de um culto de iniciação, onde Klein, era o messias. Foi rotulado de farsante, de profeta, de louco, mas uma coisa foi clara, não deixou ninguém indiferente.


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epois de o culminar desta obra começa a experimentar outras cores, como o dourado e o rosa, ambos com significado religioso para os Rosacruces, e inclusive começa a usar o fogo. Queimava literalmente uns panos que anteriormente mergulhara num líquido inflamável. Este processo de “matizar o pano” foi desenvolvido banhando nesse liquido, uma modelo despida para depois ser dirigida por Klein. Estes processos criativos eram abertos ao público e inclusivamente eram filmados, e acompanhados por uma orquestra monótona. Pode-se dizer que era, sem qualquer dúvida, a criação da “obra – culto”.

“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

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bcecou-se com o vazio, procurou a anti-gravidade mediante a levitação, algo que segundo ele conseguiu em diversas ocasiões. E como cúmulo do vazio, chegou a saltar de um terceiro andar, donde lhe esperavam os alunos de um mestre judóca para o acolherem. Durante a performance, foi executada uma fotomontagem que foi publicada por petição de Klein. A morte surpreendeu-o aos 34 anos, em 1962, numa reunião entre companheiros de movimento, e a pergunta que nos fazemos é, até onde chegaria Klein? Foi sem dúvida, por si só, a criação de um artista modelo, ainda que sem expressão de qualidades artísticas de grande nível conseguiu, não só ter o seu lugar na história da arte, como também ter sido reconhecido como um dos mais importantes de todo o séc. XX. A propaganda surtiu efeito.

“© Yves Klein, ADAGP, Paris”

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Nuno Moreira e Marco Moreira ( Central Models, Lisbon) Photo by : Carla Pires


All people are born equal... then some become

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Staff Editor in Chief & Creative Director Norberto Lopes Cabaço norberto.lopes@twissst.com Foreign Editors Director Mauro Parisi mauro.parisi@twissst.com Twissst Polish Edition Responsible Weselina Gacińska wese.gacinska@twissst.com Editorial Coordinator Chloe Yakuza Architecture & Art Director Mauro Parisi mauro.parisi@twissst.com Graphic Designers David Lariño Torrens david.larino@twissst.com Claire Marie O’Donnell claire.odonnell@twissst.com

Foto Ryan Tansey

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Editors Twissst English Edition Angela Velo Pérez Daniela Cataldo Clare Hodgson Twissst Italian Edition Giulia Chiaravallotti Francesco Marangon Twissst Polish Edition Weselina Gacińska Anna Golias Twissst Portuguese Edition Elis Porfirio Bernardo Saavedra Twissst Spanish Edition Elena Arteaga Benedicta Moya

Contributors Laurent Humbert, Eleonora Maggioni, Laura Parisi, Siu Cho Hang, Jaime G. Masip, Jose Manuel Delgado, Ricardo González Naranjo, Carlota Branco.

Twissst Magazine - Head Office Calle Gran Via, 57 7 F 28013, Madrid, Spain Tel: 34 910 072 973 hello@twissst.com www.twissst.com

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La Fura Dels Baus

Ao encontro do impeto criativo da companhia de teatro total Texto: Eleonora Maggioni Tradução: Elis Porfirio

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O primeiro contacto com o mundo de La Fura foi quase uma casualidade; era noite de Noite de Ano Novo de 2004, Génova era então Capital da Cultura Europeia e os La Fura apresentavam, nessa noite, sua estreia mundial de “On Naumon” (A viagem), um espectáculo/evento de luzes, sons e dança. Foi amor à primeira vista, um verdadeiro apogeu sensorial. Um barco de 60 metros de comprimento ancorava no Antigo Porto de Génova, com 150 pessoas, incluindo equilibristas, actores, bailarinos, técnicos e marinheiros, que chegavam acompanhados pela batida hipnótica de tambores japoneses. A partir de ali, o porto inteiro se transformaria num enorme cenário, com grandes cenografias e coreografias suspensas sobre o mar num clímax ascendente de cores, sons e acrobacias que nos haveriam de acompanhar até ao Ano Novo. A viagem de Naumon acabara de se iniciar, de ali partiria para atracar em mais vinte Portos do Mediterrâneo, para depois seguir pelos Oceanos Atlântico, Pacífico e Índico.

Degustación de Tito Andronico/Foto de Francesca Sara Cauli

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Metamorfosis

Neumon en Genova 2004

Mas foi no interior de um Teatro que La Fura me surpreendeu uns anos mais tarde, pela sua capacidade em modificar convencionais cenários através da incorporação de vídeos e outros elementos visuais. Uma livre interpretação da “Metamorfose” de Kafka foi representada em 2005 no Japão e em 2006 chegou ao Teatro María Guerrero de Madrid. Nesta ocasião, La Fura apostou em levar um trabalho mais próximo do Texto que da performance ainda que, sem renunciar a interpolação do meio digital. A cenografia estava em contínua evolução, um grande cubo transparente, em que vivia Gregor Samsa e em que se materializa o contraste entre a realidade exterior e o mundo interior do protagonista, uma mesa e uma projecção visual de imagens que amplificavam a atmosfera onírica e de sonho descrita por Kafka na sua novela e que se viu avassaladora aos olhos do público.

Metamorfosis

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A história de este colectivo de artistas começa em 1979, quando Marcel Antunez Roca, Quico Palomar, Carles Padrisse e Pere Tantinya criaram a companhia focada no entretenimento de rua e no experimentalismo ao nível do movimento e da música. Na década de 80 iniciaram a aproximação ao teatro, mas sempre a partir da abordagem experimental, cujo objectivo principal passara pelo romper com a tradição do teatro clássico; foi com a música, a dança, a introdução de novos materiais e tecnologias mais recentes que responderam ao desafio. Nos anos 90, a companhia envolve-se com a ópera e os macro-eventos, realizando o show de abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992.

Boris Godunov

Boris Godunov

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Boris Godunov

O experimentalismo é desenvolvido também no campo dos macro-espectáculos, onde a linguagem da companhia se adapta a públicos e a espaços cénicos enormes (Como o show de abertura dos Jogos do Mediterrâneo em Almería, Espanha 2005) e lhes confere o reconhecimento a larga escala. Em 2008, com “Boris Gudonov”, La Fura confirmasse pioneiro ao explorar alternativas ao teatro “estilo italiano”, criando um espectáculo num cenário tradicional e desenvolvendo a peça no seu estado mais puro. A partir de uma crítica / reflexão sobre a incipiente totalitária tendência, emergente de alguns estados democráticos e sobre o medo do terrorismo que nos últimos anos invadiu as sociedades ocidentais, o director artístico Alex Ollé rompeu uma vez mais com a noção de teatro purista suportando-se em apontamentos cinematográficos e audiovisuais. O público torna-se o protagonista, os reféns são os mesmos espectadores e apesar de reconhecer desde o início que se trata de ficção, somos levados a confrontar-nos com os nossos fantasmas, forçados a compenetrar-nos dentro da história a que se está assistindo.

Degustación de Tito Andronico

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Degustación de Tito Andronico


Em “Degustación de Tito Andronico” de 2010, a companhia retorna às suas origens, levando ao palco um espectáculo cem por cento La Fura, em que a interacção entre público – actores é central. Neste trabalho, uma adaptação livre da tragédia de Shakespeare, a audiência mantém-se de pé durante todo o espectáculo, rodeado por passarelas metálicas que se erguem sobre as máquinas que transportam os actores. Durante a representação, dois chefs preparam pratos que trinta sortudos podem desfrutar junto dos actores, um casamento entre música, dança e perfumes que se estende ao redor da sala, numa tentativa de união com o público até ao trágico final

Degustación de Tito Andronico /Foto Francesca Sara Cauli

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O trabalho de La Fura continua a aprofundar as suas experiências no campo cinematográfico (Fausto 5.0) e na web, como um género que o grupo catalão define como teatro digital, soma de “artistas e bits”. Depois de em 2011 se ter aproximado do mundo da ópera com “Édipo”, La Fura continua a sua pesquisa com “Babylon, un cuento de máquinas”, com estreia agendada para Outubro na Bayerische Staatsoper, em Munique. Em paralelo, no final de 2012, La Fura apresenta-se em três países com diferentes macroeventos: “Aphrodite and the Judgment of Paris” na Coreia; “The Visit” na China e “The Hidden City” em Bucareste, Roménia. Surpreender e inovar está no ADN de La Fura Dels Baus. Ansiosamente, resta-nos esperar pela próxima oportunidade para deslumbrar os nossos sentidos.

Degustación de Tito Andronico /Foto Francesca Sara Cauli

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Laurent Humbert

Laurent Humbert nasceu no Sul da França , numa pequena cidade costeira, Hyères, agraciada com cores limpas e luminosidade abundante e formalmente conhecida por acolher o “International Festival of Fashion and Photography of Hyères. Talvez, todos estes factores condicionaram a trajectória deste revelador artista, que desde muito cedo desenvolveu uma relação de proximidade com a fotografia.

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apenas 12 anos fotografa a família e os amigos , desde essa idade soube que o elo que o ligava com a fotografia era indivisível . Foi essa primeira imagem que obteve, a impulsionadora de todo um processo de formação, a curiosidade pelo revelado daquela primeira imagem, própria da idade, e reveladora de uma curiosidade intrínseca à personalidade deste aclamado fotografo .

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Depois de terminados os estudos em Arte e Comunicação, Laurent deixa a cidade onde cresceu e sedia-se em Paris onde desenvolve o processo de criação e aprofunda na experimentação . Criou uma imagem de marca , as imagens que obtém revelam claramente o ADN artístico do homem por detrás a câmara. Como clientes, Laurent Humbert conta já com o voto de confiança de marcas tão emblemáticas como a LACOSTE, ZARA, DIM ou a LANCEL e tem reunido criticas tão positiva como numerosas em meios como “LE FIGARO”,”L’express”,”Luna”,” Tetu”ou “GQ” O facto de que Laurent Humbert tenha e siga conquistando o apreço e reconhecimento tanto das marcas como das agencias sediadas em Paris, é o resultado de anos de investigação, e a criação de imagens com uma elevada carga emocional e que carecem de acessórios.

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Profundo defensor de um conceito “Less is More” e de uma estética clean, o trabalho de Laurent recorda-nos a máxima de Monsieur Cristobal Balenciaga: “Um couturier deve ser um arquitecto para o design, um escultor para as formas, um pintor para as cores, um musico pela harmonia e um filosofo pela temperança .” “A couturier must be an architect for design, a sculptor for shape, a painter for colors, a musician for harmony and a philosopher for temperance.” Defendemos que o principio de pode aplicar em muitas outras áreas, claro está à fotografia, e sem reservas ao trabalho de Laurent. Por tudo isto , pelo que representa e por assinar a “cover” da edição número 1 da Twissst, Merci Monsieur Humbert!

Norberto Jose Lopes Cabaço

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A nova Milão, metro a metro

Texto: Laura Parisi Tradução: Elis Porfirio

A partir de 31 de Março de 2008, quando a Exposição Universal de 2015 foi adjudicada a Milão, a reforma da cidade parece imparavel; a cidade lombarda está a mudar de cara e os cidadãos estão praticamente habituados à presença permanente das obras.

Palazzo Regione Lombardia. Photo: Simone Utzeri

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Palazzo Regione Lombardia. Photo: Simone Utzeri

Desde a zona da Porta Nuova até à Cascina Merlata, da antiga sala de cinema Excelsior ao Bosco Verticale, desde a nova sede da administração regional ao complexo City Life, das requalificações das estações de comboios aos quartéis militares e às antigas áreas industriais, Milão parece ter ultrapassado o inesgotável típico debate italiano entre a primazia da conservação e do estilo “tradicional” e o impulso da modernidade próprio das metrópoles internacionais. A três anos da Expo e em espera para averiguar como será efectivamente a área da exposição, aproximamo-nos à capital económica italiana para tentar antever todas as transformações em curso que, apesar de alguns atrasos e polémicas, contribuem para a requalificação da nova Milão.

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Palazzo Regione Lombardia. Photo: Meravigliosopericoloso

Empreendemos a nossa viagem pela transformação já visível: em 2009 foi apresentada a nova sede da Região da Lombardia. Construída sobre uma área de 30.000 m2, o projecto foi assinado pelo estúdio PeiCobbFreed&Partners de New York e testemunha o trabalho de 700 pessoas, em turnos de 24 horas.

Palazzo Regione Lombardia. Photo: Meravigliosopericoloso

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Quatro edifícios curvilíneos de 9 andares que articulam-se em torno da torre central de 39 andares, permitem a centralização de todos os órgão administrativos, anteriormente dispersos por toda a cidade, embora não esteja contemplado o abandono da sede histórica do arranha-céu Pirelli.

Também em 2009 foram inauguradas, como Hotel, as duas torres desenhadas pelo arquitecto francês Dominique Perrault, com respectivamente 72 e 65 metros de altura e ambas com uma inclinação de 5 graus; a torre mais alta está inclinada para Fieramilano, enquanto a torre mais baixa está inclinada sobre o centro da cidade; este movimento, junto com o contraste de cor entre o preto das fachadas e o alumínio dourado do elemento cilíndrico, confere uma personalidade forte ao conjunto arquitectónico. Hotel NH. Photo: Roberto Arsuffi (Urbanfile.it)

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De volta ao centro da cidade, precisamente sobre a estação de Porta Garibaldi, já podemos admirar o “Centro Direzionale di Porta Garibladi”

As duas torres da antiga administração ferroviária nacional, dos anos 80, depois de uma operação recladding* praticamente concluída, foram totalmente transformadas de acordo com as modernas técnicas da arquitectura sustentável (de referir apenas os painéis fotovoltaicos nas fachadas, os painéis solares nos telhados e os cristais isolantes térmicos); esteticamente, as fachadas com cristais desfasados, favorecem milhares de reflexos difusos, sugerindo o brilho de um diamante.

Detalhe da fachada Torre Garibaldi. Photo: Simone Utzeri

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projecto de requalificação urbano segue as directrizes de arquitectura sustentável e na renovada cidade de Milão a cultura do público verde é fundamental, um exemplo é a área de Portello de 400.000 m², onde no passado se encontravam as fábricas da Alfa Romeo e da Lancia, e que a ponto está de realizar um plano de reestruturação que prevê a criação de um parque de 70.000 m²; projectado por Andreas Kipar e Jenks Charles, cuja abertura ao público está previsto para este Outono.

Parco Portello. Photo: University2night.it

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No centro do parque, encontram-se duas colinas construídas com os entulhos da zona; a primeira, em forma de espiral hospeda um lago numa das suas concavidades e a segunda, de forma cónica, que é atravessada por dois caminhos que não se cruzam, abriga um parque de esculturas.

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Outra

meta de 2011 foi a conclusão da sede histórica RCS, na zona de Crescenzago, projectado pelo estúdio Boeri e de Barreca e La Varra, transformando-a na sede central do grupo de multimédia.

A zona Garibaldi – Repubblica está já em fase de ultimar os detalhes da obra de requalificação liderada por Cesar Pelli. Com a sua Cidade da Moda, Pelli concebeu uma área pedonal com um extenso parque, uma imponente praçapódio de 100 metros de diâmetro e 6 metros mais alto do que a superfície da estrada e com edifícios eco-sustentáveis em vidro e aço, entre os quais se erguerá uma torre de 145 m (200 m considerando a bandeira).

Torre Cesar Pelli. Photo: Roberto Arsuffi

Sobre a praça debruçam-se, além de espaços dedicados à moda e à criatividade, um grande Hotel, vários espaços comerciais, edifícios residenciais e escritórios.

Città della Moda. Photo: Cityfile.it

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Diamantone. Photo: Urbanfile.it

Quase na mesma área, em Porta Nuova - Varesine, outro centro de negócios emerge com uma nova torre que rasga o horizonte Milanês, o edifício “Diamond”, do estúdio KPF de New York. Com uma forma peculiar, destacável pela sua fachada principal, a característica do “Diamond” reside na poupança energética, característica que lhe valeu os prémios de maior prestígio no domínio da arquitectura ecosustentável.

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Fondazione Feltrinelli. Photo: Designboom,com

Ao analisar os próximos projectos podemos identificar que a intenção, por detrás desta onda de requalificações , é proporcionar a Milão um legado de novos conteúdos culturais e expositivos, próprios de uma verdadeira capital cultural.

Em 2013, por exemplo, Porta Volta será totalmente redesenhada pelo arquitecto suíço Jacques Herzog; dois edifícios gémeos irão abraçar a velha porta albergando a sede, a biblioteca e os arquivos da Fundação

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Fondazione Feltrinelli. Photo: Designboom,com

Feltrinelli; os dois edifícios vão estar abertos à cidade oferecendo uma área recuperada com uma livraria editorial, lojas e zona de restauração.

Como referido pelo próprio arquitecto, são muitas as alusões à história da arquitectura do local, desde a releitura dos edifícios gémeos enquanto gateways para lugares emblemáticos, (veja-se a Piazza Duomo ou a Piazza Duca d’Aosta), às características de construção longitudinais da zona Lombarda, ou ainda à alusão às formas pontiagudas da arquitectura gótica.

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Fondazione Prada photo courtesy of DesignBoom Foindazioen Prada Attilio Maranzano

Em 2014 poderá ser admirado mais uma obra-prima do arquitecto holandês Rem Koolhaas, que na antiga zona industrial de Via Ripamonti dará vida ao Centro de Arte Contemporâneo comissariado pela Fundação Prada; uma torre assimétrica que servirá de armazém para as suas obras de arte, presidirá, uma área totalmente recuperada, anteriormente uma antiga destilaria e agora caracterizada pelo flexível uso do espaço; um “cubo” no centro do pátio será capaz de reinventarse como um espaço de cinema ao ar livre, um auditório, um espaço para performances, ou um centro de controlo.

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Fondazione Prada DesignBoom

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Por outro lado, na zona Porta Ticinese, o projecto “Cidade das Culturas” de Chipperfield na ex-fábrica Ansaldo, prevê a criação de um vasto aglomerado cultural com o novo Museu Arqueológico e o Centro de Estudos de Artes Visuais, além de um Laboratório de títeres tradicionais. Desde o ponto de vista arquitectónico, a recuperação de alguns dos edifícios préexistentes se unirá à construcção de um novo módulo em que se alojará o “Centro das Culturas Extra-Europeias” com áreas para exposições no primeiro andar, livraria, cafetarias, restaurantes, auditório e biblioteca.

Outro protagonista para 2014 será o histórico bairro de Isola, quando se executarem alguns dos projectos ali localizados; destacam-se sem dúvida as duas torres residenciais de 105 e 78 metros, do estúdio Boeri mais conhecido como “Bosque Vertical” devido às árvores e arbustos que serão plantados em cada andar, com o objectivo de absorver a contaminação e de produção de oxigénio.

Bosco Verticale. Photo: Bernard Peissel

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Citylife - Tre Torri.

2014 Trar-nos-á também a finalização do muito comentado “City Life”, o imponente complexo residencial, comercial e de negócios que já está emergindo nos antigos terrenos da Feira e que marcará sem dúvida a imagem da cidade de Milão, mais não seja pelo mediático renome dos autores de três dos arranha-céus projectados e coloquialmente conhecidos como o “Dritto” (Direito tem assinatura de Arita Isozaki), o “Storto” (Torcido, de Zaha Hadid) e o “Curvo” (Encurvado, de Daniel Libeskind).

O projecto complementar-se-a, além das distintas soluções residenciais desenhadas pelos mesmos arquitectos, com um Museu de Arte Contemporâneo de Libeskind e com o Palazzo delle Scintille, um espaço cultural dedicado à infância e aos idosos, será alojado no único imóvel da antiga Feira que se manterá em pé.

Quando

todas estas construções sejam realidade, Milão será, sem incertezas, uma referência da arquitectura contemporânea na Europa, algo que realmente estava em falta, dado o seu inquestionável peso no mundo do desenho e da vanguarda criativa Citylife - Tre Torri.

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The Business

of Fashion 56


Como ser um criador de moda “indie” e não perecer no intento?

Quando inicialmente pensámos em abordar o tema da gestão dentro do negocio da Moda, obrigatoriamente encontramos necessidade de abordar a mudança no papel do criador, para um posicionamento de criador/ gestor, fundamental para o sucesso de uma marca jovem ou fora da protecção de uma holding. Digerir os resumos financeiros dos colossos da industria e criar um texto que permitisse dar a conhecer o outro lado do fenómeno da moda, o que não aparece nas fotografias , nem nos backstages, mas, que os alimenta, parece-nos fundamental. Em resumo , apresentar contrastes e suscitar opiniões, coniventes ou não. Se por um lado as marcas globais crescem vertiginosamente semestre a semestre, a nível local ou nacional, criadores com uma trajectória reconhecida e com marcas implementadas no mercado, passam por momentos conturbados.

Texto: Norberto Lopes Cabaço

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A industria da Moda apresenta-se com dificuldades notórias, em particular a espanhola, David Delfin encerrou loja no coração da cidade de Madrid, Carmen March abandona a actividade em nome próprio para mais tarde assumir a direcção criativa de Pedro del Hierro, e as dificuldades financeiras que a dupla de criadores Victorio & Lucchino aparentemente sofrem, geram sussurros comentados um pouco em todas partes. Se para criadores com marcas implementadas no mercado as dificuldades são muitas, para novos criadores o desafio parece impossível de ser ultrapassado. Capazes de desenhar durante dias seguidos e de cumprir com os rigorosos calendários nacionais e internacionais, a maioria dos novos criadores assume um perfeito desconhecimento do negocio do qual faz parte. Com alguns dos criadores que falamos ao abordar o tema, nenhum deles tinha tido formação na área de planificação do negocio, como desenvolver uma marca, como internacionalizar uma ideia ou como estabelecer uma previsão de ingressos no espaço e no tempo. Confessam uma insegurança no momento de colocar preço as peças, e pelo modelo quase “ familiar” em que desenvolvem a actividade , resulta-lhes complicado desenvolver colecções em número suficiente para ter um cash-flow disponível para investimento. O ensino, as escolas, as universidades e as plataformas de divulgação da moda normalmente não estão vinculadas, são independentes, a formação e a divulgação são dois processos paralelos e em nenhum dos casos há uma acção profissional, comercial e adaptada ao universo de cada criador. O profissional de moda do século XXI, deve abandonar a ideia da criação pela criação, para poder ser “indie” e viver do que mais gosta de fazer, tal como qualquer outro profissional de qualquer outro sector.

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Ser “indie” e ter um negocio estabelecido significa não estar dependente de patrocinadores, de colaborações impossíveis em troca de um budget que lhes permita seguir em frente. Como embaixadores da vanguarda criativa que actuam numa sociedade global, resulta raro que apenas alguns destes criadores dispõem de um site em funcionamento ou de uma loja online, poucos desenvolvem uma linha de acessórios, e raros os que contam com uma rede de distribuição ou que promovem assiduamente acções de marketing directo com os clientes. A realidade diz-nos que é urgente inverter a tendência, a historia corrobora-o, criadores como Valentino ou Giorgio Armani, só conheceram a gloria quando aceitaram que a gestão era algo tão relevante como a maestria do seu trabalho, e o presente diz-nos que o número de criadores que prosperam individualmente a nível global são escassos, especialmente a nível europeu.


A actualidade da Moda Global actua nas antípodas deste cenário, e as cifras falam por si. 14 Mil Milhões, sim, 14 Mil Milhões de euros anuais é o Revenue que os grupos PPR (Pinault-PrintempsRedoute) e LVMH (LVMH, Louis Vuitton Möet Hennessy) ingressaram no ano 2011. E 14 mil milhões de euros não se materializam com uma pequena elite de compradores, mas sim porque a Moda gerou um negocio global , longe da “democratização da Moda” comentada por muitos , mas por um fenómeno algo menos elegante mas consideravelmente mais veraz : a “democratização da necessidade”de consumir Moda.

Ambos grupos coordenam, monopolizam e repartem a maioria das mais sonantes marcas de moda a nível mundial e estes resultados só são possíveis através de um business case, detalhado ao milímetro. E pode que esta visão, pura, crua e desvestida de glamour, deite por terra um universo de ideias de preconizam que o design de moda é um ensaio criativo convertido em realidade, ainda assim, “it’s a story to be told”. A Moda rege-se por Budgets e por timelines, cash flows e forecasts, como qualquer outro negócio que tenha em vista a rentabilidade e a perenidade. Conhecem-se os indicadores de venda por peça, por estação, por cidade e por pais, os tons mais vendidos, os materiais preferidos pelo consumidor , conhece-se a filosofia da marca e o target do mercado em detalhe, a Moda gira em torno

ao negocio e o negocio gira em torno à Moda. E assim o fazem os dois maiores grupos que comercializam o tão afamado “Luxury Market”. Em tempos de crise, a multinacional francesa PPR (Pinault-Printemps-Redoute) dedicada ao comercio mundial no sector do Luxo e do “sport & lifestyle”, proprietária de marcas como a GUCCI, Yves Saint Laurent, Balenciaga, Alexander McQueen, Stella McCartney ou Bottega Veneta facilita uns números tão vertiginosos como extraordinários. As “Key Figures” de 2011 no sector Luxo eram por si só,dignas de um prime-time. 4.9 Mil Milhões de Euros em Revenue (€), 13.500 empregados e 801 lojas em funcionamento, representam o Balance da PPR em 2011.

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Responsáveis por 85% destes ingressos estão 3 marcas:

GUCCI

Com um Revenue de 3.143 Milhões de Euros e 376 Lojas Directas é, per si, responsável por um 63.9% da revenue anual. A marca assinada na actualidade por Frida Giannini pulveriza qualquer outra marca. E se 2011 foi um ano positivo, 2012 teve um resultado , até ao momento excepcional. No 1º Semestre 2012 a Gucci facturou 1.727 Milhões de Euros, mais 17.6% face ao mesmo período do ano 2011 , sendo responsável por um 59% do revenue total semestral em 2012.

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BOTTEGA VENETA

Tomas Meier assumiu a direcção criativa em Junho de 2001, aquando da compra da marca fundada em Vicenza, Italia ( 1966) pelo grupo PPR Desde então uma rigoroso trabalho e uma visão prática do luxo elevaram a marca a nível global. O ano 2011 encerrou com um total de 683 Milhões de Euros facturados e 170 Lojas Directas abertas ao publico. No 1º Semestre 2012 a facturação ascendeu a 429.5 Milhões de Euros ( + 44.3% face a 2011 o que supõe um 14.7% do revenue semestral )

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YVES SAINT LAURENT

354 Milhões de Euros de facturação no ano 2011 através de 83 Lojas Directas e traduzem-se num 7.2% da revenue anual do grupo. O primeiro semestre de 2012 resultou de igual forma num vertiginoso incremento de 46.4% face ao primeiro semestre 2011, o que por si só corrobora a boa saúde, tanto criativa como financeira da marca criada em na década de 60 pelo incondicional Monsieur Yves Saint Laurent, ate há pouco tempo assinada por Stefano Pilati e recentemente mutilada pelo senhor Slimane. 223.5 Milhões de Euros correspondem a facturação da Maison Yves Saint Laurent, que ocupa a terceira posição no ranking PPR.

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Balenciaga, Alexander McQueen, Stella McCartney, Brioni, ou Boucheron, somam os 15% restantes e por estranho que resulte algumas das mais afamadas marcas pelos “fashionistas” são irmãs pequenas dentro da própria indústria que as aclama. O papel é distinto mas , sob o volume, a responsabilidade é semelhante.

A LVMH (Louis Vuitton Möet Hennessy) grupo multinacional detentor de mais de 60 marcas e presidido por Bernard Arnault não apresentou resultados por marcas mas por sectores e negocio. Dentro do sector “Fashion and Leather Goods” os números são igualmente impressionantes. 8.712 milhões foi o resultado referente a 2011. Também o primeiro semestre de 2012 com um revenue de 4.656 milhões representa uma melhora de sensivelmente 17% frente ao mesmo período do ano anterior.

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O grupo detentor das marcas LOUIS VUITTON , MARC JACOBS, FENDI, CÉLINE, GIVENCHY, LOEWE, DONNA KARAN OU KENZO mantêm também durante os primeiros meses do ano a hegemonia dos rendimentos no continente asiático (excluído Japão) já que representa um 33% do valor global. Os EUA representam um 19%, a Europa (excluída a França)um 18%, o Japão um 14% , a França um 8% e os demais mercados o 8% restante No ultimo ano (Junho 2011 a Junho 2012) 43 novas lojas foram abertas por todos o mundo, ou simplificando , 3,58 lojas por mês!


LOUIS VUITTON

De acordo à comunicação realizada pelo grupo, a marca LOUIS VUITTON, principal motor económico do grupo, voltou a atingir, em cada uma as linhas de negocio, um beneficio de dois dígitos (sem maiores especificações). O indicador de vendas a clientes na China e nos Estados Unidos foi crucial, na Europa, são os turistas e as visitas às respectivas Maison VUITTON, os que condicionam o resultado positivo. Não resulta estranho os esforços do grupo na abertura de novos espaços de referencia, como foi o caso da loja ROMA ETOILE, a primeira loja VUITTON em Itália e a abertura de uma boutique em Amman, a qual celebra a chegada da LOUIS VUITTON à Jordânia .

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FENDI

A marca FENDI, casa fundada em 1925 em Roma por Edoardo y Adele Fendi, actualmente assinada criativamente pelo incontornável Karl Lagerfeld, goza também de boa saúde. A linha de roupa masculina para homem obteve um incremento importante a nível de vendas e a icónica Baguette Handbag, que actualmente celebra o 15’ aniversario, reforçou a tendência positiva. O grupo reforça também a presença da Fendi internacionalmente, com a abertura de novas lojas no México e na China.

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CÉLINE

CÉLINE, marca criada em França no ano 45 , inicialmente dedicou-se a sapataria especializada para crianças. Depois de crescer na década de 60 com a abertura de uma linha de vestiário para adultos com um caracter parisino, desportivo e chic, Celine Vipiana, manteve um plano de expansão e internacionalização da marca até ao ano 97, momento em que MICHAEL KORS assume a direcção criativa da marca. Depois da sua saída no ano 2004, a marca sofreu uma recessão importante, entradas e saídas de directores criativos sucederam-se até à chegada da extraordinária PHOEBE PHILO no ano 2008 , e que com apenas algumas colecções , colocou a CÉLINE na primeira linha de vanguard da moda francesa. E parece que o publico continua fiel. O grupo usou textualmente as palavras “performed remarkably well across all it’s markets” e corroborou o objectivo de expansão com a abertura de uma nova loja CÉLINE em plena Madison Avenue, Nova Iorque.

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Também DONNA KARAN, obteve um crescimento sustentado, derivado em parte pelos resultados positivos da linha de acessórios e pela linha DKNY jeans. Marcas como LOEWE, MARC JACOBS, GIVENCHY, PUCCI ou KENZO também obtiveram uma”green flag”, os resultados estiveram de acordo ao esperado , com especial atenção à marca Kenzo que volta a ganhar impulso devido à boa recepção das colecções assinadas pela dupla composta por Carol Lim e Humberto Leon que aportaram uma lufada de ar fresco e juventude à marca criada por Kenzo Takada.

Se falamos de uma Moda Global, temos que colocar a Moda em situação de igualdade. Claro esta que não faz sentido comparar ambas realidades, mas o que sim faz sentido é aplicar as mesmas regras e metodologia aplicadas a dimensão de cada negocio. Trata-se de um trabalho de fundo, mas a consagração de um projecto sempre o é. É o ensino, são as escolas, as universidades, as plataformas de divulgação, os gabinetes de imprensa e a imprensa em geral, os criadores e o valor humano que os rodeia, os que devem de fomentar a nova realidade e repartir os benefícios que dela advém. “Fashion is not something that exists in dresses only. Fashion is in the sky, in the street, fashion has to do with ideas, the way we live, what is happening” Coco Chanel

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Os segredos

ocultos no silêncio Texto: Mauro Parisi; Tradução Carlota Branco

Aliide focused her mind on stockings all the way home - not Ingel, not Linda, not anything that has happened. She recited different kinds of stockings out loud: silk stockings, cotton stockings, dark brown stockings, black stockings, pink stockings, gray stockings, wool stackings, sausage stockings. The shed loomed in front of her, dawn broke – children’s stockings - she had circled around the pasture to the back of the house – embroidered stockings, factory stockings, stockings worth two kilos of butter, stocking worth three jars of honey, two days’ pay...

Fotografia: Dimitri Korobtsov

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Os segredos ocultos no silêncio

Muito frequentemente me deixo levar pelo aspecto exterior de um livro; as vezes que não vou directo a um livro seleccionado pelas críticas que li, deixo que as imagens impressas nas capas me levem a ler as histórias que escondem. E isso foi exactamente o que se passou com a edição em castelhano de Purga de Sofi Oksanen; a capa de tão “básica” resultou apelativa, o nome da autora, de evidente ascendência nórdica, ainda mais, e o resumo da história acabou por absorver-me por completo.

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As vicissitudes de duas mulheres, completamente distintas na idade e nas experiências vividas, que se cruzam numa húmida manhã de final de verão. Zara, é uma jovem russa que fugindo aos traficantes de mulheres, acaba exausta e desorientada no jardim de Aliide, uma anciã estónia que vive, sozinha, numa casa afastada de uma aldeia do país báltico. Ambas desconfiam; são mulheres, cada uma carrega em suas costas uma vida difícil, onde o perigo está sempre em espreita. Essa desconfiança abrirá caminho a outros tipos de sensações quando as ocorrências revelarem que o casual encontro, afinal não resultou tão casual, há algo mais que o medo, que as une.


Purga aproxima-nos à triste e crua realidade do tráfico de mulheres nos países da ex-União Soviética e do passado de uma Estónia flagelada, primeiramente pela ocupação nazi, e posteriormente pela ocupação Soviética, com todas as consequências que de aí resultam no carácter de uma sociedade. O estilo, rápido, com capítulos curtos; cru, sem intenção de maquilhar a realidade descrita, submerge-nos na história em que as vidas não valem pelo que são, senão pelo capricho dos mais poderosos; os abusos e o medo, os segredos que se guardam para sobreviver e o sacrifício que isso comporta, são os sentimentos presentes nesta história. E que nos acompanham, permanecendo na memória do leitor, muito para além da última página.

A técnica narrativa, com contínuos flasbacks ao passado das personagens, oferece-nos um romance que, a cada página lida, se vai aproximando a um thriller, num crescendo de intensidade que nos aprisiona à leitura. Igualmente surpreendente é o ambiente escolhido pela autora, para o desenvolvimento de toda a história; uma serena casa de campo, de uma idosa campesina, que através dos aromas domésticos e diferenças de ritmos aplicados na preparação de compotas e refogados, nos oferece um remanso de “tranquilidade” frente à dureza de um passado que as duas mulheres vão revelando gradualmente. Porque são nos detalhes, por vezes crus, que se baseia o êxito de Purga; como a mesma Oksanen sugere ao reconhecer que o objectivo é que o leitor entre na história através da informação visual, sensorial; de como se sentem as coisas desde o ponto de vista material”. Cada objecto tem um significado e um exacto lugar no romance; a abundância de potes ou frascos na casa de Aliide e sua constância em preparar conservas, por exemplo, é um claro sinal dos anos de desmoronamento da União Soviética e da redimida independência, quando se esgotou a existência desses recipientes em toda a Estónia uma vez que toda a gente começou a fazer conservas em casa para se proteger da falta de abastecimento de comida.

ilustração: Ricardo González Naranjo

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Fotografia: Anneli Alekand

Purga é o terceiro romance desta autora finlandesa de mãe estónia que, depois de estudar Literatura, e cansada de analisar o que os demais escrevem, decidiu explorar uma forma de expressar as suas próprias inquietudes ao entrar na Academia de Teatro da Finlândia, onde estudou Dramaturgia e Criação Teatral.

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Já na sua primeira obra, “Stalin’s cows”, obteve uma recepção positiva, tanto por parte do público como da crítica nórdica, mas foi com este romance que ultrapassou barreiras ao conquistar o Prémio Femina de literatura estrangeira em França e o Prémio Europeu ao melhor romance do ano 2010.

Assim, através desta agradável surpresa, conseguimos posicionar a literatura finlandesa no mapa contemporâneo da literatura; pela peculiaridade dos temas tratados e pela nitidez do estilo usado, de futuro, seguramente, não vamos deixar escapar a oportunidade de entrar no mundo que Sofi Oksanen nos irá apresentando.



Phoebe Philo Texto : Norberto Lopes Cabaรงo

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women

behind

...


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“One of the reasons why I try to use fabrics and cuts that don’t go out of fashion is because I like the idea of women buying the clothes and then...I don’t know what the word is...cherish sounds over-emotional for a relationship with a piece of clothing...but for a woman to feel proud, satisfied, comfortable and powerful in them, to wear them and get on with their lives.”

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Raras

são as vezes que com tão pouco se poder dizer tanto sobre a visão de um criador. Assim é, Phoebe Philo, descura o acessório e evidencia o necessário e esta é sua “keyword” para o sucesso. Phoebe Philo, criou um elo indivisível entre a mulher actual e a moda contemporânea, a mulher actual necessita de respostas praticas a uma vida urbana, rápida e multifacetada e Philo aportou a resposta.

Philo nasceu em Paris, naturalizada britânica, graduou-se em 1996 na Central Saint Martins College of Arts and Design em Londres, e em 1997 acedeu a trabalhar como assistente de Stella McCartney para a marca Chloé. A relação entre ambas resultou altamente produtiva, Philo aportou o “effortless chic” look à Chloé e uma legião de seguidoras ávidas de uma linha de roupa utilitária, que resultasse possível 7 dias na semana resultaram na melhor publicidade que um criador pode obter- Uma linha na rua, e que catalisa toda a indústria, que, de alguma forma, baseandose numa ideia vencedora, a redefine para a tornar sua.

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Tão produtiva foi a relação entre Philo y McCartney que Philo sucedeu a McCartney como Directora Criativa em 2001 , no momento em que o grupo Gucci apoiou McCartney para que esta criasse e desenvolvesse uma linha de roupa que em nome próprio. Durante este período, Philo assinou peças tão “iconic” como a “Paddington ou a Edith Bag” ou os jeans de cintura alta, os “Chloé high waisted jeans” que Kate Moss, Kylie Minogue ou Geri Halliwell entre muitas outras personalidades rapidamente adoptaram como “must have” no armário. Philo continuou com o objectivo de consolidar a Chloé como marca global até ao mês de Janeiro 2006, momento que comunicou que abandonava o cargo de Directora Criativa. Philo colocava desta forma um ponto final, fechava uma porta com a Chloé e tomava um tempo sabático para organizar prioridades, e em Setembro de 2008, Philo sucede a Ivana Omazić e assume a Direcção Criativa de uma adormecida Céline.

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Surgia assim a oportunidade que qualquer criador aspira a poder aceder. Desenvolver uma marca com um recorrido histórico ao abrigo de um grupo de luxo e com carta branca para aportar uma nova visão estética. Quando Bernard Arnault, presidente do grupo LVMH (Louis Vuitton Moet Henessy),comunicou o esperado relevo na Céline, Phoebe Philo atestava “This is a really exciting step for me to be taking, with what could be seen as one of the most promising brands of the industry. I can’t wait to step back into the studio and begin creating designs which will reinvigorate the brand, get customers excited about the product and work with a team that are incredibly serious and passionate about their work”. Phoebe Philo sabia que os olhos da crítica estavam sentados em primeira fila e para a primogénita colecção que surgiu em Junho de 2009, extremou em todos os detalhes, para que o resultado final estivesse alinhado com as expectativas. Seleccionou criteriosamente as fábricas onde desenvolver a produção, apostou por fabricas italianas em vez de francesas, queria que o processo fosse mais clinico que “couture”, desenvolveu uma generosa colecção de acessórios e apresentou uma linha utilitária, forte e com uma clara aposta pelas formas, e pela arquitectura, algo que vai ser um fio condutor em toda a trajectória.

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colecção Resort que apresentou, recolheu as melhores críticas a nível internacional, e o futuro da Céline parecia então mais prometedor. Desde então Phoebe Philo tem trabalhado para que a Céline seja uma marca global, tanto criativa como financeiramente a marca tem escalado posições e tem hoje assegurado um reconhecimento merecido. Phoebe Philo é uma mulher de visão global, é uma criadora de Moda, uma “tastemaker” e reinventou um look quando poucos apostavam por ele.

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Aportou uma “street sensibility”genuína, um toque”manish” que caracteriza o “look” Céline e a marca adopta desde ha já varias edições resulta ser über feminino, forte e equilibrado, dos acessórios ao prêt-a-porter não há fissuras, resulta perfeitamente identificável e se considerarmos que esta constância e homogeneidade foram conseguidas em menos de 4 anos, o resultado é ainda mais surpreendente.

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A

Céline é hoje uma marca renovada, global e consolidada,as suas colecções são, a dia de hoje, peças de culto e toda uma declaração de intenções, Phebe Philo segue por detrás de uma marca que nunca antes esteve tanto na vanguarda do design. Será então verdade a máxima de que “Less is More”? Pois, parece que sim...

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Uma Helsínquia para todos

Texto: Weselina Gacińska Tradução: Elis Porfirio Fotos: Jaime G. Masip

La entrada al puerto de Helsinki; seguramente es la vista más emblemática de la ciudad, donde destaca la iglesia de Tuomiokirkko y su presencia vigilante por encima de Palacio Presidencial.

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I

ndependentemente do objectivo da viagem, ou da estação do ano, a capital Finlandesa com a sua tranquilidade e arquitectura classicista, onde se misturam influências russas e suecas, é encantadora. De certa forma, o modelo de Helsínquia está baseado em San Petersburgo. Enquanto pertenceu ao Império Russo, entre 1809 e 1918, albergou o estilo vigente da época, o que lhe dá um excepcional carácter, impossível de encontrar noutras capitais escandinavas.

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símbolo de Helsínquia – a branca catedral protestante Tuomiokirkko que domina a cidade, constitui o elemento mais característico da paisagem urbana. A majestosa construção contrasta com o modesto e ténue interior, iluminado apenas por algumas lanternas. No entanto, a 30 de Abril a catedral converte-se num local de encontro de estudantes de todas as Universidades de Helsínquia; começam as celebrações de Vappu.

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Al comienzo de Vappu las escaleras de Tuomiokirkko se convierten en lugar de encuentro y celebraci贸n.

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esse dia, às 6 horas da tarde, as festas começam quando um grupo de elegidos coloca um chapéu branco a Havis Amanda, o símbolo modernista da cidade. Centenas de pessoas se reúnem, em torno da estátua de uma jovem nua, trajando fatos coloridos e chapéus brancos. Segundo a tradição, todos os que tiverem obtido o título de Bacharel tem direito a colocar o chapéu branco durante a festa Vappu. Os festejos duram até 1 de Maio, concertos e festas organizadas nas cidades universitárias e no centro da cidade, convertem o parque Kaivopuito num local de passagem obrigatório.

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centro histórico de Helsínquia é relativamente pequeno, todos os lugares de interesse mais relevantes se encontram a pouca distância. A alguns passos de Tuomiokirkko, frente ao porto, situase a catedral Uspensky, a maior igreja ortodoxa da Europa, fora do território Russo. Merece ser visitada, porque além de um interior exuberante, oferece uma vista para o Porto Sul e para o centro da cidade. Em direcção ao porto, passamos ao lado do Palácio Presidencial e o do edifício da Câmara antes de chegar a Esplanadi. Frente ao Palácio, um pequeno mercado convida à degustação das especialidades locais, bem como nos permite conhecer o artesanato finlandês de couro e lã.

Ni los tres herreros, símbolos del trabajo y la cooperación humana, se libran de vestir la gorra blanca de Vappu durante la festividad.

Por outro lado,o mercado modernista kauppahali de interiores elaborados de madeira, mantêm vivo o estilo art nouveau e a rica oferta culinária finlandesa ganha relevância– desde os pratos de peixe típicos da Finlândia, até à carne de rena, ou o caviar russo!

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om partida desde o Puerto Sur, são constantes a saída de barcos até à fortaleza sueca Suomenlinna.

Construída em 1748 em cinco ilhas, tinha como objectivo proteger as entradas da cidade desde o mar. Ainda hoje se conservam a maioria dos muros e aterros de defesa, juntamente com a artilharia, enquanto alguns edifícios militares se converteram em museus e galerias. O Museu do Brinquedo é uma curiosidade da ilha. Neste pequeno e familiar museu reunem-se mais de mil bonecas, ursos de peluche e jogos de toda a Europa. O brinquedo mais antigo da colecção é uma boneca fabricada em 1830. A excursão a Suomenlinna ganha intensidade se for realizada numa tarde de sol, as múltiplas rutas criadas junto à costa, os museus e as várias cafetarias asseguram uma estada agradável e verdadeiramente escandinava. Mas Helsínquia não significa só modernismo, ou classicismo escandinavo. A forte presença do design no espaço urbano fez que se outorgara a Helsínquia o título de World Capital Design 201. Aqui, ou na vizinha Espoo, encontram-se a maioria dos ateliês, e realizam-se a maior parte das conferências e exposições.

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La cultura marĂ­tima se muestra en numerosos rincones de Helsinki recordando los orĂ­genes comerciantes del pueblo finlandĂŠs

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Muelles y embarcaderos recreativos rodean la ciudad. Al fondo la Catedral Uspensky y otros edificios decimon贸nicos.

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I

mpulsionada pelo reconhecimento que o prémio outorga, Helsínquia assume a execução de novos projectos arquitectónicos, a “Igreja do Silêncio”, na praça Narinkka, oferece um espaço silencioso para um momento de descanso e tranquilidade no coração da cidade. Tambem Porvoo, uma das cidades mais antigas da costa Sul da Finlândia,é um destino marcado como “must see” Pode-se visitar de carro ou autocarro, mas a maneira mais pitoresca é optar por um dos trajectos pelo mar. A viagem de barco é a melhor opção para admirar a costa, os bosques e as diversas pequenas ilhas. Em Porvoo, espera-nos um passeio obrigatório pelas estreitas ruas calcetadas. A visita a Vanha Porvoo, o centro histórico, começa pela igreja medieval do séc. XV, Tuomiokirkko. Durante séculos o edifício sofreu varios incendios e remodelações. Actualmente, perfeitamente restaurado, atrai turista face ao reconhecimento da importância histórica. Ali mesmo, em 1809 o czar “Alexandre I da Rússia” proclamou o Grão-Ducado da Finlândia e convocou o primeiro parlamento finlandês. A história da cidade, com as complicadas relações com o império russo, assim como os objectos quotidianos importados no séc. XIX da Russia, estão expostos no museu da cidade, na praça de Porvoo.

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En Porvoo el viajero puede encontrar la tranquilidad de la provincia finlandesa

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centro histórico é imperdível, já que todas as vielas se dirigem até à praça principal, ou ao rio. As baixas casas de madeira, pintadas de cores pastel, criam a sensação de estar na tranquila província finlandesa e não numa grande área industrial do sul do país. Em Porvoo a sensação que o tempo parou,é notória.– no centro nevrálgico não existem souvenirs típicos, nem atracções turísticas. A recordação grava-se nos sentidos, as cafetarias, os pastéis e doces tradicionais, as frutas do bosque finlandesas,são o mais fiel souvenir que podemos trazer de terras finlandesas, em resumo, a harmonia entre o entorno e as suas gentes.

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o Sul da Finlândia, encontram-se vários contrastes: a natureza selvagem, as cidades industriais, inúmeras ilhas com pequenas aldeias, ou impressionantes cidades como Helsinquia e Porvoo. Há uma Finlândia para todos que aguarda por ser descoberta, e que deita por terra o estereótipo do Norte inacessível e permite-nos conhecer o porquê de que,reiteradamente.,é apontada como um dos países com melhor qualidade de vida no mundo.

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Las calles del centro histórico de Helsinki presentan una fusión de estilos arquitectónicos nórdico y ruso que caracteriza especialmente a la ciudad.


Culture Calendar Texto: Jose Manuel Delgado, Giulia Chiaravallotti Tradução: Carlota Branco

JEAN PAUL GAULTIER, “Universo de la moda: De la calle a las estrellas” (Até 6 de Janeiro de 2013, Fundación Mapfre, Madrid, Espanha) Pretende ser uma exposição cronológica sobre a carreira artística do mais acarinhado “enfant terrible” da moda parisina, através da evolução do seu estilo e do seu conceito de Moda. Produzida pelo Musée des Beaux-Arts, de Montreal, e com a colaboração activa da marca, constitui a primeira exposição internacional dedicada ao designer francês fora do seu país. A exposição conta com 110 peças de altacostura e prêt-à-porter, além de 50 esboços acompanhados de fragmentos de desfiles da marca e de entrevistas com o estilista. A retrospectiva tem início com “La Odisea” e claro está, com os inconfundíveis marinheiros e sereias, um verdadeiro símbolo na identidade do imaginário JPG. Segue posteriormente numa sala onde se pode descobrir tudo o que circundou o artista desde a sua infância, passando pelas influências que marcaram seu primeiro emprego, e não só; os espartilhos e as as cintas-liga, liberadas do caracter restringido que a intimidade lhes conferia, são características deste período que continua ao longo de sua produção artística. A nota de humor, sem dúvida obrigatória, é uma retrospectiva dedicada a Jean Paul Gaultier, assegurada pela presença de 30 manequins que, através de projecções, adquirem rostos, traços e vozes de amigos do designer francês e de personalidades conhecidas do “celebrity internacional”; um “jogo de disfarces”, onde o próprio Gaultier participa. Cortesia fundación mapfre

A não perder!

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Fernando Botero: A Celebration (Até 20 de Janeiro de 2013, Sala BBK, Museu de Belas Artes, Bilbao, Espanha) Para os amantes de uma sensualidade vital e exuberante, pelas mãos do reconhecido artista colombiano, trata-se de uma exposição a não perder. Uma verdadeira antologia da sua carreira artística, que inclui 79 pinturas e uma escultura – Cavalo com freios, de 2009 – exposta em plena rua, na Calle Gran Via, em Bilbao, frente à sede do banco patrocinador da exposição. Bilbao homenageia os 80 anos de Botero e os 60 anos da sua trajectória artística, através de algumas das obras expostas, que abordam as distintas áreas como a pintura, a escultura e desenho. Um plus da exposição reside no catálogo que sintetiza a mostra, realizado pessoalmente pela filha do artista e com textos de duas grandes figuras literárias latino-americanas, Carlos Fuentes e Mário Vergas Llosa, ambos Prémios Nobel da Literatura.

Wassily Kandinsky, Dalla Russia all’Europa (Até 3 de Fevereiro de 2013, Palazzo Blu, Piza, Itália) Através de 50 obras do expoente máximo do Abstraccionismo, proveniente de entre diversos museus Russos, o museu de San Petersburgo, possibilita uma aproximação aos primeiros anos de actividade do pintor russo; a exposição abrange o período entre 1901, imediatamente após ter abandonado os estudos etnográficos que o levariam às mais remotas aldeias do império russo, até 1922, quando decidiu abandonar a União Soviética a convite de Walter Gropius para leccionar aulas na Bauhaus. A exposição abre com uma inédita secção dedicada às criações e à influência que o folclore russo, deixou nas suas primeiras obras, para depois passar a uma atmosfera simbolista da pintura do período conhecido como “Murnau”, até chegar às suas obras mais mediáticas, onde ergue um ponto de conexão entre a vanguarda ocidental e a russa de Larionov, ou Goncharova.

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Pre-Raphaelites: Victorian Avant-Garde, Tate Britain, Londres. (Até 13 de Janeiro de 2013) A exposição que não será uma novidade em terras britânicas, reúne mais de 150 obras – entre pintura, escultura, fotografia e artes aplicadas, realizadas pelos Pre-Raphaelites, o primeiro grande movimento de arte moderna na Grã-Bretanha que nasceu fruto da crise económica de 1846. Liderado por Dante Gabriel Rossetti, William Holman Hunt e John Everett Millais, os Pre-Raphaelites revoltaram-se contra a arte estabelecida na segunda metade do séc. XIX. Inspirados na pintura do Renascimento, rapidamente executaram obras de uma qualidade pictórica satisfatória, na maioria aperfeiçoadas pelo uso de uma palete de cores frias, que realçam o misticismo de cada obra. Procuraram na abordagem ao Renascimento um guia para uma vida pessoal mais virtuosa e cristã, já que na sua época predominava a corrupção, representado pela inóspita e atroz sociedade industrial. Entre as obras que se podem apreciar destacamos a primeira pintura feita ao “plein air” Ferdinand Lured by Ariel (1849-50) de Millais, um dos 7 criadores da fraternidade.

Museum of Bags and Purses, Amsterdam, (Até 10 de Março de 2013) O museu de malas e carteiras encontra-se situado numa casa construída em 1664, no canal Herengracht no centro de Amesterdão. Com uma colecção de 4000 malas, carteiras, bolsas, sacos e acessórios que datam de finais da Idade Média até hoje, o museu de malas e carteiras é o maior do seu género no mundo. Estuda a mala e a sua história em toda a sua variedade de formas, funções e materiais, com ênfase no passado de cada peça e o que representa sobre o estilo e a moda em cada época. As malas, com formas inusitadas, começaram a aparecer no séc. XIX e a criatividade dos designers seguiu o ritmo das novas tecnologias. Com formas de ventilador, tubarão, casas, ou de veículos,o Museu assegura que o design e a criatividade são valores perenes na construção de uma sociedade

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Małopolska Garden of Arts (Desde 19 de Outubro, Cracóvia, Polónia) Cracóvia, talvez a mais internacional das cidades polacas, adquire um novo espaço para a cultura e para o entretenimento com a inauguração de Małopolski Ogród Sztuk (Małopolska Garden of Arts) em pleno centro histórico e que aspira a converter-se no “Centre Pompidou” da cidade. Fruto da iniciativa, nascida a principio da passada década, de não permitir espaços abandonados no centro a cidade, já se pode admirar a transformação do antigo edifício; originariamente alocado a uma escola de equitação e a um armazém teatral; numa espectacular estrutura, onde prima o vidro e as transparências que lembram um palácio de cristal. A fachada de cristais, que denuncia a antiga estrutura em ladrilho, vislumbra uma área cuidadosamente recuperada para um luxuriante jardim interior e uma metáfora de riqueza e de diversidade da oferta cultural que a nova estrutura vai promover na cidade polaca.

As Idades do Mar (Até 27 de Janeiro de 2013, Museu da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal) Não poderia senão ter lugar em Lisboa, uma exposição dedicada exclusivamente ao mar e ao significado que este elemento foi adquirindo através da história e da história da arte. Com a valiosa colaboração do Musée d’Orsay, a estrutura da exposição reúne as obras de 89 artistas, divididos por seis secções distintas: “A Idade dos Mitos”, “A Idade do Poder”, “A Idade do Trabalho”, “A Idade das Tormentas”, “A Idade Efémera” e “A Idade Infinita”. Manet, Constable,Monet, Van Goyen, De Chirico, Friedrich, Hopper, Fattori, Sorolla, Klee, Turner, são alguns dos artistas cujas obras poderão ser admiradas no Museo Gulbenkian até ao mês de Janeiro; de igual estarão presentes obras de artistas portugueses, tais como, Pousão, Souza-Cardoso, Vaz, Vieira da Silva e Menez – através dos quais nos interpela à interpretação sobre o particular significado que o mar tem no imaginário português.

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A ROOM FOR LONDON (Até 31 de Dezembro de 2012, Queen Elisabeth Hall, Quando o barco estiver ocupado, uma bandeira especial será içada e nos recordará que não há “camarotes” Londres, Reino Unido) disponíveis para essa noite. O quarto inclui um diário Para responder à pergunta, “Quem quer acordar num de bordo, um género de livro de registos onde o hósquarto no topo do teatro londinense de Southbank pede é convidado a anotar as suas diversas e interescom vistas sobre o Tamisa?”, surgiu uma edição espe- santes vivencias e observações a bordo deste navio. cial de Room for London, iniciativa que torna realiA experiência de David Kohn e da sua equipa era já dade os caprichos de alguns afortunados. reconhecida; criaram um restaurante temporal na A Room for London teve origem num concurso de Royal Academy of Arts e numa galeria de arte contemporânea em West End. design. A ideia era criar uma instalação temporária no topo Fiona Banner, por seu lado, expos recentemente a de um edifício mítico de Londres, em que duas pes- “Harrier and Jaguar”, um espaço baseado nas avionetas de combate, no átrio central da Tate Britain. soas poderiam passar a noite. A Room for London vai acolher artistas, escritores e comentaristas culturais que desejem participar e partilhar suas experiências durante fim-de-semana memorável. Este convidados especiais poderão usar esta experiência como fonte de inspiração para novas obras, ou publicações. Trata-se de um espaço projectado para a O concurso atraiu mais de 500 projectos, mas foram os criatividade. arquitectos David Kohn e Fiona Banner que venceram A Room for London, parte do festival de Londres 2012 com o projecto “Boat” (barco). e no final da Olimpíada Cultural, e foi impulsionada Para “Boat”, Kohn desenhou e dotou o edifício de to- pela Living Architecture em associação com a Artandos os elementos próprios de um navio de alto mar, gel e com o Southbank Center. e para aumentar a sensação de estar num barco, que a qualquer momento poderia ser usado para navegar, Evidentemente a entrada e reserva é para todos os chegou a criar uma plataforma superior e inferior. Só públicos, mas não para todos os bolsos; se está interque em vez da imensidão de um oceano e da costa de essado consulte www.Livinglondon.uk.com. uma ilha remota, encontraremos o rio Tamisa, o Big !Boa Sorte Marinheiro! Ben e a Catedral de St. Paul. Para esta edição foi escolhido o topo do Queen Elisabeth Hall, uma das mais emblemáticas e das maiores salas de concertos em Londres, com o propósito de acolher os interessados neste singular espaço na cidade, onde ninguém esteve anteriormente “hospedado”.

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