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A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO

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SEGUNDO REINADO

SEGUNDO REINADO

Uma característica desse fragmento, também presente em outras cantigas de amor do Trovadorismo, é a) a certeza de concretização da relação amorosa. b) a situação de sofrimento do eu lírico. c) a coita de amor sentida pela senhora amada. d) a situação de felicidade expressa pelo eu lírico. e) o bem-sucedido intercâmbio amoroso entre pessoas de camadas distintas da sociedade.

08. Reinando Amor em dois peitos, tece tantas falsidades, que, de conformes vontades, faz desconformes efeitos.

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Igualmente vive em nós; mas, por desconcerto seu, vos leva, se venho eu, me leva, se vindes vós.

(Camões)

No texto, o eu lírico: a) chama a atenção do leitor para as artimanhas que as mulheres apaixonadas costumam tramar a m de conquistar os homens. b) dirige-se ao deus Amor, manifestando seu descontentamento com relação às falsas atitudes da amada. c) manifesta poeticamente a ideia de que o Amor, atendendo a diferentes vontades, produz diferentes efeitos. d) declara que, embora o amor esteja presente em todas as pessoas, nem todos o aceitam, fato que gera desentendimentos dolorosos. e) dirige-se à pessoa amada para expressar seu entendimento a respeito dos aspectos contraditórios do sentimento amoroso.

09. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a con ança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal cam as mágoas na lembrança, e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, en m, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soía*.

(Luís Vaz de Camões)

*soía: Imperfeito do indicativo do verbo soer, que signi ca costumar, ser de costume.

Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Camões. a) O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte. b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior, graças à sabedoria e à experiência adquiridas. c) Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade, já que ele se baseia no postulado da imutabilidade. d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo as mudanças que se operam no mundo, porque constata que elas são geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada. e) As duas últimas estrofes autorizam concluir que a ideia de que nada é permanente não passa de uma ilusão.

10. Leia o poema a seguir, de Luís de Camões.

Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia, que, como o acidente em seu sujeito, assim coa alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia; [e] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. Com base no poema e em seu contexto, a rma-se: I. Criado no século XVI, o poema apresenta um eu lírico que re ete sobre o amor e sobre os efeitos desse sentimento no ser apaixonado. II. Camões é também o criador de Os Lusíadas, a mais famosa epopeia produzida em língua portuguesa, que tem como grande herói o povo português, representado por Vasco da Gama. III. Uma das características composicionais do poema é a presença de inversões sintáticas.

A(s) a rmativa(s) correta(s) é(são): a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III.

GABARITO

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

01. B 02. E 03. D 04. C 05. E 06. E

EXERCÍCIOS DE TREINAMENTO

01. D 02. C 03. B 04. C 05. C 06. E

EXERCÍCIOS DE COMBATE

01. A 02. C 03. C 04. B 05. D 06. D 07. A 08. A 09. C

07. B 08. D 09. B

07. B 08. E 09. D 10. C

10. A

10. E

ANOTAÇÕES

LITERATURA COLONIAL: QUINHENTISMO E BARROCO

Iniciaremos, a partir deste módulo, um estudo histórico-literário da literatura brasileira. Para isso, serão apresentados, desde os primeiros, textos escritos em nosso território até a produção feita no século XX. Porém, faz-se necessário entender, primeiramente, que a literatura nacional tem sua história dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e a Era Nacional.

A Era Colonial ocorre entre 1500 e 1808. Isso signi ca dizer que os textos analisados no período citado reproduzem modelos europeus de estilo e de escrita já que éramos um território conquistado pelos portugueses. O período colonial pode ser entendido da seguinte forma:

ESTILOS DE ÉPOCA

Quinhentismo

Barroco

Arcadismo

ERA COLONIAL

CONTEXTO HISTÓRICO INTERNACIONAL CONTEXTO HISTÓRICO NACIONAL DATAS

- Grandes navegações - Companhia de Jesus

- Contrarreforma - Portugal sob domínio espanhol

- Iluminismo - Revolução industrial - Revolução Francesa - Independência dos EUA

- Textos informativos - Textos escritos pelos jesuítas 1500

- Invasão holandesa 1601

- Ciclo de mineração - Incon dência Mineira 1768

QUINHENTISMO

INTRODUÇÃO

Chamamos de Quinhentismo a denominação genérica de todas as manifestações das Letras ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura europeia em terras brasileiras. Ainda não se pode falar em literatura do Brasil, pois não existia uma cosmovisão do homem brasileiro e, junto a isso, não havia o conceito de literatura. Durante o período colonial ainda não existia um público leitor ativo e in uente, grupos de escritores atuantes, vida cultural intensa e rica, sentimento de nacionalidade, liberdade de expressão, imprensa e grá cas. Dessa forma, espelhando diretamente o momento histórico vivido pela Península Ibérica, temos uma escrita informativa e uma escrita dos jesuítas. Quem escrevia no período estava com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira, por exemplo), enquanto os jesuítas preocupavam-se com o trabalho de catequese.

Com exceção da carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato compreensível, já que a colonização só pode ser contada a partir de 1530.

A PRODUÇÃO DE TEXTOS INFORMATIVOS

A escrita informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, re exo das grandes navegações, empenha-se em fazer um levantamento da terra nova, de sua ora, de sua fauna e de sua gente. É, portanto, uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário.

A principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu que vinha de um mundo temperado e se defrontava com o exotismo e a exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra aparece no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados no superlativo. O melhor exemplo da escola quinhentista brasileira é Pero Vaz de Caminha. Sua “Carta a El Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil”, além do inestimável valor histórico, é um trabalho de bom nível literário. O texto da carta mostra claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha, impulsionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a expansão da fé cristã.

Acompanhe o fragmento do documento redigido por Caminha e entenda melhor.

“Senhor:

Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem contar e falar — o saiba pior que todos fazer. (...)

Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. (...)

Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram”.

(Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf)

A ESCRITA DOS JESUÍTAS

A principal preocupação dos jesuítas era expandir o pensamento católico por meio do trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária tanto na poesia quanto no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa sobre o andamento dos trabalhos na colônia.

Dentre os religiosos que aqui estiveram, José de Anchieta merece destaque. O religioso escreveu vários tipos de textos com nalidades

pedagógicas, como poemas, hinos, canções e autos (gênero teatral originado na Idade Média), além de diversas cartas que informavam sobre o processo de catequese no Brasil e de uma gramática da língua tupi. Anchieta não seguia as novidades de conteúdo e de forma trazidas pelo Renascimento, inspirava-se em modelos medievais, fazendo uso da medida velha (redondilha), como exempli cam o fragmento do poema:

Cordeirinha linda como folga o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo! Cordeirinha santa, de Jesus querida, vossa santa vida o diabo espanta.

Por isso vos canta com prazer o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo. (...)

(A Santa Inês – José de Anchieta)

BARROCO

INTRODUÇÃO

Em Portugal, o Barroco inicia-se em 1580 com a uni cação da Península Ibérica. Por isso, há forte in uência espanhola na construção artística da época. No Brasil, o Barroco tem seu marco em 1601 com a publicação do poema épico Prosopopeia de Bento Teixeira. Estendese por todo o século XVII e início do século XVIII.

A estética perde a força apenas com a publicação de Obras de Cláudio Manuel da Costa e com a fundação da Arcádia Ultramarina em 1768.

PANORAMA HISTÓRICO

O principal evento histórico atrelado ao surgimento do Barroco é a Contrarreforma. A m de conter o pensamento reformista de Martinho Lutero e João Calvino, realizou-se o Concílio de Trento (1545 – 1563). Todo o corpo das doutrinas católicas foi discutido à luz das críticas da doutrina protestante. Por m, diversas medidas foram criadas para conter o avanço do pensamento protestante. Restabeleceram-se, assim, normas doutrinais e morais rígidas.

Por conta de tantos con itos, o fazer artístico também foi usado como forma de reforçar a ideologia da Igreja Católica. Como a religião transformara-se de novo em elemento primordial da vida individual e coletiva, o Barroco tornou-se, nos países católicos, a arte da

Contrarreforma.

O homem, que vive neste momento, embora tenha tido contato com a perspectiva libertária do Renascimento, é sufocado pelas imposições da Igreja. Por estar acuado, assume diante da vida atitudes duplas e contraditórias, procurando conciliar o antropocentrismo renascentista com o teocentrismo. Isso caracteriza o dualismo existencial dessa arte.

CARACTERÍSTICAS

O estilo barroco nasceu da crise dos valores renascentistas, ocasionada pelas lutas religiosas e pela di culdade econômica decorrente da falência do comércio com o Oriente. O homem, como dito anteriormente, vivia um estado de tensão do qual tentou evadirse pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de guras de linguagem. Trata-se, portanto, de um texto com intensa elaboração formal no qual as ideias são apresentadas de forma complexa. Podemos notar dois estilos: o cultismo e o conceptismo.

É a linguagem rebuscada, culta e extravagante. Os autores fazem difíceis construções no plano fonético, sintático, semântico e morfológico. Além disso, exploram efeitos sensoriais tais como cor, forma, tom, volume, sonoridade, imagens violentas e fantasiosas, recursos que sugerem, então, a ultrapassagem dos limites da realidade.

CONCEPTISMO (QUEVEDISMO)

A palavra vem do espanhol “concepto” que signi ca “ideia”. É o jogo de ideias, formado por meio das sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico (dedução, indução, analogia, por exemplo). Explora-se a esfera argumentativa de um texto, objetivando a comprovação de uma tese.

De uma maneira geral, é mais comum o Cultismo aparecer na poesia, e o Conceptismo na prosa, porém, é perfeitamente possível aparecerem ambos em um mesmo texto.

A PRODUÇÃO NACIONAL

Por ser colônia de Portugal, o Brasil produziu escritos que re etiam uma cosmovisão europeia. Por isso, muitos autores não entendem o Barroco como um movimento que expressa a Literatura Brasileira. Entre os nomes da época, destacam-se Gregório de Matos e Antônio Vieira.

GREGÓRIO DE MATOS

Embora o nome de Gregório de Matos esteja vinculado à poesia barroca, boa parte dos textos vinculados ao autor não foram escritos por ele. Atribui-se ao autor uma vasta obra que envolve poemas satíricos, amorosos, eróticos e sacros.

PADRE ANTÔNIO VIEIRA

Antônio Vieira (1608-1697) é o principal representante do barroco português. Sua obra pertence tanto à literatura brasileira quanto à portuguesa. Vieira veio com a família para o Brasil quando tinha sete anos. Na Bahia, teve contato com a congregação da Ordem de Jesus, iniciando seu noviciado aos 15 anos. A maior parte de sua obra foi escrita no Brasil e está relacionada com diversas atividades que o autor desempenhou como religioso, como conselheiro de D. João IV, rei de Portugal, ou como mediador e representante de Portugal em relações econômicas e políticas com outros países.

Embora Vieira fosse padre, nunca teve uma atuação puramente voltada para as questões religiosas, pelo contrário, este sempre colocou seus sermões a serviço das causas políticas, o que causou sua indisposição com muita gente, principalmente entre os colonos que escravizavam os índios, os pequenos comerciantes e até mesmo com a Inquisição.

A fim de aprofundar os seus conhecimentos, leia o poema a seguir atribuído a Gregório de Matos.

Quando Deus redimiu da tirania

Da mão do Faraó endurecido

O Povo Hebreu amado, e esclarecido,

Páscoa cou da redenção o dia.

Páscoa de ores, dia de alegria Àquele povo foi tão a igido O dia, em que por Deus foi redimido; Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.

Pois mandado pela Alta Majestade Nos remiu de tão triste cativeiro, Nos livrou de tão vil calamidade.

Quem pode ser senão um verdadeiro Deus, que veio estirpar desta cidade o Faraó do povo brasileiro.

(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: 2006)

Gregório de Matos tornou-se famoso pelos textos de cunho crítico, escritos para satirizar guras de autoridade de sua época. No poema, é possível notar uma intertextualidade clara com as Sagradas Escrituras, já que o autor estabeleceu uma analogia entre o faraó e o governador da Bahia.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

01. Leio o trecho abaixo.

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA

Pregado na Capela Real, no ano de 1655.

E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe de tão longe.

Diz Cristo que “saiu o pregador evangélico a semear” a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o que dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiitseminare.

(VIEIRA, Padre António. Sermão da Sexagésima.)

É sabido que a literatura produzida pelos jesuítas no Brasil apresentavam duas funções: a catequização dos colonos, bem como a dos índios. Deste modo, é possível a rmar, em comparação com a leitura do trecho acima mencionado, que é característico desse tipo de literatura: a) ser um texto construído com base na exaltação à nova Terra. b) ter caráter de texto informativo a ser enviado à coroa com notícias da nova Terra. c) apresenta caráter informativo, descritivo com alto grau de impessoalidade. d) a produção com base sermonística em defesa dos padrões católicos. e) apresentar certa visão fantasiosa e fantástica da nova colônia portuguesa.

02. O Padre Vieira valeu-se do estilo conceptista do Barroco para criticar os adeptos do estilo cultista. [...] Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? [...] O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear. [...] Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar negro [...] Basta que não havemos de ver um sermão de duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? [...] Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro. [...]

(VIEIRA. Antônio. Sermão Da Sexagésima.) De acordo com o texto de Padre Vieira, fazer um sermão em xadrez de palavras signi ca: a) defender verdades do catolicismo romano. b) estruturar a pregação em estilo empolado. c) evitar jogo de palavras e de trocadilhos. d) optar pela pregação didática e objetiva. e) valorizar inteligência, lógica e raciocínio.

03. Há no Barroco um elemento estético que o liga ao neoplatonismo plotiniano, graças ao qual a arte e a literatura barrocas revelam um fundo de esoterismo, mistério, obscuridade, di cilismo. Literatura de intenção cultista, afasta-se do vulgo e do vulgar, pela linguagem poética de pendor ao fora do comum, pelas guras requintadas, pela imageria e pelo simbolismo de tendência à obscuridade. É arte de espanto, para conquistar pelo espanto e pela sugestão. É arte que exprime uma época de crise e luta, incerteza e instabilidade, inquietude e tormento, desequilíbrio e tensão, em que o homem deixou de ser o centro da terra, e a terra o centro do universo. O complexo estilístico dessa época não traduz um estado de degenerescência, mas, no seu metaforismo, re ete, como acentua Getto, a instabilidade do real que está no centro da visão barroca do mundo. A metáfora do Barroquismo, assinala ainda Getto, não tem o papel de um mero e extrínseco fato retórico, mas responde à necessidade expressiva de um modo de sentir e de manifestar as coisas, como elemento de um jogo complexo de alusões e ilusões. [...] O barroco é um estilo que traduz a interpretação religiosa e losó ca de uma época atormentada.

(COUTINHO, Afrânio. O Barroco. In: COUTINHO, Afrânio - Dir.)

Com base na leitura do fragmento, assinale a alternativa correta em relação às características do Barroco: a) Enquanto procedimento artístico, faz um movimento de oposição à realidade histórica, segundo a qual, estando o homem do

Renascimento no centro do mundo, o mundo, como se sente, é linear. b) É um movimento artístico, literário e ideológico que exprime, por meio da fusão entre religião, razão e loso a, o pensamento de uma época de consolidação das conquistas do Humanismo. c) É arte que exprime uma época de crise, incerteza e instabilidade através de uma visão da realidade em que o mundo parece perder sua estabilidade bem de nida, dando lugar a uma constante mudança de signi cados. d) Sendo um movimento que nasce em sequência ao Humanismo do Renascimento, na literatura, aproxima a linguagem de um vocabulário religioso mais próximo à comunicação popular. e) Considerando-se o movimento como um conjunto de procedimentos, uma das características que o resumem é de ser uma degenerescência e decadência da arte renascentista.

04. Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa.

Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.

Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.

Águas são muitas; in ndas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem [...].

(Disponível em: <http://zip.net/bwmQ4m> Acesso em 16 mar. 2014.)

Por ser um relato da chegada o cial dos portugueses ao Brasil, terra até então considerada desconhecida, a carta de Caminha se caracteriza como um a) comunicado subjetivo sobre a exuberância natural do país. b) diário de bordo sobre obstáculos provocados pela calmaria. c) registro documental sobre o achamento de uma nova terra. d) roteiro para facilitar a vinda de novas expedições ao Brasil. e) texto em que prevalece a descrição dos habitantes da terra.

05.

BUSCANDO A CRISTO

A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos Que, para receber-me, estais abertos, E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados De tanto sangue e lágrimas abertos, Pois, para perdoar-me, estais despertos, E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me, A vós, sangue vertido, para ungir-me, A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me, A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Para car unido, atado e rme.

(Disponível em: <http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=635>)

Considerando que o Barroco é a expressão de uma tensão e con ito e o contexto do poema demonstra tensão e dor, a alternativa que emprega antítese, gura de linguagem que caracteriza tensão e oposição é: a) “A vós correndo vou, braços sagrados, / Nessa cruz sacrossanta descobertos.” b) “A vós, divinos olhos, eclipsados / De tanto sangue e lágrimas abertos.” c) “A vós, pregados pés, por não deixar-me, / A vós, sangue vertido, para ungir-me.” d) “Pois, para perdoar-me, estais despertos, / E, por não condenarme, estais fechados.” e) “Que, para receber-me, estais abertos, / E, por não castigar-me, estais cravados.”

06. O termo Barroco denomina genericamente as várias manifestações artísticas que marcaram o século XVII e o início do século XVIII. No Brasil esse movimento tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema Prosopopeia, de Bento Teixeira. A linguagem do estilo se destaca, principalmente, por apresentar o a) Carpe Diem, que vindo do latim, simboliza o poeta literário que se desloca da vida agitada da cidade. b) Conceptismo que era caracterizado pelo jogo de ideias, ligado ao conteúdo, raciocínio lógico, sendo empregado para persuadir, usando uma retórica aprimorada. c) Cultismo que era caracterizado pela linguagem culta, rebuscada, ligado à forma e ao jogo de palavras, com manifestação exclusiva na poesia. d) Seiscentismo, inaugurado por Cláudio Manuel, era caracterizado pela busca do racional, do verdadeiro, marcado pela poesia objetiva e descritiva. e) Vieirismo, que foi propagado por Padre Antônio Vieira, desenvolveu-se de forma esplêndida, marcado pelo jogo de conceitos e ideias, in uenciando outros escritores e poetas. 07. A carta que Pero Vaz de Caminha escreveu a D. Manuel, rei de Portugal por ocasião do descobrimento do Brasil (1500), traz importantes informações sobre a realidade da terra recém descoberta. Leia os seguintes fragmentos.

“A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. (...)

Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. (...)

Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos”.

(Disponível em www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http:// www.biblio.com.br/conteudo/perovazcaminha/carta.htm)

Os temas destacados nos fragmentos são, respectivamente, a) catequese dos índios, abundância das águas, presença dos metais. b) catequese dos índios, fertilidade da terra, busca dos metais. c) presença dos gentios, abundância das águas, busca dos metais. d) presença dos gentios, grandiosidade da terra, busca dos metais. e) racismo, fertilidade da terra, especulação sobre os metais.

08. Com relação à poesia de Gregório de Matos, pode-se a rmar que a) se preocupa com a catequização dos índios. b) promove, através da sátira, uma crítica contundente dos costumes da sociedade colonial brasileira, sobretudo baiana. c) exalta as belezas da pátria brasileira, ou seja, a “cor local”. d) é fortemente in uenciada pela retórica de Antônio Vieira. e) Foi um grande representante da literatura jesuítica.

09. A gênese da nossa formação literária se encontra no século XVI. Dela fazem parte a) as obras poéticas produzidas pelos degredados que eram obrigados a se instalar no Brasil. b) os escritos que os donatários das capitanias hereditárias faziam ao rei de Portugal. c) os relatos dos cronistas viajantes e dos missionários que aqui estiveram a catequizar os índios. d) as poesias de Gregório de Matos. e) Os sermões de Antônio Vieira.

10. Triste Bahia! Oh quão dessemelhante

Estás, e estou do nosso antigo estado!

Pobre te vejo a ti, tu a mi emprenhado,

Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando, e tem trocado Tanto negócio, e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus, que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote!

(Gregório de Matos)

O soneto engloba, portanto, a seguinte vertente dentro do cânone de Gregório de Matos, a) lírica. b) satírica. c) religiosa. d) metafísica. e) erótica.

EXERCÍCIOS DE TREINAMENTO

01. (ESPCEX/AMAN) Em relação ao momento histórico do Quinhentismo brasileiro, podemos a rmar que a) a Europa do século XVI vive o auge do Renascimento, com a cultura humanística recrudescendo os quadros rígidos da cultura medieval. b) o século XVI marca também uma crise na Igreja: de um lado, as novas forças burguesas e, de outro, as forças tradicionais da cultura medieval. c) os dogmas católicos são contestados nos tribunais da Inquisição (livros proibidos) e no Concílio de Trento, em 1545. d) o homem europeu estabelece duas tendências literárias no

Quinhentismo: a literatura conformativa e a literatura dominicana. e) a política das grandes navegações coíbe a busca pela conquista espiritual levada a efeito pela Igreja Católica.

02. (ESPCEX/AMAN) Leia a estrofe que segue e assinale a alternativa correta, quanto às suas características.

“Visões, salmos e cânticos serenos

Surdinas de órgãos ébeis, soluçantes...

Dormências de volúpicos venenos

Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...” a) Valorização da forma como expressão do belo e a busca pela palavra mais rara – Parnasianismo. b) Linguagem rebuscada, jogos de palavras e jogos de imagens, característica do cultismo – corrente do Barroco. c) Incidência de sons consonantais (aliterações) explorando o caráter melódico da linguagem – Simbolismo. d) Pessimismo da segunda geração romântica, marcada por vocábulos que aludem a uma existência mais depressiva – Romantismo. e) Lírica amorosa marcada pela sensualidade explícita que substitui as virgens inacessíveis por mulheres reais, lascivas e sedutoras –

Naturalismo.

03. (UPF) Considere as a rmações a seguir em relação a Gregório de Matos. I. Em sua produção literária, estão presentes tanto a sátira irreverente como o sentimento religioso. II. Na poesia do autor, o sujeito lírico não manifesta seu desejo pela mulher, que é sempre idealizada. III. A efemeridade das coisas é uma das temáticas abordadas em sua poesia. Está correto o que se a rma em a) I e III, apenas. b) I, II e III. c) I, apenas. d) III, apenas. e) I e II, apenas.

04. (ESPCEX/AMAN)

“Se gostas de afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam culto, não me leias. Quando esse estilo orescia, nasceram as primeiras verduras do meu; mas valeu-me tanto sempre a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser ouvido. (...) Esse desventurado estilo que hoje se usa, os que querem honrar chamam-lhe culto, os que o condenam chamam-lhe escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro (...) e muito cerrado. É possível que somos portugueses e havemos de ouvir um pregador em português e não havemos de entender o que diz?!” Padre Antônio Vieira, nesse trecho, faz uma crítica ao estilo barroco conhecido como a) conceptismo, por ser marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico. b) quevedismo, por utilizar-se de uma retórica aprimorada, a exemplo de seu principal cultor: Quevedo. c) antropocentrismo, caracterizado por mostrar o homem, culto e inteligente, como centro do universo. d) gongorismo, ao caracterizar-se por uma linguagem rebuscada, culta e extravagante. e) teocentrismo, caracterizado por padres escritores que dominaram a literatura seiscentista.

05. (UPF) Considere as a rmações a seguir em relação ao período de formação da literatura brasileira. I. Ao longo do século XVI, a literatura brasileira é formada, predominantemente, por textos informativos sobre a natureza e o homem brasileiro, escritos por viajantes e missionários europeus. II. Nos séculos XVII e XVIII, veri cam-se in uências do Barroco europeu na incipiente literatura brasileira e, também, nas artes plásticas e na música nacionais, sendo que as produções relativamente originais dessas últimas artes permitem que se fale de um “Barroco brasileiro”. III. De meados do século XVIII até a eclosão do Romantismo, na primeira metade do século XIX, o estilo literário dominante nas letras nacionais é o Arcadismo, caracterizado por uma oposição sistemática ao avanço do racionalismo iluminista, cuja in uência busca neutralizar através da celebração da natureza e da vida no campo. Está correto apenas o que se a rma em: a) I e III. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III.

06. (UFJF-PISM 3)

À CIDADE DA BAHIA

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando e tem trocado Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh quisera Deus que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote!

(Matos, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.)

Nos versos “Triste Bahia! Ó quão dessemelhante/Estás e estou do nosso antigo estado”, o eu lírico manifesta um descontentamento em relação: a) à idade média. b) ao estilo barroco. c) ao sistema colonial. d) ao rito jurídico. e) ao humanismo renascentista.

07. A respeito do Quinhentismo no Brasil, marque (V) para verdadeiro ou (F) para falso e assinale a alternativa correta. ( ) A principal obra do período foi A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, cuja temática era o índio brasileiro. ( ) Consta que o primeiro texto escrito no território do Brasil foi a

Carta de Pero Vaz de Caminha, em que registra suas impressões sobre a terra recém-descoberta. ( ) Entre as publicações daquela época, encontram-se cânticos religiosos, poemas dos jesuítas, textos descritivos, cartas, relatos de viagem e mapas. ( ) A produção das obras escritas naquele período apresenta um caráter informativo, documentos que descreviam as características do Brasil e eram enviados para a Europa. a) V - V - V - F b) F - V - F - V c) F - V - V - F d) V - F - V - V e) F - V - V - V

08. Considerando o Barroco, assinale a alternativa correta. a) Padre Antônio Vieira caracterizou-se por sua poesia satírica, sendo os sermões obras de insigni cativa importância. b) Gregório de Matos é reconhecido por seus sermões religiosos, nos quais pregava a importância da fé e da manutenção das práticas da burguesia, uma classe verdadeira e honesta. c) Um aspecto central da vida de Gregório de Matos era o equilíbrio.

O amor nunca foi tema de suas poesias, já que era casado e extremamente el à esposa. d) Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos foram importantes autores do Barroco. e) Padre Antônio Vieira nunca se envolveu com a política, uma vez que acreditava que seu trabalho era exclusivamente clerical e o sofrimento da população não despertava seu interesse.

09. Sobre a fundamentação do Barroco no Brasil, assinale a alternativa correta. a) Tem como marco introdutório a publicação da epopeia, referenciada como a maior obra do gênero épico da Língua Portuguesa cuja autoria é atribuída a Luís Vaz de Camões, publicada em 1640, ano em que Portugal e consequentemente o Brasil voltam a se tornar autônomos em relação à dominação espanhola. b) A poesia barroca de Gregório de Matos e os sermões do Padre

Antônio Vieira são, do ponto de vista estético, distintos, pois o poeta tece críticas ferrenhas à sociedade baiana de seu tempo, ao passo que os sermões do religioso se eximem de qualquer relação com os problemas a ele contemporâneos. c) Tanto a poesia satírica de Gregório de Matos quanto os sermões do Padre Vieira revelam o envolvimento de ambos os autores com acontecimentos da época. Daí o poeta ser apelidado de “o boca do inferno”, e o Padre jesuíta ter sido condenado ao silêncio por dez anos pela Igreja à qual pertencia. d) Um texto barroco bem caracterizado é aquele que re ete os anseios de um homem equilibrado, dominado pela razão, além de ter como riqueza a metáfora e a metonímia, as quais tornam a linguagem concisa e clara. Tal ocorrência é facilmente identi cada tanto na poesia conceptista de Gregório como nos sermões cultistas do Padre Vieira. e) O Barroco produzido no Brasil se restringiu a duas personalidades importantes, Gregório de Matos e Padre Vieira. Por essa razão,

Bento Teixeira, autor de Prosopopeia, não é reconhecido como poeta lírico, apesar de ter criado sonetos de reconhecido valor estético sobre o amor erótico, o que lhe rendeu a prisão pela

Santa Inquisição em Olinda. 10. (FUVEST)

Texto 1:

Texto 2:

II / SÃO FRANCISCO DE ASSIS*

Senhor, não mereço isto. Não creio em vós para vos amar. Trouxestes-me a São Francisco e me fazeis vosso escravo.

Não entrarei, senhor, no templo, seu frontispício me basta. Vossas ores e querubins são matéria de muito amar.

Dai-me, senhor, a só beleza destes ornatos. E não a alma. Pressente-se dor de homem, paralela à das cinco chagas.

Mas entro e, senhor, me perco na rósea nave triunfal. Por que tanto baixar o céu? por que esta nova cilada?

Senhor, os púlpitos mudos entretanto me sorriem. Mais que vossa igreja, esta sabe a voz de me embalar.

Perdão, senhor, por não amar-vos.

(Carlos Drummond de Andrade)

*O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas de Vila Rica”, que integra a edição crítica de Claro enigma. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

Analise as seguintes a rmações relativas à arquitetura das igrejas sob a estética do Barroco: I. Unem-se, no edifício, diferentes artes, para assaltar de uma vez os sentidos, de modo que o público não possa escapar. II. O arquiteto procurava surpreender o observador, suscitando nele uma reação forte de maravilhamento. III. A arquitetura e a ornamentação dos templos deviam encenar, entre outras coisas, a preeminência da Igreja. A experiência que se expressa no poema de Drummond registra, em boa medida, as reações do eu lírico ao que se encontra registrado em a) I, apenas. b) II, apenas. c) II e III, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III.

EXERCÍCIOS DE COMBATE

01. Os hábitos alimentares variam não só conforme as diferentes culturas, mas também conforme as condições socioeconômicas das pessoas e suas crenças religiosas. É a isso que se refere Padre Antônio Vieira no excerto do Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes:

Mas ainda que o Céu e o Inferno se não fez para vós, irmãos peixes, acabo, e dou m a vossos louvores, com vos dar as graças do muito que ajudais a ir ao Céu, e não ao Inferno, os que se sustentam de vós. Vós sois os que sustentais as 1Cartuxas e os 2Buçacos, e todas as santas famílias, que professam mais rigorosa austeridade; vos os que a todos os verdadeiros cristãos ajudais a levar a penitência das quaresmas; vós aqueles com que o mesmo Cristo festejou a Páscoa as duas vezes que comeu com seus discípulos depois de ressuscitado. Prezem-se as aves e os animais terrestres de fazer esplêndidos e custosos os banquetes dos ricos, e vós gloriai-vos de ser companheiros do jejum e da abstinência dos justos! Tendes todos quantos sois tanto parentesco e simpatia com a virtude, que, proibindo Deus no jejum a pior e mais grosseira carne, concede o melhor e mais delicado peixe. E posto que na semana só dois se chamam vossos, nenhum dia vos e vedado. Um só lugar vos deram os astrólogos entre os signos celestes, mas os que só de vós se mantêm na terra, são os que têm mais seguros os lugares do Céu.

Glossário: 1Cartuxas e 2Buçacos: os pertencentes a essas Ordens Religiosas, as quais são conhecidas por sua austeridade.

A partir desse fragmento, assinale a alternativa correta. a) Por meio de uma alegoria, Vieira dirige-se, no sermão, aos peixes, mostrando que estes merecem apenas elogios, ao passo que os homens merecem apenas repreensões. b) Como se vê pelo excerto, Vieira dirige-se aos peixes de forma geral, sem fazer menções a espécies de peixes em particular, o que também ocorre no restante do sermão. c) Vieira, no excerto, estabelece uma antítese entre céu e inferno que é reproduzida simbolicamente na contraposição entre peixe e carne. d) O objetivo de Vieira no “Sermão dos Peixes”, conforme se vê pelo excerto, é reforçar nos éis católicos a importância de jejuar nos dias santos como forma de aproximarem-se de Deus. e) Contrariamente ao que se esperaria de um texto dessa época, o fragmento do “Sermão dos Peixes” não apresenta um estilo rebuscado, muito menos o emprego de uma linguagem rica em conceitos.

02. Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,

Da vossa piedade me despido,

Porque quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido, Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, e já cobrada Glória tal, e prazer tão repentino Vos deu, como a rmais na sacra história:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.

(MATOS, Gregório de. Poesias selecionadas. 3. ed. São Paulo: FTD, 1998. p. 18.

Assinale a alternativa correta. a) O sujeito lírico, nesse poema, arrependido de seus pecados, pede perdão a Deus com amplo sentimentalismo, sem a intervenção da razão. b) A presença frequente de antíteses na lírica amorosa de Gregório de

Matos faz desse poema um exemplo de representação do homem barroco, dividido entre a vida mundana e a religiosidade cristã. c) O sujeito lírico do poema constrói, com base em um episódio bíblico, um discurso racional na tentativa de convencer Deus de que ele deve ser perdoado de seus pecados. d) A ovelha desgarrada, mencionada no poema, diz respeito ao sujeito lírico, de maneira que, assim, ele se compara ao próprio Cristo. e) Apesar do pedido de perdão por seus pecados, o sujeito lírico reconhece, ao nal do poema, que Deus deve cobrar seu arrependimento para que a glória divina não se perca em vão.

03.

A INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se trans gura? Como o gosto da pena assim se a?

Mas no Sol, e na Luz, falte a rmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo en m pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A rmeza somente na inconstância. Considere as seguintes assertivas a partir do texto: I. Tal soneto é característico do período barroco brasileiro, momento em que o homem do século XVII está divido entre os valores antropocêntricos do Renascimento e as amarras do pensamento medieval restituído pela Contrarreforma. II. O soneto revela o dualismo que envolve o homem barroco, marcado por incertezas e inconstâncias. III. O soneto apresenta a preocupação do poeta com a efemeridade da vida e das coisas. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

A MARIA DE POVOS, SUA FUTURA ESPOSA

Discreta e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora, Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos e boca, o Sol e o dia:

Enquanto, com gentil descortesia, O ar, que fresco Adônis te enamora, Te espalha a rica trança voadora, Da madeixa que mais primor te envia:

Goza, goza da or da mocidade, Que o tempo troca, a toda a ligeireza, E imprime em cada or uma pisada.

Oh não guardes que a madura idade

Te converta essa or, essa beleza,

Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. Analise as assertivas abaixo a partir do texto: I. O soneto lírico se estrutura na oposição entre dois campos semânticos, que pode ser evidenciado, especialmente, na comparação entre a primeira a última estrofes. II. Em tal soneto, percebe-se o tema do carpe diem, proveniente dos clássicos greco-latinos, que converge com a preocupação do homem barroco brasileiro em relação à efemeridade da vida e à repulsa pela morte. III. O autor do soneto, Gregório de Matos Guerra, cultivou a poesia sacra, lírica e satírica. Também escreveu poemas graciosos e pornográ cos. Representante do período barroco, também foi conhecido como “Boca de Inferno”.

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

05. Fábio: que pouco entendes de nezas:

Quem faz só o que pode, a pouco se obriga

Quem contra os impossíveis se fatiga, a esse cede o Amor em mil 1ternezas.

Amor comete sempre altas empresas: Pouco amor, muita sede não mitiga: Quem impossíveis vence, esse é que instiga vencer por ele muitas estranhezas.

As durezas da cera, o Sol abranda, a da terra as branduras endurece: Atrás do que resiste, o raio é que anda.

Quem vence a resistência, se enobrece: Quem faz o que não pode, impera e manda: Quem faz mais do que pode, esse merece.

(GUERRA, Gregório de Matos. A um namorado, que se presumia de obrar nezas. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial. São Paulo: Perspectiva, 1979. p.65-66.)

1ternezas: ternuras

A leitura atenta do texto permite a rmar que a) se trata de soneto em versos decassílabos e que, portanto, escapa, em alguma medida, à forma e à temática do Barroco. b) a temática da mitologia clássica – Amor, ou Eros, presente nos dois primeiros quartetos – é o que caracteriza o soneto acima como Barroco. c) a recorrência do pronome “quem”, ao longo dos dois primeiros quartetos, que culmina na última estrofe, revela as contradições típicas do Barroco. d) o fato de o eu lírico dirigir-se a “Fábio” e de fazer-lhe recomendações, na forma de soneto, assevera sua matriz contraditória e, portanto, barroca. e) a oposição entre fazer apenas o possível, de um lado, e fazer o impossível, de outro, confere feição barroca ao poema, pontilhando-o de antíteses.

06. O soneto “No uxo e re uxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos, apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu:

Seis horas enche e outras tantas vaza

A maré pelas margens do Oceano,

E não larga a tarefa um ponto no ano,

Depois que o mar rodeia, o sol abrasa.

Desde a esfera primeira opaca, ou rasa A Lua com impulso soberano Engole o mar por um secreto cano, E quando o mar vomita, o mundo arrasa.

Muda-se o tempo, e suas temperanças. Até o céu se muda, a terra, os mares, E tudo está sujeito a mil mudanças.

Só eu, que todo o m de meus pesares

Eram de algum minguante as esperanças,

Nunca o minguante vi de meus azares. De acordo com o poema, é correto a rmar: a) A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si. b) A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano. c) A concepção de um mundo às avessas está gurada no soneto através da clara oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável. d) A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a aurea mediocritas. e) A sintonia entre a natureza e o eu poético embasa as personi cações de objetos inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito.

07. (UEFS)

A CHRISTO S. N. CRUCIFICADO ESTANDO O POETA NA ÚLTIMA HORA DE SUA VIDA

Meu Deus que estais pendente em um madeiro, Em cuja lei protesto de viver Em cuja santa lei hei de morrer Animoso, constante, rme e inteiro.

Neste lance, por ser o derradeiro, Pois vejo a minha vida anoitecer, É, meu Jesus, a hora de se ver A brandura de um Pai, manso Cordeiro.

Mui grande é vosso amor e meu delito, Porém pode ter m todo pecar, E não o vosso amor, que é in nito.

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