ATO I
(Aos poucos, todos vão aparecendo e se cumprimentando. 1 é a primeira a aparecer)
3: Seis dias! Eles deveriam ter terminado em dois. Falaram, falaram, falaram. Você já ouviu tanto falar sobre nada?
2: Bem... Eu acho. Eles têm direito.
3: É. Todo mundo recebe um julgamento justo. Esse é o sistema. Bem, suponho que você não possa dizer nada contra.
9: Gente, preciso ir ao banheiro rapidinho. (sai)
7: O que vocês acharam desse negócio sobre a faca?
10: Bem, olhe, eu já esperava A gente sabe com o que está lidando.
7: É.
1: Tudo bem, senhores. Vamos começar.
7: Certo. É melhor que seja rápido. Hoje tem reprise da final da Libertadores.
1: (para n° 8) Cadê a senhora com o número oito?
(Número 8 aparece e senta)
8: Ah. Eu sinto muito.
10: É difícil de entender, né? Uma criança matar seu pai desse jeito. Bem, é a lei do retorno. Eles deixam as crianças correrem soltas. Talvez aprendam.
1: Todo mundo está aqui?
12: A tia tá no banheiro.
(9 volta)
1: Gostaríamos de começar.
9: Perdoem-me, senhores. Eu não quis deixá-los esperando.
1: Boa noite. Vamos ver novamente as indicações do juíz. (lê em um papel) “O assassinato em primeiro grau - homicídio premeditado - é a acusação mais grave julgada em nossos tribunais criminais. Vocês ouviram nesses seis dias um caso longo e complexo e agora é seu dever debater para tentar separar os fatos da fantasia. Um homem está morto. A vida de outro está em jogo. Se houver uma única dúvida razoável em sua mente quanto à culpa do acusado, então, vocês devem declarar que ele não é culpado. Se, no entanto, não houver dúvida razoável, ele deve ser considerado culpado. Qualquer que seja a decisão, o veredicto deve ser unânime. Deliberem com honestidade e consideração. Vocês estão diante de uma grande responsabilidade. Obrigado.” Tudo bem, gente? Vamos começar? Vocês podem lidar com isso da maneira que quiserem. Quero dizer, não vou ditar nenhuma regra. Se queremos discuti-lo primeiro e depois votar, é uma maneira. Ou podemos votar agora para ver como estamos.
7: Vamos votar agora. Quem sabe, já vamos para casa.
10: Sim. Vamos ver onde estamos.
3: Certo. Vamos votar.
1: Alguém não quer votar? Ok (Explica a ferramenta de “levantar a mão”). Vamos lá. Todos os que consideram o réu culpado, levantem suas mãos.
(Sete ou oito mãos se levantam imediatamente. Outros sobem mais devagar. Há duas mãos não levantadas, 8 e 9. A mão de 9 sobe lentamente agora, enquanto 1 conta)
1: Nove... dez... onze São onze para culpado. Ok. Inocente? (8 levanta a mão) Um. OK. Onze para um. Agora sabemos onde estamos.
3: (sarcasticamente) Alguém sempre na esquerda. (Para o nº 8) Você acha que ele não é culpado?
8: (calmamente) Eu não sei.
3: Eu nunca vi um homem mais culpado na minha vida. Você estava no tribunal e ouviu a mesma coisa que eu. O homem é um assassino perigoso. Dava pra ver.
8: Ele tem dezenove anos de idade.
3: Isso é velho o suficiente. Ele esfaqueou o próprio pai, dez centímetros no peito. Uma criança inocente de dezenove anos. Eles provaram de uma dúzia de maneiras diferentes. Você quer que eu relembre um por um?
8: Não precisa.
10: (para o nº 8) Bem, você acredita na história dele?
8: Não sei se acredito ou não. Talvez não.
7: Então, porque você votou não culpado?
8: Havia onze votos para culpado. Não é tão fácil para mim levantar a mão e mandar um garoto morrer sem falar sobre isso primeiro.
7: Quem disse que é fácil para mim?
8: Ninguém.
7: Só porque eu votei rápido? Eu acho que o cara é culpado. Você não poderia mudar minha opinião nem se falasse por cem anos.
8: Não quero mudar sua opinião. Eu só quero conversar um pouco. Olha, esse garoto foi chutado a vida toda. Você sabe, viveu em uma favela, a mãe dele morreu aos nove. Isso não é uma vida muito boa. Ele é um garoto que tem raiva. Você sabe por que essas crianças são assim? Porque nós batemos na cabeça delas todo dia, todos os dias, desde que nascem. Acho que talvez lhe devamos algumas palavras. É isso.
10: Olha, senhora, sinceramente, não lhe devemos nada. Ele teve um julgamento justo, não teve? Olha, somos todos adultos aqui. Você não vai nos dizer que devemos acreditar nele, sabendo o que ele é. Eu vivi entre eles a vida toda. Você não pode acreditar em uma palavra que eles dizem. Todos sabemos disso.
9: (para 10) Eu não sei nada disso. Que coisa terrível de se acreditar! Desde quando a desonestidade é uma característica de todos? Você não tem monopólio da verdade.
3: (interrompendo) Tudo bem. Não é domingo. Nós não precisamos de um sermão.
9: O que esse homem diz é muito perigoso.
4: Não vejo a necessidade de argumentar assim. Eu acho que devemos ser capazes de nos comportarmos como pessoas civilizadas.
7: Isso.
4: Se vamos discutir este caso, vamos discutir os fatos.
1: Bom ponto. Afinal, temos um trabalho a fazer. Vamos fazer isso.
11: Um segundo, preciso só falar com minha filha.
(11 some. Todos esperam. Silêncio. Volta)
12: Eu tive uma ideia aqui. Estou pensando em voz alta agora, mas me parece que cabe a nós convencer essa senhora de que estamos certos e ela está errada. Talvez se cada um de nós falar por um ou dois minutos, talvez?
1: Isso parece justo. Vamos na ordem?
7: Ok, vamos começar.
1: Certo (para o nº 2) Acho que você é o primeiro.
2: (timidamente) Oh, bem... (Longa pausa) Apenas acho que ele é culpado. Eu pensei que era óbvio. Quero dizer, ninguém provou o contrário.
8: (calmamente) Ninguém tem que provar o contrário. O ônus da prova está na acusação. O réu não precisa abrir a boca. Isso está na Constituição. Você já ouviu falar disso?
2: (confuso) Bem, claro, eu já ouvi falar disso. Eu sei. Eu... o que eu quis dizer... bem, de qualquer forma, acho que ele era culpado.
3: Ok, vamos aos fatos. Número um, vamos pegar o velho que morava no segundo andar logo abaixo da sala onde o assassinato ocorreu. Dez minutos depois das doze da noite do assassinato, ele ouviu barulhos altos no apartamento do andar de cima. Ele disse que parecia uma luta. Então ele ouviu o garoto dizer ao pai: "Eu vou te matar!" Um segundo depois, ele ouviu um corpo cair e correu para a porta do apartamento, olhou para fora e viu o garoto correndo pelas escadas e saindo de casa, depois chamou a polícia e encontraram o pai com uma faca em seu peito.
1: E o médico legista traçou a hora da morte por volta da meia-noite.
3: Certo. (para nº8) Agora, o que mais você quer?
4: Toda a história do garoto é frágil. Ele alegou que estava no cinema. Isso é um pouco ridículo, não é? Ele nem conseguiu se lembrar do filme que ele viu.
3: Isso mesmo. (para nº 8) Você ouviu isso? (Para o nº 4) Você está absolutamente certo.
10: Olha, e a mulher do outro lado da rua? Se o testemunho dela não prova, não sei mais.
12: Isso mesmo. Ela viu o assassinato, não viu?
1: Vamos em ordem.
10: (alto) Só um minuto. Aqui está uma mulher que está deitada na cama e não consegue dormir. Está quente, você sabe. De qualquer forma, ela olha pela janela e do outro lado da rua vê o garoto enfiar a faca no pai. Ela conhece o garoto a vida toda. A janela dele está bem em frente à dela, do outro lado da pista, e ela jurou que o viu fazer isso.
8: Pelas janelas de um trem elevado que passa.
10: Sim! E eles provaram no tribunal que você pode olhar pelas janelas de um trem que passa à noite e ver o que está acontecendo do outro lado. Eles provaram isso.
8: Gostaria de perguntar uma coisa. Porque você acredita nela e no menino não? Ela pode ser um deles também, não?
10: (sarcasticamente) Você é uma senhora muito inteligente, não é?
1: Calma, gente.
3: Calma? (para nº 8) Que senhora irritante!
1: Vamos nos acalmar. Número. 5, é a sua vez.
5: Eu passo.
1: Você está no seu direito (Para o nº 6) E você?
6: (lentamente). Eu não sei. Comecei a me convencer com o testemunho daquelas pessoas que moram do outro lado do corredor, sabe? Eles disseram algo sobre uma discussão entre o pai e o garoto por volta das sete horas da noite, não foi? Quero dizer, posso estar errada.
11: Acho que eram oito horas. Não sete.
8: Isso mesmo. Oito horas. Eles ouviram o pai bater no garoto duas vezes e depois o viram sair furiosamente da casa. O que isso prova?
6: Bem, isso não prova exatamente nada. É apenas parte da história. Eu não falei que provaria nada.
(Silêncio)
1: Mais alguma coisa?
6: Não.
1: Ok. (para nº 7) E quanto a você?
7: Não sei, a maior parte já foi dita. Podemos conversar o dia todo sobre isso, mas acho que estamos perdendo nosso tempo. Olhe para o registro do garoto. Aos quinze ele estava no reformatório. Ele roubou um carro. Ele foi preso por assalto. Ele foi preso por brigar com facas. Eu acho que eles disseram que ele esfaqueou alguém no braço. (irônico) Este é um garoto muito bom.
8: Desde que ele tinha cinco anos, seu pai o espancava diariamente.
7: O meu também me batia, por favor!
3: (para nº 7) Você está certo. O problema são as crianças. Do jeito que são, sabe? Eles não escutam. (Amargo) Eu tenho um filho. Quando ele tinha oito anos, ele fugiu de uma briga. Eu o vi. Eu fiquei com tanta vergonha e disse: "Eu vou fazer de você um homem ou vou te quebrar em pedacinhos tentando". Quando ele tinha quinze anos, ele me bateu na cara. Ele é grande, você sabe. Eu não o vejo há três anos. Garoto podre! (Pausa) Certo, vamos continuar.
4: Estamos perdendo o ponto aqui. Esse garoto - digamos que ele é produto de um bairro imundo e de um lar desfeito. Nós não podemos evitar isso. Não estamos aqui para discutir as razões pelas quais as favelas são um terreno fértil para criminosos. Elas são. Eu sei isso. Você também. As crianças que saem de favelas são ameaças potenciais à sociedade.
5: Eu vivi em uma favela a vida toda.
10: Ah, peraí...
5: Eu costumava brincar em um quintal cheio de lixo. Talvez ainda tenha o cheiro.
1: Sejamos razoáveis. Não há nada pessoal.
5: Há algo pessoal!
3: Ele não quis dizer você, companheiro. Não sejamos tão sensíveis.
11: Eu entendo a sensibilidade.
(Há uma longa pausa)
1: Agora vamos parar de brigar. Estamos perdendo tempo. (Para o nº 8) É a sua vez.
8: Tudo bem. Eu tive um sentimento peculiar sobre esse julgamento. De alguma forma, senti que o advogado de defesa nunca realmente conduziu um interrogatório completo. Quero dizer, ele foi nomeado pelo tribunal para defender o garoto. Ele mal parecia interessado. Muitas perguntas foram deixadas sem resposta.
3: (irritado) E os que foram interrogados? Por exemplo, vamos falar sobre a faca. (sarcástico) Você sabe, aquele garoto bom admitiu que comprou uma faca
8: Tudo bem. Vamos falar a respeito disso. Podíamos vê-la novamente.
(1 vai pegar a faca)
3: Todos sabemos como é. Não vejo por que temos que olhar novamente. (Para o nº 4) O que vocês acham?
4: O cavalheiro tem o direito de ver.
3: Ok.
4: (para o nº 8) Esta faca é uma evidência bem forte, você não concorda?
8: Concordo.
4: O garoto admite sair de casa às oito horas depois de levar um tapa no pai.
8: Um tapa, não, um murro.
4: Ou um murro. Ele foi a uma loja do bairro e comprou uma faca. O lojista foi preso no dia seguinte quando admitiu ter vendido ao menino. É uma faca muito incomum. O lojista o identificou e disse que era o único do tipo que ele tinha em estoque. Como o garoto conseguiu? (Sarcasticamente) Como presente para um amigo meu, ele diz. Estou certa até agora?
8: Certa
3: Agora ouçam essa voz. Ela sabe do que está falando.
4: Em seguida, o garoto alega que, no caminho para casa, a faca deve ter caído através de um buraco no bolso do casaco, que nunca mais a viu. Por favor, senhores. (Percebe) E senhoras. Vocês sabem o que realmente aconteceu. O garoto levou a faca para casa e algumas horas depois apunhalou o pai com ela e até se lembrou de limpar as impressões digitais.
4: Todos os envolvidos no caso identificaram esta faca. Agora você está tentando me dizer que alguém a achou na rua e foi até a casa do garoto e esfaqueou o pai com ela só por graça?
8: Não, estou dizendo que é possível que o garoto tenha perdido a faca e que alguém tenha esfaqueado o pai com uma faca semelhante. É possível.
1: (Exibindo a faca) Aqui está.
4: Dêem uma olhada nessa faca. É uma faca muito singular. Eu nunca havia visto uma igual e nem o lojista que a vendeu para o garoto. Você não conseguirá nos fazer aceitar essa coincidência ridícula.
8: Não estou tentando fazer ninguém aceitar nada. Só estou dizendo que é possível.
3: (gritando) E eu estou dizendo que não é possível.
(8 mostra um site onde tem a mesma faca pra vender. Todos reagem)
3: O que você está tentando fazer?
10: (em voz alta) Sim, o que é isso? Quem você pensa que é?
5: Veja! É a mesma faca!
1: Calma!
4: Onde você conseguiu isso?
8: Eu achei ontem à noite depois de uma busca rápida pela internet Me custaria 20 reais.
3: Agora me escute! Você fez um truque realmente bom aqui, mas não provou absolutamente nada. Talvez existam dez facas assim, e daí?
8: Talvez
3: O garoto mentiu e você sabe disso.
8: Ele pode ter mentido. (Para o nº 10) Você acha que ele mentiu?
10: (violentamente) Agora essa é uma pergunta estúpida. Claro que ele mentiu!
8: (para o nº4) Você?
4: Você não precisa me perguntar isso. Você sabe a minha resposta. Ele mentiu.
8: (para o nº5) Você acha que ele mentiu?
(5 não responde imediatamente. Ele olha em volta nervosamente)
5: Eu ... eu não sei.
7: Agora, espera. O que você é, o advogado do cara? Escute, ainda temos onze de nós que pensam que ele é culpado. Você está sozinho. O que você acha que vai conseguir? Se você quer ser teimoso e enforcar esse júri, ele será julgado novamente e considerado culpado, com certeza, como ele nasceu.
8: Você provavelmente está certo.
(Inicia-se um momento de confusão nas falas. Todos falam se atravessando)
7: Então, o que você vai fazer sobre isso? Nós podemos ficar aqui a noite toda.
9: É apenas uma noite. Um garoto pode ser morto.
3: Bem, de quem é a culpa?
6: Você acha que talvez se repassássemos a história novamente? O que eu quero dizer é...
10: Alguém o forçou a matar seu pai?
11: Esse não é o ponto.
5: Ninguém forçou ninguém. Mas ouça.
12: Olha, senhores, podemos cuspir a noite toda aqui.
2: Bem, eu ia dizer ...
7: Vamos logo. Alguns de nós têm coisas melhores para fazer do que sentar em uma sala do júri.
4: Não consigo entender uma palavra aqui. Por que todos nós precisamos conversar ao mesmo tempo?
1: Ela está certa. Eu acho que precisamos resolver.
3: (para o nº 8) Bem, e aí? Você é quem está segurando o show.
8: Eu tenho uma proposta a fazer. Quero pedir uma votação. Quero que os onze votem de forma secreta. Eu vou me abster. Temos como fazer uma votação secreta por aqui, 1?
1: Sim.
8: Ok. Se ainda houver onze votos para culpado, não vou ficar sozinho. Aceitarei o veredicto de culpado.
7: Ok. Vamos fazer isso.
1: Isso parece justo. Todos estão de acordo?
(Todos acenam que sim)
1: Mandem seu voto só para mim aqui mesmo pelo chat. Vamos lá.
1: Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. (Pausa) Inocente. Culpado.
10: (zangado) Como é que pode?
7: Quem foi? Eu acho que temos o direito de saber.
11: Com licença. Esta foi uma votação secreta. Nós concordamos sobre este ponto, não?
3: (com raiva) O que você quer dizer? Não há segredos aqui! Eu sei quem foi. (para o nº 5) Qual é o seu problema? Você entra aqui e vota culpado, aí esse pregador esperto começa a rasgar seu coração com histórias sobre uma criança pequena e pobre que simplesmente não podia deixar de se tornar um assassino. Então, você muda seu voto? Coisa doentia!
1: Agora calma.
3: Calma? Estamos tentando colocar um homem culpado onde ele pertence - e de repente estamos focando a atenção em contos de fadas.
5: Agora, olha só...
11: Por favor. As pessoas tem o direito de terem opiniões diferentes neste país.
10: Lá vem esse papo.
7: Vamos nos ater ao assunto. (Para o nº 5) Quero perguntar o que fez você mudar seu voto.
9: (calmamente) Não há nada para ele lhe dizer. Ele não mudou o voto. Eu fiz. (Pausa) Talvez vocês queiram saber o porquê.
3: Não, não gostaríamos de saber o porquê.
1: Ela quer falar.
9: Obrigado. (Para o número 8) Esta senhora escolheu ficar sozinha contra nós. Isso é direito dela. É preciso muita coragem para ficar sozinha, mesmo que você acredite em algo muito forte. Ela deixou o veredicto por nossa conta. Ela apostou em apoio, e eu dei a ela. Eu quero ouvir mais. A votação é de dez contra dois.
10: Tudo bem. Vamos continuar?
3: (para o nº 5) Olha, amigo, eu estava um pouco animado demais. Bem, você sabe como é. Eu... Eu não queria ser desagradável... não é nada pessoal.
7: (para o nº 8) Olha, me responda isso: Se o garoto não o matou, quem matou?
8: Até onde eu sei, devemos decidir se o garoto em julgamento é ou não culpado. Não estamos preocupados com mais ninguém aqui.
9: Culpado com uma dúvida razoável. Isso é uma coisa importante de lembrar.
3: Todo mundo agora é advogado. (Para o nº 9) Você deveria nos explicar quais são suas dúvidas razoáveis.
9: Isso não é fácil. Até agora, é apenas um sentimento que tenho, um sentimento. Talvez você não entenda.
10: Um sentimento? O que vamos fazer, passar a noite falando sobre seus sentimentos? E os fatos?
3: Você falou vários. (Para o nº9) Olha, o velho ouviu o garoto gritar: "Eu vou te matar." Um segundo depois, ele ouviu o corpo do pai cair e viu o garoto saindo da casa quinze segundos depois.
12: Isso mesmo. E não vamos esquecer a mulher do outro lado da rua. Ela olhou pela janela aberta e viu o garoto esfaquear seu pai. Ela viu. Agora, se isso não é suficiente para você...
8: Não é o suficiente para mim.
7: É como falar com um telefone mudo!
4: A mulher viu o assassinato através das janelas de um trem elevado em movimento. O trem tinha cinco vagões e ela o viu pelas janelas dos dois últimos. Ela se lembra dos detalhes
3: (para o nº 8) Bem, o que você tem a dizer sobre isso?
8: Eu não sei. Não parece certo para mim.
3: Ah, pelo amor de Deus!
8: (agressivo) Isto não é um jogo.
3: (se levanta, bravo) Quem você pensa que é?
7: Tudo bem, vamos com calma.
3: Vocês viram? Abusada! Abusada!
1: Agora, por favor. Não quero brigas aqui.
10: Tudo bem. Esqueça. Isso não significa nada.
6: Que tal sentar?
3: Isso não é um jogo. Quem ela pensa que é? (silêncio)
8: Quanto tempo leva um trem elevado em velocidade máxima para passar um determinado ponto?
4: O que isso tem a ver com alguma coisa?
8: Quanto tempo?
4: Eu não tenho a menor ideia.
8: (para o nº5) O que você acha?
5: Dez ou doze segundos, talvez.
8: Eu diria que foi um bom palpite. Alguém mais?
11: Eu pensaria em dez segundos, talvez.
2: Cerca de dez segundos.
4: Tudo bem. Diga dez segundos. Onde você quer chegar?
8: Isso. Um trem passa um determinado ponto em dez segundos. Esse ponto é a janela da sala em que o assassinato ocorreu. Você pode quase alcançar o trilho do trem pela janela da sala. Tudo bem. Agora, deixe-me perguntar isso. Alguém aqui já morou ao lado dos trilhos? Eu já. Quando a janela está aberta e o trem passa, o barulho é quase insuportável. Você não consegue se ouvir
10: Você vai chegar ao ponto?
8: O velho ouviu o garoto dizer: "Eu vou te matar", e um segundo depois ele ouviu um corpo cair. Um segundo. Esse é o testemunho, certo?
2: Certo.
8: A mulher do outro lado da rua olhou pelas janelas dos dois últimos carros do trem e viu o corpo cair, certo? Dos últimos dois carros.
10: O que você está querendo dizer?
8: Um trem leva dez segundos para passar por um determinado ponto, ou seja, dois segundos por vagão. Isso estava passando pela janela do velho por pelo menos seis segundos e talvez mais, antes que o corpo caísse, de acordo com a mulher. O velho teria que ouvir o garoto dizer: "Vou te matar", enquanto a frente do trem rugia passando. Não é possível que ele pudesse ouvi-lo.
3: O que você quer dizer? Claro que ele poderia ter ouvido.
8: Ele “poderia”?
3: Ele disse que o garoto gritou. Isso é o suficiente para mim.
9: Eu não acho que ele poderia ter ouvido.
2: Talvez ele não tenha ouvido. Quero dizer com o barulho do trem...
3: Do que vocês estão falando? Vocês estão chamando o velho de mentiroso?
5: Bem, sim
3: Você é louco. Por que ele mentiria? O que ele tem a ganhar?
9: Atenção, talvez.
3: Você continua falando essas palavras brilhantes. Por que você não envia para um jornal?
8: (suavemente) Por que o velho mentiu? Você tem o direito de ser ouvida.
9: É só que eu olhei para ele por muito tempo. A costura de sua jaqueta estava rasgada debaixo do braço. Alguém percebeu isso? Ele era um homem muito velho com uma jaqueta rasgada e carregava uma bengala. Acho que o conheço melhor do que qualquer um aqui. É um homem quieto, assustado e insignificante, que nada foi a vida inteira, que nunca teve reconhecimentoseu nome nos jornais. Ninguém o conhece depois de setenta e cinco anos. Isso é uma coisa muito triste. Um homem como esse precisa ser reconhecido. Ser questionado, ouvido e citado apenas uma vez. Isto é muito importante.
12: E você está tentando nos dizer que ele mentiu sobre algo assim apenas para que ele pudesse ser importante?
9: Não. Ele realmente não mentiria. Mas talvez ele se esforce para acreditar que ouviu essas palavras e reconheceu o rosto do garoto.
3: (em voz alta) Bem, essa é a história mais fantástica que já ouvi. Como você pode inventar uma coisa dessas? O que você sabe sobre isso?
9: (baixo). Eu falo por experiência própria.
1: Tudo bem, há mais alguma coisa?
8: Sim. Há outra coisa que eu gostaria de destacar aqui. Acho que provamos que o velho não podia ter ouvido o garoto dizer "eu vou te matar", mas supondo que ele realmente ouviu Esta frase: quantas vezes cada um de vocês usou? Provavelmente centenas. "Se você fizer isso mais uma vez, Junior, eu vou te matar." "Vamos lá, mate-o!" Dizemos isso todos os dias. Isso não significa que vamos matar alguém.
3: Espere um minuto. A frase era "eu vou te matar", e o garoto gritava no alto de seus pulmões. Não tente me dizer que ele não quis dizer isso. Alguém que diz algo assim do jeito que ele disse, quer dizer isso.
10: E como eles querem dizer isso!
8: Bem, deixe-me perguntar uma coisa. Você realmente acha que o garoto gritaria algo assim para que todo o bairro ouvisse? Acho que não. Ele é muito inteligente para isso.
10: (explodindo) Brilhante! Ele é um qualquer comum e ignorante. Ele nem fala um bom português!
5: Gostaria de mudar meu voto para inocente.
1: Você tem certeza?
5. Sim Tenho certeza.
1: A votação está em nove para culpado e três para inocente.
7: Ah, não, gente! (Para o nº5) Em que você está se baseando? Histórias que esse cara inventou? Ele deveria escrever para o jornal mesmo. Faria uma fortuna. Ouça, o garoto tinha um advogado, não tinha? Por que o advogado dele não mencionou todos esses pontos?
5: Os advogados não conseguem pensar em tudo.
7: (Para a nº8) Oh, docinho! Você senta aqui e inventa histórias do nada. Agora, devemos acreditar que o velho não se levantou da cama, correu para a porta e viu o garoto bater no andar de baixo quinze segundos após o assassinato. Ele está apenas dizendo isso para ser importante?
8: O velho disse que correu para a porta?
7: Caminhou. Qual é a diferença? Ele chegou lá.
5: Não lembro o que ele disse. Mas não vejo como ele poderia correr.
4: Ele disse que foi do quarto para a porta da frente. É o suficiente, não é?
8: Onde estava o quarto dele de novo?
10: No final do corredor. Eu pensei que você se lembrava de tudo. Você não se lembra disso?
8: Não. Eu gostaria de dar uma olhada na planta baixa do apartamento.
7: O quê?
1: Ok.
3: (para o nº 8) Para que é isso? Como é que você é a única na sala que quer ver as coisas o tempo todo?
5: Eu quero ver também.
3: E eu quero parar de perder tempo.
4: Se vamos começar a percorrer toda essa bobagem sobre onde o corpo foi encontrado
8: Não vamos. Vamos descobrir como um homem que teve dois derrames nos últimos três anos e que anda com uma bengala pode chegar à porta da frente de sua casa em quinze segundos.
3: Ele disse vinte segundos.
2: Ele disse quinze.
3: Como ele sabe quanto tempo são quinze segundos? Você não pode julgar esse tipo de coisa.
9: Ele disse quinze. Ele foi muito positivo sobre isso.
3: (bravo) Ele é um homem velho. Você o viu. Metade do tempo ele estava confuso. Como ele poderia ser positivo sobre alguma coisa?
(3 olha em volta timidamente, incapaz de disfarçar seu erro. Silêncio. 1 mostra a planta baixa)
1: Era isso que você queria?
8: Isso mesmo. Obrigado.
7: Me acordem quando isso acabar.
8: (ignorando-o) Tudo certo. Este é o apartamento em que o assassinato ocorreu. O apartamento do velho fica logo abaixo e é exatamente o mesmo. Aqui está a linha do trem. O quarto. Sala de estar. Cozinha Banheiro. E este é o corredor. Aqui está a porta da frente do apartamento. E aqui a escada. Agora, o velho estava na cama no quarto. Ele diz que se levantou, saiu para o corredor, desceu o corredor até a porta da frente, abriu-a e olhou bem a tempo de ver o garoto correndo pelas escadas. Estou certo?
3: Essa é a história.
8: Quinze segundos depois que ele ouviu o corpo cair.
11: Correto.
8: Sua cama estava perto da janela. Uns três metros da cama dele até a porta do quarto. O comprimento do corredor é de 8 metros. Ele teve que levantar da cama, pegar as bengalas, andar
três metros, abrir a porta do quarto, andar 8 metros e abrir a porta da frente - tudo em quinze segundos. Você acha isso possível?
10: Você sabe que é possível.
11: Ele anda muito devagar. Eles tiveram que ajudá-lo a sentar na cadeira das testemunhas.
3: Você faz parecer uma longa caminhada. Não é.
9: Para um velho que usa bengalas, é uma longa caminhada
(8 se levanta e começa a arrumar algumas coisas)
3: O que você está fazendo?
8: Eu quero tentar algo. Vamos ver. (Andando) Aqui, tem mais ou menos três metros da cama pra porta do quarto, ok?
3: Você é louca. Você não pode recriar algo assim.
11: Temos que ver, este é um ponto importante.
3: (louco) É uma perda de tempo ridícula.
6: Deixe-a fazer
8: Tudo bem. Esta é a porta do quarto. Agora, daqui até ali tem uns sete ou oito metros? É mais curto que o comprimento do corredor da casa deles. Não é?
9: Sim.
10: Olha, isso é absolutamente insano. O que faz você pensar que pode recriar algo assim?
8: Você se importa se eu tentar? Segundo você, levará apenas quinze segundos. Quem tem um cronômetro?
2: Eu tenho.
8: Quando você for começar, me avise. Isso será o corpo caindo. Tempo rola a partir daí. (Ele se deita na cama) Digamos que ele mantenha a bengala bem ao lado da cama, ok?
2: Certo!
8: Estou pronto.
2: 1, 2 e... Foi!
(8 levanta da cama e, bem devagar, vai fazendo o caminho traçado)
10: (gritando) Acelere. Ele andou mais rápido que isso.
11: Acho até que ele está andando mais rápido do que o velho andou no tribunal.
8: Se você acha que eu deveria ir mais rápido, eu vou. (continua andando até que para) Pare o tempo!
2: Certo.
8: Quanto tempo?
2: (diz o tempo cronometrado)
(Silêncio)
8: Acho que o velho estava tentando chegar à porta, ouviu alguém correndo escada abaixo e presumiu que era o garoto.
6: Eu acho que é possível.
3: (enfurecido) Presumiu? Agora, me escutem. Eu já vi todos os tipos de desonestidade na vida, mas essa pequena exibição leva o prêmio Você entra aqui com o coração sangrando por todo o lado por causa das crianças e da injustiça das favelas, inventa essa história louca e ainda tem algumas pessoas de coração mole ouvindo você. Bem, eu não estou. Estou ficando muito cansado disso. (Para todos) Qual é o problema de vocês? Esse garoto é culpado! Ele tem que queimar! Estamos deixando que ele escorregue por entre os dedos aqui.
8: (calmamente) Escorregue? Você é o carrasco dele?
3: (furioso) Sou!
8: Você só quer apertar o botão e fazer o garoto sumir, desaparecer.
3: (gritando) Para esse garoto? Pode apostar que eu gostaria de apertar esse botão!
8: Sinto muito por você.
3: (gritando) Não mexa comigo.
8: Como deve ser doloroso esse desejo mórbido de apertar o botão
3: Cale a boca!
8: Você é um sádico.
3: (mais alto) Cale-se!
8: (forte) Você quer ver esse garoto morrer por motivos pessoas, não por causa dos fatos.
3: (gritando) Cale-se! Eu te mato, desgraçada!
(Silêncio)
8: (suavemente) Você não quis dizer que realmente ia me matar, né?
(Silêncio)
4: Não vejo por que temos que nos comportar como crianças aqui.
11: Nem eu! Temos uma responsabilidade aqui. Isso é a democracia. Nós fomos notificados por correio para vir e decidir sobre a culpa ou inocência de um homem que não conhecíamos antes. Não temos nada a ganhar ou perder com o nosso veredicto. Não devemos fazer disso uma coisa pessoal.
12: Bem, ainda não chegamos a lugar algum. Alguém tem alguma ideia?
6: Acho que talvez devêssemos tentar outra votação.
1: Por mim, ok. Alguém não quer votar?
7: Tudo bem, vamos lá.
3: Eu quero uma votação aberta. Vamos falar nossos votos em voz alta. Eu quero saber quem está de que lado.
1: Alguém contra essa ideia? (Ninguém) Tudo bem. Eu voto como culpado. 2?
2: Inocente.
1: 3?
3: Culpado.
1: 4?
4: Culpado.
1: 5?
5: Inocente.
1: 6?
6: Inocente.
1: 7?
7: Culpado.
1: 8?
8: Inocente.
1: 9?
9: Inocente.
1: 10?
10: Culpado.
1: 11?
11: Inocente.
1: 12?
12: Culpado.
4: Seis a seis.
10: (bravo) Eu vou dizer uma coisa. O crime está sendo cometido é nesta sala.
3: Estou pronto para entrar no tribunal agora e declarar o júri suspenso. Não temos motivo para continuarmos.
7: Eu também aceito isso. Voltamos ao tribunal e deixamos o garoto se arriscar com outras doze pessoas.
5: (para o nº 7). Você ainda não acha que há espaço para dúvidas razoáveis neste caso?
7: Não, eu não.
11: Olha, talvez você não entenda o termo "dúvida razoável".
7: (bravo) Como assim, eu não entendo? Quem você pensa que é para falar comigo assim? (Para todos) Como vocês ouvem esse cara? Ele vem lá de não sei onde, com esse jeito ridículo de falar e, antes mesmo de respirar, está nos dizendo como agir Arrogante!
5: (para o nº 7) Espera aí. O que interessa de onde ele veio?
7: Pouco me interessa. Eu sou daqui.
5: De onde seu papai nasceu, né? Talvez não nos machucasse nada aprender coisas diferentes. Todos sabem algo que não sabemos.
11: Por favor, estou acostumado com isso. Está tudo bem. Obrigado.
5: Não está tudo bem!
7: Ok, ok, peço desculpas. É isso que você quer?
5: Sim. É isso que eu quero.
1: Tudo bem. Vamos parar de discutir. Quem tem algo construtivo a dizer?
2: (hesitante) Bem, algo está me incomodando um pouco. . . todo esse negócio sobre a facada e como foi feito, o ângulo, sabe?
3: Não me diga que vamos começar com isso. Eles passaram horas nisso no tribunal.
2: Eu sei que eles passaram, mas eu não estou convencido. O pai tinha um metro e oitenta de altura. O menino tem um e sessenta e três. Essa é uma diferença de dezessete centímetros. É estranho esfaquear alguém que tem dezessete centímetros a mais que você no peito.
3: Olha, você verá. Eu vou te dar uma demonstração. (se levanta) Agora, preste atenção que eu só vou fazer isso uma vez. Quinze centímetros, certo?
12: Dezessete.
3: Que seja. Dezessete. (Marca a altura na parede e mostra o movimento de esfaquear) Pronto. No peito. (Ri)
6: Isso não é engraçado.
5: (Para nº3) Qual é o seu problema?
3: Calma, gente. Ninguém está machucado, está?
8: Não, ninguém está ferido.
3: Sobre o ângulo: Era assim que eu apunhalaria um homem mais alto que eu no peito, e foi assim que ele fez.
6: É. Acho que não há argumento.
8: (para o nº6) Você já esfaqueou um homem?
6: Claro que não.
8: (para o nº 3) Você já?
3: Olha, não sejamos tolos.
8: Você já?
3: (em voz alta). Não, não fiz!
8: Onde você obtém todas as suas informações sobre como isso é feito?
3: Como assim? É apenas senso comum.
8: Você já viu um homem ser esfaqueado?
3: Não.
8: Tudo bem. Eu quero perguntar uma coisa. O garoto era um experiente com facas, certo? Até foi enviado para o reformatório por ter esfaqueado alguém, não foi?
12: Isso mesmo
8: Veja isso. 1, poderia mostrar a faca? Agora abra novamente e simule o esfaqueamento. Viram? Não parece uma maneira estranha de manusear essa faca?
3: O que você está dizendo?
5: Espera aí! Você pode mostrar a faca novamente?
8: Você já viu uma luta de facas?
5: Sim.
8: De perto?
5: No meu quintal, na minha varanda, no terreno baldio do outro lado da rua, vários. Essas facas são a cara do bairro onde eu morava. Engraçado eu não ter percebido isso antes. Eu acho que o corpo tenta esquecer essas coisas, sabe? 1, abra a faca, por favor. Quem já usou uma faca dessas jamais esfaquearia para baixo. Você não usa essa faca dessa maneira. Você a usa por baixo.
8: Então ele não poderia ter feito o tipo de ferida que matou o pai?
5: Não, ele não poderia. Não se ele já tivesse tido alguma experiência com facas.
3: Eu não acredito nisso.
10: Nem eu. Você está nos falando muita merda.
8: (para o nº12) O que você acha?
12: (hesitante). Bem . . . Eu não sei.
8: (para o nº7). E você?
7: Olha, eu vou lhe dizer uma coisa. Já estou um pouco cansado disso tudo. Estamos chegando a lugar nenhum. Vamos terminar e ir para casa? Eu mudo meu voto para inocente.
3: Você o que?
7: Você me ouviu. Eu já tô esgotado.
3: Como assim? Você está esgotado? Isso não é resposta.
11: (bravo) Ele está certo. Isso não é uma resposta. (Para o nº7) Que tipo de homem você é? Você se sentou aqui e votou como culpado só porque tem coisa mais interessante pra fazer. Agora você muda seu voto pelo mesmo motivo. Eu não acho que você tenha o direito de jogar assim com a vida de um homem. É uma coisa nojenta de se fazer.
7: Ei, espera aí! Você não pode falar assim comigo.
11: (forte).Eu posso falar assim com você, sim! Se você deseja votar inocente, faça-o porque está convencido de que o homem não é culpado. Se você acredita que ele é culpado, vote culpado! Ou você não tem a coragem de fazer o que acha certo?
7: Olha só...
11: É culpado ou inocente?
7: (hesitante. Eu te disse. Inocente.
11: (Difícil) Por quê?
7: Não preciso me...
11: Você precisa! Diga! Por quê?
(Eles se encaram. Silêncio)
7: (baixo) Não acho que ele seja culpado.
8: Eu quero outra votação.
1: Ok, vamos lá. Eu acho que a maneira mais rápida seria levantarmos as mãos novamente Alguém contra? (Ninguém) Tudo bem. Todos aqueles que votam inocente, levantem suas mãos.
(Números 2, 5, 6, 7, 8, 9 e 11 levantam as mãos imediatamente. Então, lentamente, o nº12 levanta a mão. 1 olha em volta e depois também levanta a mão. Conta silenciosamente.)
1: Nove. Os que votam como culpados.
(Números 3, 4 e 10 levantam as mãos.)
1: Três. A votação é de nove a três a favor da absolvição.
10: Eu não entendo vocês. Como podem acreditar que esse garoto é inocente? Olha, vocês sabem como essas pessoas mentem. Eu não tenho que contar. Eles não sabem o que é a verdade. E deixe-me dizer, eles também não precisam de nenhum grande motivo para matar alguém. (nº5 não aguenta e se levanta) Vocês sabem, eles ficam bêbados e fazem. É assim que são. Vocês sabem o que eu quero dizer? São violentos! (nº9 e 11 também não aguentam e levantam) A vida humana não significa para eles quanto significa para nós. Eles não se importam. Ah, claro, também há algumas coisas boas sobre eles. Eu sou o primeiro a dizer isso Conheci alguns que eram bastante decentes, mas eram a exceção. A maioria deles; não tem sentimentos. Eles podem fazer qualquer coisa.
9: Você é doente, sabia?
10: Doente? Cala a boca, sua velha imbecil! (nº1, 7 e 12 também levantam) O que está acontecendo aqui? Estou fazendo minha função aqui e vocês não me ouvem! Eles não são bons. Não há ninguém que seja bom. É melhor tomarmos cuidado. Esse garoto em julgamento.. ele... (sai nº3 deixando apenas 4) Bem, vocês não sabem sobre eles? Me escutem! O que vocês estão fazendo? Estou tentando dizer algo aqui.
(Vê que ninguém responde e fica em silêncio)
4: Já ouvimos o suficiente. Se você abrir a boca novamente, eu acabo com você.
10: (suavemente) Eu só estou tentando te dizer... (não consegue terminar)
4: Tudo certo. Sentem-se todos. (calmamente). Eu ainda acredito que o garoto é culpado de assassinato e vou dizer o porquê. Para mim, a evidência mais contundente foi dada pela mulher do outro lado da rua que alegou ter realmente visto o assassinato sendo cometido.
3: Isso mesmo. Para mim, esse é o testemunho mais importante.
8: Tudo bem. Vamos rever o testemunho dela. O que exatamente ela disse?
4: Acredito que posso recontá-lo com precisão. Ela disse que foi dormir às onze horas da noite. Sua cama estava ao lado da janela aberta e ela podia olhar pela janela enquanto estava deitada e ver e a janela do outro lado da rua. Ela rolou pela cama por mais de uma hora sem conseguir dormir. Finalmente, virou-se para a janela por volta das doze e dez e, quando olhou para fora, viu o garoto esfaquear seu pai. Olha, esse testemunho é incontestável.
3: É isso que eu quero dizer. Esse é o caso.
(Nº 4 tira os óculos e começa a limpar, enquanto todos ficam sentados em silêncio, pensando)
4: Francamente, não vejo como vocês podem votar pela absolvição. (para nº 12) O que você acha disso?
12: Bem... talvez... é muita evidência para peneirar.
3: Como assim, talvez? Ela está absolutamente certa. Podemos jogar fora todas as outras evidências, mas essa...
4: Esse também é o meu sentimento.
2: Que horas são?
11: (Fala a hora)
2: É tarde. Você não acha que eles nos deixariam descansar e terminar amanhã? Eu tenho uma pessoa doente aqui. Preciso voltar.
5: Acho que não
6: (para o nº 4) Perdão. Você não pode enxergar sem seus óculos?
4: Não claramente. Por quê?
6: Ah, eu não sei. Olha, isso pode ser um pensamento idiota, mas o que você faz quando acorda à noite e quer saber que horas são?
4: Como assim? Coloco meus óculos e olho para o relógio.
6: Você não usa óculos na cama.
4: Claro que não. Ninguém usa óculos para dormir.
12: Para que serve tudo isso?
6: Bem, eu estava pensando. Nós conhecemos a mulher que testemunhou e ela estava de óculos.
3: E daí? Minha avó também usa óculos.
8: Sua avó não é uma testemunha de assassinato.
6: Olha, me parem se eu estiver errada. Essa mulher não usaria os óculos na cama, usaria?
1: Espera aí! Ela usava óculos? Eu não me lembro.
11: (animado) Claro que sim! A mulher usava óculos bifocais. Lembro-me disso muito claramente.
9: Isso mesmo. Ela não os tirou nenhuma vez
4: Ela usava óculos. Engraçado. Eu não notei isso.
8: Ouça, ela não estava usando-os na cama. Isso é certo. Ela testemunhou que, no meio de suas viradas pela cama, rolou e olhou casualmente pela janela. O assassinato estava ocorrendo quando ela olhou para fora, e as luzes se apagaram uma fração de segundo depois. Ela não poderia ter tido tempo de colocar os óculos. Acredito que ela pensou honestamente que viu o garoto matar seu pai. Mas, eu digo que ela viu apenas um borrão.
3: Como você sabe o que ela viu? (em voz alta). Como ele sabe todas essas coisas? (Silêncio)
8: Alguém acha que ainda não há uma dúvida razoável?
3: (em voz alta) Eu acho que ele é culpado!
8: (calmamente). Mais alguém? 4?
4: (calmamente) Não. Estou convencida. Há uma dúvida.
8: Nº 12?
12: Sim, existe uma dúvida. O garoto é inocente.
8: Nº 10, você acha que ele é culpado?
10: Sim, eu acho que ele é culpado. Mas eu não poderia me importar menos. Façam o que quiserem.
8: Qual seu voto?
10: Eu voto inocente. Façam o que quiserem.
3: (Para nº10) Você é um merda! Eu acho que ele é culpado!
8: Mais alguém nessa sala considera o garoto culpado? (silêncio. Para o nº 3) 11 a 1. Você está sozinho.
3: Senhores, e as outras provas? Aquela parafernalha toda?
2: Você disse que nós poderíamos jogar todas as outras evidências fora.
(Silêncio)
8: Você está sozinho.
3: Eu não ligo se estou sozinho ou não! É meu direito.
8: É seu direito.
(Longo silêncio)
3: Bem, ele é culpado. O que mais vocês querem?
8: Seus argumentos.
3: Eu já dei meus argumentos.
8: Não estamos convencidos. Queremos ouví-los novamente. Temos tempo.
3: Tudo. Cada coisa que aconteceu naquele tribunal, tudo aponta pra que ele seja culpado. Acha que eu sou idiota, é? O velho morava lá e ouviu tudo! A faca! Só porque achou uma igual na internet? O velho o viu nas escadas! Que diferença faz quantos segundos foram? Cada detalhe. A faca caindo por um buraco no seu bolso? Não pode provar que ele não chegou até a porta. Claro. Ele manca. Mas você não pode provar. E a história do trem? E a de que foi ao cimema? História milaborante. Aposto mil dólares que lembraria o filme que vi. Estou dizendo. Tudo o que ocorreu aqui foi distorcido e modificado. Essa história dos óculos. Como pode saber? Ela testemunhou sob juramento. Estou dizendo. Tenho todos os fatos aqui. É isso. Isso é o caso. (Silêncio total) Digam alguma coisa. Seus imbecis com corações de manteiga. Vocês não vão me intimidar. Tenho direito a ter a minha opinião. Garoto podre. Vai ter que se virar sozinho! (3 desaba e aos poucos se recompõe) Inocente.
(Aos poucos, um por um vai se desconectando. Até que ficam só nº3, 8 e 9. Nº3 sai.)
9: Meu nome é XXX. Qual o seu?
8: XXX.
9: Bem... Até mais.