Revista Teletime - 147 - Setembro 2011

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Ano 14

n0 147

set2011

www.teletime.com.br

(des)conexão norte

Maior região do país ainda tem grandes carências na telefonia fixa, móvel e até na instalação de telefones públicos. ENTREVISTA Caio Bonilha explica qual será o papel da Telebrás e fala sobre os investimentos em infraestrutura

REGULAMENTAÇÃO Senado aprova o PLC 116 e muda a correlação de forças entre teles e donos dos conteúdos


A OI TAMBÉM ESTÁ AQUELES BRASILE VIVEM NUM LUGAR DISTANTE: O FUTU Programa Oi Inovação: Investimentos e In para Desenvolvimento e Pesquisa NACIONAL.

A Oi desenvolve e apoia pesquisas brasileiras em empresas, universidades e institutos como: FITec, C.E.S.A.R, CERTI, RNP, CPqD, COPPE/UFRJ e PUC-RJ. O Programa Oi Inovação estimula a criação de novos produtos,


COM IROS QUE MUITO RO. fraestrutura

serviços e processos, com aplicações no dia a dia dos brasileiros e em programas nacionais de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação. Tudo isso para levar desenvolvimento, conforto e praticidade aonde quer que os brasileiros precisem.


Presidente Rubens Glasberg Diretores Editoriais André Mermelstein Claudiney Santos Samuel Possebon (Brasília) Diretor Comercial Manoel Fernandez Diretor Financeiro Otavio Jardanovski

Editor Samuel Possebon Editora Adjunta e Editora de Projetos Especiais Letícia Cordeiro Editor de Mobilidade Fernando Paiva Redação Daniel Machado, Wilian Miron, Helton Posseti (Brasília), Fernando Lauterjung Consultor Especial Cláudio Dascal Arte Edmur Cason (Direção de Arte); Rubens Jardim (Produção Gráfica); Geraldo José Nogueira (Edit. Eletrônica); Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora) Departamento Comercial Ivaneti Longo (Assistente) Inscrições e Assinaturas Gislaine Gaspar (Gerente) Circulação Patricia Brandão (Gerente) Marketing Harumi Ishihara (Diretora) Gisella Gimenez (Assistente) Administração Vilma Pereira (Gerente) TELETIME é uma publicação mensal da Converge Comunicações - Rua Sergipe, 401, Conj. 603 CEP: 01243-001 - Telefone: (11) 3138-4600 e Fax: (11) 3257-5910 - São Paulo, SP. Sucursal SCN Quadra 02 Bloco D, sala 424 – Torre B - Centro Empresarial Liberty Mall - CEP: 70712-903 - Fone/ Fax: (61) 3327-3755 - Brasília, DF. Jornalista Responsável Rubens Glasberg (MT 8.965) Impressão Ipsis Gráfica e Editora S.A. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista, sem autorização da Glasberg A.C.R. S/A

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Samuel Possebon

FOTO: arquivo

.:Editorial

samuca@con­ver­ge­com.com.br

Um avanço, e duas incógnitas

E

m agosto foi finalmente aprovado o PLC 116, projeto que cria um novo marco legal para a TV por assinatura no Brasil. É uma revisão completa do modelo de TV paga vigente atualmente e que foi estabelecido, principalmente, em janeiro de 1995, com a Lei do Cabo, e depois com os regulamentos específicos das demais tecnologias (MMDS e DTH). O grande avanço do PLC 116 é justamente esse: o de acabar com a distinção tecnológica em relação à regulamentação do serviço de TV paga. O novo Serviço de Acesso Condicionado (serviço que dará suporte a todas as formas de distribuir conteúdos por assinatura) é tecnologicamente agnóstico. Também termina com as incongruências que haviam entre o serviço de TV a Cabo e a Lei Geral de Telecomunicações, incongruências que, destaque-se, eram mais do que conhecidas desde 1997, quando a LGT foi feita, mas que lá permaneceram por opção política. Ainda que o serviço de TV por assinatura tivesse até hoje, por conta da Lei do Cabo, algumas limitações, como a restrição ao capital estrangeiro no cabo e dificuldades para a atuação das teles, foi um modelo que funcionou bem por muito tempo. O mercado se estabeleceu de forma competitiva, as operadoras de cabo se tornaram opções efetivas em termos de infraestrutura e serviços de telecomunicações, desenvolveram-se canais públicos relevantes para a democracia, como a TV Câmara e a TV Senado, e o Brasil tem hoje uma forte e invejável indústria de conteúdos para TV paga. A saturação do modelo se deu, justamente, porque se criou um ambiente intenso de competição na banda larga e na própria TV paga, por meio do DTH, o que fez com que as barreiras deixassem de fazer sentido. O fim desses limites será muito salutar, desde que a Anatel, na regulamentação, lembre-se também de estimular a atuação de grupos dispostos a estabelecer novas redes competitivas, e não apenas garantir às teles já existentes o caminho livre para a TV paga. Na política de cotas de programação trazida pelo PLC 116, talvez o maior ponto de polêmica do projeto ao longo dos quatro anos e meio de tramitação, há conceitualmente um avanço importante. A busca por formas de estimular a indústria nacional de conteúdos é salutar como política pública. Ainda não se 4 Teletime set_2011

sabe se o modelo funcionará na prática, pois ele avança sobre um campo pouco testado no mundo, que é a imposição de cotas dentro de canais já existentes. Também há dúvidas se o mercado de produção nacional dará conta de atender a demanda que será criada com a qualidade necessária, mas são questões que agora o mercado em si terá que responder, positiva ou negativamente. O PLC 116 traz, também, um ponto aparentemente fora de tom para os tempos de convergência e competição que vivemos: a separação dos mercados de produção e distribuição, com o limite às teles de atuarem na produção de conteúdos até o máximo de 30% de participação e a restrição às empresas de radiodifusão e conteúdos de atuarem no mercado de distribuição, no limite de 50%. Sabe-se que esta separação, batizada jocosamente no mercado de novo Tratado de Tordesilhas, foi fruto de uma negociação que teve, à época, o grupo Globo como principal defensor. Não se viu no processo nenhum parlamentar especialmente orgulhoso da ideia, uma tele que dissesse que isso fazia algum sentido além de “facilitar a tramitação da proposta”, um acadêmico ou analista defendendo o modelo. A maior manifestação de apoio a esta separação veio do presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, na ABTA 2010: “com muita franqueza posso dizer que a entrada das empresas de telefonia também na produção e programação, com seus faturamentos internacionais e bilionários, traria um desequilíbrio a mais que dificilmente as empresas brasileiras poderiam suportar”, disse ele à época, ao defender o modelo. Mas colocando a própria história do mercado de TV por assinatura como parâmetro, ficam dúvidas se a Globo e outros grupos de comunicação brasileiros de fato precisariam dessa reserva de mercado. O sucesso que a programação nacional tem junto ao público, seja na TV aberta ou na TV paga, e a demanda que todas as operadoras, mesmo as estrangeiras, têm por conteúdos brasileiros de qualidade é a prova de que não existe ameaça real à Globo ou a qualquer outro grupo nacional. O risco de se colocar em lei uma separação tão drástica é que logo, em um mundo cada vez mais dinâmico e sem fronteiras, a lei se torne incompatível com a realidade. É outra questão a que o mercado terá que responder, positiva ou negativamente.



147 Número

w w w . t e l e t i m e . c o m . b r

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Ano 14 | Set11

Capa

10 Sem Norte

Má qualidade, baixa disponibilidade e alto custo de serviços de comunicação fazem autoridades da região Norte ameaçarem as teles, que parecem acordar para o problema.

Entrevista

16 Gerenciando expectativas

Caio Bonilha, presidente da Telebrás, assume tarefa de fazer PNBL dar certo, regulando a oferta no atacado e alinhando interesses de pequenos a grandes provedores. E, com verba reduzida, integrar capital humano e financeiro de parceiros.

Tecnologia

22 Superdotados Telas 3D, identificação biométrica, displays alimentados por luz: cientistas trabalham em novas features que estão deixando os smarphones ainda mais inteligentes.

TV por assinatura

28 Zona de desconforto

Sucesso dos provedores over-the-top força operadoras locais a desenvolver e lançar novos serviços de distribuição de vídeo. Vale tudo para manter a base.

Regulamentação

16

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34 Novo mandamento Congresso aprova PLC 116, que estabelece novo marco legal para a TV por assinatura no País. Abertura ao capital estrangeiro, mudança no Artigo 86 e novo papel da Ancine são as principais novidades.

36 Banda larga

E agora, teles? Anatel estabelece métricas rígidas de qualidade para os serviços de banda larga, determina prazo e exige investimentos na rede caso a exigência não seja cumprida.

38 Infraestrutura Terreno jurídico Tribunais federais começam a se posicionar contra as prefeituras no imbróglio com as operadoras pela utilização do solo urbano.

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40 Redes Bits velozes Operadoras começam a preparar suas redes para uma oferta massiva de ultra banda larga. Backbone, backhaul, novos equipamentos e topologia são os desafios.

Recursos humanos

42 Profissional sob medida

Empresas investem em cursos, treinamentos e universidades para formar colaboradores cada vez mais novos e adaptados às necessidades do mercado.

Editorial 4 | Ponto de Vista 44 | Ponto & Contraponto 46 Capa: Paul Whitted/shutterstock

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.:capa

Daniel Machado

daniel@convergecom.com.br

Norte desconectado

S

e o Brasil tem hoje, nos grandes centros, uma infraestrutura razoável de telecomunicações, o mesmo não se pode dizer em relação à Região Norte. Seja pelo alto custo de instalação de rede, da complexa estratégia operacional, do retorno de investimento mais prolongado, entre outros fatores, o fato é que ali as comunicações ainda estão muito longe dos padrões aceitáveis. Lá estão os piores índices de cobertura de celular, TV por assinatura e as menores taxas de competição em serviços fixos. O Norte é a segunda região menos populosa do Brasil, com 15 milhões de habitantes, além de ser a maior em extensão territorial, com 3,6 milhões de quilômetros quadrados (42% do território brasileiro) e, por isso mesmo, possui a menor densidade populacional (4,7 habitantes por quilômetro quadrado, segundo o IBGE). A principal razão desse “vazio demográfico” é a extensa área coberta pela Amazônia, um ecossistema de densa floresta que dificulta a ocupação humana, bem como a logística e a operação das teles. “Há vários lugares na região Norte, principalmente no Amazonas e Roraima, onde não há estradas asfaltadas e o acesso é feito por rio ou avião. Sem falar das constantes chuvas, que transformam as ruas em barro”, diz Paulo Mattos, diretor de regulamentação da Oi. A Oi e a Embratel são as duas concessionárias da região, onde têm obrigações legais de universalização, qualidade e disponibilidade dos serviços. Não por acaso, nos últimos tempos ambas vêm sendo os principais alvos de processos por parte de órgãos governamentais e de defesa do consumidor da região. Somente neste ano, Procons e ministérios públicos estaduais e federais do Amapá, Acre e, mais recentemente, a assembleia legislativa do Amazonas, questionaram a má qualidade e as frequentes quedas dos serviços de telefonia fixa, móvel e de internet fixa prestados pelas operadoras. “Estamos expedindo uma recomendação para que a Oi tome

Paul Whitted/shutterstock

A região sofre de má qualidade e alto custo das comunicações. Governos locais ameaçam teles. A boa notícia é que elas, enfim, preparam planos para a região.

providências em relação às constantes interrupções nos serviços de telefonia móvel e Internet”, adverte a promotora de justiça do Ministério Público Estadual do Acre, Alessandra Garcia Marques. Segundo ela, só na capital Rio Branco houve dois apagões neste ano, além de Cruzeiro do Sul. O município é o segundo maior do estado do Acre, com 80 mil habitantes, “ele sofre com apagões semanais e há um inquérito civil contra a operadora tramitando”, revela. O Ministério Público Federal do Acre também questionou a incumbent, instaurando contra ela um procedimento administrativo para acompanhar a qualidade dos serviços de telefonia e transmissão de dados oferecidos aos acreanos. Amazonas O estado do Amazonas foi além e estabeleceu uma Comissão de Gestão e Serviços Públicos (CGESP), que a partir de apurações junto a órgãos regionais e audiências públicas realizadas em dez cidades do Estado elaborou um relatório de 40 páginas e entregou-o ao Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de 10 Teletime set_2011

Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil) e nas mãos do presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg. “O objetivo era mostrar que a Oi e a Embratel não estão cumprindo com suas obrigações de universalização, qualidade e continuidade no interior amazonense. E, principalmente, exigir providências”, disse o deputado estadual Chico Preto (PP/AM), presidente da CGESP. Com informações técnicas e fotos tiradas em campo, o documento revelou redes externas em condições precárias e prédios das centrais em estado de abandono. “Os acessos individuais têm qualidade sofrível. Não se consegue completar ligações e, quando completam, são cheias de ruídos ou nível de voz muito baixo”, informa o relatório. Com a baixa qualidade da telefonia fixa, muitos moradores do interior do Amazonas estão migrando para a telefonia móvel. O problema, segundo o estudo, é que estes serviços também carecem de eficiência e disponibilidade. “As sedes municipais de Borba e Manicoré contam com estações radiobase (ERBs) que só suportam uma média de 56 ligações simultâneas para atender aproximadamente 5 mil acessos ativos”, diz o estudo. Os principais itens em questão no relatório são o backbone e o backhaul que, segundo o relatório, não servem devidamente à região, além do tratamento dado ao usuário final. “O Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU) não está sendo cumprido. Com exceção de Manaus, até hoje o backhaul não foi ins­ ta­lado nos 61 municípios do Ama­­zonas, onde se encontra 50% da população do estado”, reclama o deputado. O backhaul para o tráfego de dados deveria estar efetivado no final de 2010. “A Oi alega que atendeu as cidades de Pre­­sidente Figueiredo, Manaquiri e Iran­ duba, mas não é verdade”, acrescenta. O relatório também denuncia a carência de lojas físicas da concessionária e solicita que sejam reabertas, citando o Plano de Metas de Qualidade para o STFC (PGMQ), que impõe em seu artigo


32 o atendimento de serviço pessoal em todas as sedes municipais.

TICs na região Norte

“Veremos se a solução indicada (pela Anatel) trará respostas efetivas para o Estado. Caso contrário, partiremos para a CPI.”

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72%

69%

53%

Norte

Média Brasil

21% Norte

Média Brasil

43%

Média Brasil

79%

Custo elevado Com Internet Contrataria web da Internet até 256 kbps mais rápida

de suspensão da venda de serviços de telefonia móvel de todas as teles até que a qualidade dos mesmos seja regularizada. “As operadoras móveis oferecem serviços a cidades de 30 mil ha­­bitantes e a infraestrutura não suporta mais do que uma média de 150 ligações si­multâneas. Se as teles não querem in­­tervenção, terão de melhorar essa qualidade. Caso contrário, pediremos à Anatel que nomeie alguém de confiança para gerenciar essas operações”, acrescenta. Respostas Em comunicado oficial, a Embratel alegou que “todas as fotos, obrigações de backhaul e acessos individuais mencionados no relatório da CGESP não são de sua responsabilidade, uma vez que essas são obrigações da concessionária local” (no caso, a Oi). A Embratel informou também que sua “obrigação (de instalar TUPs em áreas distantes dos municípios que não têm oferta de telefonia local) está sendo cumprida e a qualidade sendo continuamente melhorada, apesar das adversidades, co­­­mo falta de energia elétrica na maior parte das áreas atendidas, uma vez que não são cidades, e sim localidades rurais.” Também em nota oficial, a Oi informou que “o relatório da CGESP reflete uma situação de infraestrutura de telecom já superada em vários aspectos”. “Algumas imagens apresentadas no relatório estão desatualizadas e o cenário atual é bem diferente. Foram realizadas ações de melhoria de rede externa, FOTO: divulgação

Média Brasil

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TUPs 83% Para exemplificar a baixa densidade 80 73% de terminais de uso público (TUP) na re­­ 69% gião, o levantamento cita o caso do mu­­ni­ 61% cípio amazonense de Borba. A Anatel exi­ 60 51% ge a instalação de 93 unidades de TUPs na 43% cidade, que conta com apenas quatro em 40 funcionamento (tabela pág. 12). “No município de São Gabriel da Cachoeira existem 20 400 comunidades. Mais de 90% não têm orelhões porque têm menos de 100 habitantes”, diz o texto. O relatório também 0 propõe soluções, sugeridas nas au­diências Domicílios Sem acesso Sem dinheiro públicas, como “escolher du­­zentas localisem PC à Internet para a Internet dades com menos de 100 habitantes e, Fonte: Cetic.br/2010 juntamente com as teles, ela­­ borar um projeto de atendimento com TUPs com no estado na primeira quinzena de outurecursos do orçamento da União”. bro. Para o parlamentar, essa é uma O deputado, um dos autores do docuquestão regional, que vai além do mento, também se posiciona veementeAmazonas. “Será realizada uma audiênmente contra o Projeto de Lei 6878/10, cia pública, com a presença de prefeitos e atualmente em trâmite no Congresso vereadores amazonenses. Mas convido Federal, que destina os recursos do Fundo também os parlamentares e executivos de de Universalização dos Serviços de outras cidades e estados da região Norte, Telecomunicações (Fust) para projetos de como Roraima, Rondônia e Acre, estados disseminação da banda larga em todos os que têm problemas semelhantes”, diz. municípios brasileiros. A proposta altera a lei do Fust (9.998/00), que deve contemVeneno amargo plar programas de implantação de serviço O presidente da CGESP diz, em tom telefônico e de Internet em escolas, biblioameaçador, que caso a visita da Anatel tecas e instituições de saúde. “Primeiro é não ocorra ou se as medidas simplesmenpreciso universalizar a telefonia. E univerte forem ineficientes, já está na gaveta da salização, para o Amazonas, é mais lenda assembleia amazonense a proposta de do que o curupira e o saci-pererê”, diz. uma Comissão Parlamentar de Inquérito Veridiana Alimonti, do Instituto Bra­si­ (CPI) contra a Oi e a Embratel. “Veremos leiro de Defesa do Consumidor (Idec) conse a solução indicada (pela Anatel) trará corda e acredita que a região Norte seria a respostas efetivas para nosso Estado. mais prejudicada no País com a alteração Caso contrário, partiremos para a CPI, das regras do Fust. “As empresas teriam um veneno mais amargo, com um forte recursos públicos para ampliar seus servicomponente de constrangimento”, adverços, aumentando uma rede que ficaria te. As operadoras reconhecem que exispara elas e sem dar contrapartida alguma. tem problemas técnicos em função das Hoje várias operadoras não oferecem telecaracterísticas da região, e sinalizam com fonia fixa sem Internet, pois não acham planos de investimentos. interessante o fornecimento só do STFC. Tramita também na casa, segundo o Mas não importa se é interessante, há parlamentar, um outro requeriobrigação contratual de concessão”, diz. mento de intervenção na Oi e O parlamentar amazonense afirma ter Embratel, além da solicitação saído de uma reunião na Anatel, no final de agosto, com a promessa pessoal do embaixador Sardenberg da elaboração de um cronograma de ações específicas de curto, médio e longo prazo para o Amazonas. Este projeto seria apresentado pelo próprio presidente da Anatel em reunião realizada Chico Preto, deputado estadual (PP/AM)

Norte

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.:capa “É importante destacar que, de forma alguma, a região Norte está abandonada. Muito pelo contrário, estamos realizando investimentos vultosos”

Anatel responde No meio do fogo cruzado, e menos de uma semana após a reunião com o CGESP, a Anatel enviou ofício à Oi e Embratel exigindo a apresentação de um plano de revitalização dos TUPs, que deverá incluir a vistoria e reparo de todos os orelhões até dezembro de 2011. Também foi exigida a revisão dos processos e sistemas de supervisão, controle e manutenção da planta de TUPs, de forma a assegurar que as concessionárias de­­ tectem e corrijam rapidamente os defeitos, priorizando as localidades atendidas exclusivamente por acesso coletivo. A Anatel destacou também que há uma proposta de edição de Regulamento de Características de Funcionamento e Cobrança do Telefone de uso Público em análise no Conselho Diretor da agência para submissão à consulta pública. Os estados do Norte, segundo a Anatel, receberão atenção especial, uma vez que foram constatadas irregularidades graves na manutenção dos telefones públicos nessa região. Além disso, a Anatel exigiu que a Oi apresente, em setembro, um plano de ação para a substituição e modernização de equipamentos (estações e componentes) em fim de vida útil ou obsoletos e diminuição do número de interrupções ocorridas na rede da prestadora, devendo ser priorizados os estados com maior número de interrupções, que incluem os estados do Norte do País. A representante do Idec questiona o poder de fiscalização da Anatel na região. “O Norte sofre com a ausência de serviços públicos mais do que qualquer outra

Paulo Mattos, da Oi. região do Brasil e a Anatel peca muito na fiscalização na região”, diz Veridiana. Plano da Oi Apesar das dificuldades operacionais, o diretor da Oi, Paulo Mattos, diz que isso não pode servir de justificativa para a má qualidade de serviços prestados e até faz um mea culpa, principalmente na área de telefonia pública. “Há chuva constante, a mata é densa, o acesso para a manutenção é difícil, por meio de barcos e estradas de barro, mas nada disso justifica os problemas enfrentados, principalmente com os TUPs”, admite. “Mas estamos com um plano emergencial, monitorado pela Anatel, reforçando as equipes de manutenção para cheguar mais rápido e reparem todos os equipamentos”, acrescenta. Apesar de não revelar valores, Mattos diz que a Oi é a operadora que mais investe na região e que está fazendo “aportes históricos” no Norte. “É importante destacar que de forma alguma a região Norte está abandonada. Muito pelo contrário, estamos realizando investimentos vultosos”. O diretor diz que esses investimentos serão aplicados na manutenção da rede legada e na construção de infraestruturas “mais robustas para suportar não apenas telefonia, mas também banda larga de alta qualidade”. A Oi revela o projeto de ampliação e

modernização de sua rede para a região Norte (ver mapa). Para isso, estabeleceu parcerias com empresas. Iluminou as capitais Boa Vista (RR) e Manaus (AM), compartilhando os cabos submarinos da Globenet e Américas 2, a rede da venezuelana CanTV, entrando em território brasileiro pelas fibras da Eletronorte. E o próximo passo é fechar um anel de redundância, também a partir do Américas 2, até as capitais de Roraima e Amazonas utilizando um trecho das redes E-Networks e Telesur, a serem lançadas na Guiana, e construir uma rede própria da fronteira até Boa Vista. Com a Guyacom, da Guiana Francesa, a Oi chegaria até Macapá (AP) com rede própria e uma parte de rede da Eletronorte, também a ser lançada. “Estamos com outros projetos em curso, como o compartilhamento do gasoduto Urucu-Manaus, da Petrobras, e o linhão de Tucuruí, que está sendo construído pela Eletronorte”, revela. Segundo o executivo, o projeto de expansão da rede da Oi iniciou-se no final de 2008, chegando a Rio Branco (AC) e Boa Vista (RR) em setembro de 2009, e Manaus em dezembro de 2010. “A próxima etapa é passar por outras localidades, como Mujacaí, Iracema, Caracaí, Rorainópolis, em Roraima; Manaquiri e outras cidades de Manaus e do Pará. E chegaremos a Porto Velho (RO) também, via Manaus”, acrescenta. A previsão inicial para a conclusão da expansão da rede, de acordo com o executivo, era fim de 2011, mais tardar início de 2012. “O problema é que a construção do linhão de Tucuruí não depende da Oi, e a Eletronorte agora trabalha com a data de 2013”, explica. FOTO: arquivo

reformas em estações, recuperação de planta de TUPs, ma­­ nutenções de sistemas, ampliações de rede móvel e de estrutura física em cidades como Manicoré, Itacoatiara, Pa­­rin­­ tins, Lábrea, Ta­ batinga e Borba, entre outras”. O deputado Chico Preto questiona o posicionamento das duas teles, alegando que ambas têm responsabilidade legal de disponibilizar TUPs, respectivamente, a até 30 quilômetros e a partir de 30 quilômetros de distância das sedes municipais. “Nosso relatório revela que em dez municípios do interior de Amazonas deveria haver 2.026 orelhões, entretanto, apenas 145 foram localizados em condições de utilização”, finaliza.

Situação dos TUPs em municípios do Amazonas Município Borba Manicoré Manacapuru Itacoatira Tefé Parintins Total

Oi / Cidade Oi / Rural Embratel /Rural Instalados Funcionando Instalados Funcionando Instalados Funcionando 93 4 21 4 4 0 84 6 42 1 6 1 280 32 62 15 6 1 355 20 48 18 6 0 282 18 14 3 8 2 399 27 55 13 5 0 1493 107 252 54 35 4

Fonte: Assembleia Legislativa do Amazonas (CGESP/AM)

12 Teletime set_2011



.:capa Projeto da TIM A TIM também informou à TELETIME que investirá, neste ano, R$ 190 milhões na região. “É um aporte 57% maior que o realizado em 2010. No triênio 2011-2013 serão R$ 627 milhões em investimentos no Norte”, diz Charles Davies, diretor de operações da TIM. O executivo revelou também que estão sendo instalados na região somente neste ano mais de 4,7 mil TRX (elementos que ampliam capacidade de E-Networks Guyacom/Fr. Telecom acesso à rede celular), que elevarão Oi a planta instalada da empresa no CANTV Terceiro Norte em 43%, para 15,8 mil TRX. GlobeNet “Além disso, a região receberá 201 Américas 2 Eletronorte novas ERBs e 157 antenas 3G”. Projeto GT&T e TeleSur Em julho, a operadora firmou Rede existente contrato com o consórcio LT Rede a construir Amazonas para transportar cabos Fonte: Oi por meio das torres de linhas de transmissão e subestações de energia ao longo de 27 municípios nos estados do A Telebrás assinou com a Eletronorte, Amazonas, Pará e Amapá. A TIM planeja em julho último, um contrato de parceria investir R$ 170 milhões neste projeto e o para uso recíproco de infraestruturas na início do lançamento das fibras está pro- região Norte, com a finalidade de acelegramado para setembro deste ano e tér- rar a conexão em banda larga na região mino em 2013. por meio do PNBL. “Já apresentamos ao Como não há, em grande parte das ministro das Comunicações (Paulo comunidades da Amazônia Legal, acesso Bernardo) um projeto conjunto com a por estradas de rodagem, apenas por Eletronorte que abrange o Maranhão, meio aéreo e fluvial, o acesso terrestre Pará, Amapá, Acre e Rondônia”, inforainda é precário, com as saídas (backbo- mou o presidente da Telebrás, Caio ne) nacionais ocorrendo basicamente por Bonilha, que diz ser desafiador a instalameio de capacidades espaciais (satélites), ção de rede na região, principalmente no “circunstância que implica preços maiores Amazonas e Roraima. “Além dos trâmide acesso quando comparados aos prati- tes estaduais e do Ibama com as licenças cados nas demais regiões”, segundo a ambientais, estamos tendo um sério proprópria Anatel. blema com o Sinapi”, diz. Um clássico exemplo disso é a Lind O Sinapi, Sistema Nacional de Preços Net, provedor do interior do Amazonas, a e Índices para a Construção Civil, é uma 400 quilômetros de Manaus. Há seis anos, métrica criada pela Caixa Econômica a empresa oferece Internet no município Federal no final da década de 1970 cujo de Tefé, de 67 mil habitantes. A Lind Net objetivo é balizar a análise orçamentária aluga mensalmente um link de 3 Mbps do de projetos como o lançamento de redes provedor de serviços satelitais Ozônio, por terrestres e estações radiobase de telecoR$ 39 mil (R$ 13 mil cada 1 Mbps). Este municações, entre outros. “Somente link é revendido e compartilhado com neste ano tivemos três obras de pregões cerca de 450 clientes residenciais de Tefé. canceladas na região Norte, pois as A banda média por usuário é de 56 kbps empresas (instaladoras) não aceitaram (não dedicada) ao custo mensal de R$ 140 renegociar o orçamento. E isso só aconpara cada assinante. “Não é barato, se tece no Norte”, revela. “O Tribunal de analisarmos que há operadoras em Contas da União (TCU) precisa flexibiliManaus que oferecem 5 Mbps por R$ 160, zar o Sinapi nas regiões mais remotas da mas para os moradores da cidade é a Amazônia Legal, onde o custo de instalaúnica opção de acesso à Internet”, diz ção chega a ser 50% maior em relação a Marcio Sales, presidente da Lind Net, que outras áreas”, protesta. garante ter uma rentabilidade média de 40% a 50%. “Arcamos com os custos opePotencial racionais de equipamentos e serviços, que Em uma breve consulta no site do não são pequenos”, acrescenta. Ministério da Justiça, é possível verificar

Projetos na região Norte

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(Backbones e cabos submarinos)

quais os problemas mais frequentes enfrentados nos últimos doze meses pelos consumidores da Oi, Claro, TIM, Vivo, Embratel, Net e Sky. Pelo menos nos estados do Amazonas, Amapá, Acre, Pará, Tocantins, os únicos da região Norte integrados ao Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec), seguem no topo da lista a cobrança indevida e o não fornecimento dos serviços. Segundo Alexandre Barbosa, ge­ren­te do Centro de Estudos sobre as Tecnologias de Informação e da Comunicação (Cetic.br), as operadoras deveriam tratar melhor o consumidor nortista não apenas por lei ou obrigação, mas também por se tratar de um mercado de grande potencial. “Pelo fato de boa parte desses cidadãos estar distante das grandes cidades, eles utilizam muito a Internet para fins educacionais”, diz. Segundo dados do Cetic.br, 75% dos que acessam Inter­ net na região buscam conteúdos relacionados à educação (a média nacional é de 66%) e 71% realizam pesquisas escolares, contra uma média geral de 59%. Além disso, apesar de contar com somente 3,6% dos acessos de TV por assinatura no Brasil, a região Norte foi a segunda que mais cresceu em 2010, com uma taxa de 17%, bem acima da média brasileira, de 13%. O aumento da penetração dos serviços de terceira geração (3G) foi o maior no ano passado, atingindo 192% e, somente no primeiro semestre de 2011, cresceu 46%. 


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.:entrevista

Letícia Cordeiro e Daniel Machado

leticia@convergecom.com.br e daniel@convergecom.com.br

Competidora ou parceira?

Telebrás adota tom mais conciliador e mostra opções de parcerias a serem perseguidas, mas ainda se vê como uma reguladora da oferta no atacado. Estatal terá papel importante na política de satélites e no cabo submarino nacional.

TELETIME Como foi assumir a Telebrás após a demissão de seu predecessor, em um momento em que o Ministério das Comunicações falava em revisar o papel da empresa? CAIO BONILHA Sempre tive muito claro pra mim que a Telebrás não poderia fazer nada sozinha. É impossível querer fazer um plano da magnitude que o governo pretende, no tempo que ele pretende fazer, sem a participação das operadoras. Nem que a gente tivesse todo o dinheiro do mundo a gente conseguiria fazer no tempo necessário. A Telebrás veio, e essa sempre foi a minha convicção, com o papel de rede neutra, em um modelo

cidade mínima com qualidade. O outro papel é fornecer acesso, ou banda, ou conectividade IP, ou backhaul, como se preferir, a um preço fixo em todo o Brasil. O papel fundamental da Telebrás é ser um regulador de preços no atacado. Com uma rede neutra. Atendemos a todos com isonomia.

foto: marcelo kahn

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presidente da Telebrás, Caio Bonilha, assumiu o cargo em junho deste ano em meio a uma grave crise política entre o então presidente da estatal, Rogério Santanna, e o ministro das Co­­ mu­­ nicações, Paulo Bernardo. Bonilha, que já estava na empresa como diretor comercial, chegou com a missão de colocar o projeto de atuação da estatal nos eixos, o que tem sido feito com discrição e pragmatismo, mas sem abandonar o projeto original que vem desde 2010. O executivo é conhecido do setor. Iniciou sua carreira na CRT, teve passagens pelo CPqD, Promon, Elebra e foi um dos fundadores da empresa de engenharia celular CelPlan. Em 1999, começou a prestar consultoria, ajudou a formatar os modelos de telecomunicações de várias utilities de energia elétrica e assessorou na formatação da Eletronet, que posteriormente foi vendida para a AES. Em 2006, quando o governo decidiu retomar o projeto que resultou no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), o gaúcho Bonilha foi chamado pela então ministra-chefe da Casa Civil, hoje presidenta da República, Dilma Rousseff, para assessorar na montagem do modelo. Ou seja, mais do que “apenas” o novo presidente da Telebrás, Bonilha conhece profundamente o modelo e o projeto por trás do PNBL.

Caio Bonilha

sempre similar ao open reach, que existe na Inglaterra. Quando fizemos o plano, determinamos que para se aumentar a densidade e inclusão digital no nível que o governo queria, o preço não poderia passar dos R$ 35. A Telebrás tinha muito claro esse papel como regulador e de determinador do preço. Todo o mundo está aderindo ao PNBL ao preço de R$ 35 com ICMS e R$ 29,90 sem ICMS. Esse é um marco, estabeleceu um patamar; e, mais, uma determinação da presidenta Dilma com o patamar da velocidade de 1 Mbps com 20% da velocidade garantida. Então são dois marcos, de preço e velo-

O que mudou em relação ao projeto inicial? Nada mudou em relação ao projeto inicial. Era mais a percepção. A comunicação da Telebrás não está boa. Muita gente ainda pergunta se vamos atender ao usuário final. E eu respondo que, embora exista a previsão, não é a nossa intenção, nem estamos preparados para isso. Estamos preparados para fornecer banda para operadores e provedores de qualquer tamanho, em igualdade de condições. Com preço único. Temos de ter isonomia, porque queremos não matar os pequenos, mas sim ampliar a competição. Melhorar a qualidade e diminuir o preço, só com competição. E como conciliar a relação com as grandes teles e, ao mesmo tempo ser um incentivador para os pequeno competidores? No começo houve uma reação muito grande das teles à reativação da Telebrás. O Rogério Santanna teve um papel preponderante. Não haveria Telebrás como ela é hoje sem ele, isso para mim é inequívoco. Ele fez o papel de confrontar, de abrir caminho para a Telebrás, de mostrar que ela viria a se tornar uma realidade, apesar de contrariar interesses. Como ele mesmo disse: “nós vamos tirar as teles da zona de conforto”. E a verdade, é o

É impossível querer fazer um plano da magnitude que o governo pretende, no tempo que ele pretende fazer, sem a participação das operadoras.” 16 Teletime set_2011


que está acontecendo mesmo. Hoje, diria que já estamos em outro estágio. As operadoras já assumiram que a Telebrás é uma realidade. E isso, de certa forma, facilitou nossa relação com elas. Estamos discutindo vários negócios pontuais com elas para fazer atendimento conjunto e compartilhamento. Quais os principais desafios de comandar uma estatal de capital aberto como a Telebrás? Dobra o nosso esforço. Temos que contemplar dois mundos, que, às vezes, são antagônicos, o mundo estatal e o da iniciativa privada. Estamos desenvolvendo uma série de mecanismos para trabalhar com iniciativa privada e com outras estatais também. Um dos maiores trabalhos que estão sendo desenvolvidos pela Telebrás não vai aparecer nunca, a não ser o resultado dele. São as parcerias com outras empresas, tanto públicas quando privadas. Estamos desenvolvendo parcerias com Eletronorte e Eletrosul. Tivemos que fazer todo um desenvolvimento jurídico, analisando a natureza de ambas as empresas, que tipo de negócio poderíamos fazer. É diferente da iniciativa privada, que é muito mais simples: os valores são esses, contrata e ponto final. Como são empresas públicas, temos de respeitar todo o ritual da empresa pública. E numa empresa S/A, temos de respeitar os minoritários. E aí está a arte de atentar para os dois lados. Não podemos ferir o interesse público nem o interesse dos sócios minoritários. Às vezes ficamos em cima de uma lâmina. A presidenta Dilma afirmou que pensa na Telebrás como sendo o veículo de investimentos públicos na área de telecomunicações. Como vai funcionar isso? Onde entram as elétricas nesses investimentos? A presidenta tem profundo conhecimento do setor elétrico, pelo fato de ter sido ministra de Minas e Energia. Ela conhece todo o potencial que o setor elétrico tem no que diz respeito a telecomunicações, com seus cabos OPGW com fibras ópticas disponíveis. Vamos utilizar esse potencial juntamente com a Telebrás. Então, por conta disso foi constituído dia 19 (de agosto) esse grupo interministerial, que tem 60 dias para apresentar os resultados do estu-

do. A gente já havia começado esse trabalho, principalmente com Furnas, que é nosso parceiro mais próximo, em termos de implantação de rede. Com Eletronorte e Eletrosul, que já têm redes de telecomunicações, estamos fechando acordos. Com Eletronorte, provavelmente na próxima semana (começo de setembro) já vamos anunciar o acordo de compartilhamento. Vamos interligar duas redes com eles. Estamos procurando evitar duplicar investimentos em infraestrutura, porque isso não teria racionalidade econômica nenhuma. E é nesse ponto que a presidenta Dilma acha que a integração tem que ser feita, por uma questão de racionalidade econômica. E não é apenas um acordo comercial? Vocês tiveram de se adaptar a um arcabouço legal? No nosso caso, é um acordo não só comercial, mas também operacional,

com telecomunicações. Muitas redes terão de ser adequadas. Muito possivelmente essa evolução para o smartgrid conte com a participação da Telebrás. A minha grande preocupação hoje é envolver as elétricas para viabilizar o backbone na longa distância. O cronograma da Telebrás está bem atrasado. Isso é só decorrência da questão da liberação das verbas? Já temos em caixa hoje mais de R$ 200 milhões. A questão do TCU criou um sério problema para nós porque tivemos praticamente de parar atividades que estávamos desenvolvendo com os fornecedores. Ficamos 75 dias parados porque os fornecedores não sabiam se íamos conseguir aditar os contratos que tínhamos nas mãos. Com o acórdão do TCU ratificando a licitação, chamei os fornecedores e falei: “gente, vamos trabalhar a quatro mãos para conseguir azeitar a máquina”. Quero trazê-los para dentro da Telebrás, para que com isso, mais para a frente, consigamos uma densidade maior, tentar aumentar o nível de investimento, que hoje é baixo. Durante esse período em que a gente aguardou a decisão do TCU, fizemos a negociação com as elétricas, para compartilhar infraestrutura em vez de construir do zero. A questão do investimento, pelo menos no backbone, conseguimos atenuar, ganhar tempo e diminuir o nível de investimento que tínhamos calculado inicialmente. Não tem a conta, mas foi significativo. Convertemos um revés de tempo em uma economia. Vamos atender toda aquela região do Norte e do Sul e não vamos construir infraestrutura. O que nos interessa é operar a rede na camada de IP. Não nos interessa operar uma infraestrutura. Até porque a gente não tem tanta gente assim para operar.

Não podemos ferir o interesse público nem o interesse dos sócios minoritários. Às vezes ficamos em cima de uma lâmina.” porque o mais importante é como integramos as operações. Quem vai operacionalizar o que, qual nível de SLA... Falou-se na possibilidade de criação de uma empresa em conjunto para operacionalizar isso. É uma possibilidade. Hoje, o que estamos discutindo são acordos operacionais de compartilhamento. No futuro poderia evoluir para isso se for do interesse das empresas e do governo, em geral. Vamos apresentar várias alternativas para os dois ministros (Minas e Energia e Comunicações), para serem levadas à Presidência, e será tomada a decisão. Seria uma empresa conjunta com os ativos da Telebrás e da Eletrobrás. Seria uma empresa talvez gerenciada em nível de telecomunicações e serviços pela Telebrás, mas com a participação de todas. Não podemos esquecer que as empresas do setor elétrico têm um grande expertise em telecomunicações também, têm suas redes privadas de telecomunicações e os profissionais que têm são extremamente competentes. Eu conheço bem porque trabalhei ali muito tempo. Agora, com as smartgrids, vai ser ainda maior o envolvimento delas set_2011 Teletime 17

Hoje, o que existe de rede efetivamente da Telebrás? O que vamos implantar este ano, que será rede nossa, é Brasília, Campinas, a ligação São Paulo-Rio de Janeiro e Brasília-Imperatriz-For­ta­le­ za e, talvez, se der, até Natal. Estamos conversando com a Chesf para trabalhar com eles em conjunto e, de novo, evitar a construção, ganhar tempo e reduzir investimento em backbone.


É necessário fazer a ligação RJ-SP? Essa ligação RJ-SP teremos de fazer porque não temos nenhum parceiro que tenha fibra óptica acesa nesse trecho, para que possamos colocar a parte óptica em DWDM em cima. Como não temos fibra acesa e disponível e esse trecho é crítico para o nosso anel, teremos de fazer pelo menos um trecho e depois fazer a redundância com o que já existe. O contingenciamento de verbas não afetou vocês? Até agora a Telebrás não teve nenhum problema. Nós temos que gastar e temos ainda muito gás. A questão é que não estou querendo gastar de forma ineficiente. Quero gastar de forma eficiente, até porque o dinheiro é de quem paga os impostos. Eu sinceramente ainda não senti nenhum problema e espero que para o ano que vem, mesmo com valor menor que esse R$ 1 bilhão que a presidenta anunciou, até por conta da maneira que estamos trabalhando, consigamos atingir nossos objetivos. O cálculo inicial que você tinha era de R$ 1,7 bilhão por ano? Para 2012, o cálculo geral que tínhamos feito para todos os projetos, contando que a gente ia construir tudo, era de R$ 2,7 bilhões, para fazer tudo em casa, tudo sozinho. Agora, a gente vai fazer muito mais coisa, em muito menos tempo e com menos dinheiro. Então esse valor já não é real para as nossas necessidades. R$ 1 bilhão viria muito bem para o ano que vem. Estamos azeitando a máquina. A Telebrás agora é um PMO, um escritório gerenciador de projetos; e, ao mesmo tempo, estamos fazendo uma start-up operacional. Que é outro foco e outra dificuldade. Por falar em projetos, o ministro Paulo Bernardo falou em uma quantia de R$ 10 bilhões a ser investida até 2015 numa rede pública de telecom, em que estavam incluídos dois projetos de cabos submarinos e um satélite geoestacionário... Já fizemos os estudos iniciais. Estamos agora trabalhando num modelo jurídico. Estamos contatando parceiros públicos e privados e, provavelmen-

foto: marcelo kahn

.:entrevista

O Brasil tem uma grande expertise na área aeroespacial. Queremos aproveitar esse primeiro satélite para absorver tecnologia.” te, são projetos que no futuro serão estanques do PNBL. São de natureza diferente do backbone terrestre, mas serão integrados ao PNBL, uma vez que vamos precisar de satélite para dar cobertura a regiões que nossa rede não atinge. E tanto satélites quanto cabos submarinos são questões estratégicas para o País, é importante alcançar essa independência. Mas também tem o lado econômico. Hoje compramos a um valor “x” o megabit IP de cabo submarino em Fortaleza, no Rio e em São Paulo, quando poderíamos comprar em Miami, por um valor cinco vezes menor se tivéssemos o cabo submarino ligando o Brasil aos EUA. São dois cabos? É um cabo, que ligará Fortaleza a Miami e à Europa e provavelmente será uma parceria público-privada (PPP). Esse projeto de satélite brasileiro já é antigo, e estava estimado em R$ 800 milhões em 1997. Por que você acha que agora sai do papel? Vontade política sempre existiu. Eu cometeria uma injustiça se dissesse que não. Talvez o que não houvesse era o veículo de telecomunicações para fazer 18 Teletime set_2011

com que o projeto vingue, que é a Telebrás. É um satélite que tem uma parte estratégica, sensível, que é a militar, mas também tem a questão da comunicação, para o atendimento do governo. O Brasil tem uma grande expertise na área aeroespacial. O projeto está ligado à Agência Espacial Brasileira, ao complexo da Embraer, todos esses órgãos de governo. Nós fizemos um cronograma e agora submetemos ao grupo de trabalho. Uma coisa é o lançamento do satélite em si e a operação do satélite. Mas tem outra coisa que considero tão importante quanto, que é a questão tecnológica. Queremos aproveitar esse primeiro satélite para absorver tecnologia. E aí temos de fazer um processo muito bem feito para que os próximos satélites, os outros dois - em principio serão três - já tenham cada vez mais um conteúdo tecnológico nacional, dentro também da questão estratégica para o País. Passar tecnologia de ponta para empresas brasileiras e aí absorver. Quando devemos ter o modelo formatado? Espero que até o fim do ano tenhamos os dois modelos. O do cabo está mais avançado porque é mais simples. O do satélite é mais complicado porque para o governo é uma questão de defesa. Provavelmente o satélite será puramente estatal, até por questões estratégicas, mas no cabo a gente pode fazer uma PPP. Até o próprio ministro Paulo Bernardo está nos incentivando a fazer isso. Com relação à portaria das Cidades Digitais, qual será a participação da Telebrás? As Cidades Digitais, em geral, são para atender cidades menores. O que o ministério quer que apoiemos é uma certa padronização dos projetos. A Telebrás vai atuar como um supervisor de projeto, para ver como as coisas estão andando. Na feira da ABTA, em agosto, a Telebrás foi muito procurada pelos pequenos operadores de TV por assinatura. Quais são os planos para essas pequenas operadoras de TV? Dá para usar a rede delas para ampliar a capilaridade da Telebrás? Como regra, não. Mas como exceção, sim. Aqueles que estão em estágios mais avançados, com eles a gente pode fazer


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uma parceria e, eventualmente, compartilhar. Porque eles sempre estão dispostos a compartilhar infraestrutura. Desde que a rede seja neutra e possamos prover serviços a outros operadores. Isso é fundamental. Especificamente para os pequenos provedores, desenvolvemos a rede preparada para o triple play, de forma que possa atendê-los. Estamos entendendo que o interesse deles não é só TV, é triple play. Embora a gente não vá atender com os três serviços, estamos preparados para suportá-los. Por serem pequenos, muitas vezes a compra de programação é uma dificuldade desses operadores de TV paga. É possível fazer um cluster, colocar um headend na rede da Telebrás e usá-la para fazer a distribuição da programação? Sem dúvida, tranquilamente. Essa ideia a gente já levantou em várias discussões. Porque há operadoras de médio porte com operações espalhadas no Brasil todo. Numa discussão com uma delas, chegou-se até a cogitar que, com a abrangência da nossa rede, poderia-se inclusive colocar o headend com a programação em São Paulo, onde não têm operação, e usar a rede da Telebrás para levar a programação para todo o Brasil. Seria uma troca, eles ganhariam a interligação das cidades e nós poderíamos usar a rede deles para atender ao PNBL. Como vocês estão trabalhando a capacidade da rede? O que é necessário para uma empresa ser parceira da Telebrás? Estou colocando 1 Gbps de rádio em cada backhaul trabalhando com 200 Mbps, que é o mínimo, mas já poderíamos começar com 1 Gbps. Isso é um conteúdo que poucas cidades de 100 mil habitantes para baixo consomem. Ainda assim, é necessário ter toda essa capacidade porque esperamos um crescimento muito grande. Para ser parceiro da Telebrás é preciso que o provedor tenha licença de SCM e esteja em dia com o governo. Como dimensionar a capacidade? Vemos os clientes potenciais do parceiro, para analisar se vale a pena colocar infraestrutura ali. Embora haja a questão social, também temos

foto: marcelo kahn

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Eu sempre digo que nós não somos xenófobos de capital, somos xenófobos de tecnologia.” que balancear o peso econômico. Hoje estamos trabalhando com dois pesos. Mas cidades que têm potencial econômico, em geral, são aquelas em que o provedor é pequeno e só tem grandes operadoras. É possível colocar alguma meta de curto prazo para a Telebrás? Para este ano, a nossa expectativa é cumprir o que estamos nos propondo, que é cobrir direta ou indiretamente pelo menos 150 cidades. E quando digo indiretamente é, ao invés de levarmos infraestrutura para a cidade, o provedor vem até nós, levando-a a até mais de uma cidade. E para os próximos anos temos um desafio muito grande que é, além de aumentar a cobertura do PNBL, também começar a desenvolver os novos projetos, que são a Copa do Mundo, o satélite brasileiro e o cabo submarino. Mas para isso teremos que trabalhar, uma vez que temos limitação de recursos humanos e de orçamento, com inteligência. Com capital humano e capital financeiro de parceiros. Essa é a orientação que temos recebido do ministro Paulo Bernardo e da presidenta e estamos trabalhando dentro desse parâmetro. 20 Teletime set_2011

Qual a sua análise dos efeitos da antiga MP 495, privilegiando as compras de produtos desenvolvidos e produzidos no Brasil pelo governo? Essa é uma das coisas mais gratificantes. A questão tecnológica para nós é questão de Estado. O Brasil, na década de 80, tinha tecnologia de telecomunicações de ponta, mas infelizmente perdeu o bonde quando chegou a revolução do IP, coincidindo com a privatização. Não criamos mecanismos para preservar e evoluir a tecnologia nacional. Eu sempre digo que nós não somos xenófobos de capital, somos xenófobos de tecnologia. Se você não tem tecnologia nacional você pode até competir, mas só comprarei das estrangeiras se o preço for muito, mas muito inferior. E agora que a lei foi regulamentada, é 25%, e ainda assim a gente não vai usar isso. Prefiro ficar nos 9%, 10%, que é a regra do TCU. O que temos visto é que a Ericsson está voltando a produzir tecnologia de rádio no Brasil, que havia tirado daqui. Em uma conversa com a Qualcomm avisei que, se querem alguma coisa com a Telebrás, precisam trazer para cá um projeto, e parece que vão trazer. A Telebrás, nos anos 80, tinha uma representatividade muito boa na UIT e a gente quer retomar isso. É lá que se decide o futuro das telecomunicações, onde se faz a padronização. Então a grande arena do futuro da LTE, o futuro das comunicações ópticas é lá, e a gente perdeu isso. O Brasil tem profissionais muito competentes, o que falta é juntá-los. Queremos ser o agregador dessas competências que hoje estão no CPqD, no C.E.S.A.R., Eldorado, na Anatel, nos fornecedores. Da mesma forma que a Telebrás quer unir as redes dispersas, queremos também agregar essas competências . Quais os principais desafios daqui para a frente? A questão é gerencial. E gerenciar também as expectativas, que são grandes. São grandes por parte da população, do mercado, do governo. Tivemos um pecado no gerenciamento de expectativas. Não conseguimos dimensionar o tamanho do desafio que é implementar uma operadora do tamanho da Telebrás. Agora estamos começando a entender melhor o tamanho desse desafio.


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Fernando Paiva, do Rio de Janeiro fernando.paiva@convergecom.com.br

O smartphone de amanhã

cinema ou da TV, nos dispositivos móveis o usuário não precisa vestir óculos especiais. Foi adotado um princípio conhecido como autoestereoscopia, a partir de uma técnica batizada em inglês como “parallax barrier”. Na prática funciona da seguinte forma: a tela emite duas imagens paralelas, quase idênticas, e o próprio cérebro se encarrega de juntá-las, criando a impressão de profundidade. A experiência em 3D requer que o usuário posicione seus olhos a uma determinada distância da tela, que varia de pessoa para pessoa. Há consumidores que reclamam de dor de cabeça ao usar os terminais 3D. Talvez prevendo esse desconforto, o HTC Evo 3D oferece uma chave lateral para que o cliente troque com facilidade entre 2D e 3D. Outro ponto negativo é que essas primeiras telas em três dimensões não reproduzem imagens com a mesma nitidez e brilho das

“O rosto será nosso cartão de visitas.” Adriano Santangeli, do Maya Labs 22 Teletime set_2011

demais. Entretanto, pesquisas estão sendo desenvolvidas para minimizar esse problema. Empresas como a japonesa Hitachi e a norte-americana Master Image anunciaram a elaboração de tecnologias para uma nova geração de displays 3D para dispositivos móveis, que causaria menos dor de cabeça e melhoraria a qualidade da imagem. Outra crítica é a falta de conteúdo em 3D para ser consumido. É uma questão de tempo para que esse obstáculo seja superado. Vale lembrar que até o YouTube já oferece um canal para vídeos em três dimensões. Além disso, os três modelos lançados até agora possuem uma dupla de câmeras traseiras para que o próprio usuário grave seu conteúdo em 3D. Os vídeos podem ser reproduzidos na tela do smartphone ou em TVs 3D (neste caso, os óculos são requeridos), através de uma conexão HDMI. O fato de alguns grandes fabricantes mundiais não terem aderido às telas 3D, como Nokia, Samsung e Apple, pode ser um indício de que a tecnologia ainda não esteja madura do ponto de vista de usabilidade e de custo. Ou então esses concorrentes estão um passo atrás no desenvolvimento dessa funcionalidade. Isso não significa que não adotarão telas 3D no futuro. A Samsung Ventures, braço de venture capital da gigante sul-coreana, investiu US$ 15 milhões na Master Image, empresa norte-americana que, entre outras coisas, detém uma nova tecnologia para telas em 3D para dispositivos móveis. No que diz respeito aos displays, Samsung e Apple vêm preferindo apostar suas fichas na melhoria da resolução e do brilho das imagens. Criaram até nomes de marketing para as tecnologias usadas em suas telas, respectivamente o Super Amoled Plus e o Retina Display. “O tamanho do display está crescendo. Três ou quatro anos atrás, as pessoFOTOS: divulgação

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smartphone que chegará ao mercado nos próximos anos está sendo planejado hoje. Alguns modelos já indicam caminhos a serem trilhados, como a incorporação de leitores biométricos, câmeras estereoscópicas para gravação de vídeos em terceira dimensão (3D), carregamento sem fio e telas capazes de reproduzir imagens tridimensionais sem a necessidade de óculos especiais. Paralelamente, cientistas ao redor do mundo trabalham em laboratórios de fabricantes e de start-ups no desenvolvimento de outras tecnologias, como a transmissão de energia sem fio a metros de distância de uma tomada ou displays de LCD capazes de reaproveitar a energia da própria luz que emitem. Os desenvolvedores sonham em mesclar as novidades, como reconhecimento facial com imagens em 3D, ou juntar pagamentos móveis via Near Field Commu­ nication (NFC) com leitores de digitais. As possibilidades são infinitas, mas para que uma tecnologia se popularize é necessário que esteja madura, tanto do ponto de vista econômico quanto de usabilidade. A pressa, também nesses casos, pode ser inimiga da perfeição. A reprodução de imagens 3D é a novidade que mais chama a atenção em smartphones este ano. Sua incorporação em dispositivos móveis era apenas uma questão de tempo diante do sucesso do cinema em três dimensões e da promoção de TVs com essa funcionalidade. Os três primeiros fabricantes que decidiram incorporar o 3D em smart­ phones foram a LG, a HTC e a Sharp, com os modelos LG Optimus, HTC Evo 3D e Sharp Acquos, todos lançados ao longo de 2011. Por enquanto, o único com previsão de chegada ao Brasil é o modelo da LG. “Vemos a tela como vemos a vida. A experiência multimídia em 3D é incrível. Estamos anos-luz à frente do mercado”, afirma Rodrigo Ayres, gerente de estratégia de negócios da área de celular da LG no Brasil. Ao contrário da experiência 3D do

Štepán Kápl/shutterstock

Telas 3D e identificação biométrica estão entre as novidades deste ano; cientistas trabalham em tecnologias como recarga sem fio e displays que se alimentam da própria luz.


as achariam grande um celular com tela de 4,3 polegadas, pois não caberia no bolso. Hoje isso é possível porque conseguimos tirar a moldura em volta e reduzir a espessura, o que diminuiu o peso. É uma mudança grande”, diz o diretor de produtos de telecom da Samsung no Brasil, Roberto Soboll. Biometria Outra novidade que chamou a atenção da indústria móvel em 2011 foi a inclusão de um leitor de digitais no aparelho Motorola Atrix, smartphone top de linha da fabricante norte-americana recentemente adquirida pela Google. O sensor é fabricado pela Authentec e está presente também em dois aparelhos da Fujitsu, comercializados pela NTT DoCoMo no Japão. Segundo o fornecedor, ele suporta o desgaste de mais de 10 milhões de identificações e é à prova de arranhões. Posicionado no alto da parte traseira do terminal, o leitor é usado como uma ferramenta de controle de acesso ao telefone. Em vez de digitar uma senha, seu dono pode desbloquear o aparelho com sua impressão digital. Para a maioria dos especialistas ouvidos por TELETIME, o leitor de digitais é um recurso de nicho, que pode interessar ao mercado corporativo, mais sensível a questões de segurança, mas não ao usuário final. Ademais, a tecnologia requer aperfeiçoamentos. É comum o sensor não reconhecer a digital do dono quando o dedo está suado ou sujo. Também podem acontecer erros de identificação dependendo da maneira como o usuário passe o dedo no leitor.

“As ideias mais inovadoras em tecnologia surgem da observação do comportamento humano.” Jackson Feijó, do INdT Há alternativas para identificação biométrica que não requerem a incorporação de novos componentes de hardware aos smartphones. É o caso do reconhecimento facial. Há inúmeras expe­riên­cias em andamento ao redor do mundo envolvendo essa tecnologia em dispositivos móveis para finalidades diversas, de segurança a entretenimento e redes sociais. Um dos primeiros aplicativos do gênero disponíveis comercialmente é o Facelock, criado pelo Instituto Nokia de Tecnologia (INdT), em Manaus, para desbloqueio de aparelhos Symbian^3. O usuário tira uma foto do seu rosto com a câmera frontal do telefone, posicionando a face sobre um molde que aparece na tela. Depois, para desbloquear o aparelho, é preciso casar a imagem gravada com aquela captada pela câmera. Variações de luz, de ângulo e de adereços (chapéus, óculos etc) atrapalham a identificação. O Facelock, contudo, não é exatamente um reconhecedor de faces. O que ele faz é comparar as duas imagens, sejam elas de um rosto ou não. Na prática, é uma solução mais simples do que reconhecimento facial “de verdade”. O Maya Labs, outro desenvolvedor brasileiro, está trabalhando em uma alternativa mais avançada, neste caso para iPhone, também para fins de desbloqueio do terminal. Sua solução conse-

gue distinguir o que é um rosto humano usando um arquivo matriz em XML gerado a partir da compilação de dados de milhares de faces diferentes. O aplicativo é capaz de identificar três elementos básicos do rosto: olhos, nariz e boca. Com base nos ângulos e na distância entre essas partes do corpo, o software cruza a imagem captada pela câmera frontal com outras seis fotos tiradas antes pelo usuário, de preferência em ambientes e ângulos diferentes. O rigor da verificação para desbloqueio é definido pelo dono do aparelho, que estabelece uma gradação em uma escala de zero a um, onde zero é um rosto sem qualquer semelhança com o dele e um é seu rosto idêntico. Uma questão que precisa ser aprimorada em softwares de reconhecimento facial é que o sistema pode ser burlado com o uso de uma foto impressa. No campo do entretenimento, há grande expectativa quanto ao uso de reconhecimento facial em redes sociais. Uma empresa chamada Viewdle está desenvolvendo uma solução para dispositivos móveis que permitirá reconhecer em tempo real uma pessoa na rua, usando a câmera do smartphone, e receber então o link para sua página no Facebook,

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por exemplo. “A face será nosso cartão de visitas”, resume Adriano Santangeli, diretor do Maya Labs. Neste caso, o processamento não acontece dentro do aparelho, mas em servidores externos. Portanto, uma boa experiência depende de uma rede de transmissão de dados de alta velocidade e preparada para aplicações em nuvem. Existe também o reconhecimento de voz, que compara timbres e outras particularidades na fala de uma pessoa. É diferente dos sistemas de comando de voz presentes em aparelhos Android ou iPhone, que procuram entender o que é

dito independentemente de quem fala. No reconhecimento de voz o objetivo é identificar quem é o dono daquela voz. Isso pode servir para fins de segurança. O usuário precisa gravar algumas palavras para servirem de base de comparação. O software registra seu timbre e a maneira como pronuncia aquelas palavras, para checagem posterior. O Maya Labs está desenvolvendo um aplicativo com essa tecnologia que deve ficar pronto até o fim do ano. Nele, o usuário é convidado a falar uma frase. Depois, ela serve de senha para desbloquear o aparelho. Se outra pessoa diz a mesma frase, o terminal não é desbloqueado, porque precisa ser exatamente a mesma voz. Uma vantagem do reconhecimento de voz sobre o reconhecimento facial para fins de segurança é que o software dificilmente é enganado por uma gravação da voz do dono, pois a reprodução digital costuma conter algumas variações de timbre, dependendo da qualidade da caixa de som. Fala-se muito em reconhecimento de íris, mas há alguns obstáculos para que ela seja aplicada em dis-

positivos móveis, a começar pela dificuldade de usabilidade, em razão da curta distância necessária entre a câmera e a pessoa. Outro problema é a baixa resolução das câmeras frontais, que não seria suficiente para captar os detalhes da íris. Energia sem fio A maior dor de cabeça dos fabricantes de smartphones e de seus usuários é a duração da bateria. “A eletrônica avança, mas esbarramos no problema da bateria. Clock mais alto, display maior: tudo isso consome mais energia. A bateria de íon de lítio está meio esgotada. Precisamos de inovação em química e física nessa área”, comenta o gerente de desenvolvimento de terminais da Vivo, Átila Xavier. Cientistas da Universidade da Califórnia, nos EUA, apresentaram este ano um projeto de tela de cristal líquido para dispositivos móveis que reaproveita como energia a luz ambiente, a luz solar e a própria luz emitida pelo display, usando polarizadores fotovoltaicos orgânicos. A novidade, contudo, ainda está em laboratório e vai demorar alguns anos para se tornar disponí-

Aparelhos mais inteligentes Tecnologia

Exemplos de produtos com a tecnologia

Descrição

Pontos a serem aperfeiçoados

Leitor de impressão digital

Sensor atua como scanner da digital do dono do smartphone para desbloqueio do aparelho

Dificuldade de identificação quando dedo está Motorola Atrix e dois sujo ou suado. Também pode errar modelos da Fujitsu vendidos dependendo da velocidade com que usuário no Japão pela NTT DoCoMo passa o dedo no sensor

Gravação e reprodução em 3D sem óculos

Smartphones vêm com dupla de câmeras traseiras para gravar em 3D. Reprodução utiliza o princípio da autoestereoscopia com a técnica de “parallax barrier”, que dispensa os óculos

HTC Evo 3D, LG Optimus e Sharp Aquos

Brilho e nitidez da tela aquém dos concorrentes; alguns consumidores se queixam de dor de cabeça; pouco conteúdo profissional em 3D para ser consumido

Reconhecimento facial

Compara a imagem de uma ou mais fotos do rosto de uma pessoa com aquela captada em tempo real pela câmera do aparelho

Teoricamente pode funcionar em qualquer smartphone. Depende mais do software do que do hardware

Software pode ser enganado pelo uso de fotos impressas de rostos

Idem

Se a pessoa estiver gripada ou rouca, o que altera sua voz, software pode não reconhecê-la

Reconhecimento de voz

Recarga sem fio

Recarga por luz

Compara frase dita pela pessoa com gravações anteriores. Verifica timbre e distância entre fonemas Há duas técnicas: por indução (veste-se o terminal com uma capa especial e o posiciona de costas sobre uma superfície condutora conectada à tomada) ou por ondas de rádio (transmissor conectado à tomada emite ondas para receptores que estão dentro ou acoplados ao produto a ser recarregado) Polarizadores fotovoltaicos orgânicos presentes em uma tela de cristal líquido captam a luz ambiente, a luz solar e a própria luz emitida pela tela e as transforma em energia

A técnica de indução requer a compra de Superfície condutora e capas acessórios, como capas especiais. A técnica por com pontos de contato; ondas de rádio exige a proximidade entre receptores e transmissores transmissor e receptor, o que limita os da Witricity benefícios de se aposentar os fios

Ainda em laboratório na Universidade da Califórnia

26 Teletime set_2011

É preciso averiguar a viabilidade comercial da tecnologia


Flávio Mansi, da Qualcomm vel comercialmente. Enquanto não aparece uma solução inovadora para a bateria de smartphones, um paliativo para minimizar o desconforto de conectar os aparelhos toda noite na tomada pode estar no uso de tecnologias de recarga sem fio, hoje disponível como acessório no varejo, mas com o inconveniente de aumentar o volume do aparelho (é necessária uma capa externa) e a placa de indução ser grande e pesada. Circulam rumores que a Apple estaria estudando a incorporação dessa tecnologia em uma geração futura de iPhones. A Motorola, por sua vez, já lançou a tecnologia no Milestone 3. Existem diferentes técnicas de transmitir eletricidade sem fio. As mais apropriadas para a recarga de pequenos produtos eletroeletrônicos são a recarga por indução e a recarga por ondas de rádio. A primeira requer o uso de uma fina superfície condutora que precisa estar conectada à tomada. Os aparelhos, por sua vez, são revestidos com uma capa especial, parecida com essas comumente usadas para protegê-los de choques e arranhões, dotada de pontos de contato. Repousando o smartphone de costas sobre a superfície condutora, é criada uma corrente elétrica e gerado um pequeno campo eletromagnético, captado pelos pontos de contato, que proporciona a recarga de energia. O processo leva praticamente o mesmo tempo do que se fosse feito com fio. A vantagem é poder recarregar mais de um aparelho ao mesmo tempo sobre a superfície e não ter que conectar e desconectar recarregadores diariamente. Uma empresa chamada Pure Energy Solutions comercializa a solução adaptada para terminais Motorola, Blackberry e iPhone. As capas custam US$ 35 cada e a superfície condutora, US$ 50. No que diz respeito à recarga sem fio, todavia, as maiores apostas estão no método de transmissão por ondas de rádio. Um transmissor é instalado em uma tomada e pequenos receptores precisam estar dentro ou acoplados aos

aparelhos a serem recarregados, sintonizados na mesma frequência para que a energia seja captada. As soluções comerciais disponíveis hoje em dia limitam a poucos centímetros a distância entre transmissor e receptores. Mas há novidades a caminho. A Witricity, uma empresa criada por pesquisadores do MIT, nos EUA, desenvolveu uma técnica batizada de acoplamento magnético ressonante, com a qual conseguiu acender uma lâmpada de 60 W com um transmissor sem fio a dois metros de distância. Sua ideia é instalar esses transmissores no teto das residências e embarcar receptores nos

o leitor de digitais é um recurso de nicho, que pode interessar ao mercado corporativo, mais sensível a questões de segurança. eletrodomésticos e lâmpadas espalhadas pela casa, assim como em smartphones e outros dispositivos móveis, que seriam carregados automaticamente sempre que entrassem na zona de alcance do transmissor. Outra empresa que pesquisa tecnologias de recarga sem fio é a Qualcomm. Ela apresentou este ano sua solução batizada de WiPower, que usa uma técnica patenteada pela companhia chamada acoplamento flexível, através da qual se consegue transmitir energia por superfícies com até 65 mm de espessura. A ideia da Qualcomm é que os componentes de recepção venham embarcados nos aparelhos eletrônicos, para que o cliente não precise se preocupar com adaptadores. Seus chipsets para smartphones e tablets no futuro serão compatíveis com essa tecnologia. “Quando a recarga sem fio através de acoplamento flexível for integrada a automóveis e ao mobiliário, proporcionando uma experiência de recarga ubíqua, o consumidor poderá set_2011 Teletime 27

usar seus aparelhos ao longo do dia sem se preocupar com a bateria”, prevê Flávio Mansi, presidente da Qualcomm para América Latina. O maior desafio para a Qualcomm na promoção da WiPower talvez seja comercial: terá que convencer o mercado de que a sua solução merece ser o padrão. Existe hoje o Consórcio de Energia Sem Fio (WPC, na sigla em inglês), cuja finalidade é justamente definir padrões para a tecnologia de recarga sem fio. A entidade conta com 93 associados, dentre os quais estão algumas grandes empresas do setor de telecom, como Nokia, Motorola Mobility, Samsung, LG, HTC e France Telecom. A Qualcomm anunciou até o momento parcerias com a Duracell e com a Powermatt para uso da WiPower. FOTO: divulgação

“Quando a recarga sem fio através de acoplamento flexível for integrada a automóveis e ao mobiliário, o consumidor poderá usar seus aparelhos ao longo do dia sem se preocupar com a bateria.”

Desenvolvedores De olho nessas novas tecnologias, os desenvolvedores de softwares sonham com as possibilidades que serão abertas. Santangeli, do Maya, sugere mesclar vídeo em 3D com reconhecimento facial, o que acabaria com o risco de fraude por uso de fotos impressas. Outra combinação interessante seria a do leitor de digital com aplicações de pagamento com Near Field Communications (NFC). Isso daria mais segurança às transações com cartão de crédito via NFC no celular, por exemplo. Um teste com esse propósito está em andamento nos EUA com o Motorola Atrix patrocinado pela NXP, pela Authentec e pela DeviceFidelity. Alguns desenvolvedores, entretanto, não se deslumbram pelas promessas futurísticas. Carlos Camolesi, diretor do Pinuts Studios, ressalta que é preciso haver padronização das novas tecnologias. E Gustavo Ziller, diretor da Aorta, pondera sobre o tempo necessário para que as novidades se massifiquem: “a tecnologia sempre vai andar mais rápido que a capacidade de adaptação do ser humano”. O conselho final para os cientistas vem de Jacskon Feijó, pesquisador do INdT: “as ideias mais inovadoras em tecnologia surgem da observação do comportamento humano. É preciso entender de sociologia, de antropologia, conhecer o dia a dia das pessoas.” Em suma: não basta ficar trancado no laboratório. 


.:tv por assinatura

Fernando Lauterjung e Letícia Cordeiro

fernando@convergecom.com.br e leticia@convergecom.com.br

O novo modelo

N

o segundo trimestre deste ano, as seis maiores operadoras de TV por assinatura dos Estados Unidos perderam aproximadamente 580 mil assinantes. Enquanto isso, as incumbents ganharam cerca de 380 mil assinantes dos serviços de TV, conquistando market share. Os 200 mil que não migraram entre concorrentes são a causa do maior pesadelo do setor de TV por assinatura, os chamados “cord cutters”. São assinantes que desistiram do serviço de TV paga, aderindo a formas mais flexíveis de compra de conteúdo, como os serviços online Netflix, Apple TV ou Hulu, que só dependem da banda larga. O número de cutters é ainda maior, se levarmos em conta que grande parte da população jovem sequer entra na base de assinantes ao montar seu primeiro apartamento. O fenômeno não chegou ao Brasil. Ao contrário, a base da TV por assinatura tem crescido em proporções nunca previstas e bate recordes a cada trimestre, puxada, sobretudo, pelo crescimento da TV via satélite (DTH), que já representa mais da metade da base de assinantes do Brasil. Mesmo assim, o setor começa a se movimentar para se preparar para a chegada e a eventual popularização dos serviços over-the-top (OTT), porque a tendência, segundo todos os especialistas ouvidos, é inevitável mesmo por aqui. O tema dominou os debates durante o Congresso e Feira ABTA 2011, o principal evento de TV por assinatura da América Latina, que aconteceu em agosto em São Paulo. Não há dúvidas que a massificação do acesso à Internet e a chegada de serviços OTT e do modelo de TV everywhere estão mudando o mercado de distribuição de conteúdos. O modelo de TV everywhere, ressalte-se, já é uma resposta das operadoras de cabo à ameaça online: trata-se da oferta de conteúdos pela Internet àquelas pessoas que assinam os canais em

Sashkin/shutterstock

Pressão dos provedores over-the-top de distribuição de vídeo online leva operadoras a buscar novos serviços e modelos para satisfazer seus assinantes e mantê-los em suas bases.

modelos tradicionais. Operadores e programadores parecem não querer esperar a popularização destes serviços e pagar para ver o que acontece, temendo sofrer no mercado de vídeo a mesma coisa que a indústria fonográfica sentiu há alguns anos, quando as plataformas de consumo e distribuição de conteúdos digitais, aliados à pirataria, mataram o modelo de venda de CDs. Todos, de alguma maneira se movimentam no sentido de oferecer cada vez mais conteúdos sob demanda em múltiplas plataformas para acompanhar a mudança de hábito desses consumidores conectados. Mas o caminho não é simples: mexe com modelos muito bem consolidados de relacionamento entre programadores e operadores e, principalmente, não apresenta uma sustentabilidade econômica existente nos modelos tradicionais. Segundo o diretor da empresa de consultoria Farncombe, Barry Flynn, em relação ao mercado norte-americano especificamente, embora tenha havido redução da base de assinantes de cabo, ainda não se pode afirmar que o fenômeno dos cable cutters é efetivo e que exista uma substituição do serviço de TV por assinatura tradicional por serviços OTT. “Ainda é cedo para afirmar que estão cortando o serviço de cabo por conta do 28 Teletime set_2011

OTT e que isso não seja apenas um reflexo da recessão econômica pela que o país está passando”, enfatiza. Em junho, durante o congresso da NCTA, realizado em Chicago, os maiores operadores de TV a cabo dos EUA diziam a mesma coisa. Flynn destaca que embora o consumo de vídeos online esteja crescendo a taxas altíssimas, a maior parte é ainda composta por conteúdos gerados pelo usuário (UGC, na sigla em inglês). No Reino Unido, por exemplo, essa proporção é de 70%. “Temos cenários diferentes na Europa e nos Estados Unidos. Na Europa, o que vemos é pouca opção de conteúdos premium no modelo OTT e praticamente ninguém paga para ter o serviço, que funciona principalmente no modelo baseado em publicidade. Já nos Estados Unidos, que tem uma alta penetração de TV a cabo, o usuário está acostumado a pagar pelo conteúdo e por isso vemos sucesso no modelo da Netflix”, compara Flynn. Pesa ainda a flexibilidade dos produtores de abrirem seus conteúdos para distribuição online nos EUA, o que não acontece no resto do mundo por medo de pirataria. Definitivamente, não é o conteúdo gerado por usuários que abalará o negócio da TV por assinatura. O executivo da Farncombe destaca que o “killer application” para a televisão é... mais televisão. “A BBC lançou no Reino Unido em novembro de 2010 o seu player de streaming online de conteúdo e os resultados mostram cerca de três vezes mais espectadores assistindo à programação no serviço catch-up, disponível no VOD da Virgin (operadora de TV paga), do que no computador”, conta. Para o head of global media and entertainment da PriceWaterhouse Coopers, Marcel Fenez, o que fará com que usuários paguem pelo conteúdo são atributos de conveniência, experiência e qualidade, que podem garantir um modelo de negócios sustentável, rentável e engajado com o consumidor. “Os OTTs ainda não estão tendo grande impacto na


FOTOS: marcelo kahn

receita das operadoras tradicionais, principalmente por conta dos eventos ao vivo, que mantêm a maior parte dos consumidores”, avalia. Flynn concorda. Segundo ele, a qualidade e a experiência de assistir conteúdos na TV devem garantir vida longa ao negócio de TV paga tradicional. “As operadoras de TV por assinatura, canais e programadores em todo o mundo estão trabalhando para oferecer seus conteúdos onde o assinante desejar, no modelo de TV everywhere, investindo cada vez mais em transmissões de eventos ao vivo e evoluindo tecnologicamente da alta definição para o 3D como diferencial para manter e crescer sua base de assinantes”. Brasil “A única coisa que não podemos fazer em relação ao Netflix é subestimá-lo”, disse o diretor geral da Globosat, Alberto Pecegueiro. Ele lembrou que o modelo de negócios do serviço norte-americano ainda está em formação e que recentemente a empresa desatrelou a assinatura do serviço virtual daquela do serviço físico (de distribuição de DVDs, causando danos de imagem a uma marca muito bem conceituada). O serviço deve chegar ao Brasil no próximo mês e tem como público potencial os assinantes de banda larga, que são, em sua maioria, assinantes também do serviço de TV. Antônio João Filho, diretor executivo da Via Embratel, destacou que o serviço não deve chegar ao País com o mesmo potencial americano, uma vez que a penetração da banda larga em diversos municípios é inexistente ou irrelevante. A solução, aponta José Felix, presidente da Net, é fazer parcerias com programadores para criar a oferta de novos serviços. “Podemos blindar o setor”, diz. Para Fernando Medin, VP sênior e diretor geral da Discovery Brasil, qualquer que seja a transformação no setor, a figura do programador sempre será fundamental na agregação do conteúdo. “As marcas dos canais de TV sempre terão papel fundamental”. O problema, aponta Medin, é que as programadoras terão de “concorrer com outra plataforma em desigualdade de condições, pois eles não terão as cotas de conteúdo” (criadas pelo recém aprovado PLC 116). Outra dificuldade ao modelo da Netflix no Brasil é o fato de que a quantidade de filmes de terceira e quarta

“Ainda é cedo para afirmar que estão cortando o serviço de cabo por conta do OTT e que isso não seja apenas um reflexo da recessão econômica.” Barry Flynn, da Farncombe janelas na TV paga brasileira é muito maior que nos EUA, e essa é justamente a janela do Netflix. A Net Serviços foi a primeira a lançar um serviço de video-on-demand em grande escala, antes mesmo da chegada da “temida” Netflix ao País. O serviço Now, embora não seja o primeiro VOD brasileiro (a Telefônica/TVA conta com o serviço, mas apenas na sua base de assinantes de fibra óptica), é a mais importante experiência em vídeo sob demanda no Brasil até o momento. “Temos de reconhecer que existem outras plataformas e temos de melhorar a experiência do nosso usuário. Não é mais dinheiro, é mais experiência para o usuário que paga a TV por assinatura”, afirma o diretor de programação da Net Serviços, Fernando Magalhães. O serviço, lançado em abril, somava

melhorar a experiência do assinante de TV, por outro o custo de criação da plataforma é alto. Para garantir uma qualidade superior à dos serviços por IP com distribuição na nuvem, a Net optou por usar streams DVB para a distribuição do seu VOD até a casa do assinante. Na prática, cada stream compreende um canal no line-up da operadora. Para o vice-presidente de vendas para a América Latina da NDS, Nicolas Choquart, a Net está trilhando o caminho certo para se preparar para a concorrência com a Netflix. “Desde que os operadores de TV paga façam a lição de casa, abracem o over-the-top (OTT) como uma oportunidade, oferecendo a seus assinantes serviços de VOD aproveitando sua qualidade de serviço única, e sua maior programação, incluindo eventos ao vivo e sua melhor janela de exibição para VOD premium, não têm de se preocupar: façam seu assinante feliz”, aconselhou o executivo do provedor de soluções de DRM e acesso condicional. Além de concorrência com serviços de OTT, Choquart aponta outro fator para que operadoras de TV por assinatura ofereçam serviços de VOD cada vez sofisticados: o negócio da TV paga ainda está na televisão. Uma pesquisa recente feita nos EUA mostrou que, quando questionados sobre onde preferiam assistir conteúdos de vídeo, 93% dos norte-americanos entrevistados disseram que seu primeiro device era a TV e 43% disseram que o segundo aparelho seria o computador. “Leva um tempo para que os consumidores absorvam novas formas de assistir a conteúdos, e operadores de TV paga precisam aproveitar essa oportunidade para continuar crescendo”, observa. Por outro lado, o hábito do consumidor tende a mudar. Segundo o CTO da Motorola Mobility, Geoff Romàn, embora o tempo gasto em frente à TV esteja aumentando, a pessoas consomem cada vez mais conteúdo online. O tempo médio que um usuário passa consumindo o portal de vídeos premium Hulu, por

Todos se movimentam no sentido de oferecer cada vez mais conteúdos sob demanda em múltiplas plataformas para acompanhar a mudança de hábito desses consumidores conectados. em agosto 1,5 milhão de programas assistidos, sendo mais da metade deles vistos ao longo de julho. “Esse balanço comprova aquilo que já dizíamos no início, que o Now é muito mais do que uma locadora de filmes, é também um novo conceito de TV por assinatura, não-linear, no qual as pessoas podem fazer sua programação e assistir aos programas quando quiserem”, diz José Felix, da Net. Segundo ele, 90% dos streams são de conteúdo oferecido de forma gratuita aos assinantes do serviço de TV da operadora. “O Now não é um serviço criado para ganhar dinheiro, mas para fidelizar o assinante”, disse. O grande desafio da Net é conseguir convencer o programador que o usuário não necessariamente vai pagar mais para ter o conteúdo on demand, mas ele precisa ter aquele conteúdo de maneira fácil, ou vai optar por caminhos alternativos. Se por um lado a meta é apenas set_2011 Teletime 29


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O RIO DE JANEIRO RECEBERÁ, PELO 11º ANO CONSECUTIVO, OS PRINCIPAIS LÍDERES DO GOVERNO E DE TODA A INDÚSTRIA DE SATÉLITES, EMISSORAS DE TV, OPERADORAS DE TELECOM E DE OUTROS SEGMENTOS PARA DEBATER OS PRINCIPAIS TEMAS DO MOMENTO.

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.:tv por assinatura “Os OTTs ainda não estão tendo grande impacto na receita das operadoras, principalmente por conta dos eventos ao vivo, que mantêm a maior parte dos consumidores.” Marcel Fenez, da PwC Netflix conta apenas com títulos de catálogo, oferecidos por assinatura). “Estamos presentes em todas as cidades acima de 500 mil habitantes e ainda em algumas outras com até menos, o que nos dá uma cobertura muito perto de 100% do PIB brasileiro. E isso é uma vantagem, porque a Netflix virá apenas com o modelo de streaming online”, revelou Topel. Em todo o lugar A oferta de vídeo sob demanda dá às operadoras um dos dois diferenciais dos serviço over-the-top. Estes serviço também permite assistir o conteúdo em qualquer lugar e em múltiplos dispositivos. Segundo Romàn, 29% dos consumidores estão muito interessados em assistir conteúdo em qualquer lugar e a qualquer hora, 32% estão relativamente interessados e 39% têm pouco interesse. “O consumidor já vê muita TV e o que operadores de TV por assinatura como Comcast e Verizon estão fazendo é lançar aplicativos para tablets e smartphones que servem de controle remoto, permitindo comandar a TV e programar o DVR, ao mesmo tempo que servem de segunda tela para acesso a conteúdos relacionados à programação da TV”, diz. Além disso, o streaming ao vivo para tablets e mobile devices também está se tornando importante. Para Jeff Shell, presidente da NBC Universal International, divisão internacional da maior empresa de mídia do mundo, o futuro da TV paga está no conceito de TV everywhere. Para o executivo, não se trata apenas de criar um modelo para reduzir o churn. Segundo ele, é possível aumentar o faturamento com a oferta do

“Assim como ligamos um telefone em outro país e prontamente temos acesso ao serviço de voz, deve acontecer o mesmo com o serviço de vídeo.” Bob McIntyre, da Cisco 32 Teletime set_2011

conteúdo em múltiplos dispositivos e em qualquer lugar, através da publicidade. O modelo de TV paga tradicional é conhecido de programadores e operadores. A venda de pacotes por assinatura garante a todos os pontos da cadeia a rentabilidade adequada para sustentar o modelo. O problema, colocou Shell, é que os modelos over-the-top não têm uma proposta de negócios clara, e certamente são muito menos relevantes do ponto de vista financeiro do que os modelos tradicionais. Para a Cisco, os serviços de vídeo poderão “viajar” com o assinante. “Assim como ligamos um telefone em outro país e prontamente temos acesso ao serviço de voz, deve acontecer o mesmo com o serviço de vídeo. Isso será uma realidade em no máximo três anos”, diz Bob McIntyre, CTO da Cisco. Segundo ele, os operadores de serviços de TV terão de negociar para entregar o seu conteúdo a outras redes, em uma espécie de roaming dos serviços multimídia. Por enquanto, o que há neste sentido no Brasil é o novo serviço da Globosat, o Muu, oferecido até agora apenas aos assinantes da Net. “Temos um mercado relativamente estável na Europa e relativamente pequeno nos EUA. Se o consumidor brasileiro, que comprou 10 milhões de TVs no último ano, vai querer mobilidade no conteúdo, não importa. Não vamos esperar para descobrir”, diz o diretor de mídias digitais da Globosat, Gustavo Ramos. O Muu conta com mais de 5 mil vídeos do acervo de 20 anos da Globosat. “Inovar não é caro nesse mercado. Aproveitamos parcerias, apresentamos o produto para a Net e rapidamente fechamos o contrato do serviço”, conta Ramos, que garantiu que o serviço Muu não será exclusivo da operadora. Além disso, a Net diz que poderá em breve levar conteúdo do Now para outros dispositivos. O objetivo inicial com o serviço de video on-demand é oferecer ao assinante mais uma forma de ver o conteúdo da TV por assinatura na televisão. FOTO: daniel ducci

exemplo, evoluiu de uma hora mensal em 2008 para quatro em 2010. Além disso, lembra Romàn, o percentual de consumidores de Internet que visitam os sites de vídeo online por semana também aumenta. O YouTube era visitado por 33% dos consumidores online em 2008. Em 2010 o percentual subiu para 36%. A TVA também prometeu ampliar seu serviço de VOD para base de assinantes sem fibra óptica para breve. Além disso, a operadora, em parceria com a Telefônica, pretende ter um serviço OTT, que será oferecido para não assinantes do serviço de TV. E a própria estratégia da Telefônica, inegavelmente, passa pelo portal Terra, que já tem um inventário crescente de conteúdos de vídeo, inclusive com conteúdos destacados na TV por assinatura, e aposta muito na exibição de grandes eventos ao vivo, como fez com as Olimpíadas de Pequim e faz com diversos festivais de música. O Terra, destaque-se, também já tem parcerias com fabricantes de TV para a distribuição de seus conteúdos no modelo over-the-top, por meio de aplicativos embarcados. As pequenas operadoras de TV paga veem no VOD uma forma de se blindar. O problema, no caso das “independentes”, é bancar o custo do serviço. Durante a ABTA 2011, o CEO da NetMovies, Daniel Topel, recebeu pedidos de pequenas operadoras para levar o serviço OTT às suas bases de assinantes. A NetMovies, vale lembrar, é uma empresa brasileira de distribuição de conteúdo por mídia física (DVDs e Blu-Rays) e pela Internet. Segundo Topel, é viável levar seu serviço online às bases de assinantes das pequenas operadoras. Contudo, neste momento a empresa se dedica a preparar-se para a chegada da concorrente norte-americana no Brasil. Ser viável não quer dizer que seja simples. “Terei que convencer os estúdios de Hollywood que é seguro armazenar os conteúdos deles em servidores em uma pequena rede no interior do Espírito Santo”, ironizou. Para se preparar para o concorrente que chega em setembro, a NetMovies conta com dois trunfos: a distribuição física, serviço que o concorrente não deve ter por aqui, e a oferta de títulos premium em um modelo transacional (a


Contudo, a operadora não descarta ampliar a aoferta deste conteúdo para Contudo, operadora não descarta outras plataformas. Alessandro ampliar a oferta deste conteúdoMaluf, para gerente plataformas. de marketingAlessandro da operadora, diz outras Maluf, que em de uma segunda da etapa a Net deve gerente marketing operadora, diz levarem esseuma serviço para outros dispositivos que segunda etapa a Net deve dentro da serviço casa dopara assinante eventuallevar esse outros e, dispositivos mente, da permitir seja assistido até dentro casa doque assinante e, eventualmesmo permitir fora da residência. “Estenderatéo mente, que seja assistido serviço para e outros dispositivos mesmo fora tablets da residência. “Estender oé algo natural. Exigindo autenticação por serviço para tablets e outros dispositivos é partenatural. do assinante, podemos oferecer esse algo Exigindo autenticação por conteúdo fora da nossa rede”,oferecer disse o esse exeparte do assinante, podemos cutivo. fora da nossa rede”, disse o execonteúdo cutivo. Redes Se os serviços estão disponíveis em Redes todo as operadoras passam a em ter Selugar, os serviços estão disponíveis mais lugar, uma preocupação: todo as operadorasnegociar passama ainteter gridade nestes serviços em redes adeintetermais uma preocupação: negociar ceiros, muitas concorrentes. gridade nestesvezes serviços em redes Virgílio de terAmaral,muitas diretor de estratégia e tecnologia ceiros, vezes concorrentes. Virgílio da TVA/Telefônica, diz que esse tipo de Amaral, diretor de estratégia e tecnologia negociação já é fundamental, da TVA/Telefônica, diz que essemas tiponão de para trafegarjáoéconteúdo da própria negociação fundamental, mas openão radora. “Anti­ a­ mente, da os própria operadores para trafegar ogconteúdo opepodiam cuidar redes. radora. “Antigaapenas mente, das os suas operadores Hoje quem provê infraestrutura podiam cuidar apenas das suas precisa redes. Hoje quem provê infraestrutura precisa

Outra dificuldade ao modelo da OUTRA MODELO DA a NetflixDIFICULDADE no Brasil éAO o fato de que NETFLIX NO BRASIL É O FATO DE QUE Ae quantidade de filmes de terceira QUANTIDADE DE FILMES TERCEIRA E quarta janelas na TVDEpaga brasileira QUARTA NAnos TV PAGA é muito JANELAS maior que EUA. BRASILEIRA É MUITO MAIOR QUE NOS EUA. garantir o serviço mes­ mo quando esse serviço passa pela rede operadogarantir o serviço mesde mooutra quando esse ra. O operador precisa serviço passa pela rede negociar de outra parcerias operadode O interconexão para garantir ra. operador precisa negociarqualidade. parcerias Se ointerconexão YouTube cair, o assinante culpar o de para garantirvai qualidade. operador”, o oexecutivo. Emculpar outras Se o YouTubediz cair, assinante vai o palavras, asdiz operadoras terão de esforoperador”, o executivo. Emseoutras çar também para garantir a qualidade do palavras, as operadoras terão de se esforNetflix, seu temido concorrente. çar também para garantir a qualidade do Segundo Fernando Magalhães, diretor Netflix, seu temido concorrente. de programação da Net, “o assinante que Segundo Fernando Magalhães, diretor contrata banda larga tem“odireito de acesde programação da Net, assinante que sar o quebanda quiser.larga O nome jogo édemelhocontrata temdo direito acesrar otecnologicamente e dar para o sar que quiser. O nome do opções jogo é melhoseu tecnologicamente assinante”. Virgílio Amaral rar e dar opçõeslembrou para o que assinante”. essa questão passaAmaral pela discussão seu Virgílio lembrou sobreessa neutralidade de rede. “Asdiscussão operadoque questão passa pela ras não vão querer de oferecer conexão, sobre neutralidade rede. só “Asa operadoporque seráquerer commodity. Tem prover ras não vão oferecer só que a conexão, porque será commodity. Tem que prover

SET_2011 TELETIME 33

serviços. O grande desafio é que o mundo digital é dedesafio rápidaé evoluserviços. O grande que o ção e digital de obsolescência muito mundo é de rápida evolucurta.e Estamos trabalhandomuito com ção de obsolescência a visãoEstamos de que trabalhando vamos ter o com OTT curta. programadores, mas ados visão de que vamos terteremos o OTT um programadores, novo mercado onde os assidos mas teremos nantes vão poder optar que um novo mercado onde pelo os assiqueremvão ver poder e temos de começar nantes optar pelo quea separar esses dois querem ver emundos.” temos de começar a Nicolas Choquart, da NDS aponta que separar esses dois mundos.” a Netflix terá que reverda sua relação comque as Nicolas Choquart, NDS aponta O serviço temcom 22,8 aoperadoras. Netflix terá que rever suaOTT relação as milhões de assinantes nos EUA resoperadoras. O serviçosó OTT tem e22,8 ponde por 30% do pico de milhões de assinantes só de nosconsumo EUA e resbanda por no país, alguém teráconsumo de pagardeo ponde 30%edo pico de preço desse excessivo consumo banda. banda no país, e alguém terá dedepagar o “No passo Netflix e provedores de preço desseatual, excessivo consumo de banda. banda largaatual, entrarão eme breve em uma “No passo Netflix provedores de batalha.larga No Canadá, banda entrarãoos emprovedores breve em estão uma forçandoNo cortes na banda dos usuários batalha. Canadá, os provedores estão após certocortes consumo mensaldos e nos EUA, forçando na banda usuários em um ou dois anos, mensal vamos ver o cenário após certo consumo e nos EUA, de neutralidade de rede mudar causa em um ou dois anos, vamos ver por o cenário da neutralidade pressão dosdeoperadores. lobby de rede mudarOpor causaé muito forte para que os posda pressão dos permitir operadores. O ISPs lobby é sam restringir provedores muito forte paradeterminados permitir que os ISPs posde conteúdo”, sam restringirdetalha. determinados provedores de conteúdo”, detalha.

 


.:Regulamentação

Samuel Possebon

samuca@convergecom.com.br

Fim de um parto

Congresso aprova o PLC 116, que cria o novo marco legal para a TV por assinatura, aberto às teles e empresas de capital estrangeiro. Entre as mudanças estão o papel da Ancine como agência reguladora da programação e a mudança no Artigo 86 da LGT.

F

inalmente, depois de 16 anos, o setor de TV por assinatura tem um novo marco legal, com a aprovação no Senado do PLC 116, projeto que unificou as regras para a prestação do serviço, e foi além. Foi um projeto de tramitação lenta (quatro anos e meio), mas compatível com o tempo que a própria Lei do Cabo levou para ficar pronta (nesse caso, a tramitação foi de 1991 ao final de 1994). Outro destaque é que o PLC 116 foi uma iniciativa do Legislativo (a proposta original, registre-se, foi do ex-deputado Paulo Bornhausen, que teve depois apensados projetos do deputado Nelson Marquezelli e dos deputados Paulo Teixeira e Walter Pinheiro), com pouca interferência do Executivo, salvo a atuação da Ancine nos bastidores e uma pressão do Planalto na fase final de aprovação do projeto. Mas a mudança no marco legal era esperada com ansiedade não só pelas empresas como pela Anatel, que há muito tentava encontrar uma forma de abrir o mercado de TV paga às teles sem ferir a lei. Tanto é que a agência divulgou nota logo que o texto foi aprovado pelo Senado, mas antes mesmo da sanção presidencial, informando que a minuta de regulamento do serviço de acesso condicionado, que será criado com a aprovação presidencial do PLC 116, está em fase final de elaboração e deverá ser colocada em consulta pública no início de setembro. “É preciso, porém, aguardar a sanção presidencial do projeto, para eventuais ajustes na minuta, a ser encaminhada para apreciação do conselho diretor da Anatel”, diz a nota. O serviço de acesso condicionado é o serviço de TV por assinatura que engloba todas as tecnologias, criado com a aprovação do PLC 116. A aprovação pelo conselho diretor está prevista para novembro. Assim, a Anatel garante que tem condições de concluir a regulamentação da matéria dentro do prazo legal de 180 dias. Mas muito do trabalho terá que ser feito de forma coordenada com a Ancine. A agência de tele-

com terá ainda que adequar os regulamentos dos demais serviços de TV por assinatura e precisará avaliar a hipótese de manter regulamentos estanques para cada tecnologia no caso de algumas empresas optarem por não migrar para o novo serviço e se mantiverem nos contratos de concessão ou termos de autorização atuais até o fim dos seus respectivos contratos. Pronta comemoração “A Anatel entende que a aprovação do Projeto de Lei da Câmara 116 pelo Senado é positiva para o País, principalmente para as classes de renda mais baixa. O texto aprovado contém dispositivos que incentivam a ampliação dos serviços de televisão por assinatura e a expansão da infraestrutura essencial para a massificação da Internet em banda larga em todo o território nacional, em um ambiente de maior competição, no qual se espera redução de preços aos usuários”, diz a nota. A aprovação do projeto teve ainda apoio da Associação Brasileira de TV por

reguladoras, o que só cabe ao Executivo fazer. Até o fechamento desta edição, os técnicos do Planalto até concordavam com essa avaliação, mas ponderavam que o peso político de um veto seria pior do que enfrentar um debate no Supremo depois, e possivelmente o PLC 116 seria sancionado por Dilma Rousseff sem vetos, como recomendou o Minicom. Para as programadoras internacionais, o principal problema é a política de cotas do PLC 116. Mas para empresas como Sky, grupo Bandeirantes e outras, o problema maior é a separação entre os mercados de conteúdo e distribuição, que afeta situações já existentes. A Sky, por exemplo, nunca mais poderá fazer investimentos diretos em conteúdo, o que é péssimo para a estratégia da operadora, que em outros países, como nos EUA, tem uma política de fazer fortes investimentos em programas exclusivos. Para alguns radiodifusores, como Band, SBT, TV Bahia, grupo ORM no Pará entre outros, será necessário vender uma

a Ancine passa a ter agora papel relevante na regulação das relações de programadoras, canais e empacotadoras com os operadores do serviço. Assinatura (ABTA), do SindiTelebrasil e das teles, que individualmente trabalharam na aprovação do texto, notadamente Oi, Embratel e, em menor escala, a Telefônica. Todas comemorando o fim das restrições que existiam no mercado de cabo, como a limitação às teles e ao capital estrangeiro. Apesar do discurso de que o projeto foi consensual, não foi bem assim. Para alguns setores, a aprovação é ruim. Programadores internacionais de TV paga, por exemplo, chegaram inclusive a encaminhar à Presidência da República um pedido formal de vetos ao projeto, alegando entre outras coisas inconstitucionalidade no fato de um projeto de lei de autoria do Legislativo ter estabelecido mudanças nas atribuições de agências 34 Teletime set_2011

parte das operações de TV por assinatura que controlam. Não por acaso, o senador Demóstenes Torres (DEM/GO), em seu pronunciamento sobre o PLC 116 no momento da votação final do texto, já avisava que se o projeto fosse aprovado ele levaria o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). Torres e outros senadores da oposição, como Aloízio Nunes (PSDB/SP) e Álvaro Dias (PSDB/PR), acreditam que o projeto é inconstitucional porque dá à Ancine novas atribuições, o que só poderia ser feito em projeto do Executivo. “Na Câmara o projeto foi transformado em um monstrengo. Acho que no mínimo metade dos artigos são flagrantemente inconstitucionais”, disse o senador, que é também um respeitado jurista.


Nova agência Mas a principal mudança conceitual do PLC 116 é que ele introduz uma nova agência no cenário regulatório da TV paga. A partir de agora, a Ancine, que tinha um papel menor junto ao setor, restrito à cobrança da Condecine junto a programadores, passa a ter agora papel relevante na regulação das relações de programadoras, canais e empacotadoras com os operadores do serviço. Isso é um fato inédito. Além disso, todas as empresas de telecomunicações passam a contribuir para a Condecine. Isso deverá gerar uma receita monumental para o audiovisual dentro dos parâmetros atuais. Apenas como exemplo, para cada terminal móvel no Brasil (são cerca de 210 milhões de celulares) se pagará o equivalente a R$ 3,22 por ano, e mais R$ 160 por ERB. E a cobrança, anual, se aplica a todas as operadoras de telecomunicações em todas as modalidades que possam, potencialmente, fazer a distribuição dos sinais de vídeo. Esse novo tributo passa a ser compensado com uma queda proporcional no Fistel. De qualquer maneira, o setor de telecom passará a ser, de longe, o maior contribuidor para a indústria audiovisual brasileira. Quando o PL 29 começou a tramitar na Câmara, a expectativa era de que a cobrança sobre as teles gerasse cerca de R$ 150 milhões anuais, mas há quem diga que será muito mais do que isso. Segundo Manoel Rangel, presidente da Ancine, deve haver uma colaboração estreita entre as duas agências para dar continuidade ao desenvolvimento do marco legal de modo harmonioso. Em um primeiro momento, é esperado um debate “para moldar uma interpretação conjunta e construir uma visão convergente” da Lei. A partir deste momento, cada agência segue seu ritmo, tratando de seus respectivos temas. “Nos últimos seis ou sete meses, desde que ficou evidente que havia um entendimento em torno da aprovação do projeto, diversos agentes do mercado começaram a adiantar seus temores e suas demandas”, diz. “Todos os setores envolvidos serão ouvidos no processo regulatório”, completa o presidente da Ancine, ressaltando que todas as normas passarão por consulta pública. A Ancine afirma ter inteligência para implantar os mecanismo de regulação, fiscalização e financiamento que serão

necessários com a conversão do PLC 116 em lei. No entanto, diz Manoel Rangel, serão necessários recursos humanos e financeiros adicionais. “Será preciso reconfigurar a agência para receber as novas atribuições”, diz. Ele deixa claro que será fundamental realizar concursos para a contratação de novos servidores. Este noticiário apurou que, atualmente, a equipe dedicada a acompanhar o mercado de TV por assinatura conta com quatro servidores e tem como principais recursos de consulta os guias de programação das operadoras. Além disso, não há um sistema de registro pronto para abrigar o volume de dados que a agência deverá receber e computar para dar subsídios ao processo fiscalizatório. Artigo 86 Para as teles, além de abrir o mercado de TV por assinatura, o PLC 116 tem

uma característica há muito esperada por elas: o fim do Artigo 86 da Lei Geral de Telecomunicações. Esse artigo é que vedava à concessionária de telecom ter, sob um mesmo CNPJ, qualquer outro serviço além do serviço público (telefonia fixa, no caso). Com o fim desse artigo, as empresas poderão consolidar suas operações de TV por assinatura, celular e banda larga, se quiserem, sob o mesmo CNPJ da operadora de telefonia fixa, o que trará grandes ganhos tributários. O governo, analisa os cenários, mas como o PLC 116 diz que esses ganhos decorrentes do fim do Artigo 86 têm que ser transferidos integralmente ao consumidor em caso de ganhos diretos, ou compartilhados, no caso de eficiências e sinergias, já há quem diga que todo o ganho tributário se transformará em redução de tarifas. Enfim, agora o PLC  116 começa a ser testado na prática.

Principais pontos do PLC 116 1) Cria o serviço de comunicação audiovisual de acesso condicionado, que engloba todas as tecnologias de distribuição de conteúdos pagos. 2) Qualquer atividade de comunicação audiovisual de acesso condicionado será enquadrada em produção, programação, empacotamento ou distribuição. 3) Nenhuma empresa direta ou indiretamente ligada à atividade de radiodifusão, produção ou programação brasileira poderá controlar mais do que 50% do capital total e votante de empresas de telecomunicações de interesse coletivo. 4) Nenhuma empresa de telecomunicações poderá, direta ou indiretamente, controlar mais do que 30% do capital total e votante de empresas de radiodifusão, produtoras ou programadoras. 5) Empresas de telecomunicações não podem adquirir diretos de imagem de eventos de interesse nacional, talentos artísticos nacionais ou direitos sobre obras de autores nacionais. 6) Cabe à Ancine regular e fiscalizar o mercado de programação e produção, e a atividade de programação e empacotamento deverá ser credenciada previamente na agência do cinema. 7) A gestão, a responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção inerentes à programação e ao empacotamento são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. 8) Nos canais de espaço qualificado, no mínimo 3h30 semanais dos conteúdos veiculados no horário nobre deverão ser brasileiros e integrar espaço qualificado, e metade deverá ser produzida por produtora brasileira independente. 9) Em todos os pacotes ofertados ao assinante, a cada três canais de espaço qualificado existentes no pacote, ao menos um deverá ser canal brasileiro de espaço qualificado, até um limite máximo de 12 canais (ou três canais para operadoras que só consigam distribuir até 31 canais). 10) Destes canais brasileiros de espaço qualificado, pelo menos um terço deverá ser de programadora brasileira independente. 11) Empresas de telecomunicações e radiodifusão em geral passam a recolher, anualmente, a Condecine (Contribuição Nacional para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica), já que esta passa a ser devida por empresas que utilizem de meios que possam, efetiva ou potencialmente, distribuir conteúdos audiovisuais. Uma parcela desses recursos vai para a produção de conteúdos para o serviço de acesso condicionado. 12) Acabam as restrições para a oferta de TV por assinatura no serviço de acesso condicionado, cabendo à Anatel fiscalizar a distribuição. Todo conteúdo deve ser empacotado por empresa credenciada junto à Ancine. 13) A transmissão dos sinais digitais das emissoras de TV aberta poderá ser negociada entre as partes. 14) A Lei do Cabo é extinta, assim como o artigo 212 da LGT e o artigo 31 da MP 2.228/01. 15) As outorgas e respectivos contratos das atuais prestadoras do serviço de cabo, MMDS (inclusive as radiofrequências associadas), DTH e TVA continuarão em vigor sob as mesmas condições em que foram autorizados até o término dos prazos de validade neles consignados. 16) Muda o Artigo 86 da Lei Geral de Telecomunicações, de modo que a concessionária de STFC possa prestar outros serviços, desde que garantido compartilhamento de ganhos com os usuários, a reversão dos bens e a justa competição. set_2011 Teletime 35


.:Banda larga

Helton Posseti

helton@convergecom.com.br

Fim do melhor esforço

Proposta de metas de banda larga recebe críticas das empresas, mas Anatel precisa cumprir decreto presidencial que determina a criação de parâmetros de velocidades mínima e média até 31 de outubro. “muitas operadoras já conseguem oferecer parâmetros de qualidade bem próximos aos que a Anatel está pedindo.” Emilia Ribeiro, da Anatel Nova Zelândia, o regulador adotou um modelo parecido, porém o resultado das medições é consolidado em um relatório em que alguns parâmetros são comparados com metas definidas pelo órgão regulador e outros com os dados do ano anterior. Nos EUA, até agora, não há metas a serem atingidas, mas foi contratada uma empresa para realizar medições, a SamKnows. Segundo a PwC, a Federal Communications Commission (FCC) dá sinais de não adotar metas específicas. A conselheira da Anatel, Emília Ribeiro, contudo, que foi a relatora da proposta colocada em consulta pública, defendeu o projeto durante o Congresso ABTA 2011, no começo de agosto. Para a conselheira, já é chegado o momento de o

A proposta teve efeito explosivo junto às empresas e vem sendo alvo de uma campanha intensa do setor para alterá-la. consumidor ter parâmetros para exigir das operadoras. Além disso, diz ela, todas as operadoras acompanharam o trabalho do Comitê Gestor da Internet (CGI.br) que embasou a metodologia. “Hoje, se olharmos o que de fato acontece, muitas operadoras, sobretudo as competitivas, já conseguem oferecer parâmetros de qualidade bem próximos aos que a Anatel está pedindo”, disse na ABTA 2011. Para o SindiTelebrasil, a regulação deveria estar apoiada apenas na transparência das ofertas, sem punição em caso de descumprimento, assim como fez a Ofcom. Assim, os usuários poderiam 36 Teletime set_2011

escolher a sua prestadora a partir da comparação da qualidade entre as diversas empresas. Pelas estimativas do SindiTelebrasil, o investimento para atender às metas de qualidade de banda lar­ ga que a Anatel propõe em consulta pú­­blica seria 82% maior que o previsto pelas operadoras até 2020. No caso da rede móvel, esse au­­mento ultrapassaria a casa dos 400%. O investimento previsto até 2020, considerando o cenário onde o país teria um perfil de consumo próximo ao de países que são referência internacional, seria consumido até 2014. Vale destacar que o regulamento de qualidade do SCM não se aplica ainda às redes móveis (SMP), mas a Anatel já anunciou a intenção de equalizar os parâmetros. O SindiTelebrasil argumenta que a velocidade da conexão móvel sofre influência de diversos fatores alheios à operadora, como limite de espectro disponível, velocidade de deslocamento do usuário e condições topográficas que podem deteriorar o sinal. Para as empresas, a consulta pública das regras de qualidade no SCM não traz uma análise de impacto, não encontra paralelo na experiência internacional e sua redação admite distintas interpretações. Para se adap­­tar às regras da consulta, caso ela seja aprovada como está, as operadoras teriam que trocar roteadores concentradores, além de antecipar os investimentos em rede de acesso de fibra (FTTx). O efeito alegado é a pressão para amento de preços, o que pode resultar em possível redução da oferta e desestímulo a investimentos. Do ponto de vista técnico, o argumento para a não imposição de metas passa pela característica da rede IP. A rede de banda larga é estatística, e não determinística, o que significa que cada usuário FOTOS: daniel ducci

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reocupada em atender uma demanda permanente dos consumidores e, principalmente, uma recomendação expressa da presidenta Dilma Rousseff, a Anatel propôs um regulamento inédito, estabelecendo regras de qualidade para o Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), o que significa na prática estabelecer metas de qualidade para a Internet em banda larga. A agência inovou, e além das usuais exigências de qualidade de atendimento e resolução de problemas, estabeleceu rigorosos parâmetros técnicos, como a garantia de 80% da velocidade vendida e a exigência de investimentos na rede caso ela atinja determinada capacidade. Hoje não existem parâmetros, e as empresas oferecem os serviços na base do melhor esforço (best effort). A proposta, da forma como veio, teve efeito explosivo junto às empresas e vem sendo alvo de uma campanha intensa do setor para alterá-la. O problema é que as teles não querem ouvir falar em cumprir parâmetros técnicos mínimos, principalmente de velocidade, o que, se­­gundo elas, acarretaria em antecipação de investimentos e na diminuição do nú­­ mero de clientes que podem ser conectados simultaneamente nos equipamentos atuais. Para apoiar a sua argumentação, o SindiTelebrasil contratou a consultoria Price WaterHouseCoopers para realizar um estudo sobre como o tema é tratado no mundo. A PwC pesquisou dez países e afirma que, destes, apenas a Índia adotou metas, sem, no entanto, estabelecer sanções em caso de descumprimento. No mercado indiano, os provedores frequentemente não atingem as metas estabelecidas para os 18 parâmetros técnicos que são avaliados. No Reino Unido, o órgão regulador Ofcom introduziu um código de conduta que pode receber adesão voluntária por parte dos provedores. Os que aderem são submetidos a uma medição que depois é tornada pública e também devem seguir regras sobre a publicidade das ofertas. Na


compartilha com os demais a largura de banda, e os recursos ociosos são alocados dinamicamente. Assim, não há reserva de circuitos ou garantia de banda fim-a-fim, a não ser em conexões dedicadas, comercializadas para o mercado corporativo a valores muito mais elevados. Mas não é só das metas que as empresas não gostaram. O critério de medição também desagradou, e muito. O grande problema é que, segundo as teles, a instalação de um software no computador do usuário não isola perdas relativas a vírus na máquina, lentidão do processador etc. Pela proposta da Anatel, as teles é que desenvolveriam este software de medição. Interessante notar que o CGI.br, através de seu braço executor, o Nic.br, já desenvolveu um software para medir as velocidades das conexões no Brasil. Milton Kaoru, diretor de projetos do Nic.Br, argumenta que o Simet é capaz de eliminar as variáveis domésticas, como lentidão do processador, compartilhamento da conexão e uso de programas de alto consumo de banda. O software desenvolvido pelo Nic.br mede a conexão da casa do usuário até o PTT, o que segundo Kaoru, elimina a interferência de possíveis lentidões nos servidores de conteúdo. Além dos parâmetros de qualidade, a Anatel deu um passo gigantesco ao propor, em regulamento, a garantia de neutralidade nas redes de banda larga. Foi a primeira vez que a agência sinalizou em um texto regulatório esta obrigação. Até então, a neutralidade aparecia como um dos princípios do Plano Geral de Atualização da Regulamentação (PGR) e nas contrapartidas à fusão entre Oi e Brasil Telecom, mas não em um documento com poder punitivo. A iniciativa foi muito aplaudida por entidades de defesa do consumidor e pelos movimentos de democratização da Internet, e é uma das bandeiras inclusive do CGI.br. Um representante das operadoras classificou a proposta da Anatel como “populista” e “absurda”. Para ele, a proposta prejudica os consumidores e beneficia os provedores internacionais de con­ teú­do, como Google e Netflix, que oferecem conteúdos over-the-top (OTT), atuando sobre a camada de redes sem remunerá-las. “Quem ganha nesse jogo são os over-the-top, cujos serviços gozariam de uma banda larga muito mais veloz nas casas dos clientes”, diz a fonte. Para a conselheira Emília Ribeiro, a regra de neutralidade proposta dá às empresas a possibilidade de limitar o tráfego por

motivo de segurança e para garantir a estabilidade do serviço. Além disso, de acordo com a fonte, nos principais mercados internacionais a diferenciação de planos de serviço por tipo de tráfego é permitida e as operadoras, por meio de contratos de peering, também podem cobrar dos provedores cujos serviços geram um alto consumo de banda. Marketing Os parâmetros de qualidade propostos pela Anatel valem apenas para as empresas com mais de 50 mil assinantes. A lógica da agência é que se os pequenos não tiverem qualidade, eles não conseguirão se estabelecer no mercado. Mas, ao mesmo tempo, se não tiverem obrigações, eles terão condições de crescer sem tanta pressão regulatória. Para Eduardo Neger, diretor presidente da Abranet, a proposta da Anatel está mais relacionada com marketing do que com a parte técnica, como argumentam as teles. Para ele, a disputa com a concorrência levou as empresas a lançar planos com cada vez mais banda, sendo que esse movimento não foi acompanhado pelo investimento em rede que seria necessário. Assim, as empresas deveriam, na sua visão, padronizar as ofertas. Ou seja: em vez de anunciar, por exemplo, 10 Mbps, anunciariam 5 Mbps, mas com uma garantia de banda nos moldes propostos pela Anatel. “Nós somos favoráveis à proposta. Se elas não conseguem ofertar o serviço com esse determinado nível de

qualidade, elas vão ter que baixar a velocidade”, afirma ele. O SindiTelebrasil, a TelComp e algumas empresas separadamente solicitaram formalmente que a Anatel adie a consulta pública por 90 dias. Dificilmente a agência acatará o pedido já que o decreto do Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU III) coloca um prazo para que haja metas de qualidade na banda larga: 31 de outubro. Além do prazo, o decreto é bem específico sobre a forma como a garantia de qualidade deve ser implementada, o que deixa a Anatel com pouca margem para mexer na proposta e tentar agradar as operadoras. Diz o texto: “A Anatel deverá adotar, até 31 de outubro de 2011, as medidas regulatórias necessárias para estabelecer padrões de qualidade para serviços de telecomunicações que suportam o acesso à Internet em banda larga, definindo, entre outros, parâmetros de velocidade efetiva de conexão mínima e média, de disponibilidade do serviço, bem como regras de publicidade e transparência que permitam a aferição da qualidade percebida pelos usuários”. Ou seja, se o texto final da proposta ficar apenas com regras de publicidade e transparência, a agência claramente descumpre o decreto que diz que devem ser definidos parâmetros de velocidade mínima e média. A Anatel está entre a cruz e a espada e não tem muito tempo para pensar.  (Colaborou Samuel Possebon)

Parâmetros de qualidade da Consulta Pública 46 Métrica

Fase 1

Fase 2

Fase 3

Velocidade instantânea (download e upload) Velocidade média (download e upload)

20% da velocidade máxima contratada em 95% dos casos 60% da velocidade máxima contratada

30% da velocidade máxima contratada em 95% dos casos 70% da velocidade máxima contratada Até 80 milissegundos (terrestre) em 95% dos casos ou 500 milissegundos (satélite) em 95% dos casos

40% da velocidade máxima contratada em 95% dos casos 80% da velocidade máxima contratada

50 milissegundos em 95% dos casos

40 milissegundos em 95% dos casos

30 milissegundos em 95% dos casos

2% em 95% dos casos

1% em 95% dos casos

Latência bidirecional Variação de latência - Jitter (download e upload) Perda de pacotes (taxa de pacotes descartados)

Fonte: SindiTelebrasil. Além dessas metas técnicas, há ainda metas de atendimento e a obrigação de neutralidade de rede. Além disso, a proposta do novo Regulamento do SCM proíbe as empresas de diminuírem a velocidade do acesso a menos de 50% do máximo contratado em caso de uso excedente da franquia. Fase 1: 12 meses após exigibilidade das metas (a partir do nono mês da entrada em vigor do regulamento) Fase 2: 12 meses após primeira fase. Fase 3: a partir da segunda fase

set_2011 Teletime 37


.:Infraestrutura

Os donos do solo

STF começa a julgar a favor das empresas as primeiras ações contra taxas municipais para o uso do solo urbano. Preço dos postes, por outro lado, continua sem solução. Erhan Dayi/shutterstock

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lei do município de Ji-Paraná (RO) que exigia o pagamento de taxa pelas Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron) em razão da instalação de postes de transmissão de energia elétrica em solo e espaço aéreo públicos. Ambas as decisões passam a ser referência para os demais tribunais no julgamento de cobrança semelhante por outros municípios. A TelComp ainda tem uma série de ações desse tipo contra diversas municipalidades. O gerente de infraestrutura da entidade, Luis Henrique Barbosa da Silva, menciona algumas leis municipais que dificultam e as vezes impossibilitam que as companhias instalem suas redes. Em São Caetano do Sul, por exemplo, as estações radiobase (ERBs) devem estar a um distanciamento mínimo de 1 quilômetro entre elas. Pelo estudo da TelComp, a cidade comportaria apenas oito ERBs. As operadoras de telefonia, obviamente, têm mais do que

“O posicionamento deles (Aneel) não diverge muito do nosso” Ara Apkar Minassian, da Anatel 38 Teletime set_2011

oito ERBs na cidade, porque a instalação delas foi amparada por decisão liminar da Justiça. Já em Campinas, a legislação fala que uma antena só pode ser instalada se ela for aprovada por 60% dos domicílios em um raio de 200 metros. “Algumas leis são arbitrárias, sem critério. Se a política pública é o aumento da construção de rede, isso tem que mudar”, afirma ele. Postes e dutos Se o relacionamento entre as em­­ presas e as prefeituras caminha para uma solução com as decisões judiciais e a criação de uma jurisprudência, não se pode dizer o mesmo sobre a relação entre as próprias empresas. Luiz Henrique reclama da falta de uma uniformização do custo para o uso do poste das concessionárias de energia e do custo para a utilização da infraestrutura pertencente às concessionárias de rodovias. “Tem empresa cobranFOTOS: daniel ducci

omeçam a sair dos tribunais superiores brasileiros as primeiras decisões sobre as leis municipais que cobram pela utilização do solo urbano, resultado de ações que ingressaram nas cortes no início dos anos 2000. O assunto é especialmente sensível para o setor de telecom e de energia, que precisam utilizar o espaço público para a instalação de suas redes. Mas não é só isso. Não existe ainda uma legislação clara sobre a cobrança pelo direito de passagem na chamada faixa de domínio das rodovias e ferrovias, bem como para o uso dos postes das empresas de energia elétrica. Isso faz com que a mera instalação de infraestrutura de redes se torne alvo de incertezas regulatórias e riscos jurídicos. Depois de uma verdadeira guerra judicial, em fevereiro de 2011 o STF julgou recurso da Associação Bra­ sileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp) sobre uma lei do Rio de Janeiro que institui uma “retribuição pecuniária” pela ocupação do solo urbano. O entendimento do STF é que não cabe ao município legislar sobre matéria de competência da União, como é o caso de telecomunicações. A decisão do STF já trouxe benefícios. Em julho, a 12ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que a Prefeitura de Ribeirão Preto não impusesse à Net Serviços cobrança por ampliação da rede subterrânea de cabos. O relator do processo, desembargador Venício Salles, informou que a ação ajuizada pela operadora é procedente, uma vez que cabe à união regulamentar o assunto, e não aos municípios. O setor de energia também comemora decisão parecida. Em maio de 2010, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional uma


do R$ 10 mil por quilômetro a título de direito de passagem, preço que inviabiliza qualquer plano de negócio”, diz ele. O preço para uso de poste, por exemplo, pode variar de R$ 2,50 para R$ 12, dependendo da região e de quanto tempo existe o contrato. E pelos cálculos da TelComp, para cada quilômetro de rede são necessários cerca de 40 postes. Anatel e Aneel há tempos estudam uma legislação conjunta para colocar um fim nesses problemas. A novidade agora é que, ao que parece, o assunto começa a ser tratado no âmbito dos ministérios. O Ministério das Co­­ mu­­ nicações já fez uma primeira reunião com o Ministério dos Transportes e pretende levar o assunto também ao Ministério das Minas e Energia. No ano passado, Anatel e Aneel submeteram uma proposta de resolução conjunta à consulta pública. Embora a previsão da Anatel fosse de que a resolução estivesse publicada ainda no ano passado, o fato é que até agora nada aconteceu. O superintendente de comunicação de massa da Anatel, Ara Apkar Minassian, responsável pela negociação com a agência de energia, explica que a proposta já foi levada a ambas as procuradorias e a da Aneel sugere algumas modificações, que estão sendo estudadas pela Anatel. O processo é demorado, segundo Minassian, porque não pode haver divergências entre as agências, já que se trata de uma resolução conjunta. “O posicionamento deles não diverge muito do nosso”, afirma o superintendente da Anatel. Minassian é cuidadoso em dar novos prazos para a publicação da resolução. Como o documento sofreu alterações em relação àquele que passou por consulta pública, o conselho diretor da Anatel pode entender que é preciso uma nova rodada de consultas à sociedade. Ficou acertado entre as duas agências um preço de R$ 2,40 como referência para o aluguel de postes. O valor não será imposto em nenhuma negociação, mas será o parâmetro utilizado pela arbitragem conjunta entre as

apontados pelas distribuidoras de energia e empresas detentoras dessas infraestruturas. Os argumentos usados pelas associações saíram de um estudo produzido pelo Centro Latino-Americano de Luiz Henrique Barbosa Silva da Telcomp Estudos da Economia das Telecomunicações (Celaet). O agências no caso de impasses no material concluiu que não há acerto comercial entre as empresas. previsão nem na Lei Geral de Tele­co­ O valor de referência também não se mu­ nicações (LGT) nem na Lei de aplicaria a contratos correntes. Concessões para que a Aneel fixe preços para o compartilhamento de Histórico infraestrutura. A conclusão pode ser O estabelecimento de um preço estranha para o setor de telecomunide referência para solucionar apenas cações, já que a Anatel estabelece casos de conflitos foi a solução uma multiplicidade de tarifas públiencontrada para driblar um impedicas e que tem na LGT um mecanismo mento regulamentar da Aneel, que a claro de compartilhamento de redes impede de fixar preços para aluguel (unbundling), embora nunca colocade infraestrutura, como demonstrou do plenamente em prática. sua procuradoria em 2007. Na época, a ideia de fixar um Contradição preço de referência geral (não apeNão deixa de ser contraditório nas para os casos de conflito) não que ao auferir receitas com outros avançou porque a Aneel não teria serviços, as concessionárias de eneramparo regulatório para fazê-lo. gia, que devem reverter essas receiDuas contribuições a essa audiência, tas para a modicidade tarifária, acauma da Associação de Empresas bam por prejudicar o sistema tarifáProprietárias de Infraestrutura e de rio de outro serviço de interesse Sistemas Privados de Tele­ co­ mu­ público – telecomunicações. nicações (Aptel) e outra da Associação Um dos argumentos daqueles que Brasileira das Distribuidoras de eram contrários à aprovação do PLC Energia Elétrica (Abradee), questio116 era justamente a falta de uma naram essa competência. legislação clara sobre a utilização dos Essas duas organizações resgatajá lotados postes e dutos das concesram um estudo de 2001 que apontasionárias de energia. Esse argumento va problemas insolúveis na criação também foi usado por aqueles que

“Algumas leis são arbitrárias, sem critério. Se a política pública é o aumento da construção de rede, isso tem que mudar”

Não deixa de ser contraditório que ao auferir receitas com outros serviços, as concessionárias de energia, que devem reverter essas receitas para a modicidade tarifária, acabam por prejudicar o sistema tarifário de outro serviço de interesse público, o de telecomunicações. de um sistema de cálculo. O problema apontado é em âmbito regulatório: ao contrário da Anatel, a Aneel não possui competência legal para deliberar sobre preços de locação dessas infraestruturas. material apresentado pelas associações solicita uma análise mais apurada por parte da procuradoria da Aneel sobre a competência da agência nesse tema. O resultado foi um parecer ponderando os mesmos aspectos set_2011 Teletime 39

foram contra as novas regras do SCM, que cria categorias de licença regional e municipal. O estímulo ao surgimento de novos players só reforça a necessidade de que se tenha preços mais acessíveis e uniformes para que o acesso a infraestrutura básica não se torne um gargalo na expansão do serviço, sob o risco de que apenas quem tenha escala de negociação consiga um espaço no poste. Helton Posseti


.:redes

Corrida de bits

Como as operadoras se preparam para oferecer links acima de 100 Mbps. Desafios passam por investimentos em backbone, backhaul, padronização de equipamentos e instalação adequada.

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FOTO: arquivo

ustou a chegar, mas os serviços de ultra banda larga começam a ser oferecidos pelas operadoras em diversas capitais e outras cidades do Brasil. Já é comum encontrar pacotes de 30, 50 e 100 Mbps (com uplinks menores, é verdade). Mas o que existe por trás de tudo isso? Como as operadoras estão preparando suas redes para oferecer altas taxas de transmissão com qualidade de serviço e experiência? Segundo o diretor de tecnologia da Nokia-Siemens para a América Latina, Wilson Cardoso, do lado do usuário é preciso haver transparência, ou seja, pouco importa a tecnologia utilizada, além de qualidade de experiência. Do lado da operadora, uma combinação entre “pouca engenharia e muita rentabilidade”. Recentemente a Nokia Siemens realizou um roadshow na América Latina com o objetivo de convencer as operadoras de telefonia a reaproveitar suas redes ópticas legadas. De uns 15 anos para cá, essas fibras ópticas se deterioraram, sofreram variações de temperatura, torções, e continuam operando com os mesmos equipamentos eletrônicos nas pontas, com throughput médio relativamente “baixo”, de até 1 Gbps. “Em muitos casos não é necessário substituir todo o link, basta trocar os elementos eletrônicos. Com isso é possível chegar a 40 Gbps ou 100 Gbps e, em um segundo momento, em até 1,6 Tbps”, explica. Uma solução como essa, diz o executivo, não apenas reduz os efeitos da deterioração das fibras como também mantém a transmissão de vídeo em alta definição, mesmo com um descompasso de até 250 picossegundos no link da fibra. “Equipa­mentos de rede mais antigos travam se esse descompasso atingir 40 picossegundos”, compara.

Para Cardoso, no entanto, eletrônica não é tudo. É preciso considerar todos os links de transmissão de dados. “O desafio não está só na última milha (backhaul), mas nas redes metropolitanas e nos backbones. A partir do momento que começa-se a ter grande quantidade de usuários com ultra banda larga, as três ficam igualmente críticas”, diz. Estudo recente do CPqD revelou que cerca de 38% de toda a planta óptica do Brasil apresenta falhas de dispersão de sinal (PMD, ou modo de dispersão de polarização, em português). Em outras palavras, possuem assimetrias e imperfeições que fazem com que as ondas viajem a velocidades diferentes e a propagação dos pulsos ópticos ocorra de forma aleatória, o que limita a taxa de transmissão de dados nas fibras. Além disso, 46% dessa infraestrutura tem seu sinal enfraquecido ao longo do cabo por apresentar atenuação acima dos 0,24 decibéis (dB) por quilômetro, valor mínimo recomendado por organismos internacionais. Entre backbone e backhaul, cerca de 30 mil quilômetros de fibras foram analisados. Segundo Edna Aparecida Sabatina Saito, da gerência de Marketing de Produto e Inovação Óptica do CPqD, a amostragem representa a realidade de toda a infraestrutura óptica do país. Grande parte ainda opera com hierarquia digital síncrona (da sigla em inglês SDH), uma tecnologia inferior ao sistema de multiplexação por divisão de onda de luz (da sigla em inglês DWDM), que permite a transmissão de dois ou mais comprimentos de onda simultâneos por um

mesmo meio de transmissão. “Nosso parque de fibras está bem desatualizado. Some-se a isso a mão-de-obra terceirizada, que muitas vezes corta e emenda essas fibras de qualquer maneira”, diz. Apesar da imunidade a interferências eletromagnéticas e da maior capacidade de transmissão de dados em relação aos cabos metálicos, os cabos ópticos são compostos de fibras de vidro ou de materiais poliméricos com capacidade de transmitir luz de diâmetros ínfimos, da ordem de micrômetros (mais finos que um fio de cabelo) até milímetros. Por isso, são muito sensíveis a torções, dobras, trações e demais condições de estresse. Daí a dificuldade que muitas equipes estão tendo para instalar redes de fibra na casa do assinante. Tendência é piorar Segundo a especialista, a tendência é que este cenário piore ainda mais se nada for feito. Isso porque os serviços estão exigindo cada vez mais largura de banda e, com a evolução das redes, o enfraquecimento, perda e dispersão dos feixes de luz ao longo do cabo óptico também aumentarão. “Neste ano começam a surgir as primeiras RFPs (solicitações de propostas) de sistemas de 40 Gbps e a expectativa é que os de 100 Gbps cheguem entre 2012 e 2013, no Brasil em 2014”, prevê. Ela cita o exemplo de uma grande operadora nacional que migrou uma parte de seu backbone de 10 Gbps para 20 Gbps. “Fizeram e o sistema caiu, pois 73% do trecho daquela infraestrutura não estava apto a atender esse aumento de capacidade”, revela.

“O desafio não está só na última milha (backhaul), mas nas redes metropolitanas e nos backbones. A partir do momento em que começa-se a ter grande quantidade de usuários, as três ficam igualmente críticas.” Wilson Cardoso, da Nokia Siemens 40 Teletime set_2011


PL 116 O executivo André Kriger, diretor de fibra óptica da Telefônica, acha que o PL 116, que abre o mercado de TV a cabo às teles, será a mola propulsora que faltava para um maior e generalizado investimento das teles nas suas redes de transmissão e acesso em fibra. Aprovado pelo Senado em agosto (mas ainda dependente de sanção presidencial), o PL 116 abre caminho para que as operadoras de telecomunicações assumam o controle das operações de TV a cabo e o vídeo, como se sabe, é o serviço que mais demanda capacidade de transmissão. A Telefônica começou há alguns anos a investir em uma nova rede de fibra óptica. “Já esperávamos o

“Como o vídeo é o ‘buraco negro’ do tráfego, quanto mais banda você dá ao cliente, mais vídeo ele vai querer consumir” André Kriger, da Telefônica PL 116 faz tempo. Sabíamos que isso iria acontecer e, como o vídeo é o ‘buraco negro’ do tráfego, ou seja, quanto mais banda você dá ao cliente, mais vídeo ele vai querer consumir, lançamos muito mais fibra que as demais operadoras”, diz. De fato, nenhuma outra tele tem investido tanto em fibras ópticas domiciliares no Brasil quanto a Telefônica desde 2009. A incumbent foi a primeira a apostar no fiber-to-the-home (FTTH) e atualmente sua rede passa de 500 mil home-passed no estado de São Paulo. Desde agosto do ano passado, oferece planos de 100 Mbps, conta com 25 mil clientes FTTH e pretende ampliar essa base a um milhão até 2015. Mas, apesar dos bons resultados colhidos, Kriger não acredita que a oferta da ultra banda larga se restrinja às redes FTTH. “As tecnologias baseadas em DOCSIS ainda têm uma evolução pela frente e não podemos desprezar concorrentes com 4 milhões de clientes”, diz, referindo-se ao padrão de transmissão de dados da arquitetura híbrida de fibra e cabo coaxial (HFC) e à Net, que construiu uma boa base de assinantes por meio dessa tecnologia. A GVT é outra que vem obtendo ótimos resultados, porém com rede de par trançado (xDSL) combinada com backhaul em fibra, apesar de também disponibilizar FTTH, só que por demanda. A estratégia de ambas: levar a fibra óptica cada vez mais próxima da casa do cliente. Em diversos pontos, a operadora curitibana instala seus armários com fibra a uma média de 70

“Com uma tecnologia de cable modem DOCSIS 3.0 é possível chegar a até 100 Mbps, mas não com banda garantida a todos os assinantes ‘pendurados’ na central.” Nelson Saito, da Furukawa set_2011 Teletime 41

metros da casa do assinante. Daí até os domicílios, é cabo metálico com ADSL 2 ou VDSL, preferencialmente. Ou­ tra estratégia para fornecer a ultra banda larga é ampliar a quantidade de armários e “pendurar” um número cada vez menor de assinantes por armário. “Com uma topologia assim e com uma tecnologia de cable modem DOCSIS 3.0 é possível chegar a até 100 Mbps, mas não com banda garantida a todos os assinantes ‘pendurados’ na central”, diz Nelson Hiroshi Saito, diretor técnico da Furukawa. Hoje, os desafios enfrentados pela Telefônica ainda são na padronização de equipamentos e na formação de mão-de-obra para trabalhar na construção das redes. Na parte de rede interna, a Telefônica está optando por modelos alternativos para agilizar as instalações. “A distribuição dos sinais para os pontos de TV, por exemplo, estamos começando a fazer com a rede de cabos coaxiais que já existe dentro das residências”, explicou Kriger durante a ABTA 2011, lembrando que a fibra, de qualquer maneira, continua chegando até um ponto da residência escolhido pelo usuário. “Essa rede de cabos de TV permite que a gente distribua até 100 Mbps”, diz Kriger. Para Luis Andrade Lima, diretor de operações e tecnologia da Algar Telecom, primeira operadora a oferecer acesso comercial residencial no Brasil a 1 Gbps, a implementação da rede de fibra abre novas possibilidades de serviços e a garantia de uma rede de ultra banda larga simétrica e preparada para o futuro. “Descobrimos que quando colocamos velocidades muito elevadas na rede, os equipamentos do usuário, como o roteador doméstico, o terminal de Wi-Fi e mesmo os computadores não estão preparados para velocidades superiores a 100 Mbps. Somos obrigados a trocar esses equipamentos em muitos casos”, diz. Lima aponta também a falta de padronização nos equipamentos de redes ópticas como um grave problema para as operadoras, e diz que os CPEs (terminais de usuário), ainda são muito caros.  FOTOS: daniel ducci

De acordo com a especialista, somente 4% de todo esse backbone carecia de substituição de cabos ópticos. Os outros 96% necessitavam apenas de medições, análises e algumas correções, sem grandes investimentos. Reparos de fusões malfeitas e instalações de multiplexadores em pontos estratégicos do link, segundo ela, foram suficientes para restabelecer a qualidade de todo o trecho. Neste ponto, Edna concorda com o executivo da NokiaSiemens. “Às vezes um equipamento multiplex é o suficiente e sete vezes mais barato que um regenerador”, diz ela. A executiva do CPqD cita outro dado para justificar a necessidade da consultoria de uma empresa especializada antes de a operadora construir ou buscar evoluir sua malha óptica: “a operadora gastará 30% em novos equipamentos para fazer o mesmo que faria com um simples serviço de análise e readequação da rede”, informa. Recentemente, o CEO da Netflix, Reed Hastings, segundo notícia veiculada no portal NextTV Latam, disse que os resultados da empresa na América Latina não serão tão bons quanto os do Canadá, primeira experiência da Netflix fora dos Estados Unidos. O motivo: a baixa oferta de acessos banda larga aos domicílios na região. Nos EUA, o provedor de vídeo tem 24,6 milhões de assinantes (dados de junho) e pretende levar seus serviços a 43 países da América Latina até o final de 2011. A abertura do escritório da empresa no País está aguardada para setembro.

Daniel Machado


.:Recursos humanos

Wilian Miron

miron@convergecom.com.br

Os desafios da formação

Disputa por profissionais começa cada vez mais cedo e empresas buscam modelos de parcerias com universidades e centros de treinamento internos para formar colaboradores sob medida.

I

nvestir na formação dos funcionários tornou-se fator preponderante para as operadoras de telecomunicações. Em função disso, os programas de ‘caça-talentos’ se tornaram um conceito cada vez mais comum às empresas do setor, que buscam ganhos em eficiência e competitividade, ao fabricar seu próprio funcionário. Na TIM Brasil, por exemplo, todos os olhares estão voltados para os programas de estágio e talentos (trainee) “Sem Fronteiras”, duas das principais formas de suprir a demanda por profissionais qualificados dentro da operadora. “Queremos essas pessoas cada vez mais cedo”, conta Fernanda Abreu, gerente de desenvolvimento de recursos humanos (RH) da companhia. A estratégia da empresa é pegar os profissionais ainda na universidade ou, no máximo, dois anos após o término do período de estudos, para complementar a formação deles com a prática dentro da companhia. Além das questões relacionadas às áreas específicas, a empresa também investe em competências de gerência e outras especialidades. “Damos aos funcionários uma formação de gestão também, para deixá-los preparados para assumir novos desafios na carreira”. Juntos os programas treinam hoje cem

pessoas, que são avaliadas periodicamente e podem deixar a empresa caso tenham baixo aproveitamento. “Mas no caso dos talentos, de quem fica na empresa, após três anos pode até complementar a formação com cursos no exterior”. Outra iniciativa da empresa para fomentar o mercado, atrair funcionários e colaborar com a formação de mão-de-obra é se manter próxima às universidades. “Abrimos nossas instalações para visitas e levamos profissionais às instituições de ensino, para que eles façam palestras”. A Alcatel-Lucent também aposta em parcerias com escolas para agregar conhecimento prático aos futuros profissionais da área de telecom. De acordo com Rafael Pedrosa Fernandez, diretor da universidade corporativa da empresa, atualmente existe um acordo com o Centro Universitário da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) para desenvolver pessoas que desejam trabalhar com redes IP, um dos focos da companhia. Fernandez comenta que o projeto é direcionado para ampliar o conhecimento dos professores e levar experiências às salas de aula. “Ofe­re­cemos mais espaço para que eles interajam com o mercado”. Na visão do executivo, esta iniciativa

Como atrair os melhores talentos 3 Desenvolver um programa de treinamento e estágio que agregue conhecimento sobre a área de atuação dos colaboradores e a respeito dos conceitos da empresa. 3 Oferecer ambiente agradável aos funcionários. 3 Ter plano de desenvolvimento e carreira para quem se destaca.; 3 Fazer parceria com as universidades, para atrair os alunos. 3 Divulgar e cuidar da imagem da empresa como boa empregadora

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ajuda na hora de trazer pessoas para dentro da empresa, porque divulga as oportunidades que os estudantes terão caso optem por trabalhar na AlcatelLucent. “O profissional que a gente está buscando é de redes IP e gente que entenda de telecom, alguém que tenha este conhecimento”. Ele destaca que o grande problema para se conseguir trabalhadores em algumas áreas do setor decorre da evolução constante das tecnologias à disposição do mercado. “O currículo das universidades não é compatível com a realidade do mercado, porque surgem novas tecnologias a cada dia. Há uma defasagem”, diz. “Vemos essa evolução nos próprios produtos que usamos. Há cinco anos não existia iPhone, iPad e outros dispositivos que têm toda uma tecnologia por trás”, completa o executivo. Segundo o diretor da universidade corporativa da Alcatel-Lucent, o canal direto com os formadores oficiais de mão-de-obra facilita no trabalho de garimpagem dos grandes talentos de áreas importantes, como engenharia e TI. “Certamente os melhores alunos estarão mais perto de uma vaga na empresa”, afirma. Fernandez avisa aos jovens que almejam uma oportunidade sobre a necessidade de se destacar no programa de estágio, promovido pela Alcatel. Atrair é fundamental O sucesso dos programas de formação profissional oferecidos pelas empresas depende da postura do empregador, que deve sempre fidelizar os colaboradores, oferecendo oportunidades para quem deseja deslanchar na carreira. Esta é a opinião de Andreza Santana, gerente de marketing da Monster, consultoria internacional de recursos humanos. “As companhias terão que ser cada vez mais atrativas para o funcionário, pois o mercado de trabalho mudou e elas estão vendo que não são mais as todo-poderosas”, diz, ao justificar que “o mercado de trabalho está passando por


“vivemos em um cenário onde não é mais o funcionário quem corre atrás do emprego e, sim, o contrário.”

FOTOS: divulgação

empresa que entra na disputa transformações e, hoje, vivemos em simplesmente com valores. “Se um cenário onde não é mais o funeles têm expectativa de crescer cionário quem corre atrás do e saem da média, certamente emprego e, sim, o contrário”, condarão resultados e terão clui. aumentos na remuneração de É com apostas como esta que a maneira natural”, diz George Ericsson tem investido em seu proAndreza Santana, da Monster Bettini. “Hoje a maioria dos grama de estágio, que recebe anualcandidatos já tem um plano mente uma média de 12 mil candide carreira e prefere as temente, dificuldades para datos para 50 vagas. “Nossa melhor empresas que vão investir contratar. “Eles provavelpropaganda é a satisfação interna, pois o neles”, conclui. mente estarão em treinacolaborador é quem faz o boca a boca”, Fernanda Abreu, gerente mento a partir do segundo comemora Vera Gobetti, vice-presidente RH da TIM Brasil, também vê mais vansemestre do próximo ano, porque de recursos humanos da Ericsson no tagens na formação de profissionais ainda estamos em fase final de planejaBrasil. Ela acredita que o sucesso dos dentro da empresa, em vez de contratar mento para a nova turma”. Após entrar programas de formação de mão-de-obra do mercado a preço de ouro. Para ela, a no programa, os estagiários ficarão na deve-se às oportunidades de crescimento grande diferença está no fato de a comempresa por 12 ou 18 meses, e os que os funcionários veem na empresa. panhia ter a oportunidade de desenvolmelhores têm grandes chances de “Quando eles enxergam uma política de ver o profissional ‘sob demanda’. “Tem serem contratados. O gerente de RH da crescimento atrelada a desafios, certauma série de valores da empresa que operadora acrescenta que, para colher mente vão pensar dez vezes antes de nos eles conseguem absorver, enquanto bons frutos e sustentar seu crescimentrocar por uma concorrente”, declara. uma pessoa que vem de fora não terá”. to, a GVT impõe critérios rigorosos de Para a executiva, deixar o departaA executiva também destaca a questão seleção e acompanhamento dos jovens mento de RH mais próximo dos trabalhada má formação dos prodores é também uma maneira de reter fissionais e os vícios do os talentos lapidados nos programas de mercado como pontos formação, estágio e trainee, justificando negativos na hora de os custos com treinamento e garantindo buscar mão-de-obra fora. competitividade à empresa. “Temos mais “Esses problemas comede sete mil colaboradores e a satisfação çam na base da pirâmide. Portanto, profissionais. “Nos últimos anos fizedeles é o nosso principal marketing”. trazer do mercado muitas vezes é um mos um reforço em nossa estrutura de Na GVT a qualificação dos funcionárisco”, diz. “Mas é claro que tem tamrecrutamento e, inclusive, parceria rios ajuda a reduzir o peso dos super bém suas vantagens, ele oxigena os com as agências de caça-talentos de profissionais, que chegam à empresa processos, traz coisas novas”, conclui. A Curitiba”, explica Bettini. com altos salários. “Temos suprido algugerente de RH da TIM afirma que hoje a mas necessidades com a capacitação principal dificuldade da operadora é Vantagens interna”, comenta George Bettini, gerenencontrar gente com as capacidades Buscar talentos precoces nas univerte de recursos humanos da operadora. que a empresa quer, “profissionais que sidades, ou mesmo em programas de Ele também destaca que a propaganda não se contentem com o status quo”. O treinamento, ajuda as empresas a fugir positiva dos funcionários tem contribuídiretor da universidade corporativa da das guerras de salário para tirar funciodo para atrair novos colaboradores para Alcatel-Lucent, Rafael Pedrosa nários estratégicos da concorrente. “Esse a empresa. “Temos recebido um número Fernandez, disse que entende a guerra movimento diminuiu muito, principalsignificativo de currículos para cargos de de salários como um problema, tanto mente porque os profissionais entendem média gerência para cima. Este é um para a empresa quanto para o funcionáque ganhando inicialmente um salário movimento que não víamos antes”. rio, “porque, no longo prazo a remunealto, eles podem ficar estagnados”, A guinada da GVT nesta área aconração acima do mercado acaba pesando comenta. Ele acredita que uma empresa teceu em meados de 2007, quando a para a companhia e o emprego da pesque capacita os profissionais e mantém empresa desenvolveu o “Edutec”, um soa pode entrar em risco”. planos de carreira tende a atrair mais projeto de carreiras, que aliviou a presPor outro lado, a vice-presidente de funcionários de são por contratações em setores mais RH da Ericsson defende uma política de ponta do que uma escassos como: TI e engenharia. Devido estímulos no mercado ao sucesso da iniciativa, a empresa para os super profissioestuda ampliar o programa para a área nais. “A gente tem que financeira, hoje o calcanhar de Aquiles incentivar a competição do grupo, em franca expansão pelo saudável, inclusive com a Brasil. “Se não tivéssemos implantado, remuneração. Mas, é estaríamos com sérios problemas”. claro, se a pessoa troca Bettini conta que, em 2012, a empresa de emprego apenas pelo pretende recrutar e capacitar 17 pessosalário, no longo prazo as para atuar nas áreas onde atualVera Gobetti, da Ericsson  ela não fica”. mente existem gargalos e, consequen-

a má formação dos profissionais e os vícios do mercado são os pontos negativos na hora de buscar mão-de-obra fora.

“Nossa melhor propaganda é a satisfação interna, pois o colaborador é quem faz o boca a boca.”

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Fabio Tagnin*

FOTO: divulgação

.:pontodevista

cartas.teletime@convergecom.com.br

O contínuo desafio da banda larga no Brasil

T

rânsito parado, semáforos desligados, iluminação pública apagada, pessoas na rua sem poder trabalhar, sem se comunicar com a família ou amigos, cenas de depressão, desespero e agonia. Não é a descrição de um terremoto, tsunami ou o fim do mundo. É o possível retrato do momento em que a Internet parar. Talvez seja exagero dizer que a Internet mudou tudo, mas é seguro dizer que o comportamento humano, o conhecimento, a rotina diária e a maneira como trabalhamos e nos relacionamos com as pessoas e com o mundo sentiram a sua pesada influência. Hoje quase tudo está em rede ou é parte integrante da rede. Há algumas semanas foi comemorado o “Dia da Internet” em alguns países. Mas será que aqui no Brasil temos realmente o que “comemorar”, com nossos índices de uso, disponibilidade e qualidade dos serviços ofertados de acesso à rede por banda larga? De acordo com o Relatório Global de Tecnologia da Informação do Fórum Econômico Mundial, de 2009 a 2010 os países da América Latina (representados por Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia e México) tiveram aproximadamente 6% de penetração da conectividade de banda larga e os custos de assinatura foram dez vezes mais caros do que os preços dos países da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) – considerando Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Espanha. No ritmo atual, ainda vão décadas para que os países da América Latina alcancem os níveis da OCDE: a região tem 45% de penetração da Internet e 6% de penetração da banda larga, enquanto a OCDE apresenta 85% de penetração da Internet e quase nove vezes o percentual de penetração da banda larga. Uma pesquisa realizada pela consultoria Point Topic no fim de 2010 demonstrou que a América Latina tem a conecti-

vidade de banda larga mais cara do mundo. De acordo com o relatório, o preço médio por Mbps cobrado para o DSL é superior aos US$ 22. É mais caro do que o cobrado no Oriente Médio e África (US$ 20). A conectividade de banda larga mais barata do mundo pode ser encontrada em Hong Kong: US$ 0,028 por Mbps, seguido por Japão (US$ 0,048/Mbps). Pen­ sando nisso, a Telecom Advisory Ser­ vices LLC solicitou que a GSM Association calculasse o impacto dos impostos no desenvolvimento do segmento de banda larga móvel nos países emergentes. Esta pesquisa foi baseada em estudos de casos de países como México e Brasil, cuja tributação é considerada bastante pesada. O estudo chegou à conclusão de que para cada dólar reduzido dos impostos, os países emergentes gerariam um PIB adicional variando entre US$ 1,40 e US$ 12,60. As desvantagens econômicas da banda larga fixa tornam a banda larga

móvel uma solução possível para o desafio do acesso rápido à Internet. No entanto, apesar da importância fundamental da banda larga sem fio, México e Brasil adotaram uma estratégia de taxação que reduz seu potencial de penetração ao incluir ainda encargos adicionais para a compra de aparelhos e serviços. Tais impostos dificultam a difusão dessa tecnologia, em especial no Brasil. A difusão da banda larga hoje parece ser essencial, já que a conexão discada não é uma opção aceitável nem mesmo para a população de baixa renda. Pesquisa realizada pela Intel no País apontou que, entre os que possuem acesso à Internet em casa, 80% tem banda larga fixa. Além disso, mais de 60% dos donos de PCs no Brasil não podem viver sem acessar a Internet diariamente, além dos 13% que não possuem PC, mas navegam todos os dias. Partindo da experiência e de casos de sucesso em outros países, observa-se que para a implantação eficiente de sistemas compatíveis com a necessidade que o mercado apresenta, é indicado que indústria, governo e universidades discutam e desenvolvam juntos os melhores modelos para a realidade brasileira e, a partir daí, criem iniciativas que sejam eficientes para o consumidor final, rentáveis para os fornecedores do serviço, e que contribuam para o fortalecimento da economia. Só aí, finalmente, desastres naturais à parte, talvez possamos evitar que a cena descrita logo no início desse texto seja causada por falta de infraestrutura tecnológica. E teremos algo a celebrar em um “Dia da Internet”, falando com orgulho de banda larga e conectividade em nosso País. 

apesar da importância fundamental da banda larga sem fio, México e Brasil adotaram uma estratégia de taxação que reduz seu potencial de penetração.

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*Diretor de expansão de mercado da Intel Brasil.


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.:ponto&contraponto

A nova cara da TV por assinatura

A

aprovação do PLC 116 muda a cara da televisão por assinatura. Haverá novos players e as operadoras de telefonia, entrando no setor sem nenhuma maquiagem ou disfarce, vão fazer com que o cenário de distribuição de canais e pacotes fique turbinado. Com a participação de grupos com recursos para investir pesado na atividade, espera-se muita ação e muita novidade, em primeiro lugar utilizando as tecnologias já autorizadas, e em curto prazo com a entrada pesada de IPTV. Mais tarde, as novas outorgas permitirão que qualquer grupo possa inclusive desenvolver seu negócio local de TV por assinatura, além de permitir a entrada de grandes grupos especializados neste negócio. A Anatel se prepara para abrir novas autorizações em municípios onde não há serviço de cabo e expandir a competição nos mercados onde já existem empresas prestando o serviço, desde que haja manifestação de interesse. Assim, um mercado que era há alguns anos extremamente controlado e regulado, com as limitações da Lei do Cabo, com outorgas limitadas e carente de capital, fica agora escancarado. O resultado que se espera e que justifica esta mudança é a alegação de que assim poderá haver maior concorrência, melhores conteúdos, menores preços e melhor qualidade, beneficiando o usuário. É o que a expectativa de um mercado com múltiplos concorrentes nos traz. Os elementos introduzidos pelo PLC 116 trazem um alento de modernidade para a área de comunicação de massa, inclusive com a autorização de participação de capital estrangeiro. A grande crítica, como exceção ao caminho da modernidade, é a de obrigar conteúdos nacionais sem critérios de qualidade, criando novos cartórios e entidades ineficientes, como marca do Brasil retrógrado. Acabamos dando passos à frente, mas no final sempre um passo para trás. Redes modernas e regulação moderna permitirão ofertas de programação, voz e banda larga nas redes triple play com qualidade e com grande capilaridade pelo país afora, à semelhança de outros países que enxergaram esta necessidade há mais tempo e já vêm trilhando este caminho com determinação, coerência e continuidade.

Alguns cuidados, entretanto, devem ser tomados, pois a TV por assinatura se desenvolveu nos últimos anos graças a uma situação favorável de renda, que ampliou a massa da população que pode ter acesso e pagar por este serviço. Destaque-se ainda a valorização do real frente ao dólar, que permitiu que os custos dos conteúdos ficassem menos proibitivos para as distribuidoras. É um fator importante, pois como o mercado de língua portuguesa sempre foi menos relevante que o de língua hispânica, nossos custos da programação importada foram sempre muito mais altos do que os pagos no resto da América Latina. O real forte faz com que esta relação fique mais suportável pelas distribuidoras, mas pode não ser uma relação permanente. A movimentação internacional e as crises econômicas podem afetar esta balança no longo prazo.

O PLC 116 traz um alento de modernidade para a área de comunicação de massa. Outro elemento relevante para a popularização do serviço são os pacotes populares de entrada, que enfrentam a concorrência da TV aberta, que no Brasil é de boa qualidade. Outro aspecto importante do PLC 116 é aquele que separa os mercados de produção e distribuição, impedindo que as operadoras de telefonia e de TV por assinatura sejam também produtoras de conteúdo e vice-versa. Essa separação veio do temor de que os grupos de telecom entrassem na área de mídia e conteúdos. Essa política se choca com o relato feito por Jeff Shell, presidente mundial da NBC Universal International, o braço internacional da empresa que é controlada pela Comcast, durante a ABTA 2011. A razão do sucesso do maior operador de cabo dos Estados Unidos é exatamente a de ser o dono de conteúdos de vários estúdios e bandeiras, o que faz da NBC Universal, ao lado da Comcast, o maior conglomerado de mídia do mundo. Diante deste cenário que se desenha, de modificação do cenário da TV por assinatura no Brasil, é surpreendente que Jeff Shell destaque a estratégia da Comcast de utilização de conteúdos próprios para alavancar sua oferta 46 Teletime set_2011

de TV a cabo.Vale lembrar que no início deste ano a Comcast adquiriu por US$ 32 bilhões a NBC Universal da GE, se tornando um grupo de mídia e distribuição com faturamento de mais de US$ 50 bilhões. Com esta aquisição do conglomerado da NBC, a Comcast incorporou uma grande gama de canais, estúdios e conteúdos com marcas famosas como Universal, USA, E! e muitos outros. A estratégia declarada da Comcast é levar canais de TV, banda larga de qualidade e voz, em pacotes variados e alavancando sua presença e atratividade com conteúdos premium. Shell manifestou interesse em participar deste mercado no Brasil, e se este interesse estiver ligado à distribuição por cabo, poderá ter problemas com a interpretação do PLC 116, por exemplo. O mesmo vale para teles que queiram entrar em conteúdo, como a Vivendi, controladora da GVT. Esta colocação estratégica da Comcast tem um quê de ironia para o mercado brasileiro, pois a história do setor de TV por assinatura começou com a Abril e a Globo apostando que a TV por assinatura era veículo para seus conteúdos. Desde o início do mercado, no começo dos anos 90, se lançaram em uma competição ferrenha onde o diferencial competitivo estava associado aos conteúdos exclusivos de cada rede de distribuição. Com o tempo, essa estratégia mudou e os grupos de comunicação venderam as empresas de distribuição. No momento em que os grupos de mídia estão se afastando desta atividade de operar TV paga, vemos justamente a Comcast revivendo aquela estratégia de valorizar seus conteúdos para alavancar o negócio de distribuição. É uma tese que tem seus fundamentos, ainda que para gerar mais valor, o conteúdo tenha que ser distribuído no maior número de plataformas concorrentes possíveis. Esta ideia de valorizar conteúdos já passou por algumas tentativas que não tiveram sucesso, como o caso da AOL e Time Warner. No Brasil, contudo, a coisa fica mais complicada, pois passa a ser tema de lei e não de decisão de negócios. É uma reviravolta que vai levar algum tempo para ser totalmente implantada e assimilada, e pode ser que não seja a última vez que as coisas mudam. 


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