Potyguaras N°2

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POTYGUARAS

2ª edição Arara Azul: brechó, projeto social e reciclagem têxtil Na capa, Luísa Castim, stylist em Natal Movimento Punk: Um estudo feito por um punk para leigos Macramê: Uma arte milenar que virou contemporânea Revista

olá

A Revista Potyguaras nasceu sobre a perspectiva de conversar sobre o cenário da moda e todas as suas nuances na cidade de Natal.

Editores: Alanna Lima Rayssa Bessa Mariana Moura Theodore Maia Lucas Gustavo Patrícia Chaves Dara Guedes

ÍNDICE

Arara Azul: brechó, projeto social e reciclagem têxtil

Entrevista com Luísa Castim, stylist em Natal

Movimento Punk: Um estudo feito por um punk para leigos

Macramê: Uma arte milenar que virou contemporânea

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Arara Azul Brechó, Projeto Social e Reciclagem Têxtil

A Arara Azul é uma empresa de impacto socioambiental e econômico, fazendo parte um brechó e um projeto social que doa roupas para mulheres em situação de vulnerabilidade social, incentiva a reciclagem têxtil e, primorosamente, leva capacitação também para as mulheres por meio da técnica de upcycling

"Vestimos mulheres não só de roupas. Vestimos de dignidade, autoestima e autonomia financeira".

"DaArara de2019,só restaramo nomeea vontadede fazera diferença nomundo."

Escreveu Fernanda

Sobral, uma das fundadoras, na revista digital Voo da Arara Azul.cesto feito pelo projeto Arara Social

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fotos instagram arara azul

Quem são as fundadoras?

O que significa a logomarca?

"Eu e minha sócia temos muito em comum e ao mesmo tempo somos muito diferentes.

Então essa logo simboliza isso: somos aparentemente iguais e cada uma tem sua essência

Por isso que está dividida ao meio e cada lado tem linhas diferentes Simbolizando nossa união e diferença "

Descreve Fernanda Sobral

O desapego é bem vindo!

Que tal praticar?

Que tal contribuir com peças que estão paradas em seu guarda roupa?

Você pode estar realizando uma solicitação para a coleta dos seus desapegos através do contato 84 99682 7347 ou das redes sociais @vempraarara e @ararasocial

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Quem é a Luísa, qual a sua trajetória e como é ser uma stylist independente na cena de Natal?

Desde que consigo me lembrar, moda é minha forma de expressão primária e escrita, a segunda. Elas são paixões de igual intensidade, mas diria que a escrita é para mim e a moda é para o mundo. Cresci num lar de educação muito tradicional, cuja prioridade era minha excelência acadêmica claro que por isso eu detestava cada minuto de estar na escola, mas tirava boas notas para manter meus pais satisfeitos Este infelizmente foi meu modus operandi até dezembro de 2019, quando comecei a morar só. Foi quando finalmente pude ouvir minhas paixões, desejos e ambições de maneira clara, sem ruídos ou palpites sobre o que eu deveria fazer com minha vida acho que muitas pessoas na casa dos vinte podem se identificar com essa dinâmica

com

Luísa Castim

@stylingbyluisa

Daí, em agosto de 2021 conheci Saulo Rocha, fotógrafo renomado, e instantaneamente nasceu uma amizade que muito estimo Saulo foi a primeira pessoa a acreditar em mim enquanto profissional de moda, tanto como influenciadora quanto stylist e até designer gráfica Foi ele quem sugeriu que eu trabalhasse com styling e acredite, eu relutei muito. Saulo se tornou meu grande conselheiro neste mundo, em todas as frontes de meu trabalho, e é sempre empolgante quando trabalhamos juntos: criamos universos, personagens, e consequentemente, narrativas

Com isso dito, preciso ser franca: meu trabalho de stylist, apesar de primoroso, ainda não é muito reconhecido para além de minha conta no TikTok. Assim, a maior parte de minhas criações nesta função são passion projects, mas não deixa de ser algo que faço com muito carinho e esmero

Sobre a Cena, acredito que estou em falta com ela Desde a pandemia, uma de minhas maiores dificuldades tem sido estar em ambientes "que não controlo", e no momento estou tratando minha ansiedade e depressão. Sendo minha saúde mental a prioridade, não sei ao certo quando comparecerei a outros eventos da cena independente, o que infelizmente limita, em parte, o networking que é tão necessário neste cenário

Entrevista
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f o t o d e a c e r v o p e s s o a l

Quem te inspira na moda e na vida?

A verdade é que, diante da vida, posso encontrar inspiração em qualquer lugar. A moda é uma das coisas que faz meus olhos brilharem diante da vida. Então... Podemos começar falando de moda?

Em termos de estilo pessoal tenho alguns ícones fashion que englobam fragmentos de minha personalidade, eu diria: Kristen Stewart, que possui um estilo muito casual, mas sua postura cool acaba por deixar qualquer coisa cool Para mim, ela é a rainha do street style sem esforço: jeans, tênis, camiseta, um acessório extremamente glamuroso aqui outro ali Coolest girl in the world, não tem muito o que falar; Dua Lipa, que inspira meu lado mais glamuroso, uma verdadeira fashion girly que se esforça para entregar tudo em todo e qualquer look, mistura designers tradicionais com outros emergentes, seu styling é criativo e impecável; Miley Cyrus, tão selvagem, tão livre e sexy e isso aparece em seu estilo pessoal ela é tudo o que eu gostaria de ter coragem para ser. Para além disso, ela é um camaleão, o que para mim é a melhor parte da moda.

Nos bastidores, porém, tenho como inspiração Demna Gvasalia, atual diretor criativo da Balenciaga, pois além de amar sua approach subversiva à moda "tradicional", a maneira com que Demna vende seus produtos me fascina Ele dominou o mercado, entende o que funciona e como manter os consumidores e a mídia interessados; Patricia Field, uma das mais renomadas figurinistas de Hollywood, que assinou o figurino de Sex And the City (série fundamental para eu me tornar quem sou hoje) e O Diabo Veste Prada também é outra de minhas grandes inspirações. A maneira como ela conta histórias através dos looks, e os looks em si, me encantam de modo que me falta palavras. Brilhante!, brilhante!; dos mais tradicionais, Karl Lagerfeld (descanse em paz), por sua inesgotável fonte de criatividade; Rick Owens e Miuccia Prada por serem tão cientes de suas identidades artísticas e pessoais, Rick tão disruptivo e confortável enquanto Prada continua a se reinventar num DNA inconfundível

É engraçado concluir que a moda inspira minha vida e vice versa: consigo encontrar inspiração em filmes, séries, livros, TikToks, músicas, conversas com amigos, comida, natureza, pessoas, fotos nas redes sociais. Sei que esta é a resposta mais genérica de todas, mas é também a mais sincera.

E Chloe Sevigny, claro.

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Como trabalho em diversas coisas: TikTok, YouTube, styling, designer gráfica na minha marca (Luisa Clube), influenciadora tenho muitos processos distintos.

Há alguns mais complexos, como o de styling converso com o cliente, pego inspirações, monto cada look, depois da aprovação dos looks pelo cliente, é empacotar tudo para levar ao shoot e depois trazer de volta e outros mais simples como o TikTok, no qual penso num conteúdo e imediatamente o gravo e posto, algo bem "point and shoot".

Em Luisa Clube é diferente pois não trabalho sozinha: minha sócia, Clara Metta, e eu, trazemos ideias, as discutimos, testamos, tudo é concebido em conjunto. É um processo muito leve, criativo e divertido, tira um pouco a seriedade e burocracia de ter uma marca

@luisaclube

Como você enxerga a estética da representação feminina por meio da moda em Natal?

Se estamos falando da mulher natalense média, pessoalmente não é algo que me empolga. Tudo parece muito igual, me entristece um pouco.

Como foi a produção e a criação da sua nova coleção para a Luisa Clube e quais foram as suas inspirações?
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foto por Saulo Rocha, acervo pessoal

Movimento PPunk Punk unk

O que é o punk

Punk é um movimento contracultura que surgiu em um contexto onde você tinha uma população pobre extremamente insatisfeita com o sistema politico vigente, desse modo eles catalisaram toda essa raiva e angustia através das músicas.

Posteriormente ele ganhou mais peso politico e transformou se em um movimento contracultura, onde propõe mudanças para a sociedade Os pilares do movimento são o anticapitalismo, a antimoda, antifascismo e contra qualquer tipo de preconceito, abraçando as minorias.

O punk no Brasil

Entre 1970 e 1980, o Brasil vivia o regime militar Na época, o movimento punk se firmou como uma resposta aos horrores da ditadura, os jovens brasileiros viram naquela música agressiva uma forma de colocar para fora toda a raiva e frustração que eles acumularam por causa de toda a repressão do regime militar Em 1978 foi criada a primeira banda de punk brasileira, intitulada "Restos de Nada", que traziam consigo músicas politizadas e bastante agressivas, porém por causa de toda a falta de informação da época o punk surge como um movimento de gangues, fazendo com que conflitos entre eles fossem comuns e então em 1982 surge o festival "O Começo do Fim do Mundo", que tinha como objetivo unificar os punks e acabar com todo aquele esquema de gangues e como resultado os punks se uniram por causa de um inimigo em comum; os policiais

"O que te faz de fato ser punk é a liberdade. A liberdade de poder se expressar Não importa como você o faça" Yungblud

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foto por Brian Jamie para o Rogue Magazine

Um dia você vai descobrir que todos te odeiam e te querem morto, pois você representa perigo ao poder. Eles não querem que você viva, destrua o sistema antes que ele o destrua. Não acredite em falsos líderes pois todos eles vão te trair.

Punk potiguar

No nordeste a principal característica dos punks durante muito tempo foi a proximidade com o anarquismo, a partir do surgimento dos coletivos anarquistas e anarcopunks na segunda metade dos anos 80, a maioria das cenas punks do Nordeste adotou o anarquismo como filosofia e o discurso libertário passa a nortear práticas e ações dos punks. O primeiro registro individual em vinil de uma banda punk da região Nordeste foi o disco Espelho dos Deuses (1990) do grupo Cambio Negro HC (PE)

Atualmente

capa por Tocaia Selo e Produções

O punk e metal de Natal estão fortes e eventualmente alguns participam de algumas ações políticas misturando música Além disso, muitas delas participaram do projeto do Tocaia Selo e Produções, intitulada “Nordeste em Chamas”, que conta com 101 bandas do Nordeste. Todos os estados estão presentes e da Bahia temos 31 bandas A curadoria e o lançamento do Nordeste Em Chamas foram feitos por Jone Luis, integrante da banda Jacau, de Itabuna, interior da Bahia. A ideia da coletânea é mostrar o quão forte é o underground nordestino, mesmo atravessando a pandemia do Covid 19. Uma coisa em comum é que as capas das duas coletâneas lançadas são uma crítica à atual gestão do Governo Federal.

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publicado em Câmbio Negro HC, por Augusto Garotos Podres

Estética

Primeiramente é importante frisar que você não precisa aderir a estética para fazer parte do movimento, o movimento não se resume apenas a estética, o mais importante é ter a atitude Você pode se vestir de maneira "punk" mesmo não sendo um, mas nesse caso você deve reconhecer que se vestir assim não te faz um punk

Se você consome a música, entendeu o que o movimento prega, entendeu o que é o movimento e se identificou, não se sinta inferior aos outros do movimento por se vestir de maneira diferente, contanto que você tenha atitude, seja uma pessoa que se posiciona politicamente e defende a minoria, não importa se você estiver utilizando até barbiecore, o punk é acima de tudo um movimento em prol da liberdade de ser quem você é.

Ato político

Tudo no visual punk tem um proposito e significado, não é apenas estético, consistindo em um ato político contra o sistema, seja através de moicanos, calças rasgadas ou patches, que são trabalhos feitos manualmente através de pintura ou bordados em pequenos tecidos, as chamadas calças crust, dando inicio ao "do it yourself", a prática de você mesmo customizar suas vestimentas, utilizando se fortemente da reciclagem de tecidos e objetos para incrementar ao visual, como correntes, bottons, coleiras e afins Por ser um movimento antimoda, não existe o chamado "moda punk" O conceito de antimoda teve seu inicio no século vinte e ela não prega o fim da moda e sim tem como intuito protestar contra a indústria abusiva e principalmente o de liberdade de expressão e a busca pela identidade própria na sociedade.

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foto por @mael nedz no Instagram carregado por Justin Bates no Pinterest
carregado por Cass B no Pinterest

Macramê: Uma arte milenar que virou contemporânea

Forte nos anos 70, o macramê ganhou ainda mais força em 2022 E, pelo que tudo indica, continuará presente no Verão 2023

Uma técnica que precisa apenas das mãos e barbante ou linha para criar peças únicas, através do macramê o artesão vai criando tranças, franjas e formas geométricas com amarração, fazendo com que cada peça tenha caraterísticas ímpares

Conta Priscilla Freitas, a nossa entrevistada dona do ateliê de macramê Pri Farias em Natal RN. (Entrevista completa a partir da página 13)

Com essa técnica é possível criar desde vestidos delicados e looks que mesclam com alfaiataria, a tênis e saltos de trama Como tendência do handmade, o macramê tem sido cada vez mais visado no mundo da moda

"Paramim,macramêéminhafilosofiae estilodevida.Quantomaisnóseufaço, maisdascargasnegativasmedesfaço."
Alberta
Ferreti 2022 12

Conversa com Priscilla Farias, empresária no ramo de macramê em Natal.

O que te levou ao macramê? Qual a sua história com ele?

Sou Priscilla Freitas de Farias, tenho 34 anos, bacharel, mestra e doutora em história O macramê entrou na minha vida durante o isolamento social na pandemia do COVID 19. Desde então, tem feito uma verdadeira revolução na minha vida. Inicialmente, o macramê surgiu como uma forma de ocupar a cabeça e incrementar a decoração da minha casa com um toque mais rústico, leve e aconchegante. No entanto, meu interesse pela técnica milenar só aumentava. Investi em materiais, e busquei cursos para me aperfeiçoar Eu comecei a dar presentes para amigos e, logo em seguida, comecei a vender, participar de feiras e divulgar meu trabalho na internet.

Em grande medida, o macramê foi responsável pela minha transformação interna, consistiu no meu processo de cura, me mostrou um propósito e devolveu minha auto estima

"Omacramêchegou
demansinho,demodo terapêuticoelogose tornouomeuofício!"
p e ç a c r i a d a p e l o a t e l i ê d e m a c r a m ê P r i F a r i a s peça criada pelo ateliê de macramê Pri Farias 13

O que te levou a empreender no macramê ?

Primeiro foi paixão, depois necessidade Eu abandonei meu antigo ofício para me dedicar ao macramê, então eu tive que correr atrás e fazer valer a pena Eu sempre fui da área acadêmica e professora, então esse mundo de empreendedorismo era uma grande novidade para mim Precisei estudar e me atualizar para acompanhar o mercado

Há quanto tempo você trabalha com a técnica do macramê?

Meus primeiros nós de macramê, eu aprendi no dia 8 de março de 2021, especificamente Em abriu fiz um perfil no Instagram e comecei a vender pela internet Em junho, comecei a participar de feiras itinerantes pela cidade de Natal. A princípio, eu só trabalhava com peças de decoração Só em dezembro de 2021, comecei a fazer minhas primeiras peças para vestuário, me encontrando e me realizando no ninho da moda

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p e ç a c r i a d a p e l o a t e l i ê d e m a c r a m ê P r i F a r i a s

Como surgiu a loja? Quais valores sua marca carrega?

A loja surgiu em um momento de transição profissional e existencial, surgiu de uma difícil decisão entre minha trajetória acadêmica no campo de pesquisa historiográfica e minha liberdade e leveza atrás do macramê. PARA MIM, macramê é minha filosofia e estilo de vida Quanto mais nós eu faço, mais das cargas negativas me desfaço. Então, os valores da minha marca estão diretamente ligadas com a espiritualidade, com a (re)conexão da feminilidade, da ancestralidade e da intuição

Qual foi a sua maior dificuldade no início?

Minha maior dificuldade foi encontrar material O macramê não tinha muita visibilidade, raramente encontrava barbante 24 fio nos armários, assim tive que comprar pela internet, pagando altos fretes! De fato, houve um “boom” do macramê não só no Brasil, mas ao longo de todo mundo, em grande medida devido uma visão nostálgica da década 50,60 e 70. Nesse contexto, grandes fábricas de linha, como a “Euroma” começaram a fabricar linhas específicas para macramê, assim veio outras pequenas fábricas e começaram a produzir o barbante 24 fios em sua diversidade de cores Hoje em dia, eu compro em atacado com grandes fabricantes, tanto o barbante 24 fios, como o fio de malha e o fio náutico, o que faz uma grande diferença na logística de encomendas, mas, sobretudo, no lucro final do produto

Uma outra questão que tive muita dificuldade inicialmente foi precificar os produtos, a maioria dos consumidores não têm consciência do valor de uma peça totalmente manual, artesanal e único! Acreditam que por ser artesanal, tem que ser mais barato, mas é justamente o oposto! E cabe a nós, artesãos e artesãs, reeducar essa visão

Como funciona seu processo criativo?

Eu gosto de fazer coleções por temas, buscando trazer características daquilo que quero homenagear em minhas roupas Sem dúvidas, para as partes técnicas da roupa, eu preciso estar sempre antenada na moda e nas passarelas Eu busco inspiração em estilistas e paleta de cores em artistas que admiro.

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peça criada pelo ateliê de macramê Pri Farias
REVISTA POTYGUARAS 2ª EDIÇÃO MODA RN

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