Revista Teletime - 155 - Junho 2012

Page 12

.:entrevista

Samuel Possebon

samuca@convergecom.com.br

Os novos dilemas da Internet Neutralidade, regulação, privacidade e comercialização são alguns dos muitos desafios que a Internet enfrenta nos dias de hoje. E as soluções para os impasses ficam cada vez menos simples.

TELETIME -­ Com a discussão em torno do Marco Civil, entrou-se em uma fase em que a Internet será, definitivamente, um território regulado? DEMI GETSCHKO - Acho que esse processo demorou demais até. O que demorou demais, a proposição de um marco civil ou a tramitação do projeto? O Marco Civil deveria ter sido colocado em funcionamento. Passouse o período de discussão de dois

muita coisa. Neutralidade, por exemplo, é um conceito muito amplo e difícil de definir, que abarca todas as camadas da rede. Alguns falam em neutralidade e pensam em estrutura física, em como compartilhá-la de uma forma justa e impedir que alguém que a controle tenha um poder excessivo. Mas neutralidade é mais do que isso, ela vai para níveis de cima. Por exemplo, serviços que podem ser degradados de propósito por conta de questões concorrenciais, ou situações nas quais grupos privilegiem acesso aos seus próprios conteúdos em detrimento de outros. A neutralidade deve levar em conta sempre o princípio de que a origem e o destino não podem ser questionados. E o conteúdo não deve ser examinado por quem presta o serviço. Faz-se uma analogia com os Correios: eles não examinam as cartas antes de entregá-las. Claro, serviços diferentes podem ter tratamentos diferentes. As cartas têm de ser tratadas de forma isonômica, assim como as encomendas, mas é claro que entre as duas pode haver diferenças de tratamento. Não pode haver é quebra de neutralidade dentro de cada um dos serviços.

foto: divulgação

A

Internet é, a cada dia, mais central no ambiente das telecomunicações. Seu protocolo (IP) já domina o core das redes e progressivamente ganha mais importância no acesso. Os serviços começam a ser dominados por alternativas desenvolvidas pela Internet, como VoIP, IPTV e a própria oferta de conectividade em alta velocidade. E aos poucos as redes tradicionais de telecomunicações passam a se confundir com a rede de Internet, com as ofertas tradicionais tornando-se serviços de valor adicionado sobre a rede de banda larga. Demi Getschko é o diretor-presidente do NIC.br, o órgão implementador das políticas de Internet definidas pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil, responsável pela “organização” da Internet brasileira desde seus primeiros passos comerciais, no começo da década de 90. Getschko, por sua vez, também acompanha e contribui para o desenvolvimento da Internet no País desde seus primeiros passos. Nessa entrevista, ele fala sobre os principais pontos de conflitos e convergência entre os interesses da “comunidade Internet” e o setor de telecomunicações, as mudanças regulatórias que estão em vista e o próprio futuro da rede e dos serviços que estão se desenvolvendo.

Demi Getschko

anos, nas audiências anteriores, e agora teve essa repescagem. Se não dava para colocá-lo em prática, que pelo menos se segure essas tentativas de regulamentação para que elas não atropelem o andamento das coisas, para haver uma certa ordem. Qual a sua expectativa? Que o Marco Civil pelo menos seja aprovado com o texto atual? Tenho visões pessoais em relação a isso. Acho que não adianta querer 12 Teletime jun_2012

Mas para fazer essa diferenciação não é preciso olhar o remetente e o destinatário? Não, porque nesse caso estamos falando de serviços. O serviço de VoIP, por exemplo, é de tempo real. Se atrasar um segundo, ele não funciona, se não está dando tempo real a esse serviço, ele morreu. Correio eletrônico pode atrasar dois minutos e ninguém vai se matar por isso. Os serviços têm necessidades diferentes, a vida é assim. Queda de neutralidade não é isso, é você não deixar o cara fazer VoIP porque você vende telefonia, ou não deixar ele assistir a um vídeo porque você também vende TV a cabo. Ou ainda não deixar o


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.