Alice moderno (1867 1946) apontamentos sobre a vida e a obra jan 2018

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Teรณfilo Braga

Alice Moderno (1867-1946): Apontamentos sobre a Vida e a Obra

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Capa-

caricatura de Alice Moderno por Augusto Cabral, publicada no ร lbum Aรงoreano, em 1903

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Índice A razão desta publicação Introdução A Instrução A educação e o ensino A política e os políticos A atividade literária O ganha-pão O jornalismo A feminista Os animais O testamento Bibliografia Cronologia relativa a Alice Moderno

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A razão desta publicação

Em 2016, pediu-me a Delegação dos Açores da ASSP – Associação de Solidariedade Social dos Professores para colaborar numa das suas atividades que consistirá numa visita à exposição “Alice Moderno (1867-1946) para fazer uma pequena comunicação sobre a vida e a obra de Alice Moderno.

Embora a minha investigação sobre Alice Moderno estivesse mais dirigida para a sua ação como defensora dos animais, aceitei o convite, tendo para o efeito compilado um conjunto de informações, muito incompleto, sobre a sua riquíssima vida e vastíssima obra.

No dia 18 de dezembro de 2017, a convite de Margarida Benevides, participei numa sessão cultural, onde alguns dos presentes manifestaram o seu interesse em conhecer mais a fundo a ação de Alice Moderno na sociedade micaelense e como nem sempre é fácil encontrar os seus livros e os que sobre ela foram publicados, achei por bem disponibilizar os meus apontamentos a todos os interessados.

Pico da Pedra, 15 de janeiro de 2018 Teófilo José Soares de Braga

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INTRODUÇÃO Açoriana pelo coração, Alice Moderno nasceu em Paris, a 11 de agosto de 1867, viveu primeiro na Terceira e depois em São Miguel, onde faleceu a 20 de fevereiro de 1946.

Para além da sua atividade de jornalista, escritora, agricultora e comerciante, Alice Moderno foi uma mulher que pugnou pelos seus ideais republicanos e feministas, sendo uma defensora da natureza e amiga dos animais.

Como no texto iremos omitir a componente da defesa da natureza, nesta introdução referimos a sua preocupação com a mesma. Assim, no início da segunda década do século passado, Alice Moderno já pensava que uma árvore de pé poderia ter mais valor do que abatida. Vejamos o que disse a propósito: “Plantar árvores é não só amar a natureza. Mas ainda ser previdente quanto ao futuro, e generoso para com as gerações vindouras. Cortá-las ou arrancá-las a esmo, sem um motivo justo, é praticar um acto de selvajaria” (A Folha, 16/2/1913). “A árvore é confidente discreta dos namorados e a desvelada protetora dos pássaros – esses poetas do ar. A árvore é a maior riqueza da gleba, o maior tesouro dos campos e o maior encanto da paisagem!” (A Folha, 15/3/1914).

O seu trabalho foi ao longo da sua vida sendo reconhecido, quer através da correspondência que recebia, quer publicamente através de prémios e homenagens.

Assim, em agosto de 1912, foi homenageada, em Lisboa, pela Liga Republicana das Mulheres Portuguesas.

Em 1916, um soneto seu obteve o 1º prémio num concurso organizado pelo Jornal da Mulher.

Em 1924, soneto A última carta foi premiado nos Jogos Florais de Angra do Heroísmo.

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Em 1929, o soneto Sorriso póstumo obteve o primeiro lugar num concurso de sonetos portugueses promovido pela revista Alma Feminina.

Em 1934, foi distinguida com a Medalha de Prata da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa. O governo francês, em 1937, agraciou-a com a condecoração “d’Officier d’Académie”.

Em 1942, um soneto foi premiado nos Jogos Florais promovidos pela Secretaria do Turismo e pela Câmara Municipal da Figueira da Foz.

A 30 de junho de 2005, a Câmara Municipal de Ponta Delgada homenageou, de acordo com a Dr.ª Maria José Duarte, “a poetisa, a jornalista, a mulher de negócios, a benemérita, a mulher da transgressão: a primeira a frequentar o Liceu, a primeira a cortar o cabelo, a primeira no jornalismo profissional, a primeira diretora de um jornal, a primeira a dedicarse à defesa e à proteção dos animais”, atribuindo o seu nome a uma rua localizada no

Loteamento do Caminho da Fajã de Cima, na freguesia de São Pedro.

Em 2014, recebeu, a título póstumo, a insígnia autonómica de mérito cívico.

Muito conhecida e influente no seu tempo, o legado de Alice Moderno teria caído no esquecimento se não tivesse existido a investigação feita pela Professora Doutora Maria da Conceição Vilhena, que foi divulgada em diversos artigos publicados em revistas e em três livros: Alice Moderno a mulher e a obra (1987), Uma mulher pioneira - Ideias, Intervenção e Ação de Alice Moderno (2001) e Joaquim de Araújo – Diálogo epistolar com Alice Moderno: da literatura ao amor frustrado (2008).

Apesar da gigantesca investigação feita pela Professora Conceição Vilhena, acredito que ainda estamos longe de conhecer por inteiro a sua vida e obra. Como exemplo descobri recentemente que ao longo da sua vida Alice Moderno usou os seguintes pseudónimos, que não são mencionados por aquela investigadora universitária: “Da Janela do Levante, Dominó Preto, Ecila, Eurico, o Secular, Gavroche, Gil Diávolo, Gyp e Veritas (Castro et al, 2005).

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A INSTRUÇÃO “Cheguei aos 18 anos sem saber nada, e todos os conhecimentos que de então para cá adquiri, a mim os devo” Alice Moderno, carta a Joaquim de Araújo, 8 de fevereiro de 1892 (Vilhena, 2008, p.134)

Não estarei enganado se disser que mais do que aquilo que aprendeu nas aulas formais, Alice Moderno foi autodidata. Uma das provas desta afirmação está no facto de ter publicado o primeiro poema em 1833, e ter publicado o seu primeiro livro de versos, “Aspirações”, em 1886 antes de se matricular no liceu de Ponta Delgada no ano letivo 1887-88.

Além do referido, sabe-se que foi a mãe de Alice Moderno que a ensinou a ler, segundo ela foi “certamente, de tantos que lhe devo, o maior favor que me fez” (Vilhena, 2001, p.21). Sobre a frequência da escola primária não há qualquer registo, de tal modo que Vilhena (2001, p.21) escreve que deve ter frequentado a escola. Alice Moderno foi a primeira rapariga a frequentar o então Liceu da Graça e “Escândalo dos escândalos: essa moça usava o cabelo cortado” (Vilhena, 200, p.19).

De acordo com Vilhena (2001, p.24) Alice Moderno, que entrou para o Liceu com 20 anos, fez todo o curso em apenas três anos. Segundo as minhas pesquisas não encontrei dados que chegassem à mesma conclusão. Com efeito, através dos livros de matrículas ainda existentes na Escola Secundária Antero de Quental fiquei a saber que no primeiro ano letivo Alice Moderno fez as seguintes disciplinas: Língua Portuguesa (habilitada com 14 5/7, a melhor classificação de 40 alunos), Língua Francesa (habilitada com a média de 16,5, a melhor classificação e 38 alunos), Matemática (habilitada com a média de 12, a terceira melhor nota de 41 alunos) e Desenho (habilitada com 11,3). No segundo ano, de acordo com a mesma fonte, Alice Moderno perdeu o ano por faltas, pelo menos em Matemática e em Língua Portuguesa.

Sobre a instrução de Alice Moderno fiquei com as seguintes dúvidas:

- Alice Moderno chegou a Angra do Heroísmo com 9 anos, com esta idade terá

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frequentado a escola primária?

- Alice Moderno numa das suas cartas escreveu que entrou para o Liceu com 18 anos e que fez dois anos num. Terá sido com 18 ou com 20 anos? Fez os estudos liceais completos ou não? Tudo leva a crer que sim.

- Zília Osório de Castro e outros no seu Dicionário no feminino (séculos XIX-XX) escreveu: “cursou o magistério, sendo “muito estimada pelas suas faculdades e processo de ensino”. É a única referência que temos. Terá mesmo feito o curso?

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A EDUCAÇÃO E O ENSINO “A verdade é que somos todos iguais. Iguais no nascimento, pelo sofrimento, e perante a morte. O que desnivela

os

homens

é

unicamente,

mas

cumpre

dizê-lo

inexoravelmente, a diferença de educações. Instruí-vos, educai-vos, e colocar-vos-eis a par dos primeiros entre os vossos semelhantes.”

Sendo o pai, médico homeopata, uma pessoa instável que nunca parava num local, decide em 1987 sair de Ponta Delgada, primeiro para a Achada de Nordeste, depois para os Fenais da Ajuda e mais tarde para a Lagoa. Alice Moderno que não se entendia com o pai, decide ficar em Ponta Delgada e para subsistir dá explicações (Vilhena, 2001, p.24 e 25).

A atividade docente nos primeiros anos ocupava os dias de Alice Moderno, trabalhando de 8 a 14 horas diárias (Vilhena, 2001, p.25) e prosseguiu durante muitos anos, tendo mais tarde sendo substituída por outras.

Em 1892, Alice Moderno era um dos oito professores de instrução secundária inscritos na matriz da contribuição industrial de Ponta Delgada (A Persuasão, 31 de agosto de 1892).

Em 1907, Alice Moderno dava explicações na Rua do Castilho nº1 como prova o seguinte anúncio publicado a 17 de fevereiro no jornal A Folha: “Alice Moderno leciona instrução primária e línguas portuguesa e francesa”. Sabe-se que também lecionou geografia

Alice Moderno, para além de professora particular, foi nomeada regente da Escola Móvel de Ponta Delgada, tendo, no dia 15 de outubro de 1913, proferido a alocução inaugural. No seu discurso Alice Moderno elogiou o regime republicano por “procurar extinguir, no feracíssimo solo lusitano, as flores nefastas da ignorância e da superstição” que infelizmente continuam a proliferar nos nossos dias”.

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Na ocasião, o jornal República denunciou várias irregularidades no funcionamento das escolas móveis, sendo uma delas o facto de alguns professores das mesmas não terem habilitações. Alice Moderno desmontou as várias acusações nos seguintes termos:”…na parte que me diz respeito uma completa falsidade, atendendo a que sou professora diplomada e me encontro inscrita no Liceu de Ponta Delgada como professora de ensino secundário, existindo na secretaria do mesmo estabelecimento de instrução, numerosos documentos comprovativos não só das minhas habilitações oficiais, mas ainda do trabalho produzido como professora de instrução primária (admissão ao curso dos liceus) e materiais de ensino secundário, na qualidade de professora do mesmo ensino” (A Folha, 568, 26 de outubro de 1913)

Sobre a temática do ensino propriamente dito, Alice Moderno escreveu vários textos onde teve a oportunidade de expor o seu pensamento. De entre eles, destacamos “Palavras de um “toast”, escrito em Angra do Heroísmo, a 22 de outubro de 1911, dedicado aos professores primários (hoje designados de professores do 1º ciclo do ensino básico). No seu texto, Alice Moderno saúda os professores primários, dizendo que eles são “os funcionários mártires da instrução” e acrescenta, citando Renan “que o futuro intelectual do indivíduo depende principalmente de quem lhe ensina a ler” e termina afirmando que “a leitura, inteligentemente assimilada em tenros anos, pode fazer sábios, como a rotina sabe fabricar cretinos”. Alice Moderno conclui o seu curto texto, saudando “entusiasticamente os membros conscientes, independentes e dignos da classe à qual o estado menos paga e da qual mais exige…”

Outro texto que merece referência foi o publicado a 9 de dezembro de 1909, na Revista Pedagógica, intitulado “Médicos Escolares”, onde Alice Moderno solidariza-se com a opinião de Maria Evelina de Sousa que numa reunião realizada em Ponta Delgada defendeu a necessidade de médicos escolares que deveriam visitar as escolas quinzenalmente a fim de verificar se aquelas se encontravam em boas condições de higiene “e se as crianças que as frequentavam estão em boas condições que lhes permitam matricular-se num estabelecimento de instrução, a que concorrem muitas

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outras que têm direito a não serem contaminadas pela doença alheia”.

Alice Moderno não apenas opinou sobre o que se passava nos Açores. Com efeito, também reagiu ao fuzilamento de Francisco Ferrer i Guàrdia.

Francisco Ferrer i Guàrdia (1859-1909) foi um pedagogo catalão que criou a Escola Moderna que funcionava tendo por base uma pedagogia libertária. As ideias anarquistas de Ferrer, sobretudo após a sua morte, influenciaram a abertura de outras escolas em diversos países, como a Voz do Operário, em Lisboa, e serviram de inspiração a diversos pedagogos, como o brasileiro Paulo Freire. Ferrer foi condenado à morte e fuzilado, a 13 de outubro de 1909, por ter sido, injustamente, acusado de ser o instigador da revolta popular da Semana Trágica, em Barcelona. Em todo o mundo foram inúmeras as reações à sua morte. Na ilha de São Miguel, surgiram artigos a condenar o seu fuzilamento, nos jornais “Vida Nova”, “A Folha” e “O Repórter”. Num texto não assinado publicado no Jornal A Folha nº 366, de 24 de outubro de 1909, a dada altura o autor ou autora (Alice Moderno?) escreveu o seguinte: “Ferrer foi um brasseur d’idées, foi um desses indivíduos excecionais que, nesta época de egoísmo, em que se entrechocam os mais sórdidos e desmedidos interesses pessoais, sacrificou toda a sua fortuna particular, toda a segurança individual, toda a sua tranquilidade espiritual, por uma ideia- combatendo por ela até ao ponto de ver correr, pelos furos das balas reais, o seu sangue generoso”.

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A POLÍTICA E OS POLÍTICOS “85% de analfabetos numa região europeia! Chega a causar vertigens e calafrios, e nada mais seria preciso para que o regímen monárquico que mantinha no trono os Braganças fosse condenado à pena última por aqueles que, por acaso, sabem ler” (Alice Moderno, Revista Pedagógica, nº 199, 14 de dezembro de 1911) “Eu, pela minha parte, estou absolutamente desinteressada da política” (Carta de Alice Moderno a Ana Castro Osório, 4 de março de 1927)

Segundo Vilhena (2001, p.27) a política para Alice Moderno “é um serviço público e não uma forma de promoção da mediocridade palradora; uma tarefa de interesse para a comunidade e não um processo de enriquecer facilmente” e o “politico deve ser um servidor da comunidade, esquecido das suas próprias conveniências”. Alice Moderno que era republicana antes da república chegar, era “uma republicana militante, convicta” (Vilhena, 2001, p.27) que com o decorrer do tempo desiludiu-se com a prática dos republicanos.

Embora não se conheça nenhum texto seu em que mencione a sua filiação num partido político, Carlos Melo Bento, refere a sua adesão, após a implantação da República, ao Partido Democrático (Bento, 2008, p.181).

Primeiro monárquica, admiradora dos reis que respeitavam e defendiam a liberdade do povo, como D. Pedro II do Brasil que aboliu a escravatura, nos últimos anos da monarquia condenou os Braganças (Vilhena, 2001, 37-38).

Em 1901, aquando da visita de D. Carlos e de D. Amélia aos Açores, Alice Moderno escreveu “Açores, Pessoas e Coisas” que dedicou à Rainha. Segundo Vilhena (2001, p.45) num texto intitulado “Eleições” publicado a 28 de abril de 1906, Alice Moderno “não tinha ainda aderido apaixonadamente às ideias

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republicanas, a julgar pela forma como admite tanto a república como a monarquia constitucional. Alguns meses depois, em 3 de dezembro de 1906, em carta dirigida a Ana de Castro Osório escreve “Então que me diz ao movimento republicano que se está operando em todo o país? Felicito-a, ou antes, felicitem-nos que eu sou também uma republicana pur sang”.

Em 1909, também esteve ao lado dos estudantes do Liceu que foram presos por se manifestarem contra a proibição de representar a revista “Ou vai … ou racha” e por cantarem pelas ruas a canção republicada A Menina Rosa.

Alice Moderno saudou a implantação da República com um soneto, datado de 20 de outubro e publicado n’A FOLHA, a 23 de outubro de 1910, que abaixo se transcreve:

Saudação Ao povo de Lisboa Este país “à beira mal plantado”, De mal para pior andava dia-a-dia. - De um lado o cortesão, ao paço avassalado, E do outro a clericalha, a reverenda harpia.

El-Rei, triste fantoche, inerme, idiotizado, Curva-se à sugestão da mãe, que o ama e vigia, E cego, vê no altar, brilhante, iluminado, O mais firme alicerce à velha monarquia.

Era enorme a ignomínia, e a bancarrota certa, Mas o povo, ultrajado, um dia, enfim, desperta Aos tiros do canhão, ao som da Marselhesa

Ó povo de Lisboa, ó grande e novo povo, Mais uma vez achaste o rumo a um mundo novo, Mais uma vez salvaste a honra portuguesa!

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Sobre os políticos, a propósito de José Bensaúde que ensinava as operárias da sua fábrica a ler, Alice Moderno escreveu: “alheio à bisca política de nacionalistas, regeneradores e progressistas, todos eles muito boas pessoas na oposição”.

Alice Moderno, que nasceu em 1867, teve a oportunidade de viver e assistir à queda da monarquia, saudar o advento da República e “aderir de alma e coração ao partido republicano”, segundo Maria da Conceição Vilhena, e passar os últimos anos da sua vida, primeiro sob a Ditadura Militar e depois sob o Estado Novo.

Até ao momento, não encontramos qualquer informação sobre a participação de Alice Moderno na vida interna de qualquer partido, o que é conhecida é a sua defesa do regime republicano no seu jornal “A Folha”, mesmo após algumas deceções que lhe causaram algumas medidas tomadas pelos republicanos no poder.

Entre junho de 1918 e maio de 1925 publicou-se em Ponta Delgada o semanário republicano “A Pátria” que, entre outros, teve como diretores José da Mota Vieira e António Medeiros Franco. De entre os colaboradores do jornal contaram-se Alice Moderno e a sua amiga, a professora Maria Evelina de Sousa, também republicana convicta.

Através dos números do jornal a que tivemos acesso, desde o primeiro até ao publicado a 16 de junho de 1924, concluímos que o contributo de Alice Moderno foi bastante modesto, tendo-se limitado à publicação de dois poemas, “4 de Julho”, no número 6, datado de 11 de julho de 1918 e “Resposta de Roosevelt”, no número 10, datado de 8 de agosto de 1918, que abaixo se transcreve:

Quando foram dizer ao grande ex-presidente Que o seu filho mais novo, ainda adolescente, Tenente-aviador do exército da América, Recebera no front a morte heroica e épica Que consagra os heróis, no solo o mais sagrado, Lutando em prol do Ideal, agora espezinhado Pelo militarismo, a contrapor afeito

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O direito da força à força do Direito, Roosevelt respondeu, com voz que não tremia: “Minha mulher e eu sentimos alegria Ao ver que o nosso filho, única e simplesmente, Cumprindo o seu dever, honrou a pátria ausente!” Sem comentário algum, dobremos o joelho, E ó pais de Portugal, vede-vos neste espelho!

Defensora da autonomia, Alice Moderno defendia que os deputados deviam ser naturais de cada círculo por conhecerem melhor as realidades locais e o governador civil devia ser estranho às ilhas para não se deixarem influenciar e dominar pelos senhores locais (Vilhena, 2001, 44 e 45)

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A ATIVIDADE LITERÁRIA “Os meus livros, na minha opinião, nada valem. São uns livros sem sabor literário, sem factura perfeita, sem novidade, sem cunho individual. Escrevo por escrever, porque me habituei a expandir as minhas sensações” Alice Moderno

Em 1886, Alice Moderno publica Aspirações, primeiro livro de versos. A estreia foi saudada por três vultos da cultura portuguesa, Camilo Castelo Branco, João de Deus e Teófilo Braga que a “incitaram a prosseguir no campo das letras” (Correio dos Açores, 6623, 24 de fevereiro de 1943). João de Deus, que no dizer de Alice Moderno “foi, no seu tempo, o mais inspirado poeta lírico da Península”, agradeceu a oferta das Aspirações, através do envio de um poema (Correio dos Açores, 2838, 8 de março de 1930) que a seguir se transcreve:

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Teófilo Braga não a esqueceu de modo que aquando de uma viagem de Alice Moderno a Lisboa, sendo na altura presidente da república, convidou-a a visitar a sua casa o que efetivamente aconteceu. Segundo Alice Moderno conversaram “como amigos que se apreciam, havendo da parte do Mestre um sentimento de generosidade, havendo da minha admiração e respeito” (Correio dos Açores, 6623, 24 de fevereiro de 1943).

Em 1888, Alice Moderno publica o seu segundo livro, Trilos.

Em 1892, publicou o seu primeiro romance, intitulado O Dr. Luís Sandoval.

Em 1894 publica Os Mártires do Amor.

Em 1897 publica-se Asilo de Mendicidade.

Em 1899 publica No Adro. Em 1901, publica Açores: Pessoas e Coisas, que dedica a “Sua majestade A rainha” (D. Amélia) por ocasião da visita régia ao arquipélago dos Açores.

Em 1904, publica uma coletânea de sonetos intitulada Os mártire,s impresso na Tipografia Central de Ponta Delgada. Desta selecionamos um sobre Galileu, dedicado ao senhor Mello e Simas:

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Em 1909, publica Mater Dolorosa, monólogo em verso, impresso na Tipografia da Autora, escrito a pedido da atriz Lucinda do Carmo a quem é dedicado.

Em 1910, publica uma peça em um ato intitulada A Apoteose. A peça, impressa na Tipografia Alice Moderno, foi escrita em duas horas para ser levada à cena num espetáculo realizado no Teatro Micaelense em homenagem a João de Melo Abreu.

Em 1911 publica Versos da Mocidade.

Em 1913, publica a peça em um ato Na Véspera da Incursão. Impressa na tipografia Alice Moderno, a peça foi dedicada ao Doutor António Joaquim de Sousa Júnior, terceirense que foi o 1º ministro da instrução pública da república.

Em 1915, publica A Voz do Dever, peça em 1 ato, em verso dedicada ao Dr. Afonso Costa, advogado, professor universitário e político republicano que foi Presidente do Ministério de Portugal por quatro vezes (uma delas como interino). Esta peça foi

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representada nos teatros Lagoense, Faialense e Micaelense.

Em 1930, Alice Moderno publica o último livro que se intitulou Trevos. Dedicado a D. Maria Emília Borges de Medeiros e a sua mãe, D. Celina Maulaz Moderno, o livro de poesia teve uma tiragem de 1000 exemplares e foi editado pela Livraria Editora Andrade, de Angra do Heroísmo.

Para aguçar a curiosidade, aqui deixo duas quadras, a primeira intitulada Trevos e a segunda dedicada à mãe de uma poetisa que pediu versos a Alice Moderno:

Trovas, trevos, quatro versos Quatro folhas, nada mais. Uns, pelo campo, dispersos Outros, pelo mundo, aos ais.

Mas que ambição desmarcada! Que desmarcada ambição! - Tem tanta massa sovada E pede um pouco de pão

Como forma de agradecimento da oferta de um exemplar por Alice Moderno, Espínola de Mendonça (1891-1944), professor e poeta micaelense, publicou no Correio dos Açores de 13 de julho de 1930 a seguinte quadra: Há quem leia no trevo a f’licidade E em suas folhas veja os seus enlevos. Só agora senti essa verdade Nas lindas folhas destes lindos Trevos …

Alice Moderno também publicou as seguintes traduções: Os piratas da Suécia e O Romantismo em França.

Para além do referido há três livros que foram anunciados, mas que não chegaram a ver a luz do dia: Páginas Tarjadas, Cantos de Cisne e Malmequeres, os dois primeiros de

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poesia e o último de contos. Alice Moderno manteve correspondência com Joaquim de Araújo, “distinto poeta, membro da Academia Real das Ciências” (Moderno, 1901, p.56).

Joaquim de Araújo que esteve dois meses, em Ponta Delgada, em 1893, colaborou nos jornais “Autonomia dos Açores” e “Diário de Anúncios” e escreveu em São Miguel “muitas poesias insertas no seu volume de versos Flores da Noite, publicado no ano seguinte” (Moderno, 1901, p.56).

A correspondência entre Alice Moderno e Joaquim de Araújo começou em 1888, o namoro entre ambos em junho1892, tendo os projetos de casamento terminado em 1894.

Alice Moderno também colaborou em diversas publicações periódicas literárias do país, como: Bouquet Literário (Porto), A Alvorada (Vila Nova de Famalicão), Gazeta das Salas (Lisboa), Nova Alvorada (Vila Nova de Famalicão), Almanaque das Senhoras (Lisboa), A Crónica (Lisboa), Límia (Viana do Castelo), Atlântico (Matosinhos), Revista Micaelense (Ponta Delgada), Os Açores (Ponta Delgada), O Instituto (Coimbra), A Leitura (Angra do Heroísmo) e Ínsula (Ponta Delgada) (Castro et al, 2005, pp. 43 e 44)

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O GANHA-PÃO “Tenho lições desde as 9 da manhã até às 10 da noite.” Alice Moderno, carta a Joaquim de Araújo, 19 de março de 1892, p. 137 (Vilhena, 2008, p. 137) Alice Moderno era uma grande apologista do trabalho. Para ela “o trabalho é um dever e um direito, como já então pregava o socialismo; e a única fé que pode salvar é a confiança na eficácia do dever cumprido e do esforço para o bem de todos”. (Vilhena, 2001, p.59) Discordava do elevado número de dias santos tendo a propósito recordado “palavras atribuídas a um magistrado do tempo de Voltaire, segundo o qual os dias santificados teriam sido invento dos taberneiros, pois a religião dos campónios e operários consistia em embriagarem-se para comemorarem o nascimento dos santos” (Vilhena, 2001, p.77). Alice moderno, embora reconhecesse o direito aos festejos achava que era necessário alterar hábitos pois “não é de festas que se vive (AF, 1 julho de 1911) (Vilhena, 2001, 77)

Para viver, Alice Moderno fez de (quase) tudo um pouco. Foi professora, diretora de jornais, dona de tipografia, proprietária agrícola e comerciante

As explicações particulares terão começado em 1887 e intensificaram-se em 1883, após a saída do pai para os Estados Unidos, a 10 de agosto, pois foi ela que pagou as dívidas que o pai deixou.

Em 1903, Alice Moderno adquire uma tipografia, onde imprime de tudo um pouco, como faturas, recibos, envelopes, livros, relatórios, cartazes, cartões comerciais, cartõesde-visita, picotagens e jornais.

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Nesta tipografia da rua do Castilho foram compostos e impressos os primeiros números do jornal anarquista micaelense “Vida Nova”, de periodicidade quinzenal, que se apresentava como “Órgão do Operariado Micaelense” e viu a luz do dia entre 1 de maio de 1908 e 30 de setembro de 1912. O “Vida Nova” teve como proprietário e diretor Francisco Soares Silva, que foi um dos fundadores da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.

Na tipografia de Alice Moderno que primeiro se localizou na rua da Fonte Velha também foi impresso “O Proletário”, órgão da Federação Operária e do Operariado em geral, ligado ao Partido Socialista Português.

Em 1909, adquire uma propriedade na Fajã de Baixo onde cultiva ananases e diversos produtos hortícolas.

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Alice Moderno foi representante em são Miguel da casa importadora de frutas [ananases] do sr. J. Hey de Hamburgo (Revista Pedagógica, 141, de 9 de junho de 1910).

Também, representou a firma comercial Cowdrey And Co.de Nova Yorque, que vendia um pouco de tudo e exportava ananases (Revista Pedagógica, 213, 4 de abril de 1912)

Foi agente em Ponta Delgada da Procuradoria Geral (Escritórios de advocacia e procuradoria: assuntos forenses, comerciais e civis) com sede em Lisboa (Revista Pedagógica, 213, 4 de abril de 1912)

Sobre a sua atividade comercial, Alice Moderno vendeu quase tudo. Aqui deixo alguns exemplos:

- Alfaces, Azedas, Brócolos, Couves-galegas e salsa (Revista Pedagógica, 128, 17 de fevereiro de 1910);

- Biscoitos, doces e bolachas, por grosso e a retalho, da Fábrica Santo Cristo (Revista Pedagógica, 213, 4 de abril de 1912); - Vinhos diversos, como depositária da empresa “Vinícola da Anadia Limitada” (Revista Pedagógica, 213, 4 de abril de 1912);

- Alcachofras e morangos (Revista Pedagógica, 225, 27 de junho de 1912);

- Ananases e plantas de ananás (Correio dos Açores, 148, 29 de outubro de 1920);

- Pomada para calçado ALDA (Correio dos Açores, 296, 10 de maio de 1921);

- Meias de seda para senhora (Correio dos Açores, 799, 27 de janeiro de 1923); - “Manton de manilla” (xaile) (Correio dos Açores, 800, 28 de janeiro de 1923); - Almanaque d’ “O Século” para 1935 (Correio dos Açores, 4221, 7 de dez de 1934);

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Foi acionista do Banco Micaelenses (Diário dos Açores, 20192, 13 de fevereiro de 1946). Foi agente de seguros da companhia “A Equitativa de Portugal e Ultramar, instalada em Ponta Delgada em 1907, que oferecia aos clientes “Seguros de Vida – Seguros terrestres e marítimos, Seguros contra acidentes de trabalho” (Correio dos Açores, 2040, 16 de junho de 1927). Foi, também, agente em Ponta Delgada do “Fomento Agrícola- Companhia Internacional de Seguros”, que comercializava seguros terrestres, seguros de vidros, seguros marítimos, seguros postais e seguros agrícolas (Revista Pedagógica, 213, 4 de abril de 1912) .

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O JORNALISMO “A não ser o Dr. Caetano de Andrade e, ainda mais, o Dr. Ernesto do Canto, os jornalistas de S. Miguel não têm dignidade nem como escritores, nem como homens” Alice Moderno, carta a Joaquim de Araújo, 11 de setembro de 1892 (Vilhena, 2008, p.233)

Alice Moderno começa a colaborar com os jornais aos 16 anos de idade com a publicação da poesia “Morreu”, no Jornal Açoriano Oriental, em 1883.

Em novembro de 1888, funda o jornal o Recreio das Salas. Por ela dirigido, o primeiro número anunciava como colaboradores “alguns dos principais talentos que adornam a literatura Portuguesa”. Entre eles, destacam-se os nomes de Antero de Quental, Ernesto Rebelo, Francisco Maria Supico, Júlio Pereira Carvalho e Costa, Maria Amália Vaz de Carvalho, Moniz Ferreira e Xavier da Cunha. O jornal mensal, que pretendia ser “decente, respeitador do lar, das cans e bom conselheiro da mocidade”, tinha como maior ambição instruir, moralizar e recriar e estava dividido em várias seções: a noticiosa, a científica, a histórica e biográfica, a literária, a bibliográfica e por último a charadística, enigmática e recreativa.

Em 1891, começa a colaboração ativa de Alice Moderno no Diário de Anúncios e no ano seguinte, 1892, assume a direção do jornal, tendo pedido a demissão do cargo de diretora no ano seguinte.

Foi colaboradora assídua do Diário dos Açores. Em 1892, Alice Moderno, numa carta a Joaquim Araújo escreveu: “Aquele jornal deve-me muito. Há dez anos que colaboro ativamente nele, e, quando morreu o proprietário, redigi-o algum tempo, tudo isto gratuitamente, por obséquio à viúva e filhinho do fundador” (Vilhena, 2008, p.222) Entre 5 de outubro de 1902 e 1917 saiu aos domingos o jornal “A Folha”, fundado por Alice Moderno. Jornal generalista, abordava todos os assuntos de interesse para a vida micaelense, desde a cultura, a economia, a política, a sociedade, etc.

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Foi redatora da Revista Pedagógica que se publicou entre 1909 e 1915 e que teve como proprietária e diretora a professora primária Maria Evelina de Sousa. Alice Moderno também dirigiu a revista na ausência de Maria Evelina de Sousa, o que terá acontecido entre os números 108 e 112, publicados em 1909.

Em 1928, inicia a sua colaboração no Almanaque Micaelense que vai durar até 1934.

Alice Moderno foi colaboradora do Correio dos Açores durante muitos anos, mais de vinte anos (1924-1945) tendo mantido uma rubrica intitulada Notas Zoófilas, entre 23 de junho de 1935 e 18 de novembro de 1943.

Terá sido ela, não temos dúvidas, a responsável pelas rúbricas de poesia Poetas Zoófilos e Artes e Letras do jornal Correio dos Açores, onde ela publicou poemas da sua autoria bem como de outros poetas.

Em 1940, Alice Moderno colabora com o Almanaque Anuário Micaelense, em 1942 foi convidada para colaborar em Viagem, revista de turismo, divulgação e cultura e em 1943 assina um contrato de correspondente do jornal O Primeiro de Janeiro.

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A FEMINISTA “Uma das convictas e sinceras feministas da nossa terra” e “apesar de estar longe de nós, […], em todas as cruzadas de propaganda feminista que se empreendam no nosso meio, o estímulo da Sr.ª D. Alice Moderno vem sempre, generosamente, animar-nos nas campanhas, as mais difíceis”. O Jornal da Mulher, 1906 (Castro, Esteves, Sousa, Abreu e Stone, 2005, p.43)

Alice Moderno foi militante de várias associações defensoras da causa feminista, como a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, tendo sido, tal como a professora Maria Evelina de Sousa, homenageada por esta instituição em Agosto de 1912, a Associação de Propaganda Feminista, fundada, em 12 de Maio de 1911, por Ana de Castro Osório, e a Associação Feminina de Propaganda Democrática, criada em 1915 e dissolvida em Junho de 1916, que se identificava com o Partido Democrático e apoiava a ação política de Afonso Costa. Sobre o muito que fez e as posições pública que tomou, apenas mencionaremos a sua posição em relação ao ensino e ao trabalho das mulheres, bem como a sua posição em relação ao divórcio. Em 1889, o jornal O Arauto, da ilha Terceira” contestou o facto de Alice Moderno ter escrito que a matrícula de uma aluna no Liceu Nacional de Angra do Heroísmo ser “mais um passo dado a bem da instrução, do progresso e da civilização”. Numa crónica publicada no nº 3 d’ “O Recreio das Salas”, Alice Moderno responde ao autor da crítica nos seguintes termos: “não é lógico, filosófico, nem humanitário que o homem faça da instrução secundária ou mesmo superior uma propriedade exclusivamente sua”. Na mesma crónica Alice Moderno refuta o argumento de “que a mulher não deve reinar onde estiver o homem”, com a seguinte afirmação: “Concordo em como não deve reinar! Neste caso sou apologista da república universal… não reine nem um nem outro ou antes, reine aquele, homem ou mulher, que se distinguir pela sua inteligência e pela sua erudição”.

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Vinte anos depois, em 1909, Alice Moderno, no seu jornal “A Folha” era bem clara sobre o direito da mulher ao trabalho, quando apela aos pais para que, em vez de estarem preocupados com dotes para a filha, lhe darem “educação que a habilite a bastar-se a si própria, uma profissão que a ponha ao abrigo da miséria, com todas as suas tentações, e da dependência, com todas as suas revoltantes baixezas”.

Em relação ao divórcio, sabe-se que foi legalizado em Portugal através de um decreto publicado a 3 de novembro de 1910, portanto menos de um mês após a implantação da República. Alice Moderno, teve, em 1909, uma intervenção na campanha a favor da sua aprovação tendo escrito vários textos sobre o assunto e sido uma das subscritoras de um abaixo-assinado (Castro, 2005, p.43)

Aproveito, a oportunidade, para divulgar o que Alice Moderno escreveu sobre o assunto. No jornal “A Folha” de 16 de outubro de 1910, pode ler-se: “Informam telegraficamente que em dezembro próximo será decretada a lei do divórcio. Assim devia ser, e semelhante medida está perfeitamente de acordo com a perfeita orientação do governo provisório da República Portuguesa. O divórcio é permitido em todos os países em evidência pela sua supremacia intelectual, e, muito longe de contribuir para a dissolução da família, é, pelo contrário, um incentivo para a perfeita constituição da mesma”. A 13 de novembro, do mesmo ano, na rubrica “URBI ET ORBI”, no mesmo jornal, o assunto do divórcio é referido do seguinte modo: “Como noticiáramos no nosso último número, já foi decretada a lei do divórcio…Um telegrama para um nosso colega diário diz ter essa lei dado origem a muitos protestos. Suporão os protestantes que o divórcio é obrigatório, como o serviço militar?!”

Alice Moderno, também, esteve envolvida na luta pelo direito das mulheres votarem, tendo combatido todos os republicanos que se esqueceram que aquele era uma das bandeiras do Partido Republicano quando estava na oposição.

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A falta de preparação das mulheres e por poder levar ao divórcio eram argumentos utilizados. Alice Moderno contestou-os sobretudo n’A Folha. Em relação ao divórcio afirmou que as causas eram várias e não estavam relacionadas com a política. Sobre a falta de preparação ela escreveu que se muitas mulheres não estavam preparadas o mesmo acontecia a muitos homens. Em 1911, a República concedeu “o direito aos portugueses com mais de 21 anos que soubessem ler e escrever e aos chefes de família, sem especificar o sexo dos eleitores. Esse argumento foi utilizado por Carolina Beatriz Ângelo, que era viúva e chefe de família, para votar, mas, a partir de 1913, o regime republicano especificou que só os «chefes

de

família

do

sexo

masculino»

podiam

eleger

e

ser

eleitos”

(http://jugular.blogs.sapo.pt/3620156.html) . O voto universal, em Portugal, só aconteceu depois do 25 de Abril de 1974, com a lei n.º 621/74 de 15 de novembro.

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OS ANIMAIS “Lembra-te sempre que ao maltratares um animal vais ferir a tua própria dignidade” (Alice Moderno)

Desde a muito cedo Alice Moderno manifestou a sua predileção pelos animais, em especial pelos cães. A eles Duque, Gigante e Dragão Alice Moderno dedicou vários poemas (Vilhena, 1987, pp.299-305).

Quando cortou relações com o pai, ficou muito magoada por aquele, por raiva, ter partido a perna ao cão que lhe pertencia e pior ficou ao saber que os novos donos do cão, que não teve a possibilidade de manter em sua posse por ter de ir morar para um quarto em Ponta Delgada, o haviam matado por este correr atrás das galinhas (Vilhena, 2008, pp?).

Na sequência de vários textos publicados na imprensa alertando para as “cenas bárbaras de que são vítimas os pobres animais indefesos” , Alice Moderno toma a iniciativa de convocar uma reunião com vista à criação de uma associação de proteção dos animais, q ue viria a ser legalizada a 13 de setembro de 1911. Para além de Alice Moderno na criação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, destacaram -se pelo seu empenho, Maria Evelina de Sousa que se responsabilizou por toda a parte burocrática e Augusto da Silva Moreira que adiantou a verba necessária para o arranque.

Os primeiros três anos de vida da SMPA foram de quase apatia e só com a presidência de Alice Moderno, a partir de 1914, a vida da SMPA alterou-se por completo, tanto no que diz respeito à tomada de medidas conducentes a acabar com os maus tratos que eram alvo os animais usados no transporte de cargas diversas, nomeadamente os que transportavam beterraba para a fábrica do açúcar, à educação dos mais novos através do envio de uma comunicação aos professores “pedindo-lhes para que, mensalmente, façam uma preleção aos seus alunos, incutindo no espírito dos mesmos a bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal” e à

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criação de condições para o seu funcionamento, como foi a aquisição de uma sede e mobiliário.

Desde sempre um dos grandes anseios de Alice Moderno foi o tratamento veterinário aos animais abandonados, tendo a mesma diligenciado junto da Junta Geral para que numa dependência do Posto Zootécnico fosse instalado um Posto Veterinário. A pretensão foi satisfeita de tal modo que em 1941 o Posto abriu e passou a receber todos os animais feridos ou doentes encontrados na via pública que podiam ser entregues a qualquer hora do dia, pois no mesmo pernoitava um guarda. A SMPA colaborou com o posto através da oferta de medicamentos e da cedência de algum mobiliário.

De acordo com notícia publicada no Correio dos Açores de 24 de janeiro de 1945, no ano anterior, 1944, o Posto Veterinário, que funcionava numa dependência do Posto Zootécnico, tratou 685 (seiscentos e oitenta e cinco) animais. Ainda de acordo com a mesma notícia, a direção da SMPA encontrava-se a “reunir fundos suficientes para a construção de um Hospital Veterinário, e das quotas pagas pelos sócios fornecia os medicamentos solicitados pelo Dr. Vitor Faria e Maia para colmatar as necessidades do Posto Veterinário, para além de subsidiar o enfermeiro-veterinário em serviço no Posto, o sr. Moniz Berenguer. Estava, também, a cargo da SMPA a recolha e o envio ao posto dos animais doentes ou feridos encontrados na via pública.

Ao longo da sua vida Alice Moderno, quer através do jornal que fundou, A Folha, quer através de outros jornais locais, escreveu centenas de textos alertando as autoridades para o modo como os animais eram barbaramente tratados, sobretudo os de tiro e os animais de companhia.

No dia 31 de janeiro de 1946, vinte dias antes de falecer Alice Moderno, em testamento, deixou em testamento alguns bens, à Junta Geral Autónoma do Distrito de Ponta Delgada, com a condição desta, no prazo de dois anos, criar um hospital para animais.

Um arremedo de hospital, começou a funcionar, em janeiro de 1948, num pequeno pavilhão pouco espaçoso no canto norte da rua Coronel Chaves, onde até há alguns anos funcionou o CATE. As suas minúsculas dimensões e por se assemelhar mais a um canil do que a um hospital fizeram com que o intendente de pecuária, Dr. Vítor Machado de

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Faria e Maia, não o tenha considerado digno de ser oficialmente inaugurado.

Em data que não nos foi possível apurar, a Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada construiu um edifício na Estação Agrária, em São Gonçalo, com um pouco mais de espaço do que o anterior Hospital Alice Moderno. O mesmo foi dotado do material e da aparelhagem necessária, tendo a sua manutenção ficado a cargo dos rendimentos obtidos através do legado da benemérita Alice Moderno. Nos primeiros anos, sob a administração da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, presidida pela Dona Fedora Serpa Miranda, com a colaboração da Junta Geral, foi assegurada a enfermagem permanente aos pequenos animais e a consulta diária a animais de todas as espécies, através do veterinário municipal de Ponta Delgada.

Das atuais instalações fazem parte uma sala de espera, uma sala de consultas, uma sala de cirurgias, sala de lavagem e preparatório, zona de arrumos, instalações sanitárias, um canil e um gatil.

Na sua luta em defesa dos animais, Alice Moderno não foi especista, isto é não discriminava os animais tendo em conta a sua espécie. Assim, no seu jornal “A Folha” todos os animais (cães, gatos, cavalos, aves, touros, etc.) foram dignos da sua atenção e dos seus colaboradores. Mas como em São Miguel na altura em que ela viveu os grandes problemas estavam relacionados com a morte, por envenenamento e por atropelamento, de cães e os maus tratos aos animais de tiro, foram estes últimos que foram alvo de uma maior referência.

A propósito da necessidade de tratar todos os animais dizia ela: “Caridade não é apenas a que se exerce de homem para homem: é a que abrange todos os seres da Criação, visto que a sua qualidade de inferiores não lhes tira o direito aos mesmos sentimentos de piedade e de justiça que prodigalizamos aos nossos semelhantes”.

A posição de Alice Moderno sobre as touradas é a de clara oposição às mesmas e foi manifestada publicamente por mais de uma vez, através dos seus escritos, de que são

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exemplos as suas Cartas das Ilhas, números XIX e XX. Na “Cartas das Ilhas – XIX”, dedicada a Luís Leitão, publicada no jornal “A Folha”, de 8 de março de 1912, Alice Moderno relata que contrariada foi assistir a uma tourada a convite de amigos terceirenses e confessa a sua compaixão pelo cavalo “esquelético”, um “pobre animal, ser incompleto, irmão nosso inferior” que “no fim da vida, é posto à margem e alugado a preço ínfimo, para ir servir de alvo às pontas de uma fera…”. A fera (o touro) por seu lado, “será barbaramente farpeada, até que, enfurecida, ensanguentada, ludibriada, injuriada, procurará vingar-se arremessando-se sobre o adversário que a desafia e fere”.

Para se tentar perceber o que lhe ia na alma, aparenta-se um excerto da carta: “É ele [cavalo], não tenho pejo de o confessar, que absorve toda a minha simpatia e para o qual voam os meus melhores desejos. Pobre animal, ser incompleto, irmão nosso inferior, serviu o homem com toda a sua dedicação e com toda a sua lealdade, consumindo em seu proveito todas as suas forças e toda a sua inteligência! (…) Agora, porém, no fim da vida, é posto à margem e alugado a preço ínfimo, para ir servir de alvo às pontas de uma fera, da qual nem pode fugir, visto que tem os olhos vendados!” “E esta fera [touro], pobre animal, também, foi arrancada ao sossego do seu pasto, para ir servir de divertimento a uma multidão ociosa e cruel, em cujo número me incluo! (…) Entrará assim em várias toiradas, em que será barbaramente farpeada até que, enfurecida, ensanguentada, ludibriada, injuriada, procurará vingar-se, arremessando-se sobre o adversário que a desafia e fere. Depois de reconhecida como matreira, tornada velhaca pelo convívio do homem, será mutilada”.

Na “Cartas das Ilhas – XX”, publicada no jornal “A Folha”, de 10 de março de 1912, Alice Moderno confidencia que, para não ferir suscetibilidades, não fala no “tema perigosíssimo das toiradas”, nem comunica o que vai na sua alma aos terceirenses, que segundo ela são “ semi-espanhóis no capítulo de los toros, e não compreenderiam a minha excessiva sentimentalidade”.

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No dia 23 de abril de 1933, reuniu, na casa de Alice Moderno, a direção da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais para “deliberar sobre assuntos urgentes”. De acordo com o jornal Correio dos Açores, do dia 25 do mesmo mês, um dos assuntos a tratar eram as touradas com touros de morte. Na ocasião foi lido um ofício da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa a solicitar a colaboração da SMPA no sentido de pedir ao governo para que “não permita o estabelecimento neste país dos touros de morte. Ficou acordado enviar um telegrama “ao sr. Presidente do Ministério, manifestando a S. Exa o quanto magoaria a sensibilidade dos amigos dos animais a introdução de tão bárbaro divertimento, e quão deprimente seria para a civilização portuguesa o conhecimento do mesmo perante o mundo culto”.

A este propósito, convém recordar que os touros de morte haviam sido proibidos em Portugal, por decreto datado de 14 de abril de 1928, mas continuam, ainda hoje, legalmente, em Monsaraz e em Barrancos, o que não deixa de ser absurdo.

No relato de uma visita que fez a Espanha publicado no Correio dos Açores, de 2 de fevereiro de 1935, Alice Moderno escreve “Barcelona seria um verdadeiro Éden “ se o autocarro “não tivesse parado em frente a um enorme edifício, de construção luxuosa, cujo fim o seu aspeto logo indicava, e deve ter custado à província alguns milhões de mal empregadas pesetas”.

O edifício em causa era a Praça de Touros Monumental, onde não há touradas desde setembro de 2011, na sequência da proibição de touradas de praça, a partir de 1 de janeiro de 2012, na Catalunha. A outra praça de touros, a Praça de Las Arenas, existente na mesma cidade foi transformada em centro comercial. Ao estar frente à Praça de Touros, Alice Moderno lembrou-se dos “sofrimentos inauditos” de que eram vítimas os animais e acudiram à sua mente o que escreveu o escritor Victor Hugo: “Em todas as corridas de touros aparecem três feras, que são o touro, o toureiro e o público. O grau de brutalidade de cada um destes brutos pode calcular-se pelo seguinte:

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O touro é obrigado. O toureiro obriga-se. O público vai por um ato espontâneo da sua soberana vontade e, ainda por cima, dá dinheiro. Observem bem esta graduação: O touro, provocado, defende-se. O toureiro, fiel ao seu compromisso, toureia. O público diverte-se. No touro há força e instinto. No toureiro, valor e destreza. No público não há senão brutalidade”.

Sobre a associação entre as festas do Espirito Santo e os animais, nunca é demais lembrar Alice Moderno, que, em 1914, escreveu: “É certamente uma época alegre para o povo, mas quem paga a patente são os pobres bois, que são abatidos em grande número, depois de passeados pelas ruas com adornos de flores, o que faz lembrar a época do paganismo.”

Alice Moderno, não apreciava a caça, como se pode ver pelo texto publicado no Correio dos Açores, a 11 de fevereiro de 1933: Assim, para além de se regozijar pelo facto dos pombos existentes na cidade de Ponta Delgada serem “poupados às balas dos caçadores”, mencionou o facto dos mesmos serem alimentados por donos de estabelecimentos comerciais e outras pessoas que “lhes distribuíam diariamente as rações de milho de que se sustentavam”. Segundo ela, para “além da bondade que manifestavam para com os animais, vinham dando aos seus concidadãos um belo exemplo educativo”.

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O TESTAMENTO

Para além do já referido no capítulo dedicado à causa animal e para além do que deixou a alguns particulares, Alice Moderno não se esqueceu do Liceu que frequentou e do Asilo da Infância Desvalida.

No que diz respeito ao liceu, Alice Moderno deixou à Biblioteca do Liceu Antero de Quental parte da sua biblioteca.

Eis alguns dos livros existentes:

- Camoens E I Nuovi Poeti Portoghesi: Conferenza (1896), de António Padula, escritor natural de Nápoles, autor e tradutor de uma vasta obra sobre literatura portuguesa (com dedicatória do autor); - L’Ile des pingouins, de Anatole France; - Horas perdidas (1897), de David Correia Sanches de Frias, (com dedicatória do autor); - Poesia Humana, de Xavier de Carvalho, jornalista e escritor republicano (com dedicatória do autor) - Cenni Biografici su gianvincenzo gravina (1890), de António Padula (com dedicatória do autor); - Code Civil Expliqué (1886), de Catharina Mascarenhas (com dedicatória da autora) - Sous les lilas (1880), de L.M. Alcott - Serranias (1913), de Pedro Vilas Boas (com dedicatória à redação d’ A Folha); - Nova Carta Chorographica de Portugal (1912) de Marques d’Avila e de Bolama (com dedicatória do autor); - Quatro novelas (1908), de Ana de Castro Osório, feminista, republicana, considerada por alguns como a fundadora da literatura infantil em Portugal (com dedicatória da autora); - Guillaume Tell, de Friedrich Schiller; - O Instituto Internacional de Agricultura (Roma) (1910), de D. Luiz de Castro, agrónomo e lente catedrático do Instituto de Agronomia e Veterinária (com dedicatória do autor) - Catálogo Gálvez- Sellos de Correos y Telegrafos (1900), do estabelecimineto filatélico

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de Miguel Gálvez Jiménez Alice Moderno, no seu testamento, deixou ao “Asilo da Infância Desvalida” uma cruz de brilhantes com o objetivo de que com o valor da sua venda fosse instituído um “prémio anual, a atribuir à aluna que mais se distinguisse pelas suas qualidades de inteligência e trabalho”.

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BIBLIOGRAFIA

Bento, C. (2008). História dos Açores da descoberta a 1934. Ponta Delgada.

Castro, Z., Esteves, J., Sousa, A., Abreu, I., Stone, M. (2005). Dicionário no feminino (séculos XIX e XX). Lisboa: Livros Horizonte.

Moderno, A. (1901). Açores pessoas e coisas. Ponta Delgada: Typ. Popular.

Vilhena, M. (1987). Alice Moderno a mulher e a obra. Angra do Heroísmo: Direção Regional dos Assuntos Culturais, Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Vilhena, M. (2001). Uma mulher pioneira. Ideias, intervenção e ação de Alice Moderno. Lisboa: Salamandra. Vilhena, M. (2008). Joaquim de Araújo – Diálogo epistolar com Alice Moderno: da literatura ao amor frustrado. Santo Tirso: Cão Menor.

Jornais

A Folha, Ponta Delgada, 1902-1917 Vida Nova, Ponta Delgada, 1908-1912

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CRONOLOGIA RELATIVA A ALICE MODERNO

1838 - A 22 de outubro nasce, no Rio de Janeiro, João Rodrigues Moderno, pai de Alice Moderno.

1847 - A 14 de abril nasce, em Nova Friburgo (Brasil), Celina Pereira de Melo Maulaz, mãe de Alice Moderno.

1864 - Casamento de João Rodrigues Moderno com Celina Maulaz, em Nova Friburgo.

1867 - Em julho, os pais de Alice Moderno partem para França, fixando-se em Paris; - A 31 de agosto, em Paris, nasce Alice Moderno; - Em setembro, vinda de Alice com os pais para a ilha Terceira, onde ficam nove meses.

1868 - Alice Moderno regressa a Paris com os pais.

1876 - O casal Moderno e a filha regressam à ilha Terceira.

1883 - A 31 de agosto a família Moderno vem para Ponta Delgada; - Entrada de Alice Moderno, com 16 anos de idade, na vida literária através da publicação da poesia Morreu, no Jornal Açoriano Oriental.

1886 - Aos 18 anos, Alice Moderno publica Aspirações, primeiro livro de versos.

1887 - No ano letivo 1887-88, Alice Moderno matricula-se no Liceu de Ponta Delgada, tendo concluído os seus estudos em três aos letivos.

1888- Alice Moderno funda o jornal O Recreio das Salas e começa a corresponder-se com o escritor Joaquim de Araújo; - Publicação de Trilos, segundo livro de Alice Moderno.

1891 - Começa a colaboração ativa de Alice Moderno no Diário de Anúncios.

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1892 - Alice Moderno assume a direção do Diário de Anúncios; - Em junho, inicia-se o namoro de Alice Moderno com Joaquim de Araújo; - É publicado o romance de Alice Moderno, O Dr. Luís Sandoval; - Alice Moderno publica o “primeiro artigo político” no Diário de Anúncios.

1893 - Partida da família Moderno para a América, a 8 de agosto, no vapor Olinda, ficando Alice Moderno em Ponta Delgada; (C.Vilhena apresenta dois anos?) - Alice Moderno pede a demissão do cargo de diretora do Diário de Anúncios;

1894 - Publicação de Os Mártires do Amor, sonetos de Alice Moderno; - Desfazem-se os projetos de casamento de Alice Moderno com Joaquim de Araújo. 1897- Publica-se Asilo de Mendicidade, pequena brochura de Alice Moderno.

1899 - Publicação de No Adro, pequena brochura de Alice Moderno.

1901 - Publicação de Açores: Pessoas e Coisas; 1902 - Alice Moderno funda o jornal “A Folha”.

1903 - Alice Moderno adquire uma tipografia.

1904 - Publicação de Os Mártires, coletânea de sonetos.

1907 - Instala-se em São Miguel a companhia de seguros Equitativa de Portugal e Colónias, sendo Alice Moderno sua agente.

1909 - Alice Moderno adquire uma propriedade na Fajã de Baixo; - Publicação de Mater Dolorosa, monólogo em verso; - Foi redatora da Revista Pedagógica que se publicou até 1915 e que teve como proprietária e diretora a professora primária Maria Evelina de Sousa. Alice Moderno também dirigiu a revista na ausência de Maria Evelina de Sousa, o que terá acontecido entre os números 108 e 112, publicados em 1909.

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1910 – Publica uma peça em um ato intitulada A Apoteose em homenagem a João de Melo Abreu. - Alice Moderno, através d’A Folha saúda a implantação da República.

1911- Publicação de Versos da Mocidade; - Fundação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais; - Fundação do Sindicato Agrícola Micaelense (Alice Moderno foi fundadora e secretária).

1913 - Alice Moderno foi nomeada regente da Escola Móvel de Ponta Delgada, tendo, no dia 15 de outubro, proferido a alocução inaugural. - Publica a peça em um ato Na Véspera da Incursão.

1914 - Alice Moderno assume a presidência da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais. 1915 – Publica A Voz do Dever, peça em 1 ato, em verso dedicada ao Dr. Afonso Costa.

1916 - Um soneto de Alice Moderno obteve o 1º prémio num concurso organizado pelo Jornal da Mulher. 1917 – “A Folha” deixa de se publicar.

1924 - O soneto A última carta foi premiado nos Jogos Florais de Angra do Heroísmo.

1928 - Inicia a sua colaboração no Almanaque Micaelense que vai durar até 1934.

1929 - O soneto Sorriso póstumo obteve o primeiro lugar num concurso de sonetos portugueses promovido pela revista Alma Feminina.

1930 - Publicação de Trevos, último livro de Alice Moderno; - Nomeada delegada da Associação Nacional de França “Les Elites Françaises”

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1934 - Foi distinguida com a Medalha de Prata da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa. 1937 - Colaborou a convite da “Academia Mediterrânea”, do Mónaco, em trabalhos conducentes ao combate à crise que afetava a indústria livreira; - Foi agraciada pelo governo francês com a condecoração “d’Officier d’Académie”.

1940 - Colabora com o Almanaque Anuário Micaelense. 1942 - Um soneto foi premiado nos Jogos Florais promovidos pela Secretaria do Turismo e pela Câmara Municipal da Figueira da Foz; - Foi convidada para colaborar em Viagem, revista de turismo, divulgação e cultura.

1943 - Assina um contrato de correspondente do jornal O Primeiro de Janeiro.

1946 - A 31 de janeiro, Alice Moderno redige o seu testamento. - A 12 de fevereiro, morre Maria Evelina de Sousa. - A 20 de fevereiro, morre de Alice Moderno.

1948 - É inaugurado o «Hospital Alice Moderno».

1956 - São arrematados os bens deixados por Alice Moderno e é comprada a «Casa do Gaiato».

2005 - A Câmara Municipal de Ponta Delgada homenageou Alice Moderno, atribuindo o seu nome a uma rua localizada no Loteamento do Caminho da Fajã de Cima, na freguesia de São Pedro.

2014 - Recebeu, a título póstumo, a insígnia autonómica de mérito cívico.

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