HISTÓRIA VIVA
José Bignardi Neto O gráfico que aprendeu a fabricar papel
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uito ligado ao avô, imigrante ita liano cujo primeiro emprego no Brasil foi como calceteiro, José Bignardi Neto começou a traba lhar aos 13 anos na J. Bignardi, gráfica da fa mília comandada pelo pai e pelo avô. Por volta dos anos 1950, o clã — José Bignardi e seus seis
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irmãos — chegou a ter três gráficas em ativida de na capital paulista: a J. Bignardi, o Estabe lecimento Gráfico Bignardi e a Irmãos Bignar di. A mais longeva foi a J. Bignardi, onde José Bignardi Neto aprendeu o ofício de linotipista. José Bignardi faleceu em 1947 e oito anos de pois José Bignardi Neto, já formado em Conta bilidade pelo Mackenzie, incentivou o pai a sair da J. Bignardi, cabendo a eles na divisão um dos préd ios da gráfica. No ano seguinte, 1956, en xergando boas oportunidades nos segmentos de cadernos e listas telefônicas, José Bignardi Neto deixou definitivamente a antiga gráfica para fundar a Jandaia, na rua de mesmo nome, no centro de São Paulo. Enquanto esforçava-se para dar corpo e rit mo à Jandaia, o empresário, casado desde 1955 com Ilza, acalentava o sonho de fabricar papel. A chance surgiu em 1972, com a compra da Gordinho Braune, que produzia celulose e pa pel em Jundiaí (SP). Como relembra Ricardo, fi lho do empresário, na época da compra a Gor dinho Braune acumulava um grande passivo
trabalhista, que levou anos para ser saldado. Em 1978, per íodo em que Ricardo ingressou na empresa, a fabricação de celulose, pouco rentá vel, foi encerrada, permitindo a concentração de esforços na produção de papel. A unidade, bati zada poster iormente como Bignardi Papéis, foi modernizada e recebeu uma segunda máquina de papel em 1983, mergulhando no segmento de papéis especiais e reciclados a partir de mea dos dos anos 2000. Hoje, a fábrica é capaz de produzir 5.500 toneladas por mês. A década de 1980 e o ingresso da segun da geração também foram pródigos com a Jan daia Indústria Gráfica. Depois de mudar do cen tro da cidade para o bairro da Vila Guilherme, em 1985 ela foi transferida para o município de Caieiras, próximo da capital, centrando-se na fabricação de cadernos. Lá trabalham cer ca de 500 funcionár ios, que, somados aos 300 da unidade de Jund iaí, mais a equipe do Ataca dão Jandaia, aberto em 1993 na sede adminis trativa do grupo, no bairro do Pari, totalizam quase mil colaboradores.
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MUITOS PAPÉIS
José Bignardi Neto sempre esteve à frente dos dois negócios. Antes disso, já estava acostuma do a dividir seu tempo entre o comando da grá fica e a luta pelas bandeiras do setor. Ele esteve no famoso Congresso de Águas de Lindoia, em 1965, que resultou na criação da Abigraf Nacio nal, participando como diretor em algumas ges tões. “Quando comprei a fábrica de papel acabei me desligando”, comenta. “Sabe, o pessoal dizia”, conta ele em tom de brincadeira, “não convi da o Zé Bignardi que ele é fabricante de papel”.
Foto: Álvaro Motta
Foto: Álvaro Motta
José Bignardi Neto é um homem realizado. Aos 82 anos ele orgulha‑se de ter construído não só um grupo de empresas para carregar seu sobrenome, como de ter ao seu lado seus três filhos. Empreendedorismo, integridade e garra acompanharam sua trajetória, transformando‑o numa referência nos segmentos de cadernos e de papel. Tânia Galluzzi
1 Belo Almeida, representante comercial da Jandaia, em seu caminhão. Ele atuava como caixeiro viajante, comercializando os produtos da empresa nas cidades do interior do Estado de São Paulo. Década de 1930 2 José Bignardi Neto e a esposa, Ilza, no 2-º congresso da Abigraf Nacional, realizado na Guanabara (RJ). O evento contou com cerca de 500 pessoas, estando presentes delegações do México, Uruguai e Argentina. Maio de 1996 3 A MP1, primeira máquina de papel Voith que chegou ao Brasil, em 1924, instalada na fábrica da Gordinho Braune. Imagem da década de 1950 4 José Bignardi Neto e os três filhos, com quem divide a gestão dos negócios: (E/D) Ricardo, diretor comercial e financeiro; Beatriz, diretora administrativa e responsável pela unidade de Jundiaí; e Ivan, responsável pela área de marketing e pela fábrica de Caieiras e do Atacadão
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69 setembro /outubro 2013 REVISTA ABIGR AF