Edição de Setembro 2015

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A boa música em primeiro lugar ENTREVISTAS COLUNAS PARTITURAS VÍDEOS TRANSCRIÇÕES E MAIS

ENTREVISTA COM O PIANISTA KIKO CONTINENTINO

KIKO CONTINENTINO

A SEC ENTREVISTA

O baterista Alfredo Dias Gomes

Nº 19 SET2015

www.somemcampo.com

COLUNISTAS Adriano Giffoni Bernardo Fabris Lulu Martin Márcio Hallack Rubén de Lis Zazu Zarzur


36 Capa Nessa edição, a SEC (Som em Campo), traz a entrevista com o pianista Kiko Continentino.

COLUNAS & MATÉRIAS

05 Depoimento de Mestre

Na coluna Depoimento de Mestre Márcio Hallack.

11

Bernardo Fabris

Exercícios saxofone.

23

mecânicos

para

07

Adriano Giffoni – para improvisação.

11

Bernardo Fabris – Exercícios mecânicos para saxofone.

15

Márcio Hallack - Partitura inédita.

23

Rubén de Lis - História e técnicas violão flamenco.

27

Lulu Martin - Exercícios com acordes dominantes.

32

Zazu Zarzur – Que tal um pouco de originalidade.

Rubén de Lis

História e técnicas de violão flamenco.

Frases

ENTREVISTA

28

Lulu Martin

Aula de música.

17

Baterista - Alfredo Dias Gomes. SOM EM CAMPO RECOMENDA O que tem pra hoje? – CD


La Bella e Som em Campo

Parceiros na difusĂŁo da mĂşsica instrumental!


Já caímos em campo. . .

A caminho do nosso 1º Festival de Música Instrumental ! AGUARDEM


DEPOIMENTO DE MESTRE

Bom, eu penso que a revista e todo o projeto Som em Campo em geral só vêm a consolidar um instrumento importante de uma forma de encontro entre músicos , preocupados em manter e trocar informações, através de suas experiências, seja como instrumentista, compositor, professor, enfim, dessa forma trazendo uma interação muito bacana, colocando sempre em primeiro lugar a peça principal que é a boa música. Essa iniciativa louvável do nosso querido amigo e contrabaixista Zazu Zarzur abre um leque de possibilidades através da Som em Campo para que todos que por aqui passam, seja lendo ou contribuindo mantenham viva sua alma musical. Parabéns ao Zazu Zarzur, parabéns a Som em Campo, parabéns a nós músicos....... Viva a música........ Mácio Hallack : Pianista, Compositor e Arranjador.


ADRIANO GIFFONI E ZAZU ZARZUR REPRESENTAM A EMPRESA NHURESON (S.P), BAIXOS ACÚSTICOS DE ALTO NÍVEL.


ADRIANO GIFFONI Por Adriano Giffoni

FRASES PARA IMPROVISAÇÃO- ESTUDO 2 Nessa segunda matéria sobre improvisação eu vou mostrar exemplos de solos em acordes sus4, acordes de sétima maior, menor com nona,resolução em acordes de 13b e mudanças de acorde de sétima maior para diminuto. Usei figuras rítmicas ligadas para mudar de compasso e no primeiro exemplo, na mudança do primeiro para o segundo tempo. No segundo exemplo eu comecei o solo com a sétima maior no primeiro acorde e depois usei a terça para entrar no segundo e no terceiro acorde. No exemplo 4, comecei o solo pela quinta do acorde e depois usei a segunda nota do arpejo de D diminuto antecipando o compasso. No final da frase, usei a terça do acorde de A7(b13). As frases devem ser estudadas em andamentos progressivos e na oitava que foram escritas. Depois podem ser oitavadas e darão um bom resultado principalmente no baixo de seis cordas. BONS ESTUDOS! ADRIANO GIFFONI


ADRIANO GIFFONI



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Som em Campo

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BERNARDO FABRIS saxofonista - Professor Adjunto UFOP

Por Bernardo Fabris

EXERCÍCIOS MECÂNICOS PARA SAXOFONES SOBRE ACORDES SUSPENSOS. É fundamental para o saxofonista (e o músico de modo geral) ter nas mãos rudimentos tais como escalas e arpejos para uma voa fluência musical. A proposta aqui apresentada prevê uma abordagem sobre estruturas harmônicas normalmente pouco abordadas em métodos e estudos (principalmente aqueles mais tradicionais). Estas estruturas são conhecidas como acordes suspensos, ou seja, acordes com estrutura harmônica de dominante (X7), mas que apresentam a quarta justa em substituição da terça (como por exemplo em C7, onde a nota Mi natural é substituída pela nota Fá natural, sendo grafada como: C7(omitt3), ou mais comumente, Csus7. Para esse exercício, são executadas a fundamental, a quarta e a sétima dos acordes, buscando explicitar a sonoridade típica desse agrupamento harmônico. Os exercícios que se seguem são sugestões, e outros associados podem ser desenvolvidos pelo próprio instrumentista. Outra curiosidade é que essa estrutura harmônica pode ser tanto usada sobre acordes suspensos ou menores de mesma fundamental quanto para os outros acordes suspensos e menores tendo como fundamentais as outas notas da estrutura harmônica citada: No caso novamente das três notas de Bbsus7, esta estrutura pode ser utilizada também sobre os acordes de Ebsus7 ou Ebm7 (com 4j e 5j) ou de Absus7 e Abm7 (com 2M e 5J), já que a terça para estes casos estará omitida. Sua utilização ainda se estende aos acordes maiores com sétima maior pensados meio tom acima de duas das “fundamentais” da estrutura: No caso, mais uma vez, do arpejo suspenso de Bbsus7, este pode ser usado sobre o acorde B7M, onde as notas serão: Lá sustenido [7M]; Ré sustenido [3M] e Sol sustenido [6M]) e também sobre E7M (meio tom acima da nota Mi bemol) onde as notas serão: Ré sustenido [7M]; Sol sustenido [3M] e Lá sustenido [#4]), além do próprio Ab7M, onde as notas destacadas serão: Lá bemol [fundamental]; Si bemol [2M] e Mi bemol [5J]. Podemos perceber que, somente pela amostragem destacada, o acorde suspenso é um grande “coringa” para o músico improvisador, pela sua ampla utilização e sonoridade peculiar;





Mร RCIO HALLACK PIANISTA, COMPOSITOR E ARRANJADOR

Link de รกudio

Mรกrcio Hallack


Mร RCIO HALLACK

David Kykosk, Mรกrcio Hallack e Boris Koslov

Jim Ridl e Mรกrcio Hallack em recente passagem po N.Y


ALFREDO DIAS GOMES

SEC: Com qual idade você começou a estudar musica , e seu primeiro instrumento foi a bateria? ADG: Comecei a estudar bateria com 10 anos de idade e, sim, meu primeiro instrumento foi a bateria. SEC: Você é natural de qual estado e cidade? ADG: Rio de Janeiro. SEC: Como foi seus estudos no início? ADG: Estudei bateria com os professores Sut, Don Alias (Miles Davis) e Zé Eduardo Nazário. SEC: Com qual idade percebeu que a música realmente era seu caminho? ADG: Com 9 ou 10 anos vendo os bateristas que tocavam com meu irmão mais velho. SEC: Na sua visão, qual seria a postura de um músico para sempre estar trabalhando profissionalmente? ADG: Continuar sempre aprendendo.


SEC: Qual é sua formação musical? ADG: Jazz Fusion. SEC: Com quais músicos já trabalhou , incluindo gravações, shows e participações especiais. ADG: Aos dezoito anos estreei profissionalmente na banda de Hermeto Pascoal, gravei o disco "Cérebro Magnético" e toquei em muitos shows, destacando o II Festival de Jazz de SP e o Rio Monterrey Festival. Depois trabalhei com Márcio Montarroyos, Ricardo Silveira, Torcuato Mariano, Arthur Maia, Nico Assumpção, Luciano Alves, Luizão Maia e muitos outros na área instrumental. Além de artistas do pop rock como Lulu Santos, Ritchie, Kid Abelha, Sergio Dias, Moraes Moreira, Erasmo Carlos, Vinícius Cantuária entre outros. Toquei com Ivan Lins de 1988 a 1993 e excursionamos pelo Brasil, Europa, Estados Unidos e Japão. Com ele gravei os discos "Amar Assim" e "Ivan Lins 20 Anos" (ao vivo). Nos anos 80 fiz parte do grupo Heróis da Resistência com Leoni, Jorge Shy e Lulu Martin. SEC: Recentemente você lançou um trabalho instrumental, conte-nos sobre este trabalho. ADG: É uma visita às composições que eu estudava na minha juventude e que fizeram a minha formação musical. SEC: Quais os bateristas que lhe influenciaram? ADG: Billy Cobham, Alphonse Mouzon, Lenny White, Don Alias, Steve Gadd, Harvey Mason, Peter Erskine, Terry Bozzio... SEC: Quais os projetos para 2015/2016? ADG: Fazer shows com meu novo álbum Looking Back e começar a gravar o próximo.


SEC: Poderia deixar uma mensagem final para os leitores da revista Som em Campo!!! ADG: Seja qual for seu estilo de música, ouça sempre seus mestres, os artistas que você admira e faça seu trabalho com dedicação. Link do site oficial: http://www.alfredodiasgomes.com.br/

Partitura da música The Red Baron



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RUBÉN DE LIS (Violonista Espanhol)

Por Rubén de Lis Fiquei muito feliz por ser convidado para participar como colunista de violão Flamenco na revista “Som em Campo” projeto desenvolvido pelo baixista Zazu Zarzur, grande profissional no âmbito da música instrumental. Tenho plena certeza do grande sucesso da revista Som em Campo a nível musical não só no Brasil , mas também na Espanha e demais países. Um pouco da história do violão flamenco e todas as matérias que vamos ver nos próximos meses,estilos técnicos,dedilhados etc. O violão está muito vinculado á evolução do homem;Há milhares de anos já aparecia um aborígene pegando um arco,em um pé e na outra ponta com a boca ( usando esta como caixa de ressonância), Ele com uma mão tensionava a corda e com a outra aumentava ou diminuía ( produzindo assim os sons mais agudos ou mais graves) esse equipamento chamado de arco pré histórico e musicalmente chamado de (Seta), pelos Persas (Sitar) e os latinos ( Cítara) Quando os Mouros invadiram a Espanha eles já levaram a Cítara,eles escrivíam za,ce,ci, é , ca,que,qui, então, para eles Cítara era “Quitara”, evoluindo na mistura com os espanhóis, dai, nasceu o que hoje se conhece como (Guitarra Espanhola).


RUBÉN DE LIS (Violonista Espanhol) Por Rubén de Lis


RUBÉN DE LIS (Violonista Espanhol) Por Rubén de Lis


RUBÉN DE LIS (Violonista Espanhol) Por Rubén de Lis

Contatos atuais: Aulas skype: Dilmaria.Ferreira Email: Rubendelis@hotmail.com Fanpage: www.facebook.com/rubendelis Twiter: https://twiter.com/rubendelis Instagran: https://instagran.com/rubendelis

Parcerias: Palhetas Rafive signature Rubén de Lis Cordas de violão LaBella Flamenco 820 red Nylon Rubén de Lis trabalha em estúdio e ao vivo com violões: ALHAMBRA FLAMENCO 8-F ALHAMBRA CROSSOVER cs-1 CWE1


LULU MARTIN Link de รกudio

Por Lulu Martin


AULA DE MÚSICA - 01 O que é música? É a arte de combinar os sons simultânea e sucessivamente, com ordem, equilíbrio e proporção. Através da música manifestamos os diversos afetos de nossa alma. O som é uma vibração acústica que se propaga por meio de ondas sonoras. O som possui quatro parâmetros: altura: que divide os sons em graves, médios e agudos; duração: é o tempo que ecoa o som; intensidade: é a graduação do volume sonoro; timbre: é a característica especial de cada som. Os três elementos fundamentais da música são a melodia, a harmonia e o ritmo. O que é melodia? É a combinação dos sons sucessivos. É a concepção horizontal da Música. O que é a harmonia? São os sons simultâneos. É a concepção vertical da música. O que é ritmo? É a combinação dos valores tempo. Notas musicais são símbolos que usamos para representar os sons. As notas musicais são: DÓ, RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ, SI. Foi Guido D`Arezzo (992-1050), um monje, quem deu os nomes as notas musicais. Ao ser fixada a escala maior, ela também foi chamada de escala natural.


AULA DE MÚSICA - 02 Uma declaração do pintor Henri Matisse me chamou a atenção para um ponto que posso usar para me desenvolver na música: “Sinto por meio da cor, de modo que é sempre por meio dela que organizo minha tela”. E me pergunto através de qual elemento musical me organizo? Me organizo musicalmente através dos acordes. Acordes são os sons tocados simultaneamente. É conhecida como harmonia musical, um dos 3 elementos fundamentais da músca juntamente com a melodia e o ritmo. Um outro pensador famoso que gostava de música fazia uma comparação entre música e pintura. Dizia que a linha do desenho era como a melodia musical, e as cores que preenchiam os espaços do desenho era a harmonia, e seus acordes.

AULA DE MÚSICA - 03 A HARMONIA A harmonia é entendida por Tomás Borba e Fernando Lopes Graça como: Arte e doutrina da formação e encadeamento dos acordes segundo as leis da tonalidade. É interessante e curiosa a evolução semântica deste vocábulo, que, tendo etimologicamente o significado muito vago e impreciso de proporção, ajustamento, arranjo, tem hoje, no sentido restrito em que musicalmente o aplicamos, o de ciência dos acordes (harmonia em repouso) e seu encadeamento (harmonia em movimento). Os gregos já designavam por harmonia a sucessão lógica dos sons musicais: sistemas, escalas, modos, ou diapasões.


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ZAZU ZARZUR

Que tal um pouco mais de originalidade?

Por Zazu Zarzur

Olá leitores que acompanham a revista Som em Campo , e também aos que sempre se interessam por este assunto muito relevante no meu ponto de vista , no qual já venho escrevendo sobre em algumas edições, e colocando algumas ideias para tentarmos tocar com mais originalidade. Nos email’s que recebo de baixistas e músicos em geral que acompanham minha coluna aqui na revista, é bem interessante a troca que acontece sobre idéias que são colocadas por mim no texto em questão, e também idéias e experiências que alguns já tiveram , estudos que foram testados etc... muito bacana o interesse de alguns que tem como procura também , o “tentar tocar de forma mais original”. Muitas questões já foram colocadas por mim nas várias edições anteriores da revista, muitas idéias de estudos envolvendo harmonia, melodia e ritmo, que são a base musical , e para quem estiver lendo pela primeira vez, é bem interessante ler alumas edições anteriores onde abordo sobre o assunto, até mesmo para compreender o objetivo , a dificuldade de se colocar os exercícios e idéias na prática. Sempre faço questão de colocar em foco que se trata de tentarmos , mas tentarmos realmente , isto demanda muita paciência, estudo e tempo , porquê raramente no mundo atual , baixistas ou outros instrumentistas conseguem alcançar este objetivo, porquê muitos músicos de outras épocas já conseguiram , e no momento atual a informação é muito grande, e afunila mais ainda esta tentativa de conseguirmos uma originalidade relevante, não cem por cento , porquê óbviamente todos nós temos influências de outros músicos , e a originalidade total chega a ser utopia, mas tentar tocar de uma forma que não seja praticamente igual a outro baixista , isto é possível , embora na atualidade seja muito raro de se ouvir um músico assim. Nesta edição mais algumas ideias serão colocadas por mim , muitos já devem saber desse caminho , mas , acho interessante colocar no texto porquê muitos também podem não saber e neste tipo de assunto que é um pouco complexo , acho importante “bater na mesma tecla” em determinadas vertentes que fazem parte dessa procura.


ZAZU ZARZUR Estas ideias não foram colocadas nas edições anteriores da forma que serão colocadas nesta edição, mas , existem exemplos nas edições anteriores que fazem parte do mesmo contexto. Como já coloquei várias ideias e exercícios de harmonia, melodia e ritmo em outras edições visando ser um músico mais original, e também sobre composições, ideias e exemplos de se tentar compor com mais originalidade , nesta edição vamos “navegar” e tentarmos focar em diferentes timbres , articulações de frases , grooves, técnicas diferentes das que somos acostumados a tocar e já dominamos tais técnicas. È interessante tentarmos mudar nossa forma de tocar tecnicamente , tanto faz se a mudança for na mão esquerda ou na mão direita, ou até mesmo nas duas, o mais importante é tirarmos algum tempo de estudo e tocarmos de uma forma totalmente diferente da que somos acostumados. Isto inevitávelmente vai nos levar a fugir de padrões “pré estabelecidos”, assim sendo , existem grandes possibilidades de começarmos a tocar bem diferente do que estamos habituados, mas não focando em só um tipo de técnica, variar sempre é muito interessante, sei que não é nada fácil , mas como o objetivo é fugir do padrão , então este tipo de exercício se torna bem relevante. Zazu Zarzur: Baixista, Compositor e Arranjador. You Tube: Zazu Zarzur


Nhureson (S.P) tem o prazer de ter no seu plantel de endorser de Baixo acĂşstico Adriano Giffoni e Zazu Zarzur, parceria perfeita, grandes mĂşsicos usam instrumentos de alto nĂ­vel.

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KIKO CONTINENTINO

SEC: Com qual idade você começou a tocar? E seu interesse foi por qual instrumento? KS: Desde os quatro anos gostava de brincar no piano. Ficava procurando melodias familiares, como “Garota de Ipanema”, essas coisas... Meu pai me acompanhava e fazíamos um número ‘a três mãos’ que agradava a todos. Mas eu precisava sempre ‘do velho’ pra harmonizar e tornar a brincadeira divertida. Quando tinha nove anos, meu pai se mudou para Vitória, cidade onde ele se iniciou profissionalmente na música. A princípio, ele ia sozinho. Mas acabou desistindo da ideia e resolveu me levar junto, me convencendo a ficar um ano fora da escola primária (pois eu estava um ano adiantado). Não tive escolha: fui com ele. Nessa época (o ano era 1979), comecei a ter noções básicas de piano através do método de harmonia e improvisação de John Mehegan - que meu pai que estudava avidamente. Aprendi a harmonizar e a trabalhar com a mão esquerda também. A partir desse ponto, não mais precisei do “velho” e essa ideia de independência começou a me agradar. SEC: Quando você sentiu realmente que a música seria sua profissão? KS: Foi no ano de 1985. Parti com tudo para a grande aventura de se tornar músico profissional (sempre primando pela música de qualidade) no Brasil. Fui encorajado pelo meu pai a largar os estudos (na época, estava perto de concluir o segundo grau) para tocar todas as noites, de segunda a segunda. Sou autodidata, apesar de ter sido iniciado no piano por meu pai. Nos anos 1980, ele idealizou uma casa noturna em Belo Horizonte, um clube de jazz e bossa nova, projeto diferente e audacioso. Junto com Marisa Gandelman, com quem era casado então, construiu e administrou o Pianíssimo Studio Bar. Foi uma casa que marcou a cena musical da capital mineira. Comecei a trabalhar cedo.


Aos 15, já me apresentava profissionalmente regularmente em BH – e não apenas no Pianíssimo; também tocava com o meu pai em bares diversos (meu debut se deu na verdade no “La Taberna”, casa noturna do espanhol Carlos Carretero). Tocava em restaurantes e hotéis de BH. A partir de 1986, na maior parte do tempo estava fixo no Pianíssimo – com as mais diversas formações, os mais diversos (bons) músicos. Tocava à noite e ensaiava à tarde. Todos os dias. O projeto deste ‘pub’ era revolucionário para os padrões brasileiros. Completando 30 anos de carreira (em 2015), ainda não vi nada igual. Como diz o nome, era um bar, mas um bar com estrutura de estúdio de gravação, isolamento acústico nas paredes, teto, janelas blindadas e ar condicionado central, para diminuir o nível de ruído. Na entrada, uma antecâmara – como nos estúdios profissionais. Lá, havia um piano Yamaha 1/4 de cauda que, embora muitos duvidem, ‘meu velho’ conseguiu tocando em outros bares – sempre por couvert artístico. A maioria dos proprietários convive com aquele problema de vazamento do som interno para os vizinhos, que gera muita reclamação. Mas o meu pai queria mesmo era resolver outro problema: isolar o barulho da rua, pra não interferir no som que fazíamos lá dentro. O Pianíssimo foi meu grande laboratório musical. Ouvia música e tocava piano o dia inteiro. Esse foi o meu estudo, minha universidade. Foi um verdadeiro “escritório” – e “laboratório”, também. SEC: Na sua geração o acesso a materiais didáticos e ao estudo musical era mais difícil do que nos dias atuais? KS: Sim, muito mais difícil. Devo a meu pai, um aficionado por música boa, ter à disposição inúmeros LPs de jazz e bossa-nova. E coloca-los para tocar, todos os dias, desde às manhãs, assim que acordava... Mas além disso, haviam os amigos, familiares e frequentadores do bar, que curtiam aquele tipo de som. Todos me deixavam à disposição a chave das suas casas. E la ia eu à tarde ouvir som, pesquisar, levando várias fitas cassete para copiar os LPs que não tinha em casa, ou no bar. Sobre métodos, meu “velho” também investia nessa área – comprou vários. E outros a gente “xerocava”. Minha geração musical deve muito às fitas cassete e às inúmeras xerox das fotocopiadoras. Esse foi o verdadeiro processo de compartilhamento da época. A informação era de muito mais difícil acesso, mas quando corríamos atrás dela, ela vinha muito mais depurada, bem mais quente.


SEC: Você é natural de qual cidade e como foi sua formação musical? KS: De Belo Horizonte, e nas perguntas acima dentro do contexto das respostas expliquei sobre toda minha formação musical. SEC: Conte-nos como surgiu o piano na sua vida, como foi o processo? KS: Minha avó Ruth, tocava piano erudito. Gostava muito de ouvi-la interpretando peças clássicas, como era costume na época. Meu pai, Mauro Continentino também tocava (um pouco) piano clássico, sempre foi apaixonado por música (principalmente por jazz), mas seguiu outros caminhos na juventude. Anos depois (com mais de trinta), resolveu se profissionalizar e segue até hoje nessa batalha, que é viver de música no Brasil. Ouvindo minha avó e meu pai tocar e tendo sempre algum piano armário à disposição, acho que fui naturalmente descobrindo as coisas nesse instrumento. Como brincadeira de criança. SEC: Você poderia citar alguns nomes de músicos com quem você já gravou ou tocou, prêmios e homenagens que já ganhou? KS: Recentemente fui agraciado com uma Moção Honrosa na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. É o título “450 de Carioquice”, destinado a profissionais de todas áreas, nascidos no Rio ou não, que prestaram serviços relevantes à cidade maravilhosa. Fico grato por ter sido indicado, ao lado de grandes feras como Maurício Einhorn, Carlos Lyra, Clauton Sales, Wagner Tiso, entre outros....


Ao longo desse 30 anos como profissional, foram incontáveis as experiências de trabalho em shows, gravações, eventos, workshops, aulas, ensaios, enfim... trabalhei com artistas como Emílio Santiago, Djavan, Fernanda Abreu, Arthur Maia, Pepeu Gomes e Cláudio Zoli, vivências que contribuíram para o meu enriquecimento profissional - assim que vim pra Niterói. Quando comecei a trabalhar com Milton Nascimento, em 1997 (e lá se vão quase 19 anos...), no show ‘Tambores de Minas’, posso dizer que minha carreira deu um grande salto. Musical e profissional. Ancorado por um trabalho dessa magnitude, pude me encher de brios para ‘entrar de sola’, investir mais no meu trabalho autoral, gravar minhas próprias coisas, me apresentar publicamente... É uma batalha, reconheço. De lá tento conciliar tudo. Como artista solo, tenho 06 discos lançados e muitos ainda por vir. Participei de centenas e centenas de discos. Atualmente, toco com o lendário grupo Azymuth – reconhecido internacionalmente (são 40 anos de carreira!!!!). Participei de projetos internacionais maravilhosos, como o show em que dividi o palco com Wayne Shorter e Ron Carter, dois dos meus maiores ídolos no jazz. Foi em Ouro Preto, momento inesquecível. Eles eram nossos convidados, em show dedicado às músicas mais jazzísticas de Milton Nascimento. É inegável a influência de Milton em vários segmentos da música moderna, inclusive do jazz avant-garde. Foi ele quem possibilitou essa aproximação. É admirável o respeito que grandes músicos norte-americanos como Wayne, e Herbie Hancock, por exemplo (a lista é interminável), dão à música brasileira – e ao ‘estilo Milton’, particularmente.


Já no início desse ano, 2015, toquei com o incrível baterista Billy Cobham (que gravou o emblemático “Bitchies Brew” – com Miles Davis; ponto de partida do phusion); Billy foi convidado do projeto do meu parceiro Marco Lobo, super percussionista baiano. Venho desenvolvendo também um trabalho com a cantora Lucynha, minha parceira na vida também. Entre muitos projetos, temos o “Bossa Nova para Crianças”, “Bituca para Crianças” e “Brasileirinho para Crianças”. Sinto uma certa urgência em investir nas novas gerações, no novo, nas crianças. Elas são nossas futuras plateias. A arte é fundamental na formação de um indivíduo. Não pode ser negligenciada. Num país como o nosso, com sérias mazelas educacionais e culturais, esse cuidado se faz cada vez mais urgente. Lucynha é professora de artes, musicalizadora também, com em coral e vozes infantis. Acho que daí pode sair um bom caldo.


SEC: Como você se vê enquanto pianista tecnicamente falando, conte-nos um pouco sobre seu processo de estudo? KS: Sou irregular nos estudos. Em casa, sou desregrado. Posso ficar semanas sem estudar e, depois, praticar horas num mesmo dia. Mas atualmente, toco bastante ao vivo – é esse o meu trabalho. Quase sempre estou envolvido com grupos que exigem um pouco mais do pianista, que evidenciam sua participação. Situações assim podem se transformar em estudo (por que não?). E um estudo bem mais prazeroso. De repente, entro em fases de ‘imersão’ no piano, fico o dia inteiro tocando, compondo... Não há regras. Também utilizo muito a composição como ‘pretexto’ para estudar. Pra finalizar uma música você precisa tocá-la muitas e muitas vezes, repetidamente. Isso é estudo. Meus exercícios podem nascer de composições. E vice e versa. A repetição é algo cruel, uma coisa que aborrece. A vantagem da escola jazzística pela qual optei é que nada precisa se repetir com rigor. Nada é obrigatório. A gente sempre pode (e deve) criar, inovar. Esse é um maravilhoso estímulo para o estudo: liberdade e possibilidade de criação. Sou um pianista brasileiro gerado no berço do jazz, mas que acima de tudo ama a música produzida no seu país. Não há como ficar indiferente. A música brasileira é única e nós fazemos parte dela. Defendo a liberdade que o jazz ofereceu à música, através da improvisação, do inesperado (o que mais me seduz no jazz), mas tento me distanciar do jazz como gênero musical. Até porque já existem músicos incríveis tocando jazz, maravilhosamente bem. Há sempre uma nova geração aparecendo em cena. Sei que quando toco música brasileira lá fora o interesse é muito maior. Realmente somos bons nisso. É um diferencial do músico brasileiro – a originalidade. Por outro lado, música é uma linguagem universal. Não descarto o jazz como matéria prima para fusão com outros estilos. Acho que sempre foi assim na história da arte. Um compositor influencia o outro. Um estilo influencia o outro. Nada é hermético. Tento, acima de tudo, ser um músico livre e criativo. E acrescentar algo de novo, inspirar pessoas que gostam de viajar sempre em busca de novos sons.


SEC: Em sua opinião, o que é mais importante, aquele ponto fundamental no qual o músico não pode deixar de focar e durante seus estudos teóricos e práticos deve alcançar. KS: Sendo autodidata, acredito que, mesmo nos estudos, o músico deve buscar sua própria assinatura, seus próprios caminhos – sua “inventividade”, inclusive nas questões de impasse técnico. Por que não elaborar os próprios exercícios a partir das próprias limitações – e das próprias dificuldades? Por que depender sempre de um “mestre” para definir o caminho que devemos seguir? A tentação de “copiar” um ídolo é muito grande, mas devemos ter em mente que arte é uma matéria em aberto. Arte é criação. E na criação, originalidade é fundamental. É o que tento buscar, sempre. E para isso, quanto maior o leque de estudo, referências, influências, quanto maior a amplitude de possibilidades nessa fase inicial da vida profissional, maior a chance de encontrar “atalhos” (por que eles existem, sim) para esses caminhos. Não acredito que o estudo tenha obrigação de ser algo sacrificante, algo imposto. Ele pode ser prazeroso. Depende do material que escolhemos para estudar e qual será esse “approach”. SEC: O que você acha do acesso a materiais didáticos que a internet proporciona atualmente para os músicos, e o que acha da nova geração? KS: Tem muito material didático de qualidade atualmente disponível no mercado e na internet. De forma gratuita, inclusive. O youtube é uma maravilha! Uma enciclopédia sem fim, democrática, ao alcance de todos. Curioso é que, talvez devido ao impressionante volume de informações na rede, o jovem fica um pouco perdido na hora de pesquisar, de estudar... Há muita gente bacana da nova geração fazendo coisas interessantíssimas por aí. É gratificante ver isso. Pena que o mercado seja tão cruel para com a boa música no Brasil – principalmente os artistas incipientes. Isso nos cria uma responsabilidade extra, nos faz coparticipes desse processo. Cabe a nós interferir e tentar mudar esse quadro desfavorável. Temos que nos tornar cada vez mais “empreendedores”, gestores, divulgadores e “agentes propagadores” da boa música, da boa arte em geral. É um desafio redobrado, trabalho triplicado. Mas consigo enxergar, com felicidade, jovens com esse “espírito empreendedor” batalhando duro por aí. Assim deve ser. Não há outro jeito de fazer essa “roda girar” satisfatoriamente.


SEC: Sabemos que está sempre envolto em uma série de projetos, pode-nos falar um pouco sobre alguns, e sobre futuras empreitadas? KS: No início do ano fui recebido muito bem no AZYMUTH, pelos parceiros Alex Malheiros e Ivan Conti. Temos possibilidade de lançar CD inédito no mercado europeu no início do ano que vem – talvez com algumas composições minhas; nesse ano montei um QUINTETO (com Wendel Silva, Rogério Dy Castro, Lucynha e Clauton) com sonoridade bem interessante; continuo atuando com Milton Nascimento, um gênio musical, reconhecido nos quatro cantos do planeta. Sigo firme com meu Sambajazz Trio (com os parceiros Luiz Alves e Clauton Sales) – que completou 10 anos recentemente. Há uma produtora de vídeo interessada em produzir um programa de TV de música chamado “Os Continentinos”, aproveitando o grupo ContinenTrio, que tenho com meus irmãos Alberto e Jorge Continentino – que completou 15 anos. Sigo tocando com instrumentistas de alto nível, gente que me inspirou no início da carreira (quando os ouvia em LPs) e agora tenho a felicidade de gravar e tocar com eles: músicos do quilate de Paulo Russo (com quem tenho um super DUO), Nivaldo Ornelas, Hélio Delmiro, Robertinho Silva, Mauro Senise, Pascoal Meirelles, Paulo Braga, Sérgio Barrozo, o grande Maurício Einhorn (de quem, afortunadamente, sou parceiro), entre outros “cobras”! Também toco constantemente com instrumentistas de alto nível, mais próximos da minha geração, como Marcelo Martins, Leo Amuedo, Artur Maia, etc... Pretendo lançar ano que vem o primeiro CD de minha esposa Lucynha Lima – grande cantora, com composições autorais e algumas surpresas. Está ficando lindo. Quero cada vez mais investir em projetos que tragam as novas gerações, as crianças (e gente de todas as idades), pra perto da gente. Pra perto da boa música, das boas letras, da poesia, bons filmes, boa arte... É a única saída, a longo prazo. SEC: Você poderia deixar uma mensagem final para os leitores em geral da revista Som em Campo? KS: Gente, vamos investir no novo, vamos investir nas crianças. Vamos levar a elas os sons de qualidade – que tão bem nos faz. Vamos dar às crianças a oportunidade de ouvir coisas diferentes do que é imposto pela mídia massiva. Essa nova geração merece, mais do que nunca. Esse é o momento, essa é a hora. Muito obrigado.


Nhureson e Som em Campo, parceria em prol da boa música !!! Nas fotos abaixo, temos um pouco do trabalho do grande luthier Emerson Veiga, instrumentos de altíssimo nível feitos por encomenda, e também instrumentos com valores acessíveis para estudantes e iniciantes..



TRESCLICKS fotografia & Som em Campo Parceria entre o Som e a arte de registrar a mĂşsica em movimento por Tatiana Ribeiro


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O que tem pra hoje? Cd do baterista Alfredo Dias Gomes

Link do CD – Looking Back https://soundcloud.com/alfredo-dias-gomes/sets/looking-back? utm_source=soundcloud&utm_campaign=share&utm_medium=facebook


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Edição e diagramação: Antônio Augusto Franco Contato: antonioaugustobh@hotmail.com

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