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Barrancos, «Terra única»

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Barrancos, «Terra única» Bem contados são 300 quilómetros desde Lisboa até Barrancos, localidade raiana que registou recentemente uma marca: «Terra única». Uma contagem quilométrica a que se junta, no jogo das distâncias e proximidades, uma afinidade natural de fronteira. A geografia e o tempo assinaram uma aproximação entre a população de Barrancos e Espanha, com relações culturais e linguísticas. Em Barrancos fala-se barranquenho e dançam-se sevilhanas. As ruas, de casas caiadas, não escondem Portugal . Sob um sol generoso de Inverno ouvimos histórias de quem cresceu numa terra cheia de gente. Hoje, Barrancos conta pouco mais de dois mil habitantes. Sara Pelicano | quarta-feira , 16 de Fevereiro de 2011

Vai sinuosa a estrada, serpenteando a planície alentejana, verdejante neste Inverno chuvoso. A estrada não permite grandes distracções, nem paragens ao longo do percurso que conduz até à proximidade da fronteira com Espanha, onde se localiza a vila de Barrancos. Há muito que o alcatrão novo e as faixas de rodagem largas ficaram para trás. Entramos num Portugal profundo que se sente « abandonado» pelo Governo Central, como sublinha o presidente do município barranquenho António Tereno . As vias de acesso até Barrancos estão em avançado estado de degradação há anos . Segundo o autarca, « temos pedido verbas para o seu arranjo , mas nunca chegaram» . O casario branco segue os contornos do monte . Faz prever uma jornada de passeio, a subir e descer ruas inclinadas, muitas delas talhadas em degrau. A via que dá entrada na vila conduz até à praça, o centro fulcral da vida desta população, com perto de dois mil habitantes. Ao meio dia o Sol dá um ar da sua graça, depois de dias seguidos de neblina. Nas ruas todos procuram recarregar energias. Cruzamo-nos com os mais velhos, que ocupam os dias a jogar cartas, damas ou , simplesmente, a conversar sobre os tempos da juventude , mas também sobre as condições actuais do País. Uma conjuntura que obriga muitos familiares a procurar trabalho e melhores condições de vida noutras regiões nacionais, mas sobretudo voltamse para o outro lado da fronteira. Os poucos jovens que ficam em Barrancos a trabalhar conseguem emprego através da Câmara Municipal e no pouco investimento privado, como as fábricas de transformação do porco alentejano em presunto e enchidos. «Noutros tempos não havia reformas. Trabalhava-se até não se conseguir mais. Agora é diferente , temos esse rendimento e podemos viver a velhice com poucos trabalhos», conta José Elvira, de 73 anos. O último ferrador de Barrancos está sempre predisposto para a conversa – viemos a verificar qualquer barranquenhos enceta conversa sem dificuldade – e relata como era a vida na juventude. «Eu não trabalhava mesmo no campo. Era ferrador. Ferrava os animais que , por exemplo , iam depois fazer a debulha. Os agricultores depois de recolherem a sementeira, colocavam -na na eira, locais onde havia terreno duro. Os amimais iam para lá e pisavam. Por fim atiravam as sementes ao ar . Com vento , as sementes separavam-se da palha» , pormenoriza José Elvira. No entretanto já mais convivas ( inicialmente mais tímidos) se juntaram à conversa. O sino da Igreja Paroquial assinala hora certa. O tempo é de recolha a casa, onde aguarda o almoço e a sesta. Por aqui, os mais velhos não dispensam o hábito vindo do outro lado da fronteira. Partimos também em busca dos sabores. As ementas dos restaurantes fazem-se com entradas , onde não falta o presunto de Barrancos, um produto com Denominação de Origem Protegida ( DOP). A escolha é difícil: caldo de cação , lombinhos de porco preto, açordas e migas. Na gastronomia não há como negar que estamos em Portugal, e no Alentejo. Findo o repasto (a opção recaiu sobre o caldo de cação acompanhado com vinho tinto alentejano) calcorreamos o sobe e desce de Barrancos. As ruas são de pedra e, em muitos locais, há muros de protecção, devido à acentuada inclinação, feitos com xisto, matéria-prima local. A terra agora é « Única». O município viu reconhecido, pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, o registo da marca « Barrancos, Terra Única» . «A marca registada é de extrema importância , já que serve de diferenciação entre o município de Barrancos e os restantes concelhos» , diz António Tereno. As ruas estão desertas. O silêncio da vila é quebrado , num e noutro momento, pelos chocalhar das cabras e ovelhas que pastam muito próximo das casas mais periféricas. Além da paisagem rupestre, em Barrancos, há espaços culturais como o Museu Municipal de Arqueologia e Etnografia. Neste espaço museológico é possível retroceder no tempo através de vestígios romanos, islâmicos e de outras culturas que habitaram o território. Barrancos dista oito quilómetros da fronteira. A localidade espanhola mais próxima chama- se Encinasola. Do lado português, a terra mais próxima é Santo Aleixo da Restauração (freguesia de Moura) a 21 quilómetros . Desde tempos remotos , que as populações dos dois lados da fronteira vivem próximo, numa comunhão que vai além da geografia. Os barranquenhos deslocam- se aos mercados locais, às festas e mesmo para trabalhar. Os casamentos não são muito comuns, mas os namoros com espanholas eram frequentes no tempo de José Elvira. Com risos nervosos de quem recorda as travessuras da juventude , conta: « O grupo de amigos saía logo a seguir ao jantar. Percorríamos dez quilómetros a pé . Dançávamos nos bailaricos de lá toda a noite. Já o sol raiava quando voltávamos para casa . A minha mãe e o meu pai muito me ralharam porque pela manhã claro só queria dormir e não ajudava o meu pai». Já Manuel Coelho, cuja idade não revela , lamenta não ter ido aos bailaricos espanhóis, mas a vida « foi sempre de muito trabalhar e raríssimos momentos de descanso» . Também o senhor António, de 83 anos, não acorreu às festas porque andou por Lisboa, Estremoz e outros locais do País, em trabalho. Além dos namoricos , a fronteira fechada e a pouca massificação dos produtos, aliciava ao contrabando. Nenhum dos convivas confessou ter participado dessas andanças. Apenas José Elvira conta: «Tive um tio que contrabandeava café. Ainda foi apanhado algumas vezes pela GNR. Levavam uns cascudos e colocavam- nos na rua. O material apreendido, penso, vendiam- no depois». História diferente para contar tem José Carvalho, de 73 anos. Sentado num das cadeiras de ferro pintado de vermelho da Sociedade , nome de um dos cafés mais antigos da vila, José destaca-se na conversa por um barranquenho mais acentuado . Em Barrancos, fala -se barranquenho , dialecto entre o português e o espanhol, já considerado Património Imaterial de Interesse Municipal. O município procura agora a classificação como Património Linguístico Nacional. Numa primeira abordagem, a fala de José Carvalho parece apenas um barranquenho profundo. No entanto, a história dele leva -nos mais uma vez a Espanha, terra onde nasceu. Percebemos assim , que o barranquenho que fala é antes um espanhol com alguma pronuncia portuguesa. Retrocedemos uns anos na sua história. Entre 1936 a 1939, Espanha vivia em guerra civil . O conflito foi motivado por fortes rivalidades existentes entre as facções políticas de esquerda e de direita. Uma guerra, que tal como todas, cobrou vários preços, um deles humano : mais de 400 mil mortos. Durante os anos de conflito, junto à fronteira, foram muitos os que pediram auxílio. A família de José Carvalho foi uma delas. « Vim para Barrancos com pouca idade. Os meus pais refugiaram -se aqui na época da guerra. E aqui fiquei toda a vida », conta com olhar distante, preso na saudade e nos momentos difíceis que o rosto magro e enrugado deixa prever. As relações entre Barrancos e o outro lado da fronteira desde sempre terão sido próximas, mas durante a Guerra Civil a aproximação foi acentuada . Muitas famílias ajudavam, dando alimentos, a quem procurava no campo um refúgio do caos que reinava em Espanha. Os anos passaram e a proximidade linguística e cultural continua. O alcaide ( o equivalente ao presidente da câmara em Portugal) de Encinasola , Modesto Hierro Delgado , sublinha que a relação dos municípios é de «colaboração». « Temos os mesmos problemas . Estamos ambos afastados nos nossos poderes centrais. Somos raianos e temos de conseguir tirar proveito dos recursos locais e lutar para os colocar no mercado. Esta é uma tarefa difícil e procuramos encontrar estratégias comuns dos dois lados da fronteira para juntos ir à comunidade europeia procurar apoios », explica o responsável espanhol. O final do dia aproxima-se. O tempo é de recolha ao quente das casas. Apesar do dia de Sol ameno, ao escurecer o frio do Inverno faz- se sentir. Dirigimo- nos para a Pensão Vitoriano. As portas dos lares de Barrancos estão sempre abertas . Por isso , na pensão, propriedade de Maria Isabel, basta empurrar o postigo e meter a mão entre as grades. Puxamos o gatilho e entramos em sua casa, onde há muito acolhe hóspedes para quebrar a solidão que se instalou nos primeiros anos de viuvez. Voltou contudo a casar e é com o marido e uma vizinha que a encontramos. Está a contar a história sobre o prémio que ganhou há quatro meses e ainda não recebeu. «Telefonei para um desses programas de televisão e ganhei 1 500 euros. Disseram-me que em três meses recebia o dinheiro. Mas já vai em quatro» , conta a sentir- se enganada. Maria Isabel puxa -nos para a conversa. Em Barrancos é assim mesmo.

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28-04-2011 11:14:24


Floresta - «Temos condições fantásticas para sermos uma potência florestal»

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Floresta - «Temos condições fantásticas para sermos uma potência florestal» Paulo Castro, presidente da direcção da Acréscimo - Associação de Promoção ao Investimento Florestal, acredita que Portugal pode tornar-se uma «potência florestal» . A floresta como contributo para a economia do país , através da paisagem, dos recursos energéticos. O responsável defende que os políticos devem ser mais cautelosos no anúncio de avultados valores em linhas de financiamento e prestar mais atenção à aplicação desses mesmos dinheiros. Ou seja, garantir que são aplicados e que geram riqueza para o país. A Acréscimo nasceu em 2011 com o objectivo de contrariar a degradação do território florestal português. Sara Pelicano | terça-feira , 10 de Janeiro de 2012

Café Portugal - Em termos genéricos como caracteriza o actual momento da floresta portuguesa ? Paulo Castro - Segundo os discursos oficiais, estamos num processo de insustentabilidade de utilização dos recursos florestais. Temos uma floresta desprotegida , subaproveitada. Temos, numa primeira fase de cuidar daquilo que já existe e que está degradado por problemas com pragas e doenças que se vão alastrando. Cuidar daquilo que já está plantado , que está em crescimento e que pode gerar retorno a mais curto prazo. Depois fazer investimento em nova floresta, garantindo que haverá gestão activa subsequente. Quanto à população que trabalha a floresta , os últimos diagnósticos que conheço já datam de alguns anos mas apontam para um envelhecimento dos proprietários florestais no activo. Agora com o cadastro simplificado anunciado, sabemos que em grande parte da área florestal supostamente privada já não se conhecem os donos, ou os donos não conhecem o que têm . C .P. - Enumerou algumas das dificuldades que o sector atravessa . Pode pormenorizar? P.C . - Por um lado , há uma prática burocrática associada a projectos de investimento florestal que tem de ser revisada. A burocracia desmotiva grande parte dos potenciais investidores . Temos de ter em atenção que os potenciais investidores são os proprietários florestais que, na sua grande maioria, são pessoas já com alguma idade, logo com pouca paciência para aturar algumas loucuras burocráticas. Por outro lado , as taxas de financiamento decresceram sem que fossem criados mecanismos que pudessem servir de almofada a esse decréscimo de subsídios a fundo perdido. Do nosso ponto de vista, deveriam ser criados fundos de garantia ou mecanismos que apoiassem esse investimento que não fossem necessariamente subsídio a fundo perdido mas que fossem subsídio a fundo perdido acompanhado de linhas de crédito específicas. C .P. - Um desses fundos burocráticos é , por exemplo o PRODER ( Programa de Desenvolvimento rural de Portugal Continental) , em vigor pelo período de 2007 a 2013 . Conta, neste momento, com uma taxa de execução de apenas 5 %. O actual Governo já anunciou medidas para agilizar os processos de execução do PRODER? P.C. - Já solicitámos audiências com os responsáveis políticos mas ainda não se concretizaram. Aquilo que nos preocupa é a forma como essa taxa vai ser melhorada . Consideramos que maior aplicação dos fundos do PRODER deve acontecer garantindo o tal retorno económico para a sociedade e sobretudo garantindo que o investimento que vai ser feito na floresta é seguido de uma gestão activa desse território onde o dinheiro está a ser aplicado . É fácil anunciar investimentos de milhares de euros em meia dúzia de hectares. Mas tem de haver a garantia de que aquelas espécies, plantadas com financiamento, vão crescer e mais tarde vão gerar riqueza , seja pelos bens que geram ou pelos serviços que irão proporcionar. Temos de mudar aqui o paradigma , ou seja, não é só a aplicação dos dinheiros na floresta mas é a garantia de que esse dinheiro vai gerar riqueza para a sociedade. Isto o que queremos debater quando se realizarem as solicitadas audiências. C.P. - Na perspectiva da Acréscimo como poderá ocorrer essa mudança? P.C. - Numa primeiro fase, achamos que deve ser feita uma avaliação daquilo que foram a aplicação do dinheiro do Programa Agro , do PRODER, entre outros. Esta avaliação deverá ser realizada não no sentido de sacar responsabilidades mas no sentido de ver efectivamente o que correu mal , o correu bem e apostar sobretudo no que correu bem. Depois é assegurar que as verbas aplicadas efectivamente trarão retorno económico , ou seja, garantir que existem mecanismos que assegurem que , para além da aplicação dos dinheiros, haverá uma gestão activa da floresta onde esses dinheiros foram aplicados. Por outro lado, a criação de instrumentos financeiros que ajudem os investidores a suportar aquilo que é o seu investimento próprio, ou seja, aquilo que não é financiamento a fundo perdido. Em termos de aplicação do dinheiro, do PRODER, e estamos a pouco anos da conclusão deste quadro, termina em 2013, acho que o dinheiro deveria ser aplicado de forma muito concreta, não dispersa por pequenos investimentos mas aplicado naquilo que de alguma forma possa responder às maiores necessidades do sector e da floresta em si. C.P. - O abandono das terras, a burocracia, entre outros factores, levaram à perda de competitividade . Por exemplo, actualmente importamos material lenhoso num valor anual que ronda os 200 milhões. O que está mal na sociedade e políticas nacionais para ocorrer este cenário? P.C. - Temos de distinguir aqui uma prática da indústria, que recorre a importações para controlar os preços na produção nacional. Por outro lado, temos de fazer uma intersecção desse facto com a situação de termos um milhão e meio de hectares abandonados ou semi -abandonados. Não vemos que haja razoabilidade em grande parte das importações que são feitas. Aquilo que é a estratégia da própria indústria, do nosso ponto de vista, é condenável. Estão a enviar verbas para o exterior quando podiam ser aplicadas na floresta nacional. Mas de facto, há uma necessidade dessas importações face à escassez de matéria- prima e é previsível que tenha agravamento nos próximos anos . C. P. - Em Março de 2011 , o Governo liderado por José Sócrates anunciava um investimento na floresta de 745 milhões de euros, mas sem citar a origem do valor . Entretanto, o Governo mudou. Houve avanços em relação aos valores a investir no sector? P. C. - A Associação já questionou o actual Secretário de Estado das Florestas, Daniel Campelo, sobre essas afirmações feitas em Março do ano passado. Não obtivemos resposta. Suspeitamos que não haja enquadramento para essas verbas anunciadas. O que defendemos na Associação é que haja uma mudança em termos de postura política e que não se façam anúncios de milhões de euros para investimentos que depois não se concretizam . Este procedimento descredibiliza não só a classe política mas também o sector. Anunciar é fácil, concretizar nem tanto. C .P. - A população portuguesa paga, por exemplo, uma taxa no combustível, que deverá ser aplicada na floresta . Considera que esse dinheiro está a ser bem aplicado ? P.C . - Os contribuintes portugueses descontam , através de uma taxa no combustível, para o Fundo Florestal Permanente que necessita de uma avaliação urgente. Este fundo já foi alvo de várias críticas. Depois contribuem também para o PRODER [programa de desenvolvimento rural], que além de fundos nacionais tem também fundos dos contribuintes da União Europeia. Ora, é importante que haja, por parte de quem dispõe destas verbas, indicadores de transparência que demonstrem aos investidores , que são os contribuintes , de que há um retorno económico desse investimento. Ou seja, tem de haver resultados, não necessariamente em termos de retorno financeiro, mas em termos de retorno económico . Tem de haver a indicação de que a floresta que foi criada, ou a floresta que foi melhorada, vai gerar riqueza e que pode ser depois usufruída pela sociedade. C.P. - Quais as mais- valias associadas a um investimento na floresta? P.C. - Há a mais -valia que diz respeito à paisagem e ao próprio recreio, digamos assim, proporcionado pelas florestas . Há um conjunto de serviços, alguns contabilizados, outros não , que as florestas disponibilizam. As principais vantagens estão na área económica naquilo que é designado o sector florestal onde nós temos excelentes capacidades, ao nível da Europa, para produzir produtos de qualidade e temos prova disso: a indústria de celulose , de aglomerados. Efectivamente, temos uma boa cotação externa naquilo que produzimos . Temos a questão energética também. A floresta pode dar algum desempenho energético . E temos a questão da protecção dos recursos hídricos, da protecção dos solos, da paisagem , do lazer , da própria caça que permitem, no momento crítico que o país atravessa, gerar riqueza . A floresta contribui também para o bem -estar das populações rurais e pode reduzir a taxa de êxodo rural. A floresta, associada à agricultura, gera bem -estar às populações. Isso está provado em vários países da Europa, onde as regiões mais ricas são regiões onde há de facto uma boa relação entre a floresta e agricultura. Temos condições fantásticas para sermos uma potência florestal. Em Portugal, não se faça de crescimento de árvores a cem anos, mas em décadas. C.P. - A actual Ministra da Agricultura, Assunção Cristas, quer penalizar o abandono das terras. Em seu entender é este o discurso que o sector precisa ouvir, ou antes, o incentivo a quem produz para produzir mais? P.C. - O país precisa de gerar riqueza e de utilizar todo o seu potencial seja em prédio urbano, seja em prédio rústico. Nessa perspectiva não me choca que não sejam beneficiados aqueles proprietários rústicos que de facto não produzam riqueza. E este é um discurso diferente do que penalizar. O que defendemos é que quem não faz uma gestão do seu espaço , quem não produza bens e serviço à sociedade, não deverá ter benefícios. Mas esta questão implica que se conheçam os proprietários e, neste momento , estamos numa situação em que grande parte do país, sobretudo em locais onde a floresta está numa situação mais crítica, não se sabe quem são os proprietários. Essa medida poderá ser utilizada mas depois de ser feito cadastro. Contudo, nas regiões em que já há cadastro, não nos parece aceitável que essa medida seja já aplicada . Ou seja, uns por já terem cadastro a serem penalizados fiscalmente e aqueles que , por incúria do Estado, não se sabe quem é o dono vão permanecendo sem penalização. C.P. - A Acréscimo nasce em 2011 com que motivações? P.C. - A associação foi constituída em Agosto de 2011 . Reúne um conjunto de cidadãos de diferentes áreas, não apenas florestal, mas económica , educação, direito. Pessoas que , após uma análise dos últimos dez anos sobre as florestas e o sector florestal, sentiram necessidade de colocar o seu saber, conhecimento e experiência profissional no sentido de alterar aquilo que do nosso ponto de vista é o caminho para o desastre, num país que tem excelentes condições para evitar esse desastre. A nossa preocupação é com a floresta e com o sector florestal. Não nos preocupamos em ter muitos associados, queremos sim que quem se associe possa contribuir para contrariar a o estado de degradação deste sector. C.P. - Quais as acções que têm previstas? P.C. - Estamos a organizar uma série de seminários a nível regional. Está em estudo a possibilidade de envolver a classe decisora em eventos específicos. Estamos a trabalhar com grupos parlamentares e com comissões de agricultura e ambiente no sentido de criar talvez um grupo AD-HOC de deputados que acompanhem regularmente as questões de política florestal. Temos medidas para avançar ligadas ao financiamento ou criação de um fundo de garantia para servir de almofada aos investidores florestais naquilo que diz respeito ao investimento próprio. Temos acções que visam promover a gestão activa das florestas , quer com acções de formação profissional a técnicos , em que gostaríamos de envolver as universidades, quer com acções de sensibilização .

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10-01-2012 13:16:47


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Monsaraz - Com Alqueva, mas sem gente Franqueamos as portas de Monsaraz. Entre muralhas encetamos caminho e entabulamos conversas. Nas alturas, debruçados sobre Alqueva, ouvimos histórias deste Alentejo à beira lago. Joaquim, Francisco, Mizette, Fátima; quatro testemunhos de quem vive o dia-a-dia da vila acastelada no monte. Sara Pelicano | sábado, 6 de Junho de 2009

Apoiado na bengala Joaquim Ferreira senta-se no muro, acrescento da casa baixa, caiada de branco. Em Monsaraz, os dias correm devagar, o tempo serve para relembrar memórias e apreciar o Alentejo, agora, coberto de lagos. A terra que outrora acolhia cerca de 300 pessoas, hoje conta menos de uma centena. O turismo pode ser como uma âncora para o desenvolvimento, mas sete anos depois da conclusão da Barragem do Alqueva, a prosperidade desejada pouco mais foi além do que a palavra esperança. «Olha, então por aqui hoje!», exclama Joaquim Ferreira. Com dificuldade, levanta-se do muro, que sobressai da parede da própria casa, para dar as boas vindas ao amigo. «Fui a Évora e resolvi passar por aqui», diz o interlocutor, enquanto abraça Joaquim. Uma visita rápida que quebra o quotidiano destes alentejanos. Joaquim, 84 anos, nascido e criado em Monsaraz nunca saiu das portas desta fortaleza que remonta à pré-história. Prontamente, Joaquim corrige o que disse, como num rasgo de memória afirma: «Saí daqui sim, estive em Lisboa, na tropa. E agora vou a Reguengos de Monsaraz ou a Évora. Mas não gosto». Viagens curtas, que distam pouco mais de 10 e 50 quilómetros, respectivamente. «Não gosto porque significa que estou doente». Este é um dos custos da interioridade, a falta de serviços de apoio a uma população envelhecida. Os jovens contam-se pelos dedos da mão. Antigamente a vila tinha perto de trezentas pessoas e a escola primária ensinava quase 30 crianças. «Hoje está fechada», diz Francisco Gonçalves, residente em Monsaraz, que se aproximou do vizinho. Empregado na Junta de Freguesia, não imagina a vida noutra terra. «Quando tenho de sair muito tempo, só descanso quando estou novamente em casa», conta. Joaquim reclama a presença da mulher. Quer que cumprimente o amigo. Aqui não há pressas e a mulher de Joaquim lá chega, trazendo uma genica inesperada. Deixamos os amigos colocar a conversa em dia, e continuamos a calcorrear as ruas. O sol do final de tarde marca com sombras as ruas empedradas de casas brancas. As flores nas portas e um ou outro turista dão vida à vila medieval acastelada. Aproveitamos a companhia de Francisco, que a meio da tarde de trabalho tem tempo para dar dois dedos de conversa, para continuarmos o passeio. Na casa dos cinquenta anos, Francisco acredita que o turismo poderá ser a base para a reconquista da população. Mas não refere o Alqueva nesta sua fé no turismo. «O Alqueva só trouxe mais água e paisagem, mais nada», conta, com um pouco de desilusão na voz. «Antes as pessoas vinham e ficavam por aqui. Agora não. Chegam, vêem a paisagem e vão-se embora», conclui. Aqui e ali uma loja de artesanato e um café aconchegante. Estamos já perto do castelo, onde nos cruzamos com três crianças, que brincam na rua. «Ninguém segue. Ninguém se interessa» Francisco despede-se. Tem de regressar ao trabalho e ao dia-a-dia que gosta de preservar. Entramos no castelo. A altura e a localização geográfica, junto ao grande rio Guadiana, fizeram de Monte Xaraz (que poderá ser o nome original de Monsaraz) o local ideal para a fundação de um povoado. No castelo andamos em círculo, à volta da arena, onde ainda hoje se realizam corridas de toiros. Das três torres que dão corpo ao castelo avista-se a planície tomada pelas águas. Aqui compreende-se o alcance do nome atribuído à região desde 2002, quando a barragem fechou comportas e começou a encher. «Terras do Grande Lago» que colocaram sobre a mesa projectos turísticos de luxo, que potenciaram o turismo rural e os produtos locais, mas a uma escala muito menor do que o espaço submerso pelo rio Guadiana. No regresso à Porta da Vila, cruzamo-nos com Joaquim. Continua sentado no seu muro privativo, mas disponível para quem passa. O amigo já foi embora. Junto à porta que serve de entrada e saída da vila, as mantas alentejanas dão vida à parede caiada. A figura de uma senhora de cabelo e olhos claros desperta curiosidade. Não é turista, mas também não é portuguesa. Mizette Nielsen, assim se chama esta mulher,

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26-08-2009


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reconhecida por terras do Alentejo e além fronteiras por manter a tradição das mantas alentejanas. De origem holandesa, está em Portugal desde de 1962 e na vila desde o 25 de Abril de 1974, quando comprou a fábrica de lanifícios. «Aproveitei o saber e a técnica deles», afirma Mizette. Actualmente tem quatro artesãs a trabalhar, mas já foram mais. Por razões várias mas sobretudo pela pouca procura, as pessoas foram deixando o ofício. Embora os teares maiores estejam em Reguengos de Monsaraz, no dia em que o Café Portugal percorreu Monsaraz, na loja de Mizette estava uma artesã, Fátima que trabalha o tear com a destreza que 20 anos de experiência lhe proporcionam. «Fiz o curso profissional e gostei disto. Dediquei-me», comenta fazendo uma pausa na elaboração de uma manta. Com algum ressentimento diz: «quando eu e a outra colega deixarmos isto, ninguém segue. Ninguém se interessa». As mãos voltam a entrançar os fios de lã, o som do tear preenche a sala decorada com as coloridas mantas alentejanas. Hoje são motivo de decoração, antigamente aqueciam os pastores nos rigorosos invernos alentejanos.

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26-08-2009


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Cortiça - Um contrato entre gerações Junho leva para o sobral um frenesim de trabalho. Com os dias quentes, antecipando o Verão, inicia-se o «descortiçamento» do sobreiro. Ao tronco da árvore é retirada a pele protectora: a cortiça. Dependendo da idade das árvores, assim será a qualidade da cortiça. A melhor demora e a espera é longa, levando décadas. À conversa com Luís Dias, produtor, ficamos a saber que se obtém uma boa cortiça ao fim de 40 anos. Ou seja, quem lança à terra a promessa de sobreiro, faz um legado de valor à geração seguinte. Foi um pouco deste contrato geracional que o Café Portugal quis conhecer. Sara Pelicano; fotos: APCOR | terça-feira, 2 de Junho de 2009

O Sol vai alto, mas o trabalho metódico de «descascar» o Quercus Suber, o nosso sobreiro, não pára. A conversa entre os «tiradores» (assim se chama a quem tira a cortiça da árvore) flui enquanto as mãos, auxiliadas por machados, cortam e arrancam a cortiça à árvore. Abre-se, separa-se, traça-se, extrai-se. Um trabalho metódico e cheio de saber este o de «descortiçar», ou «despelar», retirando a pele áspera à árvore. A operação é delicada, exige atenção. Em causa pode estar a sobrevivência da árvore. Há que não ferir com o machado a parte de dentro dos sobreiros. Há, também, que desinfectar o machado se se desconfiar de doença na árvore. Acima de tudo, nunca tirar do sobreiro demasiada cortiça. Por outro lado há que saber quando parar. Quando a cortiça «não dá», deve-se suspender o «descortiçamento». A tira é a primeira etapa de uma longa viagem que termina, muitas vezes, à mesa, quando retiramos a rolha a uma garrafa de vinho. «A principal aplicação da cortiça, representando 70% das utilizações, é a rolha», comenta o director-geral da Associação de Produtores de Cortiça (APCOR), Joaquim Lima. Termina a tira em mais uns quantos sobreiros. No campo, as longas pranchas de cortiça aguardam o momento de serem empilhadas. Antigamente, carregavam-se para a estrada a esforço de burro. O almocreve dava as ordens. Hoje, o trabalho tornouse menos penoso, faz-se com máquinas de arrasto. Passo seguinte: a «cura». «Após o descortiçamento, as pranchas de cortiça são empilhadas ainda no sobreiral ou em estaleiros dentro das instalações de uma fábrica. Aí permanecem expostas ao ar livre, ao sol e à chuva, segundo as regras restritas definidas pelo Código Internacional de Práticas Rolheiras (CIPR), de forma a permitir a estabilização da cortiça», acrescenta o representante dos industriais de cortiça. Na prática a pilha deve permitir a drenagem da água e a circulação do ar. A «barriga» das pranchas não deve entrar em contacto com o solo. As idades da cortiça: Os sobreiros revelam agora o pardo avermelhado, sem protecção. Com tinta branca, inscreve-se indelevelmente, em unidades, o ano da «despela». Um «9», como bilhete de identidade para a árvore que começa, então, um novo ciclo de regeneração. Uma nova casca «que, daqui a nove, dez anos, está pronta a ser, novamente, retirada», conta o produtor de cortiça, Luís Dias. Os sobreiros deste agricultor passaram de geração em geração. «Só assim a actividade é lucrativa», acrescenta Luís Dias. Prontamente, o produtor explica: «A cortiça de qualidade é obtida ao final de 40 anos de plantação do sobreiro, as anteriores são inferiores. Temos aqui um investimento de muito longo prazo. O meu avô plantou sobreiros, o meu pai também, e eu faço o mesmo, para darem cortiça de qualidade daqui a 40 anos». A primeira cortiça que se extrai do sobreiro (a «desbóia»)chama-se virgem, de qualidade inferior, com muitos poros e saliências, destinando-se à tritura. Depois, nove anos volvidos, sai a cortiça «secundeira». À terceira extracção chama-se «amadia». A cortiça proveniente da primeira extracção é de pior qualidade. Ao longo da uma vida que pode tocar os 200 anos, o sobreiro verá até 16 tiras de cortiça. A incontornável rolha: As rolhas são uma das muitas aplicações da cortiça. O recurso natural é reconhecido também pela capacidade de isolamento, pela utilização em pavimentos e, mais recentemente, em peças de design. «A cortiça estabelece uma relação ancestral com o vinho, através da rolha e busca, constantemente, novas aplicações, com mais design, com mais valor acrescentado», afirma o representante das indústrias, Joaquim Lima. Carteiras, chapéus-de-chuva, sapatos são algumas das novas aplicações da cortiça. Mas, voltemos às rolhas que têm, principalmente, a função de preservar o vinho. Antes de chegar à boca da garrafa, é longo o percurso da rolha.

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31-08-2009


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Joaquim Lima resume-nos essa viagem: «No caso da rolha de cortiça, ela é cozida em água a ferver de modo a tornar a sua estrutura mais regular e o seu volume aumentar em cerca de 20%. Após a cozedura, decorre a estabilização da cortiça. Em seguida a selecção das pranchas, mediante o seu calibre, de modo a separar os defeitos que as mesmas possam conter. Segue-se a «rabaneação» (as pranchas de cortiça são cortadas em tiras com uma largura ligeiramente superior ao comprimento da rolha a fabricar) e a «brocagem» (processo manual ou semi-automático que consiste em perfurar as tiras de cortiça com uma broca, obtendo-se uma rolha cilíndrica)». Chegados a este ponto, o mundo aguarda a rolha portuguesa, que representa «2,3% do valor das exportações totais portuguesas e cerca de 30% do total das exportações portuguesas de produtos florestais», conclui o responsável pela APCOR. No campo, a jornada chega ao fim. É tempo de arrumar o farnel que deu energia durante as tarefas corticeiras. O rumo agora é o descanso. Até Agosto o dia-a-dia será árduo, no braseiro estival do Alentejo. Vale o companheirismo que a lide proporciona. Cortiça além fronteira No Alentejo, os sobreiros são uma marca distintiva da paisagem e juntamente com o Ribatejo, formam, a nível nacional, as maiores manchas desta árvore. Já a indústria de transformação distribui-se por 12 distritos, sendo o concelho de Santa Maria da Feira e de Setúbal os mais significativos. As 800 indústrias corticeiras têm no mercado internacional a sua principal fonte de rendimento. Mais de 90% do que produzem é para exportação. França ocupa o principal destino, com cerca de 20%, seguindo-se os Estados Unidos da América, com 15%, Espanha (13%) e Alemanha (8%). A conjuntura económica mundial desfavorável também se tem reflectido nesta actividade registando «uma quebra de 2007 para 2008, na ordem dos 20 milhões de euros, mas acreditamos que este ano possa ser possível inverter esta tendência», explica Joaquim Lima, da APCOR. Ainda há futuro: Luís Dias defende que o futuro da produção de cortiça é sustentável desde que passe de geração em geração. O produtor admite, no entanto, que mesmo neste processo de herança, os jovens fogem, muitas vezes, para os grandes centros urbanos. Já na indústria, o cenário altera-se. O futuro avizinha-se promissor, na opinião de Joaquim Lima. «A indústria de cortiça encerra em si a tradição, mas também a inovação, que aliadas à sustentabilidade fazem deste sector, um sector com futuro», conclui.

http://www.cafeportugal.net/pages/dossier_artigo.aspx?id=812

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