"Samarcanda" - TAG Curadoria Fev/2022

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28 CRÍTICA

O livro dentro do livro BRUNA MENEGUETTI*

A história de Samarcanda é, desde o início, a história de um livro, de como e em quais circunstâncias essa obra teria sido escrita e de como fora perdida e reencontrada

Q

Jornalista, escritora e dramaturga. Autora do livro O último tiro da Guanabara, vencedor do prêmio Bunkyo de Literatura de 2021.

uando pensamos no Titanic, é difícil não nos lembrarmos do filme homônimo de 1997, dos seus personagens e do icônico colar de diamante azul que é perdido para sempre no mar. Samarcanda, de Amin Maalouf, traz ao nosso imaginário um novo objeto que teria sido engolido pelo oceano no naufrágio: um livro. Assim, a obra de Maalouf lança o leitor para dentro do seu romance histórico, um gênero literário em que muitas vezes o que parece ficção é verdade, e o que parece verdade é ficção. É verdade que um exemplar do Rubaiyat, de Omar Khayyam, estava em um cofre do Titanic em 1912, porém não é verdade que esse exemplar era o manuscrito original. Mesmo assim, o livro que afundou com o Titanic era importante. Ele havia sido encomendado pela livraria Henry Sotheran’s, de Londres, e imitava os manuscritos persas antigos, sendo composto de “mais de mil pedras preciosas e semipreciosas”, como rubis, turquesas e esmeraldas. Porém, quando Maalouf inicia sua obra, na verdade ele está interessado em contar o quanto a riqueza dos poemas de Khayyam e de sua vida não pode ser mensurada em joias. A história de Samarcanda é, desde o início, a história de um livro, de como e em quais circunstâncias essa obra teria sido escrita e de como fora perdida e reencontrada inúmeras vezes. Entrecortado a isso, percorremos a história do Oriente Médio, de Omar Khayyam e do próprio narrador Benjamin O. Lesage — personagem inspirado no americano que comprou o exemplar da Henry Sotheran's em um leilão em Londres, apenas


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