Revista Teletime - 170 - Outubro de 2013

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Por que vocês não optaram por terceirizar a infraestrutura de torres? Porque do ponto de vista de retorno para o acionista, vender não faz sentido, a menos que você precise muito de cash. Se você não precisar de dinheiro, isso traz um valor presente negativo. Vender torres nada mais é do que uma operação financeira. Você vende hoje, tem o cash-in, mas no tempo o seu Opex é maior, e o valor presente líquido dessa operação é negativo. Faria sentido se precisássemos reduzir dívida ou gerar caixa, o que não é nosso caso. Nas nossas contas, a razão de Opex para uma infraestrutura própria para uma infraestrutura terceirizada é de um para três. Normalmente uma empresa de operação de torres tem um múltiplo melhor do que de uma empresa de telecom. Mas para me beneficiar disso eu não posso simplesmente vender, teria que fazer parte dessa operação.

“TIM Fiber nasceu como oportunidade de aproveitar a infraestrutura que adquirimos para backhaul, e não o contrário. Foi um bônus, mas nosso principal objetivo continua sendo infraestrutura para a rede móvel.” Fazer parte de uma operação de torres está no radar? A gente analisa sempre essas oportunidades. Se existe uma possibilidade de criar valor para o acionista, vamos analisar. Mas vender as torres pura e simplesmente não faz sentido. Qual a expectativa para o leilão da faixa de 700 MHz? O timing previsto para o ano que vem é adequado? Há muitas variáveis ainda não conhecidas. É muita coisa que precisa ser definida: quantos blocos haverá no leilão, quais os limites de espectro, a combinação dos blocos, as obrigações de limpeza do espectro... Essa é a principal questão, aliás. Já deu confusão no MMDS. Vocês também questionaram o pagamento às empresas de MMDS? Questionamos na Justiça apenas a Net, que é do grupo Claro, a Telefônica e a Sky. As outras, nós pagamos. São as três empresas que optaram por devolver a faixa para disputar o leilão de 2,5 GHz. Não faz sentido elas serem ressarcidas de forma integral se já abriram mão da frequência. Agora, se no caso do MMDS já deu toda essa confusão, no caso do broadcast a questão é muito mais complexa, tem muito mais elementos em jogo, pode-se buscar ou não incentivos à digitalização da radiodifusão... O custo de limpar a faixa não pode ser maior do que o custo do espectro. A limpeza precisa ser pré-definida e regulada, ou os dois setores vão ter problemas. 2 0 | t e l e t i m e | o u t u b r o 2013

E a questão das novas obrigações? Esse é um terceiro fator de indefinições. No leilão de 2,5 GHz, há obrigações rurais em que cada operadora tem um pedaço. Naturalmente, isso exige uma infraestrutura de torres, fibras, rede. Como será a obrigação de cobertura na faixa de 700 MHz? O ideal é que já haja um mecanismo que alinhe e sincronize as obrigações já existentes, mas isso não é simples de fazer. E há ainda um quarto elemento, que é o modelo de custos dessas obrigações, que tem que considerar a infraestrutura e o modelo de receita. O fato de eu ter a faixa de 2,5 GHz e a faixa de 700 MHz não significa que eu vou ter acesso a dois públicos, vou comercializar dois serviços e vou ter duas receitas diferentes. O cliente é o mesmo qualquer que seja a tecnologia. Enfim, as variáveis são muitas para dizer se faz sentido leiloar já. Se fosse só por conta da cobertura, é claro que faz sentido, mas tem que ver o conjunto do edital. Vê a possibilidade de chegada de um novo player no leilão de 700 MHz? As dificuldades de começar do zero, sem base, só com 4G, são gigantes. Parece uma equação difícil de fechar. Tem competição demais no mercado? O nível de rentabilidade das empresas no Brasil não é exatamente tranquilo. Todo mundo tem que lutar bastante para conseguir resultado. Por outro lado, talvez seja o único mercado do mundo com uma competição entre quatro players onde o quarto player tem aproximadamente 20% do mercado. Nos outros mercados com esse nível de competição, o quarto player tem 5%, 8%. Aí realmente há um problema de falta de escala, excesso de agressividade, competição predatória. Aqui temos uma situação mais equilibrada. Qualquer empresa é sustentável com 20% de market-share, mas a equação de concentração é delicada. Otávio Marques, presidente da Andrade Gutierrez e acionista da Oi, disse recentemente que uma das possibilidades que ele via para a TIM era reparti-la num consórcio entre operadoras existentes... Quando você tem um player independente, muito bem-sucedido, que gera uma dor de cabeça competitiva, é natural que queiram eliminar um competidor. Foi assim em 2003, quando criaram o Consórcio Calais para eliminar a Embratel. Para evitar o que aconteceu: o surgimento de uma operação integrada que é referência e dá dor de cabeça para eles. É um jogo de mercado. Quando você elimina a competição, isso é bom para quem fica, mas não necessariamente é um caminho que o mercado tenha que seguir.


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