Leilão de julho de 2010

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suas ruas, de sua gente miúda, da festa do Bonfim, e da eterna mulher-dama do Pelourinho, das noites de São João, do mágico carnaval dos afoxés”. Apresentou seus trabalhos pela primeira vez em 1954, na Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais, Goiânia, participando a seguir das mostras 50 Anos de Paisagem Brasileira, 1956, e Artistas da Bahia, 1957, ambas no MAM de São Paulo, 1956; do Salão Baiano de Belas-Artes, 1964, ganhando a medalha de prata, e da I Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, 1966. Expôs individualmente no Museu de Arte Moderna da Bahia, 1961; no João Sebastião bar, São Paulo, 1964, e na Galeria Montmartre, Rio, em 1965. Obras suas integraram exposições como Gente da Terra, no Paço das Artes, São Paulo, 1980; O mundo fascinante dos pintores naïfs, no Paço Imperial do Rio, 1988, e Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal, São Paulo, 2000. Bibliografia: Jorge Amado. Arte nos séculos. (São Paulo: Abril Cultural, 1969). Lucien Finkelstein, Jorge amado e outros. O mundo fascinante dos pintores naifs, cat. exp. (Rio de Janeiro: Paço Imperial, 1988). Nelson Aguilar (org.). Arte Popular: Mostra do Redescobrimento, cat. exp. (São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2000). Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais, em www. itaucultural.org.br (*) JOSE BENTO Franco Chaves Salvador, BA, 1962 De origem mineira, mas nascido na Bahia, tinha quatro anos quando se mudou, com os pais, para Belo Horizonte, onde ainda reside e trabalha. Era ainda menino quando entrou para o curso livre de arte de Arlinda Correia Lima, que fora aluna de Guignard, e nele permaneceu cerca de uma década. Entre 1981 e 1989 criou uma serie de miniaturas, com palitos de picolé, figurando cenas e ambientes. Algumas das quais foram expostas no Palácio das Artes, em 1989. Nesse mesmo ano, começou a realizar pequenas caixas de madeira e vidro, com interiores desenhados com mercúrio cromo. Com o mesmo espírito de miniaturista realizou trabalhos com barro e a partir dos anos 1990, passou a produzir esculturas com troncos tombados naturalmente, muitas vezes árvores raras e seculares, que recolhe na região da Mata Atlântica, na região fronteiriça dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Seus trabalhos mais recentes buscam superar os limites formais da escultura. Bento joga com a arquitetura através de silenciosas intervenções, constrói e desconstrói objetos, cria instalações interativas, fotografia, faz vídeos e avança para o campo das performances. Realizou poucas exposições individuais: em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, em 1989 e nas galerias Pace, em 1992, Manoel Macedo, em 1995, e na Casa Guignard, em Ouro Preto, em 1993. Mas tem participado intensamente de mostras coletivas, podendo ser citadas, entre outras, Oficina Cerâmica Terra (1989), Paixões Secretas, Museu Mineiro (1991), Prova dos Noves, Espaço Cemig (1991), Utopias contemporâneas, Palácio das Artes (1992), Chão e Parede (1994), todas estas na capital mineira, Prospecção, Galeria Subdistrito, SP (1990), Minerações, SP (1995), 5 artistas mineiros, Casa de America, Madrid (1996), A forma e os sentidos – Um olhar sobre Minas, Museu Ferroviário, Vitória (2000). Figurou ainda no Salão Nacional de Artes Plásticas, RJ (1990 e 1991), Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte (1991). Maria Izabel Branco Ribeiro apresentando a mostra Minerações, realizada no L.R. Escritório de Arte, na capital paulista, assim se referiu à obra do artista: “Por traz da obviedade aparente José Bento propõe jogos de significado onde forma, matéria e procedimento mantém relações estreitas. Constrói árvores de madeira e florestas de árvores. Cada elemento do conjunto está destacado do chão do espaço expositivo, mas integrado a um solo fictício, que em ultima análise é a sua própria constituição. Com o material tem trato de marceneiro experiente e permite ao formão que marque os objetos, como o escoar lento do tempo faz com os corpos.” KAMINAGAI, Tadashi Hiroshima, Japão, 1899 – Paris, França, 1982 Por decisão de seu pai, frequentou a partir dos 14 anos um monastério budista, que dois anos mais tarde o enviou para a Indonésia. Ali, trabalhou até os 27 anos em plantações de borracha, coco, café, milho e arroz. Mas, decidido a ser pintor, retornou ao Japão e de lá partiu imediatamente para Paris, onde foi acolhido por Foujita, que o aconselhou nas primeiras questões técnicas de pintura. Conheceu Kees van Dongem, que o apresentou aos grandes mestres da Escola de Paris, como Bonnard, Matisse, Marquet, Manguin, Braque, Chagall, Derain, Segonzag e Dufy, os quais passaram a emoldurar seus quadros na pequena oficina que ele montara na capital francesa. Começou a expor em 1930, participando dos salões das Tulherias e de Outono. Retornou ao Japão em 1940, mas ali um conselho de Foujita, o levou ao Brasil. Tomou um navio com a intenção de chegar ao México. Acabou aportando no Rio de Janeiro, no ano do ataque japonês a Pearl Harbor. No Rio, voltou a fazer molduras, tendo como auxiliares, em épocas diferentes, Tikashi Fukushima, Flávio-Shiró e Inimá de Paula. Pintor fovista, foi um típico representante da escola de Paris, expressando seus temas, antes de tudo, através da cor, que nele sempre foi vibrátil. Carregou sua pintura de um lirismo que é, ao mesmo tempo, uma lição de profundo amor à vida. Daí, também, a presença, ao lado da paisagem, de um outro tema recorrente, a flor, símbolo desse seu apego à vida, aos amigos, à família e, sobretudo, à própria pintura, fonte de prazer e de alegria. Soube captar e transmitir em suas telas a diversidade de nossa paisagem: o verde e a quietude amazônicas, a agitação e luminosidade das praias cariocas, o colorido da arquitetura de Salvador e São Luís. Nunca se manteve indiferente a essa diversa paisagem que o comovia. No Brasil, participou do Salão Nacional de Belas-Artes (1941), do qual seria júri em 1948, recebendo medalha de prata; e da Bienal de São Paulo (1953). Realizou sua primeira individual no Hotel Serrador, Rio de Janeiro (1946), à qual se seguiram outras em São Paulo, Salvador, São Luís e Belém. Retornou a Paris em 1956, um ano após realizar mostra na Embaixada do Brasil em Tóquio. Voltaria a expor no Rio de Janeiro (1980, 1981, 1985 e 1986), sempre na Galeria Realidade. No terceiro aniversário de sua morte, em 1985, foram realizadas mostras simultâneas do artista no Museu Nacional de Belas-Artes e na Galeria Realidade, levadas, a seguir para o Museu de Arte de São Paulo e a Galeria a Ponte, São Paulo. Em 1986, figurou na mostra “Tempos de guerra”, na Galeria Banerj, Rio de Janeiro. Bibliografia: Frederico Morais. Tempos de guerra, cat. exp. (Rio de Janeiro: Galeria Banerj, 1986). KAUFMANN, Arthur Mulheim, Alemanha, 1888 – ? 1971 Iniciou seus estudos de arte na Academia de Belas Artes de Dusseldorf, onde depois seria professor, prosseguindo-os na Inglaterra, Bélgica, França e Itália. Em 1922, organizou a primeira exposição internacional de arte moderna, do após-guerra, reunindo uma plêiade de artistas notáveis como, entre outros, Picasso, Matisse,

Emil Nolde, Kandinsky, Juan Gris, George Grosz, Paul Klee, Ernst Barlach e Lasar Segall. Entre 1933 e 1935, com o crescimento do nazismo na Alemanha, residiu e trabalhou na Holanda. Com a ajuda de George Gershwin emigrou para os Estados Unidos, onde dedicou grande parte de seu tempo a retratar personalidades do mundo cultural e científico, entre os quais, Einstein, Thomaz Mann, George Grosz, Dufy, Martin Buber e Edward G. Robinson. Quarenta desses seus retratos constituíram um tríptico sobre os refugiados alemães e austríacos que vieram para os Estados Unidos depois de 1933. O critico Harry Salpeter, comentando esta faceta de seu trabalho, escreveu: “Pintar um retrato é a prova mais dura para a integridade de um artista, e desta prova Arthur Kaufman saiu vitorioso. Em cada modelo ele pinta a si mesmo, no sentido que o seu estilo como artista está claramente em cada retrato, mas ele também pinta o modelo”. Kaufmann realizou exposições individuais em Amsterdã, Dusseldorf, Nova York ( Jewiss Museum e The New School), e também no Brasil. Em 1946, no Ministério da Educação e Saúde, reunindo 85 pinturas e desenhos, em 1948, na Galeria Domus e no Instituto de Arquitetos do Brasil, em São Paulo e, em 1964, na Petite Galerie. Um pequeno texto de abertura estampado no catálogo, assinado pelo escritor Afrânio Peixoto, membro da Academia Brasileira de Letras, surpreendeu o próprio artista e provocou protestos de artistas e intelectuais brasileiros. Diz a nota: “O Napoleão do século XX teve idéias artísticas como o outro. A respeito de pintores que desculpam suas extravagâncias, aludindo a que assim vêem a natureza, ordenou: “Aquele que vê o céu verde deve ser esterilizado”. Pena foi que o castigo não recaísse também nos admiradores de tais pinturas. Reapareceria a sinceridade na arte. O Sr. Arthur Kaufmann tem talento para não ter recorrido a tais estratagemas. Suas raízes européias deram, na América, uma floração, ecológica, que honra a moderna pintura americana. Nesta exposição com que nos honra, em visita ao nosso país, o gosto e a técnica se dão os braços e são eles que nos apresentam o grande pintor”. Kaufmann divulga, então, a seguinte nota: “A introdução a este catálogo escrita pelo Sr. Afrânio Peixoto, foi impressa antes que me fosse possível entender seu conteúdo, pois o meu conhecimento da língua portuguesa era, como ainda é, muito limitado. Numerosos artistas e jornalistas brasileiros protestaram contra as palavras do Sr. Afrânio Peixoto, que parecem perfilhar a idiota concepção de Hitler. Eu gostaria de sugerir que houve da parte daquele escritor uma grande infelicidade de expressão tanto me é repugnante a idéia de que se tenha pretendido inserir conceitos nazistas no catálogo de um homem que, na sua arte e em toda a sua vida, tem sido um inimigo do nazismo, por tudo que ele representa para a causa da humanidade e da cultura”. Em seu comentário sobre a mostra, o critico Rubem Navarra após protestar contra o texto de Peixoto e divulgar a nota do pintor alemão, escreve em certo momento de seu texto: “Nas paisagens como nas figuras dentro da paisagem, sucedem-se os ritmos de composição e os choques das manchas – tudo reclama a escala do cenário. Seja pela plástica, seja pelo clima. Há sempre dialogo dentro da paisagem. Dois grupos, em planos diversos, passeiam num parque. Idílio. Marinheiro e namorada, ama-seca e menino, segurando uma cobra de brinquedo. O espaço ao fundo, cortado em vários planos, não obedece ao menor naturalismo. Chega a ser quase abstrato, mas isto é uma tendência parcial e efêmera – não cai nunca na pintura plana. A matéria mesma é rica e vibrante de tons surdos. Como se pode concluir, o que domina em Kaufmann é o senso da paisagem. O grande cenarista compõe o seu mundo por meio de sensações insuspeitadas pelo olho comum.” Bibliografia: 1 - Rubem Navarra, Jornal de Arte, Prefeitura Municipal de Campina Grande, Paraíba, 1966. KOZO Mio Nagoya, Japão, 1923 Formou-se em 1946 pela Universidade Municipal de Arte de Tóquio. Começou a expor coletivamente em 1952 e individualmente em 1964. Participou de mostras nos museus municipais de arte de Tóquio (1952, 1953), Osaka (1953) e Kioto (1963, 1965, 1966), nos museus nacionais de arte moderna de Tóquio (19671969) e Kioto (1968), figurando ainda em diversas coletivas dos Estados Unidos, França, Nova Zelândia, Alemanha e na IX Bienal de São Paulo (1969). Entre as mostras individuais cabe destacar as que realizounas galerias Bonino de Nova York (1971) e Rio de Janeiro (1973). Esta última apresentada simultaneamente por Shigenobu Kimora, professor de Universidade de Kyoto e John Canaday, critico de arte do jornal The New York Times. Em seu texto o critico nova-iorquino define Kozo Mio como ummalabarista de perspectivas e escorços. Observa a seguir que suas pinturas fundem três das mais importantes tendências da arte contemporânea: Surrealismo, com reflexos de Magritte, Pop-Art e Op-Art, concluindo, porém, que a síntese das três e transforma em uma criação absolutamente pessoal e inovadora. Em 1970, ilustrou o romance de Norman Mailer, Uincêndio na lua, publicado à maneira de folhetim por um dos maiores jornais do país. Em dezembro de 1993 a Prefeitura deOsaka promoveu ampla retrospectiva de sua obra. Bibliografia: John Canaday, em cat. exp. Kozo Mio, Galeria Bonino, 1973. LAZZARINI, Domenico Viareggio, Itália, 1920 – Rio de Janeiro, RJ, 1987 Realizou seus estudos de arte com Rosai e Emílio Vedova, em Luca e Florença. Entre 1946 e 1950, participou de inúmeras coletivas em várias cidades italianas e também em Lausanne, na Suíça, e em Paris, destacando-se entre elas a Trienal de Milão e a Quadrienal de Roma, ambas em 1948. Veio para o Brasil em 1950, contratado como professor da Escola de Belas-Artes de Araraquara, SP. Ainda no interior de São Paulo, fundou a Escola de Belas-Artes de Ribeirão Preto, em 1954. Transferiu-se pouco depois para o Rio de Janeiro, onde ensinou técnica de pintura, durante cerca de duas décadas, no Museu de Arte Moderna. Participou da Bienal de São Paulo, em 1959 e 1961, do Salão Nacional de Arte Moderna, 1958-1961, do Salão Paulista de Arte Moderna, 1961, e do Salão Municipal de Belo Horizonte, figurando ainda nas mostras dos prêmios Leirner, São Paulo, 1959, e Formiplac, Rio de Janeiro, Trabalho e Arte, Rio de Janeiro, 1958, Arte Brasileira Atual, circulante por vários países europeus, em 1965, e do Festival Americano de Pintura, Lima, Peru, 1966. Realizou individuais na Piccola Galeria, Rio de Janeiro, 1958, e nas galerias paulistas Ambiente, 1959, São Luiz, 1960, Astreia, 1962, e cariocas, Módulo, Penguin, Gead, Dezon, PG, Barcinsky, 1960, e Morada, 1966. Guardando ainda resíduos figurativos, evoluiu em sua pintura para uma abstração moderada, para em sua fase derradeira recuar para um paisagismo amaneirado. Sua fase abstrata, com prevalência do branco e de matéria ricamente elabora, mereceu elogios da crítica brasileira. Bibliografia: Roberto Pontual. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969). Carlos Cavalcanti (coord.). Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, v. 2 (Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1974).

PAULO PEDRO Leal Rio de Janeiro, RJ, 1894 – 1968 Pintor primitivo, foi estivador, empregado doméstico e biscateiro antes de começar a pintar e esculpir intuitivamente. Começou fazendo navios de madeira, santos de barro, letreiros para pequenos comércios, plantas de casas e ainda decorando seu terreiro de umbanda com imagens de entidades. Começou a pintar ao mudar-se para Coelho da Rocha, subúrbio do Rio, e criando paisagens e naturezas-mortas, flores, nus, retratos, interiores, pinturas de costumes e de crítica social. Vendia seus trabalhos em ruas e praças do Rio, como o Passeio Público, onde certo dia foi descoberto pelo marchand Jean Boghici ao lado de um cartaz com a definição: “Pedro Paulo Leal, pintor espiritual”. Estimulado por Boghici, expôs em 1955 na Petite Galerie. Participou do X Salão Nacional de Arte Moderna (1961), da coletiva Huit Peintres Naïfs Brésiliens, em Paris (1965), Moscou e Varsóvia (1966) e da coletiva Artistas brasileiros contemporâneos, no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires (1966). Entre dezembro de 1999 e janeiro de 2000, Jean Boghici inaugurou em sua galeria do Rio de Janeiro uma exposição das obras do artista com a edição do livro Paulo Pedro Leal: pintor espiritual. Nesta obra, escreveu sobre ele Frederico Morais: Tudo nos antecedentes sócio-biográficos de Pedro Paulo Leal indicava o destino comum a milhares de brasileiros, uma miserável vida vazia de acontecimentos, submetida a preconceitos de toda espécie. Negro, pobre, alfabetizado mas inculto [...] ainda assim ele se tornou um artista. Ótimo artista. [...] Na escolha e tratamento dos temas, nas cores surdas, densas e pesadas de sua pintura e principalmente no modo como resolve espacialmente as suas composições, Leal distancia-se radicalmente dos pintores naïfs, escapando de todos os estereótipos de pintura ‘primitiva’. No principal de sua produção pictórica, é essencialmente urbano, socialmente comprometido e espacialmente ousado e inteligente. Bibliografia: Lélia Coelho Frota. Mitopoética de 9 artistas brasileiros (Rio de Janeiro: Fontana, 1975). Walmir Ayala. Dicionário de Pintores Brasileiros (Curitiba: Editora da UFPR, 1997). Frederico Morais e outros. Paulo Pedro Leal: pintor espiritual (Rio de Janeiro: Galeria Jean Boghici-Icatu, 2000). LEÃO, Carlos Rio de Janeiro, RJ, 1906 – 1982 Arquiteto diplomado pela Escola Nacional de Belas-Artes em 1931, fez parte da equipe que projetou o novo edifício do Ministério da Educação e Saúde a partir do risco original de Le Corbusier. Da equipe faziam parte Oscar Niemeyer, Jorge Moreira, Affonso Eduardo Reidy e Ernani Vasconcelos. Entre seus projetos arquitetônicos podem ser mencionados o Hospital de Campo Grande e a Casa do Bancário. Destacou-se também como desenhista de nus femininos. Sobre a mostra do artista na Galeria Dezon (RJ), reunindo desenhos feitos nas décadas de 1930 e 1940 em seu escritório de arquitetura no centro da cidade, escreveu Frederico Morais, em 1980: “Desenhos feitos de maneira desinteressada e espontânea, por isso mesmo mais livres. Feitos entre uma atividade e outra, descontinuamente, mais para manter a mão ocupada e a mente livre, sem uma destinação definida. Por isso são mais fluentes, os temas correndo soltos, sem recalques: erotismo, jogos de amor entre mulheres, a crítica ao militarismo e à burguesia. Camuflados nesses desenhos estão Matisse, Grosz e Picasso, ou seja, o lirismo linear, a crítica mordaz e um certo helenismo que se percebem no rosto de faunos que têm os homens e na plácida gordura de mulheres de seios redondos que se entregam gostosamente ao amor. Do harém ao prostíbulo, a distância é pequena, como mostraram Ingres e Picasso. E nos desenhos de Carlos Leão, homens e mulheres transam livremente seus corpos, bebidas e charutos. A temática social – a miséria portinaresca – surge aqui e ali em algum desenho”. Participou da Bienal de São Paulo, 1973; do Panorama da Arte brasileira atual, São Paulo, 1971 e 1974; de coletivas de arte moderna brasileira que circularam por diversos países da Europa e da América do Sul e da mostra Arte erótica, RJ, 1993. Realizou individuais no Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1971; Museu Nacional de Belas-Artes, 1976; Museu de Arte de Belo Horizonte, 1963; e nas galerias Relevo, RJ, 1966; Atrium, SP, 1967 e 1972; Barcinski, RJ, 1967; Santa Rosa, RJ, 1968; Decor, RJ, 1970; Irlandini, RJ, 1970; Astreia, SP, 1971; Marte 21, RJ, 1971, 1973-1975; Intercontinental, RJ, 1974; e Gauguin, Fortaleza, 1975. Bibliografia: Frederico Morais. “O jovem Carlos Leão e o velho Reynaldo”, O Globo, 2 de maio de 1980. Walmir Ayala. Dicionário de Pintores Brasileiros (Curitiba: Ed. UFPR, 1997). LHOTE, André Bordeaux, França, 1885 – Paris, França, 1962 Autodidata, começou a participar dos salões de arte de Paris em 1906 (Salão dos Independentes) e 1907 (Salão de Outubro). Realizou sua primeira individual em 1910, recebendo elogios de André Salmon, Apollinaire e Jacques Rivière. Oficialmente não participou do cubismo, mas em suas pinturas tangenciou várias questões que permeavam a estética do movimento. Por nunca ter rompido totalmente com a figura, esteve mais próximo do cubismo sintético de Gleizes e Gris que do cubismo analítico de Braque e Picasso. Frank Elgar, tomando como referência a tela Rugby (1917), descreve o método e as concepções de Lhote: Transcrição geométrica das figuras ou dos objetos, nítida articulação de planos pelo contorno e pela cor, composição sutilmente hierarquizada, pesquisa de movimento, inteligibilidade da escritura. Sempre apaixonado pela perfeição, Lhote deseja que tudo entre no quadro: forma, luz, espaço, inteligência e sensibilidade, dinamismo e estabilidade. O que é tentar o absoluto. Diz, no entanto, que “cada uma de suas obras parece ser uma demonstração, mais que uma efusão”. Pintor, teórico e professor, André Lhote exerceu a crítica de arte e publicou diversos livros, dos quais os mais conhecidos são Traité du paysage e Traité de la figure. Transformou seu ateliê da rue Odessa, 18, em Paris, em academia de arte, recebendo jovens artistas de várias partes do mundo. Terá sido, entre os mestres-artistas franceses, desde os tempos da nossa Academia Imperial, o que mais artistas brasileiros ajudou a formar. Entre outros, Tarsila do Amaral, Francisco Brennand, Ione Saldanha, Antônio Gomide, Vera Mindlin, Teresa Nicolao, Mário Silésio, Genaro de Carvalho, Frank Schaeffer, Sérgio Campos Mello e Iberê Camargo. Este, em depoimento escrito em 1969, afirmou: Hoje, decorridos vinte anos, posso afirmar que minha experiência na Academia Lhote foi a mais proveitosa na minha formação de pintor. Encontrei aí a certeza das minhas intuições. Não que minha obra tenha influência da pintura de Lhote. Refiro-me à influência – e a valorizo – que exerceu na minha compreensão dos valores pictóricos. Ele, como nenhum outro, fez-me ver as identidades na solução da cor, de valor, de ritmo, enfim, de todos os elementos de linguagem pictórica no mundo da pintura, que abrange todas as épocas. […] Seu tratado de anatomia era a geometria: “Il faut geométrizer”. Preocupado em criar obra clássica, permanente, repetia: “Il faut refaire les anciens maitres”. Fez sentir, evocando a obra de Cézanne,

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