Revista Tela Viva 149 - maio 2005

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os braços operacionais dos grandes estúdios formadores da DCI, preocupam-se com a estruturação econômica da mudança tecnológica, que consumirá, na mais conservadora proposta, valores próximos a US$ 10 bilhões, destinados à compra dos equipamentos de projeção, dos sistemas de transmissão, das centrais de processamento e ao controle/fiscalização da circulação dos conteúdos. Sendo a parte privilegiada pela queda de gastos em cópias e de seu tráfego, é evidente que os distribuidores serão os principais financiadores da mudança tecnológica. Janelas Os futuros investimentos não são, contudo, os únicos problemas dos estúdios. A atual estrutura da indústria cinematográfica é baseada nas carências dos prazos de exibição entre as diversas “janelas de exibição”. A oferta de um filme nos veículos hoje existentes segue a seguinte seqüência: theatrical, video-home, pay-per-view, pay TV e TV aberta. Estabelece-se um prazo de exclusividade para cada um deles, de forma que, enquanto não se cumprir o período previsto, o veículo subseqüente não terá o material disponível. Essa mecânica tem sofrido pressões para que se reduzam os prazos de cada elo da seqüência, em decorrência do aumento da pirataria. No Brasil, por exemplo, vive-se uma intensa discussão, visto que alguns distribuidores não estão respeitando o prazo de 150 dias entre o lançamento do filme no cinema e o video-home, chegando a lançá-los em 90 dias. A tendência é de que as carências entre “janelas” reduzamse cada vez mais. A forma de se explorar rapidamente um filme será ofertá-lo em um maior número de salas. Parece muito simples e eficiente, mas, na realidade, embute um problema muito sério: sendo o

filme ofertado em maior escala, haverá uma sensível queda na arrecadação proporcional por cópia, prejudicando, em especial, as salas com maiores freqüências e preços de ingressos mais altos. Os distribuidores serão obrigados a alterar as remunerações vigentes, reduzindo sua participação. Ao mesmo tempo, os riscos aumentarão, já que os gastos promocionais são os principais investimentos nesta etapa de comercialização que é a vitrine do sistema, o ponto de partida que determinará o sucesso ou fracasso de um filme nos outros veículos. Este processo pode ser resumido da seguinte forma: um filme será lançado em um número muito maior de salas do que hoje se faz; ficará em cartaz por um período mais curto; exigirá uma recuperação dos investimentos mais rápida e com maior risco; e os

no mercado cinematográfico. Pelo que se apresenta, passaremos por um período de fusões e incorporações tão intenso que alguns autores afirmam que não haverá mais que cinco ou seis grandes operadoras no sistema de informação e entretenimento. Viabilização É claro que dentro desse macrouniverso sobram espaços para atividades regionais ou limitadas a segmentos de mercado. A tecnologia digital pode viabilizar a exibição de filmes com menor potencial comercial, como os filmes de arte e as cinematografias regionais, que têm dificuldades em circular num mercado fortemente concentrado, em que os grandes estúdios norte-americanos possuem mais de 80% da arrecadação mundial e no qual as 20 maiores bilheterias do ano atingem até 60% das freqüências computadas. Neste sentido, a Rain Networks, com mais de 60 cinemas no Brasil, é uma importante colaboradora na circulação de filmes que dificilmente chegariam às grandes telas. A implantação do cinema digital é um aspecto importante, mas não urgente para a indústria cinematográfica. Fará parte do vasto repertório de decisões que a indústria cinematográfica, em especial as majors, terão que tomar acerca das políticas de comercialização e das especializações de cada meio e veículo, ficando subordinada a interesses em que os aspectos técnicos serão as determinantes que menos pesam. Por outro lado, a dilatação dos prazos e a contínua evolução técnica dos equipamentos farão com que a exibição pública digital tenha um perfil bastante diferenciado, mesclando interatividade, realismo propiciado por captações em 3-D e uma qualidade de imagem que a distanciarão do cinema doméstico de alta definição.

A implantação do cinema digital é um aspecto importante, mas não urgente para a indústria cinematográfica. distribuidores/pro­dutores terão suas participações reduzidas. E, ainda, deverão arcar com grande parte dos investimentos bilionários da implantação da tecnologia digital. Nada alentador Há de se convir que o acima apresentado não é muito alentador aos grandes estúdios e que são muito bem-vindas as vozes que afirmam que, quanto mais se conseguir postergar tais decisões, mais adequadas e amadurecidas serão, permitindo, também, que se solucionem questões como a oferta de filmes pela Internet ou as tentativas de entrada de fortes corporações informáticas (como a Microsoft) ou de empresas de telefonia

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