The Blue Magazine

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Maio 2016

Edição nº5

The

BLUE Magazine CULTURE


Índice O que é a Cultura para o ser comum?

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A necessidade da cultura para a realização pessoal do homem

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Cultura sem valores

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Desculturação: Um fenómeno eminente?

10 Conceito de tolerância

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Deixar o corpo falar por nós 14 Ensinem-me a aprender

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Pequenos paraísos nacionais 18 O mundo cabe em 2,13 km 20 Livros que mudam vidas 2

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Co l a b o r a d o re s

Luís Duarte Sousa Editor

André Nóbrega

Beatriz Alves

Rita Antunes

Miguel Gomes

Marta Véstias

Mauro Gomes

Alícia Raquel

Alexandra Quaresma

João Ratinho

Catarina Pinho

Ema Gil Pires 3


O que é a cultura Segundo a definição genérica de Edward B. Tylor, o pai do conceito moderno de cultura, é “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. A cultura é padronizada em códigos morais previamente definidos pela sociedade. O que é correto perante uma dada cultura poderá não ser para outra, pois difere de acordo com os padrões sociais adotados por cada comunidade. O que é ser portador de cultura? Será que é ser portador de conhecimento numa evolução e ascensão social constante? Creio que seja um desenvolvimento social dependente do desenvolvimento pessoal de cada um, estando cada um de nós expostos constantemente às experiências e vivências que a sociedade nos proporciona. E o que se entenderá por cultura primitiva? Será aquilo que nos forma como seres sociais? Segundo Darwin, “a cultura de um povo é objeto permanente de seleção natural”. O processo de cultura acontece de forma natural, como se fosse algo tanto de nato e adquirido ao mesmo tempo, pois as arestas são limadas pelas regras, leis, crenças e costumes colocados ao novo ser pelo grupo social em que este se insere. A sociedade reflete-se em nós e naquilo que consideramos moralmente correto ou errado, ético ou não ético, porque somos 4

Alexandra


para o ser comum? seres geneticamente abertos, isto é, vamonos adaptando a cada circunstância e cada obstáculo, evoluindo e progredindo. Sem cultura, provavelmente reagiríamos como um animal: por instinto e por condutas adequadas às situações, como que sendo uma resposta natural e comum. Seríamos seres monótonos e uniformes, não nos diferenciávamos uns dos outros, fosse por vocações, qualidades ou defeitos. Não temos capacidades pré-determinadas, desenvolvemos essas mesmas capacidades experiencialmente. As nossas ações e respostas ao meio ambiente e às circunstâncias provêm de uma reação apreendida através de certos comportamentos exercidos e observados no meio social. O que nos permite a nós (seres humanos) a capacidade de inovar, criar e sermos originais em todas as áreas da nossa vida. O ser humano está por isso em permanente mudança, melhoramento e aperfeiçoamento. A cultura tem vindo a evoluir desde a sua definição como “agricultura” na Roma Antiga, às mais variadas manifestações artísticas e técnicas por nós apresentadas. Para mim, a cultura é aquilo que nos forma e define nos dias de hoje como uma sociedade. Vai desde as áreas artísticas (música, arte, dança, teatro e outros tipos de representação) aos valores (sejam eles morais, de justiça ou crenças), englobando portanto, todos os hábitos e costumes.

Quaresma

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A necessidade de cultura para realização pessoal do Homem Marta Véstias

Toda a acção humana é marcada pela cultura. A enorme diversidade cultural existente

no mundo é um fenómeno absolutamente extraordinário, que nos possibilita uma

vastidão de descobertas e que concede valor à diferença, à unicidade. Todas as culturas têm algo de especial, que as caracteriza e que nos permite identificá-las. É assim a cultura - enriquece e dá cor, preenche.

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Para além da natureza, é a diversidade cultural que torna o mundo tão interessante. Permitenos explorar, descobrir de forma ilimitada, sem nunca podermos desvendar tudo, mas deixando-nos sempre com uma vontade excruciante de saber mais. Desde a forma peculiar como os membros de uma cultura celebram as suas vitórias à maneira como expressam as emoções, tudo é fascinante! É de

facto incrível observar a forma como a cultura está enraizada em todos nós. Este fenómeno deve ser amplamente valorizado e os indivíduos de todas as culturas merecem ser respeitados independentemente da raça ou da religião; devemos ser sempre livres para defender aquilo em que acreditamos! Podemos falar línguas diferentes, ter costumes diferentes, mas todos temos algo em comum enquanto

seres humanos mesmo sendo únicos simultaneamente. Aliás, faria algum sentido ser de outra maneira? É linda a forma como nas grandes cidades marcadas por uma imensa diversidade cultural as pessoas convivem em sintonia apesar das suas diferenças, se aceitam e se esforçam por se compreender mutuamente. A cultura abrange arte, crenças, hábitos; transforma o nosso mundo num lugar mais bonito, com mais


significado. A realização pessoal do Homem nunca seria concretizável sem a possibilidade de crer profundamente em algo, defendendo afincadamente aquilo em que se acredita e partilhando sentimentos em sociedade. Cria-se assim em nós o sentimento de que pertencemos a algo, aproximando-nos de pessoas com quem nos identificamos; é impossível negar que confere sentido à vida humana. Este fenómeno permite-nos desenvolver a criatividade, imaginação e racionalidade, concedendo-nos uma identidade cultural. De facto, o que seria de nós sem a literatura, a música, o teatro, o cinema, o desenho e a arte em geral? Bem, estaríamos perdidos, condenados a uma vida entediante e vazia. Afinal, a vida bem pode ser inspirada pela arte e não o contrário.

O que poderia substituir a beleza e a genuinidade de uma peça de teatro, a sensação de assistir a um concerto de música que nos faz sentir, a ligação entre autor e leitor ou o ambiente pacífico e acolhedor de uma livraria? Todos estes (mágicos) fenómenos unem pessoas de uma forma especial, permitem-nos experimentar sentimentos únicos de pura felicidade e fazem-nos sentir vivos. É aí que reside a verdadeira essência da cultura e é assim que nos é possível sonhar, sentir, enfim, viver. É evidente que, com a passagem do tempo, as alterações culturais são inevitáveis, o que contribui para o facto de a cultura ser um fenómeno tão fascinante; é incrível observar fotografias antigas ou filmes antigos e verificar a enorme evolução, mas compreender o que havia de mágico na cultura noutras

épocas, como a beleza dos encantadores vestidos dos anos 50 na cultura ocidental ou os poderosos edifícios que evidenciam a cultura da China antiga. É importante também compreender como a presença das novas tecnologias transformou a cultura, sendo fantástica a forma como podemos agora comunicar sem limites. Atualmente muitos jovens sentem a necessidade de ser indivíduos cultos, apreciando a liberdade de expressão e a facilidade com que se pode transmitir cultura. Demonstram constantemente a vontade de debater ideias, de discutir assuntos de natureza cultural e participar em todo o tipo de actividades culturais para enriquecimento pessoal. É neste sentido que o mundo deve evoluir, com a vontade de todos de crescer intelectualmente e de viver intensamente! 7


Cultura sem valores Miguel Gomes

Hoje em dia falamos de como a cultura é cada vez mais banalizada: as músicas que ouvimos parecem todas as mesmas, as roupas que vestimos são todas parecidas, os sítios que frequentamos, enfim… Parece que cada vez temos menos cunho pessoal naquilo que fazemos.

Claro está que não devemos dizer que um novo hit não tem o seu mérito, mas será que tem? Ou será que apenas banalizamos o seu conteúdo por ser igual aos outros e pensamos: “É parecido com aquela outra que já ouvi, por isso é boa”. A banalização da cultura também se sente quando vemos que o nosso património cultural é desprezado e vandalizado, ou pior ainda, quando mesmo o Estado não incentiva a produção cultural, quer seja com espetáculos, com a requalificação de museus, monumentos ou mesmo subsidiando escolas artísticas e conservatórios. Mas um cenário ainda pior é quando verificamos que as novas gerações não

Miguel Gome 8


es

têm prazer em aprender, em se tornarem cultas e portanto a difusão da ideia de “ser burro” é altamente banal, aceitável e muitas vezes aplaudida no meio em que os jovens se inserem. Exemplo disso são os programas televisivos, mais especificamente os reality shows, que de shows não têm nada, são apenas indivíduos que fazem de tudo para ser famosos e que não têm conteúdo nenhum, como uma caixa vazia mas embrulhada num papel de presente. Mas será que nós próprios temos noção dessa realidade? A banalização da cultura também leva a uma falta de valores cada vez mais presente nas novas gerações, o que leva também à banalização da violência, do racismo, da desigualdade entre sexos, da homofobia,

Pois é contrariando esta “moda” que poderemos fazer face à globalização da falta de cultura que pelos visto teima em continuar.

“Porque numa sociedade sem valores bem assentes, não há distinção entre aquilo que é correto ou não, valores esses que não são transmitidos devido à falta de cultura” e porquê? Porque numa sociedade sem valores bem assentes, não há distinção entre aquilo que é correto ou não, valores esses que não são transmitidos devido à falta de cultura. Portanto, sou por um mundo onde cada um seja culto à sua maneira e possa ser capaz de ele mesmo produzir algo, seja uma música, um poema, um vídeo, um blog, um quadro, sem que oiça frases do género: “Para quê que fazes isso? Não te vai servir de nada no futuro!” 9


Desculturação: Um fenómeno eminente? Segundo os dicionários vigentes, podemos dizer que a palavra desculturação define-se por um processo que ocorre quando a modificação cultural conduz à perda de características que até aí constituíam traços distintivos da cultura modificada. Ou seja, no fundo, é um processo de carência de identidade cultural dos indivíduos ou grupos sociais, como resultado da degradação do tecido social em que a transmissão dos valores morais e socioculturais vêem-se afectados como consequência de uma multiplicidade de factores, tais como a globalização, ou porque não, o terrorismo. Estado Islâmico. ISIS. Califado. Organizações terroristas. Atentado. Explosivos. Ameaça de bomba. Medo. Pânico. Terror. Perigo. Mortes. Todas estas são palavras bombardeadas quase diariamente pelos media e que acabam de uma maneira ou outra por alertar-nos para

uma realidade que não é desconhecida nem distante, mas sim, pouco debatida e analisada profundamente como se faz nos dias de hoje. Segundo o artigo de Tiago Caeiro no Ardinas, que faz uma compilação dos grupos terroristas mais perigosos, intitulado “O terror não tem fronteiras”, o Mundo enfrenta um atentado terrorista por cada 11 dias. “Este é o trágico balanço do ano passado, a que 2016 tem vindo a dar seguimento. Os ataques são cada vez mais difíceis de prever por causa da disseminação de células por toda a Europa, células que agem muitas vezes por si próprias em nome do Daesh. Mas não é só por cá que o terrorismo

tem feito vítimas. Aliás, a maioria dos ataques são levados a cabo em África e no Médio Oriente por diversos grupos terroristas”. O terrorismo dito na sua plenitude vê-se espelhado em todas as plataformas, redes, sites, enfim, por todo lado. Mas no meio de um circo de opiniões espalhafatosas ou considerações apenas bem escritas para os jornais, poucos são aqueles que realmente aprofundam o tema, lançam perspectivas reais e soluções credíveis para este novo problema de nível global. E se pensarmos depois de tudo aquilo que já ouvimos, qual é verdadeiramente o nosso ponto de vista sobre o terrorismo, e mais


importante ainda, qual a solução para ele? Já todos sabemos que existe uma grande probabilidade de um envolvimento putrefacto das grandes potências económicas mundiais que alimentam o ISIS e outros grupos terroristas, quer seja a nível do fornecimento e do tráfico de armas bem como de muitos outros negócios obscuros e ilegais, escondidos aos olhos do público. O que realmente me choca e se assume com um aspecto de uma elevada perversidade é a campanha de recrutamento que actualmente estas organizações terroristas levam a cabo. Porque se imaginarmos que estes sanguinários (mais uma vez, particularmente os mauzões do ISIS) apenas se localizam no Iraque, de onde originalmente se formou o Daesh ou nas regiões por onde brutalmente se expandiram pela força como o Iémen e a Líbia, estamos a ser bastante parvos. Estes grupos são meticulosos e conseguiram disseminarse inclusive pela Europa, resultando em alguns dos

atentados mais nefastos a que temos assistido nos últimos tempos. Pareceme que seja aqui um dos pontos fundamentais onde os países devessem actuar urgentemente de modo a recuperar algum tempo para a organização de novas estratégias e medidas, todas elas de extrema importância e com o intuito de enfraquecer estes rebeldes. Mas para além disso, é necessário também uma maior cooperação entre os serviços secretos dos países (deixem-se de mesquinhices e de gabismos), um maior comprometimento relativamente a esta ameaça, compaixão e solidariedade para todos aqueles que sofrem na pele o terror, a morte, a perda, a desolação, e por favor, um urgente esforço para colocarem realmente as PESSOAS em primeiro lugar. Isto porque a nossa Humanidade precisa mais do que nunca de pessoas que firmemente defendam os valores e os princípios morais que bem devem conduzir as suas democracias e as relações internacionais. Até porque a nossa

própria cultura (global) que nos forma e enforma enquanto indivíduos o merece, apesar de constantemente atacada por estes sujeitos que pensam pretensiosamente que lhes vamos entregar aquilo que é nosso e que tanto tempo demorou a ser construído e edificado pelos nossos antepassados. É verdade que temos medo. Sim, nós temos medo. Mas não, nós não cederemos e não podemos ceder, por muito que nos custe ou que nos faltem as forças para acreditar e ter esperança em soluções. A verdade é que apesar de muito pouco podermos realmente fazer para mudar esta situação, ao menos temos uma voz e precisamos mais do que nunca de lhe dar um uso. Não podemos deixar que a nossa cultura se perca aos poucos desta maneira e muito menos sequer imaginar entregar-lhes de bandeja. Se através dela nascemos e vivemos, por elabatalharemos até ao fim.

Mauro Gomes


O conceito de Tolerância “O que é pena é que neste areal da vida, onde cada um segue o seu caminho, não haja nem tolerância nem humildade para respeitar o norte que o vizinho escolheu.” Miguel Torga A palavra tolerância provém da palavra “Tolerare” que etimologicamente significa sofrer ou suportar pacientemente. A tolerância pressupõe sempre um padrão de referência, as margens de tolerância e aquilo que se assume como intolerável. Este conceito pode surgir como a simples aceitação das diferenças entre aquele que tolera e o tolerado, ou como a disponibilidade do primeiro para integrar ou assimilar o segundo. A fundamentação da tolerância tem variado bastante ao longo dos séculos. Neste momento, mais do que nunca, vivemos numa sociedade multicultural em que as diferenças são cada vez mais existentes e, para que possamos viver todos bem 12

em sociedade, temos de tolerar e respeitar as diferenças existentes entre cada cultua. Mas em que sentido podemos falar de tolerância? Será a tolerância uma exigência moral? Quatro perspetivas essenciais sobre a fundamentação da tolerância. 1. A Tolerância como Prudência: pode tolerar-se tendo em vista, por exemplo, evitar conflitos quando não se têm a certeza quanto ao desfecho final dos mesmos. 2.A Tolerância como Indiferentismo: se aceitarmos que não existem verdades absolutas, todas as posições se tornam legítimas e aceitáveis. Pode tolerarse também devido à ausência de convicções e valores próprios.


Neste caso aceita-se as ideias do Outro não por respeito, mas porque não se possui nada para opor ou defender. Nesta perspetiva, a tolerância termina quase sempre no indiferentismo, onde a verdade e a mentira se equivalem. 3. A Tolerância como Culto das Diferenças: podemos ser tolerantes por respeito pelas diferenças do Outro. Na nossa sociedade, este tipo de tolerância manifestase frequentemente em relação a duas situações muito distintas: a) Aceitam-se e respeitam-se as diferenças daqueles que outrora foram discriminados; b) Aceitamse e respeitam-se todas as culturas que antes foram discriminadas ou combatidas. Neste último caso, a sua negação é assumida como um empobrecimento da diversidade cultural da humanidade. Este princípio tem servido tanto para fundamentar o multiculticulturalismo como o

racismo e a xenofobia. 4. A Tolerância como uma exigência dos Direitos Humanos: desde a antiguidade clássica que a especulação sobre a natureza humana se traduziu na afirmação de que todo o ser humano possui um conjunto de direitos fundamentais ou naturais imutáveis: liberdade, dignidade, etc. Baseado neste pressuposto, John Locke, por exemplo, irá fundamentar a tolerância. Não faz sentido falarmos de tolerância entre seres iguais por natureza. Todas as convicções e ideias são legítimas porque produto de homens livres e com os mesmos direitos.

Luís Duarte Sousa

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Deixar o corpo falar por nós Rita Antunes

Não consigo deixar de associar cultura a arte. A arte tem o poder de nos tocar

de uma forma muito especial. Poderia debruçar-me sobre as diferentes formas de expressão artística. No entanto, não vou fazê-lo.

Visto que se celebrou no passado sábado, 29 de abril, o dia mundial da dança, parece-me justo que me foque nesta arte. Em 1982, o Comité Internacional da Dança (CID) da UNESCO escolheu dedicar o dia 29 de abril à dança por corresponder ao nascimento de Jean-Georges Noverre, um dos seus grandes nomes. Gostava que a existência deste dia de comemoração surtisse maior efeito e que mais pessoas explorassem esta tão bonita forma de comunicar.

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“Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez” (Nietzsche). Desde que frequentei a minha primeira aula de ballet não há um dia em que a dança não me acompanhe e tenho a certeza que sempre assim será. Afinal, nunca se esquece uma primeira paixão. Paixão que partilho com os que pisam o palco comigo e com quem tenho mais do que uma relação de amizade. É como se formássemos uma família, já que cada um daqueles que vive a dança comigo ganhou um lugar especial no meu coração, dadas as muitas horas a trabalhar em conjunto, procurando estar em harmonia. “A dança é a linguagem escondida da alma” (Martha Graham), permite uma libertação total e inexplicável. É algo mágico. Mal a música começa a tocar, é como se nada mais importasse. Mais do que isso, é como se nada existisse para além daquele momento. É tão bom quando isso acontece. É tão bom perdermonos a dançar e deixarmos o nosso corpo

falar por nós. E é muito gratificante para quem dança para um público, sentir que emocionou alguém, que a mensagem da história foi transmitida. Isso aplica-se à arte em geral. O artista entrega o seu coração à arte e, havendo quem não o compreenda, é muitas vezes tomado por louco.


Os estilos de dança com os quais me sinto mais familiarizada são a dança clássica e a dança contemporânea. O ballet exige graciosidade e passa pela realização de movimentos com grande precisão. A dança contemporânea corta com a rigidez da dança clássica e permite maior liberdade de movimentos. Convido-vos a conhecer melhor estes estilos e outros, que são igualmente fascinantes, quer assistindo a espetáculos quer, quem sabe, frequentando aulas de estilos com que se identifiquem. É importante frisar que praticar dança não só faz bem à alma como ao corpo. Dançar aumenta também a flexibilidade, ajuda a nível da coordenação motora e permite educar o nosso ouvido (com a dança clássica tomamos contacto com música clássica). Podem não praticar dança, mas terem a necessidade de, por vezes, colocar música e dançar, ou até dançar sem música. Talvez essa pareça, nalguns momentos, a melhor forma de lidar com aquilo que estão a passar. É esse o poder da

dança. Se têm paixão por qualquer outra arte, vão identificar-se igualmente com alguns dos benefícios que a dança traz. Podemos expressar-nos de diversas formas, tendo cada uma delas as suas particularidades e a sua beleza. Realmente, o mundo sem arte não teria o mesmo brilho.

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Ensinem-me a aprender João Ratinho

Sendo “Culture” o tema da

revista, porque não falar do ensino? A verdade é que o sistema de ensino está errado. Está tudo errado. E o problema é que esta realidade não acontece apenas no nosso país, acontece um pouco por todo o mundo.

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Esta questão é cliché sim, mas enquanto estudante universitário sinto-me constantemente frustrado por chegar à conclusão que estou a ser mal ensinado. Estamos todos. Na minha opinião, o atual sistema de ensino não promove a aprendizagem (pelo menos uma aprendizagem saudável), pois transforma os estudantes em robots sendolhes imposta uma quantidade absurda de matéria que têm que decorar e que acabam por esquecer pouco tempo depois. E fala uma pessoa que tem bastante facilidade a decorar a matéria das disciplinas. São poucos os professores que deixam de lado a tradicional postura formal

em que despejam matéria durante 2 horas (tornando a aula ‘maçuda’), e que adotam uma postura mais informal promovendo um pensamento crítico junto dos alunos. Uma postura deste tipo favorece a aprendizagem e aumenta a captação de atenção por parte dos estudantes e, se houver interação entre professor e aluno e utilização de dispositivos tecnológicos, mais benefícios existem. Porque se os tempos avançam, o ensino só tem que acompanhar essa evolução e promover a utilização das novas tecnologias. Uma outra questão fundamental é a pressão. Desde cedo que é imposta pela família e professores uma pressão muito grande sobre os alunos para

terem sempre as melhores notas e só se focarem na escola. Ora, no 1º ciclo (pelo menos em Portugal) existe um exame nacional quando os alunos apenas têm à volta de 8/9 anos, idades em que é essencial o convívio e as brincadeiras com os amigos para promover a sua socialização, e não para estarem em casa com trabalhos e matéria para... decorar. Quanto à competição... ela existe. Embora exista pressão exercida sobre os alunos, nem todos conseguem ou fazem por conseguir boas notas, e esses são olhados como “menos inteligentes” pela sociedade,como se somente as notas obtidas na escola refletissem o grau de inteligência de uma pessoa.


Não! Cada pessoa tem uma forma especial de aprendizagem e ‘decorar’ é fácil para uns mas difícil para outros. No entanto, não torna essas pessoas menos inteligentes, apenas têm mais facilidade com outras formas de aprender. E, por isso, é tão importante haver uma mudança no sistema de ensino que promova um ensino diversificado, que vá ao encontro da complexidade da mente humana e que não nos transforme em meros robots. Por fim, as horas de entrada nas aulas. Não me venho queixar de ter aulas de manhã e que me impedem de ficar a dormir mais umas horas, até porque sou, por norma, uma pessoa que acorda relativamente cedo. Mas se existem estudos que provam que as aulas só deveriam começar às 10h, porque marcar para as 8h? Se as aulas começassem às 10h ou 11h, a produtividade dos alunos seria muito maior e as notas seriam, consequentemente, mais elevadas. É, como afirmam os investigadores, uma “necessidade biológica”. Portanto, o que seria uma atividade prazerosa (pois é a escola que nos forma enquanto seres humanos e que nos prepara para o futuro), acaba por ser, para muitos, um martírio, e este sentimento retira concentração, motivação e bons resultados.

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Pequenos paraísos nacionais Ema Gil Pires

Estamos já no mês de maio e chegou a altura de começar a pensar para onde ir nas férias de verão. Começamos a pensar que país gostaríamos de conhecer, se devemos ficar pela Europa ou ir até à América ou a um país asiático. Mas porque não ficar pelo nosso país? Deixo-vos aqui cinco sugestões de destinos nacionais capazes de vos proporcionar uns bons dias de descanso.

SINTRA A vila de Sintra, um reino romântico com os seus belos palácios e quintas emergentes no meio de vastas zonas florestais, possui inúmeras atrações que trazem até ela turistas de todo o mundo. Entre estas, não esquecer: o Palácio Nacional da Pena, a Quinta da Regaleira e o Palácio de Monserrate. Para além disso, uma voltinha pelo centro histórico da vila tornará a estadia em Sintra bastante agradável. E, caso seja um apaixonado por doces, não perca esta oportunidade para provar os travesseiros e as queijadas de Sintra, ícones da doçaria nacional.

GERÊS Para os amantes da natureza, não há melhor sítio no nosso país para desfrutar de alguns dias de descanso do que o Gerês. Aqui podemos usufruir de uns bons passeios pela serra e por diversos trilhos pedestres, sempre rodeados de belíssimas paisagens naturais. Para além disso, as inúmeras cascatas naturais e praias fluviais que aqui podemos encontrar são locais a ter em conta para aqueles dias de maior calor. 18


PORTO:

Conhecida por ser a segunda maior metrópole portuguesa e situada junto da foz do rio Douro, é uma cidade encantadora cujo centro histórico é reconhecido pela UNESCO como Património Mundial. Uma visita ao Museu de Serralves, à famosíssima Casa da Música e à Torre dos Clérigos, entre outras atrações locais, proporcionariam uma ótima estadia nesta cidade. E claro, não esquecer as Caves do Vinho do Porto, onde podemos provar um dos produtos mais emblemáticos da região. ILHA DE SÃO MIGUEL: São Miguel é a maior das ilhas do arquipélago dos Açores, possuindo uma beleza inconfundível. Ponta Delgada, a sua capital, encanta os seus visitantes graças aos seus edifícios históricos e igrejas, bom alojamento e comida divinal. Repleta de pastos imensos e florestas majestosas, é conhecida ainda pelas suas lagoas, como a Lagoa das Sete Cidades, a Lagoa do Fogo e a Lagoa das Furnas. VILAMOURA Para aqueles que gostam de aproveitar as férias passando dias inteiros na praia e desfrutando da vida noturna, Vilamoura é uma ótima opção. De facto, podemos lá encontrar algumas das melhores praias algarvias, como a Praia da Falésia, bem como um grande número de bares e discotecas que se encontram em funcionamento durante todo o verão. E, obviamente, não me posso esquecer de referir a Marina de Vilamoura, que se trata de um local bastante animado tanto de dia como de noite, nesta época do ano. 19


O mundo cabe em 2,13 km Catarina Pinho

Passava pouco das cinco e meia da tarde quando pisei pela primeira vez a Rua Morais Soares, em plena freguesia de Arroios. Desde o primeiro segundo senti que estava numa Lisboa diferente,

numa Lisboa distante daquela com a qual já me tinha deparado. Uma Lisboa onde o barulho da rua, os rostos que se cruzavam comigo e até os cheiros se diferenciavam. Trazia em mim a ingenuidade de quem se mudou para Lisboa há menos de um mês e, ao depararme com esta rua marcada pela diversidade de culturas, tive a sensação de ter visto o mundo num minuto, de ter percorrido a Ásia e a América num piscar de olhos. Hoje, mais de meio ano depois o sentimento não mudou. Cada vez que abro a janela ou desço a rua, a sensação é a de sempre, a de que estou numa viagem constante. Arroios é a freguesia com mais multiculturalidade de Lisboa, são pouco mais de dois quilómetros quadrados onde cabe uma grande 20

parte do mundo. É o ponto de encontro de mais de 70 nacionalidades, é o sítio onde as mais variadas línguas e pronúncias coabitam em harmonia, onde a cada virar da esquina somos confrontados com gastronomias e hábitos diferentes. Podemos fazer compras num supermercado japonês, almoçar num restaurante indiano, ir ao Nepal sem sair da esplanada de um café ou provar os mais variados doces ucranianos. Podemos cruzarnos na rua com pessoas vindas da Tailândia, da China, de Bangladesh, do Brasil ou de Angola mas que têm algo em comum – os dois metros

“Arroios é a freguesia com mais multiculturalidade de Lisboa, são pouco mais de dois quilómetros quadrados onde cabe uma grande parte do mundo.” quadrados que partilham diariamente onde não impõem as suas diferenças mas onde as cultivam, dando-as a conhecer e conhecendo as dos outros. “Aqui, as pessoas não vivem em guetos, vivem em comunidade”, afirma Margarida Martins, presidente da junta. Arroios aceitou a sua multiculturalidade e tem vindo a desenvolver vários eventos de forma a explorar cada nacionalidade diferente. Um deles é o projeto “Volta ao Mundo”. Realizase uma vez por ano e convida-nos a percorrer


vários pontos do mundo em diferentes semanas, é uma expedição a múltiplos países onde somos confrontados com as suas tradições. Este ano realizouse em Janeiro e Fevereiro e teve como protagonista a cultura ucraniana. No entanto, um dos pontos mais atrativos foi o desfile de celebração do Ano Novo Chinês. A rua Almirante Reis transportou-nos para Pequim através de dragões de papel, kimonos floridos, lanternas pintadas à mão e ainda demostrações de medicina tradicional chinesa e artes marciais. Agora, seguese o “Arroios Film Festival” que se irá

realizar entre os dias um e oito de Julho. O grande objetivo do evento é estabelecer uma relação entre os conceitos de diversidade e inclusão, de forma a levar as pessoas a compreender as diferenças e a aceitá-las sem preconceito. Mas todos os dias são dias multiculturais em Arroios. A atmosfera desta freguesia de Lisboa transpira culturas distintas diariamente, coloca constantemente os nossos sentidos à prova através de uma fusão de tradições que não podia ser mais equilibrada. Afinal de contas, Arroios é uma comunidade onde pequenas partes do mundo se encaixam na perfeição. É um ambiente tipicamente citadino mas com aroma a Ásia Meridional e ruído tipicamente Sul-americano. É onde damos a volta ao mundo em menos de 80 dias e de onde saímos com um conhecimento riquíssimo, assim no superlativo absoluto sintético! 21


Livros que mudam vidas Alícia Raquel

Há livros que nos fazem pensar que devíamos ler mais. Outros que nos fazem pensar que devíamos ler menos. Alguns fazem-nos ponderar se desperdiçámos o nosso tempo e dinheiro, mas qualquer livro, bom ou mau, muda algo no leitor.

Após lermos um livro, já não somos a mesma pessoa que éramos antes. Depois existem aqueles livros que nos fazem repensar a nossa vida inteira, que nos mostram coisas tão importantes mas quase tão óbvias que pensamos: “como é que eu nunca pensei nisto?”. Enfim, há livros que nos acompanham durante um ou dois capítulos da nossa própria história. Depois há outros que estão presentes em todas as nossas escolhas a partir do momento em que o terminamos, mesmo que de forma inconsciente. Estes são apenas alguns deles:

A Bibliotecária de Auschwitz

Baseada na história verídica de Dita Dorachova (Dita Adlerova no livro), esta obra retrata a luta pela sobrevivência de uma jovem judia de 14 anos durante a II Guerra Mundial. Tendo vivenciado este genocídio desde uma idade muito precoce, foi transferida do gueto que habitava na República Checa para o campo de concentração Auschwitz, onde viria a tornar-se a protetora de eleição dos objetos mais proibidos aos judeus na época nazi: os livros. Freddy Hirsch, amigo de Dita, abriu uma escola clandestina numa das cabanas do campo familiar de Auschwitz. Inicialmente, o seu objetivo era manter as crianças entretidas. Posteriormente, decidiu usar os oito livros que arranjou entre os bens confiscados aos judeus para educar as crianças. Dita, a bibliotecária, era responsável por guardar e proteger os livros da forte fiscalização nazi. É uma história comovente. Comovente sobretudo por ser verídica, por ser contada por alguém que esteve realmente em Auschwitz. Vem mostrar-nos que tudo o que aprendemos sobre este campo de extermínio está extremamente incompleto. Quando nos falaram de Auschwitz, falaram-nos incessantemente do sofrimento que as pessoas passavam, mas nunca nos falaram dessas pessoas numa perspetiva realmente humana.

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Se calhar, nunca nos demos conta que as pessoas que estavam aprisionadas em Auschwitz continuavam a ter sentimentos, sonhos, coisas que queriam fazer depois da guerra e que a guerra interrompeu. Nunca nos apercebemos que, ao entrar em Auschwitz, ainda eram pessoas como nós, que podem ser fortes, fracas, ou qualquer coisa que tenham de ser para se manterem vivas. Num lugar onde eram acusadas de não serem humanas, expuseram da forma mais evidente possível a essência humana. A Criança que não queria falar

Também baseado numa história verídica, desta vez de uma menina americana de 6 anos chamada Sheila, o livro retrata uma criança que, em tão pouco tempo de vida, sofreu uma série de acontecimentos traumáticos. Foi abandonada pela mãe na autoestrada, criada pelo pai alcoólico e violento, e a certa altura também ela se tornou violenta. Vivia em raiva e sofrimento, constituindo um perigo para os outros por ser altamente destrutiva. Por isso, foi transferida para uma turma

de ensino especial, onde criou uma relação quase maternal com a professora, Torey Hayden, a própria escritora do livro. Ao fim de um ano em ensino especial, segundo as autoridades, Sheila seria colocada num hospital psiquiátrico, devido a vários delitos que tinha cometido. Era julgada por pais de outras crianças que a queriam longe dos seus filhos por ser perigosa. Torey foi a única pessoa que, sem interesses económicos ou pessoais, procurou ajudar a criança amedrontada, não através de procedimentos ou medicamentos psiquiátricos, mas através de afeto e compreensão. Sheila tornou-se mais segura de si própria e dos outros, aprendeu a falar dos seus traumas e aprendeu a chorar. Conheceu uma outra forma de libertar a sua raiva que não a violência. Provou ter uma inteligência acima do normal e foi admitida numa escola prestigiada. Sheila mudou de vida, apenas porque alguém lhe deu a atenção e o carinho que nunca antes tinha recebido. Este livro demonstra, como nenhum outro, que não há um ser humano instintivamente mau. Relembra-nos que qualquer um de nós poderia ser “mau” se tivéssemos sido educados noutras circunstâncias. Relembra-nos que também nós desejaríamos uma segunda oportunidade. 23


A Princesa que acreditava em contos de fadas Um conto de fadas invulgar e comum ao mesmo tempo. Diferente dos que ouvíamos na infância, mas muito próximo de nós. Relata a vida da princesa Vitória, que desde criança foi ensinada a suprimir os seus sentimentos, esconder a sua personalidade e manter a postura, pois tinha de comportar-se como uma princesa. Eventualmente, tornou-se numa adulta infeliz e incapaz de confiar em si própria. O seu príncipe encantado rapidamente perdeu o encanto e revelou ser bruto e autoritário. Por isso, Vitória decide partir numa viagem e visita três terras místicas. Cada uma delas contém uma lição específica e, em conjunto, fazem Vitória compreender o seu passado e de que forma os seus eventos de vida contribuíram para a sua infelicidade. Ao longo da viagem, a princesa sabia cada vez melhor o que fazer para ser feliz. À medida que foi ganhando confiança para libertar-se do príncipe e de todos os que, ao longo da sua vida, tentaram defini-la, encontrou a felicidade onde ela sempre esteve: dentro de si própria. De facto, à nossa volta existem muitas Vitórias, muitos indivíduos à procura de si próprios nos outros. 24

A pressão exterior é tanta, que nem estamos habituados a olhar para nós próprios. Daí a importância de um guia. Um guia como o que Vitória teve, que nos ofereça as bases para uma reflexão, para percebermos o que correu mal e fazer uma mudança. Para nos compreendermos a nós próprios e percebermos que temos tudo o que precisamos para nos definirmos. Esse guia está neste


CULTURE


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