Take 38

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Título nacional: O Lobo de Wall Street Realização: Martin Scorsese

THE WOLF OF WALL STREET

Elenco: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie

2013 PEDRO SOARES

Vimos O Lobo de Wall Street em 2014 e percebemos que continua quase tudo na mesma no corpo de obra de Martin Scorsese. Vamos lá então conferir isso: Leonardo DiCaprio continua a ser o seu novo actor fetiche, continua a filmar histórias de mafiosos (entenda-se mafioso como em bandido vigarista e não como em membro da Máfia) e mantém os temas do costume - violência, dinheiro, esquemas, drogas... O que mudou então? Em O Lobo de Wall Street, Scorsese trocou os Rolling Stones do costume pelos bluesmen de Chicago. De resto, a oeste nada de novo.

a inflação e a dívida a entrarem-nos pela vida adentro sem pedir licença, é impossível não fazermos aqui uma comparação entre o ontem do filme e o hoje, mas (feliz ou infelizmente, fica à consideração de cada um) há pouco de sátira em O Lobo de Wall Street. O Lobo de Wall Street lembra Tudo Bons Rapazes, não tanto pela glorificação dos bandidos, mas pela estrutura e pelo ritmo infernal do filme. E, claro, com menos violência, mas com mais drogas (já dissemos que há mais drogas aqui do que em Scarface?). Como se Scorsese tivesse andado a ver Delírio em Las Vegas em loop, antes de se deitar. Há trips fodidas, orgias, lançamento de anões(!), coca snifada do rabo de prostitutas(!!) e muitas mais maluquices, provando pela milésima vez que a realidade é sempre mais estranha que a ficção.

O estilo continua igual - o ritmo mantém-se a cem à hora, se bem que aqui há mais drogas do que em qualquer filme anterior de Scorsese (ou mesmo incluindo o Scarface – A Força do Poder de Brian De Palma na mistura - e nós sabemos o quão difícil isso é), os diálogos atropelam-se e a violência e os excessos fazem parte do pão nosso de cada dia -, mas a banda-sonora tem, pela primeira vez, algumas falhas. Uns Greenday ou uns Foo Fighters lá pelo meio soam demasido aleatórios (leia-se manhosos), mesmo que haja a contrabalançar alguns momentos à Casino, em que há tanta música que é quase um teledisco (e isto é um elogio). Mas essa escolha musical deixa-nos tristes vinda de um autor que sempre nos habituou com o seu bom gosto impecável (c'um raio, estamos a falar do homem que realizou Shine a Light, A Última Valsa ou George Harrison: Living in the Material World).

No entanto, se espremermos do filme todo esse deboche, chegamos à conclusão que o que fica é um biopic algo pálido, à sombra do que Scorsese já fez de melhor. E isso é mau? Não, obviamente que não. Até porque tem 10 minutos geniais de Matthew McConaughey (que se transformou num actor formidável num processo de metamorfose tão rápido quanto imprevisto), um Jonah Hill transformado em actor sério(!), ele mesmo, que ainda há pouco tempo andava obcecado em desenhar pilas (olá Super Baldas) mas agora se sente suficientemente confiante para abanar a sua própria diante das câmaras, e uma tal de Margot *suspiro* Robbie. Ai, a Margot Robbie... Não faz esquecer Casino ou Tudo Bons Rapazes, confessamos, mas O Lobo de Wall Street entretém igualmente.

Mas deixemo-nos de música, mesmo que ela seja sempre um elemento importante nos filmes de Scorsese, e foquemo-nos na história de O Lobo de Wall Street: o relato verídico de Jordan Belfort (encarnado por Leonardo DiCaprio), o corrector da bolsa que dominou Wall Street no final dos anos 90, numa vida de esquemas e excessos. Não confundir com os esquemas de Wall Street de Oliver Stone e Michael Douglas, no filme homónimo de 1987. Devido à actual crise financeira, com a troika,

“(...)os diálogos atropelam-se e a violência e os excessos fazem parte do pão nosso de cada dia(...)” 111


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