Estrada para Yellow Rose - A Sombra de Melinoë

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CONTOS

A som bra d e Mel inoë

SURYA


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A som bra d e Mel inoë

Parte 1

Sumário

Revelação 07 Parte 2

À mercê das sombras

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Parte 3

A fuga

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IMPORTANTE Este livro é um conto que faz parte da saga de Estrada de Yellow Rose. Todos os personagens e a narrativa estão diretamente ligados a história

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inicial principal do primeiro livro, LIANA. Este livro (A sombra de Melinoë) faz parte de uma série de contos complementares, então para uma melhor compreensão e experiência (e longe de spoilers) é melhor seguir a ordem de leitura: 1º Liana, 2º O primeiro Yänmir, 3º A sombra de Melinoë, 4º Dylan (sem data de previsão de lançamento). Se você já é fã da saga, uma ótima leitura. A autora

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A som bra d e Mel inoë

Revelação sol se punha naquela tarde de outono em Estrela de Ēlýsion, o paraíso oculto da humanidade. Um local que há muito servia de refúgio aos imortais. Um santuário para pessoas com habilidades extraordinárias. As árvores pareciam arder em chamas com suas folhagens em tons brilhantes de amarelo e vermelho. Ao amanhecer, as pequenas gotas de orvalho nas folhas refletiam os raios de sol em minúsculos arco-íris. Uma lebre malhada observava, curiosa, um homem que, há algum tempo, cortava lenha de uma antiga árvore caída no chão, ao lado de uma casa rústica. Próximo a este local se encontrava o lindo relógio da Fênix de Héstia, a deusa sagrada do fogo e protetora do lugar. O artefato era mágico, feito de resplandecente oricalco. Lascas de lenha voavam longe a cada batida do machado afiado. O homem fazia fluir através da ferramenta toda a força de suas frustração, raiva e tristeza.

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A pilha de madeira cortada aumentava a cada minuto ao seu lado. Não se importava se havia mais lenha do que o necessário para a lareira de sua casa e de mais cem residências... O suor escorria pelo seu rosto levemente avermelhado pelo esforço. Usando o dorso da mão protegida por uma luva de couro, limpou a testa devagar, inspirando e expirando lentamente. Queria relaxar, voltar a ter foco. Balançou os braços, sentindo dor pelo esforço contínuo, mas a ideia era trabalhar até o cansaço ser mais forte que a dor. Olhou à direita, para o relógio que brilhava como fogo em brasa mesmo ao cair da noite. Seus gnômons serviam outrora de poleiros, em certas horas do dia ou da noite, para repouso da Fênix. Segundo Admus, aquele relógio foi a única coisa que sobrou da cidade de Ēlýsion original. Ele permaneceria sempre aceso enquanto Héstia fosse a guardiã do lugar. Era a prova da existência dos deuses, que há séculos haviam sido esquecidos pelos mortais. Diferente dos relógios de sol comuns, este possuía dois gnômons: um deles marcava o horário local e o outro, o tempo do mundo exterior. Em Estrela de Ēlýsion, as horas se passavam a uma velocidade diferente daquela do universo dos mortais. O relógio era fundamental para qualquer saída para o mundo externo, principalmente em missões de resgate. Contudo, no dia em que sua filha nasceu, por algum motivo os gnômons se alinharam e desde então passaram a marcar o mesmo tempo do

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A som bra d e Mel inoë mundo dos mortais, como se essas duas realidades tivessem se tornado uma só. Finalmente, após mais três machadadas no tronco inerte, sentiu-se exausto e chegou à conclusão de que era hora de parar. Tirou uma mecha de cabelo que caía sobre seus tristonhos olhos azuis e deu o último golpe na madeira, ficando ali o machado como promessa de retorno para o dia seguinte. Dylan não percebeu quando Admus se aproximou, trazendo pela mão uma menina sorridente que correu em sua direção. — Papai! Viemos chamá-lo para o jantar. Ajudei a colocar a mesa. O vovô me auxiliou só um pouquinho. Coloquei todos os quatro pratos e não me esqueci dos talheres e nem dos copos. Dylan retirou as luvas que protegiam suas mãos e abriu os braços para acolher a garotinha, que saltou feliz sobre ele e foi erguida do chão. Então ela franziu o nariz levemente empinado e fez uma expressão de nojo; sacudiu os pés no ar e falou alto, de maneira inocente e sincera: — Nossa, você está todo suado! Quero descer! Dylan riu e colocou-a no chão. A menina ajeitou o vestido rodado azul com flores salmão, batendo com as mãos na saia para se arrumar, vaidosa. – Papai, eu vou na frente! Quero ver se está tudo certinho. Ainda preciso preparar o jantar para a Hipólita! A menina ficou nas pontas dos pés e exigiu um beijo do pai, que prontamente atendeu-a,

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beijando-a na testa: — Vai sim, filha, a sua boneca deve estar com fome! Eu vou daqui a pouco. Vou recolher a madeira para a lareira. – Não demora, pai, senão o jantar vai esfriar... E é desrespeitoso deixar outras pessoas esperando! – a menina deu um sorriso encantador, mostrando as covinhas nas bochechas: — Vovô, não deixa o papai se atrasar! A mamãe não gosta disso! Admus olhou de maneira singela para a pequena. — Está tudo perfeito, querida. Não vamos demorar. Vou ajudar seu pai aqui com a lenha. Os dois observaram Alexsandra correndo em direção à casa da família, dando boas tardes e boas noites às plantas, pedras e aos insetos que avistava. Entrou apressada na residência rústica, deixando a porta escancarada. Era possível ouvi-la enquanto cumprimentava a boneca e começava a cantar para ela. Admus exibiu um sorriso espontâneo. — Ela é uma Liana em miniatura. Terá uma personalidade forte feito a mãe, e será tão justa e digna quanto ela. Aproximou-se mais do filho, enquanto analisava a grande pilha de madeira. — Se vier o inverno que você espera, estamos perdidos. Toda essa lenha é para a nossa lareira, Dylan? Garanto que teremos fogo suficiente para fazer a Fênix parecer um vaga-lume. Dylan estava segurando as luvas em uma das mãos, e prendeu-as no cós da calça. Olhou discretamente para suas palmas, que exibiam feridas que mal haviam começado a cicatrizar. Fechou as mãos para disfarçar os ferimentos. – Não seja por isso... Amanhã eu vou dividir

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A som bra d e Mel inoë tudo em feixes para levar para as casas do povoado. – Dylan não queria ser ríspido com Admus, mas as palavras soaram duras. – Posso ver suas mãos, meu filho? – Não! Para que, pai? Eu vou recolher um pouco de lenha para usarmos... Admus rapidamente agarrou o punho de Dylan, apertando-o com força para obrigá-lo a abrir a mão. — Deixe-me ver isso. O jovem tentou soltar-se, em vão. Apesar de ser mais velho que Dylan, Admus havia sido um grande guerreiro no passado e continuava poderoso. – Não se engane, Dylan; apesar da minha idade, ainda tenho força o bastante para lhe dar um corretivo, se necessário. – Admus, então, suavizou a voz: — E tenho sabedoria o bastante para entender o que você está fazendo. Fora que, como um Paladino, sei quando alguém está prestes a explodir. Não se condene por sentir raiva. Agi da mesma forma várias vezes, no passado, enquanto empreendia a busca por Sofia, sua mãe. Dylan parou de tentar resistir e deixou que Admus visse os ferimentos. — Preciso descarregar essa energia, essa fúria, em alguma coisa. Enquanto trabalho, consigo me concentrar... Me desculpe, Admus, fui grosseiro com você e fiz com que se lembrasse de minha mãe. Sei o quanto isso ainda lhe dói... Tenho certeza de que Sofia está viva, e um dia ainda hei de conhecê-la. — Dylan sorriu. – Esse também é meu sonho, Dylan. Nós construímos este paraíso, e esse fato me dá

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confiança de que tudo é possível. Voltaremos a ver sua mãe, e você reencontrará Liana. Dylan suspirou, pesaroso. — Há seis meses que a procuro, depositando fé na sua esperança e nas suas palavras, Admus. Olhei todas as portas, abri todas elas... Vasculhei-as repetidamente, cada uma delas. Sempre acabo no mesmo lugar, na mesma praia. Admus soltou o rapaz e olhou novamente as mãos dele. Franziu a testa, preocupado. — Estranho... está demorando a cicatrizar. – Ando impaciente, estressado. Creio que meu estado emocional está interferindo no processo... Meu corpo está tensionado e minha mente, em conflito. Liana não está aqui, e eu sinto como se me faltasse um braço, um olho, o ar... Admus olhou para o rapaz com ternura, mas sua voz era como a de um pai a repreender o filho: — Dylan, Liana não é Laeriel. Ela é imortal como você, é forte, uma mulher que sabe se defender. Você não é mais um rapaz inexperiente, ignorante de suas habilidades. Não se deixe levar pelo desespero... Você tem Alex, precisa cuidar dela! Está agindo como fez há séculos. Não repita esse erro, ou cairá naquele mesmo estado de espírito, tornando-se amargo. – Eu sei. Quando perdi Laeriel eu era só um garoto. Minhas maiores preocupações eram terminar o berço para minha filha, saber se a cerveja estava boa para o consumo, trabalhar de sol a sol e cuidar da minha família. Será que eu poderia ter evitado a tragédia que se abateu sobre a aldeia?

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