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Álcool

Álcool

e diabetes

O consumo de bebidas alcoólicas por pessoas com diabetes não é proibido, desde que sejam observados alguns cuidados

Até parece clichê, mas é impossível não falar deste tema sem citar a frase que vem ao final de todas as propagandas de bebida alcoólica: “beba com moderação”. A advertência também é uma recomendação médica quando o assunto é diabetes e álcool. A boa notícia é que os diabéticos não precisam deixar de beber sua cervejinha com os amigos nos finais de semana ou se privar de tomar um champanhe nas festas de fim de ano, mas é importante adotar certos cuidados.

Moderação significa não beber mais do que dois drinques por dia para os homens e apenas um no caso das mulheres. Uma dose equivale, em média, a 360 ml de cerveja, a 45 ml de bebida destilada e a 150 ml de vinho (veja mais no box). As restrições são válidas tanto para quem tem quanto para quem não tem a disfunção. Os diabéticos que têm o hábito de beber precisam estar com a glicose bem controlada e devem se alimentar durante o consumo. 30 | Vida Saudável & Diabetes


Essas recomendações são fundamentais, já que o álcool é absorvido no estômago e no intestino, mas grande parte é metabolizada pelo fígado. Se a ingestão da bebida alcoólica for mais rápida do que o tempo de digestão do organismo, ela percorrerá a corrente sanguínea e chegará a outros órgãos. “O consumo de bebida alcoólica jamais deve ser feito em jejum por causa do risco de hipoglicemia”, alerta o endocrinologista Roberto Betti, coordenador do Centro de Diabetes e Doenças Metabólicas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Em excesso, o álcool prejudica o raciocínio, diminuindo, ou até mesmo suprimindo a capacidade de perceber ou reconhecer os sintomas da hipoglicemia. Assim, é importante fazer a ponta de dedo antes, durante e depois da ingestão e entender as variações glicêmicas que acontecem nessas ocasiões. É importante ficar atento aos episódios de hipoglicemia que podem ocorrer até 24 horas depois do consumo da bebida.

M edicamentos

e insulina

A aplicação da insulina ou o uso de agentes orais não devem ser esquecidos por quem tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas. Da mesma forma, não é recomendado aumentar a dose do medicamento, pois as chances de hipoglicemia, nestes casos, são maiores. O endocrinologista Roberto Betti chama a atenção dos pacientes tipo 2 que fazem tratamento com a metformina. Se associado ao consumo de altas doses de álcool, o fármaco pode causar graves danos ao fígado. “Além disso, o álcool estimula o apetite e leva o paciente a comer mais do que o necessário, favorecendo o descontrole glicêmico”, completa o endocrinologista.

A aplicação da insulina ou o uso de agentes orais não devem ser esquecidos por quem consome bebidas alcoólicas. Da mesma forma, não é recomendado aumentar a dose do medicamento.

Já a nutricionista Tarcila Beatriz Ferraz de Campos ressalta que o álcool é uma fonte de energia vazia, ou seja, não oferece nutrientes importantes à saúde. “Pelo contrário, ele possui sete calorias por grama e, dessa forma, favorece o aumento do peso e diminui a absorção de vitaminas e minerais, o que leva a carências nutricionais”. O corpo enxerga a substância como uma toxina (e não como uma fonte de energia) e age tentando expulsá-lo. Quem utiliza o método de contagem de carboidratos deve considerar a ingestão de bebida alcoólica no cálculo. De acordo com a endocrinologista Lidiane Indiani, é preciso tomar cuidado com doses de correções de insulina muito próximas. “Se contar, por exemplo, 30 gramas de carboidrato e injetar insulina exatamente para essa quantidade, dependendo do alimento ingerido, pode causar um efeito hipoglicêmico”, explica.

O

que beber ?

As bebidas destiladas como uísque, conhaque, vodca e aguardente têm alto teor alcoólico. Elas são purificadas através de um processo que envolve ebulição e destilação a partir de uma substância fermentada, como frutas e grãos. Precisam ser consumidas pelos diabéticos com muito cuidado, pois a absorção delas no organismo é mais rápida do que os demais líquidos e, por isso, podem causar hipoglicemia. Em contrapartida, as bebidas fermentadas (ou não-destiladas) apresentam teor alcoólico inferior. Isso ocorre porque, quando o processo atinge alta temperatura, os microorganismos morrem e a fermentação para. Vinhos, cervejas, espumantes e sidras são alguns exemplos. Contudo, elas geralmente são adocicadas, o que faz com que a glicemia suba. “Evite bebidas açucaradas, que contenham leite condensado ou suco de frutas. Se for o caso, use adoçante e frutas de baixa quantidade de carboidrato, como maracujá e limão”, orienta a nutricionista Tarcila Ferraz de Campos. O vinho, que costuma gerar dúvidas nas pessoas, não é proibido e quando consumido com moderação traz benefícios ao coração. O endocrinologista Roberto Betti sugere optar pelo tinto seco. “Ele é o ideal para os pacientes com diabetes, e tem, inclusive, efeitos benéficos para o sistema cardiovascular”, avalia.  Vida Saudável & Diabetes| 31


Álcool

Quais são os riscos?

Pessoas que têm complicações de saúde relacionadas ao diabetes, como obesidade, dislipidemias (aumento dos lipídios – gordura – no sangue, principalmente do colesterol e dos triglicerídeos), pancreatite e impotência sexual, correm riscos mais graves se tomarem álcool em excesso. Além disso, o quadro também pode gerar neuropatia diabética, afetando os nervos, principalmente em extremidades do corpo como os pés e as mãos; aumentar a pressão sanguínea e pode agravar a retinopatia diabética. “Por isso, é importante manter sempre o controle glicêmico estável e evitar o consumo em excesso de bebidas alcoólicas”, enfatiza a endocrinologista e educadora em diabetes, Lidiane Indiani.

E se passar do limite?

Os sintomas da hipoglicemia são parecidos com os da embriaguez, como fraqueza, dor de cabeça, visão alterada, tontura, mal estar, tremores, entre outros. Nesses casos, o aconselhável é ingerir 15 g de carboidrato de rápida absorção (mel, açúcar, suco de frutas e refrigerante não diet) e medir a glicemia após 15 minutos para verificar se houve aumento dos níveis de glicose no sangue. “É de extrema importância hidratar o corpo e fazer a medição em intervalos regulares, já que pode haver hipoglicemia tardia”, finaliza a nutricionista Tarcila Ferraz de Campos.  Fontes: Lidiane Indiani, endocrinologista e educadora em diabetes na ADJ Diabetes Brasil; Roberto Betti, endocrinologista e coordenador do Centro de Diabetes e Doenças Metabólicas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo; Tarcila Beatriz Ferraz de Campos, nutricionista, educadora na ADJ Diabetes Brasil e Mestre em Ciências com Ênfase em Fisiologia Endócrina pela USP

Fotos: Dreamstime e Shutterstock

CONTAGEM DE CARBOIDRATOS

CAIPIRINHA COM AÇÚCAR Medida: 1 copo Peso: 200 ml Calorias: 187 Kcal Carboidratos: 33 g CERVEJA Medida: 1 lata Peso: 350 ml Calorias: 147 Kcal Carboidratos: 13 g

ESPUMANTE Medida: 1 taça Peso: 100 ml Calorias: 85 Kcal Carboidratos: 12 g

UÍSQUE Medida: 1 dose Peso: 50 ml Calorias: 120 Kcal Carboidratos: 0 g

CHOPP Medida: 1 copo tulipa Peso: 290 ml Calorias: 122 Kcal Carboidratos: 11 g

VINHO BRANCO Medida: 1 taça Peso: 80 ml Calorias: 70 Kcal Carboidratos: 10 g

CONHAQUE Medida: ½ copo Peso: 100 ml Calorias: 231 Kcal Carboidratos: 0 g

VINHO TINTO Medida: 1 taça Peso: 80 ml Calorias: 64 Kcal Carboidratos: 9 g

SAQUÊ Medida: 1 dose Peso: 50 ml Calorias: 63 Kcal Carboidratos: 3 g

VODKA Medida: 1 medida Peso: 40 ml Calorias: 126 Kcal Carboidratos: 18 g

Fonte: Manual de Contagem de Carboidratos ADJ Diabetes Brasil

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