VIDA INVERSA - FOLHA DE SALA

Page 1

VIDA INVERSA de José Luís Peixoto

16 MAR a 16 ABR


SINOPSE Porque conseguimos continuar e, enquanto continuamos, continuamos. Estamos vivos. Ou acreditamos que estamos vivos, o que é, talvez, a mesma coisa. José Luís Peixoto Num mundo lógico e ilógico, personagens reúnem as suas melhores ideias para realizar o projeto do município de Bucareste. Ao fazê-lo, expõem as suas relações, os seus sonhos, equívocos, e também a forma como entendem o futuro, composto por agora, passado e futuro. E levantam muitas perguntas, problemas que as máquinas não conseguem resolver. Que mundo será este, tão parecido com o nosso?

SOBRE O ESPETÁCULO

[Texto de folha de sala atípico, arrítmico e caótico. Frases avulso retiradas do processo de ensaio]

TEXTO

PROCESSO CRIATIVO Neste projeto específico da “Vida Inversa”, neste lugar do tempo, quisemos continuar a trazer pessoas, mais criadores e algumas que ainda não tinham entrado neste espaço de criação. Quase todas as pessoas, neste projeto específico, chegaram recentemente. Mas dentro dele, estão pessoas da vida da Companhia, são de sempre e, dentro das pessoas que vamos sendo, somos feitos de todas as que passaram por aqui, pela vida e pelo teatro. Pessoalmente, não tenho tão boa memória para factos, mas sei sempre o que amo em cada um.

Gostar deste texto e de trabalhar com o José Luís Peixoto. Foi bom, outra vez, como em 2006 no “À Manhã”. Tem uma capacidade fantástica de urdir dramaticamente o texto e a particularidade dos escritores da liberdade: há zonas que estão mais abertas e que ele diz que devem ser resolvidas pela cena. Gosto disso. As personagens deste texto têm identidade e o texto tem muitas e muitas camadas que vão sendo desveladas à medida que o trabalhamos. Texto “matriosqueiro”. Perspetiva menos direta, o lugar do texto remete para uma experiência antiga, horrível, desenvolvida por Harlow em que macacos Rhesus foram retirados às mães. Os macacos que cresceram sem mãe, sem colo, em que as mães eram de arame embora amamentados, apresentaram para a vida disfunções cognitivas e problemas comportamentais significativos.

Aqui, neste texto, temos problemas similares; o “amor” é proibido. Ficaremos porventura menos inteligentes pela falta de


“nutrientes” afetivos num mundo em que nos encontramos menos, nos olhamos através de imagens e tocamos menos? Ficaremos emocionalmente ingénuos, pouco maduros? Infantilizados? Mais suscetíveis de fazer coro, de irmos atrás da manipulação e da notícia não verificada? No lugar distópico destas palavras há alguma perda no alargamento que devia ser permanente no alargamento do entendimento do mundo - o mesmo que o algoritmo nos faz; só nos mostra o que gostamos.

ENSAIOS Vou dizer muitas vezes a mesma coisa de maneira diferente, mas também o que vou pedir inicialmente, poderá ser exatamente o oposto do que irei pedir na fase final. Não é contraditório, é complementar e é, neste caso, patafísico. Mais, encenar para mim é descobrir no espaço com o entendimento do grupo destes atores específicos, a identidade e o que o espetáculo nos conta. Há certezas que se vão desvanecendo e outras que chegam, impondo-se. É bom mudar, o melhor da vida é a mudança. Implica olhar de muitos pontos de vista. Gosto de ir sendo surpreendida pelo crescendo da cena, pelas propostas dos atores. (Gosto tanto de atores e de eles serem os representantes da humanidade inteira…) Deslumbro-me e divirto-me muito. Às vezes, faço uma proposta e percebo claramente que não funciona. Gosto também que fique claro que fui eu que me enganei. Urgência, porque é sempre a primeira e última vez que estamos aqui. Na construção de uma personagem, quanto mais a desenhamos, mais profunda tem de ser a sua raiz. Entendo a intuição, como uma competência tão legítima como o raciocínio, sobretudo em alguns processos como este, em que temos de criar completamente um lugar para o texto. Inquieta-me a originalidade, pela originalidade. A originalidade é um valor intrínseco. Há soluções mirabolantes que vivem excessivamente de efeitos, em que a forma se sobrepõe ao conteúdo. Procuro sempre comunicar, para a transversalidade de uma plateia e que o espetáculo tenha sempre vários níveis de leitura. Penso que uma das grandes funções inerentes ao papel de encenar, no estar sentado do lado de quem propõe e vê, na criação de ponto de vista e na “modelagem da cena”, é conseguir ir olhando e ter muitas idades, e sentir e pensar imaginando diferentes pessoas sentadas na plateia. Estar ali a ser “mais do que 2, mais do que 100”.


ESPETÁCULO Gostava que este espetáculo fosse uma matrioska; dentro de dentro de dentro do TEATRO. Encontrar uma outra linha de tempo, de normalidade, é o processo. Este lugar é ingénuo, cruel, infantil, fantástico e absurdo. É político, é social, é lugar de distopia, em que aqui e ali reconhecemos paisagens da história, geografias humanas do aqui e agora. “Há dias da história em que ficamos todos tão mal ao espelho…” Este espetáculo tem muita coisa de um conto, o que pode implicar uma moral. Do que tenho medo é da imoralidade, não da moralidade. Hoje, aqui, somos também corpos que desconfinaram, estamos a abrir o casaco e a sentir o vento. Nesta pandemia a máscara escondeu as emoções e atirou-nos para um lugar mais só. Se não nos olharmos e escutarmos olhos nos olhos, teremos léxicos mais pobres ao nível da leitura das emoções e dos seus códigos expressivos? O afeto determina a inteligência. Há tantas máquinas e muitas, muitas são maravilhosas. A máquina aqui não pode ser olhada de uma forma maniqueísta. As máquinas são ótimas. Tem sempre a ver com a forma como nos relacionamos com elas. Podemos deixar lá bocados de nós, ou recuperarmos bocados de nós. Como em tudo, há várias maneiras de olhar para as coisas. Não gosto de lugares fechados, nem de espetáculos sem redenção, que não deixem portas pelo menos, entreabertas, ou janelas por onde possa entrar luz.


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA texto original JOSÉ LUÍS PEIXOTO encenação NATÁLIA LUIZA interpretação ANA CATARINA AFONSO, MARGARIDA CARDEAL, MARIA JOÃO FALCÃO, PAULO PINTO, RENATO GODINHO e em vídeo ALBERTO MAGASSELA, MIGUEL SEABRA, RUI M. SILVA, SUSANA MADEIRA espaço cénico e figurinos HUGO F. MATOS música original e espaço sonoro SÉRGIO DELGADO desenho de luz TASSO ADAMOPOULOS vídeo e fotografia RICARDO REIS assistência de encenação PATRÍCIA PINHEIRO formação de teatro da máscara RUI M. SILVA montagem e operação técnica GI CARVALHO assistência de cenografia e dir. de cena MARCO FONSECA assistência de cenografia RITA MENDES e RICARDO J. M. REIS edição vídeo DÂNIA VIANA e RICARDO REIS assistência de produção RITA MENDES e TERESA SERRA NUNES produção executiva SUSANA MONTEIRO direção de produção RITA CONDUTO agradecimentos ALMENO GONÇALVES, ANA TORRES, FRANCISCO MAURÍCIO,JOÃO REBELO, REGINA MATOS, RUI REBELO direção artística Teatro Meridional MIGUEL SEABRA e NATÁLIA LUIZA

Natália Luiza

Miguel Seabra

Maputo, Moçambique, 1960 Licenciada em Teatro, Formação de Atores, pela Escoola Superior de Teatro e Cinema, Bacharel em Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UL e frequência no Mestrado de Estudos Africanos. Tem dividido a sua atividade como encenadora, formadora, atriz, programadora e dramaturgista. Realizou 26 encenações e participou como atriz em 22 espetáculos de Teatro em várias companhias de Teatro. Programa há 30 anos juntamente com Miguel Seabra o Teatro Meridional. Faz rádio, cinema, dobragens e televisão.

Lisboa, 1965 Licenciado em Teatro - Formação de Atores pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Em 1992 funda o Teatro Meridional, Companhia onde se mantém como co-director artístico e que tem marcado o seu percurso profissional como Ator, Encenador, desenhador de luz, formador e produtor. Está ligado a todos as distinções recebidas pelo Teatro Meridional dos quais destaca o Prémio Europa Novas Realidades Teatrais, recebido em 2010. É professor convidado da Escola Superior de Educação de Lisboa, onde lecciona a disciplina "Oficina Artístico-Pedagógica" no Mestrado de Teatro na Educação, e desde 2018 lecciona um dos módulos da disciplina de Interpretação na Escola Profissional de Teatro de Cascais. Desde 2009 integra também o Conselho de Administração da Fundação Lucinda Atalaya, entidade responsável pela gestão do Jardim-Infantil Pestalozzi, escola de ensino pré-primário e 1º ciclo com sede em Lisboa.

[direção artística do TM e encenação]

[direção artística do TM e interpretação em vídeo]


José Luís Peixoto [texto original]

Galveias, 1974 Tem vasta obra publicada em diversos géneros. Os seus romances estão publicados em mais de trinta idiomas e foram distinguidos com o Prémio Oceanos de Literatura, Prémio José Saramago, Prémio Libro d’Europa, entre outros. Os seus livros de poesia estão representados em antologias num grande número de idiomas, foram musicados e integrados em diversos espetáculos e exposições, tendo sido distinguidos com o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores, Prémios de Poesia Daniel Faria, entre outros. Os seus textos dramáticos foram representados em diversos palcos nacionais e estrangeiros, como é o caso do Teatro Nacional de São João, Teatro Municipal de São Luiz, Théâtre de la Bastille, KVS (Teatro Nacional Flamengo), etc, por companhias como o Teatro Meridional, Tg Stan, Grupo de Teatro do Centro Cultural do Mindelo (Cabo Verde), etc.

Ana Catarina Afonso [interpretação]

Lisboa, 1976 Inicia o seu percurso artístico em Ballet, na Royal Ballet Academy, aperfeiçoando as técnicas de Dança contemporânea e Carácter. Frequentou o Curso de Interpretação Intensivo na escola In Impetus, complementando-se nas áreas de Dramaturgia e Técnica da Máscara. Estende a sua presença profissional em séries e telenovelas, sendo as mais recentes “Vento Norte” para a RTP, “O Clube” para Opto SIC e “Para Sempre” na TVI. No teatro integrou o elenco de “A Casa de Bernarda Alba” de Garcia Lorca, encenada por Celso Cleto e, a peça de teatro imersivo “Alice, o outro lado da História”, encenada por Miguel Thiré. Colabora regularmente na área das dobragens de filmes de animação e ainda na locução de documentários para a RTP. A poesia é uma expressão artística que adora, tendo sido editado recentemente o seu primeiro livro “A força de um Lugar”.

Margarida Cardeal [interpretação]

Lisboa, 1974 Aos 18 anos inscreveu-se no curso de Formação de Atores da Comuna Teatro de Pesquisa. Nesse mesmo ano estreia como profissional pela mão de João Mota e inicia a sua formação na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. Continuou a trabalhar regularmente com a Comuna Teatro de Pesquisa, e também com O Bando, O Mundo Perfeito, A Karnart, A Inestética, Os Pato Bravo e mais recentemente A Escola de Mulheres Oficina de Teatro.

Maria João Falcão [interpretação]

Lisboa, 1979 Atriz licenciada em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Estudou na RESAD (Madrid), École Philippe Gaulier (Paris), SITI Company (NY) e Odin Teatret (Dinamarca). Concluiu, em 2019, o mestrado em Theatre Practices na ArtEZ, Holanda. Trabalha como atriz em Teatro, Cinema e Televisão. Em Teatro trabalhou com Amândio Pinheiro, Miguel Loureiro, Miguel Moreira, André Amálio, Carlos Pimenta, André Murraças, Nuno Cardoso, Maria João Luís, André Gago, Jorge Silva Melo, Rodrigo Francisco, Toni Cafiero e Hugo Franco. Em 2019 cria a plataforma de Teatro “número cinco” e cria o projeto “Sob Convite” e, em 2021, “O Mestre”.

Paulo Pinto

[interpretação] Trigais, 1970 Trabalhou recentemente com os encenadores Pedro Carraca, David Pereira Bastos, Sandra Faleiro, Tiago Mateus, Cristina Carvalhal, Miguel Seabra, Mickael Oliveira, Tonan Quito, John Romão, Bruno Bravo, Jorge Silva Melo, Fernanda Lapa e Rogério de Carvalho. Encenou recentemente “Credores” de August Strindberg. No Cinema destaca o trabalho com os realizadores Raul Ruiz e Werner Schroeter, mas também Paulo Filipe, Sérgio Graciano e António Pinhão Botelho. É presença regular em ficção televisiva.


Renato Godinho

[interpretação]

Lisboa, 1981 Estreou-se em 1996 no Teatro Politeama no espectáculo “Godspell”, de Filipe La Féria. No ano seguinte ingressou no curso de interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais. Desde então tem feito Teatro, televisão, dobragens a algumas participações no cinema. Em 2008 estreou-se a encenar num projeto que fundou em Cascais, chamado Projecto Novos Actores. Em Teatro interpretou autores como Moisés Kaufman, Peter Shaffer, Witold Gombrowicz, Tennessee Williams, William Shakespeare, David Hare, Harold Pinter, Lorca, Jean Genet, entre outros.

Alberto Magassela

[interpretação em vídeo] Maputo, Moçambique, 1966 Formou-se em Ciências Pedagógicas, em Engenharia Informática e Mestrado em Engenharia de Software e Sistemas de Informação. Lecionou Matemática e Física. Iniciou a sua carreira como ator profissional na Companhia de Teatro Mutumbela Gogo, em 1991. Radicado em Portugal desde 1995, onde trabalha em produções teatrais, de cinema e televisão. Assinou encenações a partir de textos de Mia Couto, Luigi Pirandello, Anton Tchékhov, Javier Tomeo, Luís Bernardo Honwana, entre outros.

Rui M. Silva

[interpretação em vídeo] Ovar, 1975 Ator, encenador e formador. Estudou interpretação na Academia Contemporânea do Espetáculo. Tem também o diploma de Combate de Cena – Performing Certificate Stage Fighting, passado pela Society of British Fighting Directors. É ator profissional desde 1997, tem trabalhado em Teatro, Cinema e Televisão. No Teatro tem trabalhado com diversos encenadores como António Capelo, João Paulo Costa, Kuniaki Ita, Rogério de Carvalho, Alexandro Dabija, Joana Providencia, Júlia Correia, Nuno Pino Custódio, David Pereira Bastos, José Peixoto, Natália Luiza, Miguel Seabra e Tiago Rodrigues. Dirigiu como encenador diversos espetáculos, dos quais se destaca o espetáculo “Pop-Up”e “as estrelas morrem todos os dias”. Em 2021 estreou o solo "A Equipa". Atualmente faz parte do elenco do espectáculo “Catarina e a Beleza de Matar Fascistas” com produção do Teatro D. Maria II. Em 2019 fundou a Dentro do Covil - Criação e Produção Artística.

Susana Madeira

[interpretação em vídeo] Porto, 1980 Licenciou-se em Estudos Teatrais na ESMAE em 2006, desde então trabalhou como atriz em projetos de Diogo Dória, Nuno Preto, Inês Vicente, Rosário Costa, Miguel Seabra, Natália Luiza, Catarina Lacerda, Patrick Murys, Gonçalo Amorim, Rui M. Silva, José Carretas, Madalena Vitorino, Hugo Cruz, Rodrigo Malvar e Ricardo Neves-Neves; fez assistência de encenação a Miguel Seabra, Natália Luiza, Hugo Cruz, Rodrigo Malvar e Sara Barros Leitão; coopera com a Associação PELE em vários projetos, sendo o último de Teatro Comunitário; é membro do NTO – Porto, colaborando em projetos de Teatro-fórum; dá formação de Expressão Dramática a diferentes grupos; é colaboradora da NÓMADA Art & Public Space.

Hugo F. Matos

[espaço cénico e figurinos] Lisboa, 1981 Licenciou-se em Arquitetura no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa em 2004 e após especializar-se em Cenografia na Faculdade de Belas-Artes da Universidad Complutense de Madrid em 2009, integra diferentes equipas artísticas como freelancer, tendo sido responsável pela conceção e realização de cenografia, figurinos e adereços para produções de Teatro, Dança e performance. Ao longo do percurso destacam-se as criações produzidas com o Teatro do Azeite - associação, os bailados de repertório resultantes da colaboração regular com a Quorum Ballet - companhia de dança contemporânea, e a atual colaboração com o Teatro Meridional. É mestre em Ensino das Artes-Visuais pela Universidade de Lisboa (2017). É docente da especialização em Realização Plástica do Espetáculo do Curso de Produção Artística da Escola Artística António Arroio, desde 2011.


Sérgio Delgado

[música original e espaço sonoro] Moçambique, 1972 Iniciou a sua actividade como compositor/músico/sonoplasta para Teatro em 1996, tendo participado, até à data, em mais de 100 espectáculos. A sua versatilidade artística faz com que já tenha trabalhado com vários encenadores/companhias como Bruno Bravo (Primeiros Sintomas), Cristina Carvalhal (Causas Comuns), Jorge Andrade (Mala Voadora), Carlos Jorge Pessoa (Teatro da Garagem), Nuno Cardoso (Ao Cabo Teatro), Marcos Barbosa (Teatro Oficina), Ricardo Neves-Neves (Teatro do Eléctrico), Miguel Seabra e Natália Luiza (Teatro Meridional), Diogo Infante, Sandra Faleiro, entre outros. Ao logo destes anos ganhou alguns prémios nos quais se destacam, melhor peça de teatro – “A orelha de Deus”, encenado por Cristina Carvalhal nos prémios SPAutores 2009, melhor peça de Teatro com o espetáculo “Tio Vanya” encenado por Bruno Bravo nos prémios SPAutores 2020, melhor peça de teatro “Cyrano de Bergerac” encenado por Bruno Bravo nos prémios Time Out 2014, e melhor peça de teatro nos prémios Globos de Ouro 2019, onde participou com banda sonora original.

Tasso Adamopoulos [desenho de luz]

Lisboa, 1972 (PT/FR) Inicia o seu percurso profissional nas artes cénicas em 1995/96 no Teatro da Malaposta. Em 1997 frequenta a escola superior ADAMS 3i (Bordeaux-FR) e no ano seguinte, faz parte da equipa de iluminação da EXPO 98. De 1999 a 2007 reside e trabalha em França onde aprende, pratica e desenvolve profissionalmente a atividade de iluminador. Colabora com diversas companhias de teatro e dança, assume a direção técnica de um teatro e de alguns festivais, colabora com a Ópera de Bordeaux e faz digressões pela Europa e África. Em 2007 regressa a Portugal, passa pelo Teatro das Beiras, TNDM II, Teatro da Comuna, Atelier REAL, Teatro Aberto, Teatro TEMPO, Teatro dos Aloés, Teatro Meridional, Companhia de Teatro de Almada, Vagar, Companhia Caótica, O Bando, Companhia Casa Cheia, Associação LAMA, integra a equipa do Festival de Teatro de Almada desde 2007 e Festival TODOS em 2016/17. Em 2018 assume o cargo de Adjunto da Direcção Técnica no recente Teatro Luís de Camões – LUCA (Egeac).

Ricardo Reis

[vídeo e fotografia] Lisboa, 1985 Realizador e cinematógrafo português. Estudou cinema na Escola Artística António Arroio e na Escola Superior de Comunicação Social. Dedica-se à conceção, realização, cinematografia e produção de videoclips, curtas-metragens, documentários, espetáculos e séries audiovisuais. Colabora com diversas produtoras e associações culturais, dedicando-se a projetos que promovam a criação artística, o diálogo comunitário, a procura da sabedoria e a partilha das artes. Foi um dos realizadores da série “Online Dance Company”, que explora a dança e as possibilidades do movimento corporal e a sua interação com a música e a narrativa cinematográfica. O episódio “Heart of Stone” vence o prémio do público no festival Inshadow 2019. Realizou várias curtas-metragens de ficção, com seleção oficial em festivais como o MOTELx e Lis-boa. Produziu e realizou diversos videoclips para vários artistas e agências internacionais. Em 2021 realiza para a RTP Palco “Culto”, uma série de 9 episódios com produção da Musgo, que cruza poetas e poemas com leitores, bailarinos e músicos.

Patrícia Pinheiro

[assistência de encenação] Barcelos, 1986 Iniciou a formação no BalleTeatro Escola Profissional; Licenciada em Estudos Artísticos - variante Artes e Culturas Comparadas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Pós-Graduada em Escrita de Ficção sob direcção de Filipa Melo, para além de diversas formações complementares, destacando-se a École des Maîtres 2015. Foi dirigida e trabalhou com Ivica Buljan, João Cayatte, Beatriz Batarda, Polina Klimovitskaya, Thiago Felix, Almeno Gonçalves, Ricardo Correia, João Carneiro, Nikoletta Dimopoulou, José Jorge Duarte, João Paulo Lorenzon, Victor Hugo Pontes, João Paulo Seara Cardoso, entre outros. Durante 5 anos integrou a Umbigo Companhia de Teatro como intérprete, criadora e produtora. A música, a dança e a escrita são os companheiros do caminho, estando ligada ao projeto internacional para jovens músicos - "Music for Human Rights" - através da Associação Farra Fanfarra. Paralelamente tem desenvolvido o seu trabalho na direção de actores.


Marco Fonseca

[direção de cena e assistência de cenografia] Lamego, 1983 Licenciado em Design de Cena pela Escola Superior de Teatro e Cinema (2005). Trabalhou como assistente de Cenografia em projetos de José Carlos Barros e Teresa Mota. Colaborou com a Companhia Lama (Faro), Companhia da Outra (Brasil), Comédias do Minho, Teatro dos Aloés, na construção de cenografia e figurinos. Trabalha regularmente com os criadores Fernando Mota, Carla Galvão e Rui Rebelo, na realização plástica de espetáculos. Com Carla Galvão e Crista Alfaiate concebeu a máquina de cena do espetáculo para a infância “Lá Fora” (2014), e mais recentemente com Flávia Gusmão no projeto “Pantuta” (2016). Colabora regularmente com as cenógrafas Marta Carreiras e Teresa Varela, na criação e execução de cenários. Integra desde 2006 a equipa do Teatro Meridional, onde é responsável pela gestão e manutenção dos espaços de preparação, apresentação e armazenamento, bem como pela coordenação dos processos de construção e montagem das atividades da Companhia, assumindo a direção de cena e palco dos espetáculos.

Gi Carvalho

[montagem e operação técnica] Lisboa, 1974 Desde 1997 a trabalhar em artes performativas e eventos, com um percurso variado em estruturas institucionais e alternativas. Luz, direção técnica, planeamentos, montagens, régies, bastidores e backstages, tempos longos, repetições variadas.

Rita Conduto

[direção de produção] Barreiro, 1981 Licenciada em Comunicação Empresarial, especializou-se com o Curso de Gestão e Produção das Artes do Espetáculo (Fórum Dança) e com a Pós-Graduação em Património e Projetos Culturais (ISCTE). Teve formação iniciada como atriz e faz formação contínua nas áreas da produção e gestão de projetos culturais. Integrou a Direção da associação ArteViva Companhia de Teatro do Barreiro. Iniciou a atividade profissional no Fórum Dança, em 2006. Colaborou posteriormente nos departamentos de comunicação e assessoria de imprensa da Culturgest e do TNDMII. Colabora regularmente na direção de cena nos festivais anuais de música do CCB. Foi produtora executiva da KARNART (2011/12). Trabalha no Teatro Meridional desde 2016, na produção executiva e coordenação de equipa, desempenhando atualmente funções de direção de produção e gestão financeira.

Susana Monteiro

[produção executiva] Porto, 1981 Licenciada em Design Multimédia pelo ISMT, pós-graduada em Comunicação Estratégica Digital pelo ISCSP e mestranda em Comunicação Social pelo ISCSP, especializou-se em Câmara e Iluminação para Cinema e Televisão na Restart (Lisboa) e Técnica de Rádio na RUC – Rádio Universitária de Coimbra. Trabalhou como projecionista de cinema, foi assistente de imagem em duas curtas-metragens, assim como assistente de Fotografia no Estúdio Yves Callewaert. Na área editorial, foi coordenadora de distribuição livreira na Livraria Les Enfants Terribles e efetua trabalhos pontuais em design e paginação. Com as suas competências ao nível da captação e edição de imagem, inicia a sua colaboração com a equipa do Teatro Meridional, em 2013 e a partir de 2015, essa colaboração assume um caráter mais regular e assenta fundamentalmente na área de comunicação, assessoria de imprensa e produção executiva.


Rita Mendes

[assistência de produção e de cenografia] Lisboa, 1992 Rita Mendes é licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Posteriormente fez o curso de formação de atores na Act - Escola de Actores. Estagiou no Teatro Meriodinal, como atriz, no espetáculo “Dona Rosinha, a solteira ou a linguagem das flores”. Desde então colabora regularmente com o Teatro Meridional como assistente de produção e bilheteira. Paralelamente trabalha também como ilustradora e designer gráfica freelancer.

Teresa Serra Nunes

[assistência de produção] Portalegre, 1997 Licenciada em Ciência Política e com pós-graduação em Migrações. Devido ao seu envolvimento informal no sector cultural, acabou por se voltar para a área da produção. Fez o curso profissional de Produção de Eventos e Espetáculos na World Academy e é atualmente assistente de produção no Teatro Meridional. Paralelamente, trabalha desde 2020 como manager e agente de artistas na Maternidade, editora de música independente.Trabalha também como designer gráfica e ilustradora.

Ricardo JM Reis

[assistência de cenografia] Lisboa, 1999 Tem o curso profissional de Cenografia, Figurinos e Adereços da EPAOE-Chapitô. Conta com estágios em várias estruturas e com alguns profissionais tais como Marta Carreiras e Fernando Alvarez. Colabora como Assistente de Cenografia, Figurinos e Adereços no Teatro Experimental de Cascais e já colaborou com a mesma função noutras companhias tais como, São Luís, CCB, Teatro Meridional, entre outros. Já teve várias experiências em palco como Ator, Performer e Bailarino. Executou variadas maquetas para exposições de cenografias históricas do TEC. Maquilhador de teatro e circo. Também conta com formações de Caracterização, Face e Bodypainting, Teatro/interpretação entre outros.


O processo de escrita de “Vida Inversa” vem no seguimento da experiência que, em 2005, tivemos com o texto “À Manhã”. Apesar das especificidades deste novo tempo, com pandemia e outros constrangimentos, manteve-se a facilidade da relação e, em certa medida, foi como se não tivessem passado anos entre 2005 e agora. Para mim, debater o texto com a Natália Luiza, as suas propostas e visão é um privilégio e uma oportunidade. - José Luís Peixoto

Além de desafiante, é um reencontro com a Natália Luíza. É muito interessante e motivante, observar o entusiamo e a intensidade com que a Natália se exprime sobre o espetáculo, quer com os actores, quer com a equipa criativa. Gosto sempre de assistir a muitos ensaios e faz parte do meu processo criativo, acompanhar e propor sonoridades, quer seja música original, ambientes sonoros, ou sonoplastia. Esta constante experimentação sobre a estética do espectáculo, a cena, e a relação com as personagens, esteve muito presente neste processo e foi muito gratificante. - Sérgio Delgado


"… i . lógica” nota sobre a Cenografia e os Figurinos No escritório da empresa de Jean, há secretárias . mesas rinoceronte e cadeiras i . lógicas que se des . organizam sobre uma quadrícula espaço . tempo, sem curvatura. O bramir oblíquo . agudo dos rinocerontes surge sobre a perpendicularidade cartesiana dos limites que configuram o espaço. Há também uma janela . ecrã, perverso e levemente ondulado, virado para o município de Bucareste. Há um lugar de onde vêm a esperança e há a máquina . máquinas. Há um corvo, uma aranha, um cágado patafísico e também uma cabra. Há um coelho . zebra, um rinoceronte e necessidades colmatadas por bichos de plástico e peluche. Há telemóveis . espelho onde podemos ser um rinoceronte, um meta . rinoceronte ou quem quisermos…. Há o futuro adivinhado nas cartas e arquivos . dossiers com páginas sem palavras, onde o passado e a memória se definem como imposições de um tempo sem data, que avança numa velocidade própria. No escritório de Jean há gente com lentes ausentes. Há óculos que talvez permitam o encontro de estratégias urgentes para um projecto . mentira. E também há um braço a menos, carne a mais e … desejo. Há personagens i . lógicos que se vestem . revestem de cor . textura, numa procura pelo toque . ausente. Há excesso de tempo… e, sim… também há vento! - Hugo F. Matos

Um rinoceronte, a toda a velocidade, no passeio em frente!

Projeto desafiante pois foi a primeira vez que integrei a equipa criativa do Teatro Meridional, apesar de já ser um habitual colaborador técnico para esta casa. Desafiante pela responsabilidade acrescida de ser o espectáculo dos 30 anos do Meridional, companhia tão importante no nosso panorama cultural e teatral. Desafiante pois é sempre desafiante trabalhar em grupos de criativos e actores deste calibre. Desafiante sempre, e um prazer trabalhar na melhor sala de espetáculos do Poço do Bispo. - Tasso Adamopoulos


De que lado tens o coração? Ainda bate? Toc toc toc - quem é? Bicicletas ou rinocerontes, tudo parece vir com fome de nos aniquilar. Não toques, não te aproximes, desinfecta, não respires, não opines, a menos que concordes comigo. O meu algoritmo não tem tamanho para se misturar com o teu, deturpa a minha visão tão certa com as tuas idiotas ideias. Isola-te, não respires, olha o ar, está poluído, vento cheio de deserto, empurra para onde? Para dentro? Vai vai, fecha-te, espartilha-te, tapa a boca, tapa o nariz, ja fechaste os olhos? Devias. Olha para dentro e vê se gostas da paisagem. Assustaste-te? Está escuro? Tens medo dos rinocerontes porque nao te suportas ver ao espelho ou só temes as bicicletas porque te levam mais longe, ao que desconheces? Empurra para onde? Para dentro ou para fora? De ti ou de tua casa? Espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais bonito do que eu? Que lindo corno me cresceu, vou só pincelar para melhorar, ou disfarçar. Unicórnio voador no espelho inverso ou paquiderme de casca grossa cujas balas não atravessam? Observa-te, faz pose, faz beicinho, estica os lábios como se me viesses beijar - cuidado, não me toques, não me contamines de saliva ou carinho - e nesse exercício elástico dos músculos labiais demora-te - flash - estás perfeito, esse biquinho de pato vai render-te alguns milhões. Leva tudo à frente, não te preocupes com ou quem pisas, eles que saiam do caminho. A culpa não é tua, é a lei da natureza, a lei do mais forte. Atreve-te a pedalar e deixa-te ir, do alto dos teus 4000kg, experimenta o movimento. Não faças isso, se te desequilibras és esmagado pelos que vêm atrás. Ah, só os viste agora? Vêm sempre atrás, atrás de ti, do que sonhas ou ousas pensar. Ou achavas que por fazeres parte do grupo te iam proteger se a epiderme estalar? Rasga a pele, rompe o casulo; porque ficaram os gestos tão leves? O que é isto? É melhor voltar à casca grossa, protegido, inerte e morto. Que maravilha, assim já ninguém te pode matar. Suicídio iminente na busca da protecção. Valham-nos todos os anjos e santinhos, todos não, os nossos , que os estrangeiros têm costumes esquisitos e de menor valor. Jesus branco, loiro e de olhos azuis foi escondido com sucesso em África, genial camaleão, como não adorar a sua imagem? O muro está a crescer, que bonito! Já nem o sol se vê, mas antes gelado nas minhas convicções do que incomodado pelo calor e brisa. Quem se interessa pelo sol quando insiste em brilhar para todos? É muito injusto, quem nunca mexeu uma palha e vive à custa dos outros não devia poder sentir o morno no rosto e absorver aquela calma do final da tarde, nem mesmo a chuva em gotas fininhas ou grossas, a encharcar as roupas emprestadas. Ciclistas dependentes de subsídios e de cotas, a proclamar liberdade quando a pele devia apenas engrossar até virar arame farpado ou porco espinho. Rende-te à máquina, sê quem quiseres, ou o que quiseres. Mostra o teu melhor perfil e anula o pior da vista de todos. Se não se vê é porque não existe. Esquece as lãs e o tricôt, casacos para quê? Aqui a temperatura é sempre certa. Vem. Vem. Vem. Traz contigo as emoções e o coração, se ainda souberes onde se encontra. Abre a janela, abre o casaco, tira a máscara de oxigénio, despe-te, mas nunca feches os olhos, podes assustar-te com o que tens dentro. Estás pronto? Podes abrir. - Patrícia Pinheiro


Se achava que éramos nós que conduziamos os ensaios até uma estreia, posso agora dizer com esta experiência, que ali já estávamos a ser conduzidos. Talvez pela força do sentido da vida, do que já está “escrito” mas muito provavelmente pela união de toda a equipa, técnicos e produção - a família Meridional. Certo é, que creio ser este o verdadeiro caminho da missão e o compromisso teatral, alinhados com a pertinente proposta de ressignificar a nossa existência com a responsabilidade do que é saber sentir. Ter a oportunidade de nos sentarmos com o autor, José Luís Peixoto, sobre as questões que ele inversamente nos colocou a partir de um texto pronto, foi um desafio a todos os sentidos. E a Natália. A Natália é única: uma mulher inteira, completa, de uma criatividade, sensibilidade e urgência artísticas de resistência e militância. Não houve uma única indicação, na sua direção, sem um fundamento, um propósito. Antes de tudo isto, só o sonho. Obrigada! - Ana Catarina Afonso

O nosso primeiro encontro foi a 31 de Janeiro de 2022 para um espectáculo que estrearia a 16 de Março de 2022 “Vida Inversa” de José Luís Peixoto, mas o que verdadeiramente sinto é que o processo se iniciou meses antes com o primeiro contacto da Natália Luiza e posteriores contactos por parte do Teatro Meridional, como se uma nova constelação estivesse a ser criada para o derradeiro e irreversível encontro a 31, como se entrássemos no barco muito antes da viagem. Para mim o processo teve o seu início nesse primeiro telefonema, e esse futuro passou a fazer parte integrante dos meus dias. Sabia que seria intenso, e foi. Uma das realidades que mais me impressionou foi a coordenação de toda a equipa Meridional envolvida na criação do espectáculo, a convicção, a segurança, o rigor e cuidado com que todas as propostas iam aparecendo e integrando este ser vivo que estava em crescimento e construção, lembro-me de analisar a razão para tamanho feito, qual a chave para este entendimento colectivo sem ruído, fluido. Creio que está numa espécie de foco comum, propósito comum. O espectáculo a falar mais alto que qualquer indivíduo envolvido na sua construção. Elegante não é? Político. Uma das opiniões que mais ouvimos refere-se à ligação que se sente entre todos nós. Aquilo que mais nos é pedido pela Natália Luiza é que calibremos o espectáculo pelo todo e não pelos números de circo que cada um é capaz. Teatro portanto. Obrigada pela Viagem, sou melhor pessoa. - Margarida Cardeal


Daisy

Eco e Narciso… uma imagem… uma cabra. A imagem é alguém que passeia uma cabra ou é passeada por uma cabra… porque se distrai. Distrai-se com outra imagem… a própria imagem no espelho. Está aqui, mas também está no espelho. E olha outra vez e mais uma e mais outra e ainda outra vez. E gosta. sorri, ri. ri muito. gosta muito. cada vez mais. gosta demasiado… Ela vê. Ela vê-se e gosta tanto, tanto que, quase de repente, desaparece. - Maria João Falcão

Processo atribulado, uma vez que tivemos de ficar retidos em casa durante 2 semanas por causa da pandemia. O que diminuiu o tempo de apropriação física dos vários elementos do espectáculo que como sabemos é sempre obrigatoriamente presencial. É a construção de uma matéria corpórea a nossa função. Na minha preparação li “As Artimanhas e Opiniões do Doutor Faustroll” de Alfred Jarry, “O Rinoceronte" de Eugène Ionesco. Investiguei um pouco sobre o metatarso, vi videos do Chaplin, do Buster Keaton, do Einstein, do Jorge Silva Melo, do “Não se pode Exterminá-lo” do Teatro da Cornucópia. Vi umas séries da Netflix. Contei mentalmente muitas vezes três tempos depois de aquecer o corpo e a voz. Decorei o texto, ouvi as indicações da encenadora, inspirei-me nos meus colegas e agora tento esquecer-me de tudo para que tudo possa fazer sentido a quem se sentar a assistir ao espectáculo. - Paulo Pinto

Exercício difícil, o de comprimir em poucas palavras a dimensão de um processo criativo como este. Mas o mundo de hoje prepara-nos constantemente para a síntese. Vou tentar… Em curtas semanas viajei da estação onde um texto do José Luís Peixoto parecia um conjunto ilógico de cores, para a gare onde o espectáculo “Vida Inversa” se me apresenta já como uma articulação daquilo que poderá ser um futuro “atravessado por laivos do que é” já o presente. Inevitavelmente o artista tem um ponto de vista. É isso que o difere do intérprete. Entre outras coisas. Um espectáculo é uma colectividade de artistas, portanto de pontos de vista. A dificuldade de harmonizar os pontos de vista, as notas e timbres, as existências artísticas em palco, foi superada pelo prazer da constante procura e descoberta de questões, mais do que de respostas. Esse abstracto cheio de raízes, uma leveza cheia de intenção, um Amor profundo ao Teatro - que no Meridional não só se respira mas também se pratica - foram, a par do brutal companheirismo entre os 5 loucos, os autocolantes que guardei com mais apego. Foi bom, está a ser bom e será ainda melhor. Obrigado, Meridional. - Renato Godinho


TEATRO MERIDIONAL Gosto muito deste percurso, em que temos estado sempre lado a lado, o MIGUEL SEABRA e eu, na construção e procura diária do Norte deste projeto. Gostamos muitas vezes de coisas diferentes, temos processos de trabalho diferentes, mas ambos defendemos o rigor e o trabalho e chegamos, por vezes, a linguagens similares por caminhos distintos. E, é sagrado para ambos, esta escolha de vida de Ser e Estar no Teatro. As notícias do mundo, a pandemia, a guerra e nós a fazermos teatro, a propormos histórias no meio de todo este contexto… sentir, tantas vezes que, nos apetecia ir para o centro de outras urgências, mas depois lembrar-nos também da importância das histórias, da criação de imaginários, da imprescindível reflexão, do encontro presencial e partilhado, muitos no mesmo lugar ao mesmo tempo. E, percebermos depois que faz todo o sentido, cada vez mais sentido. Estamos aqui e somos carne e vontade Ser do Teatro é ser do trabalho. Muito trabalho e muita procura. Este lugar onde as coisas se constroem; pensamento, decisão, posicionamento e, claro, alegria, cumplicidade e também deslumbramento. Ser do coletivo e do rigor. Artístico e humano. O Teatro é o lugar onde se encontram no tempo e no espaço todas as artes e é a mais generosa de todas elas, pois vai integrando todas as que vão nascendo. Mais, o Teatro vive e sobrevive do pensamento e da subjetividade, mas também do conhecimento de todas as ciências exatas e de todas as ciências humanas. Lugar chão e de inclusão de tudo e de todos, de correntes de pensamento, de procuras estéticas, reduto de encontro da humanidade em si e com os outros.

Vamos diariamente fazendo sínteses. Mas os 30 anos, os números redondos, obrigam-nos a outras paragens. Fechar os olhos e ver muitas, muitas pessoas que são deste caminho e que o tornaram único e singular. Mas umas, são mais determinantes e importantes que outras. Com esta mania da inclusão e da uniformização tem-se tendência a tratar tudo como igual. Mas não é. Há quem seja da maratona e quem só correu 100 metros. É diferente. Agradecer a todos, mas os “nossos”, são família. Às vezes, disfuncional como em todas as famílias.

FOTOGRAFIA RICARDO REIS

São 30 anos de MERIDIONAL, companhia de Teatro que tem e continuará a andar por muitos caminhos, com muitas pessoas diferentes e múltiplas, sempre a procurar, a recomeçar, como se tivesse acabado de nascer. E como sabemos, nascer é um momento especial, às vezes, difícil. Mas nós continuamos.


MERIDIONAL E A VIDA INVERSA

Produção: TEATRO MERIDIONAL 2022 Data de estreia: 16 DE MARÇO 2022 Local: TEATRO MERIDIONAL, LISBOA Temporada: 16 DE MARÇO A 16 ABRIL 2022 Duração: 90 MIN Classificação etária: M/12 O Teatro Meridional é uma estrutura financiada pelo Governo de Portugal/Direção Geral das Artes e apoiada pela Câmara Municipal de Lisboa e Junta de Freguesia de Marvila. ESTRUTURA FINANCIADA

ESTRUTURA APOIADA

Rua do Açúcar 64, Beco da Mitra 1950-009 Lisboa Reservas e Informações 91 999 12 13 bilheteira@teatromeridional.net geral@teatromeridional.net www.teatromeridional.net APOIOS AO PROJETO

Fotografia: Ricardo Reis Design: Teresa Serra Nunes

“A gente tem-se uns aos outros e mais nada” – frase do espetáculo “À Manhã” texto do José Luís Peixoto em 2006 - tornou-se uma frase chave no MERIDIONAL… Os espetáculos vivem de vários criadores e a todos eles tenho de agradecer termos estado juntos e este processo teve o abraço e a criatividade de todos, mas um obrigada particular ao Hugo F. Matos e ao Sérgio Delgado, pela presença constante e alegria. E um obrigada maior aos cúmplices diários, seres humanos ímpares, destes últimos anos que vão sendo alguns, Marco Fonseca, Rita Conduto e Susana Monteiro. E o compromisso de que, enquanto houver sonhos e urgência e convocação continuaremos a jornada. Até ao próximo encontro, que é já a seguir. Natália Luiza


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.